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SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL - USO DO BIOGÁS GERADO NO TRATAMENTO DE DEJETOS ANIMAIS EM ATIVIDADES DE SUINOCULTURA Alessandra de Paula (UNINTER) [email protected] Ivonete Ferreira Haiduke (FACEL) [email protected] KELLEN COELHO DOS SANTOS (UNINTER) [email protected] luiz antonio forte (TUIUTI) [email protected] CRISTIANE ADRIANA RIPKA (UNINTER) [email protected] O presente trabalho tem como objetivo principal o estudo de sustentabilidade ambiental no aproveitamento de biogás gerado no tratamento dos resíduos orgânicos nas atividades de suinocultura. A metodologia empregada foi o estudo de caso efetuado na Granja Marujo localizada na colonia Castrolanda em Castro-PR que possui um sistema de tratamento de dejetos suinos em biodigestores com a captação e aproveitamento energetico do biogas e de biofertilizante integrado às atividades produtivas. Neste estudo serão descritos os processos de manejo dos residuos para obtenção de biogás e do biofertilizante e a forma como são empregados. O objetivo secundário será efetuar calculos preliminares com uso do software Biogas: geração e uso energético-efluentes e resíduo rural- versão 1.0® desenvolvido e distribuido gratuitamente pela CESTEB, para XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

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SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL - USO DO

BIOGÁS GERADO NO TRATAMENTO DE

DEJETOS ANIMAIS EM ATIVIDADES DE

SUINOCULTURA

Alessandra de Paula (UNINTER)

[email protected]

Ivonete Ferreira Haiduke (FACEL)

[email protected]

KELLEN COELHO DOS SANTOS (UNINTER)

[email protected]

luiz antonio forte (TUIUTI)

[email protected]

CRISTIANE ADRIANA RIPKA (UNINTER)

[email protected]

O presente trabalho tem como objetivo principal o estudo de

sustentabilidade ambiental no aproveitamento de biogás gerado no

tratamento dos resíduos orgânicos nas atividades de suinocultura. A

metodologia empregada foi o estudo de caso efetuado na Granja Marujo

localizada na colonia Castrolanda em Castro-PR que possui um sistema de

tratamento de dejetos suinos em biodigestores com a captação e

aproveitamento energetico do biogas e de biofertilizante integrado às

atividades produtivas. Neste estudo serão descritos os processos de manejo

dos residuos para obtenção de biogás e do biofertilizante e a forma como são

empregados. O objetivo secundário será efetuar calculos preliminares com

uso do software Biogas: geração e uso energético-efluentes e resíduo rural-

versão 1.0® desenvolvido e distribuido gratuitamente pela CESTEB, para

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avaliar as vantagens e desvantagens, custos e beneficios de associar ao

empreendimento um projeto para obtenção de creditos de carbono. O

mercado de créditos de carbono é um instrumento de grande apelo

financeiro que pode ser utilizado para incentivar os suinocultores a repensar

seus processos de produção , mas deve ter as suas metodologias revistas

para que instalações como a apresentada neste trabalho possam colher

maiores beneficios .

Palavras-chave: Suinocultura , Biogas , Sustentabilidade , créditos

de carbono

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1. INTRODUÇÃO

A suinocultura no Brasil é uma atividade predominante em pequenas propriedades

rurais, com uma grande importancia tanto do ponto de vista social quant do econômico e,

principalmente, como instrumento de fixação do homem no campo. É uma atividade que se

encontra presente em 46,5% das 5,8 milhões de propriedades rurais existentes no país,

empregando mão de obra tipicamente familiar e constituindo uma importante fonte de renda e

de estabilidade social.

Apesar de sua importância do ponto de vista econômico e social, a suinocultura é

considerada, pelos órgãos ambientais, como atividade de grande potencial poluidor.

Esse modo de produção acarreta grandes problemas ambientais devido à alta geração

de resíduos que, na maioria dos casos, têm como destino a simples disposição no solo. Esta

prática faz com que, em muitas situações, se tenha um excesso de elementos no solo

(nutrientes, metais, patógenos, entre outros), tornando difícil a absorção à mesma taxa em que

estes elementos são aplicados.

