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EXTINÇÃO Autores: Luis Antonio de Pinho e Fernando Mayer Pelicice Sumário I. Introdução II. Padrões e causas naturais da Extinção III. Extinções em massa IV. Extinção normal ou de fundo V. Extinções de fundo em Populações pequenas VI. Extinções de fundo por fatores genéticos VII. Histórico do estudo sobre Extinção VIII. Padrões e causas atuais de extinções IX. Níveis de ameaça às espécies X. Considerações finais XI. Referências

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EXTINÇÃO

Autores: Luis Antonio de Pinho e Fernando Mayer Pelicice

Sumário

I. Introdução

II. Padrões e causas naturais da Extinção

III. Extinções em massa

IV. Extinção normal ou de fundo

V. Extinções de fundo em Populações pequenas

VI. Extinções de fundo por fatores genéticos

VII. Histórico do estudo sobre Extinção

VIII. Padrões e causas atuais de extinções

IX. Níveis de ameaça às espécies

X. Considerações finais

XI. Referências

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I. Introdução A origem da vida na Terra ainda não é plenamente conhecida, existindo algumas teorias que tentam iluminar essa questão. O fato é que, desde esse acontecimento, a variedade de espécies vivendo no planeta vem aumentando, sendo resultado de diferentes interações que ocorrem em nível do indivíduo, assim como interações que envolvem o ambiente e os seres vivos, num processo denominado especiação (Figura 1).

Figura 1: As diferentes maneiras pelas quais pode ocorrer a especiação: alopatria, peripatria, parapatria e simpatria.

As diferentes forças de pressão que atuaram sobre as espécies,

como as mudanças climáticas, moldaram os atributos biológicos que hoje estudamos como a idade de maturidade, número de descendentes e expectativa de vida. Esses atributos, no seu conjunto, compõem a história de vida do organismo. Fatores como competição inter ou intraespecífica, doenças, predação ou mudanças ambientais representam importantes forças de seleção atuando diretamente no desenvolvimento e modificação desses atributos, sendo também promotores diretos da especiação. Esses fatores em elevada intensidade, entretanto, podem provocar efeitos extremos, a ponto de impedir que uma espécie mantenha uma população viável num determinado local ou região. Quando isso ocorre, e o último indivíduo da espécie é eliminado, acontece o que chamamos de extinção da espécie.

Por toda a história geológica da Terra, a taxa média de especiação superou a de extinção, uma condição que resultou no aumento progressivo de diversidade ao longo das eras. A diversidade

Saiba mais O termo especiação designa o surgimento de novas espécies a partir de uma forma ancestral, por meio de mudanças na frequência gênica da população existente. Essa “criação” pode acontecer em quatro cenários diferentes (Figura 1). A nova espécie pode aparecer pelo surgimento de uma barreira que segrega a população original (alopatria), pode ocorrer pela ocupação de um novo habitat, posteriormente isolando-se (peripatria) ou não (parapatria), ou pode aparecer por mudanças genéticas que ocorrem em populações coexistindo em um mesmo habitat (simpatria).

Saiba mais A história de vida

do organismo diz de que maneira os indivíduos se reproduzem, crescem e morrem, podendo-se assim estudar as diferenças que ocorrem dentro e entre as espécies e os fatores que levam a essas variações.

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de espécies no planeta teve taxas crescentes até cerca de 30 mil anos atrás, período em que ocorreu a maior diversidade biológica no planeta. Porém, esse valor passou a diminuir conforme o crescimento da população humana, atingindo níveis de extinção comparáveis a de grandes catástrofes que ocorreram no passado. Essa unidade procura abordar os fatores que levam as espécies à extinção, discutindo aqueles tidos como naturais, assim como o papel da espécie humana nesse processo.

Ao final dos estudos dessa unidade, você será capaz de: conhecer os mecanismos pelos quais a extinção naturalmente ocorre; saber de que maneira a atividade humana está causando um aumento nas taxas de extinção; entender a importância da pesquisa básica sobre extinção, para que se possa aplicar esse conhecimento, de modo que a humanidade não interfira tanto nos processos naturais, em particular na extinção de espécies; verificar como você faz parte do processo de perda da biodiversidade.

II. Padrões e causas naturais da Extinção Primeiramente, é importante esclarecer que o conceito de extinção tem sido utilizado nem sempre com o mesmo sentido. Existem conotações que levam em consideração a distribuição geográfica da espécie. Caso a espécie ocorra em mais de um local, e aconteça a morte do último indivíduo em uma localidade, como em uma bacia hidrográfica ou uma reserva florestal, dizemos que ocorreu a extinção local da espécie. Esse tipo de extinção provoca efeitos apenas sobre o ecossistema regional, visto que serviços e relações previamente atrelados a espécie deixam de existir. Porém, nesse caso ainda não se estabeleceu a perda total do genoma da espécie e a espécie localmente extinta ainda pode ser encontrada em outras regiões. Já na extinção global, todos os indivíduos foram erradicados do planeta e o referido táxon, nesse caso, deixaria de existir na natureza. Alguns ecólogos utilizam também o termo extinção ecológica para designar uma espécie que não possui uma população viável na natureza, destinada a desaparecer com o tempo. Maiores explicações sobre categorizações do estado de ameaça de uma espécie serão dadas mais adiante. A extinção é parte fundamental da natureza e do processo da

vida na Terra. Como dito, eventos sucessivos de extinção e especiação

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se somaram por milhões de anos, criando e moldando a biodiversidade que hoje contemplamos no planeta. Estima-se que cerca de 99% das espécies que já viveram no planeta estejam agora extintas, mas as causas e os fatores que levam às extinções naturais ainda são pouco conhecidos.

O fenômeno é dificilmente observável em condições laboratoriais e de estudos de campo, já que a extinção natural (assim como a especiação) tende a ser um processo moroso, acontecendo em escalas temporais muito amplas (geológica), compatível com o ritmo temporal do planeta. Assim, o estudo dos mecanismos por trás das extinções tem sido feito por meio de modelos teóricos e matemáticos e da análise da documentação do registro fóssil. Diversas são as dificuldades encontradas, já que os dados empíricos e teóricos e a documentação do registro fóssil, que é considerada pelos próprios pesquisadores como problemática, muitas vezes não coincidem. O material coletado possui inúmeras lacunas temporais, dadas pela simples falta de registro, pela dificuldade de se analisar geneticamente o material mais antigo e o viés dado pelos próprios fósseis, já que não são todos os tipos de organismos que permitem a fossilização. Apesar de todas as dificuldades, o conhecimento científico avançou e é isso o que vamos ver a seguir.

III. Extinções em massa Além das extinções pontuais e difusas que aconteceram por toda a história do planeta (ver a seguir), sabe-se que ocorreram ao menos cinco eventos de extinção em massa, fenômenos raros de desastres naturais súbitos que destruíram grande parte na vida na Terra (Tabela 1). Segundo David M. Raup, em seu livro “Extinção: maus genes ou má sorte?”, de 1991, a maioria desses eventos ocorreu depois de impactos de grandes meteoritos (chamados de bólidos) com a Terra. Um ponto mais controverso de sua teoria afirma que a sobrevivência das espécies em tais eventos, dependeu apenas da distância do ponto zero do impacto, e não de adaptações adquiridas com o processo evolutivo. A tabela 1 aponta também outras razões para algumas das extinções em massa, e muitos autores concordam com essas outras teorias; porém as ideias de Raup ainda são válidas e deram novos rumos teóricos para a discussão sobre os principais motores dos processos de extinção e evolução.

