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Academia sobre a ESS Matéria opcional sobre “O papel das organizações da economia social e solidária na formalização da economia informal” Julho de 2015 – África do Sul A. Antecedentes A informalidade, a pobreza e a exclusão acabam sendo um fenómeno que se reforça mutuamente e gera um círculo vicioso de desigualdade e destituição intergeracionais. O termo “economia informal” identifica aquelas actividades económicas realizadas por trabalhadores e unidades económicas que se realizam na margem da lei ou que na prática não estão cobertas por disposições formais. O emprego informal define-se como o número total de postos informais de trabalho que sejam realizadas quer em empresas do sector formal, quer em empresas do sector informal ou agregados familiares, consistindo em: empregados não sujeitos à regulamentação laboral, à tributação, protecção social ou direito a determinados benefícios do emprego; trabalhadores por conta própria, empregadores e membros de cooperativas em unidades económicas informais, e; trabalhadores familiares não remunerados. O emprego informal pode encontrar- se no sector informal, assim como no sector formal. Entre os trabalhadores ocupados no emprego informal, há grupos específicos que são particularmente vulneráveis, como é o caso dos trabalhadores no auto-emprego, mas igualmente os trabalhadores migratórios e trabalhadores rurais: o segmento mais pobre das populações. A heterogeneidade no emprego informal está ligada com o facto de que a passagem à formalidade exige várias intervenções. Assim, as intervenções poderão incluir: mecanismos para aumentar as oportunidades de postos de trabalho formais, por exemplo através de 1 Grupos vulneráveis Dentre os trabalhadores ocupados no emprego informal, há grupos específicos que são particularmente vulneráveis, como é o caso dos

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Academia sobre a ESSMatéria opcional sobre “O papel das organizações da economia social e solidária na formalização da economia informal”Julho de 2015 – África do Sul

A. Antecedentes

A informalidade, a pobreza e a exclusão acabam sendo um fenómeno que se reforça mutuamente e gera um círculo vicioso de desigualdade e destituição intergeracionais. O termo “economia informal” identifica aquelas actividades económicas realizadas por trabalhadores e unidades económicas que se realizam na margem da lei ou que na prática não estão cobertas por disposições formais. O emprego informal define-se como o número total de postos informais de trabalho que sejam realizadas quer em empresas do sector formal, quer em empresas do sector informal ou agregados familiares, consistindo em: empregados não sujeitos à regulamentação laboral, à tributação, protecção social ou direito a determinados benefícios do emprego; trabalhadores por conta própria,

empregadores e membros de cooperativas em unidades económicas informais, e; trabalhadores familiares não remunerados. O emprego informal pode encontrar-se no sector informal, assim como no sector formal. Entre os trabalhadores ocupados no emprego informal, há grupos específicos que são particularmente vulneráveis, como é o caso dos trabalhadores no auto-emprego, mas igualmente os trabalhadores migratórios e trabalhadores rurais: o segmento mais pobre das populações.A heterogeneidade no emprego informal está ligada com o facto de que a passagem à formalidade exige várias intervenções.

Assim, as intervenções poderão incluir: mecanismos para aumentar as oportunidades de postos de trabalho formais, por exemplo através de políticas activas de mercado de trabalho; reforçar o cumprimento no sector formal ou facilitar a inscrição no informal, bem como proporcionar garantias sociais aos trabalhadores, como é o caso dos pilares sociais nos programas de segurança social e de protecção social, de modo a mitigar os efeitos da informalidade (em particular sobre segmentos ainda não prontos para efectuarem a transição); a capacitação; condições de trabalho melhoradas e mais seguras, assim como a promoção de associações livremente escolhidas de trabalhadores e empregadores da economia informal.

O presente resumo examina esta última e o potencial das organizações da economia social e solidária como mecanismos valiosos para estender os serviços e a protecção aos trabalhadores e às unidades económicas (empresas, empresários e agregados familiares) na economia informal. Há exemplos de práticas da Economia Social e Solidária que se mostraram bem-sucedidos na extensão da protecção social, na criação de postos de trabalho, em garantir representação e voz, bem como

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Grupos vulneráveis Dentre os trabalhadores ocupados no emprego informal, há grupos específicos que são particularmente vulneráveis, como é o caso dos trabalhadores no auto-emprego, se bem que igualmente os trabalhadores migratórios e trabalhadores rurais: o segmento mais pobre das populações.

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no alargamento dos direitos e na redução da vulnerabilidade dos trabalhadores de sexo masculino e feminino e das unidades económicas na economia informal.

A OIT define a economia social como sendo “um conceito atribuído a empresas e organizações que têm a característica específica de produzirem bens, serviços e conhecimentos, ao mesmo tempo que prosseguem objectivos tanto económicos como sociais e fomentam a solidariedade”. As empresas e organizações da economia social colocam no centro das suas aspirações as pessoas e as suas comunidades – em vez do lucro. Elas não procuram em primeiro lugar maximizar os lucros, mas antes visam a criação de benefícios económicos, sociais e a nível da sociedade. Elas compartilham valores tais como o controlo democrático, a participação voluntária, a flexibilidade, a auto-ajuda, a auto-dependência, a solidariedade e a apropriação pela comunidade. É claro que as organizações da economia social são intervenientes económicos mas, muitas têm intenções políticas: elas trabalham no sentido de alcançarem maior equidade e justiça social; elas combatem a exclusão e facilitam a tomada popular de decisões.Como é que estes elementos e características específicos da ESS podem ser úteis para estender a protecção, ao mesmo tempo que aumentam a produtividade e o bem-estar para os trabalhadores e unidades económicas na economia informal?

As organizações da economia social são particularmente importantes no debate sobre a economia informal, sendo vistas cada vez mais como uma via alternativa para efectuar-se a transição dos trabalhadores e das unidades económicas de saída da economia informal. Muita das vezes, o trabalho na economia informal caracteriza-se por locais de trabalho de tamanho reduzido ou indefinidos, condições de trabalho inseguras e pouco saudáveis, níveis baixos de habilidades e produtividade, rendimentos baixos ou irregulares, uma jornada longa de trabalho e uma falta de acesso à informação, aos mercados, às finanças, à formação e à tecnologia. Estes são déficits que as organizações da economia social podem preencher. Além disso, existe um número crescente de associações de vendedores ambulantes, mulheres que vendem nos mercados, operadores de meios de transporte, catadores, produtores em casa, micro-empresários e outros trabalhadores por conta própria que, regra geral, fazem parte da economia informal. Seria importante reconhecer estas organizações nos termos da lei, aumentar o seu alcance, desenvolver a sua capacidade e facilitar a sua integração horizontal e vertical. As organizações da economia social também representam uma forma alternativa de fazer negócios, ao mesmo tempo que constituem uma componente fundamental do sector privado (o qual inclui a economia informal).

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As mulheres estão sobre-representadas na economia informal.

O impacto de organizações da economia social no apoio à formalizaçãoda economia informal é positivo para as mulheres, uma vez que muita das vezes constituem a maioria dos grupos vulneráveis no trabalho informal. Como sector, a ESS promove a inclusão das mulheres, por causa dos seus princípios de democracia e justiça social. Além disso, este é visto como um sector que pode em si ser uma fonte de postos de trabalho para as mulheres.Contudo, existe uma ressalva – a segregação profissional dentro da ESS predomina e reflecte o mundo laboral mais alargado. Tem-se sustentado que a ESS contém um risco de colocar as mulheres em guetos em papéis estereotipados, por exemplo mantendo-as em profissões de cuidados e de desenvolvimento social dentro da ESS.

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Os participantes na matéria opcional sobre “O papel das organizações da economia social e solidária na formalização da economia informal” examinarão (em particular) a forma como a economia social e solidária e os seus princípios, valores, operações e instituições podem ser chave na facilitação da transição para a formalidade. A Academia sobre a ESS realiza-se um mês após a adopção pela Conferência Internacional do Trabalho de 2015 dum novo instrumento – a Recomendação relativamente à Transição da economia informal para a formal, 2015 (nº. 204) a qual dá orientação aos Estados membros sobre políticas e mecanismos para promover as transições para a economia formal.

O programa proposto nesta matéria opcional procura:1. Familiarizar os participantes com a nova Recomendação da OIT sobre a transição para a

economia formal que foi adoptada pela CIT de 2015 e, examinar em particular o papel da ESS na implementação do novo instrumento;

2. Traçar e partilhar abordagens em termos de políticas por parte dos países participantes, assim como as práticas sobre a ESS e o laço com a formalização;

3. Debater o caminho para a frente na concretização da Recomendação relativamente à transição da economia informal para a economia formal.

A fim de alcançar os objectivos atribuídos, a equipa de facilitadores procurará proporcionar contribuições conceptuais sobre o laço entre a ESS e a EI (economia informal) e, recolherá conhecimentos colectivos através da participação e debate activos. Serão apresentados estudos de casos, de forma a proporcionar um estudo comparativo das práticas para a feitura de políticas sobre o papel da ESS, incluindo traçando e compartilhando abordagens em termos de políticas por parte dos participantes sobre a ESS e o laço com a formalização.

