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1 “Microcrédito, Mobilidade Social e Avaliação de Impactos do Agroamigo e do Crediamigo” Sumário Executivo

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“Microcrédito, Mobilidade Social

e Avaliação de Impactos

do Agroamigo e do Crediamigo”

Sumário Executivo

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“Microcrédito, Mobilidade Social e Avaliação de Impactos do Agroamigo e do Crediamigo” / Coordenação Marcelo Côrtes Neri. - Rio de Janeiro: FGV, CPS, 2012.

72 pags.

1. Microcrédito 2. Mobilidade 3. Crediamigo 4. Agroamigo 5. Nordeste I. Neri, M.C.; II. Fundação Getulio Vargas, Centro de Políticas Sociais.

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“Microcrédito, Mobilidade Social e Avaliação de

Impactos do Agroamigo e do Crediamigo”

Sumário Executivo

Índice

Resumo

1. Visão Geral

2. Crediamigo

3. Agroamigo

4. Além do Microcrédito: Seguro, Poupança e Microfinanças

Nordestinas

5. Diagnóstico dos Microempresários Urbanos e Rurais

Nordestinos

6. Mapa dos Microempresários

7. Conclusões (Prescrições)

Bibliografia

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Resumo

O binômio alta taxa de juros e escassez de crédito é central entre os problemas

brasileiros, como foram a desigualdade inercial e a inflação crônica no passado. O

crédito não é só caro e raro aqui, mas é de curto prazo e chega mais ao consumidor e à

alta renda. Portanto, o crédito produtivo popular, apelidado de microcrédito, nas

quantidades, taxas e prazos desejados é a antítese do cenário tupiniquim.

Joseph Stiglitz mostra que, nem sempre, a alta dos juros cobrados leva a um

aumento do retorno esperado pelos bancos e, portanto, a mais oferta de crédito.

Informação assimétrica entre emprestadores e tomadores faz com que juros mais altos

atraiam para filas dos bancos piores tomadores e/ou de piores projetos. Este é o

principal obstáculo a ser superado. As pontes são grupos solidários, colaterais

alternativos, empréstimos crescentes, agentes de crédito incentivados, entre outros.

Adicionando mistério ao microcrédito nacional, o crédito produtivo popular

orientado se difundiu mais nas cidades e campo do Nordeste através dos programas

Crediamigo e Agroamigo. No entanto, a fim de considerar virtude o financiamento de

nova riqueza produtiva na velha pobreza nordestina, é preciso que o crédito produtivo

permita que as boas oportunidades de negócios floresçam e que as más, não.

Crediamigo - A qualidade do Crediamigo foi comprovada nos prêmios

concedidos pelo BID e pelo Mix Market, maior agencia de rating da América Latina,

como o melhor programa do continente. Tive recentemente a oportunidade de ouvir da

Princesa Máxima da Holanda, Embaixadora de Microfinanças da ONU, referências

elogiosas ao programa, isto quando o microcrédito cai em descrédito função da crise

indiana no setor. A qualidade do Crediamigo é enxergada aos olhos externos, mas não

chegava às retinas nacionais. Isto começa a mudar. Desde 2011, o modelo do

Crediamigo prospera em escala nacional nos grandes bancos federais através do

programa Crescer.

Publicamos, em 2008, livro que analisa a expansão do Crediamigo nas cidades

do Nordeste. O programa atinge em 2012 1,2 milhões de clientes, mais do que dobrando

em três anos. Cobre mais de 2/3 do mercado nacional público e privado de crédito

produtivo orientado. Mesmo depois das crises externas, observamos taxas de atraso

inferiores a 2%, demonstrando qualidade do ponto de vista dos emprestadores; havia

ganhos dos tomadores e as boas notícias continuam: crescimento real de 13% ao ano no

lucro dos clientes, apenas 2% dos clientes não pobres entraram na pobreza e 60% das

pessoas pobres saíram da pobreza.

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Estendemos aqui alguns resultados do livro citado, colocando em perspectiva os

efeitos da crise deflagrada nos EUA em setembro de 2008 e aquela iniciada na Europa

em 2011. Um requisito para a avaliação do Crediamigo em qualquer contexto é o uso de

referência externa. Optaram-se, como controle, as unidades de trabalhadores por conta

própria e empregadores da Pesquisa Mensal do Emprego (PME/IBGE), aplicando um

processo de pareamento (matching) com a base do Crediamigo de forma a minimizar

vieses de seletividade das respectivas amostras. Ambas as bases permitem o

acompanhamento dos mesmos indivíduos, famílias e empresas ao longo do tempo. Os

primeiros anos (2007 e 2010) procuram caracterizar as mudanças associadas no período

antes da Crise e os segundos àquelas no período depois das crises (2008 e 2011). A

análise controlada a partir de equações de lucro revela um crescimento médio do lucro

habitual em doze meses das duas amostras nos dois períodos de 10,7% em termos reais.

Agora, o diferencial de crescimento do lucro habitual entre os clientes do

Crediamigo e o grupo de controle mostrou um diferencial de ganho de lucros de 9.33%

favorável aos clientes ativos do Crediamigo, o que indica os ganhos relativos

proporcionados pelo programa de microcrédito vis a vis a performance do grupo de

controle. Este é o resultado a ser ressaltado.

Finalmente, olhamos se a crise afetou de maneira diferenciada a amostra do

Crediamigo. O lucro dos clientes do Crediamigo cresceu 13,6% entre a tomada de

crédito e o período final no período pós-crise; já a mesma comparação para o período

pré-crise foi 20,3% favorável aos clientes do Crediamigo. Em suma, há evidencias que o

Crediamigo consegue produzir um diferencial de lucros favorável vis a vis o seu grupo

de controle em qualquer um dos cenários analisados, mas este diferencial caiu com o

aprofundamento dos efeitos da crise creditícia global em curso.

O desafio maior do Crediamigo não é transformar para melhor a vida dos

pobres, mas chegar aos mais pobres dos pobres. A presença relativa do programa entre

os clientes inicialmente pobres era metade daquela observada entre os microempresários

urbanos nordestinos. O programa possui especial capacidade de chegar à numerosa

classe D nordestina e ajudar a transformá-la em classe C. A criação do programa

Comunidade, linha tipo Village Banking com grupos de empréstimos maiores de 15 a

25 pessoas ao invés dos grupos de 3 a 5 tomadores do programa tradicional, além da

exploração de sinergias com os beneficiários do Bolsa Família perseveram a busca do

norte da pobreza.

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Agroamigo - A principal de todas as ações na direção do combate à pobreza foi

estender a metodologia de crédito orientado do programa urbano ao Agroamigo atuante

na área rural. A conjunção microempresário e rural chega ao maior bolsão de pobreza

nacional. Em particular, depois que o programa incorporou a metodologia de agentes de

crédito e sofreu forte expansão chegando a 90% do mercado nacional rural.

Nesse ponto, a análise de amostra recente que acompanha 72 mil clientes do

Agroamigo ao longo do tempo é reveladora dos impactos nas condições de vida

produtiva e possivelmente familiar da sua clientela. Avaliei o impacto do Agroamigo

sobre o desempenho dos negócios rurais. Primeiro e mais importante, o lucro teve um

ganho nominal de 15,4% no segundo ano em relação ao primeiro, refletindo ganhos

acima ao da inflação. Estes resultados estão em linha com aqueles recém-publicados

pelo grupo liderado por Ricardo Abramoway, da USP, em livro sobre o Agroamigo.

A análise interativa de variáveis de desenho do programa é fundamental para

entender os determinantes dessa evolução, em particular aqueles que podem inspirar

upgrades dos programas. Atividades produtivas especializadas apresentam aumento

relativo de lucro de 1% vis a vis àquelas diversificadas Isto relativiza a importância de

financiamento de atividades não agrícolas no meio rural para diversificar riscos e

potencializar a performance do programa e dos pequenos produtores.

O ganho de lucro ao longo do tempo proporcionado pela participação em

organização social é 2% maior em relação a alguém que não participa, revelando a

participação do capital social.

O atraso de pagamentos dos clientes se situou em 2,1% numa amostra que cobre

o período de seca. A fim de determinar quais seriam mais relevantes, aplicamos um

procedimento de escolha sequencial de variáveis. Coube notar a maior importância

relativa de variáveis ligadas a oferta de água do que variáveis econômicas ligadas a

estrutura do contrato de crédito ou da unidade produtiva, ou ainda sócio-demográficas,

na explicação da inadimplência do programa. A variável “uso de técnicas de irrigação”

foi a primeira a entrar no modelo de inadimplência, indicando a sensibilidade da

unidade produtiva à precipitação pluviométrica. A existência de cisterna entrou logo a

seguir, em 4º lugar. Usando o nosso simulador de probabilidades de atraso, ceteris

paribus, unidades que utilizam a irrigação mas não tem infraestrutura de cisterna tem

efeitos sobre a taxa de atraso de 17,8% contra 6,3% daqueles menos expostos às

flutuações hídricas. Este resultado denota a situação crucial da água no sertão

nordestino durante o período de seca em questão. Instrumentos públicos como o Bolsa

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Família desempenham papel em reduzir a inadimplência, enquanto instrumentos

financeiros não desempenharam qualquer papel.

O sol, símbolo da solidariedade que dá nome a muitas iniciativas de

microcrédito, tem sido implacável no sertão nordestino. Programas sociais têm irrigado

as condições de vida locais no auge da seca em curso. Fome, migração e saques não

estão presentes na conjuntura atual. Interfaces entre programas sociais, como Bolsa

Família, e produtivos, como o Agroamigo, devem ser potencializadas. Lembrando a

máxima: família não se escolhe. Na pobreza, como na família, não temos a opção de

não ajudar. Já amigo pressupõe troca, então devemos sempre poder escolher.

Sitio da Pesquisa O sítio da pesquisa www.fgv.br/cps/crag disponibiliza bancos de dados interativos que permitem a cada um decompor e analisar os níveis e as mudanças sociais, microfinanceiras e trabalhistas dos microempresários nordestinos. Os panoramas e simuladores existentes permitem uma verificação detalhada das diferenças e avanços dos microempreendedores e de seus negócios, com foco especial à clivagem rural e urbana e à análise dos resultados do Programas Agroamigo e Crediamigo. O objetivo é permitir a cada um analisar as suas questões desde uma perspectiva própria, sendo ela de interesse urbano ou vinda do campo.

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Com base nos diferentes públicos e áreas de atuação do Banco, preparamos sites específicos para cada um dos Programas:

www.fgv.br/cps/credi

www.cps.fgv.br/cps/agro

Prescrições - O crescimento do Nordeste tem se destacado no contexto nacional,

embora a renda ainda seja menor que a de outras regiões brasileiras, conforme o mapa

abaixo ilustra.

É preciso ir além e “dar o mercado aos pobres”, completando o movimento dos

últimos anos quando, pelas vias da queda da desigualdade em geral e do nordestino em

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particular, "demos os pobres aos mercados (consumidores)". A agenda de mercado aos

pobres é vantajosa, pois não encerra custos fiscais, gerando melhoras de Pareto, onde

ninguém perde e os pobres ganham upgrades diferenciados, pois estavam mais distantes

do mercado. Quando os mercados estão muito incompletos é possível sair do dilema

entre eficiência e equidade e todos ganharem através da união harmoniosa destes

vetores. O crédito consignado a benefícios de programas sociais vai nesta linha,

alavancando os ganhos de bem estar daqueles contemplados por razões de equidade.

Renda Familiar Per Capita (R$) por Unidade da Federação

Níveis de Renda em 2009 & Variação de Renda 2001 a 2009

M e n o s d e 1 0 %d e 1 0 % a 2 0 %d e 2 0 % a 3 0 %d e 3 0 % a 4 0 %M a i s d e 4 0 %

Aumento Acumulado da RendaFamiliar Per Capita - 2001-2009

R e n d a P e r C a p i t a M é d i a 2 0 0 92 2 6 . 7 2 - 6 0 9 . 1 56 0 9 . 1 5 - 9 9 1 . 5 89 9 1 . 5 8 - 1 3 7 4 . 0 11 3 7 4 . 0 1 - 1 7 5 6 . 4 41 7 5 6 . 4 4 - 2 1 3 8 . 8 7

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE

O crédito produtivo popular é fundamental para dar vazão aos espíritos

empreendedores da baixa renda, e temos o exemplo do Agroamigo e Crediamigo,

avaliado de um banco público federal em área pobre, o Banco do Nordeste. Há uma

lição específica do rendimento do trabalho aumentando com a produtividade (salário-

eficiência), no caso dos agentes de crédito que podem até triplicar o salário, dependendo

da performance da carteira. Os agentes de crédito não são funcionários públicos mas

contratados por uma OSCIP, Nordeste Cidadania. Há riqueza no meio da pobreza, e o

Estado pode interagir sinergicamente com o setor privado e a sociedade civil nesta

busca. Uma agenda que está começando a crescer no Brasil a partir do Nordeste é

aquela ligada aos trabalhadores por pequenos produtores rurais, e consiste em dar

acesso aos pobres, enquanto produtores, aos mercados consumidores e financeiros.

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No âmbito urbano, o impacto das UPPs produz potencial interessante do ponto de

vista de melhorar o funcionamento dos mercados de baixa renda. O Crediamigo pode

ser instrumental neste processo pela sua atuação nas favelas cariocas, a começar pelo

efeito da pacificação da Rocinha a partir de novembro de 2011. Dada a onda de

violência atual que afeta as cidades nordestinas, como explorar o mercado de

microcrédito a partir da aplicação de políticas de segurança alternativas? Este tipo de

laboratório de avaliação de seus impactos é interessante para se aprender como o

modelo de UPPs pode impactar áreas nordestinas, uma vez que o modelo está sendo

aplicado em Salvador. O choque de segurança cria terreno fértil para o desenvolvimento

dos mercados na base da pirâmide. As UPPs cariocas são um exemplo vivo de como “o

choque de ordem” pode levar a um “choque de progresso”. Será útil aprender com esta

lição quando os dados estiverem disponíveis.