Saiba mais

David M. Raupp é paleontólogo da Universidade de Chicago. Estuda a diversidade de vida na Terra e os registros fósseis. Junto com seu colega, Jack Sepkoski, ele sugere que a extinção dos dinossauros, há 65 milhões de anos, fez parte de um ciclo de extinções em massa que ocorre a cada 29 milhões de anos.

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Tabela 1: Eventos de extinção em massa registrados no planeta (adaptado de RAUP, 1994; JØRGENSEN; FATH, 2007).

Período

geológico

Ocorrência

(milhões de anos

atrás)

Diversidade extinta

(%) Razão potencial

Ordoviciano 440 85 Esfriamento

global súbito

Devoniano 370 82 Mudança

climática global

Permiano 245 96

Mudança

climática global

induzida por um

bólido

Triássico 210 76 ???

Cretáceo 65 76 Colisão de

meteorito

Atividade Complementar 1

Com base no que vimos até agora, responda às seguintes questões:

1. O termo “extinção” designa sempre o mesmo fenômeno?

Quais são as disciplinas que estudam esse acontecimento? 2. Quais são as grandes dificuldades em se estudar o processo

de extinção?

3. O que são extinções em massa?

IV. Extinção normal ou de fundo Além desses eventos, outras forças provocam o que se chama de extinção normal ou de fundo. Esse tipo de extinção representa a taxa

esperada de perda de espécies na ausência de eventos extraordinários. Diferentes fatores, como competição por recursos, predação excessiva, irrupção de doenças ou modificações na qualidade do ambiente, podem diminuir a aptidão reprodutiva (fitness – capacidade em deixar descendentes viáveis) dos organismos a um nível em que a população é incapaz de se manter.

Como o ambiente e a matriz biótica (espécies) estão em perpétua transformação, espécies estabelecidas não possuem garantia alguma de que estejam mais consolidadas e adaptadas frente a outras espécies que surgem. Caso espécies novas consigam ter alguma vantagem adaptativa que a permita utilizar um recurso outrora utilizado pela espécie estabelecida, essa poderá ter dificuldades em

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manter uma população viável. A hipótese da “Rainha Vermelha”, criada por Leigh Van Valen, em 1973, lida com essa questão, afirmando que as espécies estabelecidas possuem as mesmas chances de se extinguirem que as espécies novas, caso não continuem a se especializar (evoluir) para se adaptar às novas condições. Seu nome se deve à passagem do livro de Lewis Carroll, “Alice no País das Maravilhas”, em que Alice tenta correr atrás da rainha vermelha, mas se dá conta, após algum tempo, de que tanto ela quanto a rainha continuavam no mesmo lugar (Figura 2).

Figura 2: Ilustração do trecho do romance “Alice no País das Maravilhas” que deu nome à teoria de Van Valen. No caso, a Rainha Vermelha diz a Alice: “Aqui, como você vê, precisamos estar sempre correndo para ficar no mesmo lugar”.

A extinção normal pode acontecer pela ação de desastres

naturais, com sua dinâmica de ação dada pelo acaso. Mas, existem outros dois motivos pelos quais a extinção natural ocorre: i) nos momentos em que as populações são raras e pequenas e ii) quando ocorrem determinados processos de ordem genética, geralmente também atrelados a pequenas populações.

A população de certa espécie invariavelmente torna-se escassa em algum momento de sua existência. No início do episódio da especiação, por exemplo, ela naturalmente possui um pequeno contingente. Mesmo que a espécie aumente sua distribuição geográfica, ela pode possuir populações de pequeno tamanho, por exemplo, se viver em ambientes de dimensões restritas, como uma pequena ilha. Além disso, a população pode se tornar rara, pois a sua área geográfica e seu contingente foram diminuídos por um episódio qualquer.

V. Extinções de fundo em Populações pequenas Quando a população é pequena, dado qualquer um dos motivos citados acima, uma série de razões pode provocar sua extinção. A importância desses fatores depende do tamanho da população e das

Saiba mais

Leigh Van Valen é um biólogo evolucionista e, atualmente, é professor do Departamento de Ecologia e Evolução da Universidade de Chicago. Ele propôs a hipótese da “Rainha Vermelha” como uma explicação para a Lei da Extinção.

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características da espécie. As causas da extinção normal ou de fundo podem ser de natureza ambiental, demográfica e/ou genética, e podem ter características estocásticas ou mais determinísticas. A seguir, iremos detalhar os diferentes processos que, quando presentes, podem diminuir uma população até sua extinção.

A estocacidade ambiental é o nome dado aos eventos

inesperados que modificam de maneira significativa a qualidade do ambiente, como situações em que se tenham alterações climáticas, afetando toda a população de maneira similar. Essas mudanças podem alterar taxas reprodutivas ou de sobrevivência das formas existentes. Como exemplo, tomemos o caso recente de uma espécie de borboleta (Euphydryas editha bayensis) presente na Califórnia, Estados Unidos (Figura 3). Pela variação ambiental das últimas décadas, ocorreram anos mais secos em que houve grande mortalidade de larvas devido à rápida morte das plantas que servem de alimento à espécie, ocasionando inúmeros episódios de extinções locais.

Figura 3: Euphydryas editha bayensis, espécie de borboleta ameaçada de extinção global devido à repetidas extinções locais.

Variações demográficas ao acaso também podem implicar a extinção normal de populações pequenas. Por exemplo, o sucesso reprodutivo de uma população pode variar de maneira estocástica entre os anos, fazendo com que sua taxa de crescimento intrínseco (natalidade – mortalidade) varie consideravelmente. Como o contingente é limitado, uma diminuição exagerada na taxa de crescimento pode colocar a população em situação de risco, especialmente se um evento promotor de mortalidade se suceder.

Entre os processos demográficos que podem ser considerados mais determinísticos para a extinção normal, está o efeito de Allee, que é o declínio da aptidão reprodutiva dada não por motivos genéticos e sim pela baixa densidade populacional. Por exemplo, num caso em que uma população está se estabelecendo, buscando aumentar suas taxas de incremento populacional, e um fator externo,

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como a predação, impede o aumento de sua densidade populacional. Outro processo de natureza semelhante é o efeito de borda, em que, por diversos motivos, os indivíduos da população se deslocam para os habitats marginais, e têm uma queda na sua aptidão. Conforme a amplitude geográfica dessa população diminui, aumenta a parcela populacional que está na borda, e tem a aptidão reduzida.

Dinâmica Metapopulacional refere-se a redes de subpopulações que se mantêm estruturadas devido a constantes migrações entre essas manchas populacionais (Figura 4). Diversos fatores controlam o processo de migração entre as subpopulações, como o número, tamanho e distribuição das manchas populacionais, e as taxas de dispersão entre elas. Caso a população diminua, seja em números de indivíduos ou de subpopulações, o fluxo de indivíduos entre as manchas pode ser alterado de forma que inevitavelmente ocorra o colapso do sistema. Essa seria então uma razão demográfica e mais determinística para a extinção normal.

