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Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola Politécnica & Escola de Química Programa de Engenharia Ambiental TAYANE MIRANDA SILVA DE CASTRO AVALIAÇÃO DO TRATAMENTO E DESTINAÇÃO DE LODO SECUNDÁRIO EM REFINARIAS DE PETRÓLEO RIO DE JANEIRO 2019

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  • Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Escola Politécnica & Escola de Química

    Programa de Engenharia Ambiental

    TAYANE MIRANDA SILVA DE CASTRO

    AVALIAÇÃO DO TRATAMENTO E DESTINAÇÃO DE LODO SECUNDÁRIO EM

    REFINARIAS DE PETRÓLEO

    RIO DE JANEIRO

    2019

  • Tayane Miranda Silva de Castro

    AVALIAÇÃO DO TRATAMENTO E DESTINAÇÃO DE LODO SECUNDÁRIO EM

    REFINARIAS DE PETRÓLEO

    Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de

    Engenharia Ambiental, Escola Politécnica & Escola de

    Química, da Universidade Federal do Rio de Janeiro,

    como parte dos requisitos necessários à obtenção do

    título de Mestre em Engenharia Ambiental.

    Orientadores: Elen Beatriz Acordi Vasques Pacheco

    Magali Christe Cammarota

    Rio de Janeiro

    2019

  • xxxx Castro, Tayane Miranda Silva de.

    Avaliação do tratamento e destinação de lodo secundário em refinarias de petróleo / Tayane Miranda Silva de Castro. – 2019.

    110 f.: il. 30 cm.

    Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental) –

    Escola Politécnica & Escola de Química, Universidade Federal

    do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.

    Bibliografia: 110f. 98-110.

    Orientadores: Elen Beatriz Acordi Vasques Pacheco e

    Magali Christe Cammarota

    1. Resíduos Sólidos. 2. Lodos ativados. 3. Digestão anaeróbia. 4.

    Matriz SWOT. I. Pacheco, Elen Beatriz Acordi Vasques e Cammarota,

    Magali Christe. II. UFRJ. III. Avaliação do tratamento e destinação do

    lodo secundário do refino de petróleo.

    XXXXX

  • Aos que me seguraram as mãos para que eu

    pudesse chegar até aqui.

  • AGRADECIMENTOS

    Para uma pessoa de pouca demonstração de sentimentos como eu (mas acredito que estou

    melhorando!) esta, com certeza, é uma das partes mais complicadas. Mas apesar de não ser uma

    pessoa muito boa com as palavras, a gratidão é mais do que necessária neste momento. É justa!

    Por todos os anjos que passaram no meu caminho e possibilitaram da forma que esteve ao seu

    alcance que esta dissertação fosse possível. Portanto, eu os agradeço:

    À Deus, por não me permitir desistir. Que cuidou que tudo ao meu redor fosse favorável, em

    particular na reta final e que colocou no caminho pessoas incríveis. Iluminando minhas ideias

    e trazendo inspiração para escrita nas horas mais difíceis.

    Minha orientadora Magali que foi mais que uma professora nesta dissertação. Que há oito anos

    atrás me deu a oportunidade de iniciar um ciclo de diversas etapas e que se encerra com este

    documento. Com você tive o privilégio de trabalhar, estudar e aprender muito. Certamente,

    mudou minha vida. Que sempre demonstrou muita confiança em mim e nos trabalhos que

    desenvolvemos. Um exemplo de profissional que certamente tem “o dom” para a orientação.

    Agradeço sua disponibilidade, confiança e carinho de sempre. Sou eternamente grata.

    Minha orientadora Elen que abraçou a ideia desta dissertação com carinho e disponibilidade.

    Não mediu esforços para me ajudar, sempre que foi preciso. Me acalmou em momentos difíceis

    e me deu um norte quando eu achava que os prazos não seriam possíveis com incentivo e força.

    Eu fui muito sortuda em termos de orientação. As duas são as maravilhosas!

    À minha família, meus pais Márcia e Hélio e ao meu irmão Marcus. Costumo dizer que fui

    criada para mundo e isto é incrível! Vocês me deram a força para me tornar a mulher que sou,

    me deram tudo. Obrigada! Minha mãe, que nos momentos de dor e desespero chora comigo

    (primeiro que eu), sempre me incentiva, me fala para acreditar e cuida de mim com todo amor

    e carinho do mundo principalmente quando a correria da vida não deixa nem eu mesma me

    cuidar; meu pai que se preocupa, principalmente com minha segurança a todos os momentos –

    quando eu saía tarde do fundão então - e que se ele pudesse escolher tenho certeza que estaria

    do meu lado sempre, tentando diminuir minha carga diária. E o meu eterno irmãozinho (bem

    maior que eu já há algum tempo) por me ensinar todos os dias o significado da palavra orgulho.

    Por me permitir fazer parte da sua história, por confiar em mim, me ouvir (nem sempre) e claro

    por fazer parte das suas conquistas que estão só começando. Também a minha vó e tias por todo

    carinho desde de sempre e perdoem-me não estar tão perto quando gostaria. Amo vocês.

    Ao meu namorado, Jonnatan Souza, por ser meu parceiro, cúmplice e meu melhor amigo. Já

    faz um tempo que aprendeu a lidar com minhas loucuras, crises e falta de tempo, mas sempre

    com compreensão, incentivo, carinho e amor. Tenho orgulho de nós e de tudo que passamos

    juntos (e ainda temos muito a passar). Obrigada especialmente pela sensibilidade com lidar com

    meu nervosismo e cansaço nesta reta final. Você é a pessoa que mais de perto sabe de todo o

    caminho percorrido para que eu esteja aqui hoje. Obrigada por estar na minha vida e não me

    deixar esmorecer. Te amo!

    À Verônica Marinho, por ser mais uma vez uma pessoa tão importante na minha vida que me

    falta espaço para agradecer. Por ser mais uma vez a pessoa que mais me ajudou ao longo destes

    anos, tanto na vida profissional como com sua amizade. Eternamente a melhor chefe do mundo!

    Você é um dos meus maiores exemplos e te admiro demais. Além de ajuda com a dissertação

    em si, obrigada pelo planejamento e outros pontos. Obrigada por ter paciência todas as vezes

    que “travei” em me ouvir, em ser presente. Obrigada por ter aberto as portas da sua casa para

    mim neste momento crucial (E permitir este abuso meu! Que me ajudou demais!!!). Você, junto

  • com a Luana, foi e é meu apoio emocional. Nós três tão diferentes, mas tão iguais, fico muito

    feliz pelo que a nossa amizade se tornou, de tantos papos cabeça, tantas trocas de aprendizado,

    tantos chopes, tantos lamentos, choros e sorrisos. Lu, e você com esta sua alegria, evolução

    espiritual, energia... Amo tanto vocês (três cavalinhos correndo agora – piada interna).

    Aos meus colegas do laboratório de tecnologia ambiental (LTA), muitos passaram, não só

    durante a dissertação, mas em todos estes anos que trabalhei/ estudei no LTA, vocês são

    inesquecíveis. Saudades Claudia, do dia a dia e todo aprendizado que você me proporcionou!

    Eduardo, você deve estar feliz de não precisar mais aguentar eu te perturbando todos os dias

    (brincadeira!). Obrigada pela sua amizade, companheirismo e pelas muitas vezes que me

    salvou, até quando eu não estava mais presente no laboratório. Obrigada pela análise de metano

    e desculpa não ter sido usada, quanto trabalho! Obrigada por ser uma cara de coração incrível

    e bondoso. Não poderia deixar de agradecer aos meus primeiros estagiários, Hudson e Pedro,

    foi gratificante poder contribuir um pouquinho com a formação de vocês. Obrigada por toda a

    ajuda, por colocar a mão na massa, literalmente, e tudo que fizeram diretamente por mim e por

    esta dissertação. Também ao Vinícius, Fran, Helena, Lorena, Juliana e tantos outros que tive o

    prazer de trabalhar ajudar e ser ajudada! Sou grata a todos vocês.

    Aos meus colegas de trabalho e gestores da PETROBRAS DISTRIBUIDORA S.A. (GVPET),

    gostaria de agradecer a todos principalmente pela compreensão! Paul e Barbeiro, não tenho

    palavras para descrever o carinho, cuidado e incentivo de vocês. Foi surpreendente que com tão

    pouco tempo de empresa eu pudesse ser tão apoiada neste momento conturbado. Aos PVs,

    Filipe, Ilídio e Érico que principalmente neste último mês de dissertação trabalhei diretamente

    e foram nota 10, além de compreender, senti que torceram por mim e se preocuparam se tudo

    estava dando certo constantemente. Ronan, que além de tudo já citado, agradeço pelos almoços

    e conversas. Ao Thalles, que eu conheci nas disciplinas deste mestrado, pela confiança e pelo

    convite para trabalhar na BR, propiciando esta experiência profissional desafiadora. E ao Alex

    e Aline, por me suprirem nas minhas ausências com dedicação. Muito obrigado!

    Ah meus amigos (resistentes amigos), que apesar de eu ser uma furona e muitas vezes uma

    péssima amiga vocês dentre outros não desistem de mim. Aqui vai documentada uma promessa,

    vou melhorar! Vou estar mais perto e tentar parar de marcar saídas só com tanta antecedência.

    Prometo a me comprometer com menos tarefas fixas (pelo menos este ano - risos) e cuidar de

    cultivar o carinho que tenho por vocês. Dentre outros amigos amados, minhas amigas de anos

    e anos, Joyce e Bias; meu amigo de faculdade, Eliezer; meu gêmeo que a vida deu Davi; e

    minha amiga bem oposta, Evelyn provavelmente vocês estão tão ansiosos quanto eu para este

    fim. Logo estarei de volta, obrigada por toda alegria, paciência e torcida!

    Ao Programa de Engenharia Ambiental (PEA), pela oportunidade de fazer este curso, por todo

    o corpo docente, coordenação, que me deram as ferramentas para o aprendizado. Uma das

    melhores partes deste mestrado foi a troca de ideias, networking e o conhecimento adquirido

    nas disciplinas, foi enriquecedor.

    Ao LTA, Escola de química, Escola Politécnica e UFRJ, pelo local e estrutura cedida para

    realização deste estudo e por todos os anos que jamais serão esquecidos.

