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Uma publicação do Pueri Domus Escolas Associadas • Ano 5 • nº 15 • Fevereiro / Março / Abril CINCO ESPECIALISTAS ANALISAM OS RUMOS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL E APONTAM AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS PARA O SETOR Onde está O FUTURO? E mais! A DIVERSIDADE NA SALA DE AULA EDUCAÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS ENDOMARKETING: COMO A FERRAMENTA AJUDA NA FIDELIZAÇÃO RICARDO AMORIM: PARA O ECONOMISTA, BRASIL INVESTE MAIS NO ENSINO SUPERIOR DO QUE EM EDUCAÇÃO BÁSICA

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Revista mantida pelo Pueri Domus Escolas Associadas e que tem como foco a educação básica, o ensino fundamental e o ensino médio. Circulação nacional para educadores, diretores de escola, pais de alunos, pedagogos e proprietários de instituições de ensino.

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Uma publicação do Pueri Domus Escolas Associadas • Ano 5 • nº 15 • Fevereiro / Março / Abril

CINCO ESPECIALISTAS ANALISAM OS RUMOS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL E APONTAM AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS PARA O SETOR

Onde está O FUTURO?

E mais!A DIVERSIDADE NASALA DE AULA

EDUCAÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

EndOmaRkETing:

COMO A fERRAMENTA

AjUDA NA fIDELIzAÇÃO

RicaRdO amORim: PARA O ECONOMISTA, BRASIL INVESTE MAIS NO ENSINO SUPERIOR DO qUE EM EDUCAÇÃO BáSICA

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www.pdea.com.br | 11 3658 9862Somos pela educação.

Como quase todo mundo, nós somos pela educação.

A diferença é que vemos a educação como um processo. Que leva tempo.Que envolve a escola e seus profissionais, a família, a comunidade.

Somos pela educação que forma. A que não se resolve apenas com papel impresso com tinta, com giz, saliva e uma campainha separando-os de mais giz e mais saliva.

Somos pela educação que estrutura o indivíduo, a começar por reconhecer um indivíduo em cada aluno.

Somos pela educação que entende que indivíduos se relacionam – e é da qualidade de seus relacionamentos que nasce a qualidade de sua educação. Da qualidade da educação vem a capacidade de transformar.

Mas acima de tudo, somos pela educação que acontece, que evolui da concepção para a ação. E educação só acontece quando a instituição é sustentável. É por isso que nosso processo de educação começa por educar a instituição.É vital, para uma escola, ser capaz de sobreviver de forma saudável e de remunerar dignamente seus profissionais, seus colaboradores, seus mantenedores. Uma escola privada é muito mais do que uma empresa. Mas é também uma empresa.É sobre uma empresa saudável que uma educação saudável se desenvolve.

Nós trabalhamos com escolas que acreditam na educação como um processo contínuo, de resultados de curto, médio e longo prazo. Escolas que buscam ser referência para alunos, famílias e comunidades.

Como quase todo mundo, nós somos pela educação. Mas por uma educação que seja transformadora para o aluno e sua família, estruturante para a instituição e relevante para a sociedade.

Em suma, educação.

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10editorial

EXPEDIENTEA Super Escola é uma publicação do Pueri Domus Escolas Associadas.

sumário

Conselho EditorialAltamar Roberto de Carvalho (Diretor Pedagógico)Carlos Eduardo Ferrari (Gerente de Marketing)Guilhermino Figueira Neto (Diretor-Geral) Maísa Dóris (Gerente Nacional de Comunicação Corporativa - Grupo SEB)

Coordenador-Geral: Carlos Eduardo Ferrari

Projeto Editorial: Trama ComunicaçãoDiretora de Redação: Leila Gasparindo MTb: 23.449Editora-chefe: Helen Garcia MTb: 28.969Editor: Adriano Zanni MTb: 34.799Reportagens: Juliana Lanzuolo, Larissa Leiros Baronie Simone Bernardes Revisão: Márcia MeninProjeto Gráfico: Arthur SiqueiraDesigner: Arthur Siqueira e Rodnei MedeirosProdução Gráfica: André VieiraFotolito e Impressão: EGM Gráfica e Editora LTDA.Tiragem: 20.000

Contatos:Publicidade: [email protected]ção: [email protected]

CAPAUm olhar para o futuro: especialistas analisam o

cenário educacional e revelam tendências

5 ENTREvISTARicardo Amorim

8 RADAR

14 ESTUDo DE CASoExternato São Judas

20 hISTóRIA Do mANTENEDoRColégio Farroupilha, Campinas (SP)

26 GESTão/mARkETINGEndomarketing

29 INDICAção DE lEITURA 34 oPINIãoJosé Pacheco

Um anO dE dEFiniçõESAté o fim de 2010, o Congresso terá pela frente uma nobre e

desafiadora missão: em pleno ano eleitoral, precisará aprovar o novo Plano Nacional de Educação (PNE), que irá vigorar entre 2011 e 2020. As bases desse documento foram traçadas na últi-ma Conferência Nacional de Educação, ocorrida em março, em Brasília (DF), que reuniu gestores, representantes de movimentos acadêmicos e educadores.

O PNE, como muitos sabem, orienta quais serão os investi-mentos e as prioridades do país na área para os próximos dez anos. Reflete, portanto, um olhar lançado em direção ao futuro. De modo geral, os educadores esperam que o novo plano seja mais enxuto do que o atual documento em vigor, formado por 295 metas, muitas das quais, diga-se de passagem, distantes de serem cumpridas.

Mais importante que o tamanho do novo PNE será o seu efeito perante o cenário. Para produzir mudanças na sociedade, o pla-no precisa ter indicadores claros, definir efetivamente vocações, assumir compromisso.

Afinal, se somos pela educação, não basta apenas implementar quantitativamente o acesso da população aos bancos escolares. É fundamental angariar recursos e somar esforços para resolver equa-ções que há tempos insistem em figurar nos livros de gestão das inúmeras esferas de governo, como a que expomos na entrevista com o economista Ricardo Amorim a essa publicação, na qual ele traça um comparativo entre o panorama educacional brasileiro e o norte-americano, considerando os investimentos em educação básica versus ensino superior.

Fato é que se desejamos uma sociedade melhor povoada de pes-soas solidárias, devemos dar o melhor de nós no desenvolvimento das crianças e jovens. A educação é um processo social e global. Ela não se resolve apenas com giz, papel e caneta. Precisa ser cons-tantemente oxigenada, abrir-se para o novo, para o enfrentamento das diversidades a partir da própria pedagogia de sala de aula.

Novos caminhos estão surgindo: a educação baseada em evi-dências é uma dessas correntes inovadoras. Mas, é preciso cautela nas análises e adoções de métodos, assim como o engajamento de todos os entes nas mudanças que se propõem, incluindo a participação dos conselhos de classe e dos próprios pais de alu-nos. Só assim estaremos cumprindo as diretrizes qualitativas de uma educação transformadora para o estudante e sua famí-lia, estruturante para a instituição e relevante para a sociedade.

Guilhermino Figueira NetoDiretor-Geral do Pueri Domus Escolas Associadas

EdUcaçãO E EcOnOmia:CADA VEz MAIS PRóxIMAS

entrevista riCardo amorim

rasil e Estados Unidos. De um lado, um país emer-gente que começa a se destacar entre as dez maiores economias do mundo. Do outro, aquele que trava uma

verdadeira batalha pós-crise econômica para permanecer no topo do ranking e garantir o rótulo de maior potência mundial. Enquanto o Produto Interno Bruto de um é estimado em apenas US$ 2 trilhões, a fortuna do outro é sete vezes maior e atinge a casa dos US$ 14,2 trilhões.

Mas as diferenças entre as duas nações não se limitam ao poderio econômico. O setor educacional também apresenta particularidades que, em uma análise mais aprofundada, po-

dem justificar as desigualdades verificadas entre a realidade brasileira e a norte-americana.

Para destrinchar essa correlação entre educação e desenvolvimento econômico sustentável, a Super Esco-la entrevistou o economista e também apresentador do programa Manhattan Connection, da GNT, Ricardo Amorim. Além de traçar um comparativo entre o Brasil e

os Estados Unidos, o consultor aponta as principais defici-ências do sistema educacional brasileiro e as medidas efetivas que devem ser tomadas para que o país possa assumir de vez o papel de protagonista, não apenas no cenário econômico.

