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INADIMPLÊNCIA SOLUÇÕES EFICIENTES PARA NÃO FECHAR AS CONTAS NO VERMELHO Lévi-StrauSS AS CONTRIBUIÇÕES DE UM DOS PRINCIPAIS PENSADORES DO SÉCULO 20 EStErEótipoS O RETRATO DO JOVEM DENTRO DA ESCOLA NAS TELINHAS DE TV Uma publicação do Pueri Domus Escolas Associadas • Ano 4 • nº 14 • Novembro / Dezembro / Janeiro EntrEviSta: JAMES R. FLYNN, OS TESTES DE Q.I. E A EVOLUÇÃO DO NOSSO CÉREBRO GEração ÁGEiS E ConECtaDoS, ELES DEDiCaM Sua atEnção a vÁrioS tEMaS ao MESMo tEMpo. CoMo rEtEr a atEnção E EDuCar ESSE novo ExérCito DE nativoS DiGitaiS?

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Revista mantida pelo Pueri Domus Escolas Associadas e que tem como foco a educação básica, o ensino fundamental e o ensino médio. Circulação nacional para educadores, diretores de escola, pais de alunos, pedagogos e proprietários de instituições de ensino.

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NOV/DEZ/JAN1

InadImplêncIaSOluçõES EficiENtES pArA NãO fEchAr AS cONtAS NO VErmElhO

Lévi-StrauSSAS cONtribuiçõES DE umDOS priNcipAiS pENSADOrESDO SéculO 20

EStErEótipoSO rEtrAtO DO JOVEm DENtrO DA EScOlA NAS tEliNhAS DE tV

Uma publicação do Pueri Domus Escolas Associadas • Ano 4 • nº 14 • Novembro / Dezembro / Janeiro

EntrEviSta: JAmES r. flyNN, OS tEStES DE Q.i. E A EVOluçãO DO NOSSO cérEbrO

GEração

ÁGEiS E ConECtaDoS,

ELES DEDiCaM Sua atEnção a vÁrioS tEMaS ao MESMo

tEMpo. CoMo rEtEr a atEnção E EDuCar

ESSE novo ExérCito DE nativoS DiGitaiS?

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SupEr ESCoLa 3

4entrevistaJames r. Flynn

10editorial

eXPeDientea super escola é uma publicação do Pueri Domus escolas associadas.

16inaDiMPLÊnCiaDicas eficazes para contornar o problema

sumário

Conselho editorialAltamar Roberto de Carvalho (Diretor Pedagógico)Carlos Eduardo Ferrari (Gerente de Marketing)Guilhermino Figueira Neto (Diretor-Geral) Maísa Dóris (Gerente Nacional de Comunicação Corporativa - Grupo SEB)

Coordenador-Geral: Carlos Eduardo Ferrari

Projeto editorial: Trama ComunicaçãoDiretora de redação: Leila Gasparindo MTb: 23.449editora: Helen Garcia MTb: 28.969editor assistente: Adriano Zanni MTb: 34.799reportagens: Adriano Zanni, Juliana Lanzuolo, Larissa Leiros Baroni, Paulo Camargo e Simone Bernardes revisão: Márcia MeninProjeto Gráfico: Arthur SiqueiraDesigner: Arthur Siqueira e Rodnei MedeirosProdução Gráfica: André VieiraFotolito e impressão: EGM Gráfica e Editora LTDA.tiragem: 20.000

Contatos:Publicidade: [email protected]ção: [email protected]

CaPaComo reter a

atenção do aluno

8 raDar

14 estuDo De CasoColégio Maria, Jaboticabal (SP)

20 história Do ManteneDorTerezinha Leardini Branco

22 CoMPortaMento Como a mídia retrata o jovem na escola

26 Gestão/MarketinGA sustentabilidade nos modelos de gestão

30 inDiCação De Leitura 31 saLa De auLaClaude Lévi-Strauss

34 oPiniãoJoão Luís de Almeida Machado

rESgAtE pOr MéritoS

Nos últimos anos, temos visto uma verdadeira avalanche de conceitos, há tempo difundidos pelas organizações privadas, deslizar em ritmo um tanto acelerado sobre a esfera pública no que tange à parametrização de resultados e à construção de modelos de gestão eficientes.

A última movimentação nesse sentido ocorreu recentemen-te em São Paulo na adoção da meritocracia para a construção de um plano de carreira dos docentes do sistema público de ensino. Trocando em miúdos, o professor que desejar ascen-der profissionalmente deverá agora passar pelo crivo de seus superiores, que terão em mãos indicativos sobre assiduidade, pontualidade e aproveitamento.

Por trás da empreitada, o intuito de melhorar a qualidade e, sobretudo, tornar atraente aos olhos de milhares de jovens recém-formados nas universidades uma profissão que é tida como a base de muita coisa, mas que desde o século passado ca-rece de maior reconhecimento, inclusive em termos financeiros.

A meritocracia consta de qualquer cartilha de gestão mo-derna, porém é algo novo nas escolas brasileiras e difícil ainda de ser assimilado. No entanto, torna-se fundamental à me-dida que discutimos os ajustes constantes e necessários nos mais variados sistemas de avaliação, os quais fornecem boa base de dados que, se bem traduzidos, podem colaborar para o aprimoramento das próprias instituições.

Afinal, quando falamos em Enem, por exemplo, que ins-tituição conseguiria bom resultado no exame com o índice de absenteísmo de um único docente chegando à casa das 30 faltas por ano, segundo números de 2008 da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo?

Certamente, o caminho a percorrer será longo, envolve o processo de formação dos docentes e está recheado de dis-cussões. Mas uma coisa é certa: as metodologias oriundas da área administrativa vieram para ficar. Aliadas a outros fatores, promoverão o resgate do papel histórico do educador diante das novas gerações e do emaranhado de recursos tecnológicos de que dispomos, o que deve ser a bandeira de todo e qual-quer grupo preocupado com os rumos deste país. Boa leitura!

Guilhermino Figueira NetoDiretor-Geral do Pueri Domus Escolas Associadas

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NOSSO CérEbro tAmbém EvoLuiu?

entrevista James r. FlYnn

ma década ou, até mes-mo, um ano é o bastante para que novas tecnolo-

gias substituam aparelhos ou recursos que não chegam sequer a “envelhecer” nas prateleiras. Sem falar na informação, que, a cada minuto, torna-se um tanto desatualizada, e no volume de conhecimentos que o mercado exige de nós.

As crianças estão mais atentas e a mente humana parece ter se desenvolvido substancialmente, a uma velocidade espantosa. Em uma era em que a reciclagem e o conhecimento são essenciais para o sucesso, será que ainda é possível mensurar o nível de inteligência?

A Super Escola conversou com James R. Flynn, um dos mais renomados filósofos da

atualidade, professor e au-tor do livro O que éinteligência? Além do efeito Flynn, para saber sobre a eficácia dos

testes de quociente de inteligência (Q.I.) e outros fatores que devem ser levados em conta quando o assunto é lógica e capacidade de raciocínio.

Logo no início da entrevista, o estudioso ressaltou que o “efeito Flynn”, contido na nomenclatura da obra, é apenas um termo que foi associado a um acontecimento animador: o século XX assistiu a ganhos enormes em Q.I. de uma geração para outra.

“Para garantir que eu não re-ceba um diagnóstico de megalo-mania, esclareço que o rótulo foi cunhado por Herrnstein e Mur-ray, autores de The bell curve, e não por mim. Nunca fiz estudos sobre as tendências do Q.I. ao longo do tempo baseados em testes. Entre aqueles que aferiram os ganhos de Q.I., Reed Tuddenham foi o primeiro a apresentar evidências convincentes usando amostras de âmbito nacional: comparou os es-cores de testes mentais de soldados

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uM DoS MaiS rEnoMaDoS fiLóSofoS ContEMporânEoS

DiScutE A fOrmulAçãO DOS tEStES DE Q.i. E Até QuE pONtO ElES

SãO SuficiENtES pArA mENSurAr A iNtEligêNciA humANA

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SupEr ESCoLa 5

lhor nossas habilidades reflete o novo tipo de exercício mental que fazemos. O cérebro é como um músculo que enrijece ao pe-garmos peso.

As crianças também estão mais espertas. Parece que elas absorvem com mais facilidade o conhecimento. A que fatores o senhor atribui esse quadro?

Atualmente, o que se nota é que as crianças aprendem alguns conteúdos escolares com mais facilidade porque são mais esti-muladas. Trata-se de uma neces-sidade reconhecida pela própria sociedade, na qual a lógica e o raciocínio são cobrados e insti-

antepassados eram tão capazes de lidar com os problemas do dia a dia como nós. No entanto, o que nos distingue são os re-cursos que temos para exercitar melhor a memória e as faculda-des mentais. Provavelmente, a forma como desenvolvemos me-

NOSSO CérEbro tAmbém EvoLuiu?

norte-americanos da Primeira e Segunda Guerras Mundiais e en-controu ganhos enormes. Se eu tivesse pensado em conectar um nome ao fenômeno, teria sugerido o dele”, disparou o autor.

A melhora significativa nos resultados dos testes de Q.I. aplicados hoje tem deixado os psicólogos bastante inquietos. Em seu livro, o senhor defen-de que eles sejam reformula- dos. Por quê?

Os testes de Q.I. não são inú-teis. Eles comparam indivíduos da mesma faixa etária, que com-partilham uma cultura, em seus desempenhos acadêmicos. Mas apenas isso não é suficiente para traçar parâmetros evolutivos.

Os testes têm sido incapa-zes de mensurar a sintetiza- ção de ideias?

