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B. Indústr. anim., Nova Odessa,SP, 42(1 ):115-119, jan./jun. 1985 ESTERCO DE COELHO DESIDRATADO EM RAÇÕES FINAIS PARA FRANGOS DE CORTE (1 ) (Desydrated rabbít waste in fíníshíng ratíons for broílers) GILBERTO MALAVAZZI (21, PAULO ~ARLOS DA SILVA (3), ANTONIO DE PÃDUA DEODATO (4) e RAIMUNDO NONATO GOMES DE SOUZA (4) RESUMO: Este ensaio, conduzido na Estação Experimental Central do Instituto de Zoo- tecnia, em Nova Odessa (SP), teve como finalidade verificar a possibilidade de utilizar o esterco de coelho desidratado ao sol, em nrveis de O, 5, 10 e 15%, nas rações finais - 29- -49 dias de idade - de frangos de corte. Foram utilizados 960 pintos da linhagem Arbor Acress, sexados e criados em chão. A análise estattstlca dos resultados revelou não haver influência dos tratamentos quantG a ganho de peso. Diferenças significativas para o efeito de sexo (P .,;; 0,01 I, determinadas pelos tratamentos, foram observadas quanto ao consumo de ração, ganho em peso e conversão alimentar, com superioridade para os machos. Também foram observadas diferenças significativas, efeito linear (P .,;; G,01l, determinadas pelos trata- mentos para consumo de ração, que aumentava, e cenversão alimentar, que piorava, com os nfveis crescentes de esterco. Os nrveís "e inclusão de esterco, dentro dos limites estudados, definiram para estas variáveis, respectivamente, as ellluações: Ycr = 2668,15 + 21,832X e Yca = 2,40 + 0,022X, sendo 'Vcr o consumei de ração, Yca a conversão alimentar e X a variá- vel independente já definida. Os tratamentos nãe influenciaram o (ndice de mortalidade .. INTRODUÇÃO A utilização de produtos e subprodutos, tanto de animais como de vegetais, cujas composições qu ímicas os credenciariam como ingredientes de rações avícolas, visando-Ihes ao barateamento, tem sido pesquisada. Dentre os subprodutos, encontra- -se o esterco de coelho. A literatura relata poucos trabalhos concer- nentes ao emprego de esterco de coelho na alimen- tação de frangos. MENDONÇA JÚNIOR et alii 3 , sugerem que as fezes de coelho podem ser reco- mendadas nas rações finais de frangos de corte. PINEDA ORTUNO et alii 4 não observaram dife- renças significativas (P < 0,05) quanto ao ganho em peso e conversão alimentar em ensaio realizado com frangos utilizando níveis de esterco de coelho nas percentagens de 9, 12 e 15. Por outro lado, SI LVA* indica que é possfvel utilizar-se do esterco de coelho em percentagens maiores, de acordo com pré-testes realizados na Selecta Comércio e Indús- tria S.A. Esta pesquisa foi delineada com a finalidade de verificar a possibilidade de utilizar o esterco de coelho desidratado em rações finais de frangos de corte. *SILVA, João Luciano Rodrigues da - Informação pes- soal,1981. (1) Projeto IZ-0118. Recebido para publicação em junho de 1984. (2) Da Seção de Avicultura, Divisão de Zootecnia Diversificada. Bolsista do CNPq. (3) Da Seção de Cunicultura, Divisão de Zootecnia Diversificada. Bolsista do CNPq. (4) Do Posto de Avicultura de Brotas. 115

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Page 1: ESTERCO DE COELHO DESIDRATADO EM RAÇÕES FINAIS PARA … · 2018-07-11 · tecnia, em Nova Odessa (SP), teve como finalidade verificar a possibilidade de utilizar o esterco de coelho

B. Indústr. anim., Nova Odessa,SP, 42(1 ):115-119, jan./jun. 1985

ESTERCO DE COELHO DESIDRATADO EM RAÇÕES FINAISPARA FRANGOS DE CORTE (1 )

(Desydrated rabbít waste in fíníshíng ratíons for broílers)

GILBERTO MALAVAZZI (21, PAULO ~ARLOS DA SILVA (3), ANTONIO DE PÃDUA DEODATO (4)

e RAIMUNDO NONATO GOMES DE SOUZA (4)