Super Escola – Quais as diferenças entre o sistema edu-cacional brasileiro e o norte-americano, sobretudo no tocan-

te à qualidade do ensino médio e ao acesso à universidade? Ricardo Amorim – A primeira diferença entre os dois en-

sinos é o foco, bem como a proporção de atenção e de gastos existentes entre a educação básica e a universitária. No Brasil, gasta-se muito mais dinheiro público no ensino superior do que

B

diFEREnçaS nOS SiSTEmaS dE EnSinO brasileiro e norte-americano contribuem

PaRa jUSTiFicaR AS DESIgUALDADES ECONôMICAS ExISTENTES ENTRE OS DOIS

PAíSES. PARA O ECONOMISTA RICARDO AMORIM, investe-se muito mais no ensino superior

NO BRASIL DO qUE EM EDUCAÇÃO BáSICAPor Larissa Leiros Baroni

16SAlA DE AUlA

Educação baseada em evidências

ComPoRTAmENToA diversidade dentro da escola22

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no básico. Disparidade não só em relação aos Estados Unidos, mas a qualquer outro país desenvolvido. E quem está fora da curva mais uma vez somos nós. Além disso, o ensi-no médio norte-americano é mais próximo ao acesso universitário. Já o sistema de ensino da graduação é muito mais generalista do que o brasileiro. A especialização só é ad-quirida na pós, onde os estudantes vão se concentrar em um campo específico com mais profundidade do que aqui no Brasil.

Super Escola – Essas dife-

renças explicam as disparidades econômicas entre os dois países? Por quê?

Ricardo Amorim – Há, sim, uma relação direta. Mas, ainda que as diferenças educacionais ex-pliquem as divergências econômi-cas e de renda, as disparidades da educação também são reflexo das desigualdades de renda. Como os Estados Unidos são um país rico, logo investem mais no ensino do que o Brasil. Quanto maior o in-vestimento, melhor a qualidade de ensino, melhor a capacitação da mão de obra, maiores as possibili-dades de desenvolvimento e, con-sequentemente, maior a geração de riquezas. Além desse ciclo vicioso, falta no Brasil melhor direciona-mento de seus recursos, fator que influencia a baixa qualidade da educação brasileira, comprovada nos exames internacionais.

Super Escola – Qual é o atual panorama do ensino brasileiro? Como ele pode explicar as defici-ências da educação básica e supe-rior no país?

entrevista riCardo amorim

Ricardo Amorim – Um mo-vimento de generalização do ensi-no no Brasil foi iniciado na época do governo Fernando Henrique, na gestão do ex-ministro Paulo Renato, e se estendeu ao manda-to do Partido dos Trabalhadores (PT). O índice de acessibilidade ao sistema educacional brasileiro – no ensino fundamental, básico e superior – foi ampliado significa-tivamente nesses últimos anos. A massificação, no entanto, piorou a qualidade. Espera-se que o país dê um segundo passo e invista na me-lhoria da estrutura e da formação docente, sobretudo na base do en-sino. Isso não aconteceu até agora.

Super Escola – De que for-ma o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pode contribuir para atenuar as deficiências do sistema educacional brasileiro?

Ricardo Amorim – O Enem é um termômetro. Termômetro não melhora a qualidade da saúde de ninguém, mas pode ser muito útil para diagnosticar a febre e contri-buir para uma medicação correta. É um engano colossal acreditar que sozinho o exame possa resolver os problemas. Por outro lado, ele pode, sim, apontar onde estão as falhas. Com o diagnóstico correto, podem-se identificar as soluções necessárias.

Super Escola – É possível que algumas nuances do siste-ma de ensino norte-americano sejam incorporadas à realidade brasileira? O que é preciso fazer para que isso se torne viável?

Ricardo Amorim – Em curto prazo, duvido que haja possibi-lidades de incorporar o modelo

norte-americano ao do Brasil. Até porque as realidades dos dois paí-ses, tanto econômica como estru-tural, são totalmente diferentes. Em vez de copiar, podemos, no entanto, aprender com as expe-riências dos Estados Unidos. A mudança deve começar pelo di-recionamento dos investimentos. Hoje, os recursos da educação brasileira estão concentrados ex-cessivamente no ensino superior. E o pior: o grosso dessa verba não está direcionado aos professores. Gasta-se muito com um funcio-nalismo totalmente inchado. Se-gundo estudos, cerca de 95% dos recursos das instituições públicas vão para pagamento de aposenta-dorias, dinheiro que poderia ser muito mais útil se estivesse em-pregado na educação básica.

Super Escola – Sem a pos-sibilidade de incorporar o mo-delo norte-americano no Brasil em curto prazo, quais são as medidas emergenciais que de-vem ser adotadas para que haja uma elevação no nível?

Ricardo Amorim – Deve-se investir mais em educação básica. Até porque é preciso mudar a base para que de fato haja melhora na qualidade do sistema educacional brasileiro como um todo. É impor-tante também remunerar bem os professores, recompensando aque-les que obtiverem melhores ren-dimentos dentro da sala de aula. Há iniciativas sendo implantadas nesse sentido, como observamos no Estado de São Paulo, onde os professores terão acesso a um plano de carreira e salários com base em princípios da chamada

meritocracia. É preciso investir no treinamento e na formação dos docentes e melhorar a infra-estrutura das escolas e faculdades. Mesmo que não haja uma solução em curto prazo, essas ações já tra-riam um impacto importante para a educação do país.

Super Escola – Mas, mesmo sem melhora substancial em curto prazo no sistema educa-cional, o Brasil conquistou lu-gar privilegiado na lista das dez maiores potências econômicas do mundo. Quais são os fatores que justificam esse crescimento?

Ricardo Amorim – O Brasil foi favorecido por uma mudança da economia mundial que tem evidenciado a importância dos países emergentes. Situação si-milar também é vivenciada pela China e Índia. Não se sabe, no entanto, até quando o setor eco-nômico vai continuar caminhan-do nessa direção. Pode até ser que perdure pelos próximos 15 ou 20 anos, tempo que, mesmo sem uma mudança educacional pro-funda, será suficiente para manter o país em um papel de destaque. Mas, se não aproveitarmos essas janelas de oportunidades para ga-rantir sustentabilidade por meio da melhora do sistema de ensino, não teremos condições de manter esse crescimento quando a “maré de sorte” passar. É importante ressaltar que essa situação não vai durar para sempre.

Super Escola – Qual é sua avaliação dos mandatos do go-verno Lula? As eleições presi-denciais marcadas para 2010

podem trazer grandes mudan-ças para o sistema educacional e econômico do país?

Ricardo Amorim – Enquan-to o governo Fernando Henrique iniciou um processo de generali-zação da educação básica com a ampliação do número de crian-ças na escola, os mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva propiciaram maior acesso à universidade graças ao cresci-mento de renda da população e à expansão de créditos educacio-nais. O que vai acontecer, daqui para frente, é a manutenção des-sas duas tendências. Gostaria, no entanto, de ver algo muito além. A verdadeira mudança está no investimento maciço na quali-dade educacional. É importante que o próximo governo enxergue que a ineficiência da educação faz com que o Brasil cresça me-nos no futuro próximo e, conse-quentemente, desenvolva menos riquezas e commodities do que estaria apto a produzir se tives-se um sistema de ensino melhor, fator que também justifica a má distribuição de renda lá na frente. Para nos tornarmos verdadeira-mente potência, temos de mudar culturas, investir em pesquisa e desenvolvimento dentro das uni-versidades, fomentar a inovação, formar uma nova geração de em-preendedores advinda dos bancos escolares. Só assim teremos tecno-logia de ponta e diminuiremos o ritmo de importação de insumos, componentes básicos eletrônicos e outros suplementos indispensá-veis para nossas indústrias, que sofrem consideravelmente com esse gargalo.

O ENEM é UM TERMôMETRO.

TERMôMETRO NÃO MELhORA A qUALIDADE DA

SAúDE DE NINgUéM

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radar

Espaço para leitura A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados aprovou por unanimidade a proposta da ex-deputada federal Esther Grossi (PT-RS) para que todas as escolas, públicas e privadas, tenham, obrigatoriamente, uma biblioteca. O projeto, anteriormente aprovado pela Comissão de Educação e Cultura, determina que cada biblioteca possua pelo menos quatro livros por aluno matriculado.

disseminação do inglêsOs governos do Brasil e dos Estados Unidos renovaram um acordo de cooperação na área de educação que pretende fortalecer o ensino da língua inglesa nas escolas brasileiras. O documento assinado pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, e pelo vice-secretário de Educação dos Estados Unidos, Anthony Wilder Miller, trata ainda de parcerias no campo de educação profissional.

