tax view - eyey.mobi/publication/vwluassets/tax_view_32/$file/tax_view_32... · estados unidos,...

8
Holanda e Suíça são suspensas das listas cinza e negra, respectivamente página Agosto de 2010 Número 32 TaxView página Brasil em linha com cenário tributário internacional página Planejamento Tributário e Processo Administrativo Fiscal página Lei para expatriados ainda desperta dúvidas para as empresas Reedição da lei de 1982 passa a valer para empresas de todos os segmentos e desperta dúvidas na hora de enviar funcionários para trabalho no exterior.

Upload: phunghuong

Post on 18-Jan-2019

254 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Tax View - EYey.mobi/Publication/vwLUAssets/Tax_View_32/$FILE/tax_view_32... · Estados Unidos, Europa, Canadá e América Latina (Argentina, Chile ... iniciaram a adaptação da

Holanda e Suíça são suspensas

das listas cinza e negra,

respectivamente p á g i n a

A g o s t o d e 2 0 1 0 • N ú m e r o 3 2

Tax View

p á g i n a

Brasil em linha com cenário

tributário internacional

p á g i n a

Planejamento Tributário

e Processo Administrativo

Fiscalp á g i n a

Lei para expatriados

ainda desperta dúvidas para as empresas

Reedição da lei de 1982 passa a valer para empresas de todos

os segmentos e desperta dúvidas na hora de enviar funcionários

para trabalho no exterior.

Page 2: Tax View - EYey.mobi/Publication/vwLUAssets/Tax_View_32/$FILE/tax_view_32... · Estados Unidos, Europa, Canadá e América Latina (Argentina, Chile ... iniciaram a adaptação da

2 • T a x V i e w • A g o s t o d e 2 0 1 0

expatriado tem um impacto significativo no custo da expatriação para a empresa em relação às práticas anteriores de suspensão ou rescisão do contrato de trabalho e, no início, fez com que muitas companhias repensassem processos de expatriação. Além do impacto na folha de pagamento, as empresas também precisam dedicar tempo de trabalho de suas equipes de Recursos Humanos para gerenciar localmente as obrigações trabalhistas dos expatriados.

“A lei cria dificuldades para a expatriação, uma vez que torna o processo mais oneroso, e pode contribuir para a construção da imagem de um Brasil caro e burocrático aos olhos da comunidade internacional”, pondera God. n

Em vigor há um ano, a Lei 11.962/2009 — atualização da antiga lei 7.064 e conhecida no mercado por “Lei Mendes Júnior” — ainda desperta dúvidas nas empresas que têm planos de expatriar seus funcionários. Pela nova lei, as empresas devem manter no Brasil o contrato de trabalho, e todas as obrigações tributárias e previdenciárias relacionadas, dos funcionários expatriados.

Do ano passado para cá, as dúvidas das empresas mudaram. “No início, elas avaliavam os riscos de se manter a expatriação nos moldes antigos, com a suspensão ou rescisão do contrato de trabalho do funcionário que ia para o exterior. Hoje, elas já questionam sobre como administrar melhor a carga tributária para cumprir a nova lei”, conta Frederico Good God, sócio de Human Capital da Ernst & Young. Nos primeiros meses de entrada em vigor da nova lei, a equipe de Human Capital da Ernst & Young recebeu em média uma consulta por semana dos clientes com dúvidas sobre a aplicação da lei e participou de pelo menos uma palestra por mês sobre o tema. “Passamos a ser uma referência para o mercado”, destaca o sócio.

Dentre as principais dúvidas atuais das empresas e suas equipes de Recursos Humanos e do departamento financeiro, estão questões como o recolhimento de

INSS com a contribuição ao Sistema S (Sesc, Senac, Senai, Sesi, etc.), já que o funcionário não estará no País para usufruir os serviços, e quanto ao período de aplicação da lei (novas expatriações ou expatriações já em andamento). Em relação ao salário-base para tributação, a lei não deixa claro se é levado em conta o valor anterior à expatriação ou a renda obtida pelo funcionário no exterior. “Os casos são avaliados criteriosamente com os clientes, envolvendo os departamentos jurídicos das empresas, para chegarmos à melhor solução”, conta God.

Impactos da leiA observância da manutenção do vínculo trabalhista no Brasil de um funcionário

Lei para expatriados ainda desperta dúvidas para as empresas

A Lei 7.064/82, reeditada em 2009, reforça o entendimento de que empresas de todos os segmentos devam manter o contrato de trabalho dos funcionários brasileiros expatriados.