Devemos tratar o pobre como protagonista de sua História e não como um passivo

receptor de transferências de dinheiro oficiais e de crédito consignados a benefícios. Há

que se turbinar mais o protagonismo das pessoas. O associativismo rural se mostrou

capaz de turbinar o avanço dos lucros dos clientes do Agroamigo. O programa

territórios da cidadania se propõe a fazer isto em escala maior no campo desde uma

perspectiva de política pública. Há que se explorar as vertentes rurais e urbanas de

interação de ativismo público e privado.

Há que se turbinar as turbinar a sinergia entre estes programas de microcrédito e

plataformas de acesso aos pobres como o CadÚnico, o Bolsa Família de programas

complementares desenvolvidos a nível municipal e agora estadual. Um conceito

operacionalmente útil para a seleção de beneficiários do Bolsa Familia é o uso do

conceito de renda estimada gerado a partir da riqueza de informações do Cadastro

Social Único como o acesso a outras transferências de renda e serviços públicos,

configuração física da moradia, educação e trabalho de todos os familiares1. Em

particular, a educação das crianças, que é um dos principais objetivos dos programas de

transferência de renda condicionada, além de ser o melhor preditor da renda de longo

prazo da família, em particular se acoplada de informações de qualidade de educação

tais como medida por instrumentos como a Prova Brasil. Esta busca ativa de clientes

1 Esta tecnologia foi desenvolvida pelo CPS/FGV no âmbito de programas complementares para o Estado e o município do Rio de Janeiro onde o programa já atua, vide www.fgv.br/cps/fci atingindo que gera beneficios diferenciados por família para 1,7 milhões de pessoas.

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entre os beneficiários destes programa sociais é um dos nortes de atuação dos

programas de microcrédito do Banco do Nordeste.

O uso das informações mais atualizadas do Censo Demográfico e do Censo

Agropecuário para tomada de decisões em nível local é uma contribuição do sítio do

presente projeto. Pode-se entrar nos detalhes dos municípios e dos bairros no caso das

grandes cidades de onde estão os microempresários, quanto ganham, onde trabalham,

em que setores atuam e detalhes da formação educacional, indo até as diferentes

carreiras de graduação e de Pós-graduação, por exemplo.

Uma outra plataforma, esta de natureza tecnológica útil para a difusão do

microcrédito, mais relevante que a rede mundial de computadores são os aparelhos de

celular. Esta direção é favorecida pelas mudanças dos marcos regulatórios nacionais,

sua maior simplicidade de uso e capilaridade na população alvo no nordeste e em outras

partes, conforme demonstra os mapas na mesma escala da taxa de cobertura destes

elementos das Tecnologias de Informação e de Comunicação (TICs) entre

microempresários no âmbito das cidades nordestinas e no nível infra-municipal do

município de Salvador:

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do Censo/IBGE

Microempresários com Internet e Celular

% A c e s s o I n t e r n e t0 - 0 . 1 2 50 . 1 2 5 - 0 . 2 50 . 2 5 - 0 . 3 7 50 . 3 7 5 - 0 . 50 . 5 - 0 . 6 2 50 . 6 2 5 - 0 . 7 50 . 7 5 - 0 . 8 7 50 . 8 7 5 - 1

% A c e s s o I n t e r n e t0 - 0 . 1 2 50 . 1 2 5 - 0 . 2 50 . 2 5 - 0 . 3 7 50 . 3 7 5 - 0 . 50 . 5 - 0 . 6 2 50 . 6 2 5 - 0 . 7 50 . 7 5 - 0 . 8 7 50 . 8 7 5 - 1

IntermetNordeste

InternetSalvador

% T e m C e l u l a r0 - 0 . 20 . 2 - 0 . 50 . 5 - 0 . 70 . 7 - 0 . 7 60 . 7 6 - 0 . 8 20 . 8 2 - 0 . 8 80 . 8 8 - 0 . 9 40 . 9 4 - 1

CelularNordeste

% T e m C e l u l a r0 - 0 . 20 . 2 - 0 . 50 . 5 - 0 . 70 . 7 - 0 . 7 60 . 7 6 - 0 . 8 20 . 8 2 - 0 . 8 80 . 8 8 - 0 . 9 40 . 9 4 - 1

Celular Salvador

Fonte: CPS/FGV a partir dos dados do Censo 2010/IBGE

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Mais abaixo ilustramos na mesma escala a difusão destas tecnologias entre

municípios brasileiros e entre países. A plataforma de celular também é favorecida pela

recente difusão de tecnologias de meios de pagamento eletrônicos em escala global.

Mapa Municipal de Acesso a Internet - Mapa Municipal de Acesso a Celular

% A c e s s o I n t e r n e t0 - 0 . 1 2 50 . 1 2 5 - 0 . 2 50 . 2 5 - 0 . 3 7 50 . 3 7 5 - 0 . 50 . 5 - 0 . 6 2 50 . 6 2 5 - 0 . 7 50 . 7 5 - 0 . 8 7 50 . 8 7 5 - 1

A c e s s o T e l e f o n e C e l u l a r

(

2 0 1 0

)0 - 1 2 . 51 2 . 5 - 2 52 5 - 3 7 . 53 7 . 5 - 5 05 0 - 6 2 . 56 2 . 5 - 7 57 5 - 8 7 . 58 7 . 5 - 1 0 0

Fonte: CPS/FGV a partir dos dados do Censo 2010/IBGE

Mapa Mundial de Acesso a Celular (2011)

A c e s s o C e l u l a r 2 0 1 10 - 0 . 1 2 50 . 1 2 5 - 0 . 2 50 . 2 5 - 0 . 3 7 50 . 3 7 5 - 0 . 50 . 5 - 0 . 6 2 50 . 6 2 5 - 0 . 7 50 . 7 5 - 0 . 8 7 50 . 8 7 5 - 1N o D a t a

Mapa Mundial de Acesso a Internet (2011)

A c e s s o I n t e r n e t 2 0 1 10 - 1 2 . 51 2 . 5 - 2 52 5 - 3 7 . 53 7 . 5 - 5 05 0 - 6 2 . 56 2 . 5 - 7 57 5 - 8 7 . 58 7 . 5 - 1 0 0N o D a t a

Fonte: CPS/FGV a partir dos dados do Gallup World Poll

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Outra contribuição do projeto se refere à difusão do conhecimento sobre o

potencial dos programas do Banco do Nordeste em escala internacional, como já

aconteceu em escala nacional. O projeto propõe fazer isto através da preparação de

monografia para posterior publicação de livro em inglês que compara o Crediamigo e o

Agroamigo com a de 14 experiências rurais e urbanas de microcrédito avaliada pelo

CPS/FGV em quatro países da América Latina (vide sítio do projeto).

Uma outra forma de reforçar esta ligação externa é acoplar o acesso as

microfinanças no âmbito da meta 8 da agenda das Novas Metas do Milenio da ONU

abaixo sintetizadas2:

Novas Direções Post-2015 MDGS

Em época de crise de credibilidade do microcrédito em escala global, função da

crise indiana no setor, o Agroamigo e o Crediamigo são o melhor exemplo do desafio

de combinar as virtudes do Estado com as virtudes dos mercados, sem se esquecer de

evitar as falhas de cada um dos lados.

2 O projeto propõe fazer isto através da publicação de livro em inglês que compara o Crediamigo e o Agroamigo com a de 14 experiências rurais e urbanas de microcrédito avaliada pelo CPS/FGV em quatro países da América Latina. O CPS/FGV organiza no dia 4 de setembro de 2012 seminário internacional sobre o tema no Rio de Janeiro.

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1. Visão geral

O projeto “Microcrédito, Mobilidade Social e Avaliação de Impacto do

Agroamigo e do Crediamigo" busca ajudar a orientar o aprimoramento e a expansão das

ações de crédito produtivo do Banco do Nordeste, incluindo àquelas voltadas à área

rural e urbana. De maneira geral, o projeto em parceria visa a provisão de um sistema de

informações, modelos de análises, marco conceitual e sua difusão a sociedade. Isso

passou pela criação de três sítios na internet, com a vantagem de permitir a reunião das

informações processadas e generalização das análises a um amplo conjunto de usuários

de forma interativa e amigável. Apresentamos um sítio geral que consolida os dois

projetos e outros dois voltados para o Agroamigo e o Crediamigo, respectivamente. O

outro produto foi a elaboração de diversos relatórios que, além de suas conclusões

específicas, funcionam como guias práticos para um sistema de informações a ser

disponibilizado no âmbito do projeto.

Resumimos neste texto os principais resultados substantivos do projeto nas

seguintes vertentes:

i. Extensões da Avaliação do CrediAMIGO: Realizamos atualizações da avaliação de

desempenho dos clientes do CrediAMIGO, a partir de informações mais recentes até

Dezembro de 2011. Introduzimos análise dos efeitos da crise global em análises

longitudinais pareadas com as da PME para a obter a dicotomia entre grupos de

tratamento e de controle, de forma a isolar os efeitos do programa. Segmentamos

análise para o CrediAMIGO Comunidade e ampliamos o escopo de análise para

outras unidades geográficas, incluindo avaliação no Rio (parceria com o Vivacred)

como fase preliminar para se avaliar os efeitos das UPPs,

ii. Avaliação do Programa Agroamigo: Desenvolvemos metodologia empírica para

avaliação do perfil sócio-demográfico da clientela do Agroamigo. Medimos a

performance dos beneficiários em termos de Lucro (Rédito Operacional), Receita,

Custo e Reembolso, observando o desempenho dos tomadores de crédito em

momentos distintos do tempo, na mesma linha de avaliação que desenvolvemos para

o CrediAMIGO. Incorporamos, além disso, a dimensão dos determinantes da

inadimplência do programa. Produzimos uma série de simuladores a partir dos

modelos estimados. Nesta parte utilizamos amostra de 72 mil clientes do Agroamigo

e uma sub-amostra mais recente (abrangendo os efeitos da seca em curso com

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informações até Junho de 2012) e com questionário mais amplo. Esta riqueza de

informações será usada no terceiro texto para estudar a demanda por outros

instrumentos financeiros dos clientes do Agroamigo.

iii. Evolução da Economia Microempresarial Local e Regional: Medimos o impacto

potencial do Programa Agroamigo na redução da pobreza e acesso a diferentes

classes econômicas, em particular a Nova Classe Média. Monitoramento a partir do

processamento de outras bases de microdados, em particular a PNAD.

iv. Evolução da Economia Microempresarial Local: Mapeamos através do Censo

Demográfico 2010 o universo microempresarial nordestino entre cidades e dentro

dos municípios maiores

v. Descrição das Bases Utilizadas: Este texto detalha a riqueza de bases de microdados

processados ao longo do projeto e dos dispositivos gerados a partir dela. Estão

incluídas as Bases do Crediamigo, Agroamigo, as últimas edições dos Censos

Agropecuário e Demográfico, Cadastro Social Único e Folha do Bolsa Familia,

Economia Informal (ECINF), Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), Pesquisa

Nacional de Amostras a Domicilio (PNAD), Pesquisa Mensal do Emprego (PME),

entre outras.

vi. Difusão dos Resultados: Neste texto apresentamos uma síntese das contribuições do

projeto em planejamento e das estratégias dos programas e da sua difusão, aí

incluindo desenvolvimento de sítios da pesquisa, elaboração de monografia em

inglês, entre outros. Traçamos um resumo das atividades empreendidas de difusão

dos resultados da pesquisa através de participação em seminários, entrevistas e

artigos autorados em jornais e revistas.

vii. Prescrições de Política e Conexões com Outras Ações: A título de conclusão,

sintetizamos as principais prescrições do estudo englobando conexões entre os dois

programas de crédito do Banco do Nordeste com outras ações, indo do Bolsa

Família do Ministério de Desenvolvimento Social Nacional, passando por

programas complementares locais e chegando a visões mais globais como aquelas

associadas ao papel das microfinanças nas Metas de Desenvolvimento do Milênio.

Averiguar se os clientes dos programas Agro e CrediAMIGO possuem perfil

diferente daqueles beneficiados pelo Bolsa Família, entre outros.

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2. Avaliação de Impacto do Crediamigo nos Clientes

O CrediAmigo associado ao Banco do Nordeste constitui o maior programa de

crédito produtivo popular do Brasil com cerca de dois terços do mercado nacional,

sendo um dos dois maiores programas de microcrédito da América Latina. Além de

tamanho, o programa tem qualidade. Em 2008, o CrediAmigo foi escolhido pelo Banco

Inter-Americano de Desenvolvimento (BID) entre todas as instituições do continente

para ganhar o prêmio Excelência em Microfinanças (como “instituição regulada”, que

corresponde ao prêmio de microcrédito). A expansão do programa para fora da Região

Nordeste, a começar pelas comunidades de baixa renda do município do Rio de Janeiro

como Rocinha, Rio das Pedras e Maré foi emblemática. O Nordeste, tradicionalmente

exportador de pessoas e receptor de políticas compensatórias, começa a exportar

políticas estruturais para o resto do país. Na verdade, observamos recentemente outros

fluxos invertidos no campo das políticas sociais de última geração, como a ida do

Grameen Bank e dos programas de transferência condicionada de renda (isto é, o

genérico do Bolsa-Familia) para Nova York, já a partir do início de 2007. A crise

internacional tendeu a ampliar estes movimentos de tecnologia social na direção

contrária a usualmente assumida. Em 2011, o modelo do Crediamigo foi adotado no

âmbito do programa Crescer federal.

Institucionalidade

O arranjo institucional é o aspecto diferencial do CrediAmigo, pois como se verá

adiante, este lança mão da infra-estrutura e filosofia de um banco público de

desenvolvimento, operando com incentivos privados e juros mais baixos que outras

taxas disponíveis no mercado mas sustentáveis.

O CrediAmigo foi estabelecido em 1997, com o apoio do Banco Mundial e a

assistência técnica da Acción Internacional, mas acima de tudo em consonância com o

projeto maior do Banco do Nordeste, garantindo-se assim o necessário apoio

institucional interno ao projeto. Não só o apoio externo da Acción, CGAP e Banco

Mundial, mas, em grande medida, as transformações no ambiente regulatório do setor

do microcrédito ajudaram a moldar o desenvolvimento institucional do CrediAmigo

sintetizado a seguir.

