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UNIVERSIDADE DE UBERABA MARIA DA CONCEIÇÃO ALVES VERSIANI CUNHA A CRIANÇA E A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO: UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA BELO HORIZONTE/MG 2012

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Trabalho de Conclusão de Curso.

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UNIVERSIDADE DE UBERABA

MARIA DA CONCEIÇÃO ALVES VERSIANI CUNHA

A CRIANÇA E A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO: UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA

BELO HORIZONTE/MG

2012

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Maria da Conceição Alves Versiani Cunha

UNIVERSIDADE DE UBERABA

A CRINÇA E A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO: UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como pré-requisito para

aprovação no curso de licenciatura em

Pedagogia - Uniube, Belo Horizonte.

BELO HORIZONTE-MG

2012

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Dedico este trabalho aos meus pais (in

memória) aos meus irmãos aos meus filhos o

meu esposo e os amigos que sempre

acreditaram e me fizeram sentir capaz de

vencer.

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Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus que com sua luz iluminou meus caminhos me

dando força e sabedoria e aos meus pais, pois sem eles nada seria possível.

A minha família que sempre deu sinais de confiança em minha capacidade,

oferecendo suporte necessário e força para continuar em minha caminhada.

Pessoas que são tão especiais e minha razão de vida, minha filha Ysamara Kelly,

meu filho Yago Sanderson e meu esposo Celso.

À Preceptora Karla Avelar que foi meu suporte e grande apoio durante o curso.

Os meus irmãos José, Armando, Nei, Evelço, Dário e Edir que não poderia deixar de

mencioná-los aqui, pois estes, sempre acreditaram na minha força e são meus

eternos incentivadores da minha jornada de vida.

Às minhas amigas e colegas de turma, que durante o trajeto do curso ofereceram

muita atenção, dedicação e carinho.

Às professoras e mestres que acompanharam o desenvolvimento e avaliação deste

trabalho.

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"Sem a curiosidade que me move, que me inquieta,

que me insere na busca, não aprendo nem ensino".

(FREIRE. 2007)

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A criança e a ludicidade na educação

CUNHA, Maria da Conceição Alves [email protected]; Belo Horizonte; 2012.

A ludicidade tem sido um tema bastante discutido no meio educacional, pois,

estudos alertam das muitas contribuições que atividades lúdicas quando aplicadas

às práticas pedagógicas, em especial na Educação Infantil, suas dimensões como

ferramenta são essenciais facilitando tanto a aprendizagem dos alunos quanto o

trabalho do professor-educador. O tema desta pesquisa surgiu da necessidade de

compreender o valor da ludicidade no processo ensino-aprendizagem, no que tange:

desenvolvimento físico, emocional e intelectual, favorecendo a futuras

aprendizagens. Esta pesquisa tem como objetivo principal fomentar a discussão de

que aprender brincando traz influências positivas no ensino- aprendizagem. Outro

ponto que merece destaque são as brincadeiras em áreas livres e espaços públicos

praças, parques e ruas. Certamente, quem um dia “brincou na rua” lembra que

brincar nas ruas e praças era referência para uma infinidade de atividades

realizadas ao ar livre. Hoje em dia, por limitações óbvias, dificilmente encontramos

crianças utilizando estes espaços para brincar. Mas o que importa é encontrar tempo

e lugar para brincar e a escola, neste sentido, entre todos os espaços públicos, é um

espaço realmente privilegiado para as brincadeiras acontecerem. A análise desse e

outros assuntos apresentam-se fundamentada em pesquisas realizadas através da

consulta de livros referentes ao tema, na biblioteca virtual Pearson; em sites e blogs,

leitura dos Referencias Curriculares Nacionais da Educação Infantil e da observação

de crianças brincando em áreas livres (pracinhas, ruas, pátio de uma escola

municipal da cidade de Moeda-MG).

Palavras-chave: Brincadeiras; Desenvolvimento; Aprendizagem.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO --------------------------------------------------------------------------------------07

2 DESENVOLVIMENTO ----------------------------------------------------------------------------09

2.1 A Criança e a Ludicidade na educação: uma Proposta Pedagógica -------09

2.2 O Que é Ludicidade?------------------------------------------------------------------------12

2.3 Porque trabalhar o lúdico na Educação Infantil -----------------------------------15

2.3.1 O que é Educação Infantil? ----------------------------------------------------------19

2.3.2 Como deve ser o olhar lúdico do professor de Educação Infantil --------19

2.4 O Brincar pode auxiliar no processo ensino- aprendizagem -----------------20

2.4.1 Brincadeiras livres ----------------------------------------------------------------------26

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ---------------------------------------------------------------------30

4 REFERÊNCIAS -------------------------------------------------------------------------------------32

5 ANEXO ------------------------------------------------------------------------------------------------34

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INTRODUÇÃO

A ludicidade é um tema bastante interessante e muito abrangente, pois o

lúdico é uma excelente ferramenta para o educador. Trabalhar com a proposta da

ludicidade, na sala de aula, oferece inúmeras possibilidades de brincar e aprender.

Aprender brincando enriquece o trabalho do professor, o processo de aprendizagem

e contribui para o desenvolvimento integral da criança, desenvolvendo nela o gosto,

a alegria e o prazer em aprender, além de aproximar ampliando os laços de

afetividade entre aluno e professor.

A análise que esta pesquisa se propõe é considerar o valor de trabalhar

com atividades lúdicas inseridas na proposta pedagógica da Educação Infantil.

Considerando que o “brincar” é parte da essência da criança, e, portanto, não pode

ser desvinculado da proposta pedagógica da escola.

Esta pesquisa resulta da leitura minuciosa das apostilas do curso de

Pedagogia, da observação e da consulta a considerações de autores que se

dedicaram a estudar o universo infantil e valorizaram as brincadeiras como forma de

dar impulso a aprendizagem na escola. É considerada, ainda, nesta análise

questões como:

Sem a brincadeira (lúdico) o processo de aprendizagem se torna tedioso.

Portanto, é fundamental que a construção desse processo se faça por meio do jogo,

da brincadeira e da imaginação, do conhecimento do corpo.

Como deve ser o olhar lúdico do professor da Educação Infantil.

O brincar da criança possibilita ao educador diagnosticar perceber seu

estágio de desenvolvimento, seus desejos.

O lúdico nem sempre é prazeroso. A criança quando perde, tende a

experimentar o sofrimento.

Não da para falar em brinquedo e brincar sem falar de criança, pois,

ambos estão intimamente ligados favorecendo-se mutuamente, ou seja, um sem o

outro não ocorrerá desenvolvimento.

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Aprender brincando, traz influências positivas no ensino- aprendizagem.

No período da educação infantil, é que a criança começa a fazer alguns ensaios

significativos para se descobrir e descobrir o meio em que vive, sem o “brincar” não

será possível.