Histórico da leiA Lei 7.064, de 1982, que ficou conhecida no mercado por “Lei Mendes Júnior”, entrou em vigor em uma época em que as empresas de construção estavam iniciando seu processo de internacionalização. Empresas como a própria Mendes Júnior, mas também outras empreiteiras, enviavam engenheiros e demais funcionários brasileiros para obras em países do Oriente Médio e África.

A lei de 1982 dizia respeito apenas a esses trabalhadores empregados pelas empreiteiras e que eram transferidos para países com situação econômica e política, muitas vezes, instável. Portanto, a lei pressupunha uma proteção a esses profissionais. Hoje, no entanto, a reedição da Lei Mendes Júnior de 2009 vale para todas as empresas e gera dúvidas nas companhias brasileiras que estão se internacionalizando e enviando profissionais brasileiros para cargos no exterior. Assim, a lei passa a atingir um universo mais amplo de trabalhadores e de remuneração per capita superior em comparação com a lei de 82.

O Expatriado BrasileiroIdade: 30 - 45 anos

Cargo: nível gerencial e diretivo

Empresas: tecnologia, alimentos e bebidas, serviços e saúde

Países onde vai trabalhar: Estados Unidos, Europa, Canadá e América Latina (Argentina, Chile e México)

Page 3: Tax View - EYey.mobi/Publication/vwLUAssets/Tax_View_32/$FILE/tax_view_32... · Estados Unidos, Europa, Canadá e América Latina (Argentina, Chile ... iniciaram a adaptação da

3 • T a x V i e w • A g o s t o d e 2 0 1 0

Brasil em linha com o cenário tributário internacionalMarcos ValadãoCoordenador-geral de Relações Internacionais da Receita Federal

tributários favorecidos, que já existia, mas era menos abrangente. Essa tendência existe, iniciou-se há mais ou menos quinze anos, e a legislação brasileira vem sendo aprimorada naturalmente, em linha com restante do mundo. Assim, a tendência é que essas atualizações devem continuar acontecendo. No âmbito do Direito, nada é mais dinâmico do que o Direito Tributário Internacional, já que nada é tão dinâmico como a economia internacional.

Tax View • Uma das questões que vêm sendo objeto de atenção é exatamente o tratamento dos paraísos fiscais e dos regimes fiscais privilegiados. Nos trabalhos da OCDE, o combate à concorrência fiscal abusiva está atrelado à transparência fiscal internacional, principalmente mediante a existência de mecanismos de troca de informações. O senhor acredita que o Brasil está alinhado com tal enfoque da questão?

Valadão: A OCDE realmente começou o combate à concorrência fiscal abusiva e nesse escopo estava a luta contra os paraísos fiscais e regimes privilegiados e a luta pela transparência fiscal. O Brasil participou desse processo, embora

Tax View • Nos últimos anos, foram editadas diversas regras sobre temas de tributação internacional. Como exemplo, podemos citar o tratamento diferenciado dos regimes fiscais privilegiados pela Lei nº 11.727/2008 e a introdução no Brasil de regras de subcapitalização pela Lei nº 12.249/2010. Tais fatos mostram uma tendência de atualização da legislação brasileira sobre tributação internacional?

Marcos Valadão: Na verdade essa alteração vem acontecendo desde 1995/1996, quando foram introduzidas a tributação universal da renda e as regras de preços de transferência, que iniciaram a adaptação da legislação brasileira à moderna tributação internacional. Assim, o que ocorre agora é um aperfeiçoamento. À medida que o Estado detecta comportamentos dos contribuintes relacionadas à evasão e elisão fiscal, tal aperfeiçoamento se faz necessário para coibir essas práticas. Com a abertura da economia brasileira e a sua inserção internacional, as alterações e adaptações são inevitáveis. A Lei nº 11.727, por exemplo, veio aperfeiçoar o sistema de combate aos regimes

O Brasil está alinhado com a evolução da tributação internacional, que caminha no mesmo ritmo dinâmico da economia globalizada. Essa é a visão de Marcos Valadão, coordenador-geral de Relações Internacionais da Receita Federal. O Tax View esteve em Brasília para uma entrevista com Valadão sobre a posição brasileira no contexto da tributação internacional, paraísos fiscais, regras de subcapitalização e o ingresso do Brasil no Fórum Global sobre Transparência e Troca de Informações. Doutor em Direito pela americana Southern Methodist University, professor universitário e autor de livros e artigos sobre temas tributários, Marcos Valadão fala ao Tax View também sobre sua visão de futuro em termos de tributação de operações internacionais. Confira a seguir.