Figura 4: Representação de uma dinâmica metapopulacional de Thamnophis elegans, uma espécie de cobra presente no lago “Eagle”, Califórnia. As diferentes siglas indicam subpopulações distintas, e os círculos e setas são proporcionais ao tamanho da subpopulação e da taxa de migração, respectivamente (adaptado de MANIER; ARNOLD, 2005).

VI. Extinções de fundo por fatores genéticos Agora falaremos dos processos genéticos que facilitam a ocorrência de extinções de fundo. Entre esses processos está a hibridização,

Thamnophis elegans

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evento em que há o cruzamento interespecífico que, gerando uma prole viável, propicia a especiação. Quando ocorre uma hibridização entre uma população pequena e outra maior, algumas situações podem desfavorecer a primeira. Pode, por exemplo, acontecer a redução do recrutamento (reposição) de novos indivíduos às populações originais, dificultando sua manutenção e crescimento (Figura 5). Deve se considerar também a possibilidade da espécie hibridizada se tornar competitivamente superior que a matriz, reduzindo a aptidão dos indivíduos da população parental. Alternativamente, a hibridização pode aumentar a frequência de proles estéreis, um processo com efeitos extremamente negativos para o recrutamento populacional, especialmente quando a chance de acasalamento entre espécies é mais provável que o cruzamento intraespecífico.

Figura 5: Extinção via hibridização, em que uma população rara (círculos brancos) se cruza com outra espécie (círculos negros), diminuindo o recrutamento de novos indivíduos a cada geração (adaptado de MAYHEW, 2006).

A depressão por endogamia é outro processo genético que

pode conduzir uma espécie rumo à extinção de fundo. Ele ocorre quando a taxa de cruzamentos entre parentes ou indivíduos

geneticamente próximos é elevada, como, por exemplo, quando o tamanho populacional é diminuído de maneira drástica (sobrando poucos indivíduos em condição reprodutiva) ou quando uma pequena população fica confinada a um pequeno ambiente (com pouca chance de migração). A endogamia, por facilitar o aparecimento de homozigose de alelos recessivos deletérios, ocasiona a formação de proles defeituosas ou com baixa variabilidade genética. Geralmente, as consequências desse processo são observadas pela diminuição progressiva no tamanho da prole entre gerações, ou pela diminuição na viabilidade reprodutiva da prole.

Atividade Complementar 2

Descreva as maneiras pelas quais ocorre a extinção de fundo ou normal. Fale também sobre os processos que levam a extinção

normal em populações pequenas.

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VII. Histórico do estudo sobre Extinção Com tudo o que vimos até agora, entende-se que a extinção é um

fenômeno natural, presente em toda a história geológica do planeta, que pode ser favorecido em algumas circunstâncias. Junto com a especiação, a extinção representa um dos processos elementares por trás da biodiversidade do planeta Terra, nos diferentes instantes de sua longa história. Esse entendimento, entretanto, não foi sempre assim. A aceitação de que espécies poderiam se extinguir é assunto muito recente. Agora que conhecemos mais sobre as causas da extinção, podemos fazer um resumo de todo o processo histórico que levou ao conhecimento atual.

Em tempos imemoriais, antes mesmo do nascimento formal da filosofia (~VII a.C.), o mundo era explicado por mitos. Mitologias de criação, que relatam o nascimento do mundo e de seus seres, usualmente argumentam que as espécies foram criadas independentemente num momento particular da história, pelo capricho e onipotência de um Criador. Uma vez colocadas no mundo, as espécies só deixarão de existir por intervenção do mesmo criador (como explica a história bíblica cristã do Dilúvio e a Arca de Noé). Nessa interpretação, as espécies que habitam o mundo hoje são exatamente as mesmas que povoaram o mundo no dia da criação. Extinções casuais, sem a intervenção do Criador, são impossíveis.

Esse pensamento prevaleceu por quase toda a história da humanidade e só começou a mudar com a descoberta (ou reinterpretação) dos fósseis (Figura 6), entre o século XV e XVIII. Até então, o material fóssil, principalmente conchas, ossos e pequenos animais, recebia interpretações de diferentes naturezas. Por exemplo, eram tomados como pedras que curiosamente se assemelhavam aos seres vivos, organismos viventes que haviam sido petrificados, ou mesmo vestígios de seres bestiais, como fênix e dragões – nunca como representantes de espécies que deixaram de existir.

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Figura 6: Exemplar fóssil de Tyrannossaurus rex, espécie extinta há mais de 65 milhões de anos (Fonte: Wikimedia Commons).

Para você esse tipo de pensamento representa algo inconcebível, mesmo para aqueles que viviam na época? Responda e siga com a leitura. Análises mais detalhadas do material, entretanto, mudaram o

rumo das interpretações. A falta de correspondência entre a biota existente e as formas fósseis, sua localização particular e improvável (conchas no cume de montanhas), assim como sua distribuição precisa em estratos no sedimento levaram os pesquisadores da época a imaginar que os fósseis poderiam ser, na verdade, espécies que povoaram o planeta em épocas remotas e por razões desconhecidas foram extintas. Entre esses pensadores estiveram Leonardo da Vinci e o Conde de Buffon.

Mesmo com o crescente acúmulo de evidência fóssil, a aceitação de que a extinção era um fenômeno natural continuou difícil entre os pensadores, basicamente porque o pensamento mitológico criacionista era incompatível com a ideia de que as espécies poderiam desaparecer casualmente. Esse quadro mudou em definitivo somente no século XIX, quando ideias evolucionistas começaram a adquirir estrutura teórica mais robusta. No raciocínio evolutivo, as espécies davam origem umas as outras, então elas poderiam, da mesma forma, deixar de existir. Nesse contexto, os fósseis indicavam exatamente isso: milhares de espécies que deixaram de habitar o planeta.

Diversos evolucionistas participaram ativamente na elaboração dessa nova concepção da existência das espécies, cada um com suas próprias ideias, como Erasmus Darwin, Lamarck e o próprio Charles Darwin. Importantes anatomistas tiveram papel análogo, como o pai da paleontologia, Georges Cuvier. Mesmo sendo antievolucionista, Cuvier fez cuidadosas análises de material fossilizado e se tornou um dos maiores defensores da existência das extinções. Sir Richard Owen, outro adversário das ideias darwinistas, foi um dos primeiros a restaurar esqueletos de dinossauro – na condição de um grande e terrível lagarto extinto. A extinção, a partir de então, passava a fazer parte das teorias científicas.

A forma como a extinção operava passou então a chamar a atenção. Para Charles Darwin, proponente da teoria da evolução por seleção natural, a extinção é uma das forças mais importantes no processo de evolução, ocorrendo de forma gradual e contínua ao longo do tempo, causada principalmente pela incapacidade da espécie em competir com outras na luta pela vida. O ponto de vista de Darwin é conhecido como gradualista, já que as espécies se transformam de maneira gradual no tempo, pelo vagaroso acúmulo de modificações adaptativas.

Saiba mais

Erasmus Darwin (1731-1802) foi membro da família Darwin, sendo avô paterno de Darwin. Médico inglês, que além de escrever poesias, escreveu obras de caráter científico sobre medicina e botânica. Sua obra de destaque, denominada Zoonomia, de 1792, abordou aspectos de evolução, sendo admirada pelos seus netos, inclusive Charles Darwin.