A pontuação não pode ser to-mada por seu valor nominal ao longo do tempo. O fato de nos-sa pontuação superar a de nossos antepassados não significa que eles eram deficientes mentais. Até porque nós vivemos em uma época em que as pessoas se beneficiam de espetáculos científicos que liberam nossa mente para atacar os proble-mas hipotéticos e abstratos.

Podemos dizer que a cada geração o ser humano vem utilizando sua inteligência de forma diferente ou o cérebro adquiriu novos mecanismos de raciocínio?

O potencial cerebral, em sua concepção, é o mesmo. Isso não muda ao longo dos anos. Nossos

O fAtO DE NOSSA pONtuAçãO NOS

tEStES DE Q.i. SupErAr A DE NOSSOS ANtEpASSADOS NãO

SigNificA QuE ElES ErAm DEficiENtES mENtAiS

pErfiL:profESSor

EMérito na univErSiDaDE DE otaGo, na

nova ZELânDia e ganhador da

medalha de ouro da instituição por sua diferenciada

carreira em pesquisa. Em 2007, a International Society

for Intelligence Research o nomeou

distinguished contributor of

the year.

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ção

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desenhos animados e demais programas exibidos na televisão têm hoje um enredo e uma tra-ma mais bem elaborados, o que nos desafia a pensar de forma mais complexa até nos momen-tos de lazer. O nível de cobrança é outro. Em sua obra, o senhor compro-va, com pesquisas feitas em mais de 30 países, que há um ganho de inteligência com o passar dos anos. Como é possível chegar a essa conclusão?

Bem, o ganho habitual que verificamos pelos testes de Q.I. Wechsler é de 3 pontos por déca-da e talvez obtenhamos o dobro em matrizes progressivas de Ra-ven, outra metodologia de aná-lise. O estudo também permite comparar a evolução do nível de inteligência entre países com realidades socioculturais distin-tas, como Brasil e Argentina, por exemplo. São diversas as correlações que podemos traçar. Em geral, esse avanço quanto ao “ganho” de inteligência no transcorrer dos anos é decorrente também da democratização do acesso a instrumentos de cultu-ra e educação e do próprio nível cumulativo de informação ao qual as novas gerações são cons-tantemente expostas.

Diferentemente do que se imaginava há alguns anos, o cérebro adulto é dotado de neuroplasticidade. Evidências comprovam que possuímos a habilidade de modificar a es-trutura e funções dele em res-posta a certas experiências. O

entrevista James r. FlYnn

que podemos fazer para exerci-tar a capacidade cerebral?

Esteja interessado em ideias e mantenha o cérebro ativo na velhice lendo, aprendendo coisas novas, fazendo palavras cruzadas e quebra-cabeças. São dicas que podem parecer banais, mas que efetivamente produzem efeitos consideráveis. Diante de um cenário tão di-ferente, se comparado às déca-das anteriores, ainda é possível medir a inteligência?

Há duas maneiras de obter re-sultados em termos de inteligência. Uma é utilizar os testes de Q.I. para medir o desempenho acadêmico de crianças da mesma faixa etária. A outra é descrever a história cogni-tiva – como meu livro faz – para traçar os novos desenvolvimentos de nossas habilidades ao longo do tempo. O fato é que nossa vanta-gem sobre nossos ancestrais é re-lativamente uniforme em todas as idades, do berço à sepultura. Saber se esses ganhos persistirão no sécu-lo XXI é algo problemático, pelo menos para as nações desenvolvi-das, mas não há dúvida de que eles dominaram o século XX e de que sua existência e tamanho eram bas-tante inesperados. O simples fato de terem ocorrido gera uma cri-se de confiança: como podem es-ses ganhos tão grandes ser ganhos em inteligência? Ou as crianças de hoje seriam muito mais espertas que seus pais ou – pelo menos em certas circunstâncias – os testes de Q.I. não seriam boas medidas da inteligência. Os paradoxos come-çam a se multiplicar e ainda temos muito a refletir.

gados com mais veemência. Isso não significa que as crianças de hoje sejam mais talentosas do que eram as do passado. O conhecimento chega mais rápido e para mais pessoas. Até que ponto isso reflete direta-mente na qualidade intelectual do indivíduo?

Já comentei a respeito de nossa qualidade intelectual. O que vale reiterar é que, em mi-nha opinião, os videogames, os

o QuE é intELiGênCia? aLéM Do EfEito fLynn

James r. flynn216 páginas

Editora artmedpreço sugerido: r$ 48

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radar

Conectados A pesquisa “Kids Expert 2008”,

encomendada pelo canal infantil Cartoon Network, mostra que 60% das meninas e 55% dos meninos entre 7 e 15 anos ficam de 30 minutos a quatro horas por dia conectados à internet. A mesma pesquisa, que ouviu mais de 6.500 crianças, revela que elas passam boa parte do tempo em programas de mensagens instantâneas e redes sociais, como Orkut, Twitter e Facebook, conversando com amigos e visitando álbuns de fotos.

“nóS não vaMoS faZEr nEnhuMa MuDança na

EDuCação SEM o profESSor ou Contra o profESSor.”

A frASE é DA SEcrEtáriA DE EDucAçãO báSicA, mAriA DO pilAr lAcErDA, DurANtE cOlEtiVA NA SEDE DO

mEc, Em OutubrO, E fAZ rEfErêNciA AOS prOgrAmAS DE fOrmAçãO iNiciAl E cONtiNuADA VOltADOS AOS

prOfESSOrES DA rEDE públicA.

SinergiaEm 7 de dezembro, segunda-feira,

personalidades da área educacional se reuniram para debater o tema “A escola pública e as parcerias com a iniciativa privada”. O encontro, que aconteceu no Hotel Transamérica, em São Paulo (SP), foi organizado pelo Núcleo de Apoio à Municipalização do Ensino (Name), empresa do Grupo SEB (Sistema Educacional Brasileiro). Participaram do evento autoridades como o ministro da Educação, Fernando Haddad, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, o presidente do Grupo SEB, Chaim Zaher, além do jornalista Gilberto Dimenstein e do ex-secretário da Educação do Estado de São Paulo Gabriel Chalita.

projeto de leiO plenário da Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que exige

nível superior, com licenciatura, dos professores que atuam na educação básica – Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio.A proposta, entretanto, prevê a contratação de profissionais com apenas o Ensino Médio para a Educação Infantil em locais onde não existirem professores com nível superior. A matéria aprovada retirou do texto final o dispositivo que permitia ao MEC estabelecer nota mínima no Enem como pré-requisito para ingresso em cursos de graduação para formação de docentes. O texto da deputada Ângela Amin, aprovado na forma do substitutivo do deputado Iran Barbosa, segue agora para votação no Senado.

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shutterstock

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SupEr ESCoLa 9

O melhor parceiro para sua escola!

2010. Chegou sua vez de ir ao NR!Com 57 anos de experiência o NR tem sido um aliado de escolas em todo o Brasil que sabem da seriedade e competência de nosso trabalho e este tem sido um forte argumento para fidelizar seus alunos.Aproveite o momento para escolher a melhor data com as melhores condições para vir ao NR em 2010.

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les são digitais, ágeis e conectados, dedicam sua atenção a vários temas si-

multaneamente, gostam de tra-balhar em grupo, priorizam a linguagem das imagens, veem o mundo como um videoclipe e, talvez por isso, não conseguem se concentrar em um mesmo assun-to por muito tempo. Alguns os chamam de geração Y; outros, de geração Net. O nome não impor-ta: o certo é que estão logo aqui, em nossas salas de aula. São os alunos de hoje, com os quais a es-cola ainda não aprendeu a lidar.

O diagnóstico desse novo desafio vivido pelos educadores

tem sido dado por pesquisadores das mais distintas vertentes. Em recente passagem pelo Brasil, o psicólogo norte-americano Ho-ward Gardner, da Universidade de Harvard, chamou a atenção para o abismo entre o que se passa na vida dos jovens e o que acontece na escola. Nas pala-vras do pesquisador, conhecido mundialmente por ter desenvol-vido a Teoria das Inteligências Múltiplas, ao entrar em uma instituição escolar, o jovem sente-se como em um túnel do tempo, no qual volta cem anos, para tentar aprender com um professor que fala uma língua diferente da sua.

GEração

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capa como reter a atenÇÃo do aluno

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Vale a pena refletir, por exem-plo, sobre o papel das redes sociais. O crescimento vertiginoso de redes como Orkut, Facebook e Twitter, que promovem o encontro entre pessoas pelos mais diferentes tipos de afinidade, deve ser minuciosa-mente acompanhado por qualquer pessoa que queira entender melhor o universo dos jovens e participar dele, como é o caso do professor. “Certamente, os alunos de hoje acessam mais redes sociais do que leem livros, e isso precisa ser leva-do em conta na escola”, defende Howard Gardner. Livros são so-litários; redes são essencialmente

Para quem acha a opinião exa-gerada, basta prestar atenção aos sintomas desse verdadeiro “mal du siécle” da educação contem-porânea: abandono (na rede pú-blica), indisciplina, desinteresse e, no final das contas, problemas de aprendizagem. “Um número importante de jovens e adolescen-tes não se apropria dos conteúdos que lhes transmitimos. São jovens acostumados a ser bombardea-dos por constantes estímulos dos meios de comunicação e situações nas quais sempre acontece alguma coisa. Longe de encontrarem uma relação entre o que ocorre fora e dentro da escola, eles acabam por descobrir que o que se ensina na escola tem pouca relevância para sua vida”, afirma a pesquisadora Cristina Alonso Cano, da Uni-versidade de Barcelona, uma es-tudiosa do assunto.