Page 4: Tax View - EYey.mobi/Publication/vwLUAssets/Tax_View_32/$FILE/tax_view_32... · Estados Unidos, Europa, Canadá e América Latina (Argentina, Chile ... iniciaram a adaptação da

não seja membro da OCDE. O que aconteceu, acredito, é que o movimento internacional pela troca de informações, isto é, pela transparência fiscal, se destacou da questão da concorrência fiscal abusiva, especialmente a partir do 11 de Setembro, com a necessidade de os Estados Unidos e alguns países da Europa combaterem os fluxos internacionais de fundos de origem ilegal como estratégia de combate ao terrorismo. Neste sentido foi reforçado também o combate específico à lavagem de dinheiro, por via do GAFI/FATF. Assim, o movimento pela a transparência tornou-se mais forte e focou na identificação do titular efetivo das transações (a identificação de quem é o beneficiário efetivo da transação, quem é o titular do trust, quem é o correntista da conta offshore, quem é o real dono da empresa, etc.), porém deixando um pouco de lado a questão da evasão.

O Brasil está alinhado com esse entendimento, porém mantendo o foco também na evasão. Aqui não há título ao portador, não é possível haver uma empresa sem que se saiba que é o sócio, etc. Nossas práticas estão alinhadas com as melhores práticas internacionais nesse sentido. Temos em nossos 29 tratados de dupla tributação em vigor mecanismos de troca de informações em linha com as práticas internacionais.

Vale observar que a OCDE tem um grupo de trabalho com foco na competição tributária Internacional (harmful tax practices), mas que se distanciou do Fórum da Transparência. Ora, para que um Estado quer informações tributárias? Para combater a evasão e elisão tributárias. Assim, a função do Fórum da Transparência é atuar na luta contra a evasão tributária internacional, que também é praticada por via do uso de países com tributação favorecida e regimes fiscais privilegiados (em um contexto de jurisdições não-cooperantes).

A legislação brasileira ataca os dois problemas em conjunto, buscando combater a concorrência fiscal danosa e a falta de transparência – ambas formam o ambiente propício à elisão e evasão tributária internacional. O Fórum deve avançar mais nessas questões.

Tax View • Como o senhor vê o amadurecimento do ordenamento jurídico brasileiro no que se refere à troca de informações na seara internacional?

Valadão: O problema que poderia surgir diz respeito à questão do sigilo bancário,

que, com a edição da Lei Complementar n. 105 em 2001, ficou superado. Assim, não há desalinhamento entre o que há nos países mais transparentes e o que temos no ordenamento jurídico brasileiro. Por exemplo, é bom termos claramente prevista a possibilidade de troca de informações no parágrafo único do artigo 199 do Código Tributário Nacional (introduzido pela Lei Complementar nº 104/2001), mas essa alteração só veio reconhecer algo que já era permitido pelo ordenamento, de modo que não houve alteração alguma na aplicação dos acordos antes e após este dispositivo. Se alguém tem dúvida sobre este aspecto basta verificar os artigos 96 e 98 do mesmo Código.

Tax View • A adesão do Brasil ao Fórum Global sobre Transparência e Troca de Informações é um passo importante em direção ao desenvolvimento de um sistema brasileiro de troca de informações?

Valadão: O Brasil aderiu ao Fórum em setembro de 2009, na reunião do México, passando a integrar seus órgãos de decisão e de revisão. Com a importância do Brasil no cenário internacional e sua atuação dentro do G20, o País não poderia deixar de participar de um órgão como o Fórum Global sobre Transparência e Troca de Informações para Fins Tributários, já que o próprio G20 apontou a falta de transparência tributária como uma das causas da crise econômica de 2007-2008.