RESUMO: Este ensaio, conduzido na Estação Experimental Central do Instituto de Zoo-tecnia, em Nova Odessa (SP), teve como finalidade verificar a possibilidade de utilizar oesterco de coelho desidratado ao sol, em nrveis de O, 5, 10 e 15%, nas rações finais - 29--49 dias de idade - de frangos de corte. Foram utilizados 960 pintos da linhagem ArborAcress, sexados e criados em chão. A análise estattstlca dos resultados revelou não haverinfluência dos tratamentos quantG a ganho de peso. Diferenças significativas para o efeitode sexo (P .,;; 0,01 I, determinadas pelos tratamentos, foram observadas quanto ao consumode ração, ganho em peso e conversão alimentar, com superioridade para os machos. Tambémforam observadas diferenças significativas, efeito linear (P .,;;G,01l, determinadas pelos trata-mentos para consumo de ração, que aumentava, e cenversão alimentar, que piorava, com osnfveis crescentes de esterco. Os nrveís "e inclusão de esterco, dentro dos limites estudados,definiram para estas variáveis, respectivamente, as ellluações: Ycr = 2668,15 + 21,832X eYca = 2,40 + 0,022X, sendo 'Vcr o consumei de ração, Yca a conversão alimentar e X a variá-vel independente já definida. Os tratamentos nãe influenciaram o (ndice de mortalidade ..

INTRODUÇÃO

A utilização de produtos e subprodutos, tantode animais como de vegetais, cujas composiçõesqu ímicas os credenciariam como ingredientes derações avícolas, visando-Ihes ao barateamento, temsido pesquisada. Dentre os subprodutos, encontra--se o esterco de coelho.

A literatura relata poucos trabalhos concer-nentes ao emprego de esterco de coelho na alimen-tação de frangos. MENDONÇA JÚNIOR et alii3,

sugerem que as fezes de coelho podem ser reco-mendadas nas rações finais de frangos de corte.PINEDA ORTUNO et alii4 não observaram dife-renças significativas (P < 0,05) quanto ao ganho

em peso e conversão alimentar em ensaio realizadocom frangos utilizando níveis de esterco de coelhonas percentagens de 9, 12 e 15. Por outro lado,SI LVA* indica que é possfvel utilizar-se do estercode coelho em percentagens maiores, de acordo compré-testes realizados na Selecta Comércio e Indús-tria S.A.

Esta pesquisa foi delineada com a finalidadede verificar a possibilidade de utilizar o esterco decoelho desidratado em rações finais de frangos decorte.

*SILVA, João Luciano Rodrigues da - Informação pes-soal,1981.

(1) Projeto IZ-0118. Recebido para publicação em junho de 1984.(2) Da Seção de Avicultura, Divisão de Zootecnia Diversificada. Bolsista do CNPq.(3) Da Seção de Cunicultura, Divisão de Zootecnia Diversificada. Bolsista do CNPq.(4) Do Posto de Avicultura de Brotas.

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B. Indústr. anim., Nova Odessa, SP, 42( 1) :115-119, jan./jun. 1985

MATERIAL E M~TODOS

Este ensaio foi conduzido na Estação Experi-mental Central do Instituto de Zootecnia, emNova Odessa (SP), de 13/4 a 19/6/1983, utili-zando o galpão e respectivos equipamentos da Se-ção de Avicultura.

Foram envolvidos 960 pintos de um dia, dalinhagem Arbor Acress - 480 de cada sexo -provenientes de um lote de mil aves. Formaram-se16 grupos de 30 machos e 16 de 30 fêmeas. Seguiu--se um delineamento estatístico de blocos ao aca-so, contendo quatro blocos e oito tratamentosproduzidos pela combinação de quatro níveis deinclusão de esterco desidratado ao sol (natural), edois sexos (4 x 2). Os níveis de inclusão de estercoforam: 0,5,10 e 1&A>. A pesquisa, que durou 0--49 dias, foi subdividida em duas fases:

Na fase pré-experimental - 0-28 dias - utili-zou-se uma dieta tipo milho-soja, com 23% de pro-teína bruta (P.B.), e 3.000 kcal de energia meta-

bolizável (E. M.) por quilograma de ração e adequadaem vitaminas e minerais, segundo SCOTT et aliis .

Na fase experimental propriamente dita - 29--49 dias - utilizaram-se dietas com 19% de P.B. etambém adequada em vitaminas e rninerais.. quediferiram entre si quanto ao nível de esterco.

No quadro 1, aparecem as composições bási-cas das rações experimentais.

Água e ração foram fornecidas ab libitum,sendo observadas todas as condições padrões parauma criação normal.

As variáveis adotadas para comparar os trata-mentos entre si foram: consumo de ração, conver-são alimentar, ganho em peso e mortalidade.