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OSCIP

Agentesde

Crédito

EmprestadoresBanco Público Federal Regional + Depósitos

Comp

Institucionalidade do Crediamigo

Tomador 1

Tomador N

Crescer se inspirou neste modelo

Grupo de Crédito

A estratégia de crescimento do CrediAmigo foi de expansão rápida para

aumento de capilaridade e, por conseguinte, de escala. Em outras palavras, o

crescimento do CrediAmigo requereu alto investimento aliado a considerável risco e

retorno demorado. Portanto, até o seu “break even point” que ocorreu por volta de 2001,

foi primordial ter o acesso tanto à assistência técnica da renomada Acción e CGAP,

quanto aos fundos do Banco Mundial e do próprio Banco do Nordeste, para superar o

período inicial (principalmente entre 1997 e 1998) de custos altíssimos.

Visão de Longo Prazo

O CrediAmigo, iniciado em 1997, é autossustentável, e a taxa de inadimplência

da carteira em 31 de dezembro de 2008, ou seja, em plena crise de crédito, era de

1,13%, caindo de 2,09% em 2002. O programa tem suficiência operacional, não

dependendo de benefícios fiscais, gerando lucro de 50 reais ano por cliente, calculada

usando o custo de oportunidade de juros de mercado para compor seu funding. O

programa se aproxima do que podemos chamar de política social de mercado. Um

segredo do programa está na sofisticada estrutura de incentivos. Em primeiro lugar, o

esquema de crédito solidário adotado no programa seguindo o modelo notabilizado pelo

Grameen Bank funciona como incentivo para a separação dos bons dos maus tomadores

pelos próprios participantes potenciais do programa. O esquema é ilustrativo da

possibilidade de soluções simples e baratas para afrouxar os problemas de informação

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assimétrica e seu corolário a restrição de crédito dos produtores pobres. Enganam-se

àqueles que acham que o esquema de grupo solidário “não pegou” nas cidades

brasileiras. Em segundo lugar, a parceria com a OSCIP Nordeste Cidadania permitiu

desatrelar os encargos e os incentivos dos agentes de crédito do programa da legislação

trabalhista pública. O agente de crédito é motivado pela parte variável de sua

remuneração, associada ao tamanho e a performance de sua carteira. A remuneração dos

assessores funciona como um autêntico sistema de salário-eficiência, estudado na

literatura econômica. Em terceiro lugar, mas também importante, há separação

administrativa entre o CrediAmigo e o restante do Banco do Nordeste, o que ajuda a

manter a transparência operacional do programa e os incentivos à performance dos

gestores do comando do programa.

Além disso, qual é o impacto do programa para os seus clientes, sabidamente,

excluídos do sistema financeiro tradicional? Para responder a essa pergunta, abordamos

o que provavelmente constitui a base de microdados mais completa sobre microcrédito

no país, perfazendo até maio de 2012 um total de mais de 1,2 milhões clientes. A base

acompanha balanços e demonstrativos de resultados completos dos mesmos negócios ao

longo de longos intervalos de tempo, atingindo no caso dos clientes mais antigos mais

de uma década. O fato da base também incluir dados de estoques de ativos e de fluxo de

despesas e rendas familiares permite calcular a riqueza líquida e a emancipação da

pobreza das pessoas físicas e jurídicas de maneira integrada. A evolução do programa

demonstra uma capacidade de atender clientes de renda inicial cada vez mais baixa.

Quanto maior o tempo de exposição dos clientes ao programa, maior é o seu impacto.

Resultados semelhantes foram observados para todos os conceitos operacionais dos

negócios, quais sejam redução da escala dos clientes iniciais e aumento cumulativo do

tamanho do negócio à medida que os clientes permanecem no programa. Em suma, o

programa reúne uma tendência de ganhar força no tripé sustentabilidade institucional,

retorno aos clientes e maior foco na pobreza.

Geografia - A maior concentração de clientes do Crediamigo se dá com folga no

estado do Ceará, que abriga 34,38% da clientela no momento final de avaliação do

programa. Após o Ceará, os estados com maior concentração de clientes são Bahia

(11,20%), Piauí (10,46%), Maranhão (9,07%) e Paraíba (7,28%). Nota-se que estes

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estados estão entre o grupo dos mais pobres do país, todos localizados na

tradicionalmente excluída região Nordeste.

Os microempresários cearenses podem esperar auferir maiores variações nos

seus lucros em relação a microempresários semelhantes que vivem em outros estados do

Nordeste, afinal, os coeficientes dos outros estados são negativos. No total do Brasil,

nenhum estado teria variação de lucro maior do que o Ceará. Após o Ceará, os maiores

aumentos de lucro são encontrados no Rio Grande do Norte e Alagoas. O estado que

apresenta as menores variações de lucro em comparação com o Ceará é o Espírito

Santo, com uma variação aproximadamente 24% menor. Após o Espírito Santo, o

estado que apresenta menor aumento do lucro em comparação com o Ceará foi o Rio de

Janeiro.

Mapa da Porcentagem de Clientes do Crediamigo

% C l i e n t e s0 - 0 . 0 10 . 0 1 - 0 . 0 50 . 0 5 - 0 . 10 . 1 - 0 . 20 . 2 - 0 . 3 5N o D a t a

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do Programa Crediamigo/BNB

Gênero - Heuristicamente, o microcrédito, em geral, e o CrediAmigo, em particular,

funcionam como fonte de financiamento da chamada revolução feminina ora em curso.

Apesar de serem 1/3 dos microempresários urbanos nordestinos, as mulheres são 2/3

(66%) dos clientes do CrediAmigo. A metodologia de grupo solidário, o foco e o

retorno maiores obtidos pelas mulheres, a exemplo do Grameen Bank, consagram o

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CrediAmigo no cenário do microcrédito nacional. Essa iniciativa de priorizar a

concessão do crédito para as mulheres vai de acordo com a ideia de que as mulheres

compartilham e investem mais os seus ganhos na família, principalmente com os filhos,

gerando maiores retornos em termos de bem estar social. Além disso, as mulheres são

tradicionalmente excluídas da sociedade, e o microcrédito com foco no sexo feminino

também cumpre o papel social de maior inclusão feminina.

Numa avaliação de impacto captada através da interação da variável tempo com

gênero, apesar de em níveis o lucro dos homens ser aproximadamente 30% maior do

que o das mulheres, (modelo multivariado completo, sem interação) a variação do lucro

dos homens do momento 1 para o momento 2 foi 4% menor do que em relação a

mulheres com as mesmas características.

Tipo e Tamanho do empreendimento - Na experiência do Crediamigo, 56,83% dos

negócios são próprios, enquanto 29,27% são ambulantes (informal) e 13,65% alugados.

Em relação ao setor de atividade, a clientela do Crediamigo se concentra no setor de

comércio, que abriga 91,13% dos clientes contra apenas 1,33% na indústria. O objetivo

do programa é chegar aos pequenos empreendedores, àqueles que tradicionalmente

sofrem com restrição de crédito e precisam de alavancagem de renda para dar o salto

rumo a condições melhores de vida. Olhando para os dados do programa, podemos

perceber que o objetivo de chegar aos microempresários é cumprido com efetividade,

dado que 97,94% dos clientes são empreendedores de negócios de 1 a 4 pessoas.

Em relação ao tamanho da empresa, um empreendedor de uma empresa com 5

pessoas ou mais teve aumento de lucro do momento 1 para o momento 2

aproximadamente 2% menor do que outro empreendedor com as mesmas características

mas com um empreendimento de 1 a 4 pessoas.

Escolaridade - Olhando agora para o nível de escolaridade da clientela do Crediamigo,

temos que a maioria dos clientes possui nível educacional de 1°grau (54,75%), seguidos

pelos clientes com 2° grau (34,46%) e por aqueles que sabem ler e escrever, mas não

tem instrução educacional (5,79%). Em relação à educação superior, apenas 4,08% dos

clientes possuem esse nível de escolaridade. Como era de se esperar, o lucro médio dos

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clientes cresce junto com o avanço no nível de educação, sendo maior para aqueles com

nível educacional superior.

Um microempresário com educação superior teve variação do lucro 4,8% menor

em relação a um empreendedor com as mesmas características, porém sem qualquer

grau de escolaridade formal.

Bolsa Família e Crediamigo

A base de microdados do CrediAmigo permite estudar as conexões entre os

resultados de clientes do programa com o Bolsa Família, identificando sinergias entre

programas. Apresentamos abaixo a comparação entre a posição inicial dos clientes em

todos os anos de entrada e a última posição de 2011 para o total de clientes e para

aqueles que são beneficiários do Bolsa Família. Os clientes do Bolsa Família

apresentam indicadores dos empreendimentos iniciais e finais menores em termos de

fluxo reais em relação ao do conjunto de clientes, como pode ser observado comparando

as receitas operacionais, o lucro bruto e o lucro operacional dos dois grupos. No

entanto, em relação ao custo operacional e às despesas familiares, os clientes

beneficiários do Bolsa Família apresentam valores superiores do que o total de clientes

do Crediamigo, indicando maior vulnerabilidade do grupo beneficiado. Por outro lado,

os beneficiários do Bolsa Família apresentam ganhos percentuais de itens ligados aos

negócios como receitas e lucro superiores ao total de clientes do programa, ambos

ativos em 2011. As despesas familiares e o custo operacional, por outro lado, também

apresentam crescimento maior nos beneficiários do Bolsa Família, o que dá uma

robustez para o fato de que esses clientes são mais vulneráveis.

CLIENTES DO CREDIAMIGO - 2011 Giro Individual, Solidário, Popular Solidário e Investimento Fixo

DEMONSTRATIVO DE RESULTADOS

Demonstrativo de Resultados

Clientes Crediamigo Clientes e Beneficiários BF

Inicial Var (Inicial até

2011) Inicial

Var (Inicial até 2011)

Receitas Operacionais 4101,2

1 9,64% 2701,9

3 29,23%

Lucro Bruto 1696,0

8 24,07% 1103,4

4 43,60%

Custo Operacional 354,09 18,28% 175,92 43,48%

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Lucro Operacional 1357,3 24,18% 936,75 42,20%

Despesas Familiares 506,2 12,46% 398,69 13,37% Fonte: Crediamigo/Banco do Nordeste

A comparação análoga à anterior (antes da entrada no CrediAmigo e na última

observação de 2011) no caso dos Ativos Totais e Ativos Familiares revela um

diferencial de acumulação mais favorável aos clientes do Bolsa Família, mesma

tendência observada na análise anterior. Isso mostra um maior potencial dos

beneficiários do Bolsa Família de alavancagem nos seus negócios.

Em suma, em termos de resultados quantitativos do ponto de vista dos clientes,

estes apresentam um desempenho crescente com o tempo de permanência no programa.

O programa se revela cada vez mais focalizado ao captar clientes nas empresas de

segmentos de menor porte. No caso da comparação do total de clientes do programa

com aqueles que também são beneficiários do Bolsa Família (em 2011), os últimos

apresentam maior tendência a crescer. Na nossa avaliação quantitativa, o desafio maior

do programa é chegar às pessoas de menor renda mantendo a sustentabilidade do

programa e de sua clientela. Em 2005, apontando na direção de um público de menor

renda, foi lançado o produto Comunidade.

O Comunidade

O Comunidade integra o conceito de village banking, ou bancos comunitários, se insere no âmbito das microfinanças ao oferecer empréstimos de baixo valor, para a finalidade de capital de giro, a grupos entre 15 e 30 pessoas (tradicionalmente), que se conheçam e possam avalizar o empréstimo alheio – assim, pode-se chegar mais perto da base da pirâmide de renda. Porém, além do crédito em si, os bancos comunitários também têm uma função importante ao revigorar as comunidades em que operam. A metodologia de village banking se baseia na responsabilidade do grupo, buscando a sua autonomia.

Comparamos agora a clientela dos produtos do Crediamigo tradicional com aquelas do

Comunidade.

CadÚnico e Bolsa Família

Ao analisarmos o percentual de clientes beneficiários do CadÚnico, temos que maior

proporção de clientes do Comunidade são beneficiários do Cadastro (76,72% contra

67,76% da clientela do CrediAmigo Original), o que dá uma robustez para o objetivo do

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programa Comunidade, que é atingir os mais pobres. Apesar de possuir cerva de 13% a

mais de clientes beneficiários do CadÚnico, a diferença em relação aos clientes

beneficiários do Bolsa Família é muito pequena (23,42% para os clientes do

Comunidade contra 23,23% dos clientes do programa original), o que nos mostra um

potencial no combate à pobreza ainda não explorado.

Comparando Clientes e Negócios: Comunidade e CrediAmigo

A clientela dos produtos originais do CrediAmigo era cerca de quatro vezes

maior que o do Comunidade em 2008. Dada a natureza embrionária do Comunidade e a

sua tendência de atingir grupos maiores e de menor renda inicial que os produtos mais

tradicionais do CrediAmigo, a riqueza de dados econômico-financeiros encontrada no

banco de microdados do CrediAmigo original não é encontrado no Comunidade. O

banco de dados permite comparar os perfis sócio-demográficos e de características

empresariais de ambos os programas.

Características Sócio-Demográficas

O Comunidade possui clientes mais jovens que o do CrediAmigo. A proporção

de pessoas entre 10 e 29 anos é de 28% no Comunidade contra 24% do CrediAmigo. A

proporção de solteiros também é maior no Comunidade, 44% contra 40% do

CrediAmigo. Educação é uma variável observável particularmente útil para traçar o

perfil dos empreendedores e dos negócios. A clientela do Comunidade apresenta um

menor nível de escolarização, com 11% dos clientes abaixo do primeiro grau contra 5%

do CrediAmigo. Para o 1° e 2° graus, a diferença entre os programas é ainda maior. A

clientela do Comunidade, apesar de predominantemente feminina com 63% dos clientes

desse gênero, não é mais feminina do que no caso do CrediAmigo, com 67% da

clientela sendo do sexo feminino. Em termos da sócio-demografia dos programas, o

Comunidade tem funcionado mais como porta de entrada ao microcrédito para pessoas

menos educadas (mais pobres) e mais jovens.

Características do Negócio

No que tange à distribuição setorial, os negócios do Comunidade estão menos

concentrados na indústria (0,88%) e nos serviços (3,72%) do que o CrediAmigo com

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1,35% e 7,59%, respectivamente. De qualquer forma os clientes estão fortemente

concentrados no comércio, com mais de 92% dos clientes em ambos os programas.

