sustentabilidade em seis dimensões

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Sustentar o quê? Pág. 05 Você também contribui para sustentar a sua saúde e felicidade integral? Nosso Futuro Comum Pág. 07 Um marco na evolução do conceito de sustentabilidade Seja você a Mudança Pág. 19 Profissionais relatam como aplicam a Sustentabilidade em sua prática profissional seis dimensões sustentabilidade em

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Sustentar o quê? Pág. 05

Você também cont ribu i para sustentar a sua saúde e felicidade integral?

Nosso Futuro Comum Pág. 07

Um marco na evolução do conceito de sustentabilidade

Seja você a Mudança Pág. 19

Profissionais relatam como aplicam a Sustentabilidade em sua prática profissional

seis dimensõessustentabilidade em

CINTURÃO VERDE2,6 milhões de árvores que cresceram junto

com a empresa e cobrem 56% da área total.

A lém de ser ef ic iente no controle

ambiental, contribui com o clima e abriga

grande diversidade de fauna.

02

apresentação

Muito prazer!

A partir do momento em que nos tornamos profissionais, passamos a dedicar ao universo do trabalho a maior parte do nosso tempo. São oito horas em média de carga horária, além do tempo de deslocamento e do horário de almoço, espremido entre um turno e outro. Muitas vezes, durante a reta final dos estudos, isso já acontece, somando-se a carga horária da faculdade e do estágio.

O fato é que, se o trabalho é o maior destinatário do nosso tempo cotidiano, é preciso que ele nos possibilite muito mais do que subsistência material, poder e status social. É fundamental que ele alimente também nossa segurança emocional, satisfação moral e enga-jamento social. Que ele motive nossa criatividade e nos ajude a ampliar nosso senso de pertencimento e de finalidade diante da humanidade e do planeta. Não é justo que apenas em nossos momentos de lazer ou estudo possamos desenvolver essas habilidades e sentimentos fun-damentais para nosso crescimento como seres humanos, fundamentais para nossa felicidade. Estamos no mundo, essen-cialmente, para sermos felizes e assim, naturalmente, fazer do mundo um lugar melhor para se viver.

Felicidade é outro nome para Susten-tabi l idade, veremos nas pág inas seguintes. Pelo menos a Sustentabilidade em Seis Dimensões, holística e integral, que defendemos aqui. Veremos também como o mercado de trabalho, nas mais diversas áreas – Humanas, Exatas e Biomédicas – no Espírito Santo, no Brasil e no mundo, tem concil iado a sus-tentabilidade econômica com essa necessidade emergente – que na verdade é uma necessidade ancestral da condição humana, mas que as novas gerações e o novo milênio têm feito pulsar com uma intensidade ainda não registrada em outros tempos históricos – de satisfação e motivação no trabalho.

Navegaremos por números, pesquisas, conceitos e, acima de tudo, relatos reais de pessoas que têm obtido sucesso, pessoal e profissional, ao pautarem suas carreiras pelos princípios e valores da Sustentabilidade em Seis Dimensões. Pessoas que experimentam um cres-cimento profissional firme, ao mesmo tempo que desfrutam de imenso prazer naquilo que fazem. Muitas delas nem sabiam que já praticavam esse modelo, mas se identificaram prontamente ao serem apresentadas a ele.

Será esse também o seu caso?

03

Sustentabilidade em Seis DimensõesUma publicação da ArcelorMittal Tubarão Av. Brigadeiro Eduardo Gomes, 930 – Jardim Limoeiro – Serra – ES – CEP 29163-970

Editado pela Comunicação e ImagemGerente: Herta TorresEditor Responsável: Dalmes BinotteConteúdo Técnico: Vera Bernabé

Produção: Célula ComunicaçãoRedação: Fernanda CouzemencoEm “Complementaridade”: Lena AzevedoEdição: Fernanda CouzemencoRevisão de Língua Portuguesa: Carla C. Teixeira SantosFotografia: Guilherme FerrariProdução fotográfica: Fernando ModenesiProjeto gráfico: Palco ComunicaçãoImpressão: GrafitusaTiragem: 2.000 exemplares

História Estágios de evolução do conceito de Sustentabilidade ................................. 05

O modelo das Seis DimensõesUma proposta mais transformadora e alinhada com os novos tempos ............ 10

Complementaridade Contribuições da Física Quântica ......... 13

ProtagonismoO papel da indústria ............................ 16

Seja vocêSustentabilidade na prática ................. 19

Referências ......................................... 26

EXPEDIENTE

0404

Esta revista é uma peça do Programa Conhecer ArcelorMittal – Instituições de Ensino Superior (IES). Um dos des-dobramentos dos programas de educação e comunicação socioambiental desenvolvidos pela empresa, desde 1996 com os públicos interno e externo, o Conhecer atende, anualmente, a cerca de 10 mil alunos, da Educação infantil ao Ensino superior.

Em 2015, uma das atividades previstas é a real ização de um concurso de monografias com o tema “As Profissões e a Construção da Sustentabilidade em suas dimensões ambiental, social, e c o n ô m i c a , c u l t u ra l , p o l í t i c a e espiritual”. Parte integrante da Política Ambiental da empresa, o Programa tem entre seus objetivos contribuir com a f o r m a ç ã o d e u m a c o n s c i ê n c i a socioambiental.

05

SUSTENTABILIDADESUSTENTAR O QUÊ?

sustentabilidade

felic

Do dicionário:

Sustentabilidade: Qualidade de sustentável

Sustentável: Que se pode sustentar

Sustentar: ... Suportar, apoiar ... Conservar, manter ... Amparar ... Dar ânimo, animar ... Proteger, favorecer, auxiliar ... Equilibrar-se ...

História e Evolução

Sustentar a vidaem suas mais

diversas formas e dimensões

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Ao trabalhar para garantir o seu sustento material, você também contribui para sustentar a sua saúde e felicidade

integral, a harmonia e a paz com seus semelhantes, a vida e a dignidade dos animais, vegetais e do planeta como um todo?

sustentabilidade em seis dimensões

07

Vida, felicidade e dignidade são temas tão antigos quanto a própria civilização. O que o século XX trouxe de novo foram reflexões e modelos que interagem com essas questões ancestrais, tendo como referência primordial a Economia.