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Recomendação nº. 204A CIT de 2015 adoptou a Recomendação nº. 204 relativamente à transição da economia informal para a economia formal. A mesma visa: (1) facilitar a transição dos trabalhadores e das unidades económicas da economia informal para a economia formal; (2) promover a criação de empresas e empregos condignos na economia formal; e (3) evitar a informalização dos postos de trabalho formais. Ela oferece linhas de orientação para intervenções no campo do: quadro legal e de políticas;políticas de emprego, direitos e protecção social; incentivos, cumprimento e execução; liberdade sindical, diálogo social e o papel das organizações dos empregadores e dos trabalhadores;

A Recomendação nº. 204 fez várias vezes referência às organizações sociais e solidárias, em particular as cooperativas, como ponte do informal para o formal.

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A economia informal em cifras

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1. Na América Latina e as Caraíbas, a parte do emprego informal nas actividades não agrícolas varia desde 39,8 por cento em Uruguai até 75,1 por cento na Bolívia.

2. Em muitos países africanos, o emprego informal não agrícola ultrapassa 50 por cento, alcançando pontos altos de 76,2 por cento na Tanzania e 81,8 por cento no Mali.

3. Com 9,3 por cento e 17,8 por cento respectivamente, países de renda média em África como a Maurícia e a África do Sul exibem percentagens muito mais baixas de emprego informal.

4. Para a África do Norte e o Médio Oriente, o emprego informal corresponde igualmente a uma parte importante do emprego, que varia entre 30 por cento e 70 por cento.

5. O Sul da Ásia e a Ásia Oriental são igualmente anfitriões de grande número de trabalhadores na economia informal, que variam entre 42,3 por cento na Tailândia até 83,6 por cento na Índia. Na China o emprego informal alcança 32,6 por cento – sendo esta uma estimativa que se baseia em seis cidades.

6. Em todos as regiões em desenvolvimento, o auto-emprego constitui uma parte maior do emprego informal (não agrícola) do que o faz o emprego assalariado. O mesmo representa quase a terça parte do emprego total não agrícola a nível mundial.

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B. Quadro conceptual sobre a economia informal e a transição para a economia formal

Economia informal, sector informal e emprego informal

Hoje em dia, milhões de trabalhadores e unidades económicas pelo mundo fora encontram-se na economia informal, onde sofrem más condições de trabalho e uma falta de direitos no trabalho. Os trabalhadores e empresas na economia informal enfrentam frequentemente desafios, como é o caso do emprego de baixa qualidade, da protecção social deficiente, da má governança e da baixa produtividade.

A parte das mulheres na economia informal:Na maior parte dos países, a parte das mulheres no emprego informal é mais elevada do que a dos homens. Outras populações vulneráveis, como é o caso dos jovens, minorias étnicas, trabalhadores migratórios, pessoas mais idosas e portadores de deficiência, também estão presentes desproporcionadamente na informalidade. Em termos globais, é mais provável que as mulheres estejam na economia informal, comparado com que estejam os homens. Na África subsaariana, 84 por cento das trabalhadoras não agrícolas estão empregadas informalmente, em comparação com 63 por cento dos homens; na América Latina estas cifras são de 58 e 48 por cento respectivamente, enquanto que na Ásia a proporção é de 65 por cento para ambos. A discriminação na base de género por causa da falta de regulamentação e remédio tende a estar mais enraizada na economia informal, com salários mais baixos, emprego precário e assédio sexual – para as mulheres um verdadeiro desafio.

Transição para a economia formal:É imprescindível que se pretende que a formalização seja uma transição para a economia formal.1

Ela implica um processo que envolve várias fases. Existem pontos de vista divergentes acerca de o que se quer dizer por formalização e, como é que pode ser realizada. Iniciativas actuais em termos de políticas pelo mundo fora demonstram que não existe nenhum quadro universal para as políticas, mas antes, um conjunto de abordagens que podem ser combinadas e adaptadas ao contexto específico de cada país. As políticas devem reconhecer a importância da economia informal, restringindo e regulando a mesma conforme a necessidade mas, além disso procurando aumentar a produtividade e melhorar as condições de trabalho daqueles que nela trabalham. A formalização vai

1 Este é também o termo empregue no título do relatório da OIT: Transição da economia informal para a economia formal, Relatório V(1) para a Conferência Internacional do Trabalho, 103ª Sessão (Genebra, 2014).

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A “economia informal” refere-se a todas as actividades económicas que não estejam cobertas – nos termos da lei ou na prática – ou que estejam cobertas insuficientemente por disposições formais. Estas actividades não estão incluídas na lei, nem estão cobertas na prática, uma vez que a lei não se aplica ou não se faz valer; ou a lei desincentiva o cumprimento por serinadequado, oneroso ou por impor custos excessivos.

O termo “economia informal” é preferível em relação ao de “sector informal”, uma vez que capta a diversidade de trabalhadores e unidades económicas em diversos sectores da economia e entre contextos rurais e urbanos.

O emprego informal consiste em: (i) trabalhadores por conta própria e empregadores que estão empregados nas suas próprias empresas;(ii) trabalhadores familiares que contribuem, em empresas tanto formais como informais; e(iii) empregados com postos informais de trabalho em empresas formais,em empresas informais ou como empregados domésticos remunerados.

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trazer benefícios, não só para trabalhadores tanto formais como informais, como igualmente para empresários formais e informais, as suas instituições e o estado como um todo. O processo para realizá-la traz igualmente alguns desafios aos níveis individual, institucional e estatal.

Experiências dos paísesOs países do mundo têm vindo a implementar várias medidas, havendo muitos exemplos de boas práticas pelo mundo fora que têm a possibilidade de indicar o caminho para a saída da informalidade.Por exemplo, Moçambique montou uma inscrição simplificada de novos negócios (Decreto 5/2012), de forma a reduzir os trâmites para o licenciamento dos negócios.A Nigéria está a caminho de elaborar directrizes para a extensão da protecção dos trabalhadores à economia informal, tendo o Governo federal aprovado em princípio a extensão da segurança social para todos no sector informal.No Uruguai, a administração da segurança social e a autoridade de arrecadação de impostos juntaram esforços para estabelecer um esquema simplificado e unificado de arrecadação para contribuintes de pequena dimensão, denominado monotributo. A África do Sul conta com um anteprojecto de lei sobre o Licenciamento das Actividades Empresariais e, o Governo adoptou uma Estratégia de Elevação dos Negócios que visa facilitar a criação dum ambiente facilitador de políticas e regulamentação para a transversalização da participação e competitividade mais abrangentes do sector empresarial informal da África do Sul.

Algumas províncias estabeleceram políticas provinciais para a economia informal e, a nível municipal, posturas estão a ser redigidas para gerir a economia informal.Ao estar inteiramente integrado nas estratégias, o acesso às finanças pode constituir um impulsionador potente para as mudanças, tais como a contribuição para a transição para a formalidade das micro-empresas, assim reduzindo a vulnerabilidade das unidades económicas.

Tem-se verificado uma cobertura aumentada de segurança social básica no Quénia, para a inclusão por parte da NSSF e da NHIF dos trabalhadores da economia informal; foram alargados programas de assistência social e programas governamentais de transferência de dinheiro que visam as pessoas mais idosas, os órfãos e crianças vulneráveis e as pessoas com deficiências severas. Agora a Mutuelle de Santé du Benin (MSSB) está aberta a trabalhadores do sector informal e a todos os que estejam excluídos dos esquemas formais de segurança social. A MSSB cobre a doença e a aposentadoria.

Em Egipto, um total de 167 empresas na área de remoção de lixo foram formalizadas, para tornarem-se pequenas empresas do sector privado.

A ESS constitui uma via complementar para responder ao crescimento sem parar do emprego precário e a déficits agudos de trabalho digno, relacionados com a economia informal. Dentro dum

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No Burkina Faso e na Índia, a OIT fez uma experiência piloto para testar o impacto dos serviços micro-financeiros (créditos, depósitos e outros serviços) sobre a formalização.

Os trabalhadores do sector informal no Malawi podem gozar do direito à liberdade sindical, uma vez que contam com o seu próprio sindicato, o Sindicato Malawiano para o Sector Informal (MUFIS).

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ambiente facilitador de políticas e institucional, as cooperativas e outras empresas sociais podem desempenhar um papel chave na realização do objectivo do trabalho digno. A partir dum ponto de vista agregado, em muitos países tanto do Norte global como do Sul, as cooperativas estão dentre as maiores entidades empregadoras. As organizações da ESS podem facilitar o acesso ao financiamento, insumos, tecnologia, serviços de apoio e mercados e, podem realçar a capacidade dos produtores de negociarem melhores preços e rendimentos. Elas podem diminuir as assimetrias a nível do poder e da informação dentro dos mercados de trabalho e dos produtos e, podem melhorar o nível e regularidade dos rendimentos. As exigências reduzidas de capital necessário para constituir certos tipos de cooperativa, podem ser vantajosas para os trabalhadores informais que procurem praticar actividades empresariais.

C. Economia Social e Solidária como via alternativa para promover a transição para a formalidade

Do que é que se trata a Economia Social e Solidária e, quais são as organizações que se encontram na ESS?

As actividades da ESS compartilham as seguintes características:

1. Elas reúnem explicitamente a viabilidade económica com a utilidade social;

2. Elas produzem bens e serviços que activamente envolvam as comunidades e/ou redes sociais básicas, o que fomenta a participação de tanto homens como mulheres;

3. Elas formam redes consultivas e cooperativas de associações e comunidades a nível local, regional

e nacional, bem como a nível internacional;4. Elas contribuem para o surgimento de novas modalidades económicas e sociais,

nomeadamente métodos colectivos e democráticos de gestão de empresas e do desenvolvimento.