    À PETROBRAS/Cenpes e ao PRH-ANP/MCT, pelo material cedido para o estudo e apoio

    prestado.

    A todos, mais uma vez muito obrigada! Cada um citado, dentre tantos outros, tornaram esta

    jornada um pouco menos árdua. Sozinha eu não conseguiria. Esta conquista também é de vocês!

  • “Eu trabalhei duro por um longo tempo, mas não

    se trata de vencer. Isto é sobre não desistir. ”

    (Lady Gaga)

    “Quando estamos à beira da loucura, no limite da

    resistência, ocorrem mudanças significativas na

    nossa maneira de interpretar a vida. ”

    (Rodrigo de Carvalho)

    “And I try, oh my god do I try

    I try all the time, in this institution

    And I pray, oh my god do I pray

    I pray every single day

    For a revolution”

    (4 Non Blondes – What’s up)

  • RESUMO

    CASTRO, Tayane Miranda Silva de. Avaliação do tratamento e destinação de lodo secundário

    em refinarias de petróleo. Rio de Janeiro, 2019. Dissertação (Mestrado) – Programa de Engenharia

    Ambiental, Escola Politécnica e Escola de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio

    de Janeiro, 2019.

    O petróleo ainda será a fonte de energia mais usada nas próximas décadas, mesmo com a inclusão

    das energias renováveis na matriz energética mundial. Portanto, as refinarias de petróleo

    continuarão suas atividades altamente poluidoras, gerando resíduos sólidos de alta complexidade,

    que requerem tratamento e disposição adequados. Dentre estes resíduos, destacam-se os lodos

    secundários gerados na etapa biológica (sistemas de lodos ativados) do tratamento de efluentes das

    refinarias. Usualmente, após uma etapa de desaguamento, para redução de volume e umidade, estes

    lodos são encaminhados para disposição em aterros industriais ou para queima em incineradores,

    seguida de disposição das cinzas em aterros. O presente estudo tem como objetivo geral avaliar a

    utilização da tecnologia de digestão anaeróbia (DA) para tratamento destes lodos secundários antes

    de sua disposição final, através de levantamento de dados secundários e da ferramenta de gestão

    Matriz SWOT, que elenca forças, fraquezas, oportunidades e ameaças. No levantamento dos

    métodos de tratamento e destinação aplicáveis aos lodos secundários verificou-se que a DA não é

    utilizada, embora seja considerada uma tecnologia madura. Na análise SWOT a DA se mostrou

    favorável frente a outras tecnologias aplicadas ao tratamento de lodo, com muitos dos fatores

    analisados sendo positivos. Também foi possível avaliar benefícios e dificuldades da DA aplicando-

    se uma valoração, considerando sua aderência à sustentabilidade (definida através de critérios). Para

    validar experimentalmente o resultado apontado na matriz SWOT, obtida a partir de dados

    secundários, foram realizados experimentos em escala de bancada que comprovaram a

    possibilidade de aplicação da digestão e da codigestão anaeróbia no tratamento de lodos secundários

    de refinaria. Dentre os resultados, destacam-se valores obtidos na melhor condição experimental:

    52% de remoção de sólidos voláteis (SV) e 81 mL biogás/g SVaplicados para a produção específica de

    biogás. Tais resultados foram alcançados, por meio de um planejamento experimental, na

    codigestão de lodo secundário residual (sem desaguamento prévio) e resíduo alimentar na

    proporção 80:20 (% v/v), sem adição de inóculo, após 45 dias a 35ºC. Na comparação teórico-

    experimental cerca de 60% dos fatores foram confirmados experimentalmente, concluindo-se que

    a DA deve ser considerada para o tratamento de lodos secundários gerados em refinarias,

    especialmente em mistura com outros resíduos facilmente biodegradáveis, como o resíduo

    alimentar avaliado.

    Palavras-chave: Refinaria de petróleo, resíduos sólidos, lodo secundário, digestão anaeróbia,

    análise SWOT.

  • ABSTRACT

    CASTRO, Tayane Miranda Silva de. Avaliação do tratamento e destinação de lodo

    secundário em refinarias de petróleo. Rio de Janeiro, 2019. Dissertação (Mestrado) –

    Programa de Engenharia Ambiental, Escola Politécnica e Escola de Química, Universidade

    Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.

    Despite the inclusion of renewable energy in the global energy matrix, petroleum will continue

    to be the most widely used energy source in the coming decades. Petroleum refineries will

    therefore continue their pollution-generating activities, producing highly complex solid waste

    that requires adequate treatment and disposal. This includes the secondary sludge generated in

    the biological stage (System Activated Sludge) of refinery wastewater treatment. The sludge is

    typically sent to industrial landfills after dewatering to reduce volume and humidity, or burned

    in incinerators and the ash disposed of in landfills. The present study aims to evaluate the use

    of anaerobic digestion (AD) technology for the treatment of secondary sludge before final

    disposal, through secondary data collection and SWOT analysis (strengths, weaknesses,

    opportunities and threats). A survey of treatment and disposal methods for secondary sludge

    found that AD is not used, despite being considered a mature technology. In the SWOT analysis,

    AD was more beneficial than other technologies for sludge treatment, with positive outcomes

    for several of the factors analyzed. Additionally, the benefits and difficulties of AD were

    assessed by applying a valuation, considering its adherence to sustainability (defined based on

    specific criteria). Bench-scale experiments were carried out to validate the SWOT analysis

    results, obtained from secondary data, demonstrating the viability of using of anaerobic

    digestion and co-digestion to treat secondary refinery sludge. The best results obtained under

    experimental conditions were 52% volatile solids (VS) removal and 81 mL of biogas / g (VS)

    applied for specific biogas production. This was achieved using an experimental design, involving

    co-digestion of secondary sludge (without prior drainage) and leftover food at a ratio of 80:20

    (% v/v), without adding inoculum, for 45 days at 35°C. In the theoretical-experimental

    comparison, about 60% of the factors were confirmed experimentally, demonstrating that AD

    is a viable alternative for treating secondary sludge generated in refineries, especially when

    combined with other easily biodegradable wastes, such as leftovers.

    Keywords: Petroleum refinery, solid waste, secondary sludge, anaerobic digestion, swot

    analysis.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1- Série histórica da produção de petróleo nacional e mundial .......................................... 16

    Figura 2- Participação do petróleo na oferta energética brasileira. ................................................ 17

    Figura 3- Etapas da cadeia produtiva do petróleo .......................................................................... 17

    Figura 4- Sistema simplificado do processo de lodos ativados. ..................................................... 22

    Figura 5- Ordem preferencial do gerenciamento dos resíduos sólidos .......................................... 26

    Figura 6- Detalhamento sobre os constituintes da sustentabilidade. .............................................. 32

    Figura 7- Exemplo de Matriz SWOT. ............................................................................................ 34

    Figura 8- Matriz SWOT Cruzada ................................................................................................... 36

    Figura 9- Sequência metodológica da dissertação. Fonte: Elaboração própria. DA = digestão

    anaeróbia, LR = lodo secundário de refinaria, RA = resíduo alimentar. ........................................ 41

    Figura 10- Classificação do índice de Favorabilidade ................................................................... 47

    Figura 11-Amostra de lodo aeróbio de refinaria recebido no laboratório e empregado no estudo 48

    Figura 12- Frascos penicilina com seringa acoplada para quantificação do biogás produzido. ..... 50

    Figura 13- Etapas de obtenção do resíduo alimentar: (a) Resíduo orgânico alimentar domiciliar

    recebido no laboratório; (b) resíduo segregado manualmente; (c) trituração do resíduo; (d) resíduo

    alimentar obtido após trituração; (e) e (f) resíduo alimentar para armazenamento. ....................... 51

    Figura 14- Matriz SWOT da digestão anaeróbia. ........................................................................... 57

    Figura 15- Características que influenciam no peso dos critérios de sustentabilidade. ................. 58

    Figura 16- Valorações de importância das Forças da tecnologia de digestão na análise SWOT. .. 58

    Figura 17- Valorações de importância das Fraquezas da tecnologia de digestão na análise SWOT.

    ........................................................................................................................................................ 61

    Figura 18- Valorações de importância das Oportunidades da tecnologia de digestão na análise

    SWOT. O1= Comercialização do biogás, O2- Digerido usado nos solos, O3= Crédito de carbono,

    O4= Custo da disposição final, O5= Combinações de resíduos, O6= Legislação internacional e O7=

    Restrições de localização. ............................................................................................................... 62

    Figura 19- Valorações de importância das Ameaças da tecnologia de digestão na análise SWOT.

    T1= Tipo de material, T2=Condições climáticas, T3= Legislação específica e T4= Vazamentos e

    explosões ........................................................................................................................................ 65

    Figura 20- Resultado do cruzamento de fatores da matriz SWOT. ................................................ 67

    Figura 21-Volume de biogás (35ºC, 1 atm) acumulado nos ensaios de digestão anaeróbia com

    diferentes conteúdos de lodo de refinaria e inóculo (Etapa 1). ...................................................... 72

    Figura 22- Volume de biogás (35ºC, 1 atm) acumulado nos ensaios de digestão anaeróbia com

    diferentes conteúdos de lodo de refinaria diluído e inóculo (Etapa 2). .......................................... 75

    Figura 23-Volume de biogás (35ºC, 1 atm) acumulado nos ensaios de digestão anaeróbia do RA

    sem e com adição de inóculo (I/S 2). ............................................................................................. 81

    Figura 24- Remoção de SV e PEB nos ensaios de codigestão anaeróbia na etapa 4. .................... 83

    Figura 25- Diagrama de Pareto do planejamento experimental. X1 = I/S, X2 = % de RA e X3 =

    diluição. .......................................................................................................................................... 84

    Figura 26- Gráficos de superfície de resposta obtidos no planejamento experimental. X1 = I/S, X2

    = % de RA e X3 = diluição. (a) o cruzamento entre as variáveis X1 e X2; (b) relação entre as

    variáveis X2 e X3; (c) relação entre as variáveis X3 e X1. ............................................................ 85

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1- Capacidade de Refino no Brasil em 2017. ............................................................... 18

    Tabela 2- Geração de efluentes e volume refinado .................................................................. 21

    Tabela 3- Resumo de condições recomendadas para avaliação do Potencial Bioquímico de

    Metano por diferentes autores. ................................................................................................. 28

    Tabela 4- Alguns artigos que trabalharam com SWOT e gerenciamento de resíduos sólidos de

    2006 a 2018 .............................................................................................................................. 38

    Tabela 5- Definições dos elementos da matriz SWOT ............................................................. 42

    Tabela 6- Critérios de Sustentabilidade adotados para análise dos resultados na matriz SWOT.