A crise ambiental no início da segunda metade do século XX foi o estopim para que pensadores no mundo todo se mobilizassem em favor de uma reformulação do modelo econômico vigente e, assim, interromper o comportamento suicida de inviabilizar a vida humana no Planeta em decorrência da exaustão de seus recursos naturais.

Essa insanidade global teve como marco maior a Revolução Industrial, deflagrada em meados do século XVIII na Europa, e foi amplificada após a 2ª Guerra Mundial. Cerca de 200 anos depois, veio à tona a consciência de que a intensidade com que consumimos os recursos naturais já é maior do que a capacidade do planeta de estabelecer a devida reposição dos mesmos. Estudos indicam que o consumo atual já demanda pelo menos um planeta e meio em recursos como solo, florestas, água e minerais e que, se o ritmo consumista continuar, em 2030 consumiremos, anualmente, o equivalente a dois planetas em recursos naturais. (ARAIA, 2010). Abalando a saúde do planeta, a humanidade prejudica também a sua própria saúde. Um exemplo é o crescimento da ansiedade e da depressão que, de patologias individuais, já são males mundiais.

Bom, um marco conceitual que unificou e intensificou o movimento pela sustentabilidade deu-se em 1987, com a publicação do relatório “Nosso Futuro Comum”, pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas, também conhecido como Relatório Brundtland, por ter tido como relatora a então primeira ministra da Noruega, Go Harlem Brundtland.

NossoFuturo

Comum

História e Evolução

Desenvolvimento Sustentável

O principal legado do relatório foi ter popularizado a definição de Desenvolvimento Sustentável, elaborada poucos anos antes por Lester Brown, fundador do Worldwatch Institute (CAPRA, 2003):

“Desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem às suas próprias necessidades”.

Social

Ambiental Econômico

Sustentabilidade

TRÊSSete anos depois do Nosso Futuro Comum, o sociólogo e consultor britânico John Elkington formulou uma versão de Desenvolvimento Sustentável mais aplicável na gestão de negócios e instituições: o Triple Bottom Line, também conhecido como PPP em inglês (People, Planet and Profit) ou PPL em português (Pessoas, Planeta e Lucro).

A partir desse conceito, passou a ser considerada sustentável a empresa ou entidade que é financeiramente viável, socialmente justa e ambientalmente responsável.

Eis que quatro décadas antes de Elkington e Brundltand, um ex-seminarista dinamar-quês já havia profetizado um modelo de desenvolvimento ainda mais completo, que evidenciava seis e não três dimensões da Sustentabilidade.

Ian Larson deixou muito poucos registros escritos, mas seus seguidores preservaram a essência de seu modelo, que defendia o “equilíbrio indispensável” entre seis dimensões: econômica, ambiental, social, cultural, política e “interacional”.

Corresponsabilidade individual

O modelo de Ian Larson serviu de inspiração para a implementação, meio século depois, de um estilo de gestão empresarial mais holístico. Na ArcelorMittal Tubarão, a partir de 2003, o modelo de Sustentabilidade em Seis Dimensões sofreu uma sutil adaptação, com a substituição da última dimensão pela “espiritual”, atendendo à necessidade de ressaltar “a responsabilidade individual de cada um em termos éticos e morais, dentro do grande processo”, como bem define Sidemberg Rodrigues, em seu livro Comple-mentaridade.

Implantado inicialmente na Gerência de Comunicação e Imagem, o modelo foi sendo absorvido, assimilado e incentivado pela alta gestão e, a partir daí, disseminado também para outras instituições com as quais a empresa se relaciona. O fato de as Seis Dimensões já serem uma referência para o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), na gestão de pessoas e finanças, mostra a força que o modelo adquiriu neste novo milênio e o seu potencial de transformação de visões e posturas a partir do mundo corporativo.

SEIS

História e Evolução

08

A adaptação brasileira do modelo dinamarquês traz, em sua representação gráfica, a dimensão espiritual no centro do processo, irradiando e sustentando as demais. “Ser espiritual não tira pedaços, não subtrai o lucro e, pelo contrário, ajuda na produ-tividade, na redução de acidentes, no clima organi-zacional, na manutenção da saúde e da segurança e na consolidação da reputação. A alta gestão fica feliz com tudo isso, daí aprovar e legitimar”, explica Sidemberg.

“A espiritualidade deve ser inserida transversalmente em tudo o que a instituição fizer, para expandir a visão sistêmica e a certeza de que ela é uma célula em um grande tecido, como todos os que com-põem e com ela se rela-cionam”, orienta.

espiritualidadeemergente

Inteligência espiritual

O remédio, recomendam os especialistas, é conjugar, com igual dedicação, as buscas pelo senso de finalidade e pela satisfação financeira no dia a dia profissional. Ou o capital racional com os capitais social e espiritual, na definição de Danah Zohar e Ian Marshal, autores de Inteligência espiritual e Capital espiritual.“Se visarmos a um capitalismo susten-tável, teremos de acumular os três tipos de capital”. Mas, “seja qual for o capital, ele não funciona sem o capital espiritual como alicerce”, afirmam Zohar e Marshal.

O consultor Claiton Fernandez, em artigo para a Associação Brasileira de Recursos Humanos, confirma: “Os especialistas e consultores mais evoluídos já concordam com a inclusão da espiritualidade no desenvolvimento pleno das empresas. A natureza e o significado do trabalho estão passando por uma profunda evolução e a emergência da espiritualidade está ajudando a catalisar esse momento”, pondera.

De fato, o mundo já está vendo surgir os primeiros CSO – Chief Spiritual Officer, profissionais responsáveis por cuidarem dos valores das corporações. Atuando no nível do conselho de administração, o CSO aconselha os executivos em favor da manutenção da cultura da empresa e lidera a gestão de conflitos éticos, de disputa de poder, desvios de caráter, entre outros. Em resumo, o CSO é o executivo responsável por zelar pelo “espírito da organização” (PATI, 2015).

