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FACULDADES INTEGRADAS HÉLIO ALONSO COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO FUTEBOL E GUERRA: UMA QUESTÃO HISTÓRICA, POLÍTICA E MIDIÁTICA Trabalho de conclusão do curso de Comunicação Social – Jornalismo das para o título de bacharel das Faculdades Integradas Hélio Alonso. ALUNO: DANIEL COLLYER BRAGA ORIENTADOR: PROFESSOR DOUTOR PERY COTTA RIO DE JANEIRO 2011

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Page 1: TCC Daniel Collyer Braga - Futebol e Guerra: Uma questão histórica, política e midiática

FACULDADES INTEGRADAS HÉLIO ALONSO

COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO

FUTEBOL E GUERRA:

UMA QUESTÃO HISTÓRICA, POLÍTICA E MIDIÁTICA

Trabalho de conclusão do curso deComunicação Social – Jornalismo das para o título de bacharel das Faculdades Integradas Hélio Alonso.

ALUNO: DANIEL COLLYER BRAGA

ORIENTADOR: PROFESSOR DOUTOR PERY COTTA

RIO DE JANEIRO

2011

Page 2: TCC Daniel Collyer Braga - Futebol e Guerra: Uma questão histórica, política e midiática

RESUMO

Este trabalho apresenta as principais interseções entre futebol e guerra.

Contextualização histórica da Guerra do Futebol. Aplicação das diretrizes do livro

“Marketing de Guerra” no âmbito futebolístico. Fatores políticos, históricos, religiosos,

culturais, étnicos e sócio-econômicos são confrontados com acontecimentos da história

do futebol para a explicação de determinadas rivalidades. Futebol como instrumento de

manipulação de massa, arma contra conflitos armados e disseminador de paz.

Apresentação midiática em Internet e jornal impresso de fatos em que o futebol é

utilizado contra a guerra de alguma forma.

Palavras-chave: guerra, futebol, jornalismo, mídia.

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SUMÁRIO

Introdução........................................................................................................................1

1 A Guerra do Futebol e a guerra no futebol.............................................................3

1.1 A Guerra do Futebol....................................................................................................3

1.2 A guerra no futebol......................................................................................................4

2 O Futebol e a Guerra étnico-política e religiosa....................................................8

2.1 Irã x Estados Unidos (Copa do Mundo de 1998)........................................................8

2.2 Portugal x Angola (Copa do Mundo de 2006)............................................................9

2.3 A antiga Iugoslávia......................................................................................................9

2.4 Israel, na Europa ou na Ásia?....................................................................................10

2.5 Malvinas....................................................................................................................10

2.6 Os Hooligans.............................................................................................................11

2.7 Católicos x Anglicanos..............................................................................................11

2.8 Povo x Poder ou Pobres x Ricos................................................................................12

2.9 Derby della Capitale..................................................................................................14

3 Futebol, uma arma contra a guerra.......................................................................16

3.1 Seleção Brasileira no Haiti em 2004.........................................................................16

3.2 O Santos de Pelé e as guerra civis na África (1969).................................................18

3.3 Pelé e a Guerra Civil do Líbano................................................................................19

4 A Guerra e o Futebol na Mídia..............................................................................21

4.1 Seleção Brasileira no Haiti em 2004.........................................................................21

4.2 Santos de Pelé na África............................................................................................23

Considerações Finais.....................................................................................................25

Referências Bibliográficas e Eletrônicas.....................................................................27

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa pretende mostrar que o futebol tem associação direta com a guerra

conforme concepções apresentadas por vários fatos datados por diversos autores. O presente

trabalho tem embasamento onde ambos conceitos se tangem de alguma maneira. A

articulação dos resultados estão separados em capítulos distintos, para um melhor

entendimento sobre assunto.

A ideia surgiu há alguns anos assistindo à uma matéria feita pelo repórter Régis

Rösing, da Rede Globo. O jornalista citado apresentava que os termos do futebol são

diretamente retirados dos termos de guerra, com palavras simples, como ataque, defesa,

artilheiro, bomba e arqueiro. Foi possível então, perceber que a associação entre guerra e

futebol ia muito mais além. Pesquisando sobre o assunto, é possível concluir que o futebol

poderia influenciar diretamente uma guerra positiva ou negativamente. Assim como, uma

guerra pode ser iniciada em decorrência da rivalidade causada por uma partida de futebol.

Antes de o inglês Charles Miller trazer o esporte para o Brasil, os chineses jogavam

uma espécie de futebol com a cabeça de seus inimigos. Cuju, como era chamado, está datado

no século III a. C. Os Maias, há mais de três mil anos, também tinham um jogo em que duas

equipes se enfrentavam com objetivo de acertar uma bola em um determinado local do campo

adversário. Estudiosos afirmam que o “esporte” era levado tão a sério que o líder do time

derrotado, era condenado à morte.

O futebol sempre despertou paixão sobre aqueles que o acompanham e participam e, a

cada ano, torna-se mais profissional. Além de sofrer inúmeras atualizações e modernizações.

Ainda assim, o lado bretão do esporte jamais é esquecido. Seja pela atuação de

torcidas organizadas, que acabaram virando gangues, como pela paixão exacerbada dos

torcedores, acompanhada pelo ódio aos rivais, gerando guerra física ou verbal.

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Atualmente são incalculáveis os valores financeiros que o futebol gera ao redor do

mundo, atraindo grande atenção do mundo capitalista. Além disso, o futebol é usado como

instrumento para interesses externos, ferramenta de manipulação das massas.

O futebol tem sua fama de “maior esporte do mundo” afirmada quando observamos

fatos simples. Pelé, o rei do futebol, foi eleito o maior atleta do século XX, dentre atletas de

todas as outras modalidades. Os rostos de Pelé e Ronaldo “Fenômeno” estão entre os cinco

mais conhecidos no planeta, disputando com Jesus Cristo, por exemplo.

Uma partida de futebol seria capaz de parar um conflito armado? Seria possível iniciar

uma guerra? Existem rivalidades futebolísticas extremas a ponto de causarem mortes? São

esses e outros questionamentos que estão levantados e respondidos neste trabalho.

Não há um livro que, especificamente, trate sobre guerra e futebol de forma tão direta

e simples quanto esta pesquisa, que traz inúmeros casos e notícias sobre o assunto. O que

existem são livros que contam determinados casos. Por exemplo, “A guerra do futebol: e

outras histórias”, de Ryszard Kapucinski, como o título apresenta, conta a história da Guerra

do Futebol, um conflito armado ocorrido em 1969 entre Honduras e El Salvador, que teve

como estopim três partidas de futebol das eliminatórias da Copa do Mundo de 1970.