Segundo a Agenda 21, Sustentabilidade ambiental significa atender as necessidades

da geração atual sem comprometer os recursos naturais que garantirão o atendimento das

necessidades das gerações futuras. Em outras palavras, é o equilíbrio na convivência entre o

homem e o meio ambiente. Isso significa cuidar dos aspectos ambientais, sociais e

econômicos e buscar alternativas para sustentar a vida na Terra sem prejudicar a qualidade de

vida no futuro.

O grande desafio na suinocultura moderna é conciliar a rentabilidade necessária para

dar continuidade às operações com a preservação do meio ambiente. Neste contexto, a

implantação de sistemas integrados de tratamento dos efluentes em biodigestores, com o

aproveitamento dos gases gerados na digestão anaeróbia para co-geração de energia elétrica e

térmica nas propriedades rurais, pode garantir a sustentabilidade ambiental e economica

destes empreendimentos.

2. A criação de suínos e o biogás

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Dentre as várias atividades agropecuárias, a criação de suínos gera enormes

quantidades de esterco o qual, decomposto em esterqueiras ou em lagoas de tratamento á céu

aberto , libera gases contendo metano diretamente para a atmosfera, além de poluir a água e o

solo. Segundo as pesquisas do IPCC – Painel intergovernamental de mudanças climáticas , o

gás metano, gerado na decomposição de matéria orgânica, é um dos principais gases

geradores de efeito estufa sendo 21 vezes mais danoso que o dióxido de carbono.

Uma das formas pelas quais o esterco dos suínos pode ser tratado é com a utilização

de biodigestores anaeróbios. A digestão anaeróbia produz um gás rico em metano. Esse

biogás pode ser utilizado para geração de energia térmica ou elétrica, podendo estar

associado a um projeto de mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL) previsto no

protocolo de Quioto, para obter créditos de carbono.

Segundo OLIVEIRA (2004) a utilização de Biodigestores, no Brasil, tem merecido

importante destaque devido aos aspectos de saneamento e energia, além de estimular a

reciclagem de nutrientes. A recuperação do biogás possibilita a geração de energia em

substituição a fontes de origem fóssil.

Portanto, com o uso de biodigestores, além de diminuir as emissões de CO2 pela

substituição de outras fontes energéticas de origem fóssil, diminui-se também a emissão de

gases produzidos na fermentação e estabilização dos dejetos que normalmente seriam

emitidos para a atmosfera pelas esterqueiras e lagoas de estabilização usadas para o

tratamento dos dejetos de suínos.

Segundo OLIVEIRA et. al. (2006) os biodigestores por si só não devem ser

considerados como uma solução definitiva para o problema e, sim, fazer parte de um sistema

mais completo de tratamento dos dejetos. Os biodigestores possuem limitações para remoção

de matéria orgânica e de nutrientes. O biogás, recuperado pelo tratamento de biodigestão,

pode ser utilizado para gerar energia térmica e elétrica a ser utilizada no processo produtivo,

reduzindo os custos do tratamento.

2.1 A digestão anaerobia

A digestão anaeróbia do resíduo animal resulta na produção de biogás, composto

basicamente de metano e dióxido de carbono. O metano gerado nos biodigestores pode ser

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aproveitado como fonte de energia térmica ou elétrica e usado em substituição aos

combustíveis fósseis (GLP) ou à lenha, tendo como vantagem ser uma fonte de energia

renovável. Além dos aspectos ambientais, como redução na emissão de gases de efeito estufa,

a produção de biogás pode agregar valor a produção, tornando-a autosustentável

economicamente, por meio da geração de energia (térmica) e a valorização agronômica do

biofertilizante (OLIVEIRA, 2004).