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Senso de finalidade. Propósito. Significado. São outros nomes que podemos dar à espiritualidade aplicada ao mundo do trabalho, considerada o melhor – ou único – “remédio” para reverter a crise de insatisfação, que parece ainda mais

bombástica que a ambiental e a econômica que a precederam.

“A corrida para comprar felicidade, pela via do consumo, está na origem da epidemia de infelicidade dos últimos anos”, denuncia o jornalista Alexandre Teixeira, autor do livro

Felicidade S.A., em que apresenta uma ampla pesquisa sobre os mais

recentes estudos e iniciativas voltados à conquista da motivação e da real ização pessoal no trabalho. “O Gallup estima o custo da crise de desenga-jamento em US$ 300 bilhões

anuais, só nos Estados Unidos, devido à perda de produtividade.

Por trás do baixo engajamento, há uma crise de propósito”, alerta.

História e Evoluçãosustentabilidade em seis dimensões

As Seis

O que é: Diálogo. Discussão, definição, negociação e implementação de direitos e deveres, individuais e

coletivos. Desafio: Combater a corrupção.

O Ranking da Corrupção 2014, da ONG Transparência Internacional,

mais uma vez mostra que a corrupção é um mal global. O Brasil está na 69ª

posição entre os 174 países avaliados.Atitude: Honestidade. Em escala individual,

ela nos dignifica a eleger representantes igualmente honestos nos governos.

O Modelo

Espi

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Política

O que é: É o hardware, o corpo do planeta e de cada um de nós.Um desafio atual: Utilização racional dos recursos naturais. A falta d´água é uma dramática realidade no Brasil, país que detém a maior reserva de água doce superficial do mundo. As águas nascem das florestas e as alimentam. Mas recompor as

florestas mexe estruturalmente com o modo de produção e mesmo com padrões alimentares, pois a maior parte dos desmatamentos da Amazônia, por exemplo, são executados em função da pecuária (SVB, 2012).Atitude: Entender e respeitar a resiliência do planeta, aprender com ela.

Ambiental

Atitude: Compaixão - a raiz emocional da correspon-

O que é: Senso de finalidade. A única dimensão da tem a ver necessariamente com Religião, que é da

Desafio: Vencer a depressão. É um mal que se alastra da Saúde é de que a partir de 2030 a depressão será o câncer e as doenças cardíacas.

preenche os vazios da alma.o próximo e com o Todo que nos rodeia, germinando

ritual

SocialO que é: Convivência, compartilha, encontro. Desafio: Vencer a intolerância, que fere o Artigo 1º da Declaração Universal dos

Direitos Humanos: “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação às outras com espírito de fraternidade”. Atitude: Humildade e empatia. Solidariedade, proatividade.

O que é: Identidade. Referências, história, raízes - individual e dos povos.Desafio: Proteção das expressões culturais de comunidades, povos

e nações mais vulneráveis economicamente, inclusive

nos meios de comunicação, analógicos e digitais (UNESCO,

2005), visto que “a Comunicação é o sopro que

dá vida à cultura” (RABAÇA e BARBOSA, 2002).

Atitudes: Coragem para assumir a própria identidade, como povo e indivíduo. Liberdade para se autoafirmar e sabedoria para respeitar o outro, a beleza da diversidade humana.

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Cultural

Dimensões

O que é: Cuidado com a administração (nomos) da casa (oikos).

O maior desafio: Distribuição mais igualitária de renda. O Brasil ainda é um dos países com maior desigualdade econômica, apesar da

melhora gradual e contínua, na última década, do Índice de Gini. Este indicador

foi criado pelo matemático italiano Conrado Gini para medir o grau de

concentração de renda em determinado grupo. Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos mais

pobres e dos mais ricos e varia de 0 a 1, sendo 0 a situação ideal de igualdade, ainda não atingida por nenhum país.

Atitude: “Ser” é tão importante quanto “Ter”.

Econômica

sustentabilidade em seis dimensões

sustentabilidade que é essencialmente individual. Não dimensão cultural.

por todo o mundo. A previsão da Organização Mundiala doença mais comum, atingindo mais pessoas do que

-sabilidade. Cultivar a compaixão consigo mesmo, com assim um sentimento de completude existencial, que

Vejamos um exemplo: a intolerância (social) e a marginalização de minorias étnicas ainda são resquícios do colonialismo (econômico) e se intensificam à medida que enfraquecemos nossa capacidade de compaixão pelo próximo (espiritual), sendo ainda, nos dias de hoje, estimuladas pela grande imprensa (cultural). O comportamento intolerante e a ausência de diálogo, em nível individual, refletem, em escala coletiva, em governos beligerantes e na ausência da diplomacia, gerando as guerras (política).

E a falta d´água? É essencialmente ambiental, certo? Sim, porém encontramos as demais dimensões também. Primeiramente, a econômica, pois o modelo insustentável de produção insiste em contabilizar como custo desnecessário o cuidado com as matas ciliares e nascentes e com o tratamento correto dos resíduos.

Ancestralidade e atualidadeEm seguida, as dimensões política e cultural que, nesse caso, repetem a ideologia, com os governos historicamente endossando essas e outras práticas arcaicas e a grande imprensa negando espaço e credibilidade aos discursos contrários. Discurso, aliás, que há pelo menos cinquenta anos é bradado pelos ambientalistas e praticado silenciosamente pelos chamados “povos da floresta”. E quando falamos em minorias étnicas falamos, também, em discriminação social.

Finalmente, a verdade é que a falta d´água no Brasil é, em última instância, um reflexo brutal da falta de espiritualidade. Exagero? Então vejamos: se a necessidade de florestas para a geração de água é um conhecimento ancestral humano e tão primordial para nossa qualidade de vida e mesmo sobrevivência como espécie, como pudemos esquecê-lo? Porque essa conexão com a natureza e as intuições sábias que dela brotam são capacidades que independem da razão, muitas vezes até a contestam. São o que filósofos chamam de eventos místicos, portanto espirituais. E numa época de escassez de senso de finalidade, escasseiam-se a intuição e até mesmo a água.