Refletindo as diferenças dos negócios entre os dois programas, percebemos que

a proporção de clientes que exercem suas atividades empreendedoras em casa é maior

no Comunidade, com 59%, do que no Crediamigo, com 44%. Complementarmente,

enquanto 20% da clientela do CrediAmigo trabalha em algum ponto comercial, o

mesmo dado para o Comunidade é de apenas 7% dos clientes, o que fortalece a ideia de

que o Comunidade tem um público alvo mais vulnerável e necessitado, com negócio

mais precários em relação ao CrediAmigo Original. Ao olharmos o tipo de residência

dos clientes, não há grandes diferenças entre os dois programas.

Como reflexo das diferenças de escala existentes, o uso de controles

administrativos dos negócios é menor no Comunidade (20,28% dos clientes do

Comunidade não recebem nenhum controle administrativo, contra 8,31% do

CrediAmigo). Entre os que têm controles, a diferença de qualidade dos registros

administrativos entre os dois programas na avaliação dos agentes de crédito é marcada,

sendo 11% dos controles considerados bons no CrediAmigo e 8% no caso do

Comunidade (em relação aos controles considerados como satisfatórios, o percentual é

de 42,36% para os clientes do CrediAmigo contra 20,30% do Comunidade). As vendas

no Comunidade são primordialmente feitas à vista (32,8% contra 24,56% do

CrediAmigo). Isto é, os clientes do CrediAmigo fornecem mais crédito a seus

compradores. No que tange a identificação de outro negócio fixo, enquanto 76,65% dos

clientes do CrediAmigo possuem outro negócio, o mesmo número para os clientes do

Comunidade é de 89,27%, novamente indicando maior vulnerabilidade dos clientes do

Comunidade, que precisam mais de outras atividades para se sustentar.

Em relação ao registro como empreendedor individual, temos números muito

baixos tanto para os clientes do CrediAmigo Original quanto para aqueles do

Comunidade. No entanto, os números são mais desfavoráveis ao Comunidade, com

apenas 1% dos seus clientes registrados como empreendedores individuais contra 5% do

programa original.

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Impactos da Crise

Seguindo na linha traçada em Neri (2008), estendemos aqui alguns resultados,

colocando em perspectiva os efeitos da crise deflagrada nos EUA em setembro de 2008

e aquela iniciada na Europa em 2011. Um requisito para a avaliação do Crediamigo em

qualquer contexto é o uso de referência externa. É preciso comparar o desempenho dos

clientes do programa com o de um grupo de controle local, pois a economia brasileira, e

a nordestina em particular, apresentaram crescimento acima da média nos últimos anos.

Por exemplo, segundo Neri (2011), entre 2001 e 2009 a renda domiciliar do Nordeste

cresceu 42% em termos reais per capita contra 16% no Sudeste e 7,2% em São Paulo.

Optou-se como controle as unidades de trabalhadores por conta própria e empregadores

da Pesquisa Mensal do Emprego (PME/IBGE), aplicando um processo de pareamento

(matching) com a base do Crediamigo de forma a tornar as respectivas amostras, após o

pareamento, mais próximas entre si, minimizando vieses de seletividade associados à

própria concessão de crédito.

As bases da PME e do Crediamigo permitem o acompanhamento dos mesmos

indivíduos, famílias e empresas ao longo do tempo nas duas maiores regiões

metropolitanas nordestinas cobertas. Cabe lembrar que esses resultados se referem às

unidades produtivas situadas nas grandes metrópoles nordestinas; a melhora absoluta

dos clientes do CrediAmigo fora das metrópoles, onde o crédito é mais escasso, foi

600% superior no período de 2007 e 2008.

A análise está, portanto restrita aqui à Grande Salvador e à Grande Recife entre

2007 e 2008 e entre 2010 e 20113. Os primeiros anos (2007 e 2010) procuram

caracterizar as mudanças associadas no período antes da Crise e os segundos àquelas no

período depois das crises (2008 e 2011). A primeira crise chegou aos domicílios da

PME na primeira semana de janeiro de 2009. Foram analisados os movimentos relativos

do lucro do microempresário no negócio. A comparação entre indivíduos semelhantes

com e sem acesso a crédito nos permite detectar impactos do Crediamigo sobre

ascensão entre classes econômicas classificadas a partir da renda familiar per capita do

trabalho para pessoas de 15 a 60 anos, e do lucro dos pequenos negócios. As variáveis

3 Frisando que no caso do Crediamigo para manter a comparabilidade com a PME olhamos para aqueles que entraram no programa em 2007 e 2010 respectivamente para olhar os mesmos clientes no ano seguinte.

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de controle foram gênero, idade, educação, tamanho de empresa, setor de atividade e

região metropolitana.

O conceito de desempenho empresarial que a PME oferece é o lucro bruto,

captado através do conceito de renda individual do trabalho de empregadores e de

unidades por conta própria. A análise, controlada pelas características colocadas a partir

de equações mincerianas de lucro com dummies interativas de período e das duas

amostras pareadas de clientes e não clientes do Crediamigo, revela um crescimento

médio de 10,7% do lucro habitual em doze meses das duas amostras nos dois períodos

em termos reais.

Um segundo resultado de interesse é que as mudanças de lucro de todos os

microempresários não se apresentam estatisticamente diferentes de zero na comparação

entre os períodos antes e depois da crise. Isto é, não comparamos antes e depois do

período de 12 meses como no exercício citado no parágrafo anterior, mas a partir do

mesmo modelo observamos as mesmas pessoas tomadas conjuntamente antes e depois

da crise. Ou seja, o crescimento de lucro observado nos pequenos negócios não foi

afetado pela mudança de conjuntura observada.

Agora, como se portou o diferencial de crescimento do lucro habitual entre os

clientes do Crediamigo e o grupo de controle? Isto pode ser endereçado através do

modelo acima acrescido de uma variável dummy interativa que define cada uma das

duas amostras de tratamento e controle com atributos socioeconômicos comparáveis e

com os vieses de seleção tratados a partir das variáveis observáveis pelo procedimento

de pareamento. O diferencial de ganho de lucros é de 9,33% favorável aos clientes

ativos do Crediamigo, o que indica os ganhos relativos proporcionados pelo programa

de microcrédito vis a vis a performance do grupo de controle. Este é o resultado a ser

ressaltado.

Finalmente, olhamos se a crise afetou de maneira diferenciada a amostra do

Crediamigo. Os resultados sugerem que o ganho de lucro do Crediamigo só é 15,2% no

segundo período relativo ao período inicial, tomando os períodos pré e pós crise

conjuntamente. Esse resultado é superior ao observado nas amostras tomadas de forma

conjunta. Agora, o lucro dos Clientes do Crediamigo cai 12,5% no período pós-crise. A

fim de ter uma visão alternativa, interagimos as variáveis respectivas à amostra

(Crediamigo e PME), Período (inicial tomada de Crédito e 12 meses após) e Crise

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(Antes e Depois). O lucro dos clientes do Crediamigo cresceu 13,6% entre a tomada de

crédito e o período final no período pós-crise; já a mesma comparação para o período

pré-crise foi 20,3% favorável aos clientes do Crediamigo.

Em suma, há evidencias que o Crediamigo consegue produzir um diferencial de

lucros favorável vis a vis o seu grupo de controle em qualquer um dos cenários

analisados, mas este diferencial caiu com o aprofundamento dos efeitos da crise

creditícia global em curso.

Clientes Cariocas do Crediamigo

No dia primeiro de julho de 2009, presenciamos no município do Rio de Janeiro

cerimônia que marcou o início da expansão do Crediamigo para outras regiões do

Brasil, coroada em 2011 com o lançamento do Programa Nacional de Microcrédito

intitulado Crescer. O experimento carioca interessa por permitir testar para fora da área

de atuação tradicional do Banco do Nordeste os impactos da tecnologia de microcrédito

lá criada. Foi estimada uma equação de lucros multivariada simples sem grupo de

controle com os dados do programa CrediAmigo para o Rio de Janeiro. O principal

resultado foi o aumento de lucro da ordem de 12,43% entre os dois momentos de

avaliação do programa. Em termos espaciais, fixamos o posto do programa na Zona

Sul-Centro como base para comparar com as outras unidades espaciais. Percebe-se que

o lucro no posto da Rocinha é 19,84% menor em comparação com o posto da Zona Sul-

Centro. Os demais postos da Zona Norte-Maré, Zona Oeste e São Gonçalo apresentaram

amostras pequenas e/ou coeficientes não estatisticamentre diferentes de zero. À medida

que esta base de dados se estender no tempo e crescer com a natural expansão do

programa, iremos testar o impacto das UPPs, a começar pelo efeito da pacificação da

Rocinha a partir de novembro de 2011. Este tipo de laboratório de avaliação de

impactos é interessante para se aprender como o modelo de UPPs pode impactar áreas

nordestinas, uma vez que o modelo está sendo aplicado em Salvador. Em termos mais

gerais, dada a onda de violência que afeta as cidades nordestinas, como explorar o

mercado de microcrédito a partir da aplicação de políticas de segurança alternativas? O

choque de segurança cria terreno fértil para o desenvolvimento dos mercados na base da

pirâmide. As UPPs cariocas são um exemplo vivo de como “o choque de ordem” pode

levar a um “choque de progresso”. Será útil aprender com esta lição quando os dados

estiverem disponíveis.

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3. Avaliação do Agroamigo

O outro objeto deste trabalho é o programa de microcrédito rural do Banco do

Nordeste. O Agroamigo é operacionalizado em parceria com o Instituto Nordeste

Cidadania e com Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Trata-se de uma

iniciativa pioneira no Brasil que visa à concessão de financiamento para área rural,

tendo como principal premissa diferenciadora do PRONAF praticado em outras partes

consiste na concessão de crédito orientado e acompanhado.

Institucionalidade

O Agroamigo tem por base a forte atuação e presença local do assessor de

microcrédito e sua capacidade de avaliação do cliente, considerando intenções e

potencialidades que resultam na elaboração de propostas de crédito adequadas às

necessidades de cada cliente. O programa destina-se a agricultores familiares

enquadrados no PRONAF Grupo B que exploram parcela de terra na condição de

proprietários, posseiros, arrendatários ou parceiros; que residam na propriedade rural

ou em local próximo; obtenham no mínimo 30% de renda familiar da

exploração agropecuária ou não agropecuária do estabelecimento; tenham o

trabalho familiar como base na exploração do estabelecimento; e possuam renda

bruta anual de até R$ 6.000,00.

Para comprovar a condição de agricultores familiares, estes deverão apresentar a

DAP – Declaração de Aptidão ao PRONAF, emitida pelos órgãos oficiais de assistência

técnica dos Estados ou pelos Sindicatos de Trabalhadores Rurais. Os agricultores

clientes do Agroamigo poderão desenvolver qualquer atividade geradora de renda no

campo ou em aglomerado urbano próximo, sejam agrícolas, pecuárias ou outras

atividades não agropecuárias no meio rural, como turismo rural, agroindústria, pesca,

serviços no meio rural ou artesanato.

Tendo início em 2005, o Programa está presente em 160 unidades do Banco,

atendendo a 1.945 municípios do Nordeste brasileiro e Norte de Minas Gerais, contando

com carteira acumulada de R$ 2.765.393 mil, correspondentes a 1.626.582

financiamentos. Já a sua carteira ativa é de mais de R$ 1,146 bilhão contando com

744.021 operações. Em cinco anos de existência, o Agroamigo acumulou mais de 1

milhão de financiamentos e R$ 1,8 bilhão em valores contratados, cifras que fizeram

dele o maior programa de microfinanças rural do Brasil. Pelo sucesso das iniciativas

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urbana e rural do Banco do Nordeste – evidenciado pelos prêmios internacionais, a

Presidente Dilma estabeleceu que tanto o Banco do Brasil quanto a Caixa Econômica

Federal devem se basear no Credi/Agroamigo em suas operações.

Na operacionalização do crédito, o Instituto Nordeste Cidadania adota a

metodologia de microcrédito produtivo orientado, que exige o relacionamento direto

com agricultores de pequenos empreendimentos, em suas próprias comunidades rurais,

sendo o atendimento aos empreendedores rurais realizados pelos assessores de crédito,

objetivando discutir com os agricultores a sua proposta de crédito.

A metodologia utilizada no trabalho do Agroamigo já está sendo reconhecida

como exemplar pelo Governo Federal; pois, a concessão de crédito orientado e

acompanhado é o modelo de financiamento mais adequado para atender aos agricultores

familiares enquadrados no grupo B do Pronaf. Assim, graças ao formato adotado, os

assessores de microcrédito rural passam a operacionalizar o crédito de forma assistida,

oferecendo aos produtores um atendimento personalizado e na sua própria comunidade,

com acompanhamento adequado e sistemático das operações realizadas.

Ficam como responsabilidades do Banco do Nordeste acompanhar,

supervisionar e fiscalizar o cumprimento do termo de parceria e proporcionar o apoio

necessário ao Instituto Nordeste Cidadania para que sejam alcançados os objetivos do

programa. O Banco realiza ainda o deferimento, a contratação das propostas de crédito

que lhe forem encaminhadas e a liberação das parcelas realizadas diretamente aos

clientes. Com esse modelo, o Banco do Nordeste atua como instituição de crédito de

primeiro piso.

O microcrédito também se difundiu mais no campo do Nordeste, a região mais

pobre do Brasil. Mas para considerar este fato uma virtude é preciso que o crédito

produtivo permita que as boas oportunidades de negócios floresçam e que as más

preferencialmente não. É preciso também avaliar a eficiência alocativa da concessão de

microcrédito.

Trabalhamos com duas amostras de clientes do programa Agroamigo. Elas

foram divididas de acordo com o questionário aplicado. A primeira, mais antiga, contém

informações sobre o universo de 65 mil clientes, englobando receitas e lucros em dois

momentos distintos. A segunda base de dados, mais recente, conta com mais variáveis

além das aplicadas no questionário antigo, apesar do menor número de clientes:

constam informações de 7,9 mil clientes.