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Em primeiro lugar, as organizações da ESS têm objectivos explícitos TANTO económicos COMO sociais (e frequentemente ambientais). Elas implicam formas variáveis de relações cooperativas, associativas e solidárias, que incluem por exemplo cooperativas, mútuas, ONGs empenhadas em actividades de geração de rendimento, grupos femininos de auto-ajuda, exploração florestal comunitária e outras organizações, associações de trabalhadores do sector informal, organizações e redes de empresas sociais e de comércio justo.

A ESS no mundo: Algumas cifras

1. No Reino Unido, umas 62.000 empresas sociais contribuem com £24 biliões (US$37,1 biliões) para a economia e empregam 800.000 pessoas.

2. Na Europa: Dois milhões de organizações da ESS representam cerca de 10% de todas as empresas.3. Na Índia, mais de 30 milhões de pessoas (principalmente mulheres) estão organizadas em mais de 2,2 milhões

de grupos de auto-ajuda; a sociedade comercial alimentar maior do país, a organização cooperativista Amul, conta com 3,1 milhões de membros produtores e receitas anuais de US$2,5 biliões.

4. No Nepal, cinco milhões de utilizadores da floresta estão organizados na maior organização da sociedade civil do país.

5. O mercado de comércio justo a nível mundial cresceu para €4,9 biliões (US$6,4 biliões) e, envolve uns 1,2 milhões de trabalhadores e agricultores que produzem produtos certificados.

6. As mútuas proporcionam serviços de saúde e de protecção social para 170 milhões de pessoas a nível mundial.

Relatório da OIT de 2011

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O campo da ESS implica não só organizações e empresas tradicionais da “economia social” ou do “terceiro sector” – como é o caso das cooperativas, mútuas, organizações não governamentais (ONGs) dependentes de subvenções e as de provisão de serviços e, do voluntariado e doação comunitários e de outras formas – como igualmente de tipos de grupos de auto-ajuda que se organizam para produzir bens e serviços, redes de comércio justo e outras formas de compra solidária, grupos de consumidores envolvidos no abastecimento colectivo, associações de trabalhadores da “economia informal”, novas formas de empresas sociais e empreendedores sociais de fins lucrativos e, ONGs que estão sendo obrigadas a mudar duma dependência de doações e subvenções para sustentar-se por via de actividades de geração de rendimento. Isto inclui também as formas tradicionais de solidariedade (como é o caso das tontinas), as quais podem fornecer a base para o aparecimento de tipos modernos de organizações da ESS.Além disso, fazem parte igualmente da ESS, várias formas de financiamento solidário, como é o caso de moedas complementares e esquemas de poupança baseados na comunidade.Principais características das organizações da economia socialTipos CaracterísticasCooperativas voluntárias, com adesão aberta

direito por igual ao voto – as resoluções são aprovadas pela maioria dos membros que contribuem para o capital, o qual é variávelautonomia e independênciaos sectores de agricultura, da indústria manufactureira, banca, comércio retalhista e serviços são particularmente importantes

Mútuas voluntárias, com adesão abertadireito ao voto por igual – resoluções aprovadas pela maioria; cotas dos sócios baseadas em cálculos de seguro (onde for relevante)nenhuma contribuição de capitalautonomia e independênciaseguro médico, de vida e não de vida; sistemas de garantia; hipotecas residenciais

Associações/organizações voluntárias

voluntárias, com adesão abertadireito ao voto por igual – resoluções aprovadas pela maioriacotas dos sócios – nenhuma contribuição de capitalautonomia e independênciaprovedores de serviços, trabalho voluntário, desportivas e de advocacia/representanteimportantes provedores nos cuidados de saúde, no cuidado dos idosos e crianças e nos serviços sociais

Fundações dirigidas por fideicomissários nomeadosrecursos financeiros fornecidos através de doações e ofertasfinanciamento e realização de pesquisa em apoio a projectos internacionais, nacionais e locais; provisão de subvenções para

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aliviar as necessidades dos indivíduos; financiamento do trabalho voluntáriocuidados de saúde e dos idosos

Empresas sociais nenhuma definição universalmente aceitepropósitos sociais e a nível da sociedade juntam-se com o espírito empreendedor do sector privadoexcedentes investidos de novo para realizar um objectivo social ou comunitário mais amploinscritas como empresas privadas, cooperativas, associações, organizações voluntárias, obras de caridade ou mútuas; algumas não estão constituídas em sociedades

Fonte: Comissão Europeia, Direcção-Geral das Empresas e da Indústria, Unidade E3 de Artesanato, pequenas empresas, cooperativas e mútuas (http://www.caledonia.org.uk/eu-see.htm)

Contribuição da ESS para o Trabalho DignoPromover a economia social significa contribuir para cada dimensão da Agenda do Trabalho Digno. As organizações na economia social e solidária criam e sustentam empregos e meios de vida, estendem a protecção social, reforçam e estendem o diálogo social para todos os trabalhadores e, promovem a aplicação e cumprimento das normas para todos. Direitos: Em conformidade com a sua natureza, valores e princípios, as cooperativas promovem

os direitos humanos, incluindo os princípios e direitos fundamentais no trabalho, podendo servir de correia de transmissão para promover a aplicação deste tipo de direitos entre os sócios e agricultores.2 Em terceiro lugar, as cooperativas constituem igualmente o tema de normas internacionais do trabalho. A Recomendação da OIT sobre a Promoção das cooperativas, 2002 (nº. 193), (e a sua antecessora, a Recomendação nº. 127 de 1966), tiveram um impacto significativo na legislação e nas políticas relativamente às cooperativas em muitos países por todo o mundo.

Emprego: As cooperativas permitem que os sócios juntem os seus recursos; elas aumentam o poder de negociação dos seus sócios, geram economias de escala e de âmbito e, aumentam a produtividade dos negócios membros. Ao assim fazer, elas podem criar postos de emprego onde outras formas de empresas não conseguem fazê-lo. Se bem que as cooperativas são fornecedores importantes de emprego assalariado, o seu papel pode eventualmente ser ainda mais importante como facilitadores do auto-emprego. As inumeráveis instituições micro-financeiras, a maior parte das quais se constitui em conformidade com princípios cooperativos, oferecem soluções financeiras convenientes para os promotores dos pequenos negócios; cooperativas de comercialização e abastecimento agrícolas permitem que centenas de milhões de pequenos agricultores pelo mundo fora convertam colheitas em numerário. Por último, as cooperativas podem salvar postos de trabalho pela transformação de empresas privadas ou públicas falidas em cooperativas detidas pelos trabalhadores: na Argentina, bem mais de 15.000

2 Na África Ocidental, as cooperativas estão empenhadas no combate ao trabalho infantil nas plantações de cacau (Convenção nº. 182); durante muitos anos a OIT implementou o programa INDISCO, o qual proporcionou apoio a cooperativas e organizações semelhantes constituídas por minorias indígenas (Convenção nº. 169).

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postos de trabalho foram resgatados através da constituição de 130 empresas recuperadas, detidas pelos trabalhadores.

Protecção: Há muito que as cooperativas e mútuas comprovaram a sua capacidade ímpar de estender a protecção social e os serviços sociais para pessoas e comunidades não cobertas pelos sistemas formais de segurança social. Os sistemas informais de ajuda mútua e de solidariedade comunitária ainda estão muito difundidos, em particular nos países em vias de desenvolvimento e, estão a proporcionar a base para esquemas mais formais de protecção social, como é o caso dos sistemas de seguro mútuo de subsídio de cuidados de saúde, os quais cobrem 305 milhões de pessoas a nível mundial. Foram estabelecidos na África francófona uns 336 esquemas com 1,7 milhões de beneficiários. Além disso, em muitos países, trabalhadores de baixa renda implantaram sociedades funerárias como forma de garantir um funeral decente, o qual é da maior importância em muitas culturas. Os estudos mais recentes realizados sobre os stokvels na África do Sul (equivalentes aos xitiques em Moçambique), revelam que existem mais de 11,4 milhões de membros individuais de stokvels, que pertencem a mais de 811.000 grupos. Diz-se que colectivamente os stokvels acumulam ZAR44 biliões (US$4 biliões) por ano em poupanças (NASASA, 2015). Um fenómeno relativamente novo, consiste nas instituições de microsseguro com base em princípios cooperativos; um exemplo disto é a DECSI, a qual funciona no Estado Federal de Tigrai da Etiópia, onde proporciona cobertura de seguro para mais de 460.000 agregados familiares rurais.

Diálogo Social: As cooperativas e outras organizações da economia social representam a voz e interesses daqueles que não estejam alcançados pelos parceiros sociais tradicionais – ou seja, pelos sindicatos e organizações dos empregadores. A ESS pode representar grupos marginalizados cujas vozes normalmente não são escutadas nem levadas em consideração, como é o caso das mulheres na economia informal. Alguns exemplos incluem os pequenos agricultores representados através de cooperativas de comercialização e abastecimento agrícolas, operadores na economia informal organizados em associações de vendedores ambulantes ou, os sócios de esquemas mútuos de seguro de saúde que não estão cobertos pelos sistemas formais de segurança social. Todas estas organizações, e muitas outras, estão envolvidas no diálogo civil ao mesmo tempo que realizam a sua respectiva função principal. Elas estão activas a nível local, onde dão expressão aos seus membros na negociação com as autoridades locais e, igualmente a nível nacional através das suas estruturas nacionais. As entidades cooperativas têm uma tendência natural de estabelecerem redes horizontais, estruturas verticais e organizações regionais e mundiais, o que aumenta o seu peso e poder de negociação na representação dos seus sócios.