Mais do que um trabalho de conclusão de curso, é uma compilação de informações

sobre futebol, com datas, curiosidades e dados.

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1. A GUERRA DO FUTEBOL E A GUERRA NO FUTEBOL

1.1. A Guerra do Futebol

A Guerra do Futebol, também conhecida como a Guerra das 100 horas, foi um conflito

armado entre El Salvador e Honduras, que durou do dia 14 ao dia 18 de Julho de 1969. Até aí,

tudo “normal”. E se pensarmos que o estopim para esta guerra foi uma partida de futebol? Foi

exatamente isso que aconteceu.

Havia outros motivos para a corriqueira inimizade entre os dois países. O futebol foi

usado como desculpa para a guerra. A região apresentava estruturas políticas problemáticas.

O jornalista polonês Ryszard Kapuscinski apresenta sua ótica dessa história em seu livro “A

Guerra do Futebol”. Kapuscinski foi ao México tentar aprender com um amigo jornalista um

pouco mais a respeito da complicada América Latina da época, quando o conflito explodiu.

Kapuscinski compreendia fatores bem mais importantes por trás de uma “simples”

guerra de cinco dias entre dois países que figuram entre os mais pobres da América Central.

El Salvador, além de ser o menor país da região, apresentava excesso de população nas áreas

urbanas e quase toda a zona rural controlada por apenas 14 grandes latifundiários. Sem

alternativas, grande parte da população migrava para a vizinha Honduras, com área

praticamente seis vezes maior do que El Salvador. Com o passar do tempo, 300 mil

imigrantes já estavam lá e a escassez de terras começou então a preocupar o governo

hondurenho. Não permitida de realizar a reforma agrária pela poderosa United Fruit

(representante estadunidense nos países pobres), Honduras optou por expulsar os imigrantes

salvadorenhos. A bomba-relógio estava preparada, apenas esperando para ser detonada. Foi

quando chegaram aqueles jogos das eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970.

Tudo foi superdimensionado pela mídia a partir daí. A primeira partida foi realizada

no domingo, dia 8 de Junho, na capital hondurenha Tegucigalpa. Os jogadores de El Salvador

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tiveram uma noite péssima, perturbados por pedradas nas janelas do hotel, foguetórios,

buzinas e gritos da multidão. Acabaram derrotados por 1 a 0 no dia seguinte. Em El Salvador,

naquele mesmo momento, Amelia Bolanios, de 18 anos, suicidou-se usando a arma do pai

com um tiro no peito. Tornando-se mártir.

O motivo do suicídio foi ligado aos vexames sofridos por sua seleção em Honduras. O

governo salvadorenho então se encarregou do enterro, tratando como uma questão nacional.

No dia 15, a seleção de Honduras chegou ao país vizinho para a segunda partida da série e

teve o mesmo tratamento dado ao adversário dias antes. A delegação hondurenha foi alvo de

ovos podres no hotel. Para chegar ao estádio, foram utilizados carros blindados. Durante o

jogo, torcedores mostravam fotos de Amelia Bolanios. Assim, Honduras acabou derrotada por

3 a 0.

Na capital San Salvador, carros de hondurenhos foram destruídos, dois torcedores

foram assassinados e dezenas de feridos chegavam aos hospitais. Nas horas seguintes, a

fronteira dos países foi fechada. No dia 27 de Junho, com um grande aparato de segurança, as

equipes fizeram a terceira partida na Cidade do México. A seleção de El Salvador se garantiu

na Copa com uma vitória de 3 a 2. Nesse momento, o jornalista mexicano, amigo de

Kapuscinski, cravou que uma guerra aconteceria. O repórter polonês então foi para a capital

hondurenha, Tegucigalpa. No dia seguinte da chegada de Kapuscinski, a cidade sofreu um

ataque aéreo, onde uma bomba foi lançada. Aquele era o início oficial da guerra.

O saldo final daquelas 100 horas seguintes, segundo Kapuscinski, foi de 6 mil mortos,

12 mil feridos e 150 mil ficaram sem casas e terras. Vilarejos inteiros foram arrasados. A

guerra só cessou por conta da atuação da Organização dos Estados Americanos (OEA). Os

pobres foram os que mais sofreram. Durante aquele pequeno período, a loucura dos governos

de Honduras e El Salvador teve um pretexto, o futebol.

1.2. A guerra no futebol

É possível aplicar em um jogo de futebol todos os princípios fundamentais das guerras

convencionais para se alcançar êxito. Através deste conceito, é possível usar um conjunto de

táticas e estratégias para fazer um time mais competitivo, persuadindo o competidor em

ganhar a batalha. Alguns fundamentos devem ser utilizados em determinadas situações

particulares do jogo. Além disso, é necessário compreender o comportamento do adversário,

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reagindo a ele de um jeito exclusivo. Jogando de forma correta, qualquer time de futebol pode

virar o jogo.

Ries e Jack Trout, autores do famoso livro de Administração “Marketing de Guerra”,

defendem a possibilidade de uma disputa entre empresas da própria maneira que um exército

se prepara para uma guerra verdadeira. A ideia dos autores foi baseada no general da antiga

Prússia, Karl Von Clausewitz, que registrou em 1832 o tratado sobre a guerra chamado “On

War”. Sendo assim, é possível que os princípios de guerra também possam ser aplicados

numa competição esportiva.

Para poder ganhar, é imprescindível construir um plano tático e estratégico, usando os

princípios gerais da guerra convencional, adaptados ao mundo esportivo. Analisando estas

diretrizes que podem ser adaptadas aos campos de futebol, LIMA (2007) explica:

Princípio Um: Encontre um ponto fraco no competidor e ataque este ponto.Toda equipe tem pontos fortes e fracos. Às vezes o sistema defensivo de um time é forte do lado direito e fraco do lado esquerdo, ou pode ter a defesa forte mais o meio de campo deficiente. Alguns times são seguros no sistema defensivo, mas fracos em sua força de ataque. Ao analisar o jogo de uma equipe, é possível identificar os setores mais deficientes, e utilizar esta informação durante o jogo para realizar o ataque e vencer a competição.