Um novo Renascimento

Retomar nossa capacidade de intuir o óbvio do ponto de vista da Natureza e da Vida, no terceiro milênio, não é voltar à sombria Idade Média. Ao contrário, é iluminar ainda mais o poder da razão, restaurado pelo Renascimento de Leonardo da Vinci e Galileu e consagrado pelo Iluminismo de Kant. É um novo salto evolutivo, reconciliando, de forma inédita na história da humanidade, o intuitivo e o racional. É ampliar nossa visão de mundo e nossas chances de viver dignamente sobre a Terra.

O Modelo

interdependência

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"A interdependência é um dos sustentáculos da Vida. As águas nascem das florestas e as florestas dependem das águas para sobreviverem.

Assim é com tudo e todos no planeta e no cosmos".

O exercício de “dividir” a Sustentabilidade em dimensões é puramente didático. Uma necessidade racional. Porque, na prática, na realidade do dia a dia, cada fato e cada aspecto da vida humana contém em si a totalidade da Sustentabilidade, em todas as suas dimensões, apesar de alguns eventos evidenciarem mais uma ou algumas dimensões.

A física quântica revolucionou o mundo e possibilitou o desenvolvimento de inúmeras tecnologias presentes em todas as áreas, seja na medicina, na comuni-cação, entre outras. E o salto científico se deu não por uma medição concreta de fenômenos micro ou macroscópicos, mas exatamente por ter instalado a dúvida, o indeterminado em suas observações e de compreender que fenômenos e entes físicos não são exclusivamente ondas, nem exclusivamente partículas, mas têm uma dualidade e que são comple-mentares.

O Princípio da Complementaridade foi apresentado em 1928 pelo físico dinamarquês Niels Bohr (1885-1962), afirmando a dualidade onda-partícula, em que a luz pode se comportar ora como onda (eletro-magnética), ora como partícula (o fóton). De outra forma, a luz pode ter natureza ondulatória ou cor-puscular, a depender do fenômeno em que participa.

Considerado uma das maiores expres-sões da física quântica, Bohr defendeu também que “a incerteza e a indetermi-nação são inerentes ao mundo quântico, e não apenas resultado de nossa percepção incompleta” e que “a parte não tem qualquer significado, exceto quando relacionada ao todo”. Tempos depois, encontrou fora da Ciência, na

O Princípio da

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Complementaridade Complementaridade

como princípiofilosofia chinesa milenar do yin-yang, importante paralelo com seu Princípio, de que os contrários são complemen-

tares.

Niels Bohr também dizia que o “mundo exterior não tem existência própria”, está ligado à “percepção que dele fazemos” e que “a Física não nos diz o que é o mundo, mas sim aquilo que podemos dizer, uns aos outros, a respeito dele”.

A compreensão da dualidade onda-partícula influencia, há quase um século, o modo como percebemos todas as dimensões de nossa existência. A ciência trouxe um componente aparentemente abstrato para medição de luz e as decorrentes inovações tecnológicas feitas a partir dela, mas a influência foi além da física. Mais do que soluções matemáticas para compreensão de fenômenos físicos, o Princípio da Comple-mentaridade e outras descobertas afins colocaram a incerteza no centro do problema. Uma contribuição filosófica, capaz de influir na solução de problemas e de alterar o futuro da humanidade com uma visão ética e holística da natureza. Um outro universo é possível e ele é a expressão da natureza humana, com suas dúvidas, incertezas e possibilidades.

Complementaridade

e a

sustentabilidade em seis dimensões

Anos antes de Niels Bohr apresentar o Princípio da Complementaridade, em 1928, Albert Einstein já havia se debruçado sobre o tema da dualidade onda-partículas. Curiosamente, o físico alemão, que tanto contribuiu para a construção da nova teoria quântica, tinha dificuldades em aceitá-la. Para Einstein, a experiência deveria ser única e prevista com precisão, ao contrário do que apontavam os estudos dessa nova geração de estudiosos, dentre eles Bohr, que sugeriam uma visão probabilística dos experimentos.

Apesar da popularidade da Teoria da Relatividade, foi o estudo do Efeito Fotoelétrico fundamental no estabelecimento da teoria quântica, que rendeu a Einstein o Nobel de Física de 1921 e possibilitou o desenvolvimento de tecnologias aplicadas em todas as áreas, da comunicação à medicina e à produção de equipamentos sustentáveis.

Na teoria eletromagnética, a luz era descrita como uma onda, e no efeito fotoelétrico, como partícula. Para Einstein, a luz era um sistema discreto formado por pacotes de energia, como uma partícula. Os físicos da época resistiram à ideia porque ela contradizia a figura estabelecida da luz como uma onda. O físico alemão então encontrou o efeito fotoelétrico, que poderia apoiar sua

teoria, e chamou de fótons esses pacotes de luz. Foi essa pesquisa de Einstein que resultou, em 1905, na solução do efeito fotoelétrico, nove anos antes do físico francês Louis-Victor de Broglie chegar à dualidade onda-partículas, em 1924, e de Bohr observar, tempos depois, que as naturezas da matéria e da energia têm aspectos ondu-latório e corpuscular, mas que não são contraditórios e sim complementares.

Fato é que o efeito fotoelétrico faz parte do mundo atual. Aparelhos com células

fotoelétricas permitem acender e desligar automaticamente a ilumi-

nação de ruas e casas, por exemplo, assim como controle automático de entrada em prédios e estações de metrô, ou ainda com uso na indústria,

contribuindo com a construção de peças mais precisas do que a mão humana, e na prevenção de aciden-tes.

A luz que intrigou cientistas nos trouxe até aqui e nos levará além, na compreensão de que não somos dissociados do mundo ao redor e que essa interação – e suas consequências - depende do que fizermos para estabelecer uma relação harmônica entre corpo, tempo e espaço, entre espírito e espaço-tempo.