Na escola, em especial na educação infantil, o lúdico precisa ser

explorado levando em consideração o valor do “brincar” como suporte fundamental

na aprendizagem significativa.

Em suma, considerando todas as discussões existentes em relação à

ludicidade no contexto escolar, este trabalho propõe uma reflexão sobre o valor de

trabalhar com a ludicidade, presente no cotidiano escolar. O lúdico, como ferramenta

na aprendizagem proporciona os desenvolvimentos necessários à vida da criança,

tornando-a um adulto mais feliz no futuro.

Espera-se com esta pesquisa demonstrar para os que trabalham com e

para a criança, em especial os professores da área da educação infantil, a

necessidade de buscar conhecer melhor todos os benefícios de aplicar a ludicidade

em suas práticas, para isso acontecer é necessário o professor resgatar os

momentos lúdicos que com certeza fizeram parte do seu caminhar, fazer uma

reflexão profunda, pois “brincar” para a criança é viver.

A análise a seguir apresenta-se fundamentada em pesquisas realizadas

através da consulta de livros referentes ao tema, na biblioteca virtual Pearson; em

sites e blogs, leitura dos Referencias Curriculares Nacionais da Educação Infantil e

da observação de crianças brincando em áreas livres (pracinhas, ruas, pátio de uma

escola municipal na cidade de Moeda-MG).

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9

2. A criança e a Ludicidade na educação: uma proposta pedagógica

A ludicidade tem sido um tema atualmente muito discutido, por diversos

estudiosos, no meio acadêmico, no Brasil e no mundo. O tema é de bastante

relevância para ser investigado, a fim de que se compreenda como a prática

pedagógica voltada para “o brincar”, pode ajudar a transformar o cotidiano escolar,

não somente na questão da forma de aquisição do conhecimento, mas como

ferramenta para subsidiar as práticas pedagógicas, contribuindo de forma

significativa, criando elos de amizade e cumplicidade entre alunos e professores.

São inúmeros os estudos e pesquisas que têm buscado explicar o valor

da ludicidade no processo ensino-aprendizagem, no que tange: desenvolvimento

físico, emocional e intelectual, favorecendo as futuras aprendizagens. Na atividade

lúdica, não importa somente o resultado, mas a ação e o movimento vivenciado.

Ação, movimento e interação dos pares durante as atividades lúdicas,

são componentes crucias do desenvolvimento humano, possui caráter educativo e

tem grande influência na vida das crianças, por proporcionar alegria e prazer. Ver

crianças brincando e ao mesmo tempo aprendendo, faz do lúdico uma excelente

ferramenta que deve ser usada pelo educador (a) na promoção e avanços, de forma

prazerosa, de futuras aprendizagens, além de garantir um direito à criança de

“brincar”.

Brincar é universal e um direito, garantido por lei, publicada pelo Fundo

das Nações Unidas para a Infância, a UNICEF, em 1959. O documento diz que: “A

criança deve desfrutar plenamente de jogos e brincadeiras os quais deverão estar

dirigidos para educação”. Sendo assim, não deve ser negada à criança espaço e

oportunidade de brincar como forma de se desenvolver e aprender, pois o “brincar”

faz parte de sua essência, de seus direitos e da sua cultura.

A escola é um espaço privilegiado para o resgate da cultura do brincar,

pois este se constitui um direito e, portanto, deve fazer parte do cotidiano infantil. A

esse respeito, o Referencial Curricular Nacional Para Educação Infantil (1998, V.1,

P.13) também diz: “o direito das crianças a brincar, como forma particular de

expressão, pensamento, interação e comunicação infantil”.

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Nessa perspectiva é possível percebermos a importância do professor

incentivar as brincadeiras como eixo norteador do seu trabalho, como objetivo de

oferecer um aprender através da liberdade de expressão e do pensamento, por meio

de brincadeiras e momentos que oportunizem a interação e a comunicação entre as

crianças.

O brincar envolve além da ação o interesse da criança, a sua faixa etária,

seu desenvolvimento sócio-afetivo, seus hábitos culturais e o ambiente favorável e

estimulante.

É possível dizer que o ambiente condiciona a brincadeira, pois dentro de

uma mesma cultura, crianças brincam com temas comuns. E quando o contexto

muda, as brincadeiras também mudam adquirindo peculiaridades regionais ou

locais, uma vez que, o modo e o condicionamento das mesmas estão atrelados, o

que irá delinear o perfil das brincadeiras influenciando no modo de brincar. No

entanto, existe uma pluralidade de ações lúdicas, que são espontâneas, praticadas

pelas crianças.

Vale ressaltar outros fatores que também tem influenciado nas

brincadeiras, como: as mídias, televisão e a industrialização dos brinquedos (suporte

das brincadeiras). Com a industrialização do brinquedo, perderam-se algumas

características da ação da criança em relação ao brincar com um brinquedo que faz

tudo praticamente sozinho, deixando-a como mera expectadora. E outros fatores,

como a redução das brincadeiras em áreas livres (parques, pracinhas e outros),

também tem contribuído nas mudanças e condicionamentos das brincadeiras.

Não é objetivo aqui explanar aprofundando em tais mudanças, mas fazer

algumas considerações que possam ser necessárias, para melhor entendimento, em

relação às brincadeiras das crianças do passado e as da atualidade.

Os brinquedos estão cada vez mais modernos, atrativos e interessantes,

sem nenhuma dúvida e os antigos cada vez mais esquecidos ou pouco valorizados.

O carrinho de madeira, por exemplo, antes construído pelos pais ou mesmo pela

criança, era impulsionado pela própria ação desta ao manuseá-lo. Atualmente, a

maioria dos brinquedos, produzidos com diversos materiais, são recheados de

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recursos “prontos” para a criança brincar e no apertar dos botões do controle

remoto, colocá-lo em movimento.

Outro exemplo são as bonecas de pano que por muito tempo encantaram

as meninas e enriqueceram as brincadeiras, dando asas à fantasia e à imaginação,

hoje, substituídas pelas sofisticadas bonecas que falam com ou pela criança. Sem

falar dos jogos eletrônicos que a criança não tem oportunidade de opinar ou criar,

pois a regra já vem estabelecida pelo criador do jogo.

Não é pretensão aqui, com o exposto, dizer que o brinquedo

industrializado e o eletrônico não tenham nenhum valor ou que não sejam

educativos, pelo contrário, até tem e são educativos. Mas, houve um tempo em que

a criança dava mais vida ao brinquedo, inventando e reinventando diferentes formas

de brincar.