O que autores como Gardner e Cristina propõem, em última instância, é que é preciso dar nova dimensão a situações cada vez mais presentes em sala de aula. Enquanto na escola que predomi-nou até o fim da década de 1970 era habitual a leitura de longos e densos textos e as aulas seguiam rigorosamente o mesmo esquema – professores falando, alunos ou-vindo –, hoje os docentes sentem dificuldade de manter os alunos concentrados e de fazê-los ler com atenção textos simples.

Isso não ocorre porque es-tamos sempre diante de jovens “que não querem nada com nada”, como muitas vezes pensa o pro-

fessor – embora isso também aconteça. O que se passa pode ser entendido como a necessidade de vencer um abismo geracional, na visão de Cristina Alonso Cano. Em poucas palavras, enquanto nós, adultos, fomos letrados em uma sociedade analógica, os jo-vens cresceram em um ambiente digital, com todas as consequên-cias que podem advir desse fato: a enorme facilidade de acesso rá-pido à informação, os recursos linguísticos não verbais e multi-mídia, os estímulos à interação em redes sociais, apenas para ficar nos exemplos mais óbvios.

o que é a teoria Das inteLiGÊnCias MúLtiPLas?

Criada por Howard Gardner em 1985, a Teoria das Inteligências Múltiplas é uma alternativa ao conceito de inteligência como capacidade inata, geral e única, que permite aos indivíduos um desempenho maior ou menor em qualquer área de atuação. A insatisfação de Gardner com a ideia de quociente de inteligência (Q.I.) e com visões unitárias de inteligência, que focalizam sobretudo as habilidades importantes para o sucesso escolar, levou-o a redefinir a inteligência à luz das origens biológicas da competência para resolver problemas.

Por meio da avaliação das atuações de diferentes profissionais em diversas culturas e do repertório de qualidades dos seres humanos na busca de soluções, culturalmente apropriadas, para seus problemas, Gardner trabalhou no sentido inverso ao desenvolvimento, retroagindo para eventualmente chegar às inteligências que deram origem a tais realizações.

Psicólogo construtivista muito influenciado por Jean Piaget, Gardner distingue-se de seu colega de Genebra por este afirmar que todos os aspectos da simbolização partem de uma mesma função semiótica, enquanto ele sustenta que processos psicológicos independentes são empregados quando o indivíduo lida com símbolos linguísticos, numéricos, gestuais ou outros.

Segundo Gardner, uma criança pode ter desempenho precoce em uma área (o que Piaget chamaria de pensamento formal) e estar na média ou mesmo abaixo dela em outra (o equivalente, por exemplo, ao estágio sensório-motor). Ele sugere ainda que as habilidades humanas são organizadas não de forma horizontal, e sim vertical, e que, em vez de haver uma faculdade mental geral, como a memória, talvez existam modos independentes de percepção, memória e aprendizado em cada área ou domínio, com possíveis semelhanças entre as áreas ou domínios, mas não necessariamente uma relação direta.

IntelIgêncIas MúltIplas

ao redor do Mundo. no MaiS novo

Livro Do ESCritor,

pubLiCaDo pELa artMED,

gardner é coautor de

ensaios a respeito do

tema em parceria com

Jie-Qi chen, Seana moran,

entre outros colaboradores.

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participativas. O que combina mais com os jovens? Não é preciso pensar muito.

Para nós, os analógicos, com-parar livros e redes digitais pode parecer um sacrilégio, um sintoma de insanidade que clama por um exorcista, como se faria na Idade Média. No entanto, é preciso en-carar as coisas como elas são. É mais fácil encontrar a cabeça de seu aluno em um encontro virtual do que na biblioteca, mergulhada em livros. Não se trata de ignorar a importância da leitura e do li-vro nem de deixar de estimular a leitura, mas de recontextualizá-la nesse universo que assusta e fas-

capa como reter a atenÇÃo do aluno

cina. Tornar a leitura um prazer coletivo fará mais sucesso do que apresentá-la como exercício soli-tário do pensamento, certamente.

Futurismo ou não, o fato é que uma nova maneira de pensar o mundo e o conhecimento está em pauta. “Educar no século XXI exige que trabalhemos com múltiplas lin-guagens, e formar leitores e autores em um mundo digital implica a necessidade de educar com base na multiplicidade de linguagens e multialfabetismos”, diz Gardner.

Para o autor, a escola e as próprias salas de aula deveriam ser reformatadas para atender

ao dinamismo do oceano de informações pelo qual as novas gerações navegam. Segundo ele, pesquisas mostram que os jovens não conseguem reter a atenção por mais de oito minutos em um mesmo assunto. Dessa maneira, as aulas tradicionais estão mesmo fadadas ao fracasso.

“As crianças de hoje vivem um meio de aprendizado não linear, e essa não linearidade acaba por criar resistência à antiga organização for-dista da escola, minando de certo modo a cumplicidade que deveria haver entre os alunos e ela”, avalia o educador e escritor Paulo Bedaque. “Nossos alunos frequentam escolas que basicamente funcionam como as de um século atrás; eles não têm como escolher a própria trajetória, enquanto lá fora o mundo oferece essa flexibilidade”, compara. Por isso, diz, a prática escolar mostra que aulas de uma hora ou mesmo de 50 minutos não são eficientes como antes. Até porque, chama a atenção, a noção de tempo tam-bém é relativa: 10 minutos para os jovens de hoje têm um significado diferente do que para os adultos. “O tempo psicológico não é o mesmo para uma criança de hoje e para outra que viveu há algumas décadas”, considera.

Para quem lamenta tudo isso, cuidado. Há muito de virtude nesse novo mundo. A agência holandesa de comunicação Ke-sie trabalhou por uma década justamente sobre as diferenças geracionais para tentar entender o que ocorre com os jovens de hoje. O resultado gerou um li-

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E=M*C 2

De repente, uma mola do carro de Rubens Barrichello solta e se choca contra a cabeça de Felipe Massa, que, inconsciente, perde o controle do carro e bate em alta velocidade. Qual a velocidade da peça? Qual foi sua trajetória? Por que, nas imagens da televisão, parece que a mola está indo para trás, mas na verdade vai para a frente, em velocidade menor do que a do carro de Massa?

É similar a uma notícia de jornal, veiculada no mundo todo e lida por quase todos os jovens. Mas não é. Trata-se de uma aula de Física recentemente apresentada nas unidades Pueri Domus Aldeia da Serra e Itaim pela professora Vivianne Moraes Alves, prendendo a atenção de dezenas de jovens de Ensino Médio que aprendiam muito, sem perceber, sobre as leis do movimento.

Quem pensa que a utilização de um episódio real e de interesse do aluno foi a única estratégia dessa aula de sucesso engana-se. O mote foi apenas o primeiro passo. Uma lousa eletrônica com recursos interativos on-line, a montagem de grupos de discussão e a variação de ritmos de trabalho foram outros ingredientes empregados pela professora que mostram, na prática, como a escola pode acompanhar as mudanças e levar os jovens a se concentrar, se motivar e aprender.

Para a professora Vivianne, a necessidade de repensar a dinâmica da aula é um dado da realidade, contra o qual não adianta lutar. “É evidente que uma aula não pode ter um único ritmo”, ensina. Ilustrando na prática as ideias formuladas por Gardner, a aula dada por ela incorpora três elementos cruciais para uma nova perspectiva de educação das gerações atuais: dinamismo, múltiplas linguagens, participação. É como se fossem muitas aulas em uma só, sempre com intensa atividade do grupo. “Os jovens gostam muito de participar, e isso deve sempre ser levado em conta pelo professor”, afirma a docente, que também é autora de materiais didáticos do Pueri Domus Escolas Associadas.

ConExãouMa auLa na veLoCiDaDe Da FórMuLa 1

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k vro premiado, cujo título pode ser traduzido como Geração Einstein: mais ágeis, mais rápidos e mais so-ciais. Para os realizadores do estu-do, essa geração nasceu em uma época de prosperidade, o que lhe incutiu confiança no futuro e em suas possibilidades pessoais.

Nesse trabalho, detalhado por Cristina Alonso Cano em um even-to em São Paulo, a agência aponta algumas características que ajudam a entender por que os jovens pen-sam tão diferente e que também lhes abrem as portas do futuro. Por exemplo, eles estão acostumados com a incerteza e com a mudan-ça. Colaboram e compartilham ideias naturalmente. Necessitam expressar o que pensam e sentem. Valorizam a amizade e dão im-portância aos sentimentos. Estão acostumados a resolver problemas e a encontrar o que buscam de forma fácil e rápida. Não apenas consomem informação, como os indivíduos das gerações anteriores, mas também mudam e dissemi-nam informações. Por tudo isso, a agência espera um grande protago-nismo e mudanças importantes e positivas no comportamento social nas próximas décadas, quando se-remos liderados por esses que hoje mal compreendemos e tentamos educar. Que tal pensar sobre isso?

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colÉGio maria, Jaboticabal (sp)estudo de caso

inha confiança na es-cola é ainda maior.” Assim a funcionária

pública Daniela Ribeiro Ama-ral, 39 anos, define a sensação que carrega consigo depois de deixar a última reunião de pais promovida pelo Colégio Maria, de Jaboticabal (SP), em outubro.

Mãe de Nicole, aluna do 6º ano do Ensino Fundamental II, ela faz parte de um grupo de 120 pais que aceitaram o convite para conhecer um pouco mais de perto as ferramentas e métodos que os professores da escola associada ao Pueri Domus utilizam em sala de aula nas mais diversas disciplinas.