    .................................................................................................................................................. 44

    Tabela 7- Pontuação utilizada nos critérios de avaliação. ........................................................ 46

    Tabela 8- Condições experimentais avaliadas nos ensaios de digestão anaeróbia do LR. ....... 49

    Tabela 9 - Condições experimentais avaliadas nos ensaios de digestão anaeróbia do RA. ..... 52

    Tabela 10- Codificação e definição dos níveis a serem estudados no planejamento de

    experimentos fatorial completo 23 do planejamento experimental .......................................... 52

    Tabela 11- Corridas experimentais realizadas no planejamento experimental 2³ .................... 53

    Tabela 12- Análises realizadas e seus respectivos métodos analíticos ..................................... 54

    Tabela 13- Somatório da valoração dos elementos e % na matriz SWOT sobre a digestão

    anaeróbia para lodos de refinaria. ............................................................................................. 66

    Tabela 14- Caracterização físico-química do lodo secundário de refinaria. ............................ 70

    Tabela 15- Caracterização do lodo anaeróbio empregado como inóculo nos ensaios de digestão

    anaeróbia ................................................................................................................................... 71

    Tabela 16- Resultados dos ensaios de digestão anaeróbia conduzidos na Etapa 1 .................. 73

    Tabela 17- Resultados dos ensaios de digestão anaeróbia conduzidos na Etapa 2. ................. 76

    Tabela 18- Percentual de diferentes componentes do Resíduo Alimentar ............................... 78

    Tabela 19- Caracterização físico-química do resíduo alimentar .............................................. 79

    Tabela 20- Resultados dos ensaios de digestão anaeróbia do RA sem e com adição de inóculo

    (I/S 2) ........................................................................................................................................ 82

    Tabela 21- Resultados dos ensaios de codigestão anaeróbia no planejamento experimental. . 82

    Tabela 22- Resultados obtidos na Análise de variância. .......................................................... 84

    Tabela 23- Quantidade de elementos confirmados, refutados e inconclusivos para aplicação da

    SWOT para o LR. ..................................................................................................................... 86

    Tabela 24- Remoção de ST (massa de resíduo) em cada condição da etapa experimental (%)

    .................................................................................................................................................. 91

  • LISTA DE SIGLAS

    ABNT Associação brasileira de normas técnicas

    AGV Ácidos Graxos Voláteis

    ALC. Alcalinidade

    ANP Agência Nacional de Petróleo

    ANOVA Análise de Variância

    APHA American Public Health Association

    API American Petroleum Institute

    ASTM American Society for Testing and Material

    BEN Balanço Energético Nacional

    BMP Biochemical Methane Potential

    C/N Razão Carbono/Nitrogênio

    C/P Razão Carbono/ Fósforo

    CG Cromatógrafo de fase gasosa

    CH4 Metano

    CS Critério de Sustentabilidade

    DA Digestão Anaeróbia

    EIA Estudo de Impacto Ambiental

    EPE Empresa de Pesquisa Energética

    ETE Estação de Tratamento de Efluentes

    FASF Fábrica de Asfalto

    GEEs Gases de efeito estufa

    I Inóculo

    IF Índice de Favorabilidade

    I/S Razão inóculo-substrato

    IPPS Industrial Pollution Projection System

    LR Lodo de Refinaria

    LUBNOR Fábrica de Lubrificantes do Nordeste

    MDL Mecanismo de desenvolvimento limpo

    MMA Ministério do Meio Ambiente

    MME Ministério de Minas e Energia

    NBR Norma brasileira regulamentadora

    O&G Óleos e graxas

    PEB Produção Específica de Biogás

    PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos

    RA Resíduo Alimentar

    RSU Resíduos Sólidos Urbanos

    S Substrato

    SAO Separador água-óleo

    ST Sólidos Totais

    SV Sólidos Voláteis

    SWOT Strengs, Weakness, Opportunities e Theats

    UASB Upflow Anaerobic Sludge Blanket

    UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

  • SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO E OBJETIVO .................................................................................... 13

    2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................... 16 2.1. A indústria de petróleo e a etapa de refino ................................................................. 16 2.2. Resíduos sólidos gerados nas refinarias ...................................................................... 19 2.3. Origem, tratamento e disposição do lodo do tratamento de efluentes de refinarias

    ...................................................................................................................................... 20 2.4. Gerenciamento de resíduos sólidos e suas perspectivas............................................. 24 2.5. O processo de digestão anaeróbia ................................................................................ 26 2.6. O processo de codigestão anaeróbia ............................................................................ 29

    2.7. Matriz SWOT e sua aplicação a resíduos ...................................................................... 32

    3. METODOLOGIA ......................................................................................................... 40 3.1. Metodologia de pesquisa ............................................................................................... 41

    3.2. Avaliação da digestão anaeróbia por análise SWOT ................................................. 42 3.3. Avaliação experimental da digestão e codigestão de lodo de refinaria .................... 47 3.3.1. Amostragem e caracterização do lodo de refinaria ................................................... 47 3.3.2. Ensaios de digestão anaeróbia do lodo ....................................................................... 48

    3.3.3. Amostragem e caracterização do resíduo alimentar .................................................. 50 3.3.4. Ensaios de digestão anaeróbia do resíduo alimentar ................................................. 51

    3.3.5. Ensaios de codigestão anaeróbia de lodo de refinaria e resíduo alimentar:

    Planejamento experimental ............................................................................................ 52

    3.3.6. Métodos analíticos ........................................................................................................ 54 3.4. Reavaliação da matriz SWOT a partir de dados primários da digestão anaeróbia55

    4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................. 56 4.1. Matriz SWOT da digestão anaeróbia: avaliação teórica........................................... 56

    4.2. Avaliação experimental ................................................................................................ 69 4.2.1. Caracterização do lodo de refinaria ............................................................................ 69

    4.2.2. Caracterização do inóculo............................................................................................70

    4.2.3. Digestão anaeróbia de lodo de refinaria – Experimental ........................................ 721

    4.2.4. Caracterização do resíduo alimentar .......................................................................... 78 4.2.5. Digestão anaeróbia do resíduo alimentar ................................................................... 80

    4.2.6. Codigestão anaeróbia de lodo de refinaria e resíduo alimentar: Planejamento Experimental .................................................................................................................... 82

    4.3. Reavaliação da matriz SWOT a partir de dados primários da digestão anaeróbia. 86

    5. CONCLUSÕES ............................................................................................................. 95

    6. SUGESTÕES ................................................................................................................. 97

    REFERÊNCIAS......................................................................................................................98

  • 13

    1. INTRODUÇÃO E OBJETIVO

    Óleo e gás são, atualmente, as principais fontes de energia e receita em diversos países.

    Este setor é uma importante atividade industrial no século XXI e certamente os impactos

    ambientais causados assumem também alto grau de importância.

    Dentro de toda a cadeia produtiva do petróleo, a etapa de refino não é importante apenas

    do ponto de vista estratégico, mas também do ponto de vista ambiental. Refinarias de petróleo

    são grandes instalações industriais, geralmente próximas a zonas urbanas, que usam grande

    quantidade de água e geram gases tóxicos, efluentes e resíduos sólidos de difícil tratamento e

    disposição. Estima-se que custos adicionais relativos ao controle ambiental variam de 15 a 20%

    do investimento total de uma refinaria. Porém, tais custos não devem ser vistos como somente

    um custo a mais de projeto, mas como um investimento na variável ambiental, que assume um

    papel cada vez mais importante no planejamento e concepção das refinarias (MARIANO,

    2005).

    Nas refinarias de petróleo são gerados resíduos sólidos durante as diversas etapas do

    processo de refino e também durante o tratamento dos efluentes gerados. Os principais resíduos

    gerados nas refinarias são: o lodo dos separadores água / óleo (SAO), o lodo dos flotadores, as

    borras de fundo dos tanques de armazenamento do petróleo cru e derivados, as argilas de

    tratamento, os lodos biológicos e alguns sólidos contaminados com óleo. Estes resíduos podem

    variar significativamente quanto às suas características físico-químicas, tóxicas e seu efetivo

    potencial poluidor de acordo com o tipo de petróleo que é processado e os processos

    empregados nas refinarias (ARAÚJO; NICOLAIEWSKY; FREIRE, 2003; MARIANO, 2005).

    A quantidade total de resíduos gerados nas refinarias de petróleo é pequena, quando

    comparada ao volume de petróleo processado, na faixa de 0,01 a 2 kg por tonelada de petróleo.

    O lodo secundário dos sistemas de lodos ativados, normalmente empregados no tratamento de

    efluentes das refinarias, representa somente de 1 a 2% do volume de efluente tratado. Mas,

    devido à elevada vazão dos efluentes processados, em números absolutos pode-se atingir 21

    toneladas mensais de lodo secundário por refinaria (MARIANO, 2005). Entende-se que o

    tratamento do lodo secundário não faz parte do processo de lodos ativados em si; no entanto, é

    um complemento essencial. Estes resíduos precisam ser gerenciados, tratados e ter uma

    destinação correta.

  • 14

    A análise técnica da tecnologia selecionada para o tratamento de resíduos é importante e a

    avaliação quanto a sua sustentabilidade pode viabilizar ainda mais a forma de tratamento

    selecionada. Uma das ferramentas práticas que pode ser usada para auxiliar a avaliação do

    tratamento mais sustentável e que permite um planejamento estratégico é a análise SWOT

    (Strengths, Weaknesses, Opportunities e Threats), que considera as forças, oportunidades,

    ameaças e fraquezas da tecnologia analisada e facilita o entendimento das situações externas e

    internas. Originalmente foi desenvolvida para organizações e empresas, nas quais ajuda a

    direcionar seus recursos e capacidades para atingirem seus objetivos (FERRELL e

    HARTLINES, 2012).