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O assunto ganhou rumo diferente no decorrer do século passado, pela preocupação com a perda de espécies por ação humana na década de 1960, e com as controvérsias acerca da grande extinção ocorrida no Cretáceo, há 65 milhões de anos (Tabela 1). A discussão caminhava no contexto das mudanças ambientais súbitas, sejam elas de natureza física ou biológica, com suas características intrinsecamente estocásticas, capazes de extinguir espécies amplamente distribuídas. Esse modelo de extinção, que acometia grande parte da biota ao mesmo tempo (extinção em massa), de certa forma rivalizava com a noção de extinção defendida pelos pioneiros, como a de Darwin (extinções graduais). Entre os expoentes dessa linha de pensamento estão David M. Raup, já citado anteriormente, e Stephen Jay Gould e Niles Eldredge, que criaram a teoria do

equilíbrio pontuado, na década de 1970. Essa teoria, chamada de saltacionista, afirma que as espécies passam por longos períodos de estase evolutiva. Na ocorrência de súbitas mudanças ambientais, desencadeadas por algum evento, novas espécies se originariam rapidamente, para então adentrarem num novo período de estase. Nesse raciocínio, a especiação não ocorre de maneira gradual, mas de maneira intensa e restrita a instantes particulares da história.

O que se viu desde então foram monólogos de paleobiólogos, estudando fósseis e extinções em massa, defendendo os desastres naturais como a verdadeira causa da evolução; e monólogos de biólogos evolucionistas, pesquisando os fatores biológicos da extinção, geralmente com abordagens conservacionistas. Porém, com novas evidências moleculares sobre a história das espécies e, sobretudo, com novas abordagens relacionadas à previsão da susceptibilidade das espécies à extinção, as ideias de Darwin tomaram novo fôlego.

Novas linhas de pesquisas estão surgindo, com abordagens que integram biologia evolutiva, genética, ecologia e paleontologia. Essa nova visão, compartilhada por David Jablonski e outros, busca compreender a relação entre microevolução (adaptação) e macroevolução (especiação e origem de táxons superiores). Nessa nova abordagem, os processos que levam à extinção têm ambas as causas, dadas repentinamente nos episódios de extinção em massa e também pela seleção de espécies que, em recentes pesquisas, é tratada pelos meios oriundos da chamada de seleção de espécies num sentido amplo (broad sence), também chamado de species sorting, em que os padrões evolutivos são moldados pelas diferenças nas taxas de especiação e extinção que surgem pela interação de características biológicas em nível de organismo (exemplos: tamanho corporal, fecundidade) e/ou de espécie (exemplos: tamanho da população, habilidade competitiva) com o ambiente.

Agora que vimos mais sobre esse assunto, pense um pouco sobre o seguinte assunto: será que as gerações futuras irão olhar para essas teorias mais recentes e pensarão como aqueles que

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responderam “sim” frente à questão levantada na reflexão proposta anteriormente? Ou levarão em conta os valores e conhecimentos da sociedade até então?

Concluindo essa seção, a extinção é um processo natural presente em toda a história da vida nesse planeta. As causas das extinções, entretanto, possuem natureza muito diversa. Porém, um dos promotores de extinção que Darwin e contemporâneos sequer cogitavam encontram-se nas atividades humanas espalhadas na biosfera. A ação humana representa a principal causa de perda de biodiversidade na atualidade, com efeitos tão agressivos que quase se equiparam aos bólidos do passado geológico. Sobre esse assunto iremos falar agora.

Atividade Complementar 3 Faça um resumo sobre as teorias que tentam explicar a extinção.

VIII. Padrões e causas atuais de extinções Atualmente, existe uma gama de fatores provocando mudança nas condições ambientais e de relações entre as espécies, introduzida pela ação do homem na natureza. Na verdade, as extinções causadas por atividades humanas são documentadas desde a era pré-histórica, como na colonização da Austrália e Américas, em que várias espécies de grandes mamíferos desapareceram pouco depois da chegada dos humanos. Porém, informações precisas sobre a atuação humana desencadeando a perda de diversidade, incluindo a mensuração de taxas de extinção, só apareceram a partir do século XVII.

Com base nos dados disponíveis, e por estimativas otimistas, calcula-se a perda total de 85 espécies de mamíferos e 113 espécies de aves entre o século XVII e a primeira metade do século XX, com taxas de extinções crescentes (Figura 7). A queda nas taxas de ambos os grupos a partir de 1950 ou pode ser atribuída a um real sucesso dos esforços conservacionistas que conseguiram preservar a biodiversidade das atividades antrópicas, ou ser uma superestimação camuflada pelo esforço de coleta de dados por pesquisadores em todo o mundo, que conseguiram, por exemplo, localizar espécies dadas como extintas. Também se pode dizer que a diminuição ainda não implica taxas seguras de perdas de espécies.

Com os avanços científicos do século XX, foi possível descobrir que as extinções provocadas pelo homem têm muitas causas. Abaixo, apontamos as mais importantes:

destruição e fragmentação de paisagens naturais; degradação do habitat;

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introdução de espécies exóticas; sobre-exploração. Esses fatores muitas vezes atuam em conjunto, sendo comum

que mais de um responda pelas extinções em curso. A intensificação e manutenção dessas atividades estão fortemente relacionadas com o modelo econômico de desenvolvimento adotado pela cultura ocidental, que estimula o consumo e privilegia o acúmulo de bens e capital. Por essa razão, alguns pesquisadores e ambientalistas acreditam que a reversão do quadro depende muito mais de uma reorientação ética na conduta da sociedade, do que grandes avanços tecnológicos capazes de frear o ritmo das extinções. Para melhor compreender a complexidade do problema, vale a pena analisar mais detalhadamente as causas antrópicas da extinção. É o que faremos a seguir.

De

struição e fragmentação de paisagens naturais O crescimento da população humana se deu de forma

assustadora nos últimos 150 anos, passando de um bilhão de habitantes para dois bilhões entre 1850 e 1930, e para mais de seis bilhões atualmente. Esse crescimento vertiginoso é produto direto de tecnologias que melhoraram a condição geral do homem, como a revolução industrial, a mecanização da agricultura, além de avanços na cura e tratamento de doenças. A acomodação dessa

Curiosidades De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), uma raça de animal de criação desaparece por mês no mundo. Os países em desenvolvimento formam o principal palco desse problema. Pequenos produtores agrícolas abandonaram a criação de animais tradicionais em favor de raças de rendimento mais elevado importadas dos Estados Unidos e da Europa. O que pode ser um grande erro. Num caso em Uganda, uma seca assolou esse país, e só os produtores da raça Ankol, que vem sendo substituída por outra raça que produz mais leite, puderam salvar seu rebanho, já que a espécie conseguiu chegar a fontes d'água mais longínquas. Fonte: http://ciencia.hsw.uol.com.br/extincao-animais.htm

Figura 7: Porcentagem de táxons de aves e mamíferos sendo extintos entre períodos de cinquenta anos a partir do século XVII (adaptado de PRIMACK; RODRIGUES, 2001).

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superpopulação no planeta tem implicado crescente expansão da fronteira humana, demandado cada vez mais a modificação de habitats e ecossistemas, antes selvagens. Consequentemente, a destruição de paisagens naturais tomou proporções nunca vistas, já que a expansão humana é inexoravelmente acompanhada pela criação de novas áreas agricultáveis, expansão de cidades, atividades mineradoras, grande projetos de infraestrutura, como a criação de reservatórios, geração de energia e malhas de transporte. Por essa razão, a destruição e modificação de habitats representam a principal causa promotora de extinções no presente.