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Contribuição para a formalização dos trabalhadores e unidades económicas na economia informal, através de:

As pessoas têm a tendência de organizarem-se a fim de obterem os serviços económicos e sociais que o estado ou o sector privado não proporciona ou não consegue proporcionar. As organizações dentro da ESS defendem direitos, representam interesses e proporcionam uma voz, o que é imprescindível na economia informal. A ESS oferece um mecanismo pelo qual as pessoas pobres ou despotencializadas na sociedade adquirem maior controlo sobre os recursos e processos de tomada de decisões que afectam as suas vidas. Desde os agricultores de aldeia que montam uma cooperativa para comercializar com maior eficácia os seus produtos, ao grupo de poupadores que montou uma mútua para garantir que receba cada um uma pensão condigna, passando por obras de caridade e organizações que oferecem serviços de interesse geral, a economia social atinge uma gama enorme de indivíduos por todo o mundo.

Por exemplo, em muitas áreas de actividade económica, grupos de indivíduos juntaram-se para montar a sua própria estrutura para promover os seus próprios interesses ou os do público em geral. A base de tais estruturas são os membros e a solidariedade. As empresas da economia social caracterizam-se por um forte envolvimento pessoal dos seus membros na gestão da empresa e, pela ausência de procura de lucros para remunerar o capital dos accionistas. Devido à sua forma específica de fazer negócios, a qual associa o desempenho económico, a operação democrática e a solidariedade entre os sócios, elas contribuem igualmente para a implementação de objectivos comunitários importantes, sobretudo nos domínios do emprego, coesão social, desenvolvimento regional e rural, protecção do meio ambiente, protecção do consumidor e políticas de segurança social.

Combate à pobreza

Uma das preocupações mais imediatas da ESS, é de como responder à pobreza difundida. Para responder a este assunto, uma gama de esforços foi iniciada para promover a segurança alimentar e meios sustentáveis de vida, a incluírem a promoção da produção para consumo pessoal, a formação de micro-empresas a nível individual e empresas cooperativistas e, a sindicalização do trabalho informal. Em termos gerais, a estratégia é de fornecer recursos (finanças, formação, materiais e acesso à terra) a grupos marginalizados, para permitir que se dediquem a uma actividade económica. O benefício básico de programas deste tipo, é que eles ajudam a garantir a subsistência para grande número de pessoas, no caso ideal a custos relativamente baixos. Em função da natureza do programa, eles poderão igualmente ter outros efeitos adicionais, como é o caso de proporcionar a independência financeira para as mulheres ou promover relações mais justas de género nas famílias.

Protecção social e serviços de saúde: O papel das organizações mútuas de saúde

A maioria da população do mundo trabalha nas economias informal ou rural, sem qualquer tipo de protecção social formal da saúde. Os sistemas de segurança social estatais existentes oferecem benefícios limitados a uma pequena parte da população, nomeadamente aos funcionários públicos e aos trabalhadores empregados por empresas formais. As organizações mútuas de saúde são parceiros futuros decisivos nos planos ambiciosos dos governos de alargar a cobertura de saúde a

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grandes populações rurais e da economia informal que actualmente não estão cobertas pelos sistemas privados e estatais. A inclusão de tais organizações nas políticas públicas pode ser interpretada como um reconhecimento duma rede crescente de base que está afinada com as necessidades locais e pode servir de interlocutor que representa os interesses dos sócios em relação aos provedores de cuidados de saúde e nos diálogos sobre as políticas.Desde finais dos anos 80, muitas iniciativas de base comunitária ou de Organizações Não Governamentais (ONG) têm vindo a oferecer pacotes de seguro de saúde a pessoas não abrangidas pelos seus sistemas de segurança social nacionais dirigidos pelo estado, ou que estão sem a possibilidade de comprar pacotes de seguro a partir das empresas (isto é, com fins lucrativos). Muitas destas iniciativas levaram à criação de organizações da economia social e solidária (ESS), em particular organizações mútuas de saúde (MHOs em inglês)·Em vários países africanos francófonos, as estratégias de protecção social a serem elaboradas ou sob debate, classificam a população global em conformidade com a sua actividade (formal/pública ou economia privada e, economia informal rural/urbana, a incluir a agricultura) e/ou com as suas características individuais (grupos vulneráveis, especificamente mulheres, pessoas portadoras de deficiências, crianças com idades inferiores a cinco e, pessoas sem renda). Para cada grupo há mecanismos (seguro, ajuda) específicos (privados, públicos ou baseados na comunidade) e fontes de financiamento (receitas públicas, contribuição da população, ajuda internacional) correspondentes. A expectativa é que as organizações da ESS desempenhem um papel importante nestes novos modelos de protecção social; em conformidade com o modelo elaborado nestes países, as MHOs devem cobrir cerca de 80 por cento da população, nomeadamente, todos os que trabalham na economia informal ou no sector rural.3

Tal como no caso dos demais sistemas de seguros, as organizações mútuas de saúde baseiam-se num mecanismo de partilha do risco e de mutualização dos recursos. Mas como organizações da economia social e solidária, estas organizações não têm fins lucrativos e, não escolhem os seus membros na base dos seus perfis individuais de risco. O acesso aos cuidados de saúde através da solidariedade é portanto o objectivo principal destas organizações. Os membros das organizações mútuas de saúde são os seus proprietários, decisores e titulares das apólices.4

As organizações mútuas de saúde apresentam com efeito muitas vantagens em termos de proximidade aos sócios e à população. Levando em consideração a fragilidade da administração pública, esta proximidade podia ser aproveitada não só para recolher os prémios de seguro, como igualmente como um canal de comunicação entre a administração e as

pessoas seguradas. Na ausência de tais organizações intermediárias, a implementação dum mecanismo de protecção social para a população que trabalha na economia informal ou no sector rural seria quase impossível. Na América Latina, esta escolha foi feita explicitamente por vários governos para promover uma economia plural, pela incorporação da economia social e solidária no desenho das políticas públicas.

3 Bénédicte Fonteneau. Social and Solidarity Economy as Main Actor of the Extension of Social Protection in Health in Africa? HIVA–KU, Versão Preliminar (Lovaina, 2013)

4 ibid.

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As organizações mútuas de saúde tornar-se-iam um dos principais intervenientes na extensão da protecção social na África Ocidental.

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Informalidade rural:5

A maior parte dos trabalhadores e empresários da economia informal vive nas zonas rurais, muita das vezes na pobreza e insegurança extremas. Os problemas da informalidade agravam-se nas zonas rurais, devida à infra-estrutura sócio-económica deficiente, à distância das instituições nacionais e dos serviços básicos, às oportunidades limitadas de rendimento e, à protecção legal deficiente, todo o qual faz com que as economias rurais sejam mais

vulneráveis aos choques e aos riscos. A facilitação da transição para a formalidade nas zonas rurais depende dum conjunto de políticas multi-dimensionais adaptadas a cada país, que deverá ser conjugado num quadro integrado: promover a agricultura rentável; diversificar e apoiar as empresas rurais; desenvolver habilidades de relevância para a transformação rural; aumentar a cobertura social rural; fortalecer os quadros jurídicos e a protecção dos trabalhadores; estimular a organização e o diálogo social por parte dos intervenientes no meio rural, e; fomentar estratégias de desenvolvimento rural local. Através das cooperativas, os pequenos produtores podem juntar os seus activos e competências para superar as barreiras à entrada ao mercado e outros constrangimentos, como é o caso da falta de acesso aos recursos naturais e uma falta de influência na tomada de decisões. As cooperativas agrícolas6 e cooperativas de trabalho associado, assim como as cooperativas de crédito, operam nas zonas rurais, sendo reconhecidas como fontes de emprego e rendimentos para os residentes no meio rural.

Os pequenos proprietários, em particular as agricultoras, as quais é menos provável que tenham acesso ao crédito ou às garantias subsidiárias que as suas contrapartes de sexo masculino, podem eventualmente tirar proveito da constituição duma cooperativa de produção que integre – em parte ou totalmente – as suas actividades agrícolas. As cooperativas podem aumentar a produtividade através da realização de economias de escala (uma vez que os custos fixos de produção são distribuídos por um volume mais elevado), da aquisição colectiva de tecnologia (levando a aumentos da produtividade laboral) e, do uso de activos produtivos partilhados. A integração de vários intervenientes informais de pequena dimensão em uma colectividade, dá-lhes poder de negociação superior em relação a outros intervenientes nas cadeias de abastecimento, como é o caso dos grossistas, retalhistas, transportadores de carga, acondicionadores, supermercados, produtores de sementes e fertilizantes…). Como resultado disso, eles/elas poderão eventualmente vender as suas mercadorias a preços mais altos e reduzir os seus custos pela contratação de bens e serviços a preços mais baixos. As cooperativas, tais como as cooperativas agrícolas, podem igualmente constituir um meio de estímulo o reforço dos laços sociais, da solidariedade e da parceria e confiança entre os sócios, aumentar a sua capacidade de acção colectiva e a sua capacidade de defender os seus interesses políticos e económicos.