O Fórum é um órgão da OCDE e suas posições seguiam as orientações da OCDE. Em 2009, ele passou a ter um orçamento próprio e a tomar suas decisões com a participação de todos os membros em pé de igualdade, sendo eles membros ou não da OCDE. É bom destacar que, mesmo antes de entrar no Fórum, o Brasil já atendia aos padrões internacionais de transparência, tanto que após a adesão o país passou a integrar a “lista branca” do Fórum de países que seguem os princípios internacionais de transparência. Como já mencionei, o Fórum está alinhado com a política da OCDE de transparência, com foco mais estreito. Assim, de acordo com o padrão atual, basta o país ou jurisdição ter 12 tratados de troca de informações tributárias no padrão da OCDE que ele entra para a “lista branca” do Fórum. Pensamos que esse critério deve ser aperfeiçoado, e será. Observe que o objetivo final do Fórum é o combate à

4 • T a x V i e w • A g o s t o d e 2 0 1 0

“A funçãodo Fórum da Transparência é atuar na luta contra a evasão tributária internacional, que também é praticada por via do uso de países com tributação favorecida e regimes fiscais privilegiados.A legislação brasileira ataca os doisproblemas.”

Page 5: Tax View - EYey.mobi/Publication/vwLUAssets/Tax_View_32/$FILE/tax_view_32... · Estados Unidos, Europa, Canadá e América Latina (Argentina, Chile ... iniciaram a adaptação da

evasão tributária internacional, sendo a transparência um mecanismo para fazê-lo. A legislação brasileira vai mais além e contempla também critérios de combate à elisão e evasão por via de jurisdições com baixa tributação.

Tax View • Como apontado, nota-se uma evolução legislativa no que se refere ao combate aos paraísos fiscais e regimes fiscais privilegiados, sendo a troca de informações uma consequência natural de tal combate. Na prática, como tem sido a experiência das autoridades fiscais brasileiras na troca de informações com autoridades de outros países? Há casos concretos de troca de informações?

Valadão: Todas as convenções para evitar a dupla tributação da renda celebradas pelo Brasil têm um artigo de troca de informações, mesmo que a redação do artigo varie dependendo do ano da celebração do tratado (o tratado brasileiro mais antigo data de 1967, com o Japão). Efetivamente, o Brasil tem trocado informações. No cenário anterior, em que a economia brasileira não era tão internacionalizada, o País era mais demandado do que demandante, o que agora tende a mudar. Contudo, a troca só é possível havendo tratado e obedecendo o princípio da reciprocidade (só se pode fornecer ao outro país que faça parte do tratado as informações que ele se dispõe a fornecer, mantido o mesmo nível de sigilo). O que não é mais admissível, no mundo moderno, é que jurisdições estrangeiras sejam vistas como refúgios para recursos obtidos ilicitamente, ou como bases para a prática de elisão e evasão tributária internacional.

Ainda sobre esta questão, um aspecto não muito conhecido é a existência de inúmeros tratados de troca de informações em matéria aduaneira. Há fraudes em operações de comércio internacional, e tais tratados também servem de mecanismos de controle dessas transações e de combate à evasão fiscal internacional.

Tax View • Ouve-se falar cada vez mais de experiências de auditorias fiscais simultâneas ou conjuntas, realizadas por autoridades fiscais de dois ou mais países. Seria uma tendência para o futuro?

Valadão: Considerando a realidade brasileira, parece ainda uma perspectiva distante. Para que seja feita, é necessária uma integração muito grande entre as

administrações tributárias. Imagino que seja possível no âmbito de blocos econômicos ou de cooperação, mas que não seria uma tendência em situações outras, embora o nível sem precedentes de internacionalização das transações empresariais demande uma mudança nesse sentido.

Ocorre que esse tipo de atuação conjunta implica uma renúncia de parte da soberania tributária, o que somente faria sentido nos casos de integração econômica mais forte, visto que há limites intrínsecos como diferenças na legislação tributária, formas de atuação do Judiciário em matéria tributária de cada país, etc, que devem ser considerados. Por outro lado, a OCDE tem desenvolvido estudos para fazer auditorias conjuntas, na verdade incentivando esse aspecto, mas até onde sei não há nenhum país fazendo isto atualmente, sendo o limite os exames simultâneos. Neste último caso, países como Dinamarca, Suécia e Canadá têm experiência (cada país conduz sua própria auditoria, mas troca informações em relação ao mesmo objeto simultaneamente), o que é diferente de auditoria conjunta.

Tax View • A globalização tem aproximado os sistemas tributários dos diversos países. Além disso, a integração econômica traz consigo a harmonização tributária. Passa-se agora por um processo de aproximação das demonstrações financeiras das empresas mediante a adoção dos IFRS. Além disso, o uso cada vez mais frequente da informática torna as informações cada vez mais disponíveis. Será que chegará o dia em que as informações fiscais farão parte de um grande banco de dados internacional, acessível às autoridades dos diversos países? O senhor conseguiria identificar algo que já aponte nesse sentido?