Princípio Dois: Lance um ataque sobre a frente mais estreita possível.Com raras exceções, um time deve procurar concentrar seus ataques em uma frente mais estreita possível. Descobrir o ponto fraco do adversário e concentrar suas jogadas explorando esta fraqueza. A tentação de utilizar todas as suas possibilidades de ataque fará com que a equipe divida suas forças e deixe de aproveitar as melhores oportunidades de um jogo. Por exemplo, se um time descobre que seu competidor tem deficiência em um setor especifico da defesa, deve procurar explorar esta deficiência fazendo suas principais jogadas ofensivas naquele setor.

Princípio Três: Um bom movimento de ataque deve ser feito um setor ainda em competição.Muitas vezes observamos durante uma partida de futebol, que uma das equipes está dominando totalmente determinado setor, por exemplo, o meio do campo. Este domínio pode estar ocorrendo pela qualidade técnica superior dos jogadores ou por um outro motivo tático. Mas, no entanto, o time que esta sendo dominado continua insistindo em realizar suas jogados justamente por aquele setor, perdendo todos os embates e comprometendo seu jogo. Portanto, é preciso concentrar as jogadas nos setores onde tem chance de vencer, evitando perder tempo e esforços inutilmente.

Princípio Quatro: A surpresa tática deve ser um elemento importante no plano.Os movimentos competitivos inesperados são sempre mais eficazes. Quanto maior asurpresa, mais tempo levará o adversário para reagir e defender-se. Por isto, a preparação deve ser feita da maneira mais discreta possível, em um ataque silencioso e certeiro. Esteja sempre preparado para surpreender o adversário. Mude o esquema tático durante o jogo, quando perceber que o adversário se adaptou a sua estratégia e a mesma não estiver mais surtindo efeito.

Princípio Cinco: Procure manter a superioridade de força no campo de batalha.

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Mesmo que as equipes tenham o mesmo numero de jogadores é possível obter superioridade de força em momentos e locais específicos do jogo. Para isto, é preciso agir com inteligência. Observamos que muitas vezes um time consegue ter três atacantes contra dois defensores, em um contra-taque, por exemplo. Ou quando estiver sendo atacado, conseguir quatro jogadores defendendo contra dois ou três do adversário atacando. Dependendo do posicionamento dos jogadores, é possível conseguir sempre uma superioridade de forçar em determinados momentos críticos do jogo, e utilizar esta tática para vencer a partida.

Princípio Seis: Independente de seu sucesso, o pequeno nunca deve atuar como o grande.O pequeno time, com menos recursos técnicos, algumas vezes consegue uma superioridade momentânea durante o jogo, e então começa a atuar como a grande equipe, saindo para o ataque, e acaba comprometendo seu desempenho. É preciso resistir à tentação e manter-se cuidadoso durante a partida, independente do resultado, respeitando a condição superior do adversário. Seja porque o competidor esta jogando em casa, seja porque tem um numero maior de jogadores, ou mesmo porque tem uma condição técnica melhor.

Princípio Sete: A superioridade da Defesa.Em todas as batalhas, quem defende sempre tem uma vantagem competitiva sobre quem ataca. Uma equipe que inicia um jogo atacando, para ter sucesso, precisa ter uma grande superioridade em relação à equipe que esta defendendo. Seja em termos táticos ou mesmo na qualidade bastante superior de seus jogadores. A melhor estratégia defensiva é a coragem para contra-ataca nos momentos certos pegando o adversário desprevenido.

Princípio Oito: Fortes movimentos competitivos devem ser sempre bloqueados.Sempre que um time estiver sofrendo ataque, deve procurar descobrir a natureza e a forma deste movimento para poder bloqueá-lo. Por exemplo, se a equipe esta sendo atacada através de lançamentos por bolas aéreas, porque o adversário tem bons finalizadores de cabeça, a equipe deve procurar impedir que ocorram os lançamentos, ao invés de tentar defender-se deles.

Princípio Nove: Esteja preparado para recuar no momento certo.Um time de futebol pode se encontrar numa situação, dentro da partida, em que a relação de forçar mudou, e este time não tem condições de continuar combatendo de forma equilibrada com o adversário. Neste caso, esteja preparado para saber recuar. Seria uma espécie de “recuo tático organizado”, e não uma debandada. Recuar de forma desorganizada cria as condições propícias para que o adversário avance e liquide com a partida mais facilmente ainda.

Princípio Dez: A motivação é uma grande arma tática.Existem diversas armas que podem ser utilizadas por um time durante uma partida. A motivação é uma das armas mais poderosas e por si só, poderá mudar os rumos de um jogo. O mais interessante, é que esta arma não exige investimento algum, depende apenas da capacidade do técnico e dos jogadores de criar um estado de espírito estimulante para gerar uma energia extra de entusiasmo e disposição física e mental. Isto é motivação.

A postura errada dos técnicosÉ comum assistirmos pela televisão, durante as partidas de futebol, alguns técnicos de times, na beira do gramado, se “descabelando” e “xingando” o juiz, os adversários e até seus próprios jogadores para tentar reverter uma situação. Muitas vezes estes treinadores deixam-se envolver muito pela situação do jogo e alteram tanto seu estado de espírito, que criam uma situação difícil para si próprio e para seu time. À medida que alteram seu humor, os técnicos perdem a tranqüilidade para avaliar estrategicamente o jogo, e perceber as táticas do adversário, além de deixar de analisar o contexto para agir de forma adequada com o objetivo de vencer a disputa. A postura dos técnicos deveria ser como a de um jogador de xadrez, que

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mantém a serenidade durante o jogo. Estes analisam todas as jogadas do adversário, do ponto de vista tático estratégico, imaginando seus possíveis movimentos futuros, e agindo de acordo com sua percepção para envolver e bloquear as ações do oponente e conquistar a vitória.

Preparando a vitóriaTodos estes princípios e ações que acabamos de apresentar tem um objetivo principal: criar as condições para um time de futebol se tornar mais competitivo e vencer as partidas. Em geral são idéias simples e fáceis de serem implantadas, mas demandam muita observação do jogo, e um entendimento dos princípios gerais da tática e estratégia.

Acredita-se que a observação cuidadosa destas ideias pode ser bastante útil aos

técnicos e jogadores de futebol para tornarem seus times mais competitivos e,

consequentemente, mais vencedores.

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2. O FUTEBOL E A GUERRA ÉTNICO-POLÍTICA E

RELIGIOSA

Analisando alguns casos no futebol, é possível identificarmos algum tipo de conflito,

causado por determinados fatores que podem ser de origem étnica, religiosa, política,

aquisitiva e/ou histórica.