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Análise dos Determinantes de Desempenho dos Clientes do Agroamigo

A base completa, com mais de 72 mil unidades produtivas observadas em dois

instantes do tempo, nos permitiu analisar medidas gerais de desempenho como lucro,

receita, custo e reembolso, o que nos permitiu ver qual o comportamento dessas

variáveis segundo diferentes atributos socioeconômicos. A base menor e mais rica, por

ser mais recente, nos permitiu explorar no período marcado pela seca recente a riqueza

de dados sobre os determinantes da inadimplência e como políticas públicas e

instrumentos financeiros ligados a crédito ao consumidor, conta-corrente e poupança

afetam os atrasos de crédito.

No que tange a base maior, o presente texto demonstra que o Agroamigo

apresenta alguns resultados positivos nas condições de vida produtiva e possivelmente

familiar da sua clientela. Será avaliado o impacto do Agroamigo sobre medidas de

desempenho econômico e financeiro dos negócios dos empreendedores e de suas

famílias, com ênfase especial nas questões: uso da terra, dedicação exclusiva às

atividades produtivas e a questão de diversificação, a participação em organizações

sociais e por último e não menos importante a questão do gênero do pequeno

empreendedor rural, de forma a quantificar tanto a razão dos sexos nos níveis dos

resultados quanto sua alteração ao longo do tempo.

O texto descreve o microcrédito, oferece uma descrição do programa e de seus

empréstimos e da base de dados amostral analisada aqui em primeira mão. Mais adiante,

traçamos um perfil socioeconômico dos clientes ativos do Agroamigo, analisando-se ao

mesmo tempo seu lado pessoa física e jurídica para, por último, se medir como se deu a

evolução de seus negócios durante a trajetória recente do programa.

No que tange ao ultimo tema, realizamos modelo empírico controlado de

equação de receitas, lucro, custo e reembolso para isolar os efeitos temporais, de

características chaves do programa e o termo interativo no sentido de isolar os efeitos de

diferença em diferença. Isso, na tentativa de captar influência dos programas por estes

atributos ao longo do tempo.

Começamos com a análise de um modelo mais simples de lucro. Homens

apresentam lucros maiores do que as mulheres, porém, apesar de significativa, a

diferença é de menos de 1% a favor deles. Estado civil não apresenta impactos

significativos diferenciados a não ser no caso dos solteiros, onde o lucro é 3,26% maior.

Acesso à assistência técnica não apresenta correlação significativa com o lucro.

No caso, quem teve acesso teve uma tendência de apresentar lucros 15% menores do

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que quem não teve acesso. A participação em organizações sociais apresenta correlação

negativa com o lucro, que é 4% menor em relação aos não filiados. Entretanto, estes

efeitos podem se dever a própria atuação do programa, focada nos mais pobres. É

preciso captar a evolução temporal do lucro interagindo com estas variáveis.

No que tange a dimensão espacial, a maior concentração de clientes da amostra

do Agroamigo se dá no estado da Bahia, que é o maior estado nordestino com 28,8%

dos microempresários do campo e abrigaria 17,17% da clientela do programa. Após a

Bahia, os estados com maior concentração de clientes é Pernambuco (11,82%) e Minas

Gerais (11,47%). Os estados com a menor porcentagem de clientes são Rio Grande do

Norte (7,15%) e Sergipe (7,44%).

Mapa do Lucro Médio dos Clientes do Agroamigo

L u c r o A n o 2 A g r o a m i g o1 4 0 0 - 1 5 2 01 5 2 0 - 1 6 4 01 6 4 0 - 1 9 0 01 9 0 0 - 2 4 0 02 4 0 0 - 3 7 4 0N o D a t a

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do Programa Agroamigo/BNB

Tomando Sergipe como base, o maior lucro é observado no Maranhão (10,68%

maior que Sergipe), seguido de Alagoas (4,4% maior que Sergipe) e Rio Grande do

Norte (1,8% maior que Sergipe). Todos os outros estados apresentam lucro controlado

menor que Sergipe. Os menores são encontrados no Ceará (10,6% menores que

Sergipe), na região semiárida de Minas Gerais (6,2% menores que Sergipe), que é área

de atuação do Agroamigo, Paraíba (5,5% menores que Sergipe) e Bahia (4,47%

menores que Sergipe).

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O tipo de uso da terra apresenta correlação clara com o nível de lucro:

assumindo o proprietário como base, o lucro é 3,8% menor para o meeiro e 1,8% maior

para o posseiro. A dedicação exclusiva à atividade principal, em geral agrícola, funciona

como redutor do lucro observado, que é 4% menor do que aqueles que exercem a

atividade como complementar. Isso refletindo a importância da diversificação de

atividades agropecuárias. Esta variável será fundamental para o desenho da estratégia de

orientação do crédito produtivo.

Finalmente, o lucro teve um ganho real de 15,33% no segundo ano em relação

ao primeiro, refletindo num ganho em níveis bem acima aos da inflação observada. A

análise interativa será de fundamental importância para entender a evolução relativa das

variáveis.

Posteriormente aplicamos um exercício de diferenças em diferenças sobre a

equação de lucro, de forma a isolar de mudanças sócio-demográficas e operacionais o

impacto das variáveis de interesse, tempo e o termo interativo delas (o estimador de

diferença em diferença). Analisamos também a composição das respectivas

características.

Gênero – Ao contrário do CrediAmigo, que segue nos moldes do Grammen Bank e tem

como uma das premissas o foco nas mulheres (66% dos clientes são do sexo feminino),

os clientes do Agroamigo são predominantemente do sexo masculino, mesmo que a

diferença seja pequena (52% dos clientes são homens contra 48% de mulheres) e

estejamos exatamente em linha com a população rural nordestina. No universo de conta

próprias e empregadores rurais a divisão dos secos é ainda mais masculina (79.9% dos

microempresários rurais são homens contra 20,1% de mulheres). Ou seja o programa

tem na verdade uma proporção de mulheres 180% maior que a observada no mundo

masculino microempresarial do campo. Em termos de performance os homens

apresentam ganho temporal de lucro 2,81% maior que o das mulheres.

Dedicação exclusiva – Em relação à dedicação na atividade microempreendedora dos

clientes do banco, contrariando o senso comum, temos que 55,32% dos clientes não

exercem sua atividade microempresarial como principal atividade na renda familiar, e

sim como um complemento para essa renda. As atividades produtivas especializadas

apresentam aumento relativo de 1% vis a vis àquelas diversificadas.

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Organização social – o ganho de lucro ao longo do tempo proporcionado pela

participação em organização social é 2% maior em relação a alguém que não participa

revelando a participação do capital social.

Uso da Terra – o comportamento do lucro ao longo do tempo mostra que, enquanto os

meeiros tiveram variação 5,1% menor em relação a um proprietário, os posseiros

apresentaram variação 8,2% maior. A variação de lucro dos parceiros não é significante

estatisticamente.

Determinantes de Atrasos do Agroamigo

Daremos prosseguimento à análise de dados similares do programa, mas

utilizando essa população menor. Perde-se em quantidade de pessoas, mas se ganha em

diversidade informacional, pois podemos olhar para efeitos da seca sobre inadimplência

utilizando infraestrutura, acesso a mercados, bancarização e acesso a instrumentos

financeiros, recebimento de Bolsa Família, entre outros.

Nesta parte avaliamos os principais determinantes do atraso de pagamentos dos

clientes que se situou em 2,1% na amostra nova. A fim de determinar quais seriam mais

relevantes, aplicamos um procedimento de escolha sequencial de variáveis chegamos a

lista de variáveis fornecida a seguir, em ordem decrescente de importância sendo as

demais variáveis eliminadas não reportadas na tabela4:

Modelo STEPWISE de seleção das variáveis

Passo Variável

1 TEC_EMPREGA_IRRIGACAO

2 Superintendência (Unidade da Federação)

3 PERIODICIDADE_PARCELAS

4 INFRA_AGUA_CISTERNA

5 CONHECEU_PROG_ASSOC_COOPER

6 CONHECEU_PROG_ASSIST_TECNICA

7 Condição do Uso e Posse Terra

4 Sexo; cor/raça; atraso em prestações de bens/serviços; religião; dificuldades de renda; problemas com violência; tem despesa com imóveis (a vista ou parcelado); capital

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8 BOLSA_FAMILIA

9 Acesso Assistência Técnica

10 TEC_EMPREGA_MINERALIZACAO

11 TEC_EMPREGA_VERMIFUGACAO

12 Estado Civil

13 INFRA_ESTRADA

14 FILHOS_ESTUDAM

15 TEC_EMPREGA_MECANIZACAO

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da base

amostral do Agroamigo

Velhas Secas, Novas Vidas?

Inicialmente cabe notar a maior importância relativa de variáveis ligadas a oferta

de agua do que variáveis econômicas ligadas a estrutura do contrato de crédito ou da

unidade produtiva ou ainda sócio-demográficas na explicação da inadimplência do

programa. Isto pode ser específica do período recente de marcada seca em questão

quando a base nova foi coletada cujas variáveis finais foram captadas entre outubro de

2011 e abril de 2012. Vale a pena ressaltar que a variável uso de técnicas de irrigação

foi a primeira a entrar no modelo de inadimplência com impacto de chances 520%

maiores para quem tem o que indica a sensibilidade da unidade produtiva a precipitação

pluviométrica. A existência de cisterna entra em 4º lugar na lista de variáveis que

reduzem onde as chances são 77,2% menores do que aqueles que não tem. Ou usando o

nosso simulador de probabilidades de atraso ceteris paribus unidades que utilizam a

irrigação mas não tem infraestrutura de cisterna tem efeitos sobre a taxa de atraso de

17,8% contra 6,3% daqueles menos expostos as flutuações hídricas. Este resultado

denota a situação crucial da agua no sertão nordestino durante o período de seca em

questão.

A segunda variável em poder explicativo é o Estado onde se destaca a categoria

Minas Gerais com chances de atraso 490% maiores que a base Sergipe. A seguir na lista

de poder explicativo vem a estrutura de pagamentos do contrato de crédito captado pela

periodicidade das parcelas. A probabilidade de atrasos em sistemas de pagamentos mais

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frequentes como bimestral ou trimestral está entre 1700% e 2800% maiores que no caso

da parcela única.

Somente a seguir nas 5ª e 6ª posições vem duas variáveis relacionadas a como o

cliente conheceu o programa se foi através de assistência técnica que aumenta a taxa de

inadimplência em 227% e a taxa e em seguida em programa de cooperativas era 70,7%

menor. A condição de uso da terra aparece em 7º lugar categoria posseiro aumenta em

267% a chance de inadimplência vis a vis a de proprietário. Finalmente, o acesso a

Bolsa Família aparece em 8º lugar reduzindo as chances de inadimplência em 51% em

relação aos que não dispõe de acesso ao programa. Entre as variáveis sócio-

demográficas incluídas estão o estado civil com chances maiores para união estável e se

os filhos estudam.

É importante citar as variáveis testadas que não foram incluídas no modelo por

falta de significância tais como o regime de dedicação a atividade econômica, migração

de retorno, acesso a benefícios do INSS ou ao programa saúde da família, diversos

instrumentos ligados a bancarização da unidade familiar (conta corrente, poupança,

cartão de crédito, infraestrutura domiciliar (computador, internet, geladeira, acesso a

energia) e outras variáveis de técnicas usadas (vermifugação, sementes melhoradas,

mineralização).

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4. Além do Microcrédito: Seguro, Poupança e Microfinanças Nordestinas

O campo das microfinanças é formado por elementos de crédito, poupança e

seguro. Nossa ignorância sobre poupança impressiona pela sua centralidade ao

desenvolvimento do país e para o bem estar dos brasileiros. O jovem agricultor indiano

que poupa frente às intempéries climáticas, ou sofre as conseqüências de não faze-lo, é

figurinha fácil nos estudos internacionais. Mas e o agricultor nordestino que já foi

personagem de Vidas Secas, sabemos pouco sobre ele.

A literatura até recentemente dava ênfase a questão do microcrédito do que aos

microsseguros. Isto começa a mudar. Face a crise do microcrédito indiana e a luz de

experimentos empíricos aleatórios com destaque as avaliações do Poverty Lab do MIT.

Alguns prevem que o papel do microsseguro nos nos próximos 20 anos será similar ao

desempenhado àquele desempenhado pelo microcrédito nos últimas décadas, processo

este que culmina com o Prêmio Nobel da Paz concedido ao Grameen Bank a seu

fundador.

O objetivo deste texto é ir além do microcrédito endereçado nas outras partes

deste projeto e estudar hábitos de poupança, seguro e outros comportamentos

financeiros das famílias conferindo especial atenção ao caso nordestino e a população

de baixa renda com vistas a subsidiar decisões no âmbito dos programas de

Microfinanças do Banco do Nordeste. Fornecemos inicialmente um marco teórico sobre

o comportamento das famílias e suas relações a partir de algumas das principais

contribuições encontradas na literatura internacional. Utilizamos depois um amplo

painel a partir de análises pontuais relativas bases de dados diversas como as do

programa uma amostra do programa Agroamigo onde conseguimos investigar o papel

de outras decisões financeiras dos clientes do microcrédito. Utilizamos dados da ECINF

para traçar um perfil do acesso aos diversos tipos de seguros e razões para sua não uso

entre os microempresários do setor urbano nordestino. Finalmente, posteriormente

ampliamos o foco para analisar a demanda por microseguros e Previdencia

Complementar, como modalidade de poupança de longo prazo. da população rural e

urbana nordestina vis a vis a de outras regiões do país.

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Teoria

As pessoas dispõe de diversos mecanismos de defesa contra choques adversos

incluindo a poupança (ou auto-seguro) e a aquisição de seguros no mercado privado e

seguro social, como programas públicos e redes de solidariedade na sociedade. No caso

do seguro social de natureza pública é interessante diferenciar os contributivos dos não

contributivos. Os primeiros guardam proximidade com aqueles oferecidos pelo setor

privado, pois envolvem um pagamento periódico que dá direito a um prêmio no caso da

ocorrência de um evento adverso. Uma diferença para o sistema privado de seguro

incluindo saúde, vida, automóvel etc é que via de regra não há equilíbrio atuarial nos

contratos implícitos individuais dos seguros públicos contributivos, ou mesmo a

provisão de incentivos para isso, como cláusulas vinculadas à performance do segurado

(experience rated insurance). Podemos exemplificar aqui, as cláusulas de seguro de

acidentes de trabalho e a licença maternidade do INSS. Nas demais formas não

contributivas de seguros públicos, para citar como exemplos principais como o Sistema

Único de Saúde (SUS), o Bolsa-Família, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e

mesmo o seguro-desemprego, não há previsão de troca de pagamento mesmo tênue pelo

benefício auferido.