É a primeira vez que a institui-ção adota a iniciativa, cuja propos-

O DESAfiO DE Abrir AS portaS

“mproJEto ConviDa oS paiS a SE CoLoCar no LuGar DoS fiLhoS noS banCoS Da SaLa DE auLa. Além DE EStrEitAr A rElAçãO ENtrE A EScOlA E A fAmíliA, A iNiciAtiVA cONtribui pArA O DESENVOlVimENtO EDucAciONAl DOS AluNOS

ta é estreitar ainda mais a relação entre a família e a escola. Além de ter acesso às notas e aos relatórios das atividades dos filhos no último bimestre, os pais foram convida-dos a conhecer melhor o universo em que os estudantes estão inseri-dos ao interagir com os professo-res em uma aula especial que teve como tema “Como educar meu filho no olho do furacão?”.

Segundo Maria Teresa Mon-tans Bellodi Gerbasi, diretora e mantenedora do Colégio Maria, as atividades para os pais foram planejadas cuidadosamente e di-recionadas conforme o estágio em que seus filhos se encontram na escola. Com os pais dos alunos da Educação Infantil, por exem-plo, “A metamorfose da borbole-

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ta” foi o assunto que permeou a reunião. Em conjunto, eles explo-raram a importância das etapas da vida de uma borboleta como ana-logia às transformações naturais que todo ser humano vivencia.

No Ensino Fundamental I, fo-ram trabalhados dois temas: “A geometria e seu contexto”, que mos-trou como os alunos são levados a compreender a disciplina por meio da face humana e suas alterações, explorando aspectos do humor, e “A dança da cadeira com tabuada”, na qual os ensinamentos da matemá-tica foram apresentados de maneira lúdica, divertida e instrutiva.

Os responsáveis pelos alunos do Ensino Fundamental II, ao estuda-rem “A estrutura do planeta Terra”,

tiveram contato com as dinâmicas existentes no planeta mediante ex-periências físico-químicas simples que mostraram os movimentos das placas tectônicas e sua interferên-cia nas alterações climáticas e no relevo. Além disso, assistiram a ví-deos e fizeram a leitura de mapas e charges sobre o contexto da guerra e seu reflexo no mundo contem-porâneo, na aula “Como aprender sobre a Primeira Guerra Mundial”.

Já os pais dos alunos do Ensino Médio debateram sobre os “Gêneros narrativos com aplicação no conto ‘Um apólogo’, de Machado de As-sis”. Durante a aula, os convidados tiveram contato com as diversas for-mas de construção textual, do gêne-ro descritivo ao dissertativo, e com o uso de aperfeiçoamentos estilísti-cos para a redação nos vestibulares.

“Foi desafiador e ao mesmo tempo muito significativo poder mostrar com transparência o tra-balho desempenhado por toda a equipe do colégio. Abrir as portas com transparência e seriedade au-xilia na construção de uma escola mais participativa tanto do ponto de vista de gestão como do modelo pedagógico”, afirma Maria Teresa.

Juntos na construção do futuroA equipe pedagógica do Co-

légio Maria e os professores con-taram com uma ajuda especial na elaboração das atividades do Ensi-no Médio: os próprios alunos. Eles foram divididos em equipes, que atuaram desde a recepção até a des-pedida dos pais. “Ao estabelecermos essa relação entre os responsáveis, os filhos e a escola, nós interferimos positivamente na educação e desen-volvimento dos alunos. Todos têm a ganhar”, pontua a mantenedora.

E foi pensando nesse resultado que Alberto Serra Filho, assessor pedagógico do Pueri Domus Es-colas Associadas e que atende esco-las nos Estados do Ceará, Macapá, Maranhão, Piauí, Paraíba, Per-nambuco, Rio Grande do Norte e São Paulo, propôs a atividade ao Colégio Maria. A iniciativa foi tão bem-aceita que Alberto e os outros assessores poderão levar a proposta para as outras instituições associa-das ao PDEA que tiverem interesse.  

“Além de fortalecer a proposta da escola perante os pais e a co-munidade, a instituição se mostra preparada para formar o cidadão do século XXI, ao colocar o aluno como protagonista de sua histó-ria. Ele deixa de ser mero espec-tador e passa a ser colaborador na construção de seu conhecimento”, defende Serra Filho.

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inda que a inadimplên-cia represente uma das principais vilãs das ins-

tituições de ensino do país, sua incidência já está incorporada à realidade da gestão de escolas de todos os níveis. No Brasil, a Confederação Nacional dos Es-tabelecimentos de Ensino (Con-fenen) estima índice de 15%, em média, com a recorrência de mais de 500 mil alunos inadimplen-tes. Mesmo que a taxa sofra gran-de influência das universidades, a contribuição dos demais estabele-cimentos não é pequena.

Em São Paulo, por exemplo, o índice de mensalidades em atraso nos ensinos Fundamental e Mé-dio, entre janeiro e setembro de 2009, foi de 9,09%. O número é

GEStão ESCoLar poDE MiniMiZar prEJuíZoS finanCEiroS cAuSADOS pElAS AltAS tAxAS DE iNADimplêNciA NO SEtOr EDucAciONAl

SoLuçõESriSCo rEaL

mercado inadimplência

0,86 ponto percentual maior do que o indicador do mesmo perí-odo do ano anterior. O panora-ma paulista também descreve a situação nacional, que, em menor ou maior proporção, atinge todos os Estados.

O aumento dos casos de inadimplência, segundo o presi-dente do Sindicato dos Estabe-lecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (Sieeesp), Benjamin Ribeiro da Silva, foi intensifica-do com a crise econômica mun-dial. “Em casos de dificuldades fi-nanceiras, a educação é a primeira conta a ser deixada de lado”, relata.

Em sua opinião, a atitude é favorecida pela legislação. “A falta de pagamento da conta de

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E SEtEmbrO DE 2009

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telefone resulta no corte da li-nha. No entanto, a não quitação da mensalidade escolar não per-mite a proibição da entrada do aluno no colégio ou na universi-dade”, compara.

Para Silva, a diminuição dos casos de inadimplência só será efetiva com a transformação da realidade. “Atualmente, é preci-so concluir o ano para conseguir romper o contrato com o mau pagador, uma espera que inten-sifica ainda mais as dívidas e os prejuízos para a instituição de en-sino. O ideal seria que esse prazo fosse reduzido para, pelo menos, seis meses”, sugere o presidente do Sieeesp.

No entanto, como essa trans-formação não depende única e ex-clusivamente dos gestores, o ge-rente executivo da Consultoria Educacional Meira Fernandes, Vanderlei Ferreira Machado, su-gere que o setor não limite seus es-forços a essa temática. Apesar de não existir nenhum método que exclua em definitivo a inadim-plência nas gestões escolares, ele garante que há muitas ações in-

ternas que podem minimizar os prejuízos financeiros. “O segre-do está na organização de uma gestão mais estratégica”, enfatiza.

De um lado, ações diretas para a “punição” dos maus pa-gadores. De outro, medidas in-diretas capazes de minimizar a proliferação dos índices de inadimplência. O primeiro pas-so, porém, está na seleção dos futuros alunos. “Antes de fechar o contrato de prestação de ser-viço, é preciso consultar o per-fil financeiro do possível clien-te. Só assim se pode identificar se ele terá ou não condições de cumprir com o pagamento”, re-lata Machado.

O vice-presidente da Confenen, Paulo Antônio Gomes Cardim, partilha com o consultor a opi-nião e cita o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) como alterna-tiva nesse processo. “A própria confederação mantém um banco de dados para que as instituições consultem o perfil de seu futuro

pagador. Caso prefiram, também podem recorrer ao SPC”, aponta.

Os riscos de inadimplência, de acordo com o professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Ricardo Araújo, são maiores quando os pais dos alunos já possuem dívidas no mercado. “É preciso ainda con-siderar a renda da família. Os gastos com a educação não po-dem ser superiores a 20% dessa receita”, explica.

As ações de prevenção tam-bém incluem campanhas que es-timulem a adimplência. É o que aponta o gerente da Meira Fer-nandes. “É fundamental que as instituições incentivem os pais dos alunos a pagar as mensalida-

Site:www.confenen.com.br

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to, é importante ter as fichas ca-dastrais dos alunos sempre atua-lizadas”, aponta.

Caso a dívida complete 90 dias, as instituições de ensino podem incluir o nome dos pais dos alunos nas listas de maus pa-gadores. “A medida deve, sim, ser recorrida, desde que o consumi-dor seja comunicado por carta registrada”, diz Machado. “Mui-tos consumidores, para preserva-rem seu nome na praça, recor-rem à negociação ou até mesmo à quitação da dívida. Dessa forma, além de trazer resultados efeti-vos, a atitude é amparada pela legislação”, acrescenta.

No fim do ano, outra medida que pode favorecer a escola é a não renovação do contrato de presta-ção de serviço. “Se identificada a dificuldade no cumprimento dos pagamentos, é recomendável que a instituição não prolongue essa relação. Caso contrário, os prejuí-zos financeiros poderão ser ainda maiores”, diz Silva.

Quem paga o prejuízo? Não é novidade que a inadim-

plência se reverta em prejuízos fi-nanceiros para instituições de en-sino. Portanto, as estratégias da gestão também devem incluir o

setor contábil. “O ideal é que to-das as escolas trabalhem com uma margem no fluxo de caixa com-patível com a média nacional ou regional de inadimplência no se-tor”, recomenda Araújo. Segundo o professor de finanças, os lucros não podem ser inferiores ao índi-ce de mensalidades em atraso. “É preciso prever os riscos e se ante-cipar a eles”, acrescenta.