    Ainda, na busca de uma perspectiva sustentável para a indústria do petróleo e gás natural,

    além de se requerer um cuidado maior com as práticas de proteção ambiental e mitigação dos

    efeitos dos resíduos no meio ambiente, ao longo da cadeia de produção, processamento e

    consumo, é importante que se considerem as possibilidades de transição para fontes energéticas

    menos poluentes e sustentáveis. Uma destas alternativas é a utilização do processo de digestão

    anaeróbia, pois neste ocorre a conversão da matéria orgânica biodegradável do resíduo a biogás,

    cujo conteúdo de metano (CH4) pode ser aproveitado na indústria de petróleo como fonte de

    energia, na geração de calor ou eletricidade (ANDREOLI; VON SPERLING; FERNANDES,

    2014; METCALF e EDDY, 2014).

    A digestão anaeróbia ocorre em reatores fechados, chamados digestores anaeróbios, muito

    utilizados no tratamento de lodos primários e secundários de plantas de tratamento de esgoto

    de grande porte. Logo, pode ser utilizada como tratamento do lodo secundário gerado em

    refinarias (ANDREOLI; VON SPERLING; FERNANDES, 2014; FOLADORI;

    ANDREOTTOLA; ZIGLIO, 2010).

    De modo a reduzir custos e atender a uma legislação mais restrita, a Política Nacional de

    Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010) recomenda o estudo de técnicas não convencionais de

    gerenciamento dos resíduos e até mesmo soluções sinérgicas para a questão ambiental.

    O uso de outros resíduos combinados com o resíduo principal deste estudo (lodo secundário

    dos sistemas de lodos ativados) pode aumentar os benefícios do tratamento, além de tratar no

    mesmo processo dois resíduos que seriam descartados. Este é o caso do tratamento por

    codigestão anaeróbia, que usa dois ou mais resíduos no tratamento e que tem como produto o

    biogás. A codigestão, se realizada com diferentes resíduos do mesmo empreendimento, pode

  • 15

    reduzir custos e otimizar o tratamento, como por exemplo a incorporação do resíduo alimentar

    gerado nos restaurantes das refinarias ao lodo gerado na etapa de refino.

    Portanto, o objetivo geral do trabalho foi avaliar a utilização da tecnologia de digestão

    anaeróbia para tratamento dos lodos secundários gerados nos sistemas de lodos ativados de

    refinarias de petróleo antes de sua disposição final, através de levantamento de dados

    secundários e aplicação da ferramenta de gestão Matriz SWOT e dados primários através de

    análise experimental.

    Para atingir tal objetivo foram delineadas as seguintes etapas de trabalho:

    Levantamento, com base em dados secundários, da utilização da digestão anaeróbia

    no tratamento e destinação dos resíduos sólidos através da ferramenta matriz

    SWOT;

    Avaliação da tecnologia de digestão e codigestão anaeróbia, em escala de

    laboratório, para tratamento do lodo secundário e obtenção de dados primários;

    Realização de análise comparativa entre a matriz SWOT da digestão anaeróbia com

    os resultados obtidos a partir da análise experimental da digestão e codigestão

    aplicados ao lodo secundário oriundo de sistemas de lodos ativados de refinarias de

    petróleo.

  • 16

    2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

    2.1. A indústria de petróleo e a etapa de refino

    Apesar dos esforços para inclusão das energias renováveis na matriz energética mundial, o

    petróleo continua sendo a maior fonte de energia e estima-se que perdurará pelos próximos

    anos. Mesmo que seja uma fonte de energia não-renovável, com as novas tecnologias para as

    descobertas e viabilidade de prospecção em condições mais extremas, todos os dias são

    encontrados novos campos petrolíferos e atualmente chega-se à marca de 1,7 trilhões de barris

    em reservas mundiais provadas (ANP, 2018).

    Mesmo com a crise do petróleo entre 2014 e 2016, com os preços do barril caindo em mais

    da metade do seu valor de mercado e chegando a U$$ 43,3 (menor valor dos últimos 10 anos),

    o setor está se recuperando, com volumes e valores em tendência crescente. A produção de

    petróleo mundial e nacional cresceu pelo quarto ano consecutivo, tendo a produção nacional

    apresentado um aumento de 4,2% em 2017, atingindo 2,7 milhões de barris/dia (Figura 1). Este

    volume corresponde a 3% da produção mundial, fazendo com que o Brasil ocupe a 10ª posição

    entre os maiores produtores. Esta elevação foi liderada pelo pré-sal, com a oferta de petróleo

    em águas profundas e de alto ºAPI, que alcançou a média de 1,3 milhão de barris/dia no ano.

    Esta fonte corresponde a cerca de 50% da produção do País e aumentou a média da densidade

    e a qualidade do petróleo brasileiro (ANP, 2018; FGV, 2017).

    Figura 1- Série histórica da produção de petróleo nacional e mundial

    Fonte: BP Statistical Review of World Energy, 2018 apud ANP (2018)

    74,0

    76,0

    78,0

    80,0

    82,0

    84,0

    86,0

    88,0

    90,0

    92,0

    94,0

    0,0

    0,5

    1,0

    1,5

    2,0

    2,5

    3,0

    2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

    Pro

    duçã

    o m

    undia

    l (m

    ilh

    ões

    de

    bar

    ris/

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    riis

    /dia

    )

    Brasil Mundo

  • 17

    Este cenário favorável ao petróleo reflete na oferta e consumo da energia no Brasil.

    Segundo o Balanço Energético de 2018, o petróleo e seus derivados predominam na matriz

    energética brasileira, representando 37% dos derivados de petróleo, enquanto a maior fonte de

    energia renovável, a biomassa de cana, representa 17% (Figura 2). Mesmo com esta grande

    diferença, o Brasil é um dos países com maior diversidade e percentuais de energia renovável

    na matriz energética, atualmente com 42,9% de energia limpa, enquanto a média mundial é de

    13,7% (EPE, 2018).

    Figura 2- Participação do petróleo na oferta energética brasileira.

    Fonte: Elaboração própria com base em dados de 2017 do BEN/EPE/MME (EPE, 2018).

    O petróleo é considerado uma matéria-prima essencial à vida moderna, sendo o

    componente básico para diversos produtos (BAHADORI, 2014). No entanto, é percorrido um

    longo caminho desde a prospecção até o consumo de derivados (Figura 3). No downstream

    encontra-se a etapa de refino, importante etapa da indústria de óleo e gás (MARIANO, 2005).

    No refino ocorrem transformações da matéria-prima fóssil, em sua maioria composta por

    hidrocarbonetos (ASTM, 2008), até a obtenção dos combustíveis, lubrificantes, produtos

    petroquímicos como as borrachas e plásticos e até mesmo a energia elétrica, ou seja,

    praticamente tudo é dependente de petróleo.

    Figura 3- Etapas da cadeia produtiva do petróleo Fonte: elaboração própria

    Gás Natural

    13,0%Hidráulica

    12%

    Biomassa de cana

    17%

    Outras

    Renováveis

    13,9%

    Nuclear e outras não

    renováveis

    2%

    Derivados de petróleo

    36,4 %

    Carvão

    5,7%

    Gás natural

    Hidráulica

    Biomassa de cana

    Outras Renováveis

    Nuclear e outras não renováveis

    Petróleo e derivados

    Carvão

  • 18

    Para obtenção dos derivados e transformação do óleo cru em energia são necessários

    diversos processos industriais complexos e esta etapa é essencial na cadeia produtiva do

    petróleo, permitindo que a matéria com baixo valor comercial seja aproveitada ao máximo a

    partir de uma série de beneficiamentos (THOMAS, 2004). O Brasil foi o oitavo colocado no

    ranking mundial, em 2017, com capacidade de refino de 2,4 milhões de barris/dia (0,5% da

    capacidade mundial), somando as 12 refinarias PETROBRAS, as 4 da iniciativa privada –

    Riograndense, Manguinhos, Univen e Dax Oil – e a Fábrica de lubrificantes (LUBNOR) e a

    Fábrica de asfalto (FASF), conforme detalhado na Tabela 1.

    Tabela 1- Capacidade de Refino no Brasil em 2017.

    Refinaria Município (UF) Início de

    Operação

    Capacidade nominal

    (Barril/dia)

    Replan - Refinaria de Paulínia Paulínia (SP) 1972 433.997

    Rlam - Refinaria Landulpho Alves São Francisco do Conde

    (BA) 1950 377.389

    Revap - Refinaria Henrique Lage São José dos Campos

    (SP) 1980 251.592

    Reduc - Refinaria Duque de Caxias Duque de Caxias (RJ) 1961 251.592

    Repar - Refinaria Presidente Getúlio

    Vargas Araucária (PR) 1977 213.853

    Refap - Refinaria Alberto Pasqualini

    S.A Canoas (RS) 1968 220.143

    RPBC - Refinaria Presidente Bernardes Cubatão (SP) 1955 169.825

    Regap - Refinaria Gabriel Passo Betim (MG) 1968 166.051

    Recap - Refinaria de Capuava Mauá (SP) 1954 62.898

    Reman - Refinaria Isaac Sabbá Manaus (AM) 1956 45.916

    RPCC - Refinaria Potiguar Clara

    Camarão Guamaré (RN) 2000 44.658

    Rnest - Refinaria Abreu e Lima1 Ipojuca (PE) 2014 115.009

    Refinaria de Petróleo Riograndense S.A Rio Grande (RS) 1937 17.014

    Refinaria de Petróleos de Manguinhos

    S.A. Rio de Janeiro (RJ) 1954 14.000

    Univen Refinaria de Petróleo Ltda Itupeva (SP) 2007 5.158

    Dax Oil Refino S.A Camaçari (BA) 2008 2.095

    Lubnor - Lubrificantes e Derivados de

    Petróleo do Nordeste Fortaleza (CE) 1966 10.378

    FASF - Refinaria Landulpho Alves

    Fábrica de Asfalto2 Madre de Deus (BA) 1950 3.774

    Total (barril/dia) 2.405.342

    Fator de utilização3 (%) 76,2 1Autorizada a processar 100 mil barris/dia, conforme exigência da Renovação da Licença de Operação, emitida

    pela Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco. 2Fabrica de asfalto da Refinaria Landulpho Alves

    (Rlam).3Fator de utilização das refinarias, considerando o petróleo processado no ano de 2017.