O valor daatividade físicaUma pesquisa publicada recentemente na revista especializada The Journal of Pediatrics, nos Estados Unidos, sugere que os alunos em boa forma tendem a apresentar melhores notas na escola. Uma equipe de especialistas comparou o peso, as medidas e os resultados de um teste físico com as notas de um exame escolar padrão, que incluía matemática, leitura e conhecimentos da língua, de quase 2 mil alunos do 5º ao 9º ano do Ensino Fundamental II. Os pesquisadores descobriram que 65% dos estudantes estavam abaixo do padrão físico da idade e do gênero. Comparados com esses alunos, aqueles que responderam ou superaram o padrão apresentaram melhores notas no exame escolar.

em declínioOs jovens estão deixando os blogs de lado e buscando ferramentas mais rápidas para se comunicar. É o que aponta um estudo feito pela Pew Research Center, um dos principais centros de pesquisa de opinião pública dos Estados Unidos. Entre 2006 e 2008, o número de internautas norte-americanos de 12 a 17 anos que escrevem em blogs caiu de 28% para 14% e o de adolescentes que disseram ter feito comentários em blogs de amigos diminuiu de 76% para 52%.

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cativos na educação, principalmen-te referentes à expansão do ensino rural no país – uma das grandes lu-tas levantadas por meu pai (Chico Mendes). Hoje, até mesmo os luga-res mais distantes, desde o interior do sertão até os seringais, contam com ao menos uma escola. Em contra-partida, muito ainda precisa ser fei-to para suprir a deficiência no ensino médio das escolas rurais.

Gilson Schwartz – Em 2009, o setor, tanto no Brasil como no mun-do, ficou marcado por sua digitaliza-ção. A polêmica que o tema gerava até os últimos dois anos começou a ser desmistificada por meio de ex-periências e práticas bem-sucedidas. O desafio, agora, está na inclusão di-gital das escolas públicas brasileiras. Apesar de o assunto ser considera-do prioridade pelo governo, muito pouco tem sido feito para expandir o acesso eletrônico no país. Faltam estratégias mais definidas para efeti-var a inclusão no setor público.

Sérgio Ephim Mindlin – Houve continuidade na política de inclusão no sistema de ensino bra-sileiro. No governo Lula, os avanços foram efetivos, porém não na velo-cidade esperada. Segundo o estudo do movimento Todos pela Educa-ção, há mais brasileiros de 4 a 17 anos na escola. No entanto, o apren-dizado deles ainda não está dentro do esperado. Há também mais jo-vens ingressando no ensino médio, mas apenas 44% deles conseguem obter o diploma até os 19 anos.

Simon Schwartzman – Apesar da falta de novidades no setor, pode-mos destacar o desenvolvimento dos indicadores na educação básica. O projeto de formação de professores desenvolvido pela Capes (Coorde-

nação de Aperfeiçoamento de Pes-soal de Nível Superior), ainda que ambicioso, também merece ênfase, afinal visa suprir uma carência bra-sileira, fundamental para o desen-volvimento de todo um sistema. No ensino superior, há ainda o ProUni (Programa Universidade para To-dos) e o projeto de criação de novas universidades federais. Em contra-partida, o ensino básico do país ain-da continua muito ruim, com redu-ção das matrículas nos últimos anos e baixos índices de qualidade.

Gilberto Dimenstein – Entre os destaques do ano estão o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) como referência para o vestibular, a aprovação do projeto de compensa-ção do governo condicionado à fre-quência escolar dos municípios bra-sileiros e a obrigatoriedade de ensino até 17 anos. Mesmo assim, as notas dos alunos do ensino básico ainda permanecem abaixo da média.

Super Escola – De que maneira a expansão econômica do país, sua posição no cenário competitivo in-ternacional e seu desenvolvimento sustentável têm contribuído para os rumos da educação? Esses fa-tores podem influenciar positiva-mente o cenário em 2010?

Elenira – Ao mesmo tempo que o desenvolvimento sustentável im-pulsiona o sistema educacional de qualquer país, a educação também contribui para a expansão econômica de uma nação – seja ela de primeiro mundo ou subdesenvolvida. Ambos contribuem diretamente para o cres-cimento do Brasil, mas juntos po-dem trazer reflexos ainda mais du-radouros e expressivos ao país.

Schwartz – A atual situação

brasileira pode e deve ser conside-rada dramática. Isso porque o país, apesar da boa repercussão no cená-rio internacional e de sua visibilida-de por ser sede de Jogos Olímpicos e Copa, não tem mão de obra qualifi-cada para sustentar toda essa fama. O dinheiro está chegando, mas não há educação para utilizá-lo com um sal-to ao desenvolvimento. É preciso que o Brasil abandone o rótulo de país do futuro e assuma a responsabilidade de oferecer educação de qualidade.

Mindlin – Os investimentos em educação não têm seguido o ritmo de expansão econômica do país. O percentual do PIB destinado ao se-tor ainda é baixo para conseguir um atendimento universal e com qua-lidade. Enquanto a publicação “Fi-nanciamento da Educação no Go-verno Lula” registra uma queda na porcentagem dedicada à educação no quadro de despesas do país (2,88%, em 2003; 2,67%, em 2004 e 2005; 2,44%, em 2006; e 2,87%, em 2007), a receita total da União au-mentou 32,1%, chegando em 2007 a R$ 954,5 bilhões.

Schwartzman – A expansão econômica do Brasil não tem con-tribuído muito para o desenvolvi-mento educacional no país. Pode-se perceber que não estamos acompa-nhando as tendências internacionais na área de ciência e tecnologia, tam-pouco na criação de uma educação básica de qualidade. O crescimento está única e exclusivamente concen-trado na exportação, não na capa-citação da população. Metodologia fadada ao fracasso.

Dimenstein – A expansão eco-nômica do Brasil contribui direta-mente para o desenvolvimento do se-tor educacional. Isso porque há uma

ESPEciaLiSTaS dE divERSOS SETORES avaLiam a aTUaL cOnjUnTURa dO SiSTEma EdUcaciOnaL bRaSiLEiRO E TRAÇAM PERSPECTIVAS PARA 2010. EM UM ASPECTO TODOS CONCORDAM: O PAíS AINDA PRECISA fAzER A LIÇÃO DE CASA COM EfICIÊNCIA qUANDO O ASSUNTO é EDUCAÇÃO BáSICA E INCLUSIVA

DE VOLTA PARA O FUTURO

O ano 2009 já é página virada. Embora as reflexões do calen-dário pedagógico recaiam so-

bre o planejamento das atividades esco-lares e o período de retorno às aulas, é possível fazer uma série de reflexões sobre tudo aquilo que passou e, principalmen-te, sobre os desafios para 2010.

Milhares de questões rondam a cabeça de gestores de ensino e educa-dores: será que houve mais oportuni-dades no setor? E o aproveitamento dos alunos e professores, tornou-se mais efetivo? Como inspirar novas mentalidades com vista à construção de uma realidade ainda melhor para os próximos anos?

A Super Escola entrevistou expo-entes das mais variadas áreas para afe-rir suas percepções em relação ao siste-

ma educacional brasileiro, levantando os principais avanços e desafios em ano de eleição presidencial e fechamento de década. Confira os depoimentos da ambientalista e presidente do Institu-to Chico Mendes, Elenira Mendes, do economista Gilson Schwartz, do em-presário e presidente da Fundação Te-lefônica, Sérgio Ephim Mindlin, do educador e presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, Si-mon Schwartzman, e do comunicador Gilberto Dimenstein.

Super Escola – Quais foram as principais conquistas do setor edu-cacional em 2009? E, se expandir-mos a avaliação para todo o perío-do do governo Lula, quais foram os avanços e as falhas de sua gestão?

Elenira Mendes – Foi possível identificar avanços bastante signifi-

Por Larissa Leiros Baroni

Capa Cenário eduCaCional 2010

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unanimidade em relação à percepção de que a educação é a base para a ino-vação e o desenvolvimento de uma nação sustentável. Além disso, dimi-nui o índice de violência e aumenta a empregabilidade e a remuneração. Paralelamente a isso, cresce a pressão dos pais, dos empresários e da mídia para a ampliação do setor.

Super Escola – Como a elei-ção presidencial de 2010 poderá influenciar o desenvolvimento da educação no Brasil? As influ-ências serão positivas ou negati-vas? Por quê?

Elenira – O debate político le-vantado a partir da candidatura da senadora Marina Silva (PV-AC) será positivo para elevar o nível de discus-sões sobre a educação ambiental no país. Ainda que as discussões sobre as eleições possam retardar um pouco o desenvolvimento do Brasil, deverão trazer grandes ganhos para o futuro.

Schwartz – Até agora, todos os governos (não somente o petis-ta) têm concentrado suas discussões no Brasil produtor de petróleo e bio-diesel. Ou seja, a saída para o desen-volvimento está limitada exclusiva-mente às fontes de riqueza natural. Grande equívoco.

Mindlin – A eleição presidencial é uma boa oportunidade para am-pliar a discussão com toda a socie-dade civil a respeito da importância da educação para o crescimento de um país que pretende ocupar lugar de destaque no cenário internacional e alavancar o desenvolvimento social.