2.1. Irã x Estados Unidos (Copa do Mundo de 1998)

Na França, dois países inimigos entram em campo num clima de suspense. O ódio

estaria presente na partida? Não é o que acontece. Num ato improvável, os onze atletas que

jogavam pela seleção do Irã, nação governada por islâmicos fundamentalistas, entregam flores

aos seus grandes inimigos, os onze jogadores dos Estados Unidos. As equipes se

confraternizam e posam para fotos juntas.

São raros os jogos que tiveram tanta tensão quanto Irã x Estados Unidos. O motivo

iniciou em 1979 quando uma revolução no Irã desbancou o poder do xá Reza Pahlevi, que

admitia características do ocidente como o futebol. Assim, o comando foi dado ao aiatolá

Khomeini, que era adepto da reza séria e luta franca. Seu combate contra os Estados Unidos

fez os funcionários da embaixada reféns por 14 meses. Na mesma época no Ocidente, os EUA

ajudaram o Iraque em sua guerra contra o Irã.

O sorteio da Copa do Mundo de 1998 fez com que as duas seleções se enfrentassem na

primeira fase, no grupo F. Na verdade, os atletas iranianos não tinham motivos para o ódio

aos adversários. Quem agia assim eram os aiatolás. Eles recriminavam o futebol, “práatica

ocidental”, de forma cruel. Em 1984, Habib Khabiri, então capitão da seleção na Copa de

1978, foi executado pelo regime aiatolá ao ser acusado de ligações com a oposição.

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Para incomodar mais o regime aiatolá, a vaga para a Copa de 1998 teve reações de

alegria fora da autoridade iraniana. Quando o sorteio colocou os estadunidenses no caminho

do Irã, o governo tentou lucrar sobre o jogo entre o “Grande Satã” e os eleitos de Alá. O

oportunismo dos aiatolás incomodou aqueles que sempre praticaram futebol em condições

terríveis. O camisa 4 iraniano, Mohammad Khakpour, declarou na época: “São 3 pontos. E

nada mais”. E foram estes três pontos e nada mais que o Irã faturou contra os EUA. 2 x 1 foi o

placar final e ambas seleções foram eliminadas ainda na primeira fase.

2.2. Portugal x Angola (Copa do Mundo de 2006)

O jogo entre Portugal e Angola teria tudo para ser mais um clássico futebolístico-

histórico entre uma metrópole contra uma ex-colônia, assim como Inglaterra x Estados

Unidos (1950) e Portugal x Brasil (1966). Porém, além das animosidades provocadas até a

independência de Angola, em 1975, houve outro incômodo anterior ligado ao futebol.

Em 2001, um amistoso em Lisboa, que era tido como uma festa de união dos dois

povos, teve um clima bastante tenso. O jogo acabou com quatro jogadores de Angola

expulsos por faltas violentas, imigrantes angolanos quebrando as arquibancadas do Estádio

José de Alvalade e Portugal goleando por 5 a 1.

Apesar desse histórico, o jogo válido pelo Grupo D, foi realizado no dia 11 de Junho e

terminou com um morno placar de 1 a 0 para Portugal. O gol foi marcado logo aos quatro

minutos do primeiro tempo pelo atacante Pauleta.

2.3. A antiga Iugoslávia

As guerras étnicas da década de 1990 entre os países que formavam a Iugoslávia

permanecem no futebol. Quando a já separada Sérvia e Montenegro derrotou em sua capital

Belgrado a Bósnia e Herzegovina, torcedores das duas seleções brigaram arremessando

cadeiras e disparando rojões. O jogo era válido pelas eliminatórias da Copa do Mundo de

2006. Pelo menos seis pessoas sofreram ferimentos sérios. As duas confederações de futebol

levaram multas entre 23 a 26 mil euros. Mesmo com a punição, sempre que repúblicas da ex-

Iugoslávia se enfrentarem, existe o temor que hajam confusões parecidas. As repúblicas que

formavam a extinta Iugoslávia e formam este “grupo de risco” são:

– Bósnia e Herzegovina;

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– Croácia;

– Eslovênia;

– Macedônia;

– Montenegro; e

– Sérvia.

2.4. Israel, na Europa ou na Ásia?

Na geografia política contemporânea, Israel sempre pertenceu ao continente asiático.

No futebol, porém, a seleção israelense joga as eliminatórias da UEFA1 desde 1980, por não

haver resistência muçulmana ao Estado judeu. Fato que ocorre com frequência no Oriente

Médio.

Em 1958, a animosidade política com os vizinhos geográficos quase foi favorável a

Israel na disputa por uma vaga na Copa do Mundo do ano citado. Indonésia, Egito e Sudão

rejeitaram jogar contra Israel nas eliminatórias. Porém, a FIFA decidiu que fosse realizado

pelo menos um confronto para que a vaga fosse válida.

País de Gales foi o escolhido para enfrentar os israelenses. Foram disputadas duas

partidas que acabaram vencidas pelos galeses pelo mesmo placar de 2 x 0, classificando País

de Gales para a disputa da Copa do Mundo de 1958.

2.5. Malvinas

A Guerra das Malvinas ocorreu entre Argentina e Inglaterra, do dia 2 de Abril ao dia

14 de Junho de 1982. O motivo da guerra foi a disputa da soberania sobre o território das

Ilhas Malvinas, ocupadas pelo Reino Unido desde 1833 e, naquele momento, reclamadas pelo

governo argentino. A guerra terminou com a recuperação do território por parte do exército

britânico, que teve 255 baixas, contra 649 dos inimigos argentinos.

A Copa do Mundo de 1982 havia começado em 13 de Junho e, por causa da guerra, a

rádio argentina Rivadávia impediu os locutores da partida entre Inglaterra e Alemanha de

pronunciar palavras como “britânico” ou “Inglaterra”. A equipe formada pelo locutor Juan

Carlos Morales e mais dois comentaristas se utilizaram de termos como “o time de vermelho”,

1 Union of European Football Associations. Em tradução livre para o português: União das Federações de

Futebol Europeias. Órgão máximo que administra o futebol da Europa.

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“o adversário da Alemanha” e até “os piratas”. A única exceção aconteceu quando um dos

repórteres se distraiu e disse o nome proibido: “Está machucado o 5 da Inglaterra, Coppell”.