Neste sentido, o sociólogo americano Howard Chudacoff, também

professor da Universidade de Brown e autor do livro “Crianças Brincando:

uma história americana”, em entrevista à revista Época, diz: “‘O prazer real de uma

criança é criar seu próprio jogo’ e defende os brinquedos simples, como um simples

bastão de madeira, no lugar dos industrializados e dos eletrônicos.’ Em outro trecho

da entrevista, lhe é perguntado: “ ‘Qual é o melhor brinquedo para uma criança, em

sua opinião? Chudacoff responde: ‘O melhor brinquedo é um bastão. Pode ser

chocante o que eu disse, mas, se você pensar, um bastão, uma bola ou uma caixa

são o tipo de brinquedo com que todo mundo brinca. Você pode fazer tantas coisas

com eles, pode usar sua imaginação e criar muito. Na maioria das vezes, as

crianças enjoam dos brinquedos industrializados muito rápido’ ”.

Em outras épocas e regiões, as brincadeiras ocorriam de forma natural,

através do suporte (brinquedo) bem menos sofisticado, como demonstram as

imagens do quadro a seguir, escolhido para exemplificar o valor das brincadeiras e

da importância de se resgatar a cultura do lúdico. Para tanto, a escola e os

professores tem papel fundamental nesse resgate.

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Pieter Brueghel - "Jogos de crianças” (cultura lúdica do séc. XVI ) – 1560 Figura 1

Observando o quadro de Pieter Brueghel, logo é possível identificar

variadas brincadeiras (jogos e brinquedos) como pega-pega, balanço, cinco Marias

(cinco pedrinhas, ou saquinhos), pião, plantar bananeira, perna de pau, cavalo de

pau, cambalhota, castelo de areia, bola de gude, trensinho, cabra cega, entre tantas

outras. Os objetos e a imaginação das crianças dão suporte às brincadeiras.

Portanto, estas são de extrema importância para a formação cultural e social das

crianças dentro e fora da escola.

2.1- O Que é Ludicidade ?

Na busca por entender as conceituações sobre ludicidade e apresentar

sugestões que possibilite melhor compreender o lúdico e para traçar os contornos de

como o consideramos, apropriaremos da definição de alguns estudiosos desse

tema.

Para Rau (2011, p.31) “a ludicidade se define pelas ações do brincar que são

organizadas em três eixos: o jogo, o brinquedo e a brincadeira”, a autora ainda nos

diz que “ensinar por meio da ludicidade é considerar que a brincadeira faz parte da

vida do ser humano e que, por isso, trás referenciais da própria vida do sujeito”,

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entendo que para autora, na atividade lúdica não importa somente o resultado, mas

a ação, o movimento vivenciado. Nesta perspectiva as atividades lúdicas o jogo, o

brinquedo e a brincadeira devem estar presentes, na rotina das crianças, sendo

estimulada por pais e professores.

Brincar é a linguagem usada pelas crianças como forma de se manifestar,

expressar e descobrir o mundo, para isso, precisa interagir com o outro o tempo

todo. Quando incentivada, pelo outro, em especial pais e professores, à criança

tende a adquirir novas habilidades desenvolvendo e ampliando o imaginário e a

autonomia. O que faz com que sinta encorajada a refletir sobre suas ações e, sem

medo de agir a explorar todas as possibilidades de diversão e aprendizado que o

brincar proporciona , tornando-se uma criança mais feliz. Neste sentido, o lúdico é

necessidade básica da personalidade, do corpo e da mente.

As brincadeiras através de jogos e brinquedos sempre exerceram fascínio

na vida das crianças e quem não gosta de se divertir, de ter tempo para o lazer,

fantasiar, ter entretenimento, descontração e ser feliz não é verdade? Ser feliz é o

que retrata o Artista Plástico Ivan Cruz em suas obras de arte, baseando seu

trabalho na frase que criou:

Ivan Cruz Figura 2

O artista Ivan Cruz já retratou mais de 100 brincadeiras diferentes que brincou

quando criança em quadros (mais de 500), em desenhos e esculturas.

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Para o autor a beleza de ser criança está nas brincadeiras e no valor que

elas têm para a vida, para o desenvolvimento e formação da identidade. Em sua

frase: “(...) ao adulto que quando criança nunca brincou, falta-lhe um pedaço no

coração”, portanto, é um sujeito que não teve infância, que não viveu plenamente,

falta-lhe sensibilidade, em especial, para entender o universo infantil. Só quem

brincou realmente, teve infância, carrega consigo pulsando dentro de si, as

lembranças da criança ainda viva no peito.

Difícil imaginar alguém que nunca tenha brincado quando criança. Pois o

ser humano é lúdico por natureza e brincar pode ser possível até mesmo sem ter

nada nas mãos, como ocorre durante o pega-pega, pique esconde e a ciranda. As

cenas no quadro a seguir, mais uma das obras do autor Ivan, descreve brincadeiras

diversas com ou sem brinquedos as crianças brincam e se divertem.

Título da obra: “Várias Brincadeiras II” do Artista Plástico Ivan Cruz -2006 Figura 3

Quando, nos reportamos a nossa própria infância e do nosso tempo de

escola, compreendemos a singularidade da criança e o seu jeito de ser e estar no

mundo. A criança brinca de faz de conta vivendo um cenário articulado a dimensão

imaginária, sente-se impulsionada a conquistar novas possibilidades de criação, seu

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repertório de brincadeiras é amplo e nos remete a muitas variedades do como

brincar e para que brincar.

Podemos dizer que a brincadeira, a cultura e o conhecimento forma a

tríade da infância com caráter lúdico e significativo. Em relação a estas afirmativas,

Borba (2006, p.40) afirma que:

A liberdade do brincar se configura no inverter a ordem, virar o

mundo de ponta-cabeça, fazer o que parece impossível, transitar em

diferentes tempos-passado, presente e futuro.Rodar até cair, ser rei,

caubói, ladrão, polícia, desafiar os limites da realidade cotidiana.

Notável como a autora retratou muito bem a experiência do brincar, com

clareza demonstra que é possível construir uma ponte entre o imaginário e o mundo

real. As atividades lúdicas permitem isso, faz com que a criança estabeleça relações

com o outro e com diferentes culturas.

É durante as brincadeiras que as crianças adquirem iniciativa e

autoconfiança, quando lhes é dado oportunidade de ter autonomia e liberdade.

Importante que o adulto ao trabalhar com a proposta da ludicidade na Educação

Infantil, crie oportunidades para que a criança assimile o conhecimento, de forma

prazerosa, desenvolvendo habilidades e atitudes que a estimule na construção da

autonomia.

2.3- Porque Trabalhar o Lúdico Na Educação Infantil

Com se sabe, a questão universal pedagógica da atualidade é ensinar

com o lúdico diversificado em vários aspectos, principalmente na educação infantil,

onde a criança aprende muito mais brincando. A esse respeito Cunha (2001, p.28)

afirma que: “o brinquedo proporciona o aprender, fazendo e brincando”. Por meio

das brincadeiras e jogos, a criança adquire e aprende novos conceitos e

informações e até mesmo supera dificuldades de aprendizagem.