    Fonte: ANP (2018)

  • 19

    O problema é que apesar do refino ser estratégico para o setor petrolífero, sendo necessário

    para a transformação de todo este volume de óleo, as refinarias são grandes instalações

    industriais que, geralmente próximas a zonas urbanas, liberam emissões atmosféricas e

    produzem altos volumes de efluentes líquidos e resíduos sólidos de difícil tratamento e

    disposição. Além disto, as refinarias demandam grandes quantidades de água e consomem

    diversos produtos químicos, sendo consideradas as mais poluidoras de toda a cadeia petrolífera

    (MARIANO, 2005; LA ROVERE, 2016; RIZZO et al., 2006). Tudo isto contribui para que o

    setor seja visto, muitas vezes, como uma das atividades mais danosas ao meio ambiente no

    século XXI (DO BRASIL, 2011). O Banco Mundial e o Industrial Pollution Projection System

    (IPPS) classificaram o segmento como de alto potencial poluidor ao meio ambiente, com a

    liberação de diversos tipos de poluentes (SZKLO e MAGRINI, 2008).

    2.2. Resíduos sólidos gerados nas refinarias

    Os resíduos sólidos das refinarias representam uma mistura de compostos orgânicos

    complexos, enxofre, nitrogênio, cálcio e metais. Os resíduos são em grande parte considerados

    resíduos industriais perigosos, segundo a NBR 10004 (ABNT, 2004). A quantidade dos

    resíduos é geralmente pequena comparada à quantidade de matéria processada, ficando na faixa

    de 1 a 2 kg por tonelada de petróleo refinado (DO BRASIL, 2011). No entanto, em números

    absolutos, somente o sistema PETROBRAS gerou e destinou, em 2017, 266 mil toneladas de

    resíduos, sendo 43% classificados como perigosos e provenientes das refinarias (ANP, 2018;

    PETROBRAS, 2018).

    As borras oleosas compreendem os resíduos oleosos gerados, em maior quantidade nas

    refinarias, chegando a 3% da carga de petróleo processada (HEIDARZADEH; GITIPOUR;

    ABDOLI, 2010; LADISLAO, 2008; NUNES, 2018; PETROBRAS, 2018; SILVA 2013). Tanto

    o tratamento como o gerenciamento de borras oleosas são essenciais para promover uma gestão

    sustentável de exploração e aproveitamento dos recursos naturais. Esse gerenciamento inclui as

    alternativas de redução, reutilização e reciclagem, por meio de processos físicos, químicos e

    biológicos que podem ser usados em série e/ou em paralelo para reduzir a contaminação

    ambiental aos níveis aceitáveis pelos órgãos ambientais. As borras são a maioria dos resíduos

    perigosos gerados no sistema PETROBRAS e 47% delas são encaminhadas para recuperação,

    reciclagem e reuso (PETROBRAS, 2018).

  • 20

    Outro resíduo também significativo é o lodo biológico gerado no tratamento dos efluentes

    das refinarias de petróleo, podendo atingir volumes equivalentes a cerca de 1% dos efluentes

    tratados (MARIANO, 2005). Para este resíduo, são encontrados bem menos estudos em termos

    de alternativas mais sustentáveis. Estes resíduos, de característica majoritariamente não

    perigosa, passam por etapas de redução de volume e desidratação para depois serem dispostos

    em aterros ou são incinerados e os rejeitos finais também colocados em aterros (FOLADORI;

    ANDREOTTOLA; ZIGLIO, 2010; JERÔNIMO e KITZINGER, 2014; MARIANO, 2005; DO

    BRASIL, 2011). Atualmente, 37% dos resíduos não perigosos são encaminhados para

    disposição em aterros (PETROBRAS, 2018). A maioria dos estudos relacionados aos lodos de

    Estações de Tratamento de Efluentes (ETE) são os que objetivam o tratamento e disposição de

    lodos gerados em plantas de tratamento de esgoto.

    Cada vez mais é necessária a manutenção do meio ambiente ecologicamente equilibrado e

    entender os males acerca da saúde humana, conforme preleciona a Constituição. De maneira

    que esforços devem ser empreendidos para o correto tratamento destes resíduos com o menor

    custo possível, isto é, visando à sustentabilidade (NUNES, 2018). Além disto, a não observância

    de atividades insustentáveis pode influenciar clientes e consumidores finais. Por isso, também

    é crescente nas empresas um movimento para abatimento da poluição, incentivos e atendimento

    à legislação ambiental cada vez mais restrita.

    2.3. Origem, tratamento e disposição do lodo do tratamento de efluentes de

    refinarias

    Com a elevada carga refinada e, consequentemente, os volumes de efluentes a serem

    tratados, é gerada uma quantidade significativa de resíduos sólidos oriundos do tratamento de

    efluentes, o chamado lodo secundário de refinaria.

    Os efluentes são os maiores subprodutos durante as operações industriais e podem ser

    definidos como uma mistura complexa de componentes orgânicos e inorgânicos em fase aquosa

    e com caráter poluidor. Os tratamentos objetivam alterar a composição química e física de tais

    correntes líquidas de modo a permitir seu descarte de acordo com as normas da legislação ou

    ainda permitir o reuso (DO BRASIL, 2011).

    Considerando apenas os dados disponíveis da PETROBRAS, 98,6% do refino no Brasil

    (ANP, 2018), em 2017 o volume de efluentes descartados nos corpos receptores foi de 297,12

  • 21

    milhões de metros cúbicos (PETROBRAS, 2018). Como estima-se que o volume de efluentes

    gerados seja mais de 3 vezes o volume de petróleo refinado, mais de 474 L de efluentes foram

    gerados por barril de petróleo processado (Tabela 2).

    Tabela 2- Geração de efluentes e volume refinado

    Volumes/quantidades Unidade Valor

    Descarte de efluentesa milhões de m³ 297,12

    Carga processadab mil barris/d 1.717,47

    Geração de efluentes m³/barril refinado 0,474

    Razão geração de efluentes/barril refinado 2,98

    ªconsiderados efluentes sanitários e água produzida; bbarril de petróleo = 159L.

    Fonte: Petrobras (2018)

    O sistema de tratamento de efluentes geralmente é composto por uma etapa primária, na

    qual são retidos sólidos grosseiros e óleo livre, uma etapa secundária na qual é removida a

    matéria orgânica e óleos emulsionados e a maior parte do caráter poluidor e, opcionalmente,

    um tratamento terciário, para o polimento do efluente tratado e seu uso em funções mais nobres

    que o encaminhamento para descarte (METCALF e EDDY, 2014). Neste trabalho, somente o

    lodo do tratamento secundário foi considerado.

    A principal forma de tratamento secundário de efluentes de refinaria de petróleo é o sistema

    de lodos ativados, por ser um processo de operação versátil, proporcionar um efluente final de

    alta qualidade e não necessitar de grandes áreas para sua instalação quando comparado com

    outros processos biológicos (VON SPERLING, 2002).

    O processo de lodos ativados consiste basicamente de um tanque aerado, contendo

    biomassa microbiana que degrada a matéria orgânica do efluente, seguido de um tanque de

    decantação onde ocorre um adensamento do lodo, e um sistema de recirculação e descarte, onde

    parte do lodo gerado é reenviado ao tanque aerado e parte é descartada (METCLAF e EDDY,

    2014). O lodo biológico excedente a ser descartado é a grande desvantagem do processo (Figura

    4), pois até 40% da matéria orgânica alimentada ao tanque aerado pode ser convertida em

    biomassa (excesso de lodo). O gerenciamento deste excesso de lodo biológico apresenta alto

    custo, podendo chegar até 60% do custo total de uma planta de tratamento, sendo este

    usualmente disposto em aterros industriais (FOLADORI; ANDREOTTOLA; ZIGLIO, 2010).

  • 22

    Figura 4- Sistema simplificado do processo de lodos ativados.

    Fonte: adaptado de VON SPERLING (2002) e BAHADORI (2014).

    O lodo secundário oriundo de refinarias de petróleo é um resíduo sólido de constituição

    essencialmente orgânica, podendo conter elementos minerais, metais pesados e outros

    compostos tóxicos, e ainda agentes patogênicos (mais em lodos sanitários que industriais) que

    necessita de gerenciamento. O excesso de lodo se encontra parcialmente estabilizado, com alta

    umidade e é comumente encaminhado aos aterros industriais após completa estabilização. Pode

    ser considerado tanto um produto perigoso, em função de seus potenciais impactos negativos

    quando disposto de forma inadequada, quanto um recurso de potencial energético, fertilizante

    ou estrutural que pode ser reaproveitado (BRASIL, 2010; ANDREOLI; VON SPERLING;

    FERNANDES, 2014). Usualmente, seu gerenciamento nas refinarias consiste basicamente em

    redução de volume por retirada de água seguido de estabilização para redução do teor de matéria

    orgânica, não havendo aproveitamento deste resíduo (BAHADOTI, 2014; ALEXANDRE,

    2013).

    Os aterros, apesar de serem considerados uma técnica adequada de disposição final, evitar

    riscos à saúde, apresentar baixo impacto ambiental e custos menores que outras alternativas

    usuais de disposição, têm sérias desvantagens. Estes utilizam grandes áreas e há forte oposição

    pública à abertura de novos aterros, liberam odores e, se não forem bem operados, atraem

    vetores e animais. Lixiviados e percolados comprometem os recursos hídricos subterrâneos e

    superficiais e ainda colaboram para diminuição da vida útil do aterro, geram um passivo

    ambiental que precisa ser monitorado após sua inativação, principalmente devido à produção

    de gases que devem ser queimados em flares, e não há qualquer preocupação em se recuperar

    nutrientes ou se utilizar o resíduo estabilizado para qualquer finalidade útil, além de não

  • 23

    permitir a economia de recursos naturais. E ainda, os aterros com recuperação energética

    necessitam de sistema de drenagem e remoção de percolados, sistemas de tratamento de

    efluentes, monitoramento das águas subterrâneas, sistema de tratamento de gases e

    impermeabilização das camadas do solo que, apesar dos benefícios ambientais, acrescentam

    custos acentuados tornando muitas vezes o balanço sustentável negativo (ANDREOLI; VON

    SPERLING; FERNANDES, 2014; MONTEBELO, 2016).