2.6. Os Hooligans

A violência dos hoolligans2 do futebol britânico se mostra como uma simbólica

nostalgia da guerra. A vida nos tempos pacíficos atuais acaba tornando-se chata, além da

glória britânica parecer algo num passado bem distante. Uma partida de futebol é uma ocasião

de se sentir em um combate não se arriscando muito mais do que ossos quebrados e

ferimentos leves.

A maior mostra de hooliganismo inglês foi a tragédia do Estádio de Heysel, na

Bélgica. Aconteceu durante a final da Taça dos Campeões Europeus de 1985, disputada entre

o Liverpool da Inglaterra e a Juventus da Itália. Esse acontecimento teve 38 mortos e um

grande número de feridos. Os hooligans ingleses foram os responsáveis pelo ocorrido. A

UEFA então proibiu as equipes britânicas de jogarem competições do continente por um

período de cinco anos.

As torcidas organizadas brasileiras são geralmente associadas às práticas de hooligans

por também terem casos de comportamentos violentos, confusões premeditadas e ódio

excessivo ao rival. Um dos casos aconteceu em 2009 no durante um jogo no Paraná. A partida

foi entre Coritiba e Fluminense, válida pela última rodada do Campeonato Brasileiro. Após o

término do jogo e a confirmação de rebaixamento do time da casa, os integrantes da torcida

organizada do Coritiba, Império Alviverde, invadiram o campo e depredaram totalmente o

estádio Couto Pereira causando grande prejuízo ao clube paranaense.

2.7. Católicos x Anglicanos

Para os escoceses, não há maior rivalidade no futebol mundial do que a Old Firm3.

Assim é chamado o clássico da cidade de Glasgow, entre Rangers x Celtic, os dois maiores

clubes de futebol da Escócia. Muito além do esporte, durante um longo período, este embate

2 Adeptos do Hooliganismo. O termo é utilizado para definir o comportamento destrutivo, desregrado e

arruaceiro. Comumente, é associado à pratica de vandalismo associado ao uso em excesso de álcool e drogas, no

esporte ou fora dele.

3 “Velha Firma”, traduzindo para o português.

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foi também de cunho religioso, com os católicos apoiando o Celtic e os protestantes do lado

do Rangers.

Juntamente à rivalidade entre os clubes, da mesma cidade, os torcedores também

levam consigo assuntos fora do futebol. As torcidas seguem duas filosofias político-religiosas

antagônicas em suas respectivas histórias. A amplitude é tamanha que o clássico é tido como

o de maior ódio recíproco no mundo.

Os torcedores do Rangers, em sua grande maioria são devotos do Anglicanismo,

religião da Rainha do Reino Unido. Sua torcida mostra sempre uma grande bandeira que tem

o rosto da Rainha Elizabeth II, a atual líder anglicana. Os torcedores do Rangers também

idolatram o UVF4 e sempre levam bandeiras do Reino Unido aos estádios.

Já o Celtic, é o clube dos escoceses católicos. Também agrega os irlandeses e seus

descendentes que residem na Escócia. O Celtic chega a ter milhares de torcedores entre os

católicos da Irlanda e da Irlanda do Norte. A grande bandeira que é exibida pela sua torcida é

alviverde e tem retrato do falecido papa João Paulo II. Também levam bandeiras da República

da Irlanda e da Escócia. Os mais extremistas também exaltam o IRA5.

A intolerância era tamanha, que não admitia jogadores de outras religiões nos clubes.

Esta “regra” só foi violada em 1988, quando o Rangers contratou o jogador católico Mo

Johnston. Contudo, a rivalidade não foi diminuída em nada após este fato.

2.8. Povo x Poder ou Pobres x Ricos

Desde que o futebol tornou-se essa paixão que se conhece hoje, existem os clubes que

foram fundados e adotados por seus torcedores de classes sociais diferentes. Uns foram eleitos

pelos menos favorecidos e pelo povo. Outros, consequentemente, foram escolhidos pelos mais

ricos, poderosos ou artistrocratas.

No mundo, existem vários exemplos de clássicos entre “Times do Povo” contra “Time

dos Ricos”, conforme os exemplos da TABELA 1.

4 Ulster Volunteer Force. Em tradução livre para o português: Força Voluntária do Ulster. Grupo paramilitar da

Irlanda do Norte que segue a coroa britânica. Tanto no Reino Unido quanto na Irlanda, o grupo é considerado

como terrorista.

5 Irish Republican Army. Em português: Exército Republicano Irlandês. Grupo paramilitar católico e

reintegralista que fazia luta armada pela integração da Irlanda do Norte à República da Irlanda.

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País Cidade/Região “Time do Povo” “Time dos Ricos”

Argentina

Buenos Aires Boca Juniors River Plate

Rosario Rosario Central Newell’s Old Boys

Áustria Viena Rapid Austria

Brasil

Rio de Janeiro – RJ Flamengo Fluminense

Porto Alegre – RS Internacional Grêmio

Salvador – Bahia Bahia Vitória

São Paulo – SP Corinthians São Paulo

Colômbia Cali America Deportivo

DinamarcaMetropolitana de

CopenhagueBrondby FC Copenhague

Egito Cairo Al-Ahly Zamalek

Grécia Metropolitana de Atenas Olympiakos Panathinaikos

Itália Milão AC Milan Internazionale

México Central do México Chivas Guadalajara America

Peru Lima Alianza Universitario

Portugal Lisboa Benfica Sporting

Rússia Moscou Spartak CSKA

Turquia Istambul Fenerbahçe Galatasaray

TABELA 1 – “Times do Povo” x “Time dos Ricos”

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Fizeram-se excessões em alguns casos, principalmente com o passar dos anos. É

possível ver hoje milionários torcendo por “times do povo”, assim como esses “times do

povo” com dinheiro suficiente para contratar os melhores jogadores dos times que

originalmente eram tidos como os mais ricos ou aristocráticos.

2.9. Derby della Capitale

O clássico entre Lazio e Roma é jogado no Estádio Olímpico de Roma, que é dividido

entre as duas equipes. Foi deste clássico que surgiram os “ultras”, que podem ser comparados

de alguma forma às torcidas organizadas brasileiras ou aos hooligans ingleses, com menos

casos de violência. Em 2004, o derby chegou a ser cancelado por conta de uma ameaça de

morte aos jogadores da partida.