Repassar os custos única e exclusivamente para os pais que pagam a mensalidade em dia, no entanto, pode não ser a solução mais eficiente. Isso porque a me-dida esbarrará em outro grande desafio do setor: a concorrência. “O aumento no valor da anuidade pode levar bons pagadores a pro-curar opções mais baratas”, afir-ma Machado, que sugere a adoção de seguros institucionais. “Em ca-sos de desemprego, por exemplo, o benefício auxiliará tanto aluno como instituição. Além do mais, o valor da iniciativa é muito pe-queno, cerca de R$ 18 anuais, importância que pode ser facil-mente incorporada na mensali-dade ou na matrícula”, descreve.

Outro quesito que não pode ser esquecido nesse processo é a qualidade do ensino. “Afinal, não é só o preço que segura um aluno dentro de uma instituição”, con-clui Machado.

des em dia. Por que não dar des-contos para aqueles que quita-rem o pagamento antes do prazo ou adiantarem a anuidade?”, re-comenda. Ele também aponta o uso de mensagens por celular como lembrete do vencimento da próxima fatura. “Isso pode evitar a incidência de atrasos por descuido.”

Acompanhamento de pertoParalelamente à prevenção,

é preciso ainda monitorar a si-tuação de todos os inadimplen-tes. “O contato com os pais deve ser realizado a partir do quinto dia do atraso, reiterado no 15º e também no 30º”, afirma Ma-chado, que destaca o aumento das dificuldades de negociação com o decorrer do tempo. “As primeiras duas cobranças devem ser relacionadas por e-mail ou carta. Quando a dívida comple-tar um mês, o ideal é que o con-tato seja mais intimista, isto é, por telefone. Para isso, no entan-

mercado inadimplências

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terezinha leardini branco

intor, escultor, arquiteto e engenheiro, Leonardo da Vinci foi, sem dúvida, um

dos talentos mais versáteis do Re-nascimento. Talvez essa mesma versatilidade tenha inspirado uma educadora da região da Grande São Paulo a “emprestar” o nome do artista ao colégio que dirige.

A trajetória de Terezinha Leardini Branco ligada à edu-cação começou ali mesmo, em Mauá (SP), em uma acanhada e improvisada sala de aula. “Lem-bro-me do meu primeiro dia. Cheguei feliz à escola que se re-sumia a um único cômodo. Lá, fui apresentada a uma professora também chamada Terezinha. Até hoje consigo vê-la em meus pen-

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O mESmO QuADrO, MúLtipLaS paiSaGEnS

samentos, ensinando crianças de 1º a 4º anos, tamanha foi sua de-dicação”, relembra, emocionada.

Logo que Mauá foi escolhi-da pelo governo do Estado para receber sua primeira escola pú-blica, Terezinha conheceu um colega de classe. Ambos tinham apenas 8 anos naquela época. “Ele vinha assistir às aulas com a roupa toda engomada e calçado com sapatos, enquanto a grande maioria tinha os pés descalços. Era um contrassenso, mas aquele menino me ensinou, desde cedo, que a vida poderia ser diferente daquela realidade.”

Aos 15 anos, Terezinha foi trabalhar em uma indústria e

história do mantenedor

toDa obra DE uM GranDE artiSta poDE SEr obSErvaDa DE MuitaS pErSpECtivaS.

A trAJEtóriA DE tErEZiNhA lEArDiNi brANcO NãO fOgE A ESSE cONtExtO. cOm

ExpEriêNciAS DE ViDA DiVErSificADAS, A pEDAgOgA rEVElA cOmO é pOSSíVEl

trANSfOrmAr rEAliDADES

transferiu os estudos para o pe-ríodo noturno. Durante o tem-po livre, no horário de almoço, passou a redigir cartas para os funcionários do chamado “chão de fábrica”, muitos deles migran-tes das regiões Norte e Nordes-te que tentavam a sorte em São Paulo. Poucos sabiam escrever o próprio nome; assinavam os ho-lerites com o polegar.

“Essa situação foi se arraigando em mim tão fortemente que mon-tei dentro da indústria, com a aju-da de um amigo, uma escolinha para alfabetização dos operários. Nada nem ninguém jamais con-seguiu superar a sensação que tive ao ver aquelas pessoas esbranqui-çadas pelo pó de zinco que ensa-

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De volta às origensNo fundo, Terezinha sabia

que ainda tinha uma missão a cumprir no Brasil: montar a pró-pria escola e levar adiante ensina-mentos e princípios de vida que, de alguma forma, contribuíssem para a formação cidadã. Após al-guns anos, o estágio do marido se encerrou e ela pôde retornar ao país para concretizar o sonho. “Fomos crescendo feito bambu. Da pequena pré-escola com 400 m² passamos para um prédio com 4.800 m². Fomos os pioneiros no trabalho com inclusão de crian-ças especiais, com ensinamentos que eu trouxe também da Itália.”

Em 2001, o Colégio Leonar-do da Vinci se associou ao Pueri Domus Escolas Associadas. “Após uma longa pesquisa entre os ma-teriais didáticos e programas edu-cacionais oferecidos no mercado, a opção se revelou em perfeita con-sonância com a filosofia e linha de trabalho que adotamos, basea-da no construtivismo. Sem dúvi-da, foi uma excelente escolha, que nos ajudou, e muito, a aumentar o prestígio que o Colégio Leonardo desfruta dentro do Grande ABC”, conta a educadora.

Nos últimos seis anos, Tere-zinha vem travando, com suces-so, uma violenta batalha contra

terezinha leardini branco

O mESmO QuADrO, MúLtipLaS paiSaGEnS

cavam, com suas camisas e calças rotas, assinarem pela primeira vez o nome nos recibos de pagamen-to”, comenta a educadora.

Era o impulso que faltava para que ela se dedicasse de vez ao magistério. Nas viagens para Santo André, onde cursou pe-dagogia, o mesmo menino dos tempos de infância continuava a acompanhá-la. Não demorou muito e a amizade tornou-se na-moro e, então, casamento.

Depois de formada, era preciso arregaçar as mangas e levar adiante a missão em que acreditava. Lecio-nou por meses em uma escola es-tadual muito similar àquela de sua infância, com pouca infraestrutu-ra, cercada por ruas de barro e en-chentes que dificultavam a vinda dos alunos nos meses mais chuvo-sos. Passado algum tempo, o mari-do, que trabalhava em uma indús-tria de pneus, recebeu proposta de estágio em terras italianas.

Com um filho de 4 meses, Te-rezinha lançou mão de seu costu-meiro ímpeto, arrumou as malas e partiu rumo ao país da bota. No Velho Continente, conhece-ria de perto a metodologia criada por Maria Montessori há mais de cem anos. “Fiz um curso de espe-cialização e em seguida fui convi-dada para dar aulas em uma esco-la que era um antigo monastério de Milão. Foi lá que Montesso-ri pessoalmente montou a esco-la com seu método, logo depois de ter iniciado os trabalhos em Roma. Tenho recordações muito agradáveis dessa época”, diz.

o câncer. “Como eu digo, é uma doença que gostou tanto de mim que não quer me largar. Já passei por duas cirurgias grandes, ses-sões de quimioterapia e adminis-tração de medicamentos fortes, perda de cabelo etc.”, revela.

O abatimento natural que decorre de uma situação como essa, entretanto, não tem lu-gar no dia a dia da educado-ra. Questionada sobre a recei-ta para manter acesa a paixão pela educação e pela vida, ela diz: “Nada me abala. Toda ma-nhã pinto meu rosto, me arrumo bem bonitinha, pego meu carro e venho para a escola, que é mi-nha terapia, minha alegria. São meus alunos que me energizam. São meus professores e funcioná-rios que me levam sempre para frente e para o alto. O Colégio Leonardo da Vinci é uma grande realização pessoal, que só acre-dito que atingi quando caminho sozinha pelas escadas e corredo-res em finais de semana e ouço o som de meus passos me sauda-rem: ‘Oi, Terê’”.

Sem contar que aquele meni-no dos tempos de infância, todo arrumadinho, com roupas en-gomadas, continua sempre a seu lado, há exatos 53 anos, dos quais 36 de casamento.

envie a suGestão

De sua história

para o e-mail:

[email protected]

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comportamento como a mídia retrata o Jovem na escola

á pouco tempo, foi o ado-lescente Zeca – tempera-mental, de família rica,

que no colégio adotava uma postura agressiva com os pro-fessores e colegas. Agora, é a vez de Rafaela – menina prodígio, contestadora, que, por conviver muito mais com adultos do que com crianças de sua faixa etá-ria, chega a inibir a própria mãe com comportamentos considera- dos precoces.

Ambos os personagens com-põem as últimas tramas da no-vela das oito da Rede Globo de Televisão e, embora tenham ca-racterísticas bastante diferentes, são motivo de polêmica entre pais e educadores, pois reprodu-zem na telinha um suposto retra-to do que ocorre no cotidiano da sociedade.

Maria Cristina Palma é mes-tre em linguagem e pesquisadora do Núcleo de Estudos de Tele-novelas da Universidade de São

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frEQuEntEMEntE a MíDia traZ à tona pErSonaGEnS CuJoS CoMportaMEntoS CauSaM poLêMiCa EntrE paiS E profESSorES. cOmO liDAr cOm OS EfEitOS DESSE rEtrAtO EStErEOtipADO NO cOtiDiANO DA SAlA DE AulA?

QuANDO A vIda imitA A artE

Paulo e explica por que aborda-gens como essas causam tanto impacto na sociedade. “A televi-são é o meio de comunicação de massa de maior penetração em todas as classes sociais e a no-vela é um gênero ficcional que trabalha estereótipos com o in-tuito de provocar a reflexão sobre determinados temas. Ou seja, ao assistir a situações-limite de con-flito propostas pelos folhetins, o telespectador pode avaliar e pon-derar certos comportamentos sem ter vivido aquela situação, apenas pelo imaginário.”