    Outra forma muito utilizada é o tratamento térmico por incineração, ou seja, a queima do

    resíduo a altas temperaturas. É um processo de estabilização do lodo que propicia maior redução

    do volume encaminhado para disposição. A incineração é um processo destrutivo, pois elimina

    praticamente todos os componentes, restando somente as cinzas (ANDREOLI; VON

    SPERLING; FERNANDES, 2014). No entanto, podem ser formados subprodutos mais tóxicos

    que os originais (ALVES e BRITO, 1995) e gases com alto caráter poluidor. Devido ao grau

    de sofisticação e ao alto custo de implementação e operação, atualmente o uso de incineradores

    para tratar lodos fica restrito a grandes volumes de tratamento, usualmente sendo empregados

    para lodos sanitários em áreas de alta densidade populacional. E mesmo considerando o

    aproveitamento do calor gerado, esta tecnologia não pode ser classificada como uma forma de

    valorização do resíduo, já que seu balanço energético é negativo, devido ao alto teor de água

    no lodo (ANDREOLI; VON SPERLING; FERNANDES, 2014). Sendo apresentadas como

    principais desvantagens o alto custo e a emissão de gases poluentes e material particulado. Além

    da geração de cinzas que também deverão ser dispostas adequadamente, havendo divergências

    trata-se de um método de tratamento ou de disposição. Dependendo das características do lodo,

    de 10 a 30% dos sólidos secos encaminhados para incineração permanecem como cinzas

    (ANDREOLI; VON SPERLING; FERNANDES, 2014).

    A reciclagem para a agricultura seria o melhor método de disposição a ser empregado,

    muito usado para lodos convencionais de sistemas de tratamento de esgoto sanitário. No

    entanto, no caso dos rejeitos de refinaria, que possuem mais componentes tóxicos que os

    convencionais, tal característica dificulta ou impossibilita esta alternativa. Antigamente ocorria

    a disposição final em oceanos, mas, em muitos países, entre eles EUA e Brasil, esta prática é

    proibida (MARIANO, 2005; TELLES e COSTA, 2010; BAHADORI, 2014).

    A avaliação de alternativas para o tratamento e disposição final dos lodos normalmente é

    difícil por envolver aspectos técnicos, econômicos, ambientais e legais. Como o caminho que

    leva à disposição final dos lodos é caro e complexo, chegando até 60% do custo total de

  • 24

    operação da planta de tratamento (pois envolve tratamento, transporte, disposição e

    monitoramento futuro), muitas vezes o gerenciamento destes lodos é negligenciado. Quando

    deveria ser parte integrante do projeto da estação, considerando a qualidade requerida do

    efluente tratado, o tipo de tratamento visando reaproveitamento, a valoração do resíduo e a

    disposição final mínima possível (ANDREOLI; VON SPERLING; FERNANDES, 2014).

    2.4. Gerenciamento de resíduos sólidos e suas perspectivas

    Em 2010, o Congresso Nacional do Brasil aprovou a Política Nacional de Resíduos Sólidos

    (PNRS), Lei Federal nº 12.305 (BRASIL, 2010). Este foi um importante passo para uma maior

    atenção à problemática dos resíduos sólidos no Brasil. Governos, instituições públicas, o setor

    privado e os consumidores passaram a partilhar a responsabilidade, que a princípio era somente

    do gerador. Na prática, todos os atores participantes do gerenciamento são responsáveis pelos

    resíduos. Nos casos em que o gerador subcontrata o gerenciamento, este também é responsável

    pelo resíduo gerado. Isto amplia as preocupações das grandes corporações para o tratamento

    mais adequado, obrigando todos os níveis a desenvolver e articular mecanismos adequados de

    gestão, tratamento e disposição final dos resíduos. Além disto, a PNRS dispõe sansões como

    poluidor-pagador, reparação de danos e amplia o crime ambiental (BRASIL, 2010;

    MONTEBELO, 2016; OCHARÁN, 2017).

    Mesmo fora do cenário corporativo, o cidadão é responsável não só pela disposição correta

    dos resíduos que gera, mas também é importante que repense e reveja o seu papel como

    consumidor. O setor privado, por sua vez, fica responsável pelo gerenciamento ambientalmente

    correto dos resíduos sólidos, pela sua reincorporação na cadeia produtiva e pelas inovações nos

    produtos que tragam benefícios socioambientais, sempre que possível. Já os governos federal,

    estaduais e municipais são responsáveis pela elaboração e implementação dos planos de gestão

    de resíduos sólidos, assim como dos demais instrumentos previstos na PNRS (BRASIL, 2010).

    Faz parte do gerenciamento dos resíduos sólidos, as etapas que compreendem a coleta,

    classificação, segregação, armazenagem, transporte, tratamento e disposição final e ainda os

    aspectos de treinamento de pessoal, manuseio e procedimento de emergência, dentro de

    critérios de garantia da proteção ambiental, saúde e bem-estar público (ABNT, 2004). Na

    PNRS, foi adicionada a premissa de que os resíduos devem seguir o gerenciamento até o

    tratamento e somente os rejeitos devem ser dispostos de forma ambientalmente adequada e

  • 25

    devem-se ter planos prévios de gestão integrada dos resíduos sólidos (BRASIL, 2010;

    MONTEBELO, 2016).

    Mais avançados que o Brasil, muitos países já adotaram instrumentos legais e econômicos

    de restrições ao uso de aterros, o que influencia profundamente as decisões de gerenciamento e

    disposição, uma vez que os aterros até então são a forma mais comum de disposição de resíduos

    no mundo. Isto se deve ao reconhecimento de que a disposição em aterros não é uma prática

    sustentável e que ao longo dos anos espera-se perder força na sua maior vantagem, o custo, em

    função das maiores distâncias entre os centros urbanos e os aterros e às crescentes restrições

    ambientais. A tendência mundial fica a cargo de investimentos no aumento da eficácia e

    economia de energia em processos de incineração e recuperação da energia dos resíduos em

    processos como o de digestão anaeróbia, que podem ser colocados na mesma estação de

    tratamento em que o resíduo foi gerado, reduzindo gastos com o transporte e impactos com o

    tráfego gerado em áreas urbanas (ANDREOLI; VON SPERLING; FERNANDES, 2014).

    A busca por soluções na área de resíduos reflete a demanda da sociedade que pressiona por

    mudanças motivadas pelos elevados custos socioeconômicos e ambientais. Porém, os impactos

    do gerenciamento podem ser positivos ou negativos. Se manejados adequadamente, os resíduos

    sólidos adquirem valor comercial e podem ser utilizados em forma de novas matérias-primas

    ou novos insumos. Isto é, através de planejamento e melhor forma de gerenciamento podem

    trazer benefícios diretos e indiretos, tais como benefícios ambientais como a redução da

    quantidade de resíduos, do uso de recursos naturais e de outros impactos ambientais provocados

    pela disposição inadequada dos resíduos; benefícios gerenciais como a redução de custos,

    proporcionar a abertura de novos mercados, geração de empregos, geração de receita, melhoria

    de imagem (marketing verde) e conduzir à inclusão social (BRASIL, 2010; MONTEBELO,

    2016).

    Neste contexto que objetiva novas rotas para o melhor gerenciamento e sustentabilidade

    tem-se a digestão anaeróbia que, apesar de não ser um método de disposição final, pode ser

    uma alternativa à rota que leva os lodos de refinaria direto aos aterros ou incineradores. Desta

    forma, é feita a passagem do resíduo pelo sistema de tratamento biológico anaeróbio, reduzindo

    os volumes a serem dispostos e a quantidade de matéria orgânica, reaproveitando

    energeticamente os resíduos na forma de subprodutos de valor agregado e trazendo ganhos

    ambientais para então encaminhar os rejeitos aos aterros. Esta opção corrobora com a

  • 26

    recomendação do gerenciamento dos resíduos da PNRS segundo a qual é preferível reaproveitar

    e tratar, e somente dispor quando já esgotadas as demais alternativas (Figura 5).

    Figura 5- Ordem preferencial do gerenciamento dos resíduos sólidos

    Fonte: Brasil (2010)

    2.5. O processo de digestão anaeróbia

    A digestão anaeróbia é um processo através do qual resíduos orgânicos são biologicamente

    convertidos por um consórcio microbiano, na ausência de oxigênio (ANDREOLI; VON

    SPERLING; FERNANDES, 2014; CHERNICHARO, 2007). Além de estabilizar a carga

    orgânica poluente dos resíduos, tem-se a redução de microrganismos patogênicos, a geração de

    produtos como o biogás composto por cerca de 60% de metano e 40% de dióxido de carbono

    (MOLINO, 2013), e um resíduo orgânico rico em nutrientes assimiláveis que, dependendo da

    qualidade, pode ser usado diretamente como biofertilizante (KUNZ; PERDOMO; OLIVEIRA,

    2004; LANSING; BOTERO; MARTIN, 2008; SILVEIRA, 2016).

    A digestão anaeróbia é historicamente utilizada para a estabilização de lodo gerado no

    tratamento de esgotos, porém uma aplicação também viável para o tratamento de qualquer

    matéria orgânica. Há muitos anos vem sendo amplamente utilizada no tratamento de resíduos

    sólidos, incluindo resíduos provenientes de culturas agrícolas, dejetos de animais, e outros

    resíduos sólidos orgânicos (CECCHI, 1991; SILVA, 2009).

    Prevenção

    Redução de quantidade e periculosidade

    Reaproveitamento

    Tratamento

    Disposição final

  • 27

    Dentre suas vantagens, destacam-se o baixo requerimento energético para a operação, a

    não necessidade de aeração, menor área para implantação, altas remoções de matéria orgânica

    e recuperação de biogás (ANDREOLI; VON SPERLING; FERNANDES, 2014;

    CHERNICHARO, 2007). Assim, conforme relataram Brunhara e seus colaboradores (2015), a

    utilização da digestão anaeróbia no tratamento de resíduos sólidos orgânicos e na produção de

    energia é não só desejável, mas torna-se cada vez mais imprescindível, uma vez que os custos

    pertinentes a esta tecnologia produzem boas respostas para o tratamento de resíduos orgânicos

    que se colocam de forma quase dramática nas sociedades industrializadas.