A rivalidade entre as duas equipes da capital italiana se dá principalmente pela

política. Na década de 1920, os times da cidade se juntaram para formar a AS Roma, o único

time da cidade. Porém, a SS Lazio não quis fazer parte da fusão e anos mais tarde ganhou o

apoio público do ditador Benito Mussolini, ganhando uma grande torcida de nacionalistas e

fascistas. Com isso, a AS Roma acabou abraçada pelo proletariado e a esquerda socialista.

A torcida da Lazio possui o maior número de simpatizantes fascistas e nazistas na

Itália. Comumente era possível ver com os “ultras” da Lazio faixas como: “Time de Negros,

Multidão de Judeus” e “Auschwitz é sua cidade, os fornos suas casas” em provocação aos

rivais da Roma, além de fotos de Mussolini e suásticas. Na década de 1980, o aumento dos

“ultras” foi maior por conta da crescente quantidade de jogadores sulamericanos e africanos

na Itália. Como uma resposta, os “ultras” se tornaram mais xenófobos6.

O atacante italiano Paolo Di Canio ficou conhecido por fazer publicamente mais de

uma vez o gesto fascista do braço direito estendido. Na primeira vez foi durante o Derby della

Capitale. Di Canio recebeu uma multa de dez mil euros, além de ter sido repudiado pela

comunidade judaica da Itália. “Se nós estivéssemos nas mãos dos judeus, seria o fim”,

respondeu o jogador. Em 2005, o gesto foi repetido numa partida contra o Livorno, clube de

torcida também com tendências socialistas. Ao ser questionado, Di Canio rebateu com termos

usados por Mussolini: “Eu faço a saudação do braço direito reto porque é uma saudação de

um camerata para camerati”. Di Canio durante a sua adolescência fez parte dos ultras da

6 Xenofobia é o termo designado para ódio ou rancor a coisas ou pessoas estrangeiras.

Page 18: TCC Daniel Collyer Braga - Futebol e Guerra: Uma questão histórica, política e midiática

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Lazio. Ele também elogiou o ditador em sua autobiografia, classificando-o como “um

indivíduo ético, e com princípios” e que na verdade, o ditador seria “mal interpretado”.

Outros jogadores da Lazio também tiveram atitudes fascistas. O atacante argentino

Mauro Zárate, repetiu o gesto de Di Canio, em março de 2010. Siniša Mihajlović, zagueiro

sérvio, que tinha devoção pelo ditador Slobodan Milosevic, em 2000, chamou um colega

negro de “macaco negro f.”; Mihajlović alegou que chamou o colega de “merda negra”, e não

de “macaco negro”.

Durante as temporadas 1999/2000 e 2000/2001, os “ultras” da Lazio foram ligados à

atentados de terrorismo. Em um, uma bomba foi plantada no museu dedicado à resistência

italiana à Segunda Guerra Mundial. A polícia romana também desarmou um artefato do

gênero em um cinema que exibia um documentário sobre Adolf Eichmann7. Os “ultras”

também depredaram cemitérios judaicos em Roma. Quando o meia Aron Winter, um

holandês negro, atuou pela própria Lazio, era sempre hostilizado com gritos de “preto judeu”.

Capítulo Três: Futebol, uma arma contra a guerra

7 Tenente-coronel da SS na Alemanha Nazista. Grande responsável pela logística de extermínio de milhões de

pessoas durante o Holocausto.

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3. FUTEBOL, UMA ARMA CONTRA A GUERRA

3.1. Seleção Brasileira no Haiti em 2004

Em Janeiro de 2004, o período político haitiano era conturbado por conta de inúmeras

crises e suspeita de manipulação das eleições do ano anterior. Iniciados na cidade de

Gonaïves, norte do Haiti, conflitos armados liderados pelos Tonton Macoute8 se

multiplicavam pela região. Com a conquista de quase toda a região norte do país, os rebeldes

já visavam Porto Príncipe, capital haitiana. No final de Fevereiro, o então presidente e

acusado de ser o causador daquela situação, Jean-Bertrand Aristide, temendo o pior, viaja

para a África do Sul em asilo político. Conforme a Constituição, o então presidente da

Suprema Corte assume o cargo como chefe de estado interino. Boniface Alexandre logo pede

ajuda à ONU, afim de reestabelecer a questão da segurança do país e uma transição política

tranquila. Em seguida, o Conselho de Segurança das Nações Unidas confirma e envia uma

Força Multinacional Interna para atuar no país, a MINUSTAH9. O comando da operação fica

por conta de um militar brasileiro, o General Augusto Heleno.

Boniface Alexandre, ao saber da presença dos militares brasileiros, considerava a

Seleção Brasileira um ponto positivo para o processo de reestabelecimento da paz. Na

chegada, os soldados brasileiros levaram, além das armas, bolas de futebol e camisas verde-

amarelas para serem distribuídas aos haitianos. Em seguida, Lula e Celso Amorim, na época

presidente e chanceler do Brasil, expuseram a ideia de um “Jogo da Paz” entre a Seleção

8 Milícia de Voluntários da Segurança Nacional. Força paramilitar haitiana criada em 1959 que obedecia o ditador François Duvalier. A expressão traduzida ao pé da letra em crioulo haitiano significa “Tio do Saco”, uma alusão ao “Homem do Saco” ou “Bicho Papão”.

9 Sigla derivada do francês: Mission des Nations Unies pour la stabilisation en Haïti. Traduzindo para o português: Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti.

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Brasileira e a Seleção Haitiana. A iniciativa teve o apoio do presidente da CBF, Ricardo

Teixeira, e dos principais jogadores, grande parte de origem humilde.

Com a grande reputação e reconhecimento da maioria dos jogadores da Seleção

Brasileira, imaginou-se que a aceitação no Haiti seria boa. Inclusive, jogadores como Ronaldo

e Kaká são embaixadores da ONU. Aliado a isso, a apresentação de jogadores como Ronaldo,

Roberto Carlos e Ronaldinho Gaúcho confirmaria humildade, respeito e comprometimento

com o povo e o ensejo dos haitianos. O que seria muito mais tranquilo do que tropas militares

agirem à força, por exemplo. O resultado seria uma presença militar melhor vista e bem

acolhida pela população haitiana, facilitando o trabalho das Forças de Paz. Além de atingir

com maior rapidez os objetivos iniciais que seriam o reestabelecimento da ordem e

possibilidade de uma transição política tranquila.

O governo haitiano e as forças de paz se uniram para reformar um estádio. A seleção

do Haiti foi formada rapidamente, pois há muito tempo não participava de um jogo oficial.