A intensa destruição de habitats naturais (principalmente os florestais), experimentada nos últimos séculos, tem transformado extensas áreas selvagens em núcleos remanescentes de menor tamanho. Tais remanescentes geralmente encontram-se isolados no espaço, rodeados por uma matriz ocupada por atividades antrópicas (ex.: pastagem). A menor área de cobertura nesses remanescentes, assim como seu isolamento espacial, faz com que se tornem simples pedaços do ecossistema original, assumindo inclusive aspecto de ilha. Esse processo desencadeia uma série de consequências negativas ao remanescente, que podem, inclusive, comprometer sua continuidade. Por exemplo, a chance de que preservem condições ótimas de sobrevivência, como condições específicas de temperatura, umidade e luminosidade, é muito menor. Não são capazes, portanto, de manterem muitos dos elementos da biota original. Nesse cenário aparece o “efeito de borda”, um fenômeno em que as condições na fronteira do remanescente são tão alteradas, que espécies não adaptadas a esse novo ambiente são eliminadas. É comum, inclusive, que esse efeito se alastre progressivamente ao interior do remanescente, transformando regiões internas em bordas. Nesse caso, a área da “ilha” é significativamente diminuída com o tempo, até que permaneçam apenas espécies tolerantes, pioneiras ou oportunistas.

O aparecimento de tais “ilhas” segue um padrão que é mais conhecido como fragmentação do habitat, onde geralmente se caracteriza a redução da área de cobertura, e o que antes era uma unidade ecológica em termos espaciais, passa a se distribuir em fragmentos. Muitos dos aspectos ligados à fragmentação foram temas da Unidade anterior, mas é importante agora salientar que a fragmentação implica o aumento das bordas por área de habitat e que o centro de cada fragmento passa a se localizar mais próximo da borda. O efeito de borda então ganha proeminência. Além desse fenômeno, que pode devastar o fragmento por completo (pois acomete espécies arbóreas), deve-se destacar que os remanescentes têm menor capacidade suporte, o que significa a manutenção de populações menores. Adicionalmente, cria-se o contexto propício para o aparecimento de problemas genéticos, como a

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endogamia. Vimos, então, que a perda de habitats desencadeia processos

que implicam a diminuição da população, ou até sua extinção local. Quando a espécie se restringe a pequenas populações em poucas áreas de ocorrência, dizemos que ela é uma espécie de população rara. Populações raras têm sua importância para a diversidade, visto que pelo menos 50% das plantas vasculares e 42% dos vertebrados são endêmicos (ocorrem em apenas uma localidade) a 34 áreas geográficas consideradas hotspots (algo como lugares “quentes”, importantes) da biodiversidade. Um hotspot é um ambiente num contexto especial, já que apresenta megadiversidade, muitas espécies endêmicas, ao mesmo tempo em que sofre elevada pressão antrópica pela perda e/ou degradação do habitat. Nesses locais, onde a extinção é provável, a perda de espécies acontece em nível global. Essas áreas somadas representam algo em torno de 2,3% da área elevada acima do mar na Terra (Figura 8).

Figura 8: Os 34 hotspots para a conservação da biodiversidade no mundo, mostrados em vermelho (Fonte: www.biodiversityhotspots.org ).

A fragmentação pode também promover efeitos indiretos, mas

importantes na desestabilização de algumas populações. Entre estes, está a diminuição da capacidade de dispersão e colonização. Considerando que os recursos, como alimento, podem ficar distribuídos de maneira heterogênea entre os fragmentos, o custo de aquisição energética se eleva – nem todas as espécies conseguem atravessar com facilidade a matriz de entorno, considerando também que a pressão de predação costuma se intensificar tanto na borda como na matriz. A consequência mais direta disso seria a diminuição da aptidão reprodutiva dos indivíduos. Destaca-se, por fim, que a redução da área muitas vezes implica um aumento de disputas por áreas centrais, mediada pela territorialidade.

Internet Para saber mais sobre os hotspots e diversas outras informações acerca da conservação da biodiversidade, acesse o site da organização Conservação Internacional no Brasil, presente em: http://www.conservation.org.br

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Entre os hotspots mostrados na Figura 8, não estão citadas muitas áreas que são altamente representativas da biodiversidade planetária: algumas florestas tropicais das Américas e da África (as da Ásia estão em sua maioria listadas entre os hotspots – ver Figura 8). As florestas tropicais ocupam cerca de 7% da superfície da Terra, mas representam de 40 a 50% da biodiversidade total. Com base em análises por sensoriamento remoto, estima-se que a cada ano cerca de 1% da área total de florestas tropicais seja destruída para os mais diversos fins, entre eles o aumento da fronteira agrícola e a prospecção de minérios.

Além da questão óbvia das extinções de espécies endêmicas nas florestas tropicais, outro grande problema está associado com a perda dessas áreas. As extinções em massa são seguidas, nos milhões de anos posteriores ao episódio, por eventos intensos de especiação, que tem sua origem nas espécies ancestrais remanescentes – fenômeno chamado de radiação adaptativa. Alguns cientistas argumentam que, visto que esses ambientes influenciam os processos climáticos regionais e muitas vezes globais, a destruição e alteração destes locais, associada à frequente pobreza dos solos nestas áreas, podem diminuir ou eliminar a capacidade natural de uma futura radiação adaptativa. Em outras palavras, a pobreza da biota sobrevivente a um evento de extinção em massa dificultaria a recomposição do planeta.

Degradação do habitat Na degradação, o habitat continua existindo fisicamente, mas

sua qualidade ambiental é significativamente alterada. Esse processo está sempre associado a algum evento de perturbação antrópica que não modifica estruturalmente todas as condições para as populações presentes no sistema, como no caso da destruição de habitats. Impacta-se, em alguns casos, apenas uma parcela da comunidade presente, por pressão seletiva da perturbação a certas espécies. Vale destacar que eventos de destruição do habitat são invariavelmente acompanhados por efeitos de degradação.

A emissão de poluentes talvez represente o melhor exemplo de degradação, já que afetam certas populações, podendo levá-las à extinção. A contaminação com pesticidas é uma das formas mais agressivas, já que entram nas cadeias alimentares promovendo problemas fisiológicos até mesmo em seres humanos. Estes compostos também poluem as águas, promovendo efeitos semelhantes. Além destes, outras substâncias contaminam o solo, corpos d’água e lençóis freáticos, como herbicidas, dejetos, óleos, detergentes, metais pesados e materiais radioativos. Fertilizantes também alteraram a qualidade ambiental, principalmente de comunidades aquáticas.

Em escala planetária, o aquecimento global promovido pelas emissões de dióxido de carbono na atmosfera também constitui numa

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forma de degradação ambiental. Esse e outros gases atmosféricos, como o metano, intensificam o efeito estufa, que nada mais é do que uma maior absorção da radiação solar por esses gases e pelo vapor d’água (nuvens), aumentando a quantidade de energia retida na Terra. Como a energia é retida na forma de calor, ocorre aumento na temperatura do planeta. Alterações climáticas desse tipo devem redistribuir a biota no planeta num futuro próximo, inclusive com extinções. Especialistas preveem o derretimento completo das calotas polares em algumas décadas, o que deve desorganizar de maneira profunda os ecossistemas dos polos e ter interferência nas regiões tropicais do planeta.