14

TudoéRelativo

O Modelo Complementaridade

15

A luz tem significados que extrapolam a física. Investir em educação é uma forma de iluminar o futuro de indivíduos e de países. O desenvolvimento das novas tecnologias, o conhecimento sobre outras culturas e sociedades e até a produção de equipamentos que per-mitem detectar e curar doenças, só foram viabilizados com a compreensão das partículas invisíveis que formam a luz (fótons).

A Nova F í s i ca insp i rou um novo pensamento, uma nova forma de o homem se relacionar com o todo, de enxergar o mundo não só de uma perspectiva individual, mas como uma integração dos aspectos sociais, eco-nômicos, ambientais, espirituais e culturais e que traduzem uma visão de mundo.

A luz e as tecnologias decorrentes desse fenômeno respondem por todos os avanços no mundo atual, seja na saúde,

na agricultura, na transmissão de energia, de informação etc. Por isso, em dezembro de 2013, as Nações Unidas (ONU), em sua 68° Seção, proclamou 2015 como o Ano Internacional da Luz e das Tecnologias Baseadas na Luz (IYL 2015). A inspiração veio de diversas fontes, entre elas o Princípio da Complementaridade de Niels Bohr, que descreve o comportamento dual e complementar da luz (como onda ou partícula) e sustenta uma visão holística dos fenômenos do mundo.

Neste ano, estão sendo valorizados e incentivados o desenvolvimento de pesquisas e cooperação acadêmica, a busca de tecnologias limpas, como a energia solar, o resgate e a valorização de conquistas científicas sobre a luz, as pesquisas e experimentos que diminuam as desigualdades socioeconômicas e enfrentem a fome, as epidemias e os conflitos, de forma solidária e fraterna.

Um mundo menos desigual, mais compassivo, com proteção aos direitos fundamentais das pessoas e da natureza é possível. Que a luz se acenda e ilumine o futuro!

Mais informações: http://www.luz2015.org.br

Internacional da Luz

Complementaridade

2015O Ano

sustentabilidade em seis dimensões

O que uma empresa - seus gestores, empregados e parceiros - pode fazer para colaborar com a solução dos

desafios do mundo atual nas seis dimensões da sustentabilidade?

Protagonismo

Expandindo o modelo

No complexo tecido social de hoje, as indústrias e as grandes empresas repre-sentam a viabilidade econômica para as soluções que o mundo anseia. E quando elas vão a campo junto com as organizações da sociedade civil e os governos para realizar uma intervenção social, passam a funcionar como agentes que constroem pontes, realizando a complementaridade latente entre os diversos atores sociais.

“O novo papel empresarial, portanto, é o da aproximação de elos e quebra de muros”, sintetiza o gerente geral de Relações Institucionais e Sustentabilidade da ArcelorMittal Brasil, Sidemberg Rodrigues. E o modelo de sustentabilidade em seis

dimensões é uma perspectiva, um radar muito eficiente para que isso se realize, pois permite visualizar onde se está, o que já foi feito e para onde se deve ir.

Consciente dessa necess idade, a ArcelorMittal Tubarão tem expandido o conceito de Sustentabilidade em Seis Dimensões, divulgando, inspirando e orientando sua implantação pelos mais diversos stakeholders com que se relaciona, do poder público, da esfera privada ou do terceiro setor.

“Uma empresa que está presente nos cinco continentes tem um enorme potencial para influenciar

positivamente o terceiro milênio”, declara o conselheiro e ex-presidente do Tribunal de Contas do

Espírito Santo, Sebastião Carlos Ranna de Macedo.

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Oportunidades

Na Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), a Sustentabilidade é um tema muito discutido, na avaliação de seu presidente, Marcos Guerra, destacando a articulação de iniciativas, feita através dos Conselhos Temáticos, em que se busca abarcar a totalidade do conceito, para além das questões ambientais.

“Com ações efetivas em prol da qualidade de vida do trabalhador e da população, ganhamos em produtividade, eficiência e criatividade no ambiente industrial. Afinal, em primeiro lugar, é preciso com-preender que a boa gestão é feita de pessoas para pessoas”, ressalta.

Reutilização da água, responsabilidade social, formação de profissionais e interiorização do desenvolvimento são algumas das linhas mestras da atuação em Sustentabilidade da Findes. “O objetivo não é apenas garantir a sustentabilidade da indústria enquanto negócio, mas gerar novas oportunidades para os capixabas”, afirma.

O Judô é um dos projetos sociais do Instituto Continental em Ação (ICA),

que atende a mais de 200 crianças e jovens no município de Serra/ES.

Protagonismosustentabilidade em seis dimensões

Resultados sistêmicos

“O potencial de transformação é imenso”, concorda o conselheiro e ex-presidente do Tribunal de Contas do Espírito Santo, Sebastião Carlos Ranna de Macedo: “Uma empresa que está presente nos cinco continentes tem um enorme potencial para influenciar positivamente o terceiro milênio”.

De fato, é possível ver a evasão escolar caindo, os presídios com menos crianças e o aumento da empregabilidade e da criação de epicentros de desenvol-vimento nas comunidades beneficiadas pelos projetos sociais apoiados pela empresa. “Atuando sistemicamente, os resultados também são mais sistê-micos, mais holísticos”, complementa Sidemberg.

Dentro da empresa, os efeitos positivos da transformação do tecido social ao redor se fazem notar na forma de satisfação pessoal e senso de pertencimento, como afirma o gerente de Segurança Patrimonial da ArcelorMittal Tubarão, João Vieira: “Se você consegue juntar o processo produtivo, o processo espiritual, junto com o social, você transforma o mundo. Trabalhar numa empresa que consegue mul t ip l i car benefícios pra sociedade, é o que tem de mais importante. E eu particularmente me sinto muito feliz e muito orgulhoso de fazer parte desse time, um time que luta para melhorar o nosso estado, nosso país, melhorar o mundo”.