Para os profissionais da educação, em especial o professor, quando se

fala em Educação infantil não podem deixar de pensar os elementos construtivos do

espaço escolar: jogos, brincadeiras, faz de conta, cantinho de interesse, artes,

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teatro, poema, poesia, dramatizações, brinquedos variados para brincadeiras livres

ou com fins educativos, entre outros como os momentos de contação de história. A

criança pequena quando assume o papel de um personagem dos contos de fadas

está experimentando como é adotar o papel de outra pessoa.

Vale ressaltar que a criança da Educação Infantil é um ser em processo

de formação motivada pela necessidade de ampliar seus conhecimentos e

experiências alçando graus progressivos de autonomia, frente às estimulações do

ambiente.

Nessa perspectiva, creio que o objetivo primordial da Educação Infantil

deva ser a ampliação do universo infantil, dando as crianças oportunidades de

desenvolverem os aspectos: cognitivos, sociais e emocionais por meio das

brincadeiras.

Pensar o ato lúdico é como explorar a magia do brincar com as palavras,

inverter a ordem, criar. Assim, vamos pensar a poesia, brincar com as palavras, de

falar e dizer, de rimar, e construir novos sentidos e caminhos entre o ensinar e o

aprender, abrindo espaço para aprender com prazer. Possibilitando o “brincar” com

o movimento das palavras, com linhas, cores e formas e construindo significados e

sentidos de viver.

Poesia

é brincar com palavras

como se brinca

com bola, papagaio, pião.

Só que

bola, papagaio, pião

de tanto brincar

se gastam.

As palavras não:

quanto mais se brinca

com elas

mais novas ficam.

Como a água do rio

que é água sempre nova.

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Como cada dia

que é sempre um novo dia.

Vamos brincar de poesia?

(José Paulo Paes)

Portanto, a criança precisa ser instigada a pensar e a criar, pelo o

professor, na sala de aula, sendo estimulada e motivada a compreender o mundo

que a cerca, a ter prazer em construir seus conhecimentos e reelaborá-los para

aplicá-lo em suas práticas sociais de forma natural. Neste aspecto Vygotsky entende

que “o mundo não é visto simplesmente com cor e forma, mas também como um

mundo com sentido e significado”. (1991, p. 37). E para este autor, as experiências

infantis ganham sentido e significado nas interações sociais, em que estabelecem

trocas importantes de convívio, que auxiliam no despertar psicológico da criança.

A ludicidade, entendida como uma tomada de consciência do corpo, suas

relações com o meio social envolvendo o desenvolvimento de jogos e brincadeiras

no desenvolvimento cognitivo e afetivo do ser humano, é tema obrigatório quando se

trata da Educação Infantil. É neste sentido que a escola precisa buscar trabalhar o

lúdico a partir de contextos culturais para formação da criança.

Para Rau (2011), “a atitude pedagógica do professor na utilização da

ludicidade como recurso pedagógico” é fundamental para caminhar na

aprendizagem, limitando ou proporcionando mais conhecimentos aos educandos.

Assim, a autora afirma que:

Brincar propicia o trabalho com diferentes tipos de linguagens, o que

facilita a transposição e a representação de conceitos elaborados

pelo adulto para os educandos. Educar, nessa perspectiva, é ir além

da transmissão de informações ou de colocar à disposição do

educando apenas um caminho, limitando a escolha ou seu próprio

conhecimento. (Rau, p.39)

Ainda pensando na influência do lúdico na aprendizagem e na vivência

das crianças, é possível percebermos que o brincar pode auxiliar no processo

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18

ensino-aprendizagem. Para isso, é fundamental que os educadores reconheçam a

importância de se utilizar em sala de aula os jogos e as brincadeiras, não como

meros passatempos, mas como instrumentos de construção da aprendizagem e do

desenvolvimento da criança. Importante que se faça a mediação e a intervenção

adequada, proporcionando alegria às crianças, para que sejam vias da

aprendizagem.

A criança se envolve no jogo, por meio da brincadeira, e nessa atividade

sente a necessidade de partilhar com o outro, dividir com o colega, numa relação de

troca onde expõe suas potencialidades, nesse momento de troca os participantes

vivem emoções e sensações que põe a prova suas aptidões, testando limites e

novos desafios.

Nesse contexto a criança estabelece relações de troca, parceria,

convivência social e cultural. Importante lembrarmos-nos dos jogos tradicionais,

importantes da cultura, retrato da infância vivida guardadas na memória, ainda viva,

da maioria dos adultos. A esse respeito, Kishimoto (1993, p. 15) afirma:

Os jogos têm diversas origens e culturas que são transmitidas pelos

diferentes jogos e formas de jogar. Este tem função de construir e

desenvolver uma convivência entre as crianças estabelecendo

regras, critérios e sentidos, possibilitando assim, um convívio mais

social e democracia, porque “enquanto manifestação espontânea da

cultura popular, os jogos tradicionais têm a função de perpetuar a

cultura infantil e desenvolver formas de convivência social”.

Neste sentido é com o outro que aprendemos outras coisas das quais não

sabemos, ou seja, nos apropriamos da cultura e de conhecimentos de outras

pessoas que também se apropriam dos nossos conhecimentos, numa troca

constante, interagindo socialmente.

Para Vygotsky (1987), a aprendizagem acelera processos superiores

internos que são capazes de atuar quando a criança encontra interagida com o meio

ambiente e com outras pessoas. O autor ressalta a importância de que esses

processos sejam internalizados pela criança. E a brincadeira proporciona tudo isso

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para a criança, além do prazer em brincar com o outro, a abstração de

conhecimentos entre seus pares.

2.3.1 O que é Educação Infantil?

A Lei no 9394 de 1996 destaca que “a educação infantil é considerada a

primeira etapa da educação básica (título V, capítulo II, seção II, art. 29), tendo como

finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos (cinco anos) de

idade.”

2.3.2 Como deve ser o olhar lúdico do professor de Educação Infantil.

Para o professor, trabalhar com o lúdico aflorado em sua prática

pedagógica é um grande desafio. Isso porque, critérios bem definidos quanto aos

recursos matérias e pedagógicos adequados para que sejam interessantes para

seus alunos. São escolhas fundamentais, mas antes de tudo precisa ter um olhar

“lúdico”, levando em conta a faixa etária com a qual se trabalha e conhecer o aluno,

bem como o estágio em que se encontra.

Importante também, o professor, valorizar o conhecimento prévio dos

alunos, como ponto de partida na sua prática, respeitando o tempo, o interesse, o

limite e as necessidades de cada um na aprendizagem.

A aprendizagem quando ocorre de forma prazerosa todos ganham alunos

e professores no processo ensino-aprendizagem. Neste sentido concordo com Rau

(2011,p.62) quando a autora diz que: “A ludicidade como recurso pedagógico ocupa

um espaço no processo ensino e aprendizagem, atendendo às necessidades e aos

interesses do educando e do educador no processo de ensino-aprendizagem”.