Introdução de espécies exóticas A distribuição natural da biota no globo é muito heterogênea,

tanto é que a maioria das espécies tem distribuição limitada a algumas localidades (endemismo). Essa distribuição é produto direto de sua história evolutiva, assim como de aspectos da história geológica do planeta. A humanidade, desde suas mais remotas origens, vem rompendo com esse padrão de distribuição, ao transportar e introduzir milhares de espécies nos mais diferentes pontos do planeta. As espécies introduzidas, chamadas de exóticas ou não-nativas, na maioria das vezes, enfrentam dificuldades em colonizar o novo ambiente, pela inadequação às suas necessidades biológicas. Porém, quando elas conseguem estabelecimento de populações viáveis, seus efeitos costumam ser altamente deletérios para a biota residente. Como não houve coevolução entre as partes, espécies nativas frequentemente não possuem mecanismos de defesa ou habilidades competitivas contra o invasor; igualmente, o invasor não possui inimigos naturais ou patógenos no novo ambiente, encontrando caminho livre para a colonização. Nesse contexto, a humanidade tem redistribuído as espécies entre os ecossistemas numa velocidade antes nunca vista, o que faz da introdução de espécies a segunda maior causa promotora de extinções na atualidade.

A degradação de habitats e o aumento das bordas nos fragmentos de sistemas ecológicos geralmente facilitam a colonização de espécies invasoras generalistas. Acredita-se, inclusive, que os grandes eventos de invasão conhecidos aconteceram em conjunto com importantes modificações de habitats ou fortes perturbações ambientais. Nesse caso, alterações na qualidade ambiental, por desestabilizar as comunidades residentes, geram oportunidade de invasão.

Entre os efeitos provocados pelas espécies não-nativas, destacam-se a predação, competição, transmissão de doenças, hibridização e mesmo alterações na qualidade do ambiente. O resultado tem sido a perda de espécies, assim como alterações graves

Saiba mais

Sobre as espécies

exóticas. Leia:

Espécies

Exóticas:

Situação

Brasileira.

Brasília: MMA,

24p., 2006.

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no funcionamento dos ecossistemas. Vale destacar que habitats insulares (ilhas) são especialmente vulneráveis às invasões, cujas condições ambientais particulares produzem espécies endêmicas altamente suscetíveis a impactos. Existe ampla documentação desse tipo de fenômeno, como a introdução acidental da cobra arbórea

marrom (Boiga irregularis) em algumas ilhas do Oceano Pacífico (Figura 9), que, pelo seu comportamento de se alimentar de ovos de pássaros, dizimou 10 espécies endêmicas. A introdução de ratos, cães, gatos e porcos em diversas ilhas ao redor do mundo também contribuíram no desaparecimento de espécies de aves, que nidificavam no chão ou possuíam poder de voo muito limitado.

Figura 9: A cobra arbórea marrom (Iboga irregularis), espécie exótica introduzida que levou a extinção de espécies endêmicas de algumas ilhas do Oceano Pacífico (Fonte: http://www.fws.gov/pacific/lawenforcement/BrownTreeSnake.html).

Sobre-exploração

A sobre-exploração compreende o exercício em excesso de

atividades pesqueiras, de caça e extrativistas, tendo registros de casos de extinção derivados dessas atividades. Estudos indicam, por exemplo, que a pesca oceânica demonstra sinais claros de esgotamento. O mesmo aconteceu com diversas populações de aves e mamíferos ao redor do mundo. Em outros casos, eliminaram-se intencionalmente certas populações pelos problemas que causam à sociedade, como espécies nocivas a agricultura ou vetores/causadores de doenças. Espécies predadoras, que causam prejuízos a rebanhos, também foram alvo de programas de controle ou erradicação. Importante citar o comércio ilegal de animais silvestres, para domesticação, recreação, uso em pesquisas e na prospecção e manufatura de produtos, como confecção de casacos de pele ou produção de remédios, que contribui na diminuição populacional e extinção local de várias espécies.

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Atividade Complementar 4 Responda às questões abaixo:

1) A extinção de espécies pelas das atividades humanas é um fenômeno recente, presente praticamente desde a revolução

industrial, ou não? Por quê?

2) Quais são as principais causas da perda atual da biodiversidade relacionadas com o homem? Fale

resumidamente sobre cada uma delas.

IX. Níveis de ameaça às espécies Alguns estudos conseguiram identificar as condições onde a probabilidade de extinção é maior. Tais condições foram então ordenadas em 13 categorias não excludentes (Tabela 2), com o propósito de se priorizar esforço conservacionista sobre espécies mais vulneráveis. Todas as condições podem ocorrer por ação antrópica, e algumas podem ocorrem naturalmente. Uma espécie pode se enquadrar em mais de uma categoria, o que aumenta o seu grau de vulnerabilidade. Esse arranjo de informação deve facilitar o reconhecimento das espécies com maior chance de extinção, auxiliando na tomada de medidas e/ou políticas de manejo e conservação.

Tabela 2: Categorias de classificação de espécies vulneráveis à extinção pelas atividades antrópicas (Fonte: dados de PRIMACK; RODRIGUES, 2001).

Categoria Descrição Ocorre naturalmente?

Área de ocorrência

geográfica limitada

Qualquer evento que altere ou destrua

uma área específica pode desencadear

a extinção.

sim, especialmente em

ilhas

Poucas populações Idem sim, especialmente em

ilhas

Populações pequenas Idem. Inclui vulnerabilidade genética sim, especialmente em

ilhas

Populações em declínio Sinal de que existe uma perturbação

interna ou externa

sim, mas raramente

Baixa densidade

populacional

Vulnerável à fragmentação do habitat,

onde pode ocorrer pequenas

populações em cada pedaço

sim, mas raramente

Necessidade de habitats

extensos

Tendem a desaparecer com

danificação de parte da área ou pela

fragmentação

sim, mas raramente

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Grande porte Sofrem pela necessidade de grande

habitats e geralmente tem populações

pequenas e/ou com baixa densidade

sim

Ineficácia na dispersão Condições do habitat mudam

rapidamente e forçam a migração para

evitar a extinção. Aqueles que não

conseguem fazê-lo tendem a extinguir-

se

raríssimo

Migrantes sazonais Problemas quando uma das áreas de

migração foi danificada e/ou

destruída; ou quando há empecilhos à

sua dispersão

raríssimo

Pouca variabilidade genética Vulneráveis a mudanças ambientais,

na predação ou de patógenos

sim, especialmente em

ilhas

Necessidade de nichos

especiais

Alteração de habitats pode inviabilizar

a vida, devido à ausência de outra

espécies com as quais se relacionava

sim, mas raramente

Preferência por ambientes

estáveis

Intolerância a mudanças ambientais,

como árvores presentes sob o dossel

de florestas tropicais. Geralmente tem

populações pequenas e ciclo

reprodutivo longo (seleção k)

sim

Formação de agregações Em certos períodos, toda sua

população se aglomera, facilitando a

predação/captura.

sim, mas raramente

Espécies caçadas ou

consumidas

Sobreexploração da espécie pode

diminuir sua população

sim, mas raramente

As condições apresentadas na Tabela 2 auxiliam na identificação

das espécies mais suscetíveis à extinção. Nessa linha de raciocínio, e com o intuito de gerar dados globais quanto ao estado de ameaça à extinção das espécies conhecidas, alguns parâmetros internacionais foram estabelecidos, em grande parte pelos esforços de uma organização não-governamental, chamada União Internacional pela Conservação da Natureza – IUCN (sigla, em inglês, para International Union for Conservation of Nature and Nature Resources). Os parâmetros propostos por essa organização são adotados quase que universalmente na formulação de políticas nacionais e locais de conservação e manejo da biodiversidade. A ideia principal é identificar as espécies ameaçadas nos diferentes biomas do planeta, assim como determinar o seu nível de ameaça.