No Ministério Público do Espírito Santo, a Sustentabilidade em Seis Dimensões também teve muito boa recepção. Dirigente do Centro de Apoio às Políticas de Saúde (CAPS), o procurador de Justiça Dr. José Adalberto Dazzi observa que o modelo não só contribui diretamente para a gestão, mas, gradativamente, tende a melhorar a qualidade de vida da população. “Essa visão permite que as pessoas vivam melhor com elas mesmas e assim tenham mais saúde. Isso é inconsciente, mas o fato é que ao invés de procurar as soluções fora, elas passam a procurar cada vez mais dentro de si mesmas”, profetiza.

Uma empresa que se dedica a popularizar essa visão de mundo holística, na visão do procurador, “Tem uma grande missão”.

Mais Justiça

Protagonismo

e mais Saúde

Dr. José Adalberto Dazzi, procurador de Justiça do MPES

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‘Essa visão permite

que as pessoas

vivam melhor com

elas mesmas’

SEJA VOCÊa mudança

“Sustentabilidade é um caminho sem volta para a sociedade em ge ra l e , p o r ta nto, p a ra o s

negócios”. A afirmação do pres idente nac iona l do S E B R A E , L u i z B a r r e t t o

(BARRETTO, 2014), resume bem a necess idade de atua is e futuros profissionais, de todas as áreas de atuação, se alinharem com o conceito e as práticas de sustentabilidade para terem sucesso e mesmo sobreviverem no mercado, seja como empregados ou empreendedores.

Para quem está ingressando no mercado de trabalho, as oportunidades são realmente promissoras, pois susten-tabilidade ainda é um tema novo no mundo, estando estreitamente relacio-nado à inovação, atitude que é bastante natural entre a juventude.

“Cada vez mais jovens empreendedores abrem empresas já orientadas por princípios e valores da sustentabilidade. (...) Que impactos esses novos líderes p o d e m g e ra r n o m e r c a d o ? Q u e influências essa geração pode exercer?”, provoca Luiz Barretto.

No âmbito das grandes empresas, a Sustentabilidade também já é uma realidade. Pelo menos como item importante das estratégias e plane-jamentos. É o que mostram dados

coletados pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), como uma pesquisa recentemente divulgada pela Fundação Dom Cabral. Entre as mais de 400 companhias estudadas, 78% afirmaram que a preocupação com a susten-tabilidade está de fato na estratégia de negócios. Porém, apenas 36% têm ações concretas relacionadas ao tema e 37% dos executivos têm metas de respon-sabi l idade ambiental . Resultados semelhantes foram gerados por uma pesquisa feita em 2015 pela McKinsey & Company, pelo quarto ano consecutivo.

Apesar de apenas uma minoria encontrar meios de colocar o discurso em prática, há avanços. Em 2012, quando foi realizada uma versão anterior do levantamento da Dom Cabral, apenas 13% das empresas afirmaram ter ações concretas relacionadas à susten-tabilidade. O percentual, portanto, quase triplicou em menos de três anos.

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Seja Vocêsustentabilidade em seis dimensões

Seja Você

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Tomando como base esses e outros levantamentos, “Podemos concluir que estamos em um estág io no qua l a sustentabilidade já é algo muito claro e discutido, principalmente nas grandes corporações; porém, a aplicação de seus pressupostos, com a criação de metas, políticas e ações que envolvam os stake-holders, ainda precisa ser trabalhada”, avalia Tayná Almeida, coordenadora da Câmara Técnica de Comunicação e Educação do CEBDS.

Mudar o mundo

O alinhamento com os conceitos de sustentabilidade é crucial, portanto, para que o jovem possa conquistar seu lugar no mercado, seja como empreendedor ou c o m o e m p r e g a d o d e u m a g r a n d e corporação.

A boa notícia é que esse alinhamento está acontecendo naturalmente, à medida que as novas gerações já possuem, instin-tivamente, uma busca muito maior por satisfação e sentido no trabalho. E susten-tabilidade, na esfera individual, traduz-se por uma espécie de bússola, cujo norte é o senso de finalidade, um sentimento de cor-responsabilidade individual no melhora-mento do mundo.

É o que indicam algumas pesquisas, como uma enquete feita em 2011, citada pelo jornalista Alexandre Teixeira, autor de Felicidade S.A., em seu site. Nela, são as empresas de tecnologia – Google, Apple e Facebook – que aparecem como os locais de trabalho mais cobiçados pelos jovens profissionais, deixando o tradicional mercado financeiro de Wall Street no banco de reserva. Segundo a pesquisa, o banco mais bem colocado no ranking, JP Morgan Chase, f icou em 41º lugar. “Jovens ambiciosos e bem formados ainda querem – e continuarão querendo – ser bem remunerados por seu trabalho. Na policultura organizacional contemporânea, porém, querem também um propósito para o que fazem. E, no sentido mais amplo da expressão, a sensação de que podem mudar o mundo”, conclama.

A seguir, você confere algumas entrevistas e informações coletadas com profissionais que atuam no Espírito Santo de forma diferenciada, que têm mostrado como os valores e princípios da Sustentabilidade em Seis Dimensões lhe guiaram rumo à excelência em suas áreas e à realização profissional e pessoal.

vamos fazer

A inovação é o que move a equipe de engenheiros químicos, civis e ambientais da Marca Ambiental – primeira empresa a gerenciar um aterro sanitário privado no Espírito Santo, referência brasileira em tecnologias sustentáveis no tratamento de resíduos.

Diante de um novo desafio, a motivação maior sempre é fazer de uma forma diferente. “Fazer o que ninguém fez ainda” e “se encantar com o resultado, com a inovação”. Essas são situações comuns para os engenheiros ambientais Juliana Pardinho Tackla e Pedro Almenara Ribeiro Vieira, e o engenheiro químico Magmir Metzker.

Entrevistados dentro do Galpão de Segregação, Beneficiamento e Armaze-namento de Resíduos Industr ia is (GASBARI) da Marca, um dos ícones da empresa em inovação, eles contam como a empresa se tornou uma referência nacional em gestão de resíduos, que recebe constantemente a visita de profissionais e estudante de todo o país.