A origem de comportamen-tos como os do jovem Zeca, por exemplo, pode estar em uma fa-mília que não estabelece limites. “Há pais que incentivam tais atitudes, chegam a recompen-sar os filhos sem nenhum sen-so de respeito pelas pessoas, e o professor acaba sentindo os efeitos dessa falta de educação, quando determinados valores deveriam vir de berço”, alerta

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Roberto Malacrida, publicitá-rio e professor da Universidade Metodista de São Paulo.

O personagem de Caminho das Índias serviu para caracteri-zar claramente o bullying nas escolas. Para a coordenadora do Ensino Médio do Pueri Domus, Unidade Itaim, Ana Lúcia Par-ro, as abordagens podem ser um ponto de partida para que esses temas sejam discutidos em famí-lia, entre amigos ou nas escolas. “Incluímos na grade curricular do Pueri, para os alunos do En-sino Médio, a disciplina Mídias, que busca exatamente comparar informações de diferentes meios a fim de formar alunos críticos e não passivos diante dessa ex-posição permanente que nos colocam os meios de comunica- ção”, conta.

A televisão dita comportamento? Personagens e situações como

os abordados nas novelas podem ser instrutivos se forem encara-dos como modelos que devemos ou não seguir. “Não haverá pre-juízo na relação professor-aluno, nem entre pais e filhos, se houver clareza e coerência nos papéis e intervenções de cada um, ensi-nando e aprendendo a estabele-cer limites”, afirma Ana Lúcia.

Maria Isabel Andriani é pro-fessora de História no Ensino Fundamental I da rede públi-ca de São Bernardo do Campo (SP) e conta que seus alunos comentavam sobre a conduta de Zeca, reconheciam seu mau comportamento e até se mos-

travam consternados quando ele passava impune.

Ela considera construtivo quando a televisão exibe exem-plos para serem abordados em sala, mas acha que seria mais conveniente se eles frisassem o lado moralmente correto. “Mui-tas vezes, o que é mostrado é uma escola que não existe. Exagera-se na aparência e nas condutas ruins em vez de evidenciar bons comportamentos”, completa.

Em meio aos estereótipos tra-zidos pela mídia, há que se obser-var a repercussão desses exemplos e de que maneira eles refletem diretamente na sociedade. Maria Cristina Palma recomenda que a escola aproveite a oportunidade e discuta as situações colocadas nos folhetins justamente para desconstruir criticamente o que é mostrado pelo estereótipo.

Maria Isabel Andriani vai ao encontro dessa sugestão e diz que usa muito a TV tanto para demonstrar exemplos como para evidenciar os pontos positi-vos de informação que ela traz. “É muito útil quando são exibi-das imagens de outras culturas e hábitos, pois posso trabalhar conteúdos de minha disciplina. Na época de Caminho das Índias, os hábitos e costumes dos india-nos chocaram o 5º ano. E agora é a vez de Jerusalém despertar o interesse deles por novos povos e culturas”, complementa.

A respeito do poder que a TV exerce na sociedade, a professora

CoMprEEnDE toDaS aS forMaS

DE atituDES aGrESSivaS,

intEnCionaiS E rEpEtiDaS, que ocorrem

sem motivação evidente, adotadas

por um ou mais estudantes contra outro(s), causando

dor e angústia, e executadas

dentro de uma relação desigual de poder. Fonte:

Associação Brasileira multiprofissional de proteção à Infância

e Adolescência (Abrapia).

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comportamento como a mídia retrata o Jovem na escola

justifica: “Tudo o que é visual regis-tra melhor. O ideal, então, seria que tivéssemos mais conteúdo informa-tivo na TV, já que ela está vincula-da ao lazer e o telespectador absorve mais facilmente”.

Efeitos contemporâneosA presença dos meios de comu-

nicação no dia a dia da população é maciça e o avanço da tecnologia contribui para que a informação chegue ao espectador ou leitor qua-se ao mesmo tempo em que os fatos acontecem. “Esse ritmo acelerado faz com que as pessoas busquem um

resultado também imediato, que lhes dê sucesso, um bom emprego e condições de consumo. Por isso, o objetivo passou a ser o diploma e não mais o processo de aprendiza-gem como um todo”, afirma Marli dos Santos, jornalista e professo-ra da pós-graduação lato sensu em Comunicação Jornalística da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Marli e Roberto Malacrida concordam que não se podem atribuir tais situações de indisci-plina a uma influência da mídia. Para eles, a televisão é uma in-dústria cultural que recorre a es-tereótipos para trabalhar questões que ocorrem na sociedade; caso contrário, não causariam identi-ficação nem polêmica.

Sugestões de condutaPara Maria Isabel, o professor

deve auxiliar os pais na imposi-ção de limites e noções de cer-to e errado quando depararem com posturas semelhantes às de Rafaela ou às de Zeca.

“A TV tanto informa como desinforma. Cabe a nós filtrarmos a programação à qual as crianças têm acesso e chamar a atenção de-las para os bons exemplos, canali-zar o lado crítico dos personagens para o bem e não para o mal”, aconselha a professora.

Outra possibilidade, além do diálogo e sem precisar optar por atividades recorrentes valendo nota, é retomar com essa geração certos valores que se perderam com o tempo.

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ConhecimentosOlimpíada Pueri Domus Escolas Associadas

Parabéns a todos os participantes!Chegamos ao fi nal da 2ª Olimpíada Conhecimentos em Ação, Pueri Domus Escolas Associadas.É com satisfação que agradecemos o empenho de todos que participaram desse evento. É sempre motivador perceber o envolvimento das escolas, dos professores e dos alunos.Seguem os vencedores:

Vencedores Nível 1

AlunaMariana de Melo Albanaz – Escola Favo de Mel, Petrópolis/RJ

ProfessoraAna Cleide da S. José – Colégio Luce Prima, São José dos Campos/SP

EscolaEscola Favo de Mel, Petrópolis/RJ

Nível 2

Aluno Leonardo Diego Madona Vaz – Colégio Maria Imaculada, Jacareí/SP

ProfessoresAlessandra Godoi – Escola Alegria de Crescer, Capivari/SP Viviane Sampaio – Colégio Geração Raízes, Araçatuba/SP José Arnaldo Junior – Colégio Luce Prima, São José dos Campos/SP

EscolaCentro Educacional Gênesis, Espírito Santo do Pinhal/SP

Nível 3

AlunaTalissa Oliveira Generoso – Escola Pueri Domus, Araraquara/SP

ProfessoresMônica A. F. Araújo – Colégio Cecília Caçapava Conde, Caçapava/SP Hilton Bruno P. Viana – Escola Aquarela, Macapá/AP

EscolaEscola Pueri Domus, Araraquara/SP

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GestÃo/marketinG a sustentabilidade nos modelos de GestÃo

uando mudamos para a chácara onde hoje fun-ciona a Viverde, percebe-

mos que a qualidade de vida de nossa família e o crescimento de nossos filhos se deram de maneira muito agradável e que a natureza do local e os animais contribuí-ram para isso. Então, surgiu a ideia de uma escola voltada para questões ambientais e que tivesse também um modelo de gestão completamente sustentável.”

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vErDEQuE NãO SAi DEO

MoDaa SuStEntabiLiDaDE DEixou DE SEr uM DifErEnCiaL para Entrar DE vEZ no Dna DaS orGaniZaçõES. é O QuE gArANtEm cONSultOrES DE mErcADO. mAS QuAl O limitE ENtrE O SimplES DiScurSO E A ADOçãO DE práticAS Em prOl DO mEiO AmbiENtE?

Assim Sérgio Leite da Silva, proprietário e diretor financei-ro da Escola Viverde, parceira do Pueri Domus Escolas Asso-ciadas (PDEA), localizada em Bragança Paulista, município distante 89 quilômetros da ca-pital, descreve os motivos que impulsionaram não apenas a criação da instituição, mas tam-bém a incorporação dos prin-cípios sustentáveis ao DNA do modelo de gestão.

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Nesse sentido, a trajetória da Vi-verde pode ser considerada, de certa forma, vanguardista, sobretudo no cenário educacional, onde boas prá-ticas em favor do meio ambiente ten-dem, em geral, a estar mais vincu-ladas aos ensinamentos difundidos em sala de aula, ou seja, ao projeto pedagógico propriamente dito.

Fundada em 1991, antes mesmo da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvol-vimento, que foi realizada no Rio de Janeiro e ficou conhecida mundial-mente como Eco-92, a escola teve de romper paradigmas para levar adiante a proposta. O mais interes-sante é que, naquele momento, nem sequer tinha-se conhecimento sobre o termo “sustentabilidade”.

“Hoje, somos vistos pela comu-nidade como a única ‘ecoescola’ da região e a precursora em discutir es-sas questões ambientais. Levamos anos para obter esse reconhecimen-to. Muitas instituições de ensino realizam ações apenas de maneira isolada para divulgar a marca a seu público, mas realmente não se aprofundam na questão da susten-tabilidade. Compram latas de coleta seletiva enormes e coloridas, mas se esquecem de trabalhar com os alu-nos e a população do entorno para a exata compreensão da temática”, avalia Sérgio.

Ele faz questão de exemplificar o compromisso da Viverde com o meio ambiente por meio de iniciativas na esfera administrativa que incluem, por exemplo, a instalação de uma estação de tratamento de esgoto com a utilização de bactérias anaeróbias.