Importante dizer que a classificação do nível de ameaça, ou declaração de sua extinção, requer extensos e cuidadosos estudos. Essa tarefa é árdua, complexa e custosa, já que o inventário atual de espécies é ainda incompleto, e o conhecimento da distribuição e biologia dos táxons descritos é ainda muito pobre. Por exemplo,

Internet Para mais informações sobre a lista da IUCN divulgada em 2009, acesse: http://www.carbonobrasil.com/print.php?reportagens_carbonobrasil/noticia=723638 E o próprio site da IUCN: http://www.iucnredlist.org

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alguns cientistas acreditam que as cerca de 1,75 milhões de espécies inventariadas até o presente correspondam a aproximadamente 10% da real biodiversidade total, e a menos de 1% das populações geneticamente distintas.

As categorias de ameaça e extinção criadas pela IUCN são apresentadas a seguir. O esquema de adoção das categorias é ilustrado na figura 11.

Extinta (EX): uma espécie é considerada extinta quando, após

extensos estudos nos habitats conhecidos e esperados do táxon, levando-se em consideração fatores como seu ciclo de vida e a escala temporal, não se registram mais indivíduos. Como exemplo, temos o quagga africano (Figura 10 a).

Extinta na Natureza (EW): espécies que ocorrem apenas fora do

seu habitat natural, principalmente em cativeiro (ex.: mutum-do-nordeste, Figura 10 b).

Ameaçada: segundo a versão 3.1 da IUCN, criada em 2001,

existem três níveis de ameaça à espécie, conforme se segue:

(i) Criticamente em perigo (CR): enquadra aquelas espécies com alto risco de extinção eminente; (ii) Em perigo (EN): ainda não em perigo crítico, mas com risco alto de extinção num futuro próximo; (iii) Vulnerável (VU): considera que em médio prazo esse táxon estará ameaçado. Nessa categoria tomamos como exemplo a arara-azul-de-lear (Figura 10 c), cuja situação de ameaça era criticamente em perigo (CR), mas que por esforços conservacionistas houve aumento de sua população e a espécie é atualmente listada no nível de ameaça em perigo (EN).

Figura 10: (a) Quagga (Equus quagga quagga); (b) mutum-do-nordeste (Mitu mitu) e (c) arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari).

(a) (b) (c)

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Populações, numa localidade qualquer, podem estar sofrendo

perturbações que ainda não comprometem sua viabilidade, assim como podem não estar sofrendo risco iminente de extinção. Espécies nessas situações são enquadradas nas categorias a seguir, e não são consideradas ameaçadas:

Quase ameaçada (NT): ainda não atingiu o critério de ameaçado-vulnerável, mas se não forem tomadas medidas para sua conservação tornar-se-á rapidamente.

Não ameaçada (LC): após as avaliações e inventários, considerou-se que não se justifica o enquadramento da espécie em nenhuma das categorias de risco.

Existe a possibilidade da informação disponível ser insuficiente para uma conclusão segura sobre o status da espécie. Existe uma categoria que abriga essas espécies:

Deficiente em dados (DD): é assim considerado o táxon com dados que não permitem saber seu estado de ameaça. Para estes são necessárias mais pesquisas para a consolidação do seu status de conservação. Destaca-se que essa categoria pode abrigar espécies seriamente ameaçadas, em risco iminente de extinção.

Cabe destacar que muitas espécies não foram avaliadas em termos de distribuição, aspectos biológicos e impactos associados (Figura 11). Considerando que conhecemos aproximadamente um décimo da biodiversidade global, e que a lista mais recente da IUCN contempla aproximadamente 3% do total conhecido (47.677 espécies – dados divulgados em novembro de 2009), a maioria das espécies se enquadra nessa categoria. Assim como na categoria DD, espécies não avaliadas podem estar em condição crítica de ameaça, uma situação muito complicada pela falta de conhecimento. Existe a possibilidade, nesse caso, que a espécie desapareça antes mesmo de ser descrita. Espera-se, portanto, que a intensificação nos programas de pesquisa e monitoramento suprima aos poucos essas deficiências.

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Figura 11: Esquema para a avaliação do status de ameaça das espécies, segundo a IUCN (2001) (fonte: MACHADO et al., 2008).

Atividade Complementar 5

Leia o texto abaixo (adaptado), que foi extraído da revista

Nature, de setembro de 2009, escrito por Johan Rocksröm e colaboradores. Ele traz uma abordagem muito interessante

sobre as ações humanas na Terra. O artigo original é em inglês,

e está referenciado no final da Unidade. A seguir, redija um pequeno texto com as suas ideias sobre o tema.

Um espaço de operação seguro para a humanidade “Apesar de a Terra ter passado por vários períodos de

mudanças ambientais significativas, o ambiente na Terra tem se mantido relativamente estável pelos últimos 10.000 anos. Este período de estabilidade – conhecido pelos geólogos como Holoceno – tem visto civilizações humanas surgirem, desenvolverem e declinarem. Tal estabilidade pode agora estar sob ameaça. Desde a Revolução Industrial, uma nova era surgiu, o Antropoceno, no qual as atividades humanas tem se tornado o principal motor para a mudança ambiental global. Esta pode ver as atividades humanas

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empurrar o sistema terrestre para fora do estado ambiental estável do Holoceno, com conseqüências que são prejudiciais ou até mesmo catastróficas para grandes partes do mundo. [...] Sem a pressão dos humanos, esperava-se que o Holoceno durasse por ao menos várias centenas de milhares de anos.

Limites planetários Para encontrar o desafio de manter o estado do Holoceno, nós

propomos uma abordagem baseada nos “limites planetários”. Esses limites definem o espaço de operação seguro para a humanidade com respeito ao sistema da Terra [...]. Nós tentamos identificar processos e limiares do sistema da Terra que, se atravessados, podem gerar mudanças ambientais inaceitáveis. Nós encontramos nove de tais processos que nós acreditamos que sejam necessários para definirem os limites planetários: mudanças climáticas, taxa de perda da biodiversidade (terrestre e marinha), interferência nos ciclos do nitrogênio e fósforo, depleção do ozônio estratosférico, acidificação do oceano, uso da água doce global, mudança no uso da terra (para agricultura, p. ex. – Nota do Tradutor.), poluição química, e carregamento de aerossóis atmosféricos.

Taxa de perda da biodiversidade A extinção de espécies é um processo natural, e pode ocorrer

sem ações humanas. No entanto, a perda da biodiversidade no Antropoceno tem acelerado maciçamente. Espécies estão se tornando extintas numa taxa que não é vista desde o último evento de extinção em massa global.