    O teste do Potencial Bioquímico de Metano (BMP - da sigla em inglês) é uma medida da

    biodegradabilidade do substrato (resíduo), determinada pelo monitoramento da produção

    cumulativa de metano a partir de uma amostra incubada sob anaerobiose. Este teste pode ser o

    ponto de partida para a determinação das condições utilizadas para os experimentos da digestão

    anaeróbia. Para a realização do teste BMP, amostras do resíduo sólido são incubadas com meio

    de cultura e, se necessário, inóculo (CHYNOWETH et al.,1993; OWEN et al., 1979). Este teste

    necessita de condições bem controladas para que a digestão anaeróbia aconteça da melhor

    maneira possível, podendo assim ser obtido o potencial máximo de produção de metano a partir

    do resíduo estudado. É importante saber quais são as condições que o teste deve ser submetido,

    observando vários fatores que podem influenciar o resultado da produção de metano esperada.

    Não há um consenso para a determinação do BMP. Algumas condições são similares, e por

    vezes até coincidentes, nos métodos propostos por alguns autores. No entanto, não há um

    consenso geral sobre todos os parâmetros envolvidos no método, ou seja, não há um método

    padrão, conforme apresentado na Tabela 3. Algumas condições podem ser estabelecidas como

    as mais comuns dentre os trabalhos analisados, tais como: temperatura de 35ºC, tempo de 30

    dias ou até estabilização, pH maior que 7, utilização de controle somente com inóculo e I/S

    (razão inóculo por substrato) de até 2.

    Além destes parâmetros, Holliger et al. (2016) e Raposo et al. (2011), trabalhos mais

    recentes aqui analisados com o viés de avaliação dos métodos de BMP, recomendam ainda

    observar os valores de alcalinidade - que deve estar na faixa de 2500-5000 mg CaCO3/L, faixa

    de Sólidos Voláteis de 20 a 60 g/L; ácidos graxos voláteis menor que 1,0 g Ácido acético/L; e

    NH4+ menor que 2,5 g/L.

  • 28

    Tabela 3- Resumo de condições recomendadas para avaliação do Potencial Bioquímico de Metano por diferentes autores.

    Referência T

    (°C)

    Tempo

    (d) pH

    Volume

    (mL)

    Experimento de

    Controle

    Agitação

    (rpm)

    I/S

    (em SV)

    PAUL e LIU (2012)

    35 30 - - Somente inóculo - 2

    CHYNOWETH et al. (1993)

    35 46 - 100 Inóculo (1ário) - 2

    OWEN et al. (1979)

    35 30 e 45 7,1 250/ 160a Inóculo + meio - 20% Inóculo

    RAPOSO et al. (2011) 35-41 13-87 7-7,8 100 ou 500 Somente inóculo/

    Controles positivos

    Manual 1x dia ou

    sem agitação

    ≥2

    HOLLIGER et al. (2016) 37 3b 7-8,5 100 a 500 Somente inóculo/

    Controles positivos

    Manual 1x dia ou

    sem agitação

    2 a 4c

    BADSHAH; LIU;

    MATHIASSON (2012)

    37 10d + 33 7,2-8,1 460 Somente inóculo 46e 2

    BADSHAH et al. (2012) 37 10d + 33 7,2-8,1 460 Somente inóculo 46e 3 a 8

    a volume útil; b 3 dias consecutivos com até 1% de diferença máxima; c testar 3 condições de I/S preferencialmente, ou 2 se apresentarem resultado igual; d pré-incubação;

    e automática intermitente (30 segundos ligada e 120 segundos desligada).

  • 29

    2.6. O processo de codigestão anaeróbia

    A digestão de matérias-primas recalcitrantes ou com compostos inibitórios e substratos

    altamente ricos em proteínas pode ser um processo lento e com baixa produção de biogás

    (PATINVOH et al., 2016). Uma alternativa para superar estas restrições e melhorar o

    desempenho do processo de digestão anaeróbia é utilizar a codigestão anaeróbia, que pode

    propiciar o equilíbrio de nutrientes e aumentar a quantidade de substratos com maior potencial

    de biodegradabilidade, além de incorporar biomassa mais adaptada à bioestabilização dos

    resíduos (JINGURA e MANTENGAIFA, 2009; LOPES; LEITE; PRASAD, 2004).

    A codigestão anaeróbia é um processo de tratamento de resíduos, similar à digestão

    anaeróbia, no qual diferentes tipos de resíduos passíveis de fermentação são misturados e

    tratados conjuntamente em proporção adequada, considerando a relação C/N, inibidores, nível

    de biodegradabilidade da matéria-prima e conteúdo sólido total. Ou seja, é uma estratégia

    eficiente para reduzir a inibição de amônia durante o processo de digestão, uma vez que visa

    favorecer sinergismos, diluindo compostos prejudiciais e aperfeiçoando de fato todo o processo,

    além de gerar uma partilha de custos, tratando diferentes resíduos em instalação única (AGDAG

    e SPONZA, 2007; ALATRISTE-MONDRAGON et al., 2006; MATA-ALVAREZ et al.,

    2014). Considerando o fato de que as matérias-primas degradadas não estão altamente

    disponíveis e os problemas associados aos pré-tratamentos, a codigestão é uma boa estratégia

    para aumentar a quantidade de biogás produzido, evitando os custos e os desafios associados

    aos pré-tratamentos (PATINVOH et al., 2016).

    Estudos sobre tipos de resíduos para a codigestão são os mais variados, tais como: lodo

    industrial que foi cobioestabilizado com os resíduos sólidos urbanos (AGDAG e SPONZA,

    2007; SOSNOWSKI; WIECZOREK; LEDAKOWICZ, et al. 2003) que proporcionou aumento

    na quantidade de metano em comparação com resíduos sólidos urbanos bioestabilizados

    isoladamente; Codigestão anaeróbia de resíduos vegetais mais lodo anaeróbio de esgoto

    sanitário (KIM et al, 2003; LEITE et. al, 2017; LEITE et al., 2014); codigestão de silagem de

    colheita com estrume de vaca (COMINO; ROSSO; RIGGIO, 2010); misturas de estrume,

    resíduos de matadouros, resíduos sólidos municipais e resíduos de culturas (PAGÉS-DÍAZ et

    al. 2011); Resíduos de tubos de papel com lodo industrial (TEGHAMMAR, et al., 2013). É

    possível observar que em alguns casos o resíduo também pode assumir a função de inóculo.

  • 30

    Nestes estudos, sob uma variedade de cenários, os autores obtiveram aumentos de 15 até

    109% da produção de biogás a partir da mistura de resíduos, quando comparada com a obtida

    com os resíduos isolados.

    No entanto, ainda são necessárias mais pesquisas nesta área para uma melhor compreensão

    das proporções de mistura adequadas, dentre outros efeitos (PATINVOH et al., 2016). Por

    exemplo, um benefício da codigestão é a redução do acúmulo de amônia quando as matérias-

    primas com alto teor de proteína são digeridas. Chernicharo (2007) estabelece uma relação C/N

    ótima para a digestão anaeróbia de 20 a 30, e estes valores são tomados como referência em

    trabalhos de todo o mundo. No entanto, Zeshan; Karthikeyan; Visvanathan (2012) relataram

    que o ajuste da relação C/N para 32 resultou em 30% menos formação de amônia na codigestão

    seca de restos de alimentos, resíduos de frutas e vegetais, resíduos de jardim e papel.

    Neste trabalho, a busca por um resíduo que fosse adequado à codigestão anaeróbia levou

    ao resíduo oriundo do preparo de alimentos, visto que o resíduo principal (lodo de refinaria)

    apresenta baixa relação C/N. O uso de um cossubstrato (restos de alimentos) com baixo teor

    nitrogênio e lipídios pode auxiliar no ajuste da razão C/N ótima, visto que aumentará o carbono

    presente na mistura e consequentemente a razão C/N. Desta forma, pode-se minimizar a

    inibição por altas concentrações de amônia e o consequente acúmulo de ácidos graxos voláteis

    (AGV), aumentando a produção de biogás (SEN et al., 2016).

    Os alimentos que não são consumidos ou os restos do preparo, ambos descartados no lixo,

    podem ser utilizados como alimentos para animais, na compostagem, na produção de energia

    ou, o que deve ser evitado, encaminhados aos aterros. Estima-se que cerca de um terço dos

    alimentos produzidos na Europa não sejam consumidos. A Comissão Europeia estima que, só

    na União Europeia, se desperdicem 90 milhões de toneladas de alimentos por ano (ou seja, 180

    kg por pessoa). O desperdício de alimento está diretamente ligado ao desperdício do uso da

    terra, água, energia e de todos os outros fatores utilizados no seu ciclo de produção. Por

    conseguinte, qualquer diminuição do desperdício de alimentos implica potenciais ganhos para

    o meio ambiente. Se a quantidade de alimentos desperdiçados é reduzida ao longo do sistema

    alimentar, serão necessários menos água, menos adubos, menos terras, menos transportes,

    menos energia, menos recolhimento de resíduos e outros (AEA, 2017).

    A pegada global de carbono associada ao desperdício de alimentos, em 2007, foi estimada

    em 3,3 bilhões de toneladas de CO2 equivalente. Pode-se afirmar que o desperdício de alimentos

  • 31

    é o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa, considerando o ranking nacional de

    emissões, sendo precedido apenas pelas emissões totais geradas nos Estados Unidos e China

    (FAO, 2013).

    Tais resíduos, quando em ambientes naturais equilibrados, são espontaneamente

    degradados, reciclando os nutrientes nos ciclos biogeoquímicos. Quando em grande volume e

    dispostos de maneira inadequada, podem representar sério risco ambiental devido à geração de

    lixiviado, emissão de gases na atmosfera, além do favorecimento da proliferação de vetores de

    doenças. Por isto, o emprego de métodos adequados de gestão e tratamento destes resíduos é

    imprescindível para a correta estabilização da matéria orgânica putrescível. E alerta- se para a

    necessidade de investimento em pesquisa e implantação efetiva de tecnologias na área de

    tratamento de resíduos no Brasil e no mundo (BRASIL, 2010; BRUNHARA et al., 2015).

    Seguindo a hierarquia já mencionada sobre ordem ambientalmente correta de

    gerenciamento de resíduos sólidos, a reciclagem dos alimentos desperdiçados é considerada

    atrativa, pois resulta na produção de biogás para aproveitamento energético. Ou seja, tem-se a

    metanização dos resíduos alimentares através da digestão anaeróbia, que é uma alternativa

    viável para o tratamento e valoração dos resíduos alimentares (LI; PARK; ZHU, 2011;

    BROWNE e MURPHY, 2013; FERREIRA, 2015). Em muitos países desenvolvidos, estes

    processos e também a compostagem são amplamente utilizados para o tratamento das frações

    orgânicas putrescíveis dos resíduos sólidos municipais (GÓMEZ, 2006).