Valadão: Esse Big Brother total não parece possível no médio prazo. Existe a questão do sigilo fiscal, que pode ser administrada pelo fisco de cada país, sendo possível a troca com base em tratados internacionais. Um grande banco de dados total é outra questão. Além disso, esse banco envolveria aspectos de soberania estatal e de autonomia privada. Uma situação como essa parece pouco provável, pelo menos no médio prazo. Uma coisa é a troca automática de informações, outra coisa é uma base comum de dados. n

5 • T a x V i e w • A g o s t o d e 2 0 1 0

“Efetivamente, o Brasil

tem trocado informações.

No cenário anterior, em que

a economia brasileira não

era tão internacionalizada,

o País era maisdemandado do

que demandante, o que agora

tende a mudar.”

Page 6: Tax View - EYey.mobi/Publication/vwLUAssets/Tax_View_32/$FILE/tax_view_32... · Estados Unidos, Europa, Canadá e América Latina (Argentina, Chile ... iniciaram a adaptação da

Planejamento Tributário e Processo Administrativo Fiscal

fonte de direito, da mesma forma que nos ordenamentos europeu-continentais, a utilização das decisões de um órgão do Poder Executivo, como é o CARF, como fonte dos critérios que devem pautar os comportamentos das empresas, gera uma mudança de paradigmas que põe em risco o bom desenvolvimento dos negócios.

É de se esperar que a insegurança presente seja ao menos mitigada com uma regulamentação legislativa das situações em que seria possível a desconsideração de atos dos contribuintes para fins tributários, que deixe claro que, em nenhuma circunstância, pode um planejamento tributário praticado com observância das regras de direito privado ser equiparado a uma fraude fiscal. Contudo, enquanto a situação atual permanecer inalterada, é importante que as decisões do CARF sejam levadas em consideração no processo de tomada de decisão a respeito de uma reorganização empresarial.

De toda maneira, não se pode desconsiderar a realidade como ela se nos apresenta atualmente. Essa nova realidade tem mostrado que a atividade de consultoria tributária, normalmente focada em direcionar as decisões das empresas no que tange à interpretação/ aplicação da legislação tributária, deve ser acompanhada de perto por profissionais que conheçam profundamente os parâmetros decisórios dos órgãos administrativos de julgamento.

Nesse contexto, a Ernst & Young, determinada a prestar serviços de consultoria tributária que atendam às necessidades de seus clientes, oferece-lhes, juntamente com seus serviços de Business Tax Advisory e Compliance, sua área de Tax Controversy, que cuida de todas as fases do relacionamento da empresa com as autoridades fiscais, incluindo o acompanhamento de fiscalizações, o auxílio na apresentação de documentos e elementos probatórios, a assistência na elaboração de defesas administrativas, entre outros.n

* Sérgio André Rocha é sócio; Renata Fagundes e Marcelo Sampaio são gerentes, todos da área de Tributos da Ernst & Young.

Na última década, o planejamento fiscal foi responsável por uma das maiores mudanças do Direito Tributário Brasileiro, a qual, infelizmente, processou-se sem mudança legislativa, realizando-se por intermédio das decisões dos Conselhos de Contribuintes do Ministério da Fazenda, atual Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – CARF.

Até o fim da década de 90, prevalecia doutrinariamente o entendimento de que todo ato lícito praticado pelo contribuinte, antes da ocorrência do fato gerador do tributo, seria um forma legítima de planejamento com vistas à redução ou afastamento da tributação. Não são muitas as decisões do Conselho sobre a matéria nesse período, mas identificam-se alguns casos em que restou consignado que “a ação do contribuinte de procurar reduzir a carga tributária por meio de procedimentos lícitos, legítimos e admitidos por lei revela o planejamento tributário. Para a invalidação dos atos ou negócios jurídicos realizados, cabe à autoridade fiscal provar a ocorrência do fato gerador ou que o contribuinte tenha usado de estratagema para revesti-lo de outra forma” (Acórdão nº 106-14.483).

Na virada dos anos 2000, mais precisamente após 2001, com a edição da Lei Complementar nº 104, que acrescentou o parágrafo único ao artigo 116 do Código Tributário Nacional – CTN, experimentou-se uma mudança de paradigma, que se refletiu na prática das autoridades fiscais e do CARF nos anos seguintes.