Elas são responsáveis pela eliminação dos poluentes gerados pelos dejetos jogados diretamente nas águas do ribeirão que abastece a escola.

“Outra medida refere-se à cap-tação da água da chuva, que supre, em grande parte, a quantidade de água utilizada para limpeza dos estábulos, irrigação da horta, das calçadas, áreas de lazer e outras dependências. Criamos também ecopontos para coleta de todo e qualquer tipo de material reciclá-vel”, complementa o proprietário.

Na agenda do diaPara Roberto Gonzalez, pro-

fessor de governança corporativa da Trevisan Escola de Negócios e consultor em sustentabilidade, ainda existe muito discurso e pouca práti-ca empresarial, mas o fato positivo é que as companhias começaram a ser cobradas por ter posturas alinhadas com o discurso. “Assim como a preo- cupação com os processos de quali-dade, que antigamente eram vistos com certo receio e como algo que só aumentava os custos, tornando-se posteriormente um assunto comum no dia a dia de qualquer organiza-ção, acredito que o mesmo ocorrerá com a sustentabilidade. O primei-ro passo, para qualquer empresa,

aSSiM CoMo a prEo-Cupação, no paSSaDo, CoM oS proCESSoS DE

QuaLiDaDE, a SuStEnta-biLiDaDE GanharÁ oS MESMoS ContornoS

rObErtO gONZAlEZ, prOfESSOr DE gOVErNANçA cOrpOrAtiVA

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de qualquer setor, é inserir de vez o tema nas pautas do conselho de administração”, avalia.

A gerente sênior da BDO Con-sultoria, Patrícia Centeno, especialista em projetos na área, acredita que o cenário está mudando, já que muitos empreendedores agora percebem que a incorporação da responsabilidade socioambiental a sua dinâmica de tra-balho é importante para assegurar a sobrevivência em um universo cada vez mais competitivo.

“A criação de linhas especiais de crédito para a implantação de programas desse tipo também vem ajudando muito. E vários compreen-deram que o investimento de hoje pode ser a economia de amanhã: um programa de redução no uso de recursos hídricos ou de energia, por exemplo, se paga na medida em que as contas de água e luz serão bara-teadas”, diz.

Outras vantagens que podem ser citadas são a captação de ta-lentos do mercado e a melhoria no relacionamento com diversos públi-cos estratégicos (stakeholders), como clientes, fornecedores e parceiros. “Mas existem armadilhas, como, por exemplo, uma organização co-locar em prática algo apenas porque seu concorrente o faz. Ou elaborar um projeto sustentável apenas sob o prisma do marketing, sem o engaja-mento de outros setores. É um erro que pode ser fatal”, alerta Gonzalez.

O desafio do séculoCansada de discursos em prol

do meio ambiente, mas que não se traduziam em práticas efetivas,

Katilene Marangoni decidiu lan-çar mão do empreendedorismo e investir na criação de uma escola de Educação Infantil que tivesse uma proposta diferenciada. Em setem-bro de 2009, a Eco Escola Mundo Verde, localizada em Hortolândia, no interior de São Paulo, abria suas portas para a comunidade.

“Ao saber que estava grávida do meu segundo filho, veio-me à mente a preocupação com a educação dele no futuro. Ao visitar várias escolas da região, percebi que nenhuma atendia aos meus anseios. Estava farta de ser ‘enganada’ por instituições que me vendiam uma coisa e me entrega-vam outra. Acredito que, em alguns casos, existe uma diferença grande entre o projeto pedagógico no papel e a prática que o dia a dia com suas surpresas nos traz”, diz Katilene.

A proposta da Mundo Verde tem chamado a atenção de diversas famílias, até mesmo de municípios vizinhos, como Campinas e Vinhe-do. A instituição tem como filoso-fia o chamado “princípio básico da ecologia”. Cerca de 80% de todo o material utilizado tanto na área pe-dagógica como na administrativa da

GestÃo/marketinG a sustentabilidade nos modelos de GestÃo

escola é reciclável. A meta é atingir 100% já em 2010.

“Os animais que participam das atividades, por exemplo, foram introduzidos por uma veterinária da cidade, em aulas de conscienti-zação, informando a importância de cada um no ecossistema. Isso ocorre com tudo o que trabalhamos. Os projetos são feitos de maneira que as crianças entendam que elas po-dem contribuir para o bem-estar do mundo em que vivem em ações do cotidiano. Os pais também nos ajudam muito, sugerindo ideias e participando de reuniões na escola. É uma gestão mais participativa”, aponta Katilene.

Ela afirma que a incorporação da sustentabilidade ao gerenciamen-to dos negócios é o grande desafio para os administradores neste início de século. “O que diferencia uma organização da outra é a coerência entre o que se fala e o que se executa. A educação de uma criança, princi-palmente na primeira infância, é algo de muita responsabilidade. Estamos construindo conceitos que servirão de base para o futuro das próximas gera-ções. Daí tamanha responsabilidade.”

na Mundo verde, em hortolândia, 80% de todo o material utilizado é reciclável

Div

ulga

ção

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SupEr ESCoLa 29

Conheça o mais novo lançamento da Coleção Conhecimento de mundo

para Educação Infantil do Pueri Domus Escolas Associadas.

O livro trabalha três eixos básicos:• Identidade,• Meio Ambiente e• Meio Social.

Tem como diferencial, além das orientações aos educadores, orientações às famílias para

que possam acompanhar o processo pedagógico desenvolvido com

seus fi lhos.

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Educação InfantilMATERNAL

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indicaÇÃo de leitura

tECnoLoGiaS QuE EDuCaM: EnSinar E aprEnDEr CoM aS tECnoLoGiaS DE inforMação E CoMuniCaçãoautores: Fábio câmara Araújo de carvalho e Gregório Bittar IvanoffEditora: pearson Education nº de páginas: 192preço: r$ 42,00

com uma linguagem clara e prática, os autores, conectados com os atuais desafios do mundo acadêmico, apresentam ferramentas tecnológicas capazes de apoiar o aprendizado colaborativo e orientam os professores a estabelecer estratégias de ensino modernas que incentivem os alunos a se comprometer com o estudo.

EDuCação hoJE: novaS tECnoLoGiaS, prESSõES E oportuniDaDES autor: pedro DemoEditora: Atlasnº de páginas: 144preço: r$ 38,00

Voltar o olhar dos professores para o desafio da alfabetização diante das novas tecnologias. Essa é a proposta de pedro demo, indicada tanto para educadores que desejam ingressar nessa “nova onda” como para aqueles que buscam alimentar processos de formação permanente. com linguagem objetiva e didática, o autor oferece subsídios para recriar a formação pedagógica dos docentes mediante os desafios que se apresentam.

a hiStória na ESCoLa: autorES, LivroS E LEituraSautores: Helenice Aparecida Bastos rocha, luís reznik e marcelo de souza GuimarãesEditora: fgVnº de páginas: 352preço: r$ 48,00

A obra, que é resultado de pesquisas desenvolvidas pelo grupo oficinas de História, faz uma análise abrangente sobre autores e livros de história adotados em salas de aula em diferentes épocas e enfoques. dessa forma, os autores propõem a reflexão sobre a diversidade de leitores, os usos dos livros didáticos e o saber escolar, entendido como uma construção histórica, ou seja, um produto de seu tempo, que guarda muito do contexto em que foi elaborado.

lanÇamentos

EDuCação E DESEnvoLviMEnto no braSiLautor: paulo nathanael pereira de souzaEditora: Integrarenº de páginas: 144preço: r$ 33,90

Buscar respostas para questões que parecem insolúveis no método aplicado à educação no Brasil é a proposta de paulo nathanael em seu novo livro. dentre outros temas, ele debate sobre a educação como um

dos setores mais importantes para o desenvolvimento de uma nação e propõe o investimento em um sistema educacional de qualidade tanto nos ensinos Fundamental e médio como na universidade.

EDuCação a DiStânCia SEM SEGrEDoSautoras: rita de cássia Guarezi e márcia maria de matosEditora: Ibpexnº de páginas: 146preço: não informado

os conceitos da educação a distância, os processos de implantação do sistema, suas diferentes versões e as perspectivas para o futuro do método de ensino são alguns dos temas abordados na obra. As autoras também destacam a redefinição dos papéis do educador na chamada “sociedade do conhecimento”.

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sala de aula claude lÉvi-strauss

riado em Paris, ele nasceu em Bruxelas, na Bélgica, em 28 de novembro de

1908. Membro de família judia francesa, dedicou-se a compreen-der a grande máquina simbólica que reúne todos os planos da vida humana, da estrutura familiar às crenças religiosas, das obras de arte às maneiras de se comportar à mesa, talvez motivado por essa miscige-nação de raças que sempre rondou suas origens.

Claude Lévi-Strauss, falecido em 1º de novembro de 2009, aos 100 anos de idade, foi um dos in-telectuais mais influentes do sécu-lo XX. Pensador cosmopolita que jamais se contentou em apenas se debruçar sobre livros e manuscri-tos, ou mesmo em trancafiar-se em bibliotecas, bebeu diretamente da fonte.

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aSSiM poDia SEr viSto CLauDE Lévi-StrauSS, uM DoS intELECtuaiS MaiS infLuEntES Do SéCuLo xxi. fuNDADOr DA ANtrOpOlOgiA EStruturAliStA, O pENSADOr DEixOu impOrtANtES cONtribuiçõES QuE Até hOJE SE EStENDEm à SAlA DE AulA

ciDADãO DO MunDo

Uma das provas é seu desembar-que no Brasil, nos anos 1930, quan-do aceitou convite para lecionar na recém-criada Universidade de São Paulo (USP), estadia que lhe possi-bilitou realizar trabalhos de campo no Mato Grosso e na Amazônia com diversas tribos indígenas.