Os jogos e brincadeiras devem ser compreendidos como um ato de

liberdade e para que isso aconteça faz-se necessário a existência do “prazer”. Neste

aspecto é preciso que o professor procure “conectar” conteúdos, as atividades

lúdicas, através de jogos como: dominó, bloco lógico, material dourado etc., ou

através de atividades livres e dirigidas na área de laser da escola.

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20

Para que a aprendizagem aconteça, é fundamental garantir que

primeiramente a criança manipule e fica livre para descobrir como se deve trabalhar.

Só então, caso necessite, o professor orienta dando pista e questionamento sempre.

Há uma diferença do brinquedo para o material pedagógico baseado na

natureza da ação educativa. Neste sentido Kishimoto (2001) apresenta seu interesse

sobre o jogo pedagógico, quando afirma que:

Ao permitir a manifestação do imaginário infantil, por meio de objetos

simbólicos dispostos intencionalmente, à função pedagógica

subsidia o desenvolvimento integral da criança. Neste sentido,

qualquer jogo empregado na escola, desde que respeite a natureza

do ato lúdico, apresenta caráter educativo e pode receber também a

denominação geral de jogo educativo (KISHIMOTO, 2001, p.83).

O educador deve ter um olhar apurado para propor atividades

pedagógicas quando se trabalha para a criança e com a criança. Assim, suas

escolhas precisa ter sentido educativo despertando no aluno a vontade de aprender.

Uma aula com características lúdicas não precisa, necessariamente, ter

jogos ou brinquedos. O que traz ludicidade para a sala de aula é muito mais uma

"atitude" lúdica do educador e dos educandos. Assumir essa postura implica

sensibilidade, envolvimento, uma mudança interna, e não apenas externa, implica

não somente uma mudança cognitiva; mas, principalmente, uma mudança afetiva.

Diante tudo isso, vale refletir de que forma o olhar lúdico do professor em

sala de aula serve como uma ferramenta importante no desenvolvimento do ensino

e, que o mesmo, promova a aprendizagem.

2.4 O Brincar pode Auxiliar no Processo Ensino- aprendizagem

Qual é a palavra chave quando se pensa em ludicidade?

LIBERDADE!

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Pois bem, pressupõe que o brincar tem alguns pontos importantes e que

precisam ser levado em conta pelos profissionais da educação, em especial, o

professor:

Quando pensamos na criança, devemos entender que qualquer objeto e

também o próprio corpo, possui duas funções: a lúdica e a pedagógica.

O jogo pode ser usado tendo com objetivo, lúdico ou pedagógico.

Embora, deva-se primeiro trabalhar o lúdico, permitindo que as crianças manipulem

e brinquem como quiserem e somente depois, promover as atividades pedagógicas.

Grandes autores como: Piaget, Vygotsky, Froebel, etc., defendem o lúdico

como um grande aliado do professor e um fator importante para o desenvolvimento

da criança. Portanto, a atividade lúdica deve ser privilegiada nas instituições de

educação.

Nesta perspectiva é importante recordarmos um pouco das contribuições

do estudioso Froebel, dedicado à atividade lúdica, esse autor comparava a criança a

pequenas sementes que, adubadas e expostas a condições favoráveis,

desabrochariam e estariam livres para criar e imaginar. Por isso a proposta

educacional de Froebel incluía atividades de cooperação e, na sua proposta, o jogo

era entendido como origem da atividade mental.

O estudioso, Froebel, partia da ideia de espontaneidade infantil e

preconizava a autoeducação da criança pelo jogo, por suas vantagens intelectuais e

morais, além do seu valor no desenvolvimento físico.

No entanto é preciso entender que o lúdico nem sempre é prazeroso para

a criança, pois quando perde, tende a experimentar o sofrimento. Neste aspecto,

cabe ao professor intervir de forma adequada, mediando, sem desprezar os

sentimentos do educando, ensinando-o a lidar com a derrota. Este é um dos

desafios enfrentado pelo educador ao trabalhar com a proposta do lúdico em sala,

através de jogos e brincadeiras. Por isso, a palavra chave do lúdico é liberdade.

Quando o adulto impõe o jogo à criança, está fazendo com que parte da

ludicidade se perca prejudicando a aprendizagem. Uma vez, que o lúdico é o meio

para a aprendizagem potencialmente significativa.

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Nesta perspectiva a aprendizagem significativa é aquela que faz conexão

com conceitos ou habilidades pré-existentes.

Ao trabalhar com a proposta da ludicidade na Educação Infantil, o

professor, deve ter como foco as brincadeiras, jogos e descobertas da criança e não

pode faltar a contação de histórias, os contos de fada são os preferidos das crianças

pequenas. Pois o lúdico, quando inserido a prática pedagógica, não apenas contribui

para a aprendizagem dos educandos como possibilita ao professor tornar suas aulas

mais dinâmicas, atrativas e prazerosas.

Todavia é interessante que o professor saiba não só diferenciar

momentos de brincadeiras livre de momentos de brincadeiras com fins pedagógicos,

como compreender que o lúdico é uma ferramenta essencial no ensino-

aprendizagem se bem direcionado.

A brincadeira é a ação mais séria que a criança desempenha ao

concretizar as regras do jogo e ao mergulhar na ação lúdica. Pode-se dizer que é o

lúdico em ação. Brincar não é apenas recrear, é muito mais, significa uma das

formas mais complexas da criança comunicar-se consigo mesma e com o mundo

que a cerca.

No jogo simbólico, preferido das crianças pequenas, acontece uma

representação de um objeto por outro, a atribuição de novos significados, a

significação de temas como: brincar de cavalinho com apenas um cabo de vassoura,

ou adoção de papeis “sou o pai”, “sou a mãe”, “sou o médico”, etc. Em suas

brincadeiras, brincam imitando barulhos de canhão, roncos de aviões ou apenas

com pedaços de madeiras criam diferentes formas de brincar. Através do jogo, a

criança forma conceitos, relações lógicas, integra percepções, estimula à linguagem

e ideias, estimativas compatíveis com o seu crescimento físico e desenvolvimento, e

o importante, acontece à socialização.

“Jogar é tornar real qualquer coisa que não existe.

Jogar é poder ser outra pessoa que não somos.

Jogar é viver por um instante num lugar impossível.

E ser dono do tempo e da distância.

Jogar é fazer sair o sol em plena noite e

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a lua em pleno dia, é esvaziar o mar...”

(Pipo Pescador)

Viver ludicamente, é experimentar diferentes papeis, ir alem do

inimaginável, é necessidade do encantamento e na fantasia da inocência infantil. O

poema de Pipo Pescador retrata o viver ludicamente, quando diz: “Jogar é tornar

real qualquer coisa que não existe, [...] é poder ser outra pessoa que não somos, [...]