O bem-estar e empoderamento das mulheres7

5 OIT. Rural policy briefs: Addressing informality for rural development (2012).6 Cooperativas de Pequenos Proprietários Agrários na Colômbia.7 Força-Tarefa Inter-Agência das Nações Unidas sobre a Economia Social e Solidária (TFSSE). Social and

Solidarity Economy and the challenge of sustainable development; Um documento para debate (Junho de

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As cooperativas agrícolas facilitam o acesso por parte dos pequenos proprietários produtores a:

1. recursos naturais, tais como a terra e a água;

2. informação, comunicação e conhecimentos;

3. mercados, alimentação e activos produtivos, tais como sementes e utensílios;

4. a feitura de políticas e tomada de decisões.

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Na maior parte dos países, a parte das mulheres no emprego informal é mais elevada do que a dos homens.Várias formas de iniciativas de ESS servem para abordar assuntos relacionados com o bem-estar e empoderamento das mulheres. Muita das vezes as mulheres constituem o núcleo da base de membros dos grupos agrícolas de auto-ajuda e de crédito e poupança, assim como das iniciativas de exploração florestal comunitária.O emprego nas organizações da ESS pode ser particularmente importante para as mulheres pobres que enfrentam discriminação no mercado de emprego e um conflito entre o trabalho e a família. Para além de proporcionar emprego, as organizações e empresas da ESS facilitam frequentemente a flexibilidade na gestão do tempo, proporcionando oportunidades de trabalho remunerado susceptíveis de serem geridas ao lado de responsabilidades associadas ao trabalho não remunerado de cuidado.6 Além do mais, boa parte do surgimento da empresa social tem-se concentrado na provisão de cuidados e de outros serviços que têm impacto no bem-estar das mulheres. Transferir a responsabilidade pelos cuidados do provedor individual e do agregado familiar às creches da ESS, por exemplo, pode facilitar a participação das mulheres na força de trabalho e em outras actividades económicas.Para além dos aspectos de bem-estar social e do empoderamento económico das mulheres, a organização de mulheres nas organizações e redes da ESS é importante para a emancipação e empoderamento político das mulheres. Através de tais organizações e papéis participativos, as mulheres em particular da economia informal podem ganhar uma voz, assim como habilidades em tecelagem de redes e advocacia, permitindo tanto que renegoceiem as relações tradicionais de género, bem como que tenham acesso e coloquem as suas reivindicações junto de instituições mais poderosas.Permanecem desafios chave para as cooperativas e outras organizações na realização da igualdade de género. Muita das vezes as mulheres são menos favorecidas em termos de activos, educação e formação, até não podendo sequer falar a língua dominante. Tais constrangimentos podem impedir o acesso aos recursos e mercados necessários para constituir, expandir ou sustentar uma organização. Dentro das cooperativas agrícolas, as mulheres tendem a ser mais numerosas em sectores que têm a ver com mercadorias – tais como os das frutas, especiarias, cereais e produtos lacticínios – nos quais as exigências no que diz respeito à posse da terra e ao investimento de capital são frequentemente menos pesadas. Estes tendem a ser sectores no escalão mais baixo da cadeia de valor, muita das vezes associados aos produtos perecíveis, os rendimentos dos quais são baixos. Além disso, as mulheres nas organizações da ESS podem ter laços mais fracos a organizações de apoio, como é o caso das uniões e federações de cooperativas, e das ONGs.

Três estudos de casos (vejam-se os anexos)

Estudo de casos nº 1: SWACH - Cooperativa de trabalho associado na ÍndiaAs cooperativas informais de trabalho associado assumem várias formas: cooperativas legalizadas, associações, grupos de auto-ajuda, sociedades e assim por diante. Frequentemente elas juntam-se em redes, federações ou movimentos para lutar pelos seus direitos como trabalhadores e produtores e, para aumentar o seu poder de negociação junto dos compradores, fornecedores, autarquias locais e governos a nível nacional.

2014).

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Estudo de casos nº 2: Elevar o padrão de vida das mulheres rurais através do desenvolvimento cooperativo nos Marrocos.

Estudo de Casos nº 3: Voz e representação através de organizações do tipo ESS – Caso da SEWAO sindicato maior de trabalhadores indianos é a Associação de Mulheres que Trabalham por Conta Própria (SEWA) da Índia. A SEWA, constituída em 1972, é um sindicato de mulheres trabalhadoras de baixa renda que ganham os seus meios de vida operando pequenos negócios, fazendo trabalho subcontratado ou, vendendo a sua mão-de-obra. A SEWA é o primeiro sindicato de trabalhadores na economia informal, não só na Índia como igualmente do mundo inteiro. Ela é igualmente o maior sindicato da Índia. Os objectivos da SEWA são de aumentar a auto-dependência assim como a segurança económica e social das suas sócias. A SEWA agrupa a sua base de membros em quatro categorias profissionais amplas:

1. vendedoras ambulantes, as quais vendem uma gama de produtos que incluem hortaliças, frutas e roupa usada, a partir de cestos, carrinhos de mão ou pequenas lojas;

2. produtoras em casa, as quais costuram vestuário, fabricam mantas de retalhos, enrolam cigarros feitos à mão (bidis) ou paus de incenso, elaboram refeições ligeiras, reciclam metal de sucata, processam produtos agrícolas, produzem olaria ou fabricam artigos de artesanato;

3. trabalhadoras e provedoras de serviços manuais, as quais vendem a sua mão-de-obra (como carregadoras de carrinhos, carregadoras pela cabeça ou operárias de construção) ou que vendem serviços (tais como a cata de papel, serviços de lavandaria ou serviços domésticos); e

4. Produtoras rurais, incluindo as pequenas agricultoras, criadoras de animais, cuidadoras de viveiros, salineiras e gomeiras.

Outros sindicatos de trabalhadoras informais incluem o Sindicato de Mulheres que Trabalham por Conta Própria (SEWU) na África do Sul e o SIBTTA, o sindicato de trabalhadoras do bordado, tapeçaria, têxteis e artesanato na ilha da Madeira em Portugal. O SEWU foi lançado em Durban/eThekwini na África do Sul em Julho de 1994, sendo uma organização baseada nas suas sócias composta de mulheres que trabalham na informalidade nas zonas tanto urbanas como rurais do país. Se bem que a sede nacional está em Durban/eThekwini, o SEWU tem escritórios nas regiões do Cabo Ocidental e do Cabo Oriental da África do Sul, assim como nas regiões do Free State e de Mpumalanga. Ele potencializa as suas sócias através de workshops que visam o desenvolvimento da auto-dependência através da poupança, proporcionando formação em liderança e ensinando habilidades em negociação e muitas outras que as ajudam a tornarem-se “agentes chave da mudança na sociedade sul-africana”. Além disso, o SEWU tem vindo a trabalhar no sentido de ajudar as sócias a obterem empréstimos concessionários, assim como de ajudá-las com a abertura de contas de poupança nas estações dos correios e nos bancos comerciais.

O caminho para a frente: Promoção da ESS dentro do quadro das metas pós-2015

O papel potencial da ESS na resposta a vários dos principais desafios para o desenvolvimento na actualidade, incluindo aqueles da economia informal, sugere que os fazedores de políticas no governo e nas organizações intergovernamentais deveriam estar a prestar muito mais atenção a

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formas de actividade económica que sejam inerentemente inclusivas e integrais. Uma tal abordagem tem eco com os desafios mais amplos pós-2015 de (i) uma melhor integração dos objectivos económicos, sociais e ambientais; (ii) a redução da pobreza; o trabalho digno, igualdade de género e desenvolvimento equitativo; (iii) a abordagem das causas estruturais das crises a nível mundial, ligadas às finanças, à alimentação e à energia; e (iv) a acumulação de capacidade de resistência para arcar com as crises e choques externos.

A sustentabilidade da ESS depende da sua capacidade de enraizar-se na comunidade, de mobilizar diversos intervenientes e, de construir alianças fortes com parceiros sociais e as autoridades públicas. As OESS têm vindo a demonstrar uma forte capacidade de criar parcerias e redes construtivas e duradouras. As iniciativas de ESS de baixo para cima estão comprometidas para com a colaboração em vez da concorrência, pela qual são respondidas as necessidades da comunidade, não só os lucros financeiros.

Para alcançar os plenos benefícios as organizações dentro da ESS precisam dum acesso melhorado ao capital, à formação, aos mercados e às ferramentas da pesquisa e desenvolvimento, sendo necessárias iniciativas multi-estratégicas.

O Plano de Acção de Joanesburgo (veja-se nos anexos): A Conferência da Economia Social: Joanesburgo, 19 a 21 de Outubro de 2010O Plano de Acção de Joanesburgo definido pelos participantes na conferência da OIT 8 sobre a ESS em 2009 em Joanesburgo, oferece mecanismos oportunos para alcançar essa meta (África).

Objectivo n.º 1: Um aumento do reconhecimento das empresas e organizações da economia social e das parcerias com as mesmas;Objectivo n.º 2: Um aumento dos conhecimentos relacionados com a promoção das empresas e organizações da economia social e com o reforço das redes da economia social africana;Objectivo n.º 3: A instituição dum ambiente de políticas, legal e institucional facilitador para as empresas e organizações da economia social, assim como o reforço e promoção das estruturas da economia social a nível nacional;Objectivo n.º 4: As empresas e organizações da economia social tornam-se mais eficazes, eficientes e contribuem para as necessidades das populações em termos de criação de rendimentos, protecção social, promoção do emprego, direitos no trabalho, segurança alimentar, protecção do meio ambiente, combate ao HIV/SIDA, eliminação do trabalho infantil e mitigação do impacto da crise.