“A principal contribuição propiciada pelo pensamento de Lévi-Strauss consiste na construção de um método que busca identi-ficar os fundamentos universais que possibilitam a vida social. Em sentido mais amplo, a formação do indivíduo – sua educação – passa necessariamente pela compreensão de todas as dimensões da realida-de histórica à qual pertence. No tocante às práticas pedagógicas, talvez possamos identificar uma contribuição mais indireta, mas, sem dúvida, ainda muito presen-

te nos dias de hoje”, afirma Roger Campato, docente do curso de Filo-sofia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.

Outro importante aspecto le-vantado por seus estudos diz res-peito às estruturas elementares do parentesco. Lévi-Strauss as com- preendia como “os sistemas nos quais a nomenclatura permite de-terminar o círculo de parentes”. Segundo o pensador, o casamento constitui uma espécie de parentesco.

Ele o divide em duas catego-rias: a dos cônjuges possíveis e a dos cônjuges proibidos. Por meio de tais estruturas elementares, são definidas as classes e determinadas as relações. No tocante às diferenças existentes entre estruturas elementares e es-truturas complexas de parentesco, o antropólogo põe em xeque o ver-

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dadeiro alcance da oposição entre cultura e natureza.

No livro em que tais questões são discutidas, Lévi-Strauss reco-nhece as contribuições propor-cionadas pelos estudos de Rivers, outro importante intelectual, para quem “a natureza do sistema de parentesco depende da forma da estrutura social, mais do que das diferenças da origem da popula-ção”. Em síntese, o estruturalismo de Lévi-Strauss rejeita a ideia de que o ser humano seja totalmente livre para realizar suas escolhas, inclusive aquelas relacionadas com o casamento. “Nesse sentido, o comportamento é condicionado pela sociedade na qual o indiví-duo encontra-se inserido. Essa tese é corroborada pelas pesquisas que lidam com as regras que norteiam o matrimônio em diferentes socie-dades”, reitera Campato.

Para Mariza Werneck, do De-partamento de Antropologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a obra do antropólogo francês não vai desaparecer com sua morte. De acordo com a pesquisadora, que o entrevistou em 1995, em Paris, para a composição de sua tese de doutorado, os anos em que passou no Brasil, de 1935 a 1939, transfor-maram a formação de Lévi-Strauss. “Ele sempre dizia que a forma de pensar do índio não é inferior à for-ma de pensar na ciência. Apenas diferente”, explicita a antropóloga.

Em solos tupiniquins, Lévi -Strauss teve estadias esporá-dicas entre os índios das tribos

bororos, nambiquaras e cauaí-bes, experiências que o orien-taram definitivamente como profissional de antropologia e que o levaram a escrever O pen-samento selvagem, uma de suas mais importantes obras.

“Para a academia brasileira, seu maior feito talvez seja o mo-delo de investigação etnográfica. Lévi-Strauss dizia que a distância entre objeto e observador deve ser preservada, a fim de impedir uma descrição enviesada, produzida à luz de concepções pré-formuladas. Para a compreensão adequada do que está sendo analisado, é impres-cindível que o pesquisador estabe-leça com o objeto relações pautadas pela solidariedade, pela reciproci-dade. Suas pesquisas sobre as tribos indígenas abriram o caminho para outros etnógrafos brasileiros”, com-plementa Campato.

Uma vida dedicada aos mitos Outro ponto bastante co-

mentado da obra deixada por Lévi-Strauss diz respeito à criação e interpretação dos mitos criados pelo homem. Muitos de seus ensaios acerca do tema serviram como trampolim para mergulhos profundos em outras áreas, como a linguística, as ciências políticas e a própria comunicação.

Grosso modo, para o pensador do século XX, o mito constitui uma espécie de procedimento discursivo cuja finalidade reside em apresentar uma explicação que seja capaz de organizar coerentemente o con-texto social que o forjou. A rigor, estaríamos diante de um relato que trata do vínculo do humano com o natural, determinando o papel a ser desempenhado pelo indivíduo.

Nesse simbolismo, encon-tram-se prescritos comportamen-tos que condicionam a inserção do homem em um grupo e, por con-seguinte, sua constituição como pessoa. “A despeito de efetuar uma ruptura com o real, o mito, na vi-são do antropólogo, ao incorporar oposições binárias presentes nas di-versas formas de sociedade, permite a reconciliação com o existente”, analisa Campato.

Assim, Lévi-Strauss sustenta, desde a reflexão sobre o tabu do incesto, que o impulso sexual, por exemplo, pode ser regulado graças à cultura. Por esse ângulo, o homem não mantém relações indiscrimi-nadas, mas as pensa previamente para distingui-las. Nesse momento, ele perde sua natureza animal e se transforma em ser cultural.

As regras pelas quais as unida-des da cultura se combinam não se-riam produto da invenção humana e a passagem do animal natural ao animal cultural – por meio da aquisição da linguagem, da prepa-ração dos alimentos, da formação de relações sociais etc. – segue leis já determinadas por sua própria es-trutura biológica.

sala de aula claude lÉvi-strauss

SuaS pESQuiSaS SobrE aS triboS

inDíGEnaS abriraM o CaMinho para

outroS EtnóGrafoS braSiLEiroSrOgEr cAmpAtO

DOcENtE DA uNiVErSiDADE prESbitEriANA mAckENZiE

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Referência em educação de qualidade

O que se aprovou hoje, tendo por base os conteúdos, foi como abordar os conteúdos. [...] A ênfase deixa de ser na memorização e passa a ser na capacidade de compreensão dos

fenômenos da natureza, por exemplo.

”Ministro Fernando Haddad

em 13 de maio de 2009

Você pode confiar num programa educacionalque sempre acreditou nisso.

Pueri Domus Escolas Associadas.Há 40 anos à frente do seu tempo.

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NOV/DEZ/JAN34

opiniÃo artiGo

O NOVO EnEM rEVOluciONA O EnSino MéDio?

grande mídia tem propa-gado aos quatro ventos que o novo Exame Na-

cional do Ensino Médio (Enem), criado para, quem sabe, futura-mente substituir os vestibulares como critério de seleção para as universidades, constitui uma ver-dadeira revolução. Calma lá! Cau-tela e canja de galinha não fazem mal a ninguém, como nos diz o sábio provérbio popular.

Revoluções por decreto não existem. A própria adoção do termo, já desgastado pelo tem-po, é errônea nesse caso, pois não se configura, com tais mu-danças e reformas previstas, sequer uma esperada virada de mesa na educação brasileira, quanto mais na sociedade.

É certo que a implantação desse novo modelo de avaliação dos saberes relativos ao Ensino Médio como elemento para o in-gresso dos estudantes em univer-sidades públicas e privadas, com considerável adesão já a partir deste ano, constitui inovação ne-cessária, preconizada e esperada por muitos educadores, entre os quais me incluo.

Mas daí a pensar que auto-maticamente isso acarretará mo-dificações estruturais nas escolas brasileiras, sobretudo nas redes pú-blicas, é ir além do próprio sonho, saindo dos limites da sensatez e embarcando em autêntica utopia.

O novo Enem cria, por certo, demandas que não existiam. Co-bra dos professores uma série de posturas que antes não lhes eram regulares, comuns, peculiares. Estipula a necessidade de leitura e atualização constante pelos estu-dantes (e, em contrapartida, pelos educadores com os quais estarão trabalhando). Propõe, por meio de suas questões, o desenvolvimento do raciocínio, da capacidade de relacionar e ir além da simples me-morização de fórmulas e dados.

A interdisciplinaridade (ou, ao menos, a multidisciplinaridade) en-tra em cena. Ir “além dos muros da escola” (título de uma excelente pro-dução do cinema francês sobre edu-cação, premiada em Cannes) com viagens, leituras, filmes, exposições, músicas, poesia, artes plásticas, na-vegação por sites com conteúdo in-teligente e desafiador, entre outras ações, se torna necessário.

É certo que tudo isso é gran-dioso se analisarmos a realidade e os problemas que envolvem o Ensino Médio público no país, sempre visto como “preparação para o vestibular”. As redes pri-vadas já se mexem e pretendem implementar linha de ação que busque preparar seus alunos para essa nova demanda. Mas, ainda assim, com tal perspectiva, mui-tas delas erram o alvo, porque assumem essa nova “atitude” de olho apenas nos resultados, sem ir além de forma proposital.

Extrapolar a concepção vi-gente e entender que os saberes não são dissociados, que as áreas têm relações diretas e indiretas é outro desafio. Reunir os conheci-mentos em grupos como Ciências Humanas, Matemática e Ciên-cias da Natureza, Linguagens e Códigos é mudança importante, que traz qualidade à educação. Isso sem contar que aproximar e tornar regular o trabalho cooperativo entre os professores, separados em suas “caixinhas do conhecimento”, verdadeiros compartimentos de saber, como já dizia Paulo Freire, será ainda tarefa das mais árduas.

APor João Luís de Almeida Machado

João LuíS DE aLMEiDa MaChaDo é

EDitor Do portaL pLanEta

EDuCação E Doutor EM

EDuCação pELa puC-Sp; professor

universitário e pesquisador;

autor do livro Na sala de aula com

a sétima arte: aprendendo com o cinema (Editora

Intersubjetiva).

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DPZ

Em um mundo conectado, não podem existir barreiras para a educação.O Projeto Rede Vivo Educação é uma rede aberta de informações para discutir os novos rumos da educação nos tempos modernos.

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