é viver por um instante num lugar impossível”. Esta é característica primeira do jogo

“liberdade”, a segunda característica atribuída ao jogo é que ele não é vida

“corrente” e nem vida “real”, é fuga para uma esfera maior. A criança bem sabe,

quando está “só fazendo de conta” e quando está “só brincando”.

Neste sentido o jogo traz para a criança situações de desafios, sempre

com caráter novo, com grandes novidades o que é fundamental para despertar o

interesse e a curiosidade dos alunos, e este despertar torna o jogo um excelente

integrador da prática no cotidiano escolar.

É através do jogo, que a criança tem a oportunidade de assimilar o mundo

a sua maneira. Usa da fantasia, do faz de conta, para dar asas à imaginação,

expressa o contentamento em ser como ela quer ou quem deseja ser: médico,

astronauta, caubói, policia, ladrão, rei, rainha, princesa, super-herói, etc. No jogo a

criança é desafiada, superando dificuldades e desenvolvendo o raciocínio lógico.

Nesta perspectiva, RAU (2011,p.34) afirma que:

Quando você entra na ação do jogo, elabora metas (seus objetivos),

prepara estratégias (sua ação cognitiva e motora no jogo), elabora

caminhos (elabora hipóteses), brinca de “faz de conta” (vivencia

papéis), raciocina e enfrenta desafios (tenta superar os obstáculos),

vivencia emoções e conflitos (alegria, ansiedade),organiza o

pensamento (supera os problemas,percebe erros e acertos), e

sintetiza (compreende resultados, vencendo ou perdendo).

Brincar é algo espontâneo da criança, facilita a comunicação dela

consigo mesma e com os outros. A criança é espontânea, inventa e cria situações

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de brincadeiras, sozinhas ou acompanhadas, vivencia experiências de imaginação e

criatividade inéditas. No entanto, precisa apenas de tempo e de espaços adequados.

Nesta perspectiva RAU (2011, p.106) enfatiza sobre o brincar

espontâneo,

Para brincar de forma espontânea, sozinha ou acompanhada, a

criança precisa de tempo e espaço adequados. Atualmente,

dependendo da localidade onde as crianças residem, estas se

tornam cada vez mais limitadas nos seus movimentos. Neste

sentido, o espaço reservado aos brinquedos, seja na sala de jogos

ou de aula, cantos pedagógicos, quadras ou parques devem

possibilitar às crianças liberdade para os seus movimentos e suas

expressões.

É explorando o prazer de aprender brincando, que abre um leque de

possibilidades e facilidade para o professor conduzir uma aula, partindo da

curiosidade dos alunos. Muitos educadores, ainda, acreditam que dinamizar as suas

aulas utilizando jogos e brincadeiras é "perda de tempo".

“Brincar com as crianças não é perder tempo, é ganhá-lo.

Se é triste ver meninos sem escola,

mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar,

com exercícios estéreis,

sem valor para a formação do homem.”

(Carlos Drumond de Andrade)

Ensinar e aprender envolve busca, procura, alegria no aprender e ensinar.

Segundo o pensamento de Paulo Freire “A alegria não chega apenas no encontro do

achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se

fora da procura, fora da boniteza e da alegria”.

Por meio das brincadeiras o educador tem a oportunidade de passar para

as crianças a vontade de construir um aprendizado satisfatório e prazeroso, que não

fique baseado em simplesmente passar o lápis em cima da letrinha do nome ou

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pegar o giz de cera e pintar aquela figura que mais se parece com a criança.

Quando a criança brinca na escola está construindo sua identidade.

Importante, que o professor selecione atividades lúdicas que apresentam

benefício para a criança, para o desenvolvimento completo do corpo e da mente por

inteiro. Nas atividades lúdicas importa não apenas o produto da atividade que dela

resulta, mas a própria ação. Os momentos de fantasia são transformados em

realidade, a percepção, a criatividade, os conhecimentos, momentos de vida.

Para que esse método funcione com mais eficácia, o professor (a) deve

contar com dois grandes aliados: áreas livres, mobiliários e materiais apropriados,

pois estes são indispensáveis para a realização plena do desenvolvimento infantil e

seu respectivo aprendizado.

Toda criança precisa de espaço, área verde e móveis apropriados, que

estimulem e colaborem para o seu conhecimento. E dentro desses espaços podem-

se explorar diversas maneiras criativas de ensinar e aprender, como por exemplo:

quando brinca de mamãe e filhinho, dono de posto de gasolina, de médico, de

boneca, de carrinho, de serem os seus heróis preferidos como, o Homem-Aranha e

o Super-Homem, etc..

Trecho do poema “ Apenas brincando”.

[...] Quando você me pergunta o que eu fiz na escola hoje,

Eu digo, eu brinquei.

Por favor, não me entenda mal.

Porque enquanto brinco, estou aprendendo.

Eu estou aprendendo a ter prazer e ser bem sucedido no trabalho.

Eu estou me preparando para amanhã.

Hoje, eu sou uma criança e o meu trabalho é...BRINCAR!

Anita Wadley, educadora norte-americana, retrata muito bem, em seu

belo poema, o valor da brincadeira. Este texto é encontrado facilmente em vários

sites e blogs destinado a crianças.

Observando o poema, fica claro que criança precisa ter oportunidade de

brincar, enquanto brinca ela se conhece e se socializa. É fundamental que pais e

profissionais da educação tenham consciência dessa tamanha importância. Pois o

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brincar quando bem direcionado, seguindo uma linha de aprendizagem para o

alcance de objetivos, é o caminho. Quanto maior for à qualidade deste “brincar”

maior será o desenvolvimento cognitivo.

Neste sentido, percebemos que a escola tem o papel fundamental de

proporcionar tempo e espaço para que a criança brinque, contribuindo com suas

evoluções nos aspectos sociais, intelectuais, físicos e motores.

Não há como negar, que através de jogos e brincadeiras os alunos muitas

das vezes revelam sua própria imagem e criatividade, portanto, usá-los na sala de

aula é bastante pertinente, pois, possibilita que o processo de ensino e

aprendizagem possa fluir prazerosamente. Mas as atividades em educação devem

possibilitar que os conteúdos sejam apresentados de forma lúdica, onde o aluno

aprende brincando, como por exemplo, na disciplina matemática, os jogos

numéricos favorecem, dentre outras coisas, a criança fazer o uso dos números,

amplia suas representações e os familiariza mais com a matéria.

2.4.1 Brincadeiras livres.

Os momentos de brincadeiras livres na instituição escolar, por exemplo, o

recreio, deve ser garantia de oportunidade para que aja bastante descontração,

promovendo assim, alegria e contentamento com pouca interferência do professor

durante o brincar das crianças. Embora, não deixa de ser educativo e sempre é bom

o educador ficar de olho, observando o comportamento de cada criança, assim,

verifica quais dificuldades surgem no momento da socialização.