O entusiasmo brilha os olhos dos jovens engenheiros. A satisfação, profissional e pessoal, é evidente. Fácil, não é. Os

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desafios são muitos, com metas ousadas e prazos curtos. Mas a liberdade de criar e o apoio da alta gestão para implementar os projetos impulsionam o espírito criativo da equipe que gera inovação após inovação.

Magmir, que também é professor, procura passar um pouco do seu entusiasmo para os alunos e tem encontrado cada vez mais abertura para isso. “Em 2005, quando eu me formei, era 'chato' falar de meio ambiente. Hoje, é diferente, há interesse”, co n stata . “J á p a s s o u o te m p o d e sensibilização. Agora, é uma necessidade do mercado, é hora da ação”, convoca Juliana.

E ação é o que não vai faltar. Em eficiência energética, por exemplo, Pedro lembra as inúmeras oportunidades que estão sendo abertas nas diversas áreas da engenharia, “além do aumento de projetos nos moldes dos selos internacionais de gestão energética e das soluções de equipamentos e sistemas eficientes em consumo de energia. É preciso estar atento, buscar novas tecnologias, desenvolver a capacidade criativa”, orienta.

Magmir, Pedro e Juliana - Engenheiros da Marca Ambiental

diferente

Seja Vocêsustentabilidade em seis dimensões

Seja Você

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Operar o Direito é promover a paz

Entre as muitas histórias inusitadas que coleciona, Janete nos conta uma que aconteceu no bairro Favelinha, em Jardim Tropical, na Serra. A creche, que atende 300 crianças, vinha sofrendo com vandalismo intenso e a prefeitura, já não sabendo mais o que fazer, recorreu à Vara da Infância e da Juventude. Organizaram, então, um café da manhã.

Às 7h chegaram mo-radores e autoridades, debaixo de uma chuva memorável, que enchia o chão e os pés de todos com muita lama. Apre-sentada a um dos líderes locais, Janete apenas pediu que se parassem os tiros e o vandalismo – h av i a a t é fe ze s n a s paredes – para o bem das crianças e da comuni-dade. “Baiano”, que também era um dos comandantes do tráfico local, garantiu ali, para a

“madame” juíza, que a creche poderia ser refor-

mada mais uma vez e que nunca mais haveria problemas. De fato, há mais de cinco anos nenhuma ocorrência criminal é registrada.

Mágica? De forma alguma. Apenas aproximação, convivência e empatia, atos que necessitam de humildade e discernimento, compaixão e sabedoria. “Não sei se faço bem a eles, mas o que eles fazem por mim ...”, emociona-se, ao reconhecer a riqueza das trocas que vivencia com as pessoas que atende como juíza e que tanto possibilitam o seu crescimento profissional.

“Vejam, eles têm quase a mesma idade de vocês, se tiverem uma oportunidade, podem sair daqui e também entrar em uma faculdade, ter um diploma e uma carreira, igual a vocês”. Com mensagens diretas assim, a juíza Janete Pantaleão conduziu uma visita de estudantes de Direito de Vitória à Unidade de Internação Socioeducativa (UNIS), em Cariacica.

O objetivo foi aproximar os futuros bacharéis das pessoas de cujos direitos eles poderão cuidar no futuro. E enfrentar um problema muito sério entre os profissionais, em sua opinião, que é a crença de que a aproximação gera perda de autoridade. “Mas é exatamente o oposto”, garante a juíza que, desde 2012, coordena as Varas da Infância e da Juventude do Espírito Santo.

Ja n ete d efen d e q u e é p rec i s o conhecer, interessar-se de verdade pela vida das pessoas, visitar a escola, conviver. “Para aplicar bem o Direito é preciso conhecer bem a sociedade. E isso não se faz de dentro de um gabinete, com os livros, mas sim vivenciando”, ensina.

Esse distanciamento da realidade, acredita Janete, é um dos principais motivos do fracasso do Direito no alcance de seu objetivo maior, que é promover a paz. “Nós temos modelos, por exemplo, a Justiça Restaurativa e a Justiça Terapêutica, que conseguem envolver vítima, agressor e sociedade. É preciso acreditar que

todo ser humano é capaz de alterar o seu presente ruim

para um futuro melhor”.

Dra. Janete Pantaleão, coordenadora das Varasda Infância e da Juventude do Espírito Santo

‘Para aplicar bem

o Direito é preciso

conhecer bem

a sociedade’

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Seja Você

Até uma pequena banca para vender laranja, a médica Maria da Penha Rodrigues D´Avila p rov i d e n c i o u , l o go q u e a s s u m i u a provedoria da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, com a finalidade de levantar fundos para o hospital.

Era o ano de 2003, quando a instituição acumulava uma dívida milionária e diversos outros sérios problemas de gestão e infraestrutura. Não havia sequer dinheiro para a compra dos alimentos dos pacientes e a cozinha estava sem condições higiênicas e estruturais de trabalho. Dra. Penha se lançou em busca de soluções e encontrou um produtor de laranjas que se prontificou a doar as frutas.

Obviamente, o mais importante nessa ação não foi o dinheiro arrecado, mas a banca de laranjas fundamentou o desprendimento, a determinação e a criatividade da primeira mulher a assumir a provedoria da Santa Casa de Misericórdia de Vitória.

Reconhecendo a fragilidade financeira da instituição, Dra. Penha focava e ainda hoje foca, em contrapartida, no melhor: os melhores equipamentos, os melhores projetos de ampliação, os melhores treinamentos e o melhor tratamento para os

funcionários, com muita dignidade. O resultado dessa busca incessante pela excelência? “Um solo firme” em que pisar, base da sustentabilidade. “O legado que eu quero deixar é a autossustentabilidade, pra gente não ficar à mercê dos governos”, revela a provedora.

A Vida ensina

Em pouco mais de uma década, Dra. Penha transformou um hospital condenado ao sucateamento em uma instituição que é referência estadual em vários setores, como a Utin. “As soluções existem. Se você procurar, você encontra”, enfatiza.