Além dos seguros privados e dos públicos, contributivos ou não, há mecanismos

de solidariedade na sociedade que integrariam o seguro social atuando como

importantes redutores de risco das pessoas. Neste aspecto, a célula básica de partilha e

diversificação de riscos é a família, complementada por relações de amizade e de ajuda

por não familiares. Mal comparando, estas relações de solidariedade na sociedade

estariam para o seguro público não contributivo, assim como o seguro público

contributivo está para o seguro privado. Os vários tipos de seguro social estão

exemplificados no esquema abaixo:

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Motivos Familiares

Segundo a vasta literatura sobre comportamentos financeiros das famílias, a

demanda pelo binômio poupança/seguro seria induzida por alguns fatores principais

além da suavização do consumo ao longo do tempo. Alguns destes fatores geram no

campo da literatura da poupança (ou auto-seguro) motivos específicos, mas que no

campo do entendimento da demanda de seguro pode dar origem a apólices com

características específicas, a saber: a) motivos precaucionais, em uma situação de

incerteza de renda ou despesa com relação ao futuro aí temos seguro saúde, seguro-

desemprego, seguro prestamista. b) seguro relacionado bens indivisíveis e de alto valor

unitário como automóveis, imóveis e ativos produtivos ligados a negócios num contexto

de restrição de crédito; c) a própria previdência complementar atua como importante

proteção contra redução de renda do trabalho e choques de saúde na saúde financeira

dos idosos; d) herança, ou seja, caso em que se poupa para financiar o consumo do

cônjuge e descendentes frente o risco de morte justificaria a aquisição de apólice de

seguro de vida. Todos estes motivos são de alguma forma magnificados em indivíduos

de baixa renda. Sem falar que as baixas rendas no Brasil tendem a apresentar mais

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volatilidade da renda laboral (Neri et all 1999). No entanto, indivíduos de baixa renda

estão mais restritos no mercado de seguro, seja pela falta de conhecimento deles dos

serviços oferecidos pela seguradoras, pelo desconhecimento das seguradoras sobre

clientes informais pela dificuldade de observação e cadastro, sem falar nos baixos

valores envolvidos o que dificulta a diluição de custos fixos cadastrais oferta dos

mesmos. Todos estes elementos sustentam o caso para o desenvolvimento da indústria

nascente de microsseguros e com a poupança no país.

Demanda de Microfinanças de Clientes do Agroamigo

Bancarização

Um dos principais objetivos das microfinanças é incluir pessoas de baixa renda

no sistema financeiro de forma a alavancar oportunidades e amortecer choques. Em

geral, essas pessoas não conseguem acesso ao crédito por não possuírem colateral para

dar como garantia. O AgroAmigo, que visa atender pessoas de baixíssima renda,

alcançando os mais pobres, tem como grande parte dos seus clientes pessoas pouco

bancarizadas.: 90,56% não possuem uma conta corrente, isto é, acesso a um banco

comercial, a quase a totalidade não possui cartão de crédito. O líder é a poupança, com

quase 15% dos clientes. A falta de informação e de conhecimento é um dos grandes

problemas das pessoas mais pobres, sendo que muitas desconhecem estes mecanismos

que podem ser benéficos para elas. A educação financeira, como já foi apontado pelo

criador do Grameen Bank, é fundamental na difusão responsável do microcrédito.

Determinantes

O nosso primeiro caso de análise dos determinantes da demanda por instrumentos

financeiros é a base amostral nova de clientes do Agroamigo usada para a avaliar os

impactos do microcrédito na área rural nordestina. Esta base possui um amplo espectro

de informações sobre instrumentos financeiros indo desde conta corrente, poupança e

cartão de crédito. Função desta riqueza de informações usamos um procedimento

sequencial de escolha de variáveis (stepwise) mais relevantes no uso destes

instrumentos. O aspecto comum é que a espacialização captada por Unidade da

Federação se revela como a principal variável determinante nos três instrumentos

analisados. Cabe lembrar que estamos comparando com as mesmas características

observáveis captadas em cada modelo de regressão. Logo há tratamentos de pessoas

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iguais em lugares diferentes o que sugere a existência de bolsões de demanda reprimida

por instrumentos financeiros. Por outro lado há que se considerar elementos de oferta

como custos financeiros e dificuldades operacionais. De toda forma, esta informação

controlada abre espaço para o Banco do Nordeste procurar homogeneizar a oferta destes

instrumentos na área rural destes diferentes estados. Cabe notar que não há um padrão

espacial comum da demanda reprimida pelos diferentes instrumentos financeiros entre

estados nordestinos.

Apresentamos mais abaixo a lista ordenada das variáveis que entraram no modelo de

uso dos diferentes instrumentos financeiros e a seguir tabela que coloca lado a lado os

principais elementos comuns dos modelos estimados ao final do processo.

Modelo Sequencial de Seleção de Determinantes do Uso de Microfinanças

CONTA CORRENTE CARTÃO DE CRÉDITO POUPANÇAVariável Variável Variável

1 Unidade da Federação* 1 Unidade da Federação* 1 Unidade da Federação*

2POSSUI_BENEFICIO_INSS 2

TEC_EMPREGA_ROTACAO_CULTURAS 2 INFRA_ESTRADA

3 CARTAO_CREDITO 3 meses 3 meses

4 meses 4 CONTA_CORRENTE 4 ELETRO_GELADEIRA

5TEC_EMPREGA_MECANIZACAO

5PERIODICIDADE_PARCELAS

5 CARTAO_CREDITO

6Condicao Uso Posse Terra 6 Internet 6 PSF

7TEC_EMPREGA_MINERALIZACAO 7 INFRA_ESTRADA 7 Internet

8CONHECEU_PROG_ASSOC_COOPER 8

TEC_EMPREGA_VERMIFUGACAO 8

CONHECEU_PROG_ASSIST_TECNICA

9 ELETRO_GELADEIRA 9 SEXO 9 Condicao Uso Posse Terra

10 INFRA_ESTRADA 10 POUPANCA

11 PSF 11 Dedicacao Atividade

12NENHUMA_TECNOLOGIA 12 MIGRANTE_RETORNO

13 Internet 13 Acesso Assintencia Tecnica

14TEC_EMPREGA_IRRIGACAO

15 BOLSA_FAMILIA

16 Estado Civil

*Superintendencia

PassoPasso Passo

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Passo Pr > Chi Passo Pr > Chi Passo Pr > Chi

Superintendência AL 1 0.396 0.9002 1 36.387 <.0001 1 2.451 0.4693Superintendência BA 1 0.206 <.0001 1 8.173 0.0178 1 6.766 <.0001Superintendência CE 1 0.331 0.2614 1 2.677 0.2426 1 1.498 0.0049Superintendência MA 1 0.33 0.352 1 10.776 0.0073 1 1.143 <.0001Superintendência MG 1 0.611 <.0001 1 0.767 0.0066 1 2.669 0.0359Superintendência PB 1 0.244 0.0009 1 11.525 0.0005 1 1.279 <.0001Superintendência PE 1 0.277 0.0325 1 4.667 0.9841 1 2.67 0.0719Superintendência PI 1 0.243 0.0099 1 3.813 0.6012 1 5.243 <.0001Superintendência RN 1 0.8 <.0001 1 3.861 0.6236 1 1.794 0.1734Possui Benefício INSS Sim 2 1.765 <.0001 --- --- --- --- --- ---Carão de Crédito Sim 3 3.078 <.0001 --- --- --- 5 1.867 0.0022Conta Corrente Sim --- --- --- 4 2.48 <.0001 --- --- ---Internet Sim 12 1.997 0.0216 6 3.756 0.0025 7 2.141 0.0053Bolsa-Família sim 15 0.826 0.0304 10 1.884 0.0022 --- --- ---

Modelo Logístico - Bancarização (Conta Corrente) (Car tão de Crédito) (Poupança)

ParameterRazão de Chances

Razão de Chances

Razão de Chances

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da base amostral do Agroamigo

Indo além da variáveis espaciais supracitadas, a existência de internet impacta

positivamente a presença dos três instrumentos financeiros pela facilidade de diminuir

custos financeiros além de simbolizar uma maior acesso a recursos e a infraestrutura

pública (energia e serviços de provisão de tecnologia de informação e comunicação).

O terceiro elemento que chama a atenção é a existência de complementaridade e não

substitutabilidade entre os três instrumentos financeiros em questão pois os coeficientes

são positivos (ou as razões de chances são maiores que um). Ou seja, quem tem mais

um instrumento tende a ter mais os demais instrumentos.

Já o recebimento de programas sociais como Bolsa Família e benefícios do INSS possui

impactos diferenciados sobre o uso de conta corrente caindo entre os recebedores do

primeiro e aumentando para os do segundo o que pode refletir o menor nível de renda

dos beneficiários do Bolsa Família e um estágio mais avançado no ciclo de vida dos

aposentados e pensionistas do INSS. Quando olhamos modelos similares a este de

acesso a estes programas observamos que eles são substitutos entre si e que

características ligadas a idade como a existência de filhos que estudam no domicilio

tendem a aumentar a chance de ser beneficiário do Bolsa Família e a diminuir no caso

do INSS.

Os benefícios do INSS parecem atrair contas correntes para bancos mas não cartão de

crédito talvez pela nova possibilidade de aposentados e pensionistas contrair crédito

aberta pelo advento do consignado. Já os instrumentos de caderneta de Poupança e

Cartão de Crédito não são influenciados pela existência pelo recebimento de nenhuma

destas transferências.

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Microsseguros e Microempresários Urbanos Nordestinos

Segundo a literatura empírica, a pobreza, além de limitar o acesso ao mercado de

crédito, também limita o acesso ao mercado de seguro por várias razões relacionadas a

problemas de assimetria de informação. Primeiro, para que exista oferta de segura

contra algum risco futuro, é preciso que o incidente em relação ao qual está sendo

contratado o seguro seja verificável. Segundo, a probabilidade de ocorrência de vários

incidentes é influenciada pelas ações do segurado, chamado na literatura de “moral

hazard” ou “risco moral”. Para que os incidentes sejam verificáveis e a possibilidade de

moral hazard seja minimizada, é preciso incorrer em custos de monitoramento e

verificação de informações. Isto em geral implica que a concessão de seguro aos pobres

é pouco lucrativa ou mesmo inviável financeiramente, o que torna raros os mecanismos

de seguro formal para os pobres. Nesse âmbito, surge o mercado de microsseguros para

suprir a ausência da oferta de seguros formais para os pobres. Procuraremos analisar os

principais motivos para a falta do acesso ao seguro e a distribuição da taxa de acesso ao

mercado de seguros de acordo com características sócio-demográficas, espaciais e

características especiais do microempreendimento. O universo da ECINF, como foi

explicado acima, é formado pelos microempresários urbanos do país. Na nossa análise

de microsseguros, focaremos no universo dos microempresários urbanos que compõem

o grupo de clientes potenciais do programa CrediAmigo, isto é, os

microempreendedores nordestinos.

Motivos do Não Uso

A base de dados da ECINF nos permite analisar os motivos para não ter acesso

ao seguro, no caso, especificamente o acesso dos microempresários ao microsseguro.

Ao analisar os dados da pesquisa, percebemos que o principal motivo para a falta de

acesso ao seguro é o alto custo do mesmo, seguido pela falta de necessidade. No

universo dos potenciais clientes do CrediAmigo que não possuíam seguros, 48% deles

não possuíam pois achavam caro. Além do custo, a falta de necessidade ou de interesse

também é bastante significativa, com 28% dos microempresários nordestinos alegando

esse motivo para a falta de seguros.

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Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da ECINF/IBGE

Ao abrirmos a análise pelas Unidades da Federação do Nordeste, temos que

Pernambuco é o estado que mais sofre com o alto custo dos seguros (59%), seguido

pelo Piauí (54%) e Alagoas (53%). Ceará, por sua vez, é o estado líder no quesito falta

de necessidade e interesse, com 36% dos microempresários locais alegando esse o

principal motivo para a falta de posse do seguro. Cabe ressaltar que o Maranhão se

destaca pela falta de conhecimento da oferta desses produtos (23% dos

microempresários alegaram esse motivo contra 8% na média do Nordeste), fato que

pode estar ligado ao maior afastamento geográfico desse estado em relação aos outros

da região.

Acesso

A taxa média de acesso a seguros no universo dos microempresários urbanos

nordestinos é 12%, isto é, a população que dispõe ao menos de um tipo de seguro

privado apontado no questionário da pesquisa, quer seja seguro-saúde/dental, seguro de

vida, seguro de imóvel/instalação do negócio, previdência privada ou outros tipos de

seguro.

Abrindo por Unidade da Federação, as maiores taxas de acesso se encontram no

estado da Bahia (14,93%), seguido por Pernambuco (14,18%) e Ceará (13,02%).

Portanto, percebemos que esses estados, principalmente Bahia e Pernambuco, estão

acima da média da região. Em compensação, as menores taxas, que estão no Maranhão

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(6,61%), Piauí (9,39%) e Paraíba (9,91%), encontram-se bem abaixo da média do

Nordeste, mostrando uma forte desigualdade de acesso ao mercado de microsseguros

dentro da região.

Uma pergunta derivada abordada é qual a taxa de acesso para os diferentes tipos de

seguros utilizados apontada no gráfico abaixo:

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da ECINF/IBGE

O seguro-saúde/dental é o mais difundido, cobrindo 36,61% dos

microempresários urbanos nordestinos segurados, seguido do seguro de vida (28,44%),

outros seguros (15,57%) e previdência privada (13,47%).

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5. Diagnóstico dos Microempresários Urbanos e Rurais Nordestinos

O Caminho do Meio

“A participação de empresas maiores sobe 16,7% de 2003 a 2011 e a de

formalidade previdenciária 16%. Floresce aqui a formalidade.”