Assim que a Seleção Brasileira chegou, os integrantes foram colocados em veículos militares,

os “Urutus”, que foram conduzidos até o estádio pelas Forças de Paz. As ruas que levavam ao

estádio Sylvio Cator estavam repletas de pessoas (estima-se 1 milhão de haitianos) que

louvavam os jogadores brasileiros, que retribuíam acenando de volta. O estádio ficou

completamente lotado e ainda milhares de outros torcedores não puderam entrar. Antes da

partida, o presidente Lula esteve com o jogadores e ressaltou: “Porque é um jogo da

solidariedade, pela paz, um jogo em que o desejo é o de aproveitar esse momento para

mostrar ao mundo que é possível construir a paz sem precisar que haja guerra”.

Um dos fatos de maior emoção do “Jogo da Paz” foi a execução do hino nacional do

Haiti. As quinze mil pessoas que conseguiram entrar no estádio, cantaram em uma só voz, o

que mostrou um povo bastante orgulhoso. O resultado do jogo foi um inapelável 6 a 0 para o

Brasil. Ao final da partida, os jogadores foram direto ao aeroporto internacional de Porto

Príncipe.

A imagem transmitida pela partida foi realmente de paz, além de os jogadores se

mostrarem humildes e comprometidos para com a população haitiana. A aproximação entre

Brasil e Haiti também aconteceu. Hoje existem, inclusive, projetos de auxílio entre os dois

países para a ascensão do esporte e da educação.

Ficha Técnica do Jogo:Haiti: Max (Gabart); Thelanor, Germain (Jacques), Gabbardi e Bourcicaut (Stephane); Guillaune, Bourdot (Barthelmy), Gilles (Telamour) e Romulut (Mones); Fleury (Francis) e Desir (Herold). Técnico: Carlo Marzelin.

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Brasil: Júlio César (Fernando Henrique); Belletti, Juan (Cris), Roque Júnior e Roberto Carlos (Adriano); Juninho Pernambucano, Gilberto Silva (Renato), Edu (Magrão) e Roger (Pedrinho); Ronaldinho e Ronaldo (Nilmar). Técnico: Carlos Alberto Parreira.Data: 18/08/2004.Local: Estádio Sylvio Cator, em Porto Príncipe (Haiti).Árbitro: Paulo César de Oliveira (Brasil).Cartões Amarelos: Roger (Brasil).Gols: Roger (19’ e 41’), Ronaldinho Gaúcho (32’, 66’ e 81’) e Nilmar (85’).

3.2. O Santos de Pelé e as guerra civis na África (1969)

Durante a guerra civil na África em 1969, as forças inimigas cessaram a guerra entre si

para que o Santos de Pelé passasse em segurança por Kinshasa e Brazzaville10. Houve

inclusive uma mudança de tutela de um exército para outro numa região de fronteiriça. Fato

inusitado, pois era de costume na Grécia Antiga a guerra ser interrompida para a realização

dos Jogos Olímpicos da época.

Antes de chegar para o amistoso em Brazzaville no dia 19 de Janeiro, a delegação do

time do Santos passa por Kinshasa e é acompanhada por soldados do exército local, que

transferem a guarda para as forças oponentes no meio do rio que divide as duas cidades. No

dia 20, o time retorna a Kinshasa e é informado de que só poderia partir se também jogasse

naquela cidade. O Santos joga no dia 21 e Pelé recebe muitas homenagens. Assim, equipe

continua sua viagem em paz. Em seguida, a guerra recomeça.

No dia 4 de Fevereiro, a equipe santista enfrentou a Seleção do Centro-Oeste da

Nigéria, em Benin. A partida não fazia parte do plano inicial da excursão, porque os

militantes locais tinham temor que pudessem acontecer manifestações agressivas no dia da

partida. O motivo seria os confrontos que aconteciam entre nigerianos e separatistas do leste

da África, que ambicionavam a concepção de um país chamado Biafra.

Ainda assim, o jogo aconteceu. Porém, conforme descreveu na época Gilberto Castor

Marques, repórter enviado do jornal “A Tribuna”, de Santos, para a excursão: “quando o

elenco do Alvinegro Praiano chegou à cidade nigeriana, foi decretado feriado na parte da

tarde daquele dia pelo então governador da região nigeriana, Tenente-Coronel Samuel

Ogbemudia. O mesmo ainda autorizou que a ponte sobre o rio que ligava Benin a cidade de

Sapele tivesse a passagem liberada para que todos, indistintamente, pudessem assistir ao

jogo”.

10 Cidades da atual República Democrática do Congo, antigo Zaire.

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O ex-jogador Lima, que atuou naquela partida também descreveu: “Era estranho

porque era o mesmo país dividido e em guerra. Mas, a partir do momento que eles sabiam que

ia ter o jogo, ficou aquela festa danada. Era um campo pequeno, me lembro muito bem. O

pessoal ia com as cadeiras na cabeça para o estádio”.

Data Placar Adversário Local

17/01/1969 3 x 0 Seleção de Point-Noire Pointe-Noire, Congo

19/01/1969 3 x 2 Seleção do Congo Brazaville, Congo

21/01/1969 2 x 0 Seleção “B” do Congo Kinshasa, Congo

23/01/1969 2 x 3 Seleção “A” do Congo Kinshasa, Congo

26/01/1969 2 x 2 Seleção Nigéria Lagos, Nigéria

01/02/1969 2 x 0 Lourenço Marques Moçambique

04/02/1969 2 x 1 Seleção do Centro-Oeste Benin City, Nigéria.

06/02/1969 2 x 2 Seleção Accra (Hearts of Oak) Accra, Gana

09/02/1969 1 x 1 Seleção da Argélia Oran, Argélia

TABELA 2 – Relação dos jogos amistosos do Santos FC com placares, adversário e locais.

3.3. Pelé e a Guerra Civil do Líbano

No dia 6 de Abril de 1975, o Santos de Pelé visitou o Líbano e jogou contra o time

Nijmeh em Beirute. Havia uma guerra civil marcada para iniciar no próprio dia 6, porém só

foi começar no dia 14.

Na partida, Pelé iniciou como goleiro, fez defesas e não levou gol. Depois foi jogar na

linha. Em um lance genial, pegou a bola no meio de campo e fez fila e, quando ia chutar ao

gol, voltou driblando todo mundo de volta.