O processo de digestão anaeróbia consiste de um complexo de cultura mista de

microorganismos, capaz de metabolizar materiais orgânicos complexos, tais como

carboidratos, lipídios e proteínas para produzir metano (CH4) dióxido de carbono (CO2) e

material celular.

2.2 Biodigestores

As tecnologias utilizadas para obtenção de biogás a partir da digestão anaeróbia são

de conhecimento publico há mais de 30 anos nos países em desenvolvimento. Há centenas de

milhares de plantas de biogás atualmente em operação, e cada uma delas contribui para a

melhoria das condições de vida das pessoas em áreas rurais.

A operação de um biodigestor está ligada à sequência bioquímica das transformações

metabólicas do processo, bem como de uma série de fatores que interferem no processo, entre

os quais temperatura, pH, concentrações de sólidos e composição do substrato (OLIVEIRA

et.al.,2006).

Os principais problemas que podem ocorrer são: a entrada de água em excesso,

proveniente da chuva ou da lavagem das instalações. A entrada de antibióticos, inseticidas e

desinfetantes, no biodigestor, também podem inibir a atividade biológica, diminuindo a

capacidade do sistema em produzir biogás. A formação de zonas de curto circuito, dentro do

biodigestor, e o isolamento das bactérias de contato com a mistura em biodigestão, durante a

fase de metanogênese, também são fatores que diminuem a eficiência do sistema e

contribuem para o assoreamento precoce do biodigestor e redução de sua vida útil. A agitação

da biomassa no biodigestor pode amenizar estes problemas (LA FARGE, 1995).

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O processo de biometanização envolve a conversão de biomassa em metano sobre

condições anaeróbias. Esta conversão do complexo orgânico composto de metano e dióxido

de carbono requer uma mistura de espécies bacterianas.

A maioria dos biodigestores anaeróbios é projetada na faixa mesófila, embora

também seja possível a operação destes na faixa termófila. Entretanto, a experiência da

operação de digestões anaeróbios nesta faixa não tem sido totalmente satisfatória, existindo

ainda muitas questões a serem esclarecidas, dentre elas, se os benefícios advindos superam as

desvantagens, incluindo o suplemento de energia necessário pare aquecer os digestores, a má

qualidade do sobrenadante e a instabilidade do processo (SANCHEZ et al., 2005).

A partida de um biodigestor é tarefa de fundamental importância, haja vista que, se

esse processo for mal conduzido, o êxito de funcionamento do reator será prejudicado ou

mesmo frustrado (SANCHEZ et al., 2005).

O início da operação de um biodigestor está intimamente ligado à sequência das

transformações metabólicas do processo de biodigestão anaeróbia, que é uma fermentação

lenta, implicando na ocorrência de um intervalo de tempo, às vezes muito longo, até que

atinja a estabilidade de funcionamento, isto é, equilíbrio harmônico entre seus diferentes

estágios (LUCAS JUNIOR, 1994; LA FARGE, 1995).

A geração de biogás no interior de um biodigestor é um processo termodinâmico, no

qual o balanço de energia deve ser considerado (SOUZA, 2001).

Mudanças bruscas na temperatura podem afetar o desempenho da digestão Sendo

assim, é necessário o aquecimento do substrato em digestão, para uma maior uniformidade na

temperatura do substrato e conseqüentemente maior eficiência do biodigestor.

O aquecimento interno pode ser feito por meio da circulação de água em trocador de

calor. Ao se utilizar sistemas de aquecimento num biodigestor, deve-se fazer uma análise de

quantidade de energia para elevar-se a temperatura do substrato e a quantidade de gás

produzida como resultado dessa elevação de temperatura.

O dimensionamento do biodigestor deverá ser compatível com o tempo de residência

hidráulica, a temperatura da biomassa, carga de sólidos voláteis e as demandas de biogás na

propriedade (OLIVEIRA, 2005).