O termo fordista originou-se do mecânico processo de produção fabril que

revolucionou o trabalho em larga escala gerando ganhos de eficiência da produção

automobilística, levando o ford bigode a incipiente classe média americana, a custa do

trabalho indecente dos seus operários. O filme Tempos Modernos de Charles Chaplin de

1936 eternizou com propriedade a crítica ao estilo linha de montagem. O estilo fordista

simboliza a exploração do homem pelo homem, a feia fumaça apagando as estrelas etc.

Em oposição ao “growth is good” e ao “bigger is better” fordista, surgiu o “small

is beautiful”, título do livro do britânico E. F. Schumacher da época do primeiro choque

do petróleo. Schumacher economista regulador do setor carvoeiro antecipou boa parte

das preocupações ecológicas e qualidade de vida, hoje em voga. O livro pregava a

redução de escala dos negócios. Um manifesto de apoio aos pequenos.

A busca do belo é inerente a natureza humana, seja no sentido estético, seja no

ético. Mas como se diz beleza não se discute. A melhora da distribuição de renda

brasileira dos últimos 10 anos é bonita, é bonita e é bonita. O que não significa que o

homem branco de alta escolaridade do sul do Brasil que perdeu renda nos últimos anos

tenha que concordar comigo. Agora, não dá para não enxergar, mesmo que da janela, as

transformações brasileiras e nordestinas em particular da última década. Em particular,

dada a crescente desigualdade dos países desenvolvidos, sejam e na grande maioria dos

emergentes, como os demais BRICS.

Desconcentração de renda entre pessoas parece a principio associada à

desconcentração entre empresas. Oligopólio não rima com equidade. Um país cada vez

mais povoado de pequenas empresas parece condizente com a queda da desigualdade de

renda tupiniquim. O único problema desta visão é que ela não está totalmente correta.

No século XXI o Brasil se tornou mais igualitário, mas também mais formal. No que

tange a população total a proporção de trabalhadores por conta-próprias cai e a dos

empregadores sobe. Ou seja, cresce o emprendedorismo, mas não o nano-

emprendedorismo, leia-se o conta-proprismo.

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Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE

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Os dados acima apontam para a importancia da distinção das tendencias dos

conta-próprias de um lado e dos empregadores de outro. Pergunta direta aos

trabalhadores se eles buscam um novo trabalho comprova isso: 11,4% dos conta

próprias buscam um novo trabalho que são apenas piores que os empregados sem

carteira neste quesito contra 5,1% dos empregados com carteira e 4,1% dos funcionários

públicos. Agora a melhor nota é dada pelos empregadores 3,1% cuja parcela aumentou.

Estamos falando de respostas dadas pelos trabalhadores. Cada um sabe o que não quer.

Antes de entrar na clivagem da região Nordeste versus o resto do país, em

particular o Sudeste para captar a área de atuação do banco do Nordeste e a clivagem

rural e urbana para diferenciar as áreas de atuação dos seus respectivos programas d

ecrédito produtivo orientado o Agroamigo e o Crediamigo cabe realizar uma análise

ainda em ambito nacional dos determinantes do nível de empreendedorismo nacional.

Se é devido a aumento da população em idade ativa (PIA) fruto do chamado bonus

demográfico, se é a maior taxa de atividade ou de ocupação na PIA ou ainda da taxa de

empreendedorismo na população ocupada. Depois os resultados podem fornecer o pano

de fundo ao empreendedorismo regional aberto por tipo de área.

Causas do Empreendedorismo

O grande destaque do mercado de trabalho brasileiro recente não é a taxa de

ocupação na população em idade ativa (PIA), que estava no mesmo 67,2% no auge do

Real em 1995 como em 2009 (em 2001, no mínimo era 63,9%). Neste ínterim a PIA

subiu, é verdade. Agora um destaque é a taxa de formalidade entre os ocupados que era

25,4% em 1995 chega a 30,1% em 2009 (passando pelo piso de 23,4% em 2001).

Formal significa contribuição previdenciária mais custos para as empresas, mais receitas

para o Estado e mais garantias ao trabalhador. A participação de empresas maiores

aquelas com 11 ou mais empregados, a faixa mais alta da PNAD, sobe de 22,83% em

1995 para 28,7% em 2009. Floresce aqui a formalidade e as empresas maiores da

PNAD.

Se olharmos para o segmento identificado como de pequenos empresários, a

participação deles na população ocupada cai de 18,3% em 1995 para 16,3% em 2009, o

ano mais baixo da série histórica da nova PNAD. Abrindo o segmento que domina

quantitativamente o universo de microempresários, os conta própria caem de 15,5% em

1995 para 13,3% em 2009, o nível mais baixo da série. Ou seja, os nossos negócios

nanicos nunca foram tão poucos.

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Se atualizarmos o quadro da última PNAD de 2009, ano da crise especialmente

adversa ao fordismo formal, para o final de 2011 pela PME que cobre apenas as 6

maiores metrópoles brasileiras. O que pode ser uma aproximação ainda que falah para a

área urbana brasileira, mas não para a rural. Vemos mais do mesmo: queda da

desigualdade de renda, neste caso do trabalho, e aumento de ocupação. O fordismo

formal também cresce. Até novembro de 2011, a taxa de formalidade previdenciária

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aumenta 6,4% desde 2009 (aumentou 16% desde 2003). A participação de empresas

acima de 10 empregados sobe 6% desde 2009 (aumentou 16,7% desde 2003). Há

continuidade da queda de participação do ramo dos negócios de conta-próprias e

empregadores de 6,6 % desde 2009 (queda de 16,3% desde 2003). Ou seja, no período

recente o fordismo formal não só aumenta como o faz a taxas mais aceleradas.

Empreendedorismo entre os Ocupados

É fundamental se estabelecer a importancia do emprendedorismo nas suas

dimensões conta-própria e empregadora entre os ocupados. Apresentamos a seguir

evidencia desta evolução no nivel nacional e nordestino, abertos nas dimensões urbana e

rural. Os dados demonstram queda generalizada da taxa de empreendedorismo em geral

pelo menos desde meados da década de 1990 com queda dos grupos predominante neste

segmento de conta-próprias e aumento da particupação dos empregadores. A única

exceção é uma relativa estabilidade desta última no nordeste rural.

Apresentamos mais a seguir séries da participação da população em idade ativa

(PIA) na população total, da taxa de ocupação na PIA e da taxa de formalização entre os

ocupados.

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Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE

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Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE

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Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE

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.

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE

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Analisamos as séries mostradas acima relativas a participação da população em

idade ativa (PIA) na população total, da taxa de ocupação na PIA e da taxa de

formalização entre os ocupados. Todos os gráficos demonstram um paralelismo com as

tendencias da evolução nacional, a saber:

i) Aumento da taxa da população em idade ativa que sai de 63/64% para 70%

entre 1992 e 2009. Esta transição apelidada de bônus demográfico gera impacto positivo

sobre a oferta de trabalho local. Embora influenciado por outras variáveis demográficas

como expectativa de vida e migrações. O bônus demográfico é derivado

fundamentalmente da queda da natalidade nas últimas quatro décadas. No Brasil o

número de filhos por mulher cai de 5,8 em 1970 para 1,9 em 2010. Em 2010, no

Nordeste chegamos a dois filhos por mulher. Outro aspecto fundamental que irá

continuar a impactar a oferta de trabalho no futuro é a marcada queda de mortalidade

infantil em particular àquela observada entre 2000 e 2010: 46% no Brasil e 58% no

Nordeste.

ii) A taxa de ocupação na população em idade ativa (PIA) é onde notamos

diferenças qualitativas do Nordeste rural em relação ao nordeste urbano e ao contexto

nacional. Caindo na primeira e subindo nas demais.

iii) A taxa de formalização mostra marcada mudança de patamar na taxa de

formalização entr os ocupados de todos os universos contemplados, em particular no

nordeste rural. Este dado sugere que mesmo tndo caido a quantidade relativa de

ocupação no campo nordestino, ele vem acompanhado de aumento da qualidae da

ocupação e possivelmente microempresarial que será analisada a seguir.

Lucro Microempresarial – Após o zoom realizado das tendências demográficas,

trabalhistas e microempresariais nacionais para aquelas observadas no nordeste urbano e

rural vistos separadamente, tratamos de comparar o desempenho microempresarial ao

longo dos anos, entre Nordeste e Sudeste nas suas dimensões rurais e urbanas em

separado. Focaremos o período de 2003 em diante por ser mais útil a contextualização e

análise dos programas Agroamigo e Crediamigo.

No que tange a evolução de lucro dos microempresários em geral, isto é

combinando conta-próprias e empregadores, nas principais macroregiões brasileiras

apresentam as seguintes tendências.

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Rural

No aspecto rural, partindo de um nível de quase metade em 2003, a taxa de

crescimento do lucro dos microempresários rurais nordestinos foi um pouco maior que

no sudeste urbano 25,8% contra 24,3%, respectivamente.

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE

Região Var 03-09 Nordeste rural 25,76% Sudeste rural 24,31%

Realizamos a seguir modelo controlado de equação de lucro (Neri 2008) para

isolar os efeitos temporais, regionais e o termo interativo no sentido de isolar os efeitos

de diferená em diferença conforme as notas explicativas abaixo:

Equação Minceriana A equação minceriana de salários serve de base a uma vasta literatura empírica de economia do

trabalho. O modelo salarial de Jacob Mincer (1974) é o arcabouço utilizado para estimar retornos da educação, entre outras variáveis determinantes da renda do trabalho. Mincer concebeu uma equação para rendimentos que seria dependente de fatores explicativos associados à escolaridade e à experiência, além de possivelmente outros atributos, como sexo, por exemplo.

Essa equação é a base da economia do trabalho em particular no que tange aos efeitos da educação. Sua estimação já motivou centenas de estudos, que tentam incorporar diferentes custos educacionais, como impostos, mensalidades, custos de oportunidades, material didático, assim como a incerteza e a expectativa dos agentes presentes nas decisões, o progresso tecnológico, não linearidades na escolaridade etc. Identificando os custos da educação e os rendimentos do trabalho, viabilizou o cálculo da taxa interna de retorno da educação, que é a taxa de desconto que equaliza o custo e o ganho esperado de se investir em educação –- a taxa de retorno da educação, que deve ser comparada com a taxa de juros de mercado para determinar a quantidade ótima de investimento em capital humano. A equação de Mincer também é usada para analisar a relação entre crescimento e nível de escolaridade de uma sociedade, além dos determinantes da desigualdade.

O modelo econométrico de regressão típico decorrente da equação minceriana é:

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ln w = β0 + β1 educ + β2 exp + β3 exp² + γ′ x + є onde

w é o rendimento do trabalho recebido pelo indivíduo; educ é a sua escolaridade, geralmente medida por anos de estudo; exp é sua experiência, geralmente aproximada pelo idade do indivíduo; x é um vetor de características observáveis do indivíduo, como raça, gênero, região; e є é um erro estocástico.

Este é um modelo de regressão no formato log-nível, isto é, a variável dependente – o salário – está em formato logaritmo e a variável independente mais relevante - a escolaridade – está em nível. Portanto, o coeficiente β1 mede quanto um ano a mais de escolaridade causa de variação proporcional no salário do indivíduo. Por exemplo, se β1 é estimado em 0,18, isso quer dizer que cada ano a mais de estudo está relacionado, em média, com um aumento de rendimento de 18%. Matematicamente, tem-se que: Derivando, encontramos que ( ∂ ln w / ∂ educ ) = β1 Por outro lado, pela regra da cadeia, tem-se que:

(∂ ln w / ∂ educ) = (∂ w / ∂ educ) (1 / w) = (∂ w / ∂ educ) / w) Logo, β1 = (∂ w / ∂ educ) / w, correspondendo, portanto, à variação percentual do salário decorrente de cada acréscimo unitário de ano de estudo.

Estimador de diferença em diferença Exemplo de metodologia aplicada a dois períodos distintos

Em economia, muitas pesquisas são feitas analisando os chamados experimentos. Para analisar um experimento natural sempre é preciso ter um grupo de controle, isto é, um grupo que não foi afetado pela mudança, e um grupo de tratamento, que foi afetado pelo evento, ambos com características semelhantes. Para estudar as diferenças entre os dois grupos são necessários dados de antes e de depois do evento para os dois grupos. Assim, a amostra está dividida em quatro grupos: o grupo de controle de antes da mudança, o grupo de controle de depois da mudança, o grupo de tratamento de antes da mudança e o grupo de tratamento de depois da mudança.

A diferença entre a diferença verificada entre os dois períodos, entre cada um dos grupos é a diferença em diferença, representada com a seguinte equação:

g3 = (y2,b – y2,a) – (y1,b – y1,a) Onde cada Y representa a média da variável estudada para cada ano e grupo, com o número

subscrito representando o período da amostra (1 para antes da mudança e 2 para depois da mudança) e a letra representando o grupo ao qual o dado pertence (A para o grupo de controle e B para o grupo de tratamento). E g3 é a estimativa a partir da diferença em diferença. Uma vez obtido o g3, determina-se o impacto do experimento natural sobre a variável que se quer explicar.

Realizamos um exercício de diferenças em diferenças sobre a equação de lucro

conforme as notas anteriores de forma a isolar de mudanças sócio-demográficas e

educacionais o impacto das variáveis tempo, macroregião e o termo interativo delas (o

estimador de diferença em diferença). A variável dummy temporal demonstra que

houve crescimento de 22.3% entre 2003 e 2009 no lucro das atividades

microempresariais exercidas nas áreas rurais das duas principais microregiões

brasileiras. A dummy regional nos informa que nos dois anos tomados conjuntamente o

lucro microempresarial no campo no nordeste foi 23,2% menor que no sudeste. Por

último, e mais importante para nossos objetivos, observamos queda relativa de 13,1%

do lucro nas atividades do nordeste rural neste interim. Esta queda não é suficiente para

reverter o gango absoluto dado pelo primeiro estimador analisado.

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Equação de Lucro – Microempresários Rural

Parameter Estimate t Value Pr > |t|

anoo a2009 0.223 5.87 <.0001

RE Nordeste -0.232 -6.47 <.0001

anoo*RE a2009 Nordeste -0.131 -3.05 0.0023 Urbano

No aspecto rural, partindo de mais de 50% menor em 2003, a taxa de crescimento do lucro dos

microempresários rurais nordestinos foi quatro vezes maior que no sudeste urbano 24,7% contra 6,4%,

respectivamente.