Durante o jogo, Pelé marcou dois gols que a FIFA não computou nos 1283 gols da

carreira do “rei do futebol”. Muitos defendem que mesmo sendo em um amistoso, esses dois

gols deveriam ser contabilizados pela grande obra realizada, que foi promover a paz. Neste

dia, Pelé conseguiu unir cristãos, muçulmanos e judeus que gritaram num só coro: “Deus,

Deus, Deus da Bola!”. Pelé foi apelidado de “O Profeta da Paz”. No Torá, livro base do

Judaísmo e escrito em hebraico, Pele, significa “milagre de Deus”. Esse milagre foi realizado

no Líbano que teve 15 anos de guerra que gerou 150 mil mortos.

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Os registros em vídeos e fotos da partida que estavam no museu do estádio foram

queimados, quando o mesmo foi destruído por um bombardeio feito por Israel e tudo se

perdeu.

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4. A GUERRA E O FUTEBOL NA MÍDIA

4.1. Seleção Brasileira no Haiti em 2004

Analisando as matérias publicadas em dois grandes portais brasileiros na Internet,

Terra (FIGURA 1) e UOL (FIGURA 2), vemos que houve uma exaltação ao heroísmo dos

jogadores brasileiros que lá foram e deram o melhor de si, levando para aquele povo muita

alegria, pelo menos naquele dia.

Um ponto a ser observado é o fato de o então presidente Lula ter dito aos jogadores

“pegarem leve” e não jogarem tão bem, por uma questão diplomática. Porém, o lado político

foi deixado de lado e a goleada foi dada em 6 a 0, com direito a um dos gols mais belos da

carreira de Ronaldinho Gaúcho.

Assistindo à matéria feita pela Rede Globo (ANEXO 1) sobre o jogo, há ainda mais

essa exaltação aos “heróis” brasileiros, principalmente a Ronaldo, jogador mais famoso.

Zagallo, então auxiliar técnico, se emociona ao falar da carreata pelas ruas de Porto Príncipe,

onde se estimou estarem pelo menos um milhão de haitianos saudando os brasileiros.

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FIGURA 1 – Matéria do Terra Esportes sobre o “Jogo da Paz”.

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FIGURA 2 – Matéria do UOL Esporte sobre o “Jogo da Paz”

4.2. Santos de Pelé na África

O recorte do Jornal do Brasil de 19 de Janeiro de 1969 (FIGURA 3) apresenta uma

pequena nota sobre a passagem do time de Santos pela África. O assunto em questão

abordado era a tentativa das autoridades da Nigéria em conseguir que o time santista jogasse

na cidade de Benin.

Nesta época, o Santos cobrava um cachê para jogar amistosos internacionais. Na

África, este cachê era de 11 mil libras, o equivalente na época a 100 mil cruzeiros novos. O

governo nigeriano dispunha apenas de 6 mil libras (55 mil cruzeiros novos) e tentaria

negociar para acontecer a partida.

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O jogo ocorreu no dia 2 de Fevereiro seguinte na cidade nigeriana de Benin. A partida

entre Santos e Seleção do Centro-Oeste da Nigéria terminou com vitória santista em 2 a 1.

FIGURA 3 – Recorte do Jornal do Brasil de 19 de Janeiro de 1969.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste trabalho foi possível entender que de fato o futebol se entrelaça à

guerra não apenas com os termos utilizados em cada uma delas. Sempre haverá muito mais

que isso. O futebol vai além de um simples esporte. Ele pode causar o mal ou fazer o bem.

Começar uma guerra ou semear a paz. Ser a diversão do rico e ao mesmo tempo ser a diversão

do pobre. Pode fazer inimigos sentarem lado a lado para acompanharem uma partida. Só o

futebol é capaz disso.

Obviamente, a mídia “vendedora de jornais” adora esse fato e o explora muito bem.

Uma simples cogitação do nome de um jogador vira um reforço espetacular para a temporada.

O clássico na final do campeonato vira uma guerra sem precedentes. É sempre assim, entra

ano, sai ano.

O futebol causa emoções intensas – primitivas e tribais, mesmo não derramando

sangue de fato. São evocados os tempos em que guerreiros pintavam os rostos, dançavam em

rituais e se portavam como animais selvagens. É natural que o jogo leve a esse fato. A

velocidade e a “agressão coletiva” também contribuem.

A rivalidade futebolística frequentemente transpassa a delicada linha do confronto

saudável. Inclusive em uma cidade tida como liberal, rica e culturalmente criativa, há o

desafio de que a civilização acalma a barbárie e dissemina a tolerância.

Foi interessante observar a diferença entre a torcida organizada brasileira, os hooligans

ingleses e os ultras italianos. Apesar de os três grupos irem aos estádios para apoiar, pular,

cantar e exaltar seus clubes de coração, existem particularidades entre eles. Essas

características foram influenciadas por fatores históricos, ideológicos e políticos.

Concluiu-se que o futebol de ontem e de hoje tem o poder de manipulação de massas.

Desde a década de 60, quando o time do Santos que tinha nada menos que o rei do futebol,

Pelé, viajava por países em guerra e as mesmas paravam para que pudessem assistir àquele

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evento esportivo. Passando pela Guerra do Futebol, onde fatores extra-campo já existentes

fizeram que três partidas de Eliminatórias da Copa do Mundo de 1970 se tornassem o estopim

para um conflito armado entre Honduras e El Salvador. Até o ano de 2004, quando, numa

manobra política internacional, o então presidente Lula teve a ideia de levar a Seleção

Brasileira ao Haiti para que o povo pudesse ter de paz e respeito naquele momento.

Pôde-se entender o porquê de o clássico de Glasgow, Escócia, entre Rangers e Celtic é

considerado como o de maior rivalidade do mundo. Como principais fatores para o “The

Firm” ser o que é, estão política, história, religião e economia.

Viu-se a possibilidade de uso das diretrizes de guerra na prática futebolística. Com a

aplicação correta de tais parâmetros, se tem uma maior probabilidade da conquista da vitória

sobre o oponente no campo de jogo. Tal qual num campo de batalha.

A mídia trata o jogador de futebol, a depender da circunstância, como um verdadeiro

herói. E o espectador, o torcedor, compra essa ideia. É o atacante que faz o gol do título, o

goleiro que pega pênaltis ou o zagueiro que tira a bola em cima da linha. Se o jogo for difícil,

vira uma batalha, uma verdadeira guerra. E, em qualquer guerra, existem os heróis.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E ELETRÔNICAS

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