8 Mais de 200 participantes:1. Promotores, líderes e praticantes da economia social provenientes de 39 países da África, mais mandantes

de todas as cinco sub-regiões africanas;2. Promotores da economia social do ultramar (12 países das Américas, Ásia e Europa);3. Parceiros de desenvolvimento, projectos, pessoal da OIT;Objectivos: Partilhar conhecimentos e experiência cerca de diversos modelos de economia social de toda África; Debater como mobilizar a economia social em resposta às crises em África; Elaborar os contornos dum programa para promover a economia social em África; Avaliar a atractividade e viabilidade de colocar a economia social na ordem do dia a nível internacional.

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Anexo

Anexo 1: Estudo de Casos: SEWA (Índia)

SEWA – Uma Abordagem Multi-Facetada à Formalidade

Contexto A Associação de Mulheres que Trabalham por Conta Própria (SEWA) na Índia é um dos exemplos mais bem conhecidos duma iniciativa bem-sucedida para organizar e empoderar a diversidade de mulheres pobres na economia informal. Adoptando uma abordagem multi-facetada – como sindicato, cooperativa e movimento feminino – a SEWA fornece uma gama de serviços, que inclui a formação, a ajuda no estabelecimento de cooperativas e, serviços financeiros, de seguros e de segurança social. A SEWA tem estado activa na pesquisa e advocacia por políticas, colaborando com intervenientes representativos poderosos em plataformas nacionais e internacionais. O modelo da SEWA tem inspirado outras iniciativas na Ásia, na África do Sul e na Turquia. Ela tomou a dianteira ou colaborou na constituição de várias redes internacionais para melhorar as vidas e promover os direitos dos trabalhadores da economia informal. As mais notáveis são Mulheres no Emprego Informal: Globalizar e Organizar (WIEGO), a HomeNet e a StreetNet.A SEWA é uma associação de trabalhadoras pobres por conta própria na economia informal. A mesma foi legalizada em 1972, tendo saído da Associação Laboral Têxtil e independentizando-se em 1981. As sócias da SEWA incluem: mulheres que trabalham por conta própria; produtoras e provedoras de serviços; vendedoras ambulantes (11 por cento); trabalhadoras no domicílio, como é o caso das tecedeiras e ceramistas (15 por cento), e; trabalhadoras e provedoras de serviços manuais (> 70 por cento), consoante um levantamento realizado em Gujarat em 2006.

Padrões de informalidadeDa força de trabalho feminina na Índia, mais de 94% estão na economia não organizada, informal. Estas mulheres pobres que trabalham por conta própria ganham a vida através do seu próprio trabalho ou de pequenos negócios. Elas não conseguem emprego assalariado regular com benefícios sociais, como o fazem os trabalhadores organizados na economia formal. O seu trabalho não é contado, portanto o mesmo fica invisível. Na verdade as próprias trabalhadoras permanecem não contadas, contadas a menos e invisíveis.

Numa fase inicial, a Associação de Mulheres que Trabalham por Conta Própria (SEWA) representava trabalhadoras de vestuário despedidas por falta de trabalho, tendo-se iniciado como sindicato para apoiar estas mulheres no sustento dos seus meios de vida como trabalhadores por conta própria. Daí que a SEWA enfatiza a auto-dependência, para que as pobres consigam desenvolver as suas próprias organizações. Ela proporciona formação para fortalecer a liderança, confiança e poder de negociação das mulheres, tanto dentro como fora do lar. Os serviços da SEWA incluem a mobilização e negociações sectoriais, a

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constituição de cooperativas produtivas e de serviços, serviços financeiros, e associações para o seguro e a segurança social.

Objectivo da iniciativa

O crescimento, desenvolvimento e emprego das mulheres pobres aparecem quando estas contam com a segurança de trabalho, de rendimentos, alimentar, de saúde e de habitação. Daí que o pleno emprego e a auto-dependência constituem as metas duplas que norteiam a resposta da SEWA às prioridades e necessidades das sócias.9

Pleno emprego Emprego: As nossas sócias obtiveram mais emprego? Rendimentos: Os seus rendimentos aumentaram? Posse: Contam com mais activos no seu próprio nome? Nutrição: Elas (e as suas famílias) estão melhor nutridas? Cuidados de saúde: Elas (e as suas famílias) têm acesso a melhores cuidados de saúde? Habitação: Contam com habitação melhorada ou mais segura? Cuidado das crianças: Contam com acesso ao cuidado das crianças, caso este seja

necessário?

Auto-dependência Força organizada: A força organizacional das sócias aumentou? Liderança: Emergiram mais líderes mais fortes da base de membros? Auto-dependência: Tornaram-se mais auto-dependentes, a nível tanto individual como colectivo? Escolarização: A escolarização das sócias (e dos seus filhos/as) melhorou?

Acções implementadas Organizações baseadas nos seus membros: A SEWA está a construir organizações fortes que abarcam os movimentos sindical, cooperativista e feminino e, propicia uma diversidade de organizações de trabalhadoras informais – sindicatos ou cooperativas de grupos de produtoras rurais, organizações para a segurança social e grupos de poupança e crédito. A SEWA apoia estas organizações baseadas nos seus membros através da capacitação, do desenvolvimento de empreendedorismo, de ligações com e desenvolvimento de mercados, assim como com os serviços financeiros e de seguros e a protecção social.

Desenvolvimento de liderança e reforço de capacidadesComo dimensão fundamental dos seus esforços para a organização, a SEWA procura desenvolver a liderança de dois tipos: habilidades de liderança dentro de cada uma das suas sócias – o seu sentido pessoal de auto-confiança, competência e responsabilidade – assim como líderes locais que surgem desde o interior de cada grupo organizado. A SEWA

9 http://www.sewa.org/Annual_Report2004_Part_A.asp , Chen, Martha et al. 2005.

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desenvolve a liderança: através de estratégias permanentes de organização (convocando reuniões regulares a nível local e campanhas periódicas); através de formações especiais em liderança; e através de oportunidades para publicidade.

Influência e advocacia de políticas: Juntamente com a sua rede de parceiros, a SEWA faz lobbies por reformas e instrumentos de política laboral e social aos níveis sectorial, nacional e internacional, sobretudo no que diz respeito aos direitos laborais e aos direitos das mulheres, assim como à qualidade do trabalho. Ela dedica-se à advocacia baseada em evidências para superar as barreiras legislativas e a nível da regulamentação para o acesso aos esquemas e programas de protecção social e outros relacionados com os benefícios sociais para trabalhadores e empresas informais.

Desenvolvimento de alianças e tecelagem de redes: A SEWA fomenta redes a nível nacional e internacional específicas a determinados sectores, de organizações do sector não organizado, de sindicatos de operárias da construção, de empregadas domésticas, trabalhadoras agrícolas e trabalhadoras florestais, de forma a fortalecer a sua influência e advocacia por políticas. Fomenta igualmente ligações com institutos de pesquisa do desenvolvimento, para ajudar na sua agenda de influência das políticas (consulte o Impacto).

Impacto

Número de sócias: A SEWA conta (em 2011) com mais de 1,35 milhões de membros femininos que trabalham por conta própria em nove estados da Índia. Ela está filiada no movimento sindical a nível sectorial e da empresa, assim como aos níveis nacional e internacional. A SEWA é membro do Centro de Sindicatos Indianos e da Confederação Internacional de Sindicatos Livres (CISL).

Desenvolvimento de liderança e reforço de capacidades: As líderes locais formadas pela SEWA são as organizadoras chave dos grupos primários que compõem 20% da base de membros. São os seus esforços organizacionais e capacidades de liderança que possibilitaram a enorme base de membros da SEWA, em termos de sectores assim como de

A SEWA negociou com o governo estadual de Gujarat para que aceitasse um certificado emitido pelo sindicato como prova válida de 90 dias de trabalho, à Junta de Bem-Estar dos Operários da Construção do Estado de Gujarat, em cujo estabelecimento ela tinha sido chave como membro da força-tarefa a nível estadual. A SEWA é reconhecida como voz representativa legítima das operárias informais de construção no Estado de Gujarat. Tal reconhecimento inclui que haja canais estabelecidos para a negociação e consulta (SEWA, 2011).

“Quando as mulheres organizam-se com base no trabalho, aumenta o amor próprio da mulher - no auto-reconhecimento de que ela é uma ‘trabalhadora’, uma ‘produtora’, uma contribuinte activa à renda nacional, não apenas a esposa, mãe ou filha de alguém. Ao participarem na organização e gestão da sua cooperativa ou sindicato, aumentam a sua auto-confiança e competência, cresce um sentido de responsabilidade, cresce dentro dela a liderança.”

Ela Bhatt, Fundadora da SEWA. 1993. Discurso de abertura da Reunião Inaugural da Associação do Sul

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diversidade geográfica. Sócias da SEWA formadas especialmente servem como paraprofissionais, fornecendo uma gama de serviços às sócias gerais da SEWA, como provedoras de cuidados de saúde, professoras de cuidado das crianças, mecânicas de bombas manuais, extensionistas do Banco SEWA, pesquisadoras de base e, desenhadoras e controladoras da qualidade para a Comercialização SEWA.

Políticas e advocacia: Representação, pressão e diálogo contínuos por parte dos sindicatos tais como a SEWA e os seus parceiros de rede, a NCL e a NASVI a nível nacional, levaram à aprovação da Lei de Segurança Social para os Trabalhadores Não Organizados de 2008, bem como do Projecto de Lei sobre os Vendedores Ambulantes (Protecção de Meios de Vida e Regulamentação do Comércio Ambulante) de 2012.