    O trabalho de Lin et al (2011) relata diferenças entre a digestão anaeróbia de resíduos de

    alimentos convencionais na China e de somente resíduos de frutas e vegetais. Nesta

    comparação, observou-se que o reator alimentado apenas com resíduos de frutas e vegetais

    acumulou bem menos ácidos graxos e permaneceu estável; já no reator alimentado com restos

    de comida, foram verificados valores elevados de amônia e ácidos. No Brasil, o trabalho de

    Silveira (2016) também avaliou os restos de comida de um restaurante universitário e o mesmo

    comportamento de acúmulo de amônia e ácidos foi percebido. Portanto, a escolha do tipo de

    resíduo alimentar também pode influenciar na avaliação de quão vantajosa pode ser a

    codigestão com estes resíduos. Nesta revisão não foram encontrados trabalhos utilizando a

    codigestão do resíduo alimentar com os lodos de refinaria de petróleo.

  • 32

    2.7. Matriz SWOT e sua aplicação a resíduos

    Alguns estudos apontam, desde o início do século XXI, que o desenvolvimento sustentável

    será a única alternativa para o planeta, que já não suporta o consumo da sociedade. E, ainda,

    que é necessário manter noções de sustentabilidade da produção ao consumo (UNEP, 2002).

    O relatório de Brundtland, publicado pela WCED (1987), definiu pela primeira vez o que

    seria conhecido como desenvolvimento sustentável. Isto é, o desenvolvimento que atende as

    necessidades do presente sem comprometer as gerações futuras de atender suas necessidades.

    Ao conceito de sustentabilidade foi acrescentado o fator social, formando o famoso tripé da

    sustentabilidade (Figura 6) que atualmente é seguido em todo o mundo, levando em

    consideração o lucro, mas também o meio ambiente e as pessoas.

    Figura 6- Detalhamento sobre os constituintes da sustentabilidade. Fonte: Giovanelli (2015)

    O conceito de sustentabilidade migrou também para as empresas. É sabido que corporações

    que tomam medidas proativas considerando o desenvolvimento sustentável apresentam

    melhores resultados do que empresas reativas (SZKLO e MAGRINI, 2008). A promoção da

  • 33

    sustentabilidade é algo debatido de forma estratégica em vários níveis e suas diversas

    ferramentas são, em muitos casos, meios utilizados para a tomada de decisões.

    Medir a sustentabilidade não é uma tarefa fácil e existem diversas métricas adotadas

    mundialmente (SLAPER e HALL, 2011). Atualmente, vários critérios são utilizados por

    diferentes autores para tentar definir o que compõe a sustentabilidade. Dentre os disponíveis na

    literatura, tem-se os princípios fundamentais da sustentabilidade, da engenharia e da química

    verde e outros critérios e princípios definidos nas conferências internacionais de meio ambiente

    que visam uniformizar e atingir a sustentabilidade nas empresas, indústrias e processos

    garantindo melhorias para as gerações futuras (ABRAHAM e NGUYEN, 2003; ANASTAS e

    WARNER, 1998; ANASTAS e ZIMMERMAN, 2003; BEN- ELI, 2005).

    Buscando uma ferramenta da gestão e administração, verificou-se que a Matriz SWOT

    pode ser utilizada para avaliação de tecnologias com inspiração no tripé da sustentabilidade,

    avaliando os fatores mais importantes contidos nesta matriz através de aspectos ambientais,

    econômicos e sociais.

    A Matriz SWOT, como ferramenta estratégica com foco em entender as variáveis que

    compõem a sustentabilidade da empresa ou processo, já foi utilizada por diversos autores nos

    mais variados segmentos. No estudo de Loch, Nardi e Rojo (2016), a analise SWOT foi

    realizada para avaliar estrategicamente a gestão ambiental aplicada em empresas do setor de

    agronegócio no que se refere à promoção da sustentabilidade desenvolvida pelas mesmas. Já

    Marchezi (2013) teve como objetivo avaliar as tecnologias adotadas pelo setor de papel e

    celulose no Brasil, de modo a identificar as que contribuem para a melhoria da sustentabilidade

    do setor.

    Segundo Fernandes (2012), a Matriz SWOT foi estruturada entre as décadas de 1950 e

    1960, e continua contribuindo para a sua disseminação no planejamento estratégico,

    principalmente de empresas. Este instrumento é relevante no que diz respeito a ajudar na

    construção da estratégia, enfatizando a necessidade de se realizar o diagnóstico dos ambientes

    interno e externo para a construção de um caminho orientado pelo pensamento estratégico e

    convergente com as necessidades futuras.

    A matriz se popularizou por sua forma simples de dispor os fatores, pela capacidade de

    demonstrar a posição da organização frente ao cenário escolhido e de permitir maior facilidade

  • 34

    na análise do diagnóstico empresarial para decisões que podem ser tomadas em curto, médio e

    longo prazo, ganhando, assim, aplicação em escala global. Hoje também é bastante utilizada

    em conjunto com outras ferramentas e técnicas para elaboração do planejamento estratégico

    das organizações (FERNANDES, 2012). Esta análise também é útil para revelar pontos fortes

    que ainda não foram plenamente utilizados e identificar pontos fracos que podem ser corrigidos

    (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2009).

    A matriz SWOT é definida como uma ferramenta de análise estratégica que elenca forças,

    oportunidades, ameaças e fraquezas, considerando fatores internos e externos. Como visto na

    Figura 7, os fatores internos são representados pelas forças (S- strengths) e fraquezas (W-

    weaknesses), enquanto os fatores externos são representados pelas oportunidades (O-

    opportunities) e as ameaças (T- threats) (MINDTOOLS, 2011; PESSÔA, 2007).

    Figura 7- Exemplo de Matriz SWOT.

    Fonte: Adaptado de Fernandes, 2012.

    Entende-se por ambiente externo fatores demográficos, econômicos, político-legais,

    socioculturais, tecnológicos, globais e físico-ambientais. Em um ambiente industrial, os fatores

    externos também são aqueles referentes aos concorrentes que fabricam os mesmos produtos

    e/ou oferecem os mesmos serviços, fatores que não dependem em si da organização em questão.

    As companhias não podem controlar diretamente esses segmentos, embora, sim poderão

  • 35

    reconhecer cada cenário e prognosticar o efeito que cada tendência produzirá nela (JHONSON;

    SCHOLES; WHITTINGTON, 2006; HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2015).

    May (2010) destaca que a biodiversidade, os ecossistemas e os recursos naturais, hoje em

    dia, são dimensões do ambiente externo a serem consideradas na tomada de decisões por várias

    organizações e companhias a fim de observar e controlar seu impacto ambiental donde elas

    operam e melhorar sua eficiência produtiva.

    Já o ambiente interno refere-se à disponibilidade e deslocamento de recursos humanos,

    disponibilidade dos recursos financeiros, políticas internas, características únicas da

    organização, eficiência produtiva, qualidade, inovação, abastecimento, distribuição,

    habilidades e expertises do pessoal (FERREL e HARTLINES, 2012; HITT; IRELAND;

    HOSKISSON, 2015).

    No tocante a aplicação da análise SWOT, segundo Híjar (2014) e Ferrell e Hartlines (2012),

    deve-se ter cuidado para não haver confusão na identificação e separação dos temas internos

    dos externos. Por exemplo, ameaças com fraquezas, visto que as primeiras não estão sob o

    controle da empresa, mas estão no seu entorno imediato, e as segundas são inerentes à empresa,

    suas ausências ou deficiências. O mesmo cuidado deve ser tomado com as oportunidades e

    fortalezas, visto que as primeiras são geradas nos mercados ou ambientes e as segundas são

    possuídas pela empresa.

    Certamente uma das limitações desta análise é a subjetividade e ambiguidade na percepção

    de quem está realizando–a. Deve-se evitar os pré-conceitos e brechas que lhe imprimem certos

    pareceres de caráter sentimental e/ou pessoal na determinação de fatores, posto que podem

    induzir um mal diagnóstico e interpretação (HÍJAR, 2014).

    A matriz pode e, em muitos casos, deve ser combinada com outras ferramentas para melhor

    entendimento ou aprofundamento do cenário. Uma análise complementar da matriz SWOT é a

    realização de arranjos entre os elementos da matriz, utilizando dois conjuntos entre fatores de

    ambientes interno e externo. Estes quadrantes foram definidos pensando no ambiente

    organizacional, onde os cruzamentos dos fatores internos com os externos determinam os

    diferentes quadrantes de I a IV (Figura 8) que têm significados distintos e importantes

    (FERNANDES, 2012; RODRIGUES et al., 2016).

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    Figura 8- Matriz SWOT Cruzada

    Fonte: Tachizawa e Freitas (2004) apud Fernandes (2012); Rodrigues et al. (2016), Dutra (2014) e Qualharini

    (2014), e na Matriz SOWT 3.0 (BORGES, 2013; LUZ, 2013)

    O quadrante I indica a existência de ação ofensiva, isto é, as forças podem ajudar a

    aproveitar as oportunidades do mercado. Caso a tecnologia selecionada apresente fatores

    majoritariamente neste quadrante, corresponde a uma situação mais positiva. Caso os resultados

    apontem para o quadrante II, a tecnologia selecionada está sendo mantida pelas suas forças com

    capacidade defensiva, mas em longo prazo as ameaças, se não forem sanadas, podem

    inviabilizar o processo. O Quadrante III identifica o nível de debilidade da capacidade ofensiva,

    indicando o quanto as fraquezas podem causar problemas para o aproveitamento das

    oportunidades. Já no Quadrante IV, o nível de vulnerabilidade da tecnologia, considerando os

    aspectos sustentáveis indica quanto o conjunto de fraquezas pode amplificar o efeito das

    ameaças, tornando o processo ou técnica insustentável.

    Entende-se que a análise de matriz cruzada sozinha é superficial e pode mascarar detalhes

    de interesse, portanto aplicar outros métodos em conjunto (FERNANDES, 2012), tais como:

    valorações, índices numéricos e validação