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2.3 Biogás

O biogás é originado por bactérias no processo de biodegradação da matéria orgânica

em condições anaeróbicas. A geração de biogás natural é uma parte importante da

biogeoquímica do ciclo de carbono.Os microrganismos metanogenos são o último elo de uma

cadeia de microrganismos que degradam a matéria orgânica e devolvem os produtos de

decomposição no meio ambiente. Cada ano, cerca de 590-880 Giga toneladas de metano são

liberadas em todo o mundo para a atmosfera através de atividade microbiana.

O biogás é uma mistura de gases que é composta principalmente por: Metano (CH4):

de 40 a70% em volume; Dióxido de carbono (CO2): de 30 a 60% em volume; outros gases: de

1 a 5% em volume (Hidrogênio (H2): de 0 a 1% em volume , e Sulfeto de hidrogênio (H2S):

de 0 a 3% em volume).

Cerca de 90% do metano emitido para a atmosfera é proveniente de fontes

biogênicas, isto é, a partir da decomposição da biomassa. O restante é de origem fóssil (por

exemplo, processos petroquímicos).

O metano (CH4) é principal componente do biogás, não tem cheiro, cor ou sabor.

Outros gases presentes, produzidos pela digestão anaeróbia, proporcionam-lhe um ligeiro

odor de ovo podre. O biogás é o produto da digestão anaeróbia de matéria orgânica em um

biodigestor, constituindo-se de uma mistura de metano (65-70%-CH4) e de gás carbônico (30-

35%-CO2) e vapor d’água. O biogás é uma fonte de energia renovável, e pode substituir os

combustíveis de origem fóssil para a geração de energia elétrica. Pode ser usado como

combustível na alimentação de motores e também como fonte de geração de energia térmica,

podendo substituir o GLP ou a lenha, como fonte de calor no aquecimento das instalações.

(DIESEL at.al 2002).

A presença de vapor d`água, CO2 e gases corrosivos (H2S) no biogás constitui-se no

principal problema para a viabilização de seu armazenamento e na produção de energia.

Devido à presença destes gases os motores à combustão, geradores, bombas e compressores

têm vida útil extremamente reduzida.

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A remoção de água, H2S e outros elementos, através de filtros e dispositivos de

resfriamento, condensação e lavagem, são essenciais para a viabilidade de uso em longo

prazo, mas aumenta os custos de instalação e de manutenção.

O biogás possui um poder calorífico de 5500 Kcal/m3. 1 m

3 de biogás produz energia

equivalente a 0,32 litros de gasolina, 0,34 litros de querosene, 0,36 litros de óleo diesel,

0,39kg de gás de cozinha e 1,45 kg de lenha , pode ser simplesmente queimado para reduzir o

efeito estufa ou aproveitado para uso doméstico, motores de combustão interna, sistemas de

geração de energia elétrica ou térmica (OLIVEIRA, et al., 2006).

2.4 Protocolo de Quioto e o mecanismo de desenvolvimento limpo

Na década de 90, tratados internacionais como a Convenção-Quadro das Nações

Unidas sobre Mudanças do Clima e o Protocolo de Quioto, destacaram o fato de o metano ser

um gás de efeito estufa (GEE) 21 vezes mais potente, em termos de aquecimento global, que

o dióxido de carbono e que a sua emissão para a atmosfera deveria ser inibida.

Reconhecendo que os países desenvolvidos são os principais responsáveis pela alta

dos atuais níveis de emissões de GEE na atmosfera como resultado de mais de 150 anos de

atividade industrial, o protocolo impôs uma pesada carga sobre as nações desenvolvidas sob o

princípio de responsabilidades comuns, mas diferenciadas.

O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), definido no artigo 12 do

Protocolo, permite que países em desenvolvimento, que não possuam limitações de emissões

de GEE, possam implementar projetos de redução de emissões que beneficiariam os países

que possuem metas ou cotas de emissões. Esses projetos podem gerar reduções certificadas

de emissões (RCEs), cada uma equivalente a uma tonelada de CO2, que pode ser

comercializada.

Um projeto de MDL deve permitir reduções de emissões que sejam adicionais ao

que teria ocorrido se o projeto não fosse implantado. Os projetos devem se qualificar

através de um registro público e rigoroso processo de emissão. Aprovação é dada pela

Autoridade Nacional Designada.