O parquinho da escola também constitui em um momento divertido para a

meninada e agrada a todas as idades e sexos. Os alunos (em especial os da

educação infantil), quando levados para brincar nesse ambiente (parquinho)

vivenciam momentos de extrema alegria, descontração, socialização e de grande

movimentação do corpo.

Portanto, são momentos ricos quando a criança brinca com liberdade e

movimento. Pois não há aprendizado satisfatório sem movimento, sem liberdade,

sem ação, a aprendizagem abre o caminho da vida, do mundo, das possibilidades

de ser feliz.

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A ludicidade deve fazer parte do cotidiano escolar. No entanto, para que

aconteça a atividade lúdica na sala de aula depende da boa vontade, da criatividade

e da sensibilidade do educador ao desenvolver sua prática, atrelada as brincadeiras

e os jogos como fonte e suporte do desenvolvimento integral de seus educandos. O

interesse pelo brincar no universo infantil é latente, tendo em vista, que toda criança

tem a necessidade da brincadeira como parte integrante de seu processo de vida.

Neste sentido Piaget (1998) diz que “a atividade lúdica é o berço

obrigatório das atividades intelectuais da criança, sendo, por isso, indispensável à

prática educativa”.

Ainda este mesmo o autor alerta que “tudo o que se ensina a uma

criança, a criança não pode mais, ela mesma, descobrir ou inventar” esclarece ainda

que “nas brincadeiras, uma criança age de acordo com sua visão do mundo”.

Outro estudioso, o suíço Vygotsky (1998) nos fala “que as maiores

aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições que no futuro

tornar-se-ão seu nível básico de ação real e moralidade”. Ainda nos diz que “o saber

que não vem da experiência não é realmente saber”.

Assim, garantir a presença das brincadeiras dentro da escola, saber

quando e como aplicá-las, em momentos livres e outros direcionados com fins

pedagógicos, são de extrema importância e relevância no processo de

desenvolvimento e aprendizagem da criança. É compreender que a brincadeira traz

a percepção de que existem regras a serem seguidas e portanto, desenvolve a

socialização. É importante jogar com os outros, esperar a vez e respeitar o ritmo dos

colegas. A realização de jogos e brincadeiras exigem várias ações que ocorrem ao

mesmo tempo, por exemplo, nas cantigas de roda a criança gira, bate palmas e

canta. É brincando que a criança desenvolve o senso de companheirismo.

Pensando em relação aos brinquedos e brincadeiras que mais agradam

as crianças na escola, a bola é o brinquedo indispensável e que mais aparece nos

momentos de brincadeiras livres. A bola é um brinquedo básico e indispensável a

qualquer criança que possa movimentar-se.

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As brincadeiras durante o recreio, em função da “liberdade”, também

requer o olhar atento e a intervenção do professor. Vale pôr um companheiro para

uma criança que está só. Porque pula, rola, é um eterno convite á ação e ao jogo.

Em todas as situações, há ludicidade e desenvolvimento da coordenação dos

movimentos amplos e da sociabilidade.

Enquanto algumas crianças correm, pulam, joga futebol outras gostam

mesmo é de brincar com os bonecos. São os super-heróis os preferidos, onde o

bem sempre vence o mal através de lutas e guerras.

O brincar de matar, por exemplo, é muito comum entre as crianças e,

certamente quando o fazem não estão abrangendo a dimensão da morte. Sabemos

que enquanto houver violência nos filmes apresentados na televisão, as crianças

tende a brincar de guerra, mas para isso não necessitam de revolveres idênticos aos

verdadeiros, qualquer pedaço de pau pode ser transformado em arma e seu boneco

em pessoas pela imaginação da criança.

CHUDACOFF (2008) fala em entrevista concedida a Revista Época, que

“as brincadeiras nos dizem não só sobre as crianças, mas sobre nós mesmos.

Todos fomos crianças, temos memórias sobre as brincadeiras e ideias sobre como

as crianças devem brincar. Por causa disso, muitas vezes, tentamos guiar e

controlar o modo como às crianças brincam sem perceber que o prazer real delas é

criar seu próprio jogo”.

Nesta perspectiva, é importante que o professor esteja atento e sempre

acompanhando as brincadeiras, mas intervir o mínimo e quando se fizer necessário.

Infelizmente, os momentos de brincadeiras em áreas livres (praças e

ruas) estão cada vez mais carentes da presença infantil, pois com o crescente

aumento da violência nas cidades, muitos pais, para segurança dos filhos, têm

restringido um pouco o brincar nesses ambientes.

Contudo, ainda é possível ver algumas crianças brincando em praças e

ruas, acompanhadas por um adulto, brincam naturalmente com folhas, gravetos e

outros objetos (suporte da brincadeira) caídos no chão. Algumas crianças preferem

mesmo é correr, subir nos bancos da praça e outras, escolhem brincar com os

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próprios brinquedos (velotrol, bicicleta, carrinho e boneca) que trazem de casa

desfrutando desse delicioso momento de lazer.

A escola vem sendo considerada, por pais e educadores, como local para

se brincar de forma saudável, das aprendizagens para o desenvolvimento pleno. O

ambiente escolar tem sido valorizado não só como lugar para ensinar e aprender,

mas para aprender brincando e brincando para aprender.

As brincadeiras na escola têm sido cada vez mais valorizadas. Isso

acontece, não só pela escola possuir um espaço privilegiado, onde se encontra um

número maior de crianças para interagir e brincar, mas por ser este espaço ainda o

mais seguro e de garantia para que aconteça o resgate das velhas e boas

brincadeiras.

Certamente, quem um dia “brincou na rua” lembra que brincar nas ruas e

praças era referência para uma infinidade de atividades realizadas ao ar livre. As

ruas e praças serviam de espaço lúdico para as crianças (adultos também).

Hoje em dia, por limitações óbvias, dificilmente encontramos crianças

utilizando estes espaços para brincar. A violência, o trânsito, e outros, limitam a

utilização desses espaços públicos para diversão.

O que importa é encontrar tempo e lugar para brincar e a escola, neste

sentido, entre todos os espaços públicos, é um espaço realmente privilegiado para

as brincadeiras acontecerem.

Enfim, por tantos motivos podemos dizer que a ludicidade é também uma

necessidade inerente do ser humano em qualquer idade não podendo ser apenas

vista como mera diversão, mas como fonte de aprendizagem na construção do

conhecimento e do pleno desenvolvimento integral dos indivíduos envolvidos no

processo ensino aprendizagem.

.

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30

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No desenvolver deste trabalho foi possível perceber as características

que envolvem o brincar, que contagia todas as crianças, independentes de sexo,

classe social, etnia e que sempre esteve presente em diferentes épocas ou cultura.

Para termos uma ideia da importância do ato de brincar na construção do

conhecimento é fundamental que se observe a criança brincando. É possível

aprender muito mais pela observação e se formos bastante atentos e sensíveis,

descobriremos os muitos caminhos que a criança trilha ao aprender sem que aja a

intervenção do adulto.