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE

Região Var 03-09

Nordeste urbano 24,67%

Sudeste urbano 6,37%

A semelhança do que fizemos na área rural realizamos também para a área

urbana um exercício de diferenças em diferenças sobre a equação de lucro par a isolar

de mudanças sócio-demográficas e educacionais o impacto das variáveis tempo,

macroregião e o estimador de diferença em diferença entre elas. A variável dummy

temporal demonstra que houve crescimento de 14,6% entre 2003 e 2009 no lucro das

atividades microempresariais exercidas nas áreas rurais das duas principais

microregiões brasileiras. A dummy regional nos informa que nos dois anos tomados

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conjuntamente o lucro microempresarial no campo no nordeste foi 41% menor que no

sudeste. Por último, e mais importante para nossos objetivos, observamos aumento

relativo de 3,6% do lucro nas atividades do nordeste urbano durante este período.

Metropolitano e Urbano

Parameter Estimate t Value Pr > |t|

anoo a2009 0.146 13.77 <.0001

RE Nordeste -0.410 -34.42 <.0001

anoo*RE a2009 Nordeste 0.036 2.36 0.0183

Lucro por Gênero

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE

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Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE

Categoria Região Var 03-09

Homem

Nordeste urbano (conta própria ou empregador)

24,57%

Nordeste rural (conta própria ou empregador)

24,28%

Mulher

Nordeste urbano (conta própria ou empregador)

28,55%

Nordeste rural (conta própria ou empregador)

41,68%

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6. Mapa dos Microempresários

Apresentamos no site da pesquisa uma série de estatísticas regionais. Separados

em rankings estaduais e municipais, é possível analisar informações sobre participação

na PIA, lucro, jornada, cobertura previdenciária, além do tipo de atividade que exerce.

Apresentamos a seguir a fim de ilustrar os municípios nordestinos que se destacam em

cada uma dessas estatísticas. Os dados municipais revelam que Conceição do Lago-

Açu, no Maranhão, é o lugar que apresenta maior % microempresários na PIA

(38,17%). Em seguida, temos Salinas da Margarida/BA (37,86%) e Maria Bonita/SE

(36,55%). Em seguida, analisando sob a ótica de lucro médio, o município de Alto do

Parnaiba/MA é o lugar onde os microempresários ganham mais (R$ 2927.07), sendo R$

500 acima da média apresentada por Campo Alegre do Fidalgo/PI, que é o segundo

colocado. Nos demais rankings, os lideres são Maraajá do Sena

% Microempresários na PIA.

1 Conceição do Lago-Açu MA 38.17%

2 Salinas da Margarida BA 37.86%

3 Moita Bonita SE 36.55%

4 Jaguaripe BA 35.76%

5 Apicum-Açu MA 35.44%

6 Brejo Grande SE 33.66%

7 Monsenhor Hipólito PI 32.07%

8 Cipó BA 31.73%

9 São Miguel das Matas BA 31.61%

10 Santa Cruz do Capibaribe PE 31.17%

11 Santo Antônio de Lisboa PI 30.97%

12 Malhador SE 30.59%

13 Aratuípe BA 30.27%

14 Poção PE 30.19%

15 Porto Rico do Maranhão MA 30.17%

16 Lago do Junco MA 29.73%

17 Orocó PE 29.62%

18 Cururupu MA 29.24%

19 São Sebastião do Umbuzeiro PB 29.21%

20 Taperoá BA 28.82% Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do Censo 2010/IBGE

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Lucro Médio (R$)

1 Alto Parnaíba MA 2927.07

2 Campo Alegre do Fidalgo PI 2423.76

3 Luís Eduardo Magalhães BA 2052.47

4 Fernando de Noronha PE 2033.54

5 Lauro de Freitas BA 1823.09

6 Eusébio CE 1814.65

7 Jaguarari BA 1743.69

8 Cabedelo PB 1703.19

9 Barreiras BA 1654.4

10 Recife PE 1608.43

11 Balsas MA 1603.17

12 Aguiar PB 1542.58

13 Mucuri BA 1531.21

14 João Pessoa PB 1507.56

15 Salvador BA 1504.58

16 Parnamirim RN 1502.94

17 Petrolina PE 1501.6

18 Aracaju SE 1467.45

19 Santa Teresinha PB 1465.24

20 Bom Jesus PI 1448.02

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do Censo 2010/IBGE

A seguir, zoom no lucro microempresarial desde o Brasil, passando pelo

Nordeste, Bahia e Salvador.

Zoom no campo.

A fim de estabelecer também uma visão detalhada do negócio microempresarial

no campo, apresentamos a seguir algumas estatísticas. As três primeiras tabelas

representam estatísticas mais gerais acerca dos microempreendedores do campo. Vamos

aos resultados: O Rio Grande do Norte é o estado com o maior lucro médio (R$ 427

contra R$ 275 do Piauí, o menor); maior jornada (38,48 horas semanais contra 34,11 de

Piauí, novamente o menor); e maior cobertura Previdenciária (13,04% contra 5,43% de

Pernambuco).

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Lucro dos Microempresários R$

L u c r o1 5 0 - 5 5 55 5 5 - 9 6 09 6 0 - 1 3 6 51 3 6 5 - 1 7 7 01 7 7 0 - 2 1 7 52 1 7 5 - 3 3 1 53 3 1 5 - 4 4 5 54 4 5 5 - 5 5 9 5

L u c r o1 5 0 - 5 5 55 5 5 - 9 6 09 6 0 - 1 3 6 51 3 6 5 - 1 7 7 01 7 7 0 - 2 1 7 52 1 7 5 - 3 3 1 53 3 1 5 - 4 4 5 54 4 5 5 - 5 5 9 5

L u c r o1 5 0 - 5 5 55 5 5 - 9 6 09 6 0 - 1 3 6 51 3 6 5 - 1 7 7 01 7 7 0 - 2 1 7 52 1 7 5 - 3 3 1 53 3 1 5 - 4 4 5 54 4 5 5 - 5 5 9 5

L u c r o1 5 0 - 5 5 55 5 5 - 9 6 09 6 0 - 1 3 6 51 3 6 5 - 1 7 7 01 7 7 0 - 2 1 7 52 1 7 5 - 3 3 1 53 3 1 5 - 4 4 5 54 4 5 5 - 5 5 9 5

Brasil Nordeste

Bahia

Salvador

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Salário dos Microempresários

Salário R$

Brasil 684.51 Região nordeste 339.42 Ranking do Nordeste

1 Rio Grande do Norte 426.62 2 Alagoas 386.09 3 Bahia 352.62 4 Pernambuco 352.45 5 Maranhão 344.32 6 Paraíba 326.25 7 Sergipe 320.64 8 Ceará 294.01 9 Piauí 274.77

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do Censo 2010/IBGE

Lucro dos Microempresários no Brasil Rural

L u c r o

(

R u r a l

)2 7 0 - 4 8 04 8 0 - 6 9 06 9 0 - 9 0 09 0 0 - 1 1 1 01 1 1 0 - 1 3 2 0

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do Censo 2010/IBGE

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Cobertura Previdenciária dos Microempresários

Cobertura

Previdenciária %

Brasil 19.88

Região nordeste 8.41 Ranking do Nordeste 1 Rio Grande do Norte 13.04 2 Maranhão 10.42 3 Paraíba 9.89 4 Piauí 9.19 5 Ceará 8.57 6 Bahia 7.79 7 Sergipe 7.43 8 Alagoas 6.11 9 Pernambuco 5.43

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do Censo 2010/IBGE

Porcentagem de Previdência entre Microempresários no Brasil Rural

% P r e v i d ê n c i a

(

R u r a l

)0 - 88 - 1 61 6 - 2 42 4 - 3 23 2 - 4 1

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do Censo 2010/IBGE

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Jornada dos Microempresários

Jornada Semanal

Brasil 39.91

Região nordeste 34.83

Ranking do Nordeste

1 Piauí 34.11 2 Bahia 34.22 3 Maranhão 34.38 4 Sergipe 34.68 5 Alagoas 34.95 6 Ceará 35.05 7 Paraíba 35.52 8 Pernambuco 35.64 9 Rio Grande do Norte 38.48

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do Censo 2010/IBGE

Atividade no Campo

Em seguida, optamos por apresentar uma análise setorial das atividades

desenvolvidas pelos microempresários no campo. Com 77,20% dos microempresários

totais, o agronegócio é a atividade mais desenvolvida por eles, com taxa 10 vezes maior

que o comércio geral (segundo colocado com 7,32%).

Ranking Nordeste

1 agronegócio 75.55%

2 comercio – comércio geral (exceto veiculos) 7.32%

3 construção civil 3.79%

4 outras 2.30%

5 transportes 2.12%

6 indústria têxtil 1.70%

7 serviços - alojamento e alimentação 1.33%

8 indústrias em geral 1.28%

9 alimentos e bebidas 1.22%

10 comercio - comércio e reparação de veículos 0.79% Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do Censo 2010/IBGE

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Complementamos esta análise informando que Pernambuco (80,34%) é o estado

Nordestino com maior participação do agronegócio entre os microempresários. No

extremo oposto, está o Rio Grande do Norte (60,75%).

% Agronegócio entre os Microempresários %

Microempresários no Agronegócio

Brasil 77.20%

Região nordeste 71.21%

Ranking do Nordeste

1 Pernambuco 80.34%

2 Piauí 76.72%

3 Bahia 76.65%

4 Alagoas 75.71%

5 Maranhão 75.56%

6 Sergipe 74.59%

7 Paraíba 73.43%

8 Ceará 73.25%

9 Rio Grande do Norte

60.75%

Porcentagem de Agronegócio entre Microempresários no Brasil Rural

% A g r o n e g ó c i o e n t r e M i c r o e m p4 0 - 5 05 0 - 6 06 0 - 7 07 0 - 8 08 0 - 9 0

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do Censo 2010/IBGE

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7 . Conclusões (Prescrições)

É preciso ir além e “dar o mercado aos pobres”, completando o movimento dos

últimos anos quando, pelas vias da queda da desigualdade em geral e do nordestino em

particular, "demos os pobres aos mercados (consumidores)". A agenda de mercado aos

pobres é vantajosa, pois não encerra custos fiscais, gerando melhoras de Pareto, onde

ninguém perde e os pobres ganham upgrades diferenciados, pois estavam mais distantes

do mercado. Quando os mercados estão muito incompletos é possível sair do velho

dilema entre eficiência e equidade e ganhar através da união harmoniosa destes vetores.

O crédito consignado a benefícios de programas sociais vai nesta linha, alavancando os

ganhos de bem estar daqueles contemplados por razões de equidade.

Devemos ir além tratar o pobre como protagonista de sua História e não como um

passivo receptor de transferências de dinheiro oficiais e de crédito consignados a

benefícios. Há que se turbinar mais o protagonismo das pessoas. O programa territórios

da cidadania propõe a fazer isto desde uma perspectiva pública. Há que se explorar as

vertentes rurais e urbana de interação de ativismo público e privado.

O crédito produtivo popular é fundamental para dar vazão aos espíritos

empreendedores da baixa renda, e temos o exemplo do Agroamigo e Crediamigo,

avaliado de um banco público federal em área pobre, o Banco do Nordeste. Há uma

lição específica do rendimento do trabalho aumentando com a produtividade (salário-

eficiência), no caso dos agentes de crédito que podem até triplicar o salário, dependendo

da performance da carteira. Há riqueza no meio da pobreza, e o Estado pode interagir

sinergicamente com o setor privado nesta busca. Uma agenda que está começando a

crescer no Brasil a partir do Nordeste é aquela ligada aos trabalhadores por pequenos

produtores rurais, e consiste em dar acesso aos pobres, enquanto produtores, aos

mercados consumidores e financeiros.

No âmbito urbano a medida o impacto das UPPs produz potencial interessante do

ponto de vista de melhorar o funcionamento dos mercados de baixa renda. O

Crediamigo pode ser instrumental neste processo pela sua atuação nas favelas cariocas a

começar pelo efeito da pacificação da Rocinha a partir de novembro de 2011. Dada

onda de violência que afeta as cidades nordestinas como explorar o mercado de

microcrédito a partir da aplicação de políticas de segurança alternativas Este tipo de

laboratório de avaliação de seus impactos é interessante para se aprender como o

modelo de UPPs pode impactar áreas nordestinas, uma vez que o modelo está sendo

aplicado em Salvador. O choque de segurança cria terreno fértil para o desenvolvimento

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dos mercados na base da pirâmide. As UPPs cariocas são um exemplo vivo de como “o

choque de ordem” pode levar a um “choque de progresso”. Será útil aprender com esta

lição quando os dados estiverem disponíveis.

Devemos tratar o pobre como protagonista de sua História e não como um passivo

receptor de transferências de dinheiro oficiais e de crédito consignados a benefícios. Há

que se turbinar mais o protagonismo das pessoas. O associativismo rural se mostrou

capaz de turbinar o avanço dos lucros dos clientes do Agroamigo. O programa

territórios da cidadania propõe a fazer isto em escala maior desde uma perspectiva de

política pública. Há que se explorar as vertentes rurais e urbanas de interação de

ativismo público e privado.

Há que se turbinar as turbinar a sinergia entre estes programas de microcrédito

plataformas de acesso aos pobres como o CadÚnico, o Bolsa Família de programas

complementares desenvolvidos a nível municipal e agora estadual. Um conceito

operacionalmente útil para a seleção de beneficiários do Bolsa Familia é o uso do

conceito de renda estimada gerado a partir da riqueza de informações do Cadastro

Social Único como o acesso a outras transferências de renda e serviços públicos,

configuração física da moradia, educação e trabalho de todos os familiares5. Em

particular a educação das crianças que é um dos principais objetivos dos programas de

transferencia de renda condicionada além de ser o melhor preditor da renda de longo

prazo da família em particular se acoplada de informações de qualidade de educação

tais como medida por instrumentos como o Prova Brasil.

O uso de informações mais atualizadas dos Censo Demográfico, do Censo

Agropecuários e do Cadúnico para tomada de decisões locais é uma contribuição do