Os dados obtidos foram interpretados pelaanálise da variância, conforme GOMES1. Em casode significância entre diferenças das médias dostratamentos, foi utilizado o teste de Tukey.

QUADRO 1. Composição centesimal das rações experimentais

TratamentosIngredientes

TI T2 T3 T4

Milho (10,75% P.B.) 70,687 65,187 59,687 54,187Farelo de soja (45,60% P.B.) 22,00 22,00 22,00 22,00Esterco de coelho (11,63% P.B.) 0,00 5,00 10,00 15,00Farinha de peixe (59,88% P.B.) 2,00 2,00 2,00 2,00Fosfato bicálcico 2,00 2,00 2,00 2,00Farinha de ostras 0,70 0,70 0,70 0,70Sebo 2,00 2,50 3,00 3,50Sal 0,35 0,35 0,35 0,35Premix e) 0,100 0,100 0,100 0,100Coccidiostático e) 0,050 0,050 0,050 0,050Antioxidante (3) 0,013 0,013 0,013 0,013

0,100 0,100.

0,100DL-Metionina 0,100

P.B. % 19,00 19,00 19,00 19,00kcal E.M./kg 3.100

(1) Premix Pfizer para aves Anti-Stress: Terramicina 10.000mg; Vit. A: 10.000.000U.I.; Vit. D3: 2.000.000U.I.; Vit. E:5.000 U,I.;Vit. 82: 5.000mg; Vit. B12: 7mg; Niacina: 25.000mg; Zn: 16.100mg; Mn: 35.800mg; Co: 200mg: Cu:2.000mg; Fe: 16.800mg; I: 1.000mg; Veiculo q.s.p. 1.000mg por quilograma.

(2) Amplol-Plus.(3) B.H.T. (Butll-Hidroxi-Tolueno).

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B. Indústr. anim., Nova Odessa, SP, 42(1 ):115·119, jan./jun. 1985

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As médias, por ave, referentes ao consumo deração, ganho em peso e conversão alimentar (gra-ma de ração consumida por grama de ganho empeso), para cada nível de esterco utilizado, sãoapresentadas no quadro 2, juntamente com o erro--padrão das médias de tratamentos e o coeficientede variação.Consumo de ração

Observou-se um efeito linear (P ~ 0,01) quan-to ao consumo de ração pelas aves, que aumentouproporcionalmente à medida que se elevou o nívelde inclusão de esterco desidratado de coelho.

Em relação à análise isolada desta variável,os resultados estão de acordo com os encontradospor MENDONÇA JÚNIOR et alii3. Evidenciou-se,assim, maior ingestão de ração, onde as aves procu-raram, provavelmente, satisfazer suas necessidadesenergéticas, indicando assim uma deficiência ener-gética do esterco de coelho.

Ganho em pesoNão se observaram diferenças estatisticamente

significativas quanto ao ganho em peso, obtido noperíodo de 29-49 dias, que foi semelhante nasaves submetidas aos diferentes tratamentos.

Assim, desde que se considere apenas a análiseisolada desta variável, os resultados obtidos estãode acordo com os de PINEDA ORTUNO et alii",de que é possível utilizar-se do esterco de coelho

em percentagens mais elevadas, nas rações de fran-gos de corte.

Conversão alimentarObservou-se um efeito linear (P ~ 0,01) quan-

to à conversão alimentar, que piorou à medida quese elevou o nível de inclusão de esterco na ração.Isso está em desacordo com os resultados obtidospor MENDONÇA JÚNIOR et alii3 e PINEDAORTUNO et alii".

Na figura 1, podem-se visualizar aspectos rela-cionados com a conversão alimentar e com o con-sumo de ração.

Efeito de sexoHouve significância (P ~ 0,01) para o efeito

de sexo em todas as variáveis estudadas: consumode ração, ganho em peso e conversão alimentar.Os machos apresentaram melhor desempenho. Issonovamente vem confirmar as observações de pes-quisadores acerca de superioridade dos machos emvelocidade de crescimento, consumo de ração eeficiência alimentar, em relação às fêmeas (MA LA-VAZZI2 e SILVA6).

fndice de mortalidadeA ocorrência de mortalidade no período de

29-49 dias (fase experimental), foi mínima e nãoinfluenciada pelos tratamentos.