Certamente, quem um dia “brincou na rua” lembra que brincar nas ruas e

praças era referência para uma infinidade de atividades realizadas ao ar livre. As

ruas e praças serviam de espaço lúdico para as crianças (adultos também). Hoje em

dia, por limitações óbvias, dificilmente encontramos crianças utilizando estes

espaços para brincar. A violência, o trânsito, e outros, limitam a utilização desses

espaços públicos para diversão. Mas o que importa é encontrar tempo e lugar para

brincar e a escola, neste sentido, entre todos os espaços públicos é um espaço

realmente privilegiado para as brincadeiras acontecerem.

A ludicidade então, se configura como conjunto de ações lúdicas e,

portanto, proporciona “prazer” e “proporcionar prazer” é a característica primeira do

lúdico. Neste sentido, até chupar chupeta é uma atividade “lúdica”, pois proporciona

prazer a criança.

Observando as crianças brincando foi possível perceber que, pelas

brincadeiras elas adquirem iniciativa e autoconfiança, quando lhes é permitido ter

autonomia e liberdade. Neste sentido, as brincadeiras proporcionam não só o

desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração, mas a

socialização, o exercício da liderança ou passividade, ou seja, desenvolvem a

personalidade e o controle da mesma. As brincadeiras e jogos também colaboram

com o exercício da competitividade, tendo em vista que vencer é motivo de orgulho

e prazer, bem como agir diretamente na cooperação do grupo levando a

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participação coletiva. Neste aspecto as atividades lúdicas, quando bem

administradas, trazem diversos benefícios às crianças.

Não é o objetivo deste trabalho, e o mesmo não tem nenhuma pretensão,

de esgotar as possibilidades sobre a reflexão do valor atribuído aos jogos e

brincadeiras como recurso pedagógico, o que seria impossível. Tendo em vista que

há uma infinidade de possibilidades ao se trabalhar com jogos e brincadeiras,

enriquecendo a aprendizagem e a descoberta das atribuições do valor de aplicá-lo

no cotidiano da sala de aula.

Por tantos motivos, pode-se dizer que a ludicidade é também uma

necessidade inerente ao ser humano em qualquer idade, não podendo ser apenas

vista como mera diversão, também deve ser vista como fonte de aprendizagem,

construção do conhecimento e do pleno desenvolvimento integral dos indivíduos

envolvidos no processo ensino aprendizagem.

Finalmente, pode-se concluir que o brinquedo e o ato de brincar são

extremo, terapêutico, prazeroso, e o prazer é o ponto fundamental da essência do

equilíbrio humano, e há nele uma aprendizagem significativa.

Diante do exposto, conclui-se que a ludicidade é valiosa e uma grande

aliada do professor, principalmente, quando se trabalha com a Educação Infantil.

Com tudo, espero que estas orientações possam “lançar luz” nos

momentos de trabalhar com atividades lúdicas, aliada as práticas pedagógicas, no

contexto escolar. Conhecimentos imprescindíveis que adquiri com esta pesquisa e

que me serão úteis e me auxiliarão, tanto na vida pessoal quanto na profissional,que

com certeza, aplicarei na sala de aula como Pedagoga.

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32

REFERÊNCIAS

BORBA, Ângela Meyer. O brincar como um modo de ser e estar no mundo. In:

Brasil MEC/ SEB. Ensino fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da

criança de seis anos de idade/ organização Jeanete Beauchamp, Sandra Denise

pagel, Aricélia Ribeiro do Nascimento. _ Brasília: Ministério da Educação, Secretaria

de Educação Básica, 2007.

BRASIL.Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional

para a Educação Infantil. Vols.1 e 2. Brasília: MEC/SEF, 1998.

BRUEGHEL,Pieter.Jogos de crianças-cultura lúdica do séc.XVI–1560, disponível

em:<http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000012746.pdf> Coleção

Proinfantil,p.20. 2005.

CUNHA, Maria da Conceição Alves Versiani. Fotos de brincadeiras- momento do

estágio na Educação Infantil. Escola Municipal Cláudio Pinheiro de Lima. Moeda,

2011.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia saberes necessário à prática

educativa. 36 ed. São Paulo: Paz Terra, 2007.

GUERRA, Ludmila.Várias Brincadeiras II. Acervo do artista, Ivan Cruz. 2006.

Disponível em: < http://www.brincadeiradecriança.com.br > acesso em: abr.2012.

KISHIMOTO, M.T. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. Cortez editora.

5.ed São Paulo, 2001.

KISHIMOTO, T. M. (2001). Brinquedos e materiais pedagógicos nas escolas

infantis. Revista Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, pp.229-245.

PAES, José Paulo. Jornal de Poesia. Convite. Disponível em:

<http://www.revista.agulha.nom.br/jpaulo1.html#convite> acesso em: 26 abr. 2012.

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33

PRADO, C.A.Miranda; ARRUDA, M.R. de Barros. /Ludicidade Contribuições-No-

Processo-De-Desenvolvimento-e-Aprendizagem-Ifantil. disponível em:

<http://www.webartigos.com/articles/27594/1/Ludicidade Contribuições-NoProcesso-

De-Desenvolvimento-e-Aprendizagem-Ifantil/pagina1.html> acesso em: maio.2011

RAU, Maria Cristina Trois Dorneles. A Ludicidade na educação: uma atitude

pedagógica. Série educação.2. ed. Local. editora Ibpex ,2011. p. 245.

SORG, Letícia. As crianças têm de brincar mais. Revista Época, disponível em:

<http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG82228-9556,00

AS+CRIANCAS+TEM+DE+BRINCAR+MAIS.html>ed.512, acesso em:25 abr.2012.

Vygotsky, L. S. A formação social da mente. 1. ed., São Paulo, Martins Fontes.

1994.

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34

ANEXO

A criança e a ludicidade na educação: uma proposta pedagógica.

Os contos de fadas na Educação Infantil. Imagens do estágio. Ed. Infantil na Escola

Municipal Cláudio Pinheiro de Lima. Moeda-MG. Fotos e materiais de autoria da aluna.

Autoria: Maria da Conceição Alves Versiani Julho.2011 Foto 1 e 2

Bonecos de emborrachado, papelão, caixa de sapato, e outros recursos de sucata; livrão Branca de Neve e os Sete Anões.

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(Fotos de Maria da Conceição Alves Versiani), estágio Ed. Infantil. Julho.2011(Foto 3 e 4)

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Brincar e aprender, jogos com recurso de sucata.

(Fotos de Maria da Conceição Alves Versiani) Julho.2011 Foto 5 e 6

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Personagens dos contos de fada e de seriados da TV.

Fotos de Maria da Conceição Alves Versiani. Julho de 2011 Foto 7 e 8

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Fotos de Maria da Conceição Alves Versiani. Julho de 2011 Foto 9 e 10