Desenvolvimento de alianças e tecelagem de redes: A SEWA foi co-fundadora do Centro Sindical Nacional (NCL), juntamente com outros sindicatos que representam trabalhadores do sector não organizado. A visibilidade e reconhecimento que obtiveram estes trabalhadores, permitiram que se organizassem pelos seus direitos em vários grupos de ofício/sindicatos pelos sectores de trabalhadores manuais, trabalhadores baseados no lar, vendedores, produtores e provedores de serviços.

A SEWA apoiou na constituição da Aliança Nacional de Vendedores Ambulantes na Índia (NASVI), uma federação de mais de 715 organizações e sindicatos de vendedores ambulantes por 23 estados, com uma base de membros de mais de 500.000 em 2012. A aliança obteve maior reconhecimento pela contribuição dos vendedores ambulantes à economia urbana. (Para o impacto aos níveis regional e internacional, refira-se ao Papel dos Mandantes da OIT.)

Papel dos Mandantes da OIT

Dentro da Índia, a SEWA como parte duma rede nacional mais ampla de organizações do sector não organizado, como por exemplo o Centro Sindical Nacional (NCL), fez lobbies com sucesso pela aprovação da Lei de Segurança Social para os Trabalhadores Não Organizados de 2008. Ela criou a Aliança Nacional de Vendedores Ambulantes da Índia (NASVI), de forma a impactar positivamente sobre os quadros de desenvolvimento inclusivo nas cidades indianas em mudança e, a efectuar mudanças no ambiente de regulamentação, a fim de melhorar os seus meios de vida e segurança de trabalho. SEWA Bharat, uma federação de organizações membros da SEWA, fortalece as suas capacidades e serve os seus interesses.

A SEWA foi co-fundadora da HomeNet Índia, do Sul da Ásia e da Ásia do Sudeste e, da StreetNet, para dar maior visibilidade e reconhecimento aos direitos dos trabalhadores baseados no lar e dos vendedores ambulantes, na política laboral e social.

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A nível internacional, a SEWA inspirou o movimento sindical feminino, levando à constituição do Sindicato de Mulheres que Trabalham por Conta Própria (SEWU) na África do Sul, tendo apoiado na constituição da SEWA na Turquia. Juntamente com os seus parceiros a nível de aliança e de rede, a SEWA fez lobbies com sucesso por instrumentos internacionais para apoiar o seu avanço rumo ao trabalho digno e à formalidade – por exemplo, a aprovação da Convenção sobre o Trabalho a Domicílio, 1996 (nº. 177) e a Convenção sobre o Trabalho Digno para as Trabalhadoras e Trabalhadores do Serviço Doméstico, 2011 (nº. 189).

A SEWA é co-fundadora da Mulheres no Emprego Informal: Globalizar e Organizar (WIEGO), uma rede global de pesquisa-acção para as políticas para melhorar a condição dos trabalhadores pobres na economia informal, sobretudo as mulheres. Por sua vez a WIEGO tem apoiado a Aliança Global de Catadores. Ela integra o comité executivo da Federação Internacional de Associações para a Educação dos Trabalhadores (IFWEA).

Lições aprendidasOBMs (Organizações baseadas nos seus membros) e liderança: Com uma forte visão e liderança, um sindicato feminino pode crescer organicamente para responder à necessidade por parte das mulheres de organização económica através da formação de cooperativas. Para que cresça e seja relevante, a OBM tem que representar e responder às necessidades diversas dos trabalhadores de sexo feminino, por exemplo no acesso ao crédito e aos mercados, ao cuidado das crianças e aos cuidados de saúde. É necessário que aproveitem tanto a sua massa crítica como a sua influência política para lutar (em desvantagem, numa cultura sindical dominada por homens aos níveis local e nacional) para mudar as políticas e desafiar a política de exclusão.O desenvolvimento de alianças para as políticas e a advocacia: O desenvolvimento de alianças proporciona uma massa crítica que aumenta a visibilidade, reconhecimento e representação da diversidade de trabalhadores de sexo feminino na economia informal. É necessário que a aprendizagem de base e a pesquisa teórica, o desenvolvimento de alianças e tecelagem de redes orientadas por uma abordagem baseada nos direitos, influam para o trabalho de influência e advocacia por políticas aos níveis local, nacional, regional e internacional.

Referências bibliográficas Chen, Martha et al. 2003. Towards economic freedom: The impact of SEWAhttp://www.sewaresearch.org/impact.pdf; acesso tido no dia 21 de Novembro de 2013.

GTZ. 2006. Formalisation of Informal Enterprises: Economic Growth and Poverty. http://www.giga-hamburg.de/dl/download.php?d=/content/staff/kappel/publications/gtz1.pdf

http://nasvinet.org/newsite/invitation-national-convention-growing-cities-marginalized-vendors-need-of-comprehensive-

central-law/; acesso tido no dia 21 de Novembro de 2013.

http://www.nationalcentreforlabour.org/about_us.html; acesso tido no dia 21 de Novembro de 2013.

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http://www.sewa.org/About_Us_Structure.asp

Rothboeck, Sandra. 2013. Promoting transition towards formalisation: selected good practices in five sectors (versão preliminar).

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Anexo 2: Outros breves exemplos (desactualizados mas ainda relevantes)Empresário social põe em ligação apicultores rurais e mercados de exportação no Quénia

Outra maneira na qual os produtores informais podem entrar em contacto com os mercados de exportação, é através do empreendedorismo social. Um bom exemplo disto é o empresário social que montou a Honey Care África há cerca de anos atrás no Quénia. Desde então, a empresa tem vindo a permitir que quase 12.000 apicultores rurais melhorem os seus rendimentos, pondo-os em contacto com os mercados na Europa, com a ajuda de fundos provenientes de quase 20 doadores. Ela faz isto através dum modelo tripartido com o envolvimento duma empresa do sector privado (Honey Care), uma organização de desenvolvimento e as comunidades rurais. A Honey Care garante que adquira cada quilograma de mel que qualquer apicultor consiga produzir, a um preço justo e fixo e, que pague em numerário no dia da recolha. Em seguida ela processa e empacota este mel e vende-o com um lucro, aos mercados de exportação. Proporciona igualmente a formação necessária às comunidades rurais e, onde seja viável em termos económicos, ela proporciona um apoio extensionista. Se bem que o seu principal produto neste momento é o mel, para o qual conta com a Certificação Internacional de Comércio Justo e Orgânico, a Honey Care está igualmente a explorar produtos de valor agregado mais elevado, como é o caso da geleia real, do pólen e da cera de abelhas, além de realizar pesquisas sobre o desenvolvimento duma melhor tecnologia de apicultura. A organização de desenvolvimento conta com experiência no trabalho com as comunidades rurais e, tem uma ampla extensão comunitária nas zonas rurais, fornecendo desta maneira uma via aos apicultores e garantindo que não se desenvolva um relacionamento explorador entre a organização do sector privado e os apicultores. Em alguns casos, ela igualmente proporciona empréstimos aos apicultores para adquirir colmeias melhoradas. Os empréstimos são recuperáveis na altura na venda do mel à Honey Care (Fonte: Jiwa, 2002).

Negócio feminino de castanha de caju cria ligações comerciais para produtoras informais no SenegalUma empresa com sede em Dakar, detida por duas mulheres provenientes de Benin, tem o mercado maior para castanha de caju processada. A primeira empresa a comercializar formalmente as amêndoas de cajú no Senegal, ela tem estado por mais de dez anos a comprar todas as suas amêndoas a partir de associações femininas baseadas nas regiões de Kaolack e Farick. Através de ligações estreitas ao longo do tempo com 12 destes grupos, os quais envolvem umas estimadas 300 mulheres em seis aldeias, desenvolveu um produto que se vende bem em mercados chave ao norte da Gâmbia. Distribui uma marca de castanhas de acondicionamento elegante numa cadeia de estações de bombas de gasolina em Dakar e noutros grandes centros urbanos. A empresa goza dum forte reconhecimento do seu nome em Dakar, tendo-se recentemente comercializado o produto pela marca (Fonte: Cambon, 2003).

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ONG ajuda a ligar produtores locais com supermercadosAs ONGs internacionais também estão activas em ligar os produtores locais com mercados mundiais. Por exemplo a Technoserve, uma ONG internacional, tem estado fazendo experiências com formas de permitir que os produtores locais tirem proveito da difusão rápida dos supermercados no Sul global. Entre 1990 e 2000, por toda a América Latina e África, os supermercados cresceram de 15 até 55 por cento do sector alimentar retalhista total. A Technoserve é da opinião de que, para que os empresários no meio rural vendam os seus produtos a supermercados no meio urbano, eles precisam de: (a) entender como é que os supermercados obtêm os seus produtos; e (b) utilizar métodos pós-colheita que satisfaçam as necessidades das empresas às quais pretendem vender – ou que lhes dêem uma vantagem competitiva sobre outros fornecedores. Isto implica ir muito além da tradicional lavagem dos produtos e sua colocação em caixas, para incluir a embalagem, a etiquetagem – até à codificação de barras e à entrega em forma refrigerada. Significa igualmente que a maioria dos empresários precisará de capital de investimento para dar este gigantesco salto para a frente. No Gana em 2002, a Technoserve formou 322 agricultores produtores de ananás e citrinos em pequena escala em produção orgânica, ajudou-os a obterem a certificação orgânica e em seguida estabeleceu um laço comercial à Athena Foods, uma instalação local de processamento de sumos. A Athena por sua vez processou e engarrafou US$400.000 de sumo orgânico para um supermercado que era novo cliente deles nos Países Baixos. Espera-se por toda África que o desenvolvimento de supermercados possa fornecer um trampolim aos supermercados nos EUA e na Europa, para outros produtores e empresários que conseguirem tornar-se parte da cadeia “da quinta até ao consumidor” nos seus próprios países (Fonte: Technoserve, 2002).