QUADRO 2. Consumo de ração, ganho em peso e conversão alimentar. Médias por ave. De 29--49 dias...,

ConversãoConsumo GanhoNíveis de esterco de ração em peso alimentar

(%) (g) (g) (:1 )

TI (O) 2.675 1.115 2,400T2 (5) 2.774 1.117 2,483T3 (10) 2.873 1.091 2,634T4 (15) 3.006 1.110 2,707

Erro-padrão10,962 7,776 0,015das médias

C.V. (%) 2,190 3,969 3,281

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B. Indústr. anim., Nova Odessa, SP, 42(1) :115-119, jan.!jun. 1985

3,000 2,800

2,900 C.A/ 2,700..,.,.,""'"

//Vl //OE 2,800 / 2,600O'- /(j\

//O

::lO /

2,700 / 2,500

//".,",2,600

/'"2,400

o 5O~--~--------------T---------------T---------------~--~O

15

Porcentagens10

Fig. 1- Consumo de ração (C.R.) e conversõo alimentar (C.A.) influenciados peloinclusõo de esterco de coelho nos racões

CONCLUSOES

Nas condições do presente ensaio, pode-seconcluir que:

1. À medida que os níveis de esterco de coelho,no período de 29-49 dias, foram aumentados nasrações, ocorreu uma piora no índice de conversãoalimentar.

2. O ganho em peso das aves, no referido

período, não foi afetado pela inclusão de estercona ração.

3. Ocorreu um aumento do consumo de raçãono período diretamente proporcional ao nível deinclusão de esterco.

4. Houve superioridade dos machos em relaçãoàs fêmeas, para efeito de sexo, em todos os parâ-metros estudados, em qualquer nível de estercoutilizado nas rações.

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B. IndCJstr.anim., Nova Odessa,SP, 42(1):115·119, jan./jun. 1985

SUMMARV: This trial was carried at the Estaçíio Experimental Central do Instituto deZootecnia, at Nova Odessa,State of São Paulo, Brazil, in order to verify the possibility ofutilizing dehydrated rabbit waste, at levels of O, 5, 10 and 15%, in finishing rations forbroilers. The treatments did not influence weight gain. The statistical analysis showedsignificant differences as to sex (P < 0.01) influenced by the treatments on feed con-surnption, weight gain and f~ed conversion. As to feed conversion and feed consumptionit was observed a linear effect (P <0.01) according to the following equations: ?conv =2.40 + 0.022X and Ycons = 2.668 + 21.832X, where ?conv = feed conversion, Ycons =feed consumption and X = levei of rabbit waste in the diet. The treatments did notaffect the percentage of mortality.

AGRADECIMENTOS

Ao Engenheiro-Agrônomo Benedicto do Espfrtto Santo de Campos, e Estat(stico Antônio Alvaro Duarte deOliveira, pela análise estatfstica dos resultados colhidos; ao Sr. Onofre Martins, pelo tratamento dispensado às aves;à Granja Selecta Comércio Indústria S.A., pelo fornecimento do esterco de coelho desidratado, e a todos do Institutode Zootecnia que, direta ou indiretamente, colaboraram para o bom desenvolvimento do presente estudo.

REFER~NCIAS BIBLIOGRAFICAS

1 - GOMES, F.P. Curso de estatlstica experimental.6. ed. São Paulo, Nobel, 1976. 468 p.

2 -MALAVAZZI,.G. Programas de alimentação defrangos de corte nas três últimas semanas decriação. Tese de Mestrado. Piracicaba, SP,Escola Superior de Agricultura "Luiz deOueiroz". 1981. 111 f. Mimeo.

3 - MENDONÇA JUNIOR, C.X.; VEIGA, J.S.M.;PRADA, F. Utilização de feses desidratadasde coelhos em rações de frangos de corte. R.latinoamer. Cunicult., ltu, SP, 1:57-64,1980.

4 - PINEDA'oRTUi\iO, 1.;CEBALLOS E., B:; ROMANOP., J.J.; ZAMORA G., I. Evaluación de Ia adiciónde excretas de conejo en Ia alimentación dei poli ode engorda. Veterinária, México, 14( 1) :54, ene./mar. 1983.

5 - SCOTT,M.L.; NESHEIN, M.C.; VOUNG, F.J. Nutri·tion of the chicken. 2.ed. Ithaca, NV, Scott &Associates, 1976. 555 p.

6 - SILVA, P.C. Níveis de protelna, aminoácidos sulfu-rosos e lisina, em rações de frangos de corte, noperlodo de 43 a 56 dias. Tese de Doutoramento.Viçosa, MG, Universidade Federal de Viçosa,1982. 89 f. Mimeo.

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