Se a gestora já mostrou a que veio, a médica também não fica atrás. Desde os tempos do ambulatório do SUS, como ginecologista, Penha foi doutora em humanidade. Condena, por exemplo, a rigidez da padronização do tempo de duração de consultas. “Alguns pacientes querem ser atendidos rapidamente. Outros precisam de mais tempo”, reclama. “Muita gente quer só ser ouvida, sendo esse seu principal remédio”, diagnostica.

Um conselho para os estudantes e recém-formados? “Precisa ter mais humanidade. Porque se você tem dinheiro mas não tem formação, não tem caráter, esse dinheiro em alguma hora vai ser ruim pra você”. “Chega num hospital e vê a soberba da pessoa atrás do balcão! Então é só parar e pensar”, orienta. “Às vezes, a juventude lhe distrai um pouquinho desse olhar. Tem que começar a provocar esse olhar, mais humano. Você não nasceu doutor, a vida que lhe ensina isso. Você é médico, mas você não é Deus”.

‘As soluções existem. Se

você procurar, você encontra’

Dra. Maria da Penha Rodrigues D´Avila,Provedora da Santa Casa de Misericórdia de Vitória

Competênciae humanidade

sustentabilidade em seis dimensões

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Seja Você

Um modelo que reconhece a centralidade da espiritualidade na promoção da Susten-tabi l idade integral do planeta e da humanidade prevê, naturalmente, a necessidade inadiável do cultivo do autoconhecimento, como ferramenta primordial para a atuação efetiva na construção de um mundo mais sustentável.

“O que fazer com tanto conhecimento?”, pergunta a juíza Janete Pantaleão, co-ordenadora estadual das Varas da Infância e Juventude, ao mencionar as pilhas e pilhas de livros e artigos que os estudantes e profissionais de Direito consomem no decorrer da profissão, mas que se tornam vazios se não forem ativados pela força do auto-conhecimento que se realiza na experiência viva, real, junto às pessoas a quem esses profis-sionais servem.

Sim, “servem”! Pois ser um profissional, em qualquer área, é ser um servidor, acima de tudo. Aqui já pegamos carona nos ensinamentos do procurador de justiça José Adalberto Dazzi, dirigente do Centro de Apoio a Políticas de Saúde do Ministério Público do Espírito Santo, outro “operador do Dire i to” entrev istado para esta publicação, para quem o ato de servir é provedor de imensa alegria interna. “O jovem, ao estudar, está se preparando para

ser útil, para servir à sociedade”, enuncia, brilhando os olhos como quem compartilha seu maior tesouro. "Ele vai ganhar dinheiro, mas é consequência, não o objetivo principal”, adverte. “Vigiai e orai”, sacramenta, como recomendação sagrada em direção ao auto-conhecimento.

Sobre o dinheiro, fazem coro dois jovens empreendedores sociais: Karen Valentim e Carlos Abelhão, responsáveis, respectivamente, pelos núcleos de Sustentabilidade e de Relações Públicas do Instituto Tamo Junto. “Não é o

dinheiro que move. É o sonho, a vontade”, declaram. “É enxergar outros capitais: social, político ...”. É saber quem você é, a qual território você pertence e a qual território você vai se dedicar, em seu trabalho. É mergulhar em si mesmo e se lançar em uma imersão profunda no território a ser trabalhado. É desenvolver a

empatia e a sensibilidade. Com valores assim, os dois jovens líderes e o Tamo Junto têm alcançado resultados surpre-endentes na transformação, para melhor, da realidade social, cultural, econômica, política, ambiental e espiritual da juventude nas periferias da Grande Vitória.

Autoconhecimentoe sustentabilidade

Falando em lideranças, é oportuno lançar mão da obra O Divergente Positivo – Liderança em sustentabilidade em um mundo perverso (Petrópolis, 2014), da ativista britânica Sara Parkin, diretora da ONG Forum For The Future, citada em reportagem da Revista Ideia Sustentável de julho de 2014. No livro, Sara apresenta um conjunto de questões muito úteis para quem deseja pensar sobre o seu papel e as suas responsabilidades como líder sustentável. Extraímos aqui as quatro principais:

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Quatrotemas para

autorreflexão

Seja Você

Resiliência Relacionamentos Reflexão Reverência

Estou melhorando a capacidade de

qualquer sistema ecológico e social para permanecer forte ou torná-lo forte a ponto de absorver grandes

choques e continuar

inalterado?

Estou criando e protegendo as muitas e boas relações que sustentam a

resiliência nos indivíduos e

sistemas?

Estou reservando um tempo para pensar sobre as

coisas, de modo a aprender com a

experiência e aplicar as lições para o futuro?

Estou demonstrando uma

“reverência respeitosa” em

relação ao poder do mundo natural e à

intimidade de nossa relação biológica

com ele?

Bom, é por aí.

Agora é com você. Boa jornada e feliz autorreconhecimento do mundo em prol de

uma Vida Sustentável.

Sara Parkin

sustentabilidade em seis dimensões

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ZOHAR, Danah; MARSHAL, Ian. Capital Espiritual: usando as inteligências racional, emocional e espiritual para realizar transformações pessoais e

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Esta revista foi produzida com papel, tinta, equipamentos e processos ecologicamente responsáveis:- Papel certificado pelo CoC FSC, que garante ser oriundo de florestas replantadas, certificadas e rastreáveis. Também evita a utilização da química altamente poluente necessária ao tratamento da fibra de papéis reciclados a partir de fontes difusas (coleta seletiva), estas, mais indicadas para outros fins.- Tinta com base vegetal (óleo de soja), que reduz a quantidade de Composto de Carbono Volátil (VOC) liberados no ar e minimiza o potencial poluente após o descarte, já que também não requer óleos fósseis e compostos pesados em sua formulação.- A gravação de matrizes gráficas (chapas em alumínio sensibilizado) utiliza CTP ecológico e a revelação se faz sem utilização de água ou produtos químicos, ao invés de reveladores químicos contaminantes da água e do solo.- A impressão é feita a partir da Tecnologia Prinect Impress Control, da Heidelberg, que realiza automaticamente a conformidade das cores, reduzindo a zero o descarte de material de teste que esteja fora dos padrões de cores.

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