Sindicato obtém licença de comercialização para mulheres produtoras informais na ÍndiaOs sindicatos têm ajudado os seus membros de várias formas a ligarem-se com os mercados. Por exemplo, fora da temporada agrícola cerca de 80 a 90 por cento das mulheres em Gujarat na Índia praticam a recolha de goma a partir das zonas florestais onde vivem. Embora haja um mercado aberto florescente para a goma, que inclui empresas têxteis e farmacêuticas, no passado as colectoras foram limitadas pela lei a venderem os seus produtos ao Ministério Nacional de Florestas. A Associação de Mulheres que Trabalham por Conta Própria (SEWA) negociou com a Junta de Desenvolvimento Florestal do Estado de Gujarat para obter uma licença para que as suas sócias pudessem recolher a goma e vendê-la aos comerciantes privados, que pagam preços mais altos.Igualmente a SEWA Rural tem trabalhado amplamente para facilitar a transferência de tecnologia e habilidades apropriadas, para que as colectoras de goma possam aumentar os seus rendimentos e obter um preço melhorado pelos seus produtos. Além disso, a SEWA entrou em parceria com o Centro para a Ciência para as Aldeias, para proporcionar uma formação para as mulheres sobre técnicas melhoradas de recolha e a produção de vários

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produtos derivados da goma, como é o caso dos chocolates, da pastilha elástica e duma diversidade de doces indianos (Fonte: Chen, Jhabvala e Nanavaty, 2003).

Sindicato de trabalhadoras do sector das pescas emprega TIC como ferramenta de marketing, SenegalEm África, muitas mulheres empreendedoras que são comerciantes, variando do micro-comércio em alimentos até ao comércio de importação-exportação em grande escala, estão a precisar de informação sobre o mercado e estão a começar a utilizar as TIC para ter acesso à mesma. No Senegal, o Sindicato de Operadoras Pesqueiras da Costa Grande, uma organização de mulheres que comercializam pescado e de produtoras pesqueiras, emprega as TIC para trocar informações sobre a oferta e demanda entre as suas diversas localizações pela costa atlântica. As mulheres acham que esta ferramenta melhorou a sua competitividade no mercado local. Elas estão a projectar um site de Internet para permitir que as quase 7500 sócias promovam os seus produtos, controlem os mercados de exportação e, negoceiem preços com compradores no exterior antes destes chegarem ao Senegal (Fonte: Hafkin e Taggart, 2001).

Anexo 3: Quatro perfis

Val, empregada doméstica no BrasilNascida no norte do país numa família de trabalhadores rurais pobres, sem nenhuma escolarização, a Val começou a trabalhar como empregada doméstica na Bahia com 17 anos de idade. No serviço a Val tem sido discriminada e explorada. A sua jornada de trabalho variava de 12 a 16 horas por dia. Durante os primeiros anos, muita das vezes a Val não recebia o seu salário. “Apenas quando tinha 21 anos comecei a receber um salário de verdade”, disse. “Até a essa idade a minha remuneração estava frequentemente na forma de roupa usada e comida.” Agora recebe mensalmente, a uma taxa abaixo do salário mínimo nacional. Não se reconhecem as férias e ela não recebe nenhum pagamento por horas extras. Ela trabalha mesmo no caso de estar doente, porque não quer

perder o emprego e, precisa desse rendimento para arcar com o tratamento médico da sua mãe. Nunca contou com nenhum contrato. As suas tarefas são-lhe explicadas oralmente e parece não ter problema com isso. Ela não sabe que os trabalhadores domésticos no seu país são protegidos dentro do quadro de regulamentação do direito trabalhista, tendo eles direito ao registo formal dos contratos, à contemplação dos salários mínimos, pensões voluntárias e subsídio de desemprego (Convenção nº. 189). A Val não goza de qualquer destes direitos fundamentais dos trabalhadores. Mas a vida da Val poderá transformar-se dentro em breve, porque ouviu na rádio acerca de organizações de trabalhadores domésticos que lutam pelos seus direitos.

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Rafael, proprietário dum restauranteRafael tem 35 anos de idade e é proprietário dum pequeno restaurante situado em Saly, um destino turístico muito concorrido. Ele emprega um familiar mas, durante as alturas de pico ele admite outros trabalhadores sazonais para satisfazer as necessidades. O horário de trabalho é frequentemente longo e as condições de trabalho são más: em particular, a cozinha do restaurante está mal iluminada, não muito bem apetrechada e sem ventilação suficiente.

Às vezes o valor da comida é baixo, devido a matérias primas escassas e, frequentemente os seus clientes rejeitam pratos devido à má qualidade. O Rafael tem vindo a ponderar o recrutamento formal de trabalhadores, com a sua inscrição, mas depois de passar um dia dirigindo-se a várias agências locais, ele ficou desencorajado pela quantidade de documentos que devia preencher, pelos custos da inscrição e, pelo número de instituições distintos das quais é necessário que obtenha licenças e certificações, tratando em particular dos alimentos. Além disso, tem medo de que as autoridades locais possam encerrar o seu estabelecimento por causa das más condições de trabalho. Ele deseja legalizar totalmente a sua actividade e melhorar a situação dos seus trabalhadores e, ao mesmo tempo, o seu negócio, mas ele está preocupado pelo impacto dos custos implícitos nos impostos sobre o seu negócio, e da segurança social. O Rafael é membro duma associação de pequenos negócios mas, não dispõe do tempo para assistir a uma reunião para entender melhor como pode receber o apoio deles.

Tam - uma empresária

Tam opera uma barraca de venda de comida. Ela compra as matérias primas de manhã cedo e cozinha-as para vender numa banca à beira da estrada na sua comunidade local. Ela não recebeu muita escolarização mas, uma vez que sabia cozinhar bem ela decidiu iniciar esta actividade de geração de rendimento, apesar da concorrência intensa a partir de outras mulheres que fazem um trabalho semelhante. Recentemente ela deu à luz o seu quarto filho, na sequência duma gravidez

problemática. Como resultado, ela teve de parar com as suas actividades de geração de rendimento enquanto recuperou. O seu marido vive e trabalha numa cidade próxima, podendo mandar dinheiro apenas intermitentemente, através de conhecidos de confiança. Quando parou de trabalhar, isso teve como resultado um choque sério a nível das receitas para a sua família e, ela dependia fortemente do apoio dos vizinhos e amigos. Agora ela reiniciou o seu negócio mas, visto que não tinha nenhuma garantia subsidiária e ficava intimidada pelos bancos comerciais, ela faz uso dos serviços dum agiota, com taxas exorbitantes de juros. Embora seja relutante em fazê-lo, ela está a considerar retirar a sua

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filha de dez anos de idade da escola para cuidar das crianças mais novas, de modo que a Tam possa dedicar mais tempo a ganhar um rendimentos. A Tam nunca recebeu nenhuma formação empresarial e, nem sequer se considera empresária. Ela nunca considerou a inscrição do seu negócio nem a sua adesão a uma cooperativa.

Estévão, um operário da construçãoO Estévão é trabalhador migratório, trabalhando como operário da construção num país vizinho. No seu país ele era um trabalhador de ofício altamente qualificado. Mas neste país novo, para trabalhadores como ele os empregos são escassos e a concorrência é alta entre os que procuram emprego diariamente nos vários estaleiros de construção. Ele tem sorte, uma vez que as suas habilidades permitem que encontre com regularidade alguns trabalhos diários (eventuais) mas, trata-se duma luta, à medida que ele tem que procurar trabalhos todos os dias. O sector da construção

está em rápida expansão neste novo país e, ele espera receber um contrato, levando a condições condignas de trabalho correspondentes aos seus níveis de habilidades e permitindo que ganhe o suficiente para trazer a sua família. Mas esta não passa duma esperança e, ele tem medo de aproximar-se dos sindicatos, uma vez que isto pode ser entendido pelos seus potenciais empregadores como uma ameaça.

Referências bibliográficas

Comissão Europeia, Direcção-Geral das Empresas e da Indústria, Unidade E3 de Artesanato, pequenas empresas, cooperativas e mútuas (http://www.caledonia.org.uk/eu-see.htm)

Fonteneau, Bénédicte. 2013. Social and Solidarity Economy as Main Actor of the Extension of Social Protection in Health in Africa? HIVA–KU Lovaina, Versão Preliminar

Força-Tarefa Inter-Agência das Nações Unidas sobre a Economia Social e Solidária (TFSSE). Junho de 2014. Social and Solidarity Economy and the challenge of sustainable development; Um documento para debate.

http://www.sewa.org/Annual_Report2004_Part_A.asp Chen, Martha et al. 2005.

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Schwettmann, Jürgen. Maio de 2015. Cooperatives in Africa: Past and present, success and challenges. Genebra.

Smallholders’ Agricultural Cooperatives in Colombia.

Utting, Peter (Coordenador). Social and solidarity economy beyond the fringe.

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