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2.6 Projetos de MDL em suinocultura

No Brasil, grande número de projetos de MDL ligados à suinocultura são devidos,

entre outros fatores, à enorme quantidade de gás metano emitida pela atividade e à

possibilidade de seu tratamento por meio de biodigestores.

O maior número de projetos brasileiros é desenvolvido na área de geração de energia

e suinocultura, os quais representam a maioria das atividades de projeto (67% somados).

Segundo dados copilados pelo Ministerio de Ciencia e Tecnologia nos ultimos anos 76

projetos de MDL para suinocultura foram apresentados e aprovados no Brasil. Isto representa

16,5% do total de projetos registrados e indica o grande interesse dos produtores rurais pelo

programa. Os estados que mais apresentaram projetos foram : São Paulo , Minas Gerais ,

Paraná , e Santa Catarina.

Os primeiros projetos elaborados superestimaram a redução de emissões de GEE

principalmente devido a pouca experiência na utilização das metodologias aprovadas , sendo

que em alguns casos houve necessidade de recalcular as quantidades e de fazer adaptações em

instalações elevando os custos para os proprietários.Atualmente há diversos dados empíricos

para serem usados no preparo de novos projeto de MDL.

A metodologia AMS-III.D foi identificada como aplicável ao gerenciamento de

dejetos animais, dado que vários projetos que a utilizam foram recentemente aprovados no

âmbito da Autoridade Nacional Designada (AND) brasileira. Assim, ela é considerada uma

boa opção para projetos que envolvam pequenos grupos. Essa metodologia é aplicável a

projetos brasileiros que prevêem a instalação de biodigestores em lagoas anaeróbicas para

tratamentos de dejetos.

Por diversas vezes na história recente a utilização de biodigestores foi apresentada

como solução definitiva para os impactos ambientais gerados pela suinocultura. Na década de

1980 a instalação de biodigestores foi incentivada através de programas governamentais na

região sul pela possibilidade de geração de energia elétrica que resultou na construção de

cerca de 750 biodigestores, dos quais estima-se que apenas 30 continuam em funcionamento”

(MIRANDA, 2005, p.182).

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Pelo modelo atual não há incentivo econômico no aproveitamento do potencial

energético do Biogás sendo a combustão em flares a alternativa de mais baixo custo de

implantação

A sustentabilidade ambiental de empreendimentos que apenas queimam o biogás para

gerar créditos de carbono e não investem os lucros em ações de manejo de resíduos e controle

de poluição é questionável.

3. MATERIAL E MÉTODOS

O estudo de caso foi realizado na Chácara Marujo, localizada nas coordenadas

geográficas 240 47’ 51,12” S 49

0 53’ 38,73” W colonia Castrolanda Municipio de Castro -

PR entre os anos de 2007 e 2010 . A Chacara Marujo ocupa uma área de 750 hectares

dedicando-se a uma produção agrícola diversificada que inclui a criação de suínos, plantação

de grãos, cultivo de cogumelos, cultivo de forragem para alimentação animal e presta serviços

de secagem de grãos para outros agricultores. Neste estabelecimento foi implantado um

sistema que utiliza o esterco suíno e outros residuos orgânicos como base para a geração de

energia elétrica, energia térmica, e biofertilizante através do tratamento dos dejetos em

biodigestor anaeróbio como representado esquematicamente na Figura 2.

3.1 Descrição do processo

No estabelecimento são criadas 850 Matrizes , 50 Marrãs , 5 Machos, 2.400

Leitões de 6 a 23 kg , e 2.000 animais em terminação peso de 23 á 100 kg. A alimentação dos

suinos é feita basicamente com um mingau à base de farelo de soja e milho moído, produzidos

na fazenda. Os suínos são criados em baias, que foram construidas com a finalidade específica

de direcionar os dejetos para tratamento. Estas baias possuem um sistema de calefação que

mantém os animais aquecidos no inverno. Para controlar a quantidade de água que ingressa

nos biodigestores, foram tomadas algumas medidas de controle: são utilizados bebedouros

automáticos , a lavagem das baias é feita com utilização de lavadoras de alta pressão e baixa

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vazão , a tubulação que conduz os efluentes das baias para os biodigestores principal é

fechada para reduzir o ingresso de água da chuva.