Ao introduzir a chamada “norma geral antielisiva”, o referido parágrafo único do artigo 116 do CTN concedeu competência aos auditores fiscais para desconsiderar atos privados que tenham sido praticados com a finalidade de “dissimular” a ocorrência do fato gerador. Contudo, o próprio dispositivo estabelece que tal desconsideração deveria ser feita com observância dos “procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária”.

Em 2002, com a Medida Provisória nº 66 – MP 66, tal regulamentação foi editada. De acordo com o artigo 14 da MP 66, dois seriam os critérios a legitimar a desconsideração de atos privados pelas autoridades fiscais: a falta de propósito negocial e o abuso de forma. Entretanto, essas regras foram excluídas da lei de conversão dessa MP, a Lei 10.637/2002.

Analisando-se a evolução das decisões administrativas, nota-se que, mesmo não tendo sido convertidos em lei, os critérios da MP 66 acabaram influenciando não só a atuação das autoridades fiscais, como os critérios de decisão do Conselho, observando-se, em vários casos de desconsideração de atos dos contribuintes, referências à falta de propósito negocial e ao abuso de formas.

Assim, identificam-se agora decisões em que se afirma que “o princípio da liberdade de auto organização, mitigado que foi pelos princípios constitucionais da isonomia tributária e da capacidade contributiva, não mais endossa a prática de atos sem motivação negocial, sob o argumento de exercício de planejamento tributário” (Acórdão nº 104-21.498), ou ainda que “tendo o Fisco demonstrado à evidência o abuso de forma, bem como a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária, cabível a desqualificação do negócio jurídico original, exclusivamente para efeitos fiscais” (Recurso nº 143795).

Parece-nos que a maior crítica que se pode fazer aos critérios utilizados pelas autoridades fiscais e pelo CARF na revisão de reestruturações societárias e planejamentos fiscais consiste exatamente em se aplicar, na prática, uma norma ainda pendente de regulamentação. Não estamos aqui questionando o mérito de termos no ordenamento tributário uma norma geral antielisiva. Todos os países que lideram os fluxos comerciais com o Brasil têm uma. Porém, a desconsideração de atos privados, sem a necessária regulamentação legislativa, traz séria restrição quanto à segurança jurídica no ambiente empresarial.

Em um sistema jurídico como o brasileiro, em que prevalece a lei como

6 • T a x V i e w • A g o s t o d e 2 0 1 0

Por Sergio André Rocha, Renata Fagundes e Marcelo Sampaio*

Page 7: Tax View - EYey.mobi/Publication/vwLUAssets/Tax_View_32/$FILE/tax_view_32... · Estados Unidos, Europa, Canadá e América Latina (Argentina, Chile ... iniciaram a adaptação da

7 • T a x V i e w • A g o s t o d e 2 0 1 0

A Holanda e a Suíça permaneceram poucos dias nas listas cinza e negra, respectivamente, dos países considerados “paraísos fiscais” ou com regimes de tributação favorecida. A inclusão dos dois países no regime de exceção da Receita Federal, com as consequentes retaliações tributárias, gerou questionamentos por parte dos Ministérios da Fazenda dos dois países, assim como pelas empresas suíças e holandesas instaladas no Brasil, e envolveu até a diplomacia dos países e o Itamaraty.

A situação gerou uma série de dúvidas no mundo corporativo. Tanto que a equipe de Impostos Internacionais da Ernst & Young atendeu uma série de clientes com questionamentos — e certa insegurança — em relação à permanência por apenas 11 dias de Holanda e Suíça nas listas de paraísos fiscais. Isso porque os países foram enquadrados nas listas da IN 1.037 e, em seguida, a decisão foi suspensa pelos atos declaratórios 10 e 11, editados logo após a publicação da IN 1.045, que previa procedimentos para aqueles países descontentes com a lista questionarem sua inclusão. Essa suspensão quer dizer que a esses países

não se aplicam as condições tributárias agravadas aplicáveis aos países listados até que o Fisco brasileiro manifeste-se favorável ou desfavoravelmente sobre a manutenção desses países nas listas cinza e negra.