Schwartzman – Não vejo uma relação direta entre eleições e desen-volvimento do setor educacional. Ainda que a educação seja reconhe-cida como um ponto importante

para a expansão de qualquer país, são poucas as discussões públicas sobre a questão realizadas nessa época. E, quando colocadas em pauta, abor-dam temas de maneira superficial.

Dimenstein – Há alguns anos a educação não fazia parte dos de-bates políticos. Mas aos poucos esse cenário foi se modificando e o tema foi ganhando espaços cada vez mais significativos na pauta. Acredi-to que, em 2010, não será diferen-te, e assuntos como o rendimento dos alunos do ensino básico serão abordados pelos futuros candidatos. Não há divergência no que é preci-so fazer para o desenvolvimento do setor, tampouco sobre sua impor-tância para o crescimento do país. Portanto, nos discursos, ao menos, a educação está garantida.

Super Escola – Como avalia o volume de investimentos em infra-estrutura no país? Houve cresci-mento? Foram significativos para avanços? Por quê? De que maneira influenciou o setor educacional?

Elenira – Não há como negar que o volume de investimentos em infraestrutura tem crescido bastan-te nos últimos anos. Os recursos, impulsionados principalmente pela expansão econômica do Brasil, têm contribuído para o desenvolvimento de cidades jamais imaginadas, algu-mas até excluídas do mapa. E, como infraestrutura também inclui educa-ção, a verba, direta e indiretamente, se destina à criação de escolas e à ex-pansão do ensino.

Schwartz – Cresce aquém do que se planeja. O governo demons-tra dificuldades em fazer o PAC (Plano de Aceleração do Crescimen-to) decolar. Suas metas estão mui-

to aquém do planejamento e seus resultados ainda não conseguiram ser quantificados. Há recursos, mas não se sabe como direcioná-los para alcançar a realidade brasileira. A te-oria é válida tanto para a educação como para a infraestrutura.

Mindlin – Uma das preocupa-ções do setor educacional, em ter-mos de infraestrutura, é fazer chegar às escolas o acesso à internet, com velocidade que permita aos usuá-rios acessar os conteúdos disponi-bilizados pela rede. Nesse sentido, os investimentos em banda larga poderão proporcionar aos educa-dores a incorporação das tecnolo-gias de informação e comunicação no processo de ensino e aprendiza-gem, tornando-o mais atrativo, mais motivador e com melhores resulta-dos para os alunos.

Schwartzman – A impressão é que os investimentos em infra-estrutura são pequenos. Além de ter demorado a sair, o PAC ainda anda muito lento. Os níveis de in-vestimento em educação seguem os mesmos passos e continuam esta-bilizados. Com a limitação dos re-cursos públicos e com a expansão do setor privado, é preciso usufruir essa potencialidade para desenvol-ver o sistema educacional brasilei-ro. O ProUni é um bom exemplo nesse sentido.

Dimenstein – O aumento foi mais significativo no ensino médio técnico, nas instituições federais de ensino superior e na educação a distância. Os recursos, no entanto, foram mais significativos no setor privado, que foi impulsionado pelos processos de avaliação institucional do governo federal. Não se pode ne-gar que o volume ainda é pequeno.

Não se comparado à realidade de outro país, mas se considerado o ta-manho de nossa juventude.

Super Escola – Em sua opi-nião, quais os principais desa-fios que o setor deve encarar em 2010? O Brasil está preparado para enfrentar essa agenda de desafios? Quais são as soluções básicas que propõe?

Elenira – O principal desafio está na garantia da qualidade do en-sino básico, bem como na expansão do ensino médio. O Brasil tem capa-cidade, sim, para atingir essas metas essenciais. Basta, no entanto, que a prioridade – muitas vezes enfatiza-da nos discursos – faça parte da re-alidade política. É preciso usufruir a infraestrutura brasileira a favor da educação, começando principalmen-te pela qualificação de professores de todos os níveis escolares.

Schwartz – Em 2010, será o momento de pensar e refletir sobre os novos rumos do país. Será possí-vel comprovar se os candidatos ao cargo presidencial vão priorizar a educação como fonte de desenvol-vimento. Até porque, por enquanto, só se fala de pré-sal.

Mindlin – Os mesmos desa-fios se mantêm já há bastante tem-po. Em 2010, não será diferente. É preciso que se criem políticas que di-minuam o atraso escolar, ampliem o atendimento e combatam a evasão, tanto no ensino fundamental como no médio. Com conquistas quanti-tativas do ponto de vista do acesso das crianças à escola, a melhoria da qualidade do ensino passa a ser um desafio premente e que requer forte investimento na formação e qualifi-cação de professores.

Schwartzman – Os desafios para 2010 serão os mesmos impos-tos em 2009. A educação básica bra-sileira precisa de uma reformulação que priorize a qualidade do sistema de ensino, processo que depende de uma ampla parceria entre estados, municípios e governo federal. Nada disso, no entanto, será resolvido em curto prazo. É preciso, porém, ter pesquisas, projetos e experimentos para aos poucos colher resultados.

Dimenstein – O principal de-safio é fazer as crianças aprenderem a ler e a escrever, assim como atrair os melhores talentos para a própria academia. Isso porque a definição de uma escola se resume à figura do professor. O Brasil tem, sim, condi-ções para enfrentar esses desafios. Algumas ações isoladas já come-çam a se destacar em algumas ci-dades do país. Um caminho nessa direção é a gestão integrada à co-munidade e à escola.

Super Escola – No próximo ano, chega ao fim o prazo das me-tas do Plano Nacional de Educa-ção, proposto em 2000. Acredita que o Brasil será capaz de cum-prir suas metas ou, pelo menos, a maioria delas? Quais deveriam ser as metas prioritárias para a próxi-ma década?

Elenira – As metas, em geral, funcionam como um planejamen-to estratégico. O momento é de re-avaliar o que foi ou não executado e qualificar todas as ações. Assim, será possível estabelecer para a próxima década metas mais palpáveis. É pre-ciso estabelecer prioridades, já que as deficiências são imensas. E essa rela-ção não pode excluir a qualidade da educação no Brasil.

Schwartz – Sou bastante caute-loso em relação às metas; portanto, prefiro aguardar os resultados para emitir qualquer parecer. Os indícios, porém, demonstram que os esforços não foram direcionados com clareza a seus respectivos objetivos. Para a próxima década, é preciso incluir o desenvolvimento digital da educação brasileira na meta governamental.

Mindlin – O movimento Todos pela Educação estipulou cinco me-tas a serem atingidas até 2022 que, acredito, poderão recuperar o atraso histórico do setor: toda criança e jo-vem de 4 a 17 anos na escola; toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos; todo aluno com aprendiza-gem adequada a sua série; todo aluno com ensino médio concluído até os 19 anos; e investimento em educação ampliado e bem gerido.

Schwartzman – Esse documen-to é bastante fictício. Não precisa-mos apenas de metas quantitativas, mas sim de projetos que viabilizem a qualidade da educação e a formação acadêmica. A educação pré-escolar, a base para o desenvolvimento de todo um sistema, também precisa entrar na agenda de discussões.

Dimenstein – Não estou acom-panhando todas as metas, mas pos-so garantir que a maioria delas ain-da está muito longe de ser atingida. Ainda que o número de matrículas no ensino superior tenha se expandi-do, essa ampliação não atingiu o es-perado. O mesmo se repetiu no ensi-no médio, mas em menor proporção. Para a próxima década, as políticas deveriam se concentrar na aprendi-zagem adequada para as crianças, ou seja, que elas possam concluir o en-sino no tempo certo, dominando a leitura e códigos contemporâneos.

Capa Cenário eduCaCional 2010

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fEV/MAR/ABR14 SUPER EScOLa 15

externato são Judasestudo de Caso

oda vez que se fala, em sala de aula, a respeito do sécu-lo passado, tem-se a ideia

de um período longínquo da his-tória, dos tempos de nossos bisa-vós. No entanto, a proximidade com o período é bem maior que a correlação, quase imediata, tra-çada por nosso cérebro.

Para atenuar essa ligeira dis-torção – se é que podemos clas-sificar dessa forma –, um colégio localizado na capital paulista ino-vou. Os principais fatos do sécu-lo XX, que vai de 1901 ao ano 2000, como a Primeira e a Segun-da Guerras Mundiais, ficarão para sempre na memória de 30 alunos

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PROjETO RESgaTa OS acOnTEcimEnTOS maRcanTES dO SécULO XX E INSTIgA OS ALUNOS A COMPREENDER MELhOR OS DESDOBRAMENTOS DESSES fATOS

Hana, enfermeira alemã que dei-xa o filho para ajudar as equipes de salvamento das vítimas dos conflitos bélicos.