Conforme dados coletados, são gerados aproximadamente 32 m3 de efluentes por dia.

Todos os efluentes dos galpões de suínos são direcionados por gravidade para um tanque de

65 m3 . A finalidade deste tanque é misturar e oxigenar os efluentes antes que entrem no

digestor principal. A homogenização é feita através de um dispositivo de agitação mecanica

acionado pela tomada de força de tratores da fazenda. Os biodigestores são carregados a cada

dois dias.

Entre o tanque de aeração e o biodigestor principal há um moedor de carcaças onde os

animais mortos na propriedade são triturados e também entram no processo de digestão

anaeróbia. Antes de entrar no digestor principal, o efluente é aquecido com o uso de água

quente gerada por um sistema de recuperação de calor instalado no escapamento de gases de

combustão do gerador elétrico.

O digestor principal é do tipo tubular canadense , tem formato retangular com

capacidade de 1500 m3 de dejetos e produz 500 m

3 de biogás por dia (1 m

3 por metro

quadrado). O tempo de retenção hidráulica é de 30 dias. O fundo do biodigestor é revestido

com geomembrana para evitar infiltrações e coberto por manta de PEAD na cor preta, que

retém os gases e auxilia na absorção de calor ambiente . Esse digestor possui um sistema de

agitação cinético através de tubulação de fundo onde é injetado biogás comprimido. Esta

recirculação de gases (do digestor secundário) a partir do fundo do biodigestor, favorece o

ciclo de produção de metano e impede a deposição de sólidos no fundo do digestor, bem

como a formação de crostas na superfície. O biogás utilizado no agitador cinético é fornecido

pelo digestor secundário localizado á jusante do principal. Para evitar a pressurização da

manta do biodigestor principal , alem da retirada do gás pela sucção de um compressor

alternativo , foi instalado um conjunto de válvulas de controle.

O teor de matéria seca do efluente pode variar se vier da maternidade ou do galpão de

engorda de suínos, sendo 3-4% e 6-7%, respectivamente. O pH do efluente é mantido

controlado para se manter em 7 . O problema da formação de crostas superficiais, no caso do

digestor principal, não está totalmente resolvido devido a pouca agitação pela recirculação dos

gases e a cada 4-5 anos têm que ser removidas para que possa produzir biogàs á plena

capacidade. A formação de crostas está relacionada à dieta de suínos. No caso da dieta sólida,

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baseada principalmente em milho, há maior tendência para a formação de crostas superficiais,

o que dificulta a recirculação. Para contornar este problema, o digestor recebe efluentes de

suínos que têm uma dieta líquida à base de grão úmido de milho.

O digestor secundário tem o formato circular com 10 metros de diâmetro e 3 metros de

profundidade, área de 78,54 m2 , e volume de 235,6 m

3, o fundo é impermebilizado com

geomembrana e coberto com manta de PEAD. Este digestor possui no fundo um sistema de

aquecimento construido com mangueiras de PVC. A fonte de aquecimento é a agua aquecida

pelos gases de combustão de um moto-gerador de eletricidade em circuito fechado. O

propósito de fazer circular a água quente é elevar a temperatura dentro do digestor para

aumentar a produção de biogas. A temperatura ideal é de 30 º C .

Ao lado do biodigestor primário está localizada a casa de máquinas que possui:

três compressores alternativos elétricos marca Schulz, de baixa pressão: um para

comprimir biogas do digestor secundário para o fundo do biodigestor principal , os outros são

utilizados para comprimir o biogas para consumo interno.