O registro fóssil mostra que a taxa de extinção de fundo para a vida marinha é de 0,1-1 extinção por milhão de espécies por ano; para mamíferos ela é de 0,2-0,5 extinção por milhão de espécie por ano. Hoje, a taxa de extinção de espécies é estimada em ser 100 a 1.000 vezes o que se poderia considerar natural. Junto com a mudança climática, as atividades humanas são as principais causas da aceleração.

[...] A perda da biodiversidade ocorre a nível local/regional, mas pode ter efeitos que penetram no funcionamento dos sistemas da Terra, e interage com vários outros limites planetários. Por exemplo, a perda da biodiversidade pode aumentar a vulnerabilidade de ecossistemas terrestres e aquáticos a mudanças no clima e na acidificação do oceano, e portanto reduzindo os níveis dos limites seguros para esses processos. [...] Isto significa que uma redundância aparente é necessária para manter a resiliência de um ecossistema.

[...] De uma perspectiva dos sistemas da Terra, estabelecer um limite para a biodiversidade é difícil. Apesar de que agora seja aceito que uma mistura rica de espécies mantém a resiliência dos ecossistemas, pouco se sabe quantitativamente sobre quanto da biodiversidade pode ser perdida antes da resiliência ser erodida. [...],

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nosso limite planetário para a biodiversidade de dez vezes a taxa de extinção de fundo (10 extinções por milhão de espécies por ano, N. T.) é apenas uma estimativa preliminar. [...] No entanto, nós podemos dizer com alguma confiança que a Terra não pode manter a taxa atual de perda da biodiversidade sem uma erosão significativa da resiliência do ecossistema.

Balanço delicado Apesar dos limites planetários serem descritos em termos de

quantidades individuais e processos separados, os limites são unidos com força. Nós não temos o luxo de concentrar nossos esforços em qualquer um deles em isolamentos dos outros. Se um limite é transgredido, então os outros limites estão sob sério risco. [...]

Os limites que nós propomos representam uma nova abordagem para definir pré-condições biofísicas para o desenvolvimento humano. Pela primeira vez, nós estamos tentando quantificar os limites seguros fora dos quais os sistemas da Terra não podem continuar a funcionar em um estado estável, parecido com o do Holoceno. [...]

As evidências até agora sugerem que, enquanto os limiares não sejam ultrapassados, a humanidade tem a liberdade de perseguir o desenvolvimento social e econômico em longo prazo.”

X. Considerações finais

Vamos refletir um pouco sobre tudo o que vimos? No início da Unidade, vimos de que maneira os processos evolutivos desencadeiam as extinções naturais das espécies viventes. Vimos que esse é um fenômeno absolutamente normal, e que o destino final de todas as espécies é invariavelmente serem extintas. A atividade humana sempre teve um impacto na natureza, e existem registros de extinções causadas por humanos desde períodos pré-históricos. Porém, a atividade humana atual tem levado a uma perda da biodiversidade que é considerada insustentável e que pode ter, em conjunto com outros processos que estão sendo alterados, consequências drásticas, como o texto de Rockström sugere. Com base nessas informações, o que podemos fazer frente a tais problemas, que parecem totalmente descontrolados e sem solução? Alguns pontos importantes podem ser levantados frente a essas

questões. Primeiramente, a pesquisa de base com relação às causas da extinção é uma forte fonte de conhecimento dos processos e, ao se ter mais consciência do problema, é mais fácil de lidar com ele. Essa busca tem caminhado a ritmos galopantes perante os avanços recentes de diversas áreas, como a genética, paleontologia, ecologia e

Internet Visite o site: http://evolution.berkeley.edu/, e tenha acesso a informações relevantes sobre evolução.

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a biologia da conservação, bem como a própria mudança de pensamento filosófico com relação a como se fazer ciência, que hoje tem uma abordagem bem mais integralista do que anteriormente, cujo pensamento paradigmático encontrava-se na defesa de uma disciplina em particular para o encontro de respostas gerais.

O segundo ponto encontra-se na própria resposta da sociedade perante o problema. É muito fácil ver atualmente matérias de revistas e jornais denunciando e/ou discutindo sobre os efeitos das atividades humanas sobre a biodiversidade. Esse fato, somado a muitos outros, denunciam a preocupação geral da população perante o tema, e que justamente o avanço do conhecimento científico está repercutindo e fortalecendo as demandas sociais de mudanças de políticas de desenvolvimento e economia.

Mas, é importante saber que fazemos parte de alguma maneira dos fatores que levam a perda de biodiversidade, seja na maneira que nos alimentamos, nos transportamos, nos divertimos ou em nosso trabalho. Verifique atentamente suas atividades e veja de que maneira elas impactam o ambiente e, posteriormente, a vida na Terra. Vamos dar o nosso exemplo. Para escrever essa Unidade, utilizamos computadores e luminárias, que gastam energia, cuja fonte é uma usina hidrelétrica. A construção dessa usina demandou o represamento de um rio, o que pode ter levado a extinções locais ou até mesmo globais, caso as espécies fossem endêmicas. Faça você também suas conexões e faça o possível para impactar menos o planeta.

XI. Referências

BEGON, M.; TOWNSEND, C. R.; HARPER, J. L. Ecologia: de indivíduos a ecossistemas. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. FUTUYMA, D. J. Biologia evolutiva. 2. ed. Ribeirão Preto: Sociedade Brasileira de Genética/CNPq, 1997. JABLONSKI, D. Extinction: past and present. Nature, v. 427, p. 589, 2004. JABLONSKI, D. Species selection: theory and data. Annual Reviews in Ecology, Evolution and Systematics, v. 39, p. 501-524, 2008. JØRGENSEN, S. E.; FATH, B. D. A new ecology: systems perspective. 1. ed. Amsterdam: Elservier, 2007. MACHADO, A. B. M.; DRUMMOND, G. M.; PAGLIA A. P. (Ed). Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção. 1 ed. Brasília:

Saiba mais Conheça o site da United Nations Environmental Programee (UNEP), programa das Nações Unidas para assuntos ambientais. Acesse: www.unep.org, e tenha acesso a diversos materiais relacionados às consequências das atividades humanas sobre o meio ambiente.

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MMA; Belo Horizonte: Fundação Biodiversitas, 2008. MANIER, M. K.; ARNOLD, S. J. Population analysis indentifies source-sink dynamics for two sympatric garter snake species (Thamnophis elegans and Thamnophis sirtalis). Molecular Ecology, v. 14, p. 3965-3976, 2005. MAYHEW, P. Discovering evolutionary ecology. 1. ed. Oxford: Oxford University Press, 2006. PRIMACK, R. B.; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. 1. ed. Londrina: Editora Planta, 2001. RAUP, D. M. The role of extinction in evolution. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 91, p. 6758-6763, 1994. RAVEN, P. H.; BERG, L. R. Environment. 3. ed., Orlando: Harcourt College Publishers, 2001. REZNICK, D. N.; RICKLEFS, R. E. Darwin’s bridge between microevolution and macroevolution. Nature, v. 457, p. 837-842, 2009. RICKLEFS, R. E. A economia da natureza. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. ROCKSTRÖM, J. et al. A safe operating space for humanity. Nature, v. 461, p. 472-475, 2009. SIMBERLOFF, D. The ecology of extinction. Acta Paleontologica Polonica, v. 38, n. 3/4, p. 159-174, 1994.