Vinícius Santiago Mota, 15 anos, também terminou o traba-lho com a sensação de ter vivido uma experiência única ao contar as histórias da personagem Olga, médica que se dedicou aos cuida-dos dos feridos na Segunda Guer-ra Mundial e perdeu muitos de seus entes queridos. “O projeto como um todo nos estimulou a estudar ainda mais a história des-ses grandes conflitos e a enten-der por que eles aconteceram e seus desdobramentos na socieda-de atual”, comenta.

De acordo com o docente Alexandre da Costa, os resulta-dos da iniciativa mostram que os alunos abraçaram a proposta, assimilando os processos histó-ricos trazidos pelos conflitos por meio de um trabalho lúdico. “É um desafio fazer com que o es-tudo da história não fique preso ao passado. Além de aproximar a disciplina de suas realidades, a atividade faz com que os alunos reflitam sobre as marcas e lega-dos que cada cidadão deixa para seus descendentes, bem como que aquilo que faz parte do cotidia-no de nosso país e do mundo na atualidade é puro reflexo do pas-sado”, complementa.

E foi esse desafio que estimu-lou a criatividade de Renata Ba-randas Mendes, 15 anos, ao criar a personagem Cristine, uma jo-vem que conta suas experiências

ao ver seu pai e seus irmãos a dei-xarem para viver nos campos de batalha. “Foi um desafio poder reviver os sentimentos das pesso-as que passaram pelo conflito e entender de que forma isso se re-fletiu na vida delas. Antes, eu não tinha essa dimensão”, diz.

Além da imaginaçãoO universo dos personagens

se fez tão real nos diários produzi-dos pelos alunos que é quase pos-sível dar vida a cada um deles à medida que se leem as histórias. Para imprimir um caráter ainda mais realístico a cada relato, os estudantes trabalharam com pes-quisas aprofundadas sobre a Ale-manha daqueles tempos de modo a inserir nas páginas dos diários a letra do hino alemão e até cópias das moedas utilizadas no país du-rante as guerras.

O tom envelhecido das pági-nas dos diários foi feito com bor-ra de café e os textos com caneta nanquim, imitando os escritos antigos feitos com bico de pena. Para Sandra Mota Aguiar, coor-denadora pedagógica dos Ensi-nos Fundamental II e Médio do Externato São Judas, a inicia-tiva acaba envolvendo diversas disciplinas. “Ao longo do traba-lho, nota-se o desenvolvimento de atividades ligadas à Língua Portuguesa e à Literatura, na es-crita, às Artes, na confecção das peças, e também à Geografia. É por meio de iniciativas interdis-ciplinares que o aluno consegue estabelecer relações com o conte-údo trabalhado em sala”, afirma a educadora.

ISSO é COISA DO PASSADO. SERá?

do 9º ano do Ensino Fundamental II do Externato São Judas.

Como em uma viagem pelo túnel do tempo, os estudantes fo-ram convidados a experimentar os sentimentos de quem partici-pou, direta e indiretamente, des-ses conflitos por meio do projeto “Diários”, criado pelo professor de História Alexandre da Cos-ta. Ao longo de quase três meses, os alunos, divididos em grupos, receberam a missão de se trans-portar para as décadas de 1930 e 1940 e, por meio de pesquisas e conteúdos desenvolvidos em sala, descrever seus olhares para o con-texto do conflito, do ponto de vis-

ta de um personagem alemão e seus relatos em um diário.

“Pensei estar vivendo naque-le período, sentindo as emoções, tristezas e alegrias daqueles que estiveram ligados ao período de guerras”, conta Natália Torres dos Santos, 15 anos, que criou, com os demais colegas, a personagem

Diários, como o escrito pela aluna Natália Torres, trouxeram à tona relatos de personagens fictícios que teriam vivido as consequências da 1ª e 2ª Guerras mundiais

FUndadO Em 1969 cOm Um

PEqUEnO gRUPO de crianças na

educação infantil, está localizado

no Parque Novo Mundo, em São

paulo (sp).Site: www.esj.com.br

Fotos: Divulgação

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sala de aula

e a ciência é capaz de desen-volver curas para doenças totalmente desconhecidas e

criar tecnologias complexas que substituem a inteligência huma-na, por que não pode ser incorpo-rada ao sistema educacional como propulsora da transformação?

S

baSTanTE UTiLizada Em áREaS cOmO mEdicina E

PSicOLOgia, TEORia PROPõE PARCERIA ENTRE CIÊNCIA E EDUCAÇÃO

PARA A CRIAÇÃO DE PRáTICAS EM SALA DE AULA E MéTODOS DE AVALIAÇÃO MAIS EfICAzES

A EDUCAÇÃO BASEADA EM EvidênciaS

eduCação baseada em evidênCias

Por Larissa Leiros Baroni

9º anos é calculada em 3,5 pontos, o desempenho do Ensino Médio está definido em apenas 3,4.

O movimento rumo às práticas educacionais basea-das em evidências científicas aposta no poder dessa parce-ria entre educação e ciência, potencialidade que, na opi-nião de João Batista Araújo e Oliveira, doutor em educa-ção e diretor-presidente do Instituto Alfa e Beto, pode até mesmo reverter o cená-rio brasileiro. “Por meio da ciência, é possível criar me-todologias de ensino funda-mentadas e mais ef icazes”, garante. Ele acrescenta ain-da a contribuição da teoria para o aumento do nível de racionalidade das decisões e para a oferta de parâmetros de avaliação aos resultados práticos de intervenções e políticas educacionais.

Como o próprio nome diz, “educação baseada em evidências” refere-se aos ar-gumentos uti l izados para fundamentar práticas educa-cionais construídas com base em evidências científicas só-lidas. A metodologia, no en-

tanto, não é nenhuma inovação deste século. “Foi aplicada na medicina há algumas décadas e conquistou gradativamente espaços em diversas profissões, tais como psicologia e saúde pública. Porém, em educa-ção, os dados científicos ainda são pouco explorados”, relata Adriana Corrêa Costa, douto-ra em Educação e professora da Faculdade Porto-Alegrense (Fapa) e do Centro Universitá-rio La Salle (Unilasalle).

Para ela, o ofício de profes-sor ainda é baseado fundamen-talmente nas qualidades pes-soais, intuições, experiências e tradições. “É raro, nas outras profissões, que as crenças e as ideologias ocupem lugar tão importante ou que a base de pesquisa seja tão pouco utili-zada”, compara Adriana, que, assim como Araújo e Oliveira, relaciona a ausência de perspec-tiva científica à deficiência de obter melhoria da qualidade da educação e da profissionaliza-ção do ensino.

As próprias ideologias en-raizadas na educação emperram o desenvolvimento. É o que evidencia o diretor-presidente do Instituto Alfa e Beto. “São ideias predefinidas que acabam virando verdade e se propagan-do com facilidade”, justif ica. De acordo com o pesquisador, acaba se tornando muito mais

cômodo aceitar uma teoria em-pírica do que buscar ir além. “Até porque as pesquisas dão trabalho e demandam muito tempo”, ironiza ele.

Apesar da polêmica, a teo-ria já começa a ganhar repre-sentatividade internacional. O próprio livro Educação baseada em evidências: a utilização dos achados científicos para a qua-lificação da prática pedagógica, organizado pelos educadores ingleses Gary Thomas e Ri-chard Pring e lançado no Brasil pela Artmed Editora, apresenta casos comprovados de que essa prática funciona e traz retornos em sala de aula.

Problemas para serem solu-cionados não faltam. Segundo dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), o setor ainda mantém resultados de qualidade preo-cupantes. Enquanto a média das notas dos alunos de 5º e

é Uma Ong, SEm FinS EcOnômicOS,

cRiada Em 2006 com a finalidade de disseminar e

promover políticas e práticas de

educação baseada em evidências.

site:www.alfaebeto.com.br

é mUiTO maiS cômOdO acEiTaR

Uma TEORia EmPíRica dO qUE bUScaR iR aLém.

aTé PORqUE aS PESqUiSaS

dãO TRabaLhO E dEmandam mUiTO TEmPO

jOÃO BATISTA ARAújOE OLIVEIRA,

DOUTOR EM EDUCAÇÃO

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sala de aula eduCação baseada em evidênCias

De acordo com a obra, o au-mento da adesão ao movimento tem sido reflexo das necessida-des da própria sociedade. “Nun-ca houve tamanha pressão para que tanto as políticas educacio-nais como as práticas profissio-nais se tornem cada vez mais baseadas em evidências do que em opinião, na tradição ou no velho bom senso”, relata Pring.

Embora essa pressão não seja tão expressiva no Brasil, Araújo e Oliveira acredita que ela pos-sa ser impulsionada a partir dos resultados das pesquisas educa-cionais nacionais e internacio-nais. “Os números por si sós comprovam a real necessidade de mudança no setor, que tam-bém já é consenso entre todos os agentes educacionais – governo, escola, professores e alunos”, diz ele, que cita a eficiência do Saeb nesse processo, mas questiona a validade do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) e do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). “Trata-se de métodos de avalia-ção que, em vez de contribuírem para a criação de melhorias, são vítimas de ranqueamentos des-necessários”, acredita.

A verdadeira mudança, se-gundo o diretor-presidente do Instituto Alfa e Beto, está an-corada em uma transformação cultural. “O movimento deve ser iniciado pelas próprias uni-versidades, com a criação de um

ensino pedagógico fundamenta-do na ciência”, sugere. Ele, po-rém, não descarta a necessidade de adaptações nas próprias po-líticas educacionais. “As ações isoladas de professores e escolas, ainda que em menor proporção, também têm poder de desenvol-vimento do setor, bem como de propagação do potencial da teoria baseada em evidên-cias”, acrescenta.

Como aderir ao métodoO primeiro passo para os

educadores que querem romper com o tradicionalismo e incor-porar a nova teoria a suas ati-vidades é o amparo na biblio-grafia científica. As evidências, segundo Araújo e Oliveira, po-dem ser compostas com base em argumentos lógicos, testes de desempenho de alunos, ar-tigos publicados em revistas científicas e práticas educati-vas ancoradas em argumentos científicos sólidos. “Não é váli-do, no entanto, fundamentar-se em um único estudo. É preciso que se faça uma meta-análise de várias pesquisas, conside-rando até mesmo análises de outros países. Quanto mais fontes, mais sólida será a apli-cação”, orienta.

Não é por falta de pesqui-sas na área que o processo não será viabi l izado. “A lém da multiplicidade de periódicos reconhecidos, a internet tem facilitado o acesso a estudos

das mais variadas correntes”, aponta o estudioso, que reco-menda aos professores maior interação com o mundo cien-tíf ico. “Fazer parte dele, até para conhecer suas vantagens e aproveitá-las dentro da sala de aula.”

Além das pesquisas, Adria-na também defende a existên-cia da experiência profissional, “aspecto fundamental para pôr em prática a conduta baseada em evidências”, alerta. Mas, de acordo com ela, é necessário o uso equilibrado de práticas e evidências científicas. “Sem o saber prof issional a educa-ção não pode realizar as adap-tações necessárias para cada realidade escolar, nem operar nas áreas em que as pesquisas científ icas estão ausentes ou incompletas. Por outro lado, sem as evidências baseadas em pesquisa a educação não pode decidir entre abordagens con-correntes, nem evitar aborda-gens da moda”, considera.

E mais, uma teoria não é científica só por ter sido pro-posta. “Para ser científica, ela precisa ser testada”, completa Araújo e Oliveira. Portanto, após a meta-análise de todo o acervo científico e a definição de uma prática baseada em evi-dências, propõe-se a criação de projetos-piloto. “Essa medida avaliará a metodologia e me-dirá os resultados”, justif ica.

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Colégio Farroupilha

Colégio Farroupilha, em Campinas, no inte-rior de São Paulo, car-

rega em seu nome fragmentos da trajetória de sua fundadora, Mar-lene Aparecida Cassoli Leite. As-sim como os gaúchos, que se mos-traram desbravadores na luta por seus ideais na revolução que dá o nome à instituição, ocorrida em 1835, a educadora também arre-gaçou as mangas para concretizar, com o marido, José Flávio Ma-lheiros Leite, o sonho que a acom-

panhava desde a adolescência: construir uma escola com

projeto pedagógico di-ferenciado.

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LEgadO qUE NÃO ACABA

história do mantenedor

FamíLia abRaça a caUSa dE EdUcadORa qUE PROjETOU A ESCOLA DOS SONhOS E

APOSTOU NO CONhECIMENTO COMO fORMA DE TRANSfORMAÇÃO DO SER hUMANO

ENvIE A SUGESTão

DE SUA hISTóRIA

para o e-mail:

[email protected]

Div

ulga

ção

“Ela sempre defendeu a ideia de que o ser humano tem tudo para evoluir por meio da educa-ção. Um de seus ditados dizia que só é possível transformar infor-mações em conhecimento quan-do se trabalha o lado humano”, relata a também educadora e irmã de Marlene, Maria Laura Casso-li Macedo.

Ao longo de 35 anos de dedi-cação, Marlene sempre apostou na educação sob o enfoque cons-trutivista, respeitando a individu-alidade de cada aluno e sua ma-neira de olhar o mundo. Priorizou a qualidade por meio de um sis-tema de aprendizagem que tra-balha com um número reduzido de estudantes por sala. Inovou, criando metodologias reconhe-

cidas pela comunidade que nor-teiam a pedagogia do colégio até os dias atuais.

Foi com esse espírito que, a convite do diretor-geral do Far-roupilha, marido de Marlene, José Flávio, Maria Laura e o ir-mão, Oswaldo Cassoli Júnior, as-sumiram a direção pedagógica e financeira, respectivamente, em razão do afastamento da educa-dora, que foi diagnosticada com mal de Alzheimer, doença dege-nerativa que prejudica gradativa-mente a memória e outras fun-ções cerebrais.

“Ela era visionária e esteve à frente de seu tempo. Marlene res-pirou educação, por isso sua his-tória, ensinamentos e modelos de ensino estão retratados e vivos em cada livro que guardamos no es-paço dedicado a ela na escola”, diz a irmã.

Atualmente, o Colégio Far-roupilha, que há uma década as-sociou-se ao Pueri Domus Esco-las Associadas, abriga mais de 500 alunos nos Ensinos Infan-til, Fundamental I e II e Médio, em três unidades. Além da for-mação regular, a escola prioriza a arte como complemento na pre-

paração dos estudantes. Além das disciplinas tradicionais, os alunos têm acesso a sessões de reforço es-colar, aulas de dança, ioga, hip-hop, inglês, nutrição, capoeira e musicalização.

Longo caminhoPode-se dizer que a paixão de

Marlene pela educação nasceu quando ainda era garota. Junto de seus irmãos, ela cresceu assis-tindo às aulas de arte e desenho que a mãe, Niceas, lecionava para uma turma de alunos na própria residência, em Araraquara, no in-terior de São Paulo.

Embora sua primeira forma-ção superior tenha sido em Far-mácia e Bioquímica, a vocação fa-lou mais alto e Marlene buscou a Pedagogia, fazendo posterior-mente diversos cursos de especia-lização. De lá para cá, lecionou disciplinas da educação básica em escolas municipais e privadas.

No entanto, foi no final da década de 60 que ela deu vez ao empreendedorismo para fundar sua primeira instituição de ensi-

no. Logo que casaram, a educa-dora e seu marido mudaram-se para Porto Alegre (RS). Depois de dois anos lecionando discipli-nas do supletivo em casa, Mar-lene e Flávio criaram o Centro Feminino de Ensino (Cefen), voltado à educação de mulheres que não tiveram a oportunidade de frequentar os bancos escola-res. Quando a escola começou a dar os primeiros passos rumo à expansão, decidiram viver em Campinas (SP), em 1974, e, no ano seguinte, fundaram o Colé-gio Farroupilha.

Assim como os irmãos, os pais da educadora de alguma for-ma também sempre se fizeram presentes na história da institui-ção. Osvaldo Cassoli, já falecido, ajudava, com a esposa, Niceas, hoje com 85 anos, a comprar os alimentos e materiais servidos e usados na escola. Foi no Colé-gio Farroupilha que Marlene viu seus filhos e sobrinhos dar os pri-meiros passos e se preparar para o futuro profissional. Um legado, sem dúvida, que será conduzido ainda por outras gerações.

o civismo e a preocupação com a cidadania inspiraram não apenas o nome da instituição, mas as práticas pedagógicas adotadas

Por Simone Bernardes

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Comportamento a diversidade dentro da esCola

ilhos de pais separados, mães solteiras, viúvas que assumem sozinhas a educação dos pe-

quenos. A sociedade contemporâ-nea apresenta diferentes formações de família. Além disso, convivemos com a miscigenação de culturas e raças, religiões e comportamentos – fruto da globalização e consequência de aspectos que compreendem um processo de modernização natural entre os povos. O convívio com a diversidade deve ser construído tam-bém pelo educador ao conduzir os trabalhos em sala de aula, é o que defendem especialistas.

“Em um país multicultural como o nosso, é fundamental que a diversidade em suas múltiplas facetas esteja representada, seja dis-

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LidaR cOm aS divERSidadES dOS TEmPOS “mOdERnOS” E compreendê-las melhor é tarefa que requer parceria cada vEz maiS ESTREiTa EnTRE EScOLa E FamíLia. EM UM PAíS MULTICULTURAL COMO O BRASIL, SEjA qUAL fOR O gRAU DE MIOPIA OU ASTIgMATISMO, é POSSíVEL OBSERVAR A REALIDADE EM SUAS MúLTIPLAS fACETAS E DE DIfERENTES fORMAS

COM qUAIS LENTES EnXERgamOSO MUNDO?

por Juliana Lanzuolo

cutida, desmistificada. É essencial também que se reconheça que a diversidade não é um privilégio da-qui. Ela faz parte de um processo global e revela-se facilitada pelos recursos tecnológicos como a inter-net. Entretanto, é importante não nos limitarmos a ela”, recomenda Janete Schmidt, especialista em psicopedagogia e educação pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Camp) e coorde-nadora do Núcleo de Investigação Psicopedagógica dos Problemas de Desenvolvimento e Aprendizagem (Nippad), da Universidade de Cam-pinas (Unicamp).

Segundo a docente, aceitar a opinião do outro é um processo construtivo, pois no início a criança tende a ser egocêntrica e para ela é difícil admitir que haja uma verdade diferente da sua. “Por isso, ao con-templar as diferenças em atividades em grupo, incitamos a superação do egocentrismo para a construção do respeito mútuo e aceitação das di-versidades. Quando propomos ati-vidades assim, favorecemos o debate e que os alunos construam a própria identidade – o que inclui o orgulho de ser o que se é”, ressalta.

Elizabeth Fernandes, diretora de uma rede municipal de educação, comenta sobre a origem do precon-ceito, fator que pode dificultar a abordagem de determinados temas em sala de aula. Ela diz que nas esco-las públicas o professor é orientado a perceber que o preconceito é um as-pecto humano, inerente a qualquer um, e recomenda que o educador se autoavalie, percebendo o que o inco-moda no outro, e faça um exercício

para que aquilo não interfira em seu trabalho. “Porque, se a criança percebe que não é aceita pelo pro-fissional, pode haver um bloqueio em seu processo de aprendizagem e socialização. Quando o professor reconhece quais são suas limitações, tem condições de trabalhar contra elas”, aconselha.

Há situações que inspiram mais cuidados, como a apresentação das famílias na Educação Infantil, em que pode surgir nos desenhos ou no diálogo entre os pequenos uma formação pouco comum – de um casal homossexual, por exemplo. “Situações como essa costumam permanecer no âmbito privado da família, mas, quando emergem em uma discussão em sala, nossa condu-ta é tratar qualquer que seja a com-posição familiar de maneira iguali-tária”, atesta Lady Cristina Sabadell, diretora da unidade Itaim da Escola Pueri Domus, em São Paulo (SP).

No mesmo sentido, Felix Lopez, autor do livro Homossexualidade e família, chama a atenção para os be-nefícios da diversidade para a forma-ção do indivíduo quando encarada de maneira não preconceituosa. “É fundamental trabalhar com profes-sores, pais e alunos o fato de que a diversidade nos permite ser como so-mos e que podemos somar uns aos outros com as diferenças. Assim, o tema deixa de ser um problema para se tornar rico em conteúdo”, afirma.

Recursos em sala de aulaO tema família tem de cons-

tar no currículo escolar desde a Educação Infantil até o Ensino Médio e a abordagem dos assun-

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fEV/MAR/ABR24 SUPER EScOLa 25

tos também precisa se adequar à faixa etária. “Os educadores devem exaltar os valores de con-vivência dentro da escola e na so-ciedade para que os alunos perce-bam desde pequenos o respeito às diferentes composições familiares e suas características e, sobretu-do, o que é possível a cada colega mediante seu talento individual”, comenta Lady Cristina.

Para isso, os professores po-dem se valer de elementos cultu-rais, como o cinema e a literatura, discutindo essas representações. Lady Cristina cita como exemplo o filme Cidade de Deus, que apre-senta um mote para que o profes-sor debata a quebra de algumas convenções sociais e como elas se manifestam. “Podemos trabalhar a reflexão no aluno, fazendo-o pensar sobre a sociedade e os ou-tros de maneira menos preconcei-tuosa, menos discriminatória. O filme ajuda a generalizar o tema e nos permite debater as diferenças não de forma nominal, atribuída à criança, mas como possibilidade de organização social. Além do quê, assistindo ao filme, você está fora de uma situação de tensão, o que resulta em um debate mais rico”, recomenda a diretora da unidade Itaim do Pueri.

O alfabeto que ajuda“Defendo atividades que co-

loquem o aluno como principal ator de seu processo de aprendi-zagem, que privilegie a invenção e a descoberta em vez da simples transmissão de conhecimentos, pois acredito que tudo o que aprendemos com o corpo e com

a mente nunca será esquecido”, ressalta Janete Schmidt.

Para exemplificar, a educado-ra cita uma atividade do proje-to “O Lugar da Afetividade no Fracasso Escolar” realizada em uma escola municipal de Piras-sununga, no interior de São Pau-lo, cujo objetivo era desenvolver a convivência entre crianças do primeiro ano do Ensino Funda-mental que apresentavam dificul-dades no trabalho em pequenos grupos. No jogo “Alfabeto Vivo”, cada criança representava uma le-tra, que era desenhada em uma folha e pendurada em seu pesco-ço. “O objetivo era levar todos a perceber a importância do outro, sem o qual as palavras propostas não poderiam ser formadas. Ao término do jogo, em círculo, os participantes foram convidados

Comportamento a diversidade dentro da esCola

a refletir sobre os comportamen-tos necessários para que o jogo transcorresse de forma prazerosa e harmoniosa”, explica.

Em um segundo momento, com base nas reflexões suscita-das pelo debate, eles recorreram ao livro O que fazer? Falando de convivência, de Liliana Iacocca e Michelle Iacocca, para enfatizar a origem e a necessidade das re-gras de convivência. Em seguida, foram distribuídos cartões extra-ídos do livro que continham situ-ações do cotidiano das crianças, e elas tiveram de responder o que fariam se estivessem vivendo aquelas situações. “As experiên-cias desencadeadas foram enri-quecedoras e mostraram que é possível e viável trabalhar com a diversidade no espaço escolar”, conclui Janete Schmidt.

O dRama LançadO Em 2002, diRigidO POR FERnandO mEiRELLES E káTia LUnd, se passa num conjunto habitacional na zona oeste do rio de janeiro e expõe as deficiências da sociedade nas décadas de 60 e 70

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gestão/marketing endomarketing

m 2009, Patrícia Alcântara Verde, diretora adminis-trativa do Colégio Cone-

xão Aquarela, de Macapá (AP), decidiu dar um passo importante rumo à transformação da forma de gerir a instituição de ensino, alinhando as estratégias de negó-cio às habilidades e competências de seus colaboradores.

Semanalmente, um coach re-aliza encontros com professores, coordenadores pedagógicos e di-retores para definir metas, estabe-lecer novos projetos com base em um brainstorming e desenvolver

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qUANDO O PúBLICOINTERNO

fALA AmESma LíngUa

PROFESSORES E diRETORES, SEm dúvida, SãO ESPELhO dE Uma inSTiTUiçãO dE

EnSinO PaRa mUiTOS PaiS E aLUnOS. COM O OBjETIVO DE UNIfORMIzAR DISCURSOS E

MELhORAR O fLUxO DE COMUNICAÇÃO COM SEUS CLIENTES, ESCOLAS INVESTEM CADA VEz

MAIS NO ENDOMARkETINg

as potencialidades de cada um de acordo com o posicionamento pretendido pelo colégio.

“A iniciativa faz com que es-ses profissionais sintam-se cada vez mais participantes do pro-cesso construtivo da organiza-ção. A interação entre as equipes é o que ajuda a consolidar a ima-gem que os pais e os alunos têm e terão da escola. É um processo trabalhoso, mas dá resultados”, afirma Patrícia.

Iniciativas como as desenvol-vidas pelo colégio macapaense

mostram que o endomarketing – ação que consiste em dissemi-nar ao público interno de uma organização as mais variadas in-formações e decisões estratégicas da empresa, uniformizando con-ceitos – é ótima ferramenta a ser utilizada em prol do crescimento de uma instituição de ensino.

De acordo com Analisa de Medeiros Brum, publicitária pioneira nas pesquisas sobre endomarketing no Brasil e autora de diversas obras, as ações estraté-gicas que envolvem essa ferramen-ta respondem pelo fortalecimento

anaLiSa dE mEdEiROS bRUm estuda e trabalha com endomarketing desde o início da década de 1990 e é uma das pioneiras do mercado editorial sobre esse tema com o lançamento de mais de seis livros. As obras tornaram-se referência no assunto e passaram a ser utilizadas nos cursos de Comunicação social e de Administração de Empresas de universidades nacionais e internacionais

Por Simone Bernardes

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de uma marca ou de um conceito porque fidelizam, em primeiro lugar, os colaboradores, que têm contato direto com o público-alvo da empresa.

“A informação é considerada o principal elemento das ações de endomarketing. Quanto melhor e mais apurado for o conteúdo re-passado, maiores serão a intera-ção e o comprometimento desses profissionais, e os resultados se tornarão visíveis”, destaca.

No caminho certoE foi o bom direcionamento

da informação que levou ao su-cesso da campanha “Uma escola que vale por duas”, a primeira re-alizada pelo Colégio Criarte, de Maringá (PR), também em 2009.

Antes de colocar os planos em ação, Cristiane Strozzi, man-tenedora da instituição, reuniu

sua equipe de coordenadores e professores para repassar todas as questões que envolviam a campa-nha, bem como para alinhar as ideias ao planejamento da escola. O resultado não poderia ser me-lhor. Os colaboradores sentiram-se tão motivados que, ao longo de 45 dias, prontificaram-se a participar das estratégias traça-das, arregaçaram as mangas e foram a diversos locais, como su-permercados, escolas de idiomas, academias de ginástica e cinemas da cidade, para levar informações sobre o colégio.

“Essa experiência nos ensinou que, quando a comunicação in-terna flui, os resultados e a ma-neira como a imagem da escola chega ao público externo são ex-celentes”, completa Cristiane. A mantenedora calcula que a inicia-tiva aumentou em 20% o número de matrículas no Criarte.

A consultora Analisa de Medeiros Brum aborda essas e todas as demais questões que envolvem essa ferramenta em sua mais recente obra, Endomarketing de A a Z, lançado em março pela editora Integrare. A consultora listou os cinco principais elementos que devem compor uma campanha que traga resultados eficazes. Confira!

– Caráter informativo ou motivacional.– Conceito que se alinha à cultura e à política da

empresa.– Elementos emocionais que façam

com que os colaboradores se identifiquem com as ideias.

– Criatividade para estimular a participação e colaboração dos profissionais.

– Campanha com início, meio e fim, ou seja, um processo que envolva planejamento, desenvolvimento e, o mais importante, feedback.

o qUE UmA ESTRATéGIA DE ENDomARkETING DEvE TER?

gestão/marketing endomarketing

Coordenadores e professores do Colégio Conexão Aquarela, durante brainstorming: práti-ca constante na instituição

indiCação de leitura lançamentos

FamíLia acima dE TUdOautor: stephen KanitzEditora: thomas nelson nº de páginas: 184 Preço: R$ 29,90

o que fazer quando o convívio familiar e a atenção necessária aos filhos e ao cônjuge disputam a prioridade com a carreira profissional? em resposta a essa pergunta, o autor resgata a importância e a prioridade da família para que o leitor possa lidar com as dificuldades de manter família e emprego em equilíbrio.

EdUcaçãO a diSTância: da LEgiSLaçãO aO PEdagógicOautores: rosilâna aparecida Dias e Lígia silva LeiteEditora: vozes Páginas: 128Preço: R$ 21,00

A expansão da educação a distância e os desafios atrelados a ela é que permeiam as discussões apresentadas na obra. Os educadores encontram o embasamento para compreender melhor os aspectos legais, pedagógicos e tecnológicos da educação a distância para uma prática mais consistente.

FUndamEnTOS da EdUcaçãO inFanTiL: EnFREnTandO O dESaFiOautores: Janet moyles e colaboradoresEditora: Artmednº de páginas: 320Preço: R$ 54,00

a obra auxilia aqueles que trabalham com crianças a lidar com questões e desafios de forma sensível, sem deixar de ser profissional e sem perder o foco do atendimento personalizado aos pequenos.

TEORia da aPREndizagEm na ObRa dE jEan PiagETautor: adrian oscar Dongo-montoyaEditora: Unespnº de páginas: 222Preço: R$ 42,00

Dongo-montoya apresenta um resgate profundo e uma análise detalhada das obras de piaget sobre aprendizagem e desenvolvimento. para o filósofo francês, a aprendizagem não se resume a absorver o que o mundo exterior traz de conhecimento, mas capacita o indivíduo a criar as próprias estruturas de pensamento.

aS SETE cOmPETênciaS báSicaS PaRa EdUcaR Em vaLORESautores: Xus martín García e Josep maria puigEditora: SummusPáginas: 184Preço: R$ 54,90

especialistas em educação na Espanha apresentam as sete competências pessoais e profissionais para que o professor eduque em valores. Os autores abordam os diversos problemas do ensino e as causas e os desafios da revolução educacional, defendendo o princípio da educação para a construção da cidadania.

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ulga

ção

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fEV/MAR/ABR30

opinião

A PREOcUPaçãO COM O TERMôMETRO NÃO fARá baiXaR a TEmPERaTURa...

que poderei dizer que já não tenha sido dito em meu país de adoção? O que direi, se

o conselho de classe já foi objeto de inúmeros artigos, dissertações e teses? O que poderei acrescentar de útil, se já nele participei, se já o testamos na Ponte, ao longo de mais de duas décadas, e o dispensamos?

Ressalvadas as exceções, as reuni-ões desse órgão são rituais absurdos, decorrentes de um absurdo maior. Não é somente o conselho de classe que deve ser substituído por algo que faça sentido. É toda a escola que deve interpelar e reelaborar sua cultura.

É vasto o conjunto de suas atri-buições (deliberar sobre objetivos, me-todologias, formas e critérios de ava-liação, a inter-relação com a família, adaptações curriculares para alunos com necessidades especiais). Poderia constituir-se em um espaço de gestão democrática, mas predominam atitu-des autoritárias e discriminatórias.

São nítidas as diferenças entre o espírito dos normativos que re-gem o funcionamento do conselho de classe e sua prática. É um órgão pesado e burocratizado. Junta pro-fessores das diversas disciplinas com

OPor José Francisco de Almeida Pacheco

jOSé FRanciScO dE aLmEida

PachEcO é LicEnciadO

Em ciênciaS da EdUcaçãO

E mESTRE Em EdUcaçãO

da cRiança pela Faculdade de psicologia e de Ciências da

Educação da Universidade do

porto, em portugal. Autor de diversas

obras, como Caminhos para

a inclusão (porto alegre: artmed,

2006) e escola da Ponte: formação e transformação

(são paulo: vozes, 2007), foi um dos

precursores da escola da ponte

coordenadores pedagógicos, super-visores, orientadores educacionais e até alunos.

Ao contrário do que a lei esta-belece, na prática, a preocupação do conselho não é a de dinamizar a gestão pedagógica, mas a de clas-sificar alunos. E classificar de modo ingênuo e inútil. Confunde-se ava-liar com aplicar prova; confunde-se avaliação com classificação. A orga-nização interdisciplinar e a centrali-dade da avaliação como foco de tra-balho estão ausentes. Prevalece um ritual que se restringe ao veredicto de aprovado ou reprovado. O resto é o “fechar as notas”, queixas e en-caminhamentos para especialistas.

Cito registros de observação de uma reunião de Conselho de Classe, onde se faz uso e abuso de aprecia-ções subjetivas:

Ele é muito desorganizado, ele é muito disperso, não faz nenhu-ma tarefa.

Não seria um PPDA?Ele é atirado. O próprio jeito de

ele caminhar. Caminha assim, ó! Com os pés arrastando.

Então, a gente pode fazer um PPDA e colocar no PPDA isso.

Deve ser PSAE...

Cito um normativo: O Conselho de Classe reunir-

se-á, ordinariamente, conforme ca-lendário anual divulgado pelo nível central da Secretaria Municipal de Educação; o Conselho de Classe Extraordinário reunir-se-á con-forme previsto na Deliberação E/CME n° 16/2008, desconsiderando a Resolução SME mencionada no preâmbulo da referida legislação.

Cito, por fim, algumas das ta-refas impostas a um conselho de classe, no ano letivo de 2009:

Índices de Aprovação [...] dos dois últimos anos. Os dados devem ser apresentados através de números e porcentagens. Última pontuação obtida no IDEB. Meta proposta pelo IDEB para 2009 [...].

Se não fosse grave, seria hi-lariante. É preciso alguém que “ponha o dedo na ferida”, para que não se continue a estigmati-zar o doente, sem que se faça a etiologia da doença. Quando se discutem os graus de uma febre malsã, parece que ninguém en-tende que não é a preocupação com o termômetro que fará bai-xar a temperatura...

DPZ

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