Um moto-gerador com motor a combustão ciclo otto marca VW AP de 1800 cilindradas

ligado a um gerador transfere calor para a agua utilizada no aquecimento do biodigestor

secundário com os gases de exustão utilizando trocadores de calor gás-água .

Painéis de comando eletrico para os compressores e para o sistema de distribuição interno

Vaso separador de umidade e válvulas reguladoras de pressão.

Um avanço tecnológico observado nesta instalação foi a eliminação dos filtros antes

utilizados para reter sulfeto de hidrogênio do biogas. Inicialmente, o digestor usava filtros

externos com lã de aço. A experiência indicou que eram eficazes, mas com uma vida útil

muito curta (não mais de 6 meses), pondo em risco as pessoas e os equipamentos (moto -

gerador elétrico e compressores) devido a presença de sulfeto de hidrogênio.O problema foi

resolvido através da injeção de oxigênio no digestor primário a uma taxa de 2-4% , o que não

traz qualquer prejuízo na eficiência de geração de metano dos digestores e não gera risco de

explosão devido á baixa concentração de oxigenio. Isto é conseguido com a utilização de oito

bombas pequenas semelhantes às usadas para oxigenar aquarios.

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Para confirmar a eficiência deste sistema de controle e verificar a composição media

de gases presentes no biogas foram colhidas amostras no dreno de saida do biodigestor

principal. As amostras foram analisadas em um cromatografo á gas por condutividade térmica

marca VARIAN modelo CP 3800/3380 no de série 100462 calibrado em 14/07/10. O

resultado da analise estão na tabela 3

Os resultados obtidos indicaram que a concentração media de Metano nas amostras foi

de 66,93% , e não foram encontrados traços de H2S. A concentração de CH4 no biogas é um

fator importante para o calculo de CO2 equivalente nos calculos para definir a quantidade de

emissões de GEE evitadas.

CONCLUSÃO

A sustentabilidade ambiental na suinocultura depende de ações que preservem o

meio ambiente , sejam socialmente aceitas e promovam uma rentabilidade que possa garantir

o desennvolvimento da atividade com retorno para o empreendedor.

O aproveitamento do biogás gerado no tratamento de efluentes pode contribuir para

a sustentabilidade ambiental da suinocultura através do controle da utilização de água , da

cogeração de energia elétrica e termica reduzindo a utilização de combustiveis fósseis , na

redução do emprego de fetilizantes quimicos na agricultura , e no aumento de postos de

trabalho nas propriedades rurais para operar e efetura manutenção nos biodigestores e

sistemas de cogeração.

O Brasil tem um vasto potencial de aproveitamento do biogas gerado no tratamento

de efluentes das atividades de suinocultura. O emprego de biodigestores anaerobios deve ser

considerado como uma peça importante no processo de adequação ambiental das atividades

de suinocultura e não como a única solução para os impactos ambientais causados pelos

dejetos dos animais no meio ambiente.

O mercado de creditos de carbono é um instrumento de grande apelo financeiro que

pode ser utilizado para incentivar os suinocultores a repensar seus processos de produção ,

mas deve ter as suas metodologias revistas para que instalações como a estudada neste

trabalho possam colher maiores beneficios .

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REFERÊNCIAS

DIESEL,R.O; MIRANDA,C.R; PERDOMO,C.C. Coletânea de tecnologias sobre dejetos

suínos. Boletim Informativo de Pesquisa—Embrapa Suínos e Aves e Extensão—

EMATER/RS. ANO 10 BIPERS no 14 AGOSTO/2002

LA FARGE, B. de. Le biogaz: procédés de fermentation méthanique. Paris: Masson, 1995.

237p.

LUCAS JR., J. Algumas considerações sobre o uso do estrume de suínos como

substrato para três sistemas de biodigestores anaeróbios. 1994. 113p. Tese (Livre

Docência) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista,

Jaboticabal.

MIRANDA, Cláudio Rocha de. Avaliação de estratégias para sustentabilidade da

suinocultura. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Programa de Pós-

Graduação em Engenharia

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