“Na Holanda, por exemplo, as decisões do Fisco são tomadas após um período de consultas e debates envolvendo governo, técnicos e empresas. No Brasil não é assim: a Receita Federal decide e a nova lei passa a valer para todos”, explica Jérôme van Staden, sócio da área de Tributos da Ernst & Young. Por essa diferença cultural, empresas e governos de ambos os países foram surpreendidos pela Instrução Normativa que pôs 14 países na lista de paraísos fiscais e regimes fiscais privilegiados e questionaram a decisão brasileira de incluí-los na relação. O estranhamento dos países também se justifica pelo fato de praticamente nenhum outro país considerá-los nominalmente como paraísos fiscais, com exceção da Itália, que classifica como privilegiados regimes fiscais de determinados cantões suíços.

As negociações entre os dois países e o Brasil evidenciam o poder econômico das

empresas holandesas e suíças instaladas no País. A suspensão da inclusão de Holanda e Suíça na lista também deve motivar outros países a reivindicar o mesmo tratamento. “No passado, países como Cingapura, Antilhas Holandesas, Aruba e Barbados também questionaram sua inclusão na lista de paraísos fiscais, mas não conseguiram ser retirados”, conta Jérôme van Staden. Malta, no entanto, conseguiu inverter sua antiga posição de paraíso fiscal e hoje é considerado um país com regimes fiscais privilegiados.

O sócio da Ernst & Young explica que o foco de atenção dos países em relação aos paraísos fiscais está mudando ao longo dos anos. No passado, as preocupações estavam nas alíquotas reduzidas que esses países praticavam. Já nos últimos anos, a questão da transparência prevalece quando o assunto é paraíso fiscal, uma vez que essas jurisdições não revelam a identidade dos investidores, o que pode mascarar o financiamento a atividades ilegais, especialmente terrorismo e lavagem de dinheiro. n

Pressão de países e empresas reverte classificação dada pela Receita Federal

Holanda e Suíça são suspensas das listas cinza e negra, respectivamente

Page 8: Tax View - EYey.mobi/Publication/vwLUAssets/Tax_View_32/$FILE/tax_view_32... · Estados Unidos, Europa, Canadá e América Latina (Argentina, Chile ... iniciaram a adaptação da

8 • T a x V i e w • A g o s t o d e 2 0 1 0

O Tax View é uma publicação destinada a clientes e colaboradores da Ernst & Young que aborda assuntos e questões relevantes para as empresas nas áreas de legislação tributária e legal, jurisprudência, tendências e oportunidades da economia. As opiniões aqui expressas não devem ser utilizadas, de maneira isolada, para a tomada de decisões por parte das organizações. Estamos à disposição para discutir nossas opiniões e sua aplicação em cada caso concreto.

Você pode participar enviando suas dúvidas e sugestões para [email protected]

Sócio coordenador: José M. R. Silva Coordenador editorial: Claudio Yano Jornalista responsável: Roseli Loturco (MTB 25.529/110/12/SP) Reportagem: Kátia Hochman Projeto gráfico: Alex Rossetto Diretor de arte: Andre Scigliano Edição final e distribuição: Depto. de Comunicação e Gestão da Marca

Eliézer Serafini Sócio-líder de Tributos +55 11 2573-3312 [email protected]

Gil Mendes Sócio de Tributos Internacionais +55 11 2573-3456 [email protected]

Frank de Meijer Sócio de Tributos Indiretos e Alfandegários +55 11 2573-3383 [email protected]

Jefferson Sanches Sócio de Tributos Indiretos +55 11 2573-3253 [email protected]

Ricardo Gomes Sócio de Business Tax Compliance +55 11 2573-3283 [email protected]

Romero Tavares Sócio de Assessoria Tributária +55 11 2573-3312 [email protected]

Tatiana Ponte Sócia de Human Capital +55 11 2573-3236 [email protected]

Alessandro LacerdaSócio de Assessoria Tributária +55 31 [email protected]

Paulo CesarGerente Sênior de Tributos+55 47 [email protected]

Contatos:

Ronaldo MarsollaSócio de Assessoria Tributária +55 19 [email protected]

Eneas MoreiraSócio de Business Tax Compliance+55 41 [email protected]

Marcos HiranoGerente Sênior de Tributos+55 51 [email protected]

Rogério SimõesSócio de Business Tax Compliance+55 81 3092-8330 [email protected]

Jose Manuel SilvaSócio de Business Tax Compliance +55 21 [email protected]

Paulo FrançaSócio de Business Tax Compliance+55 71 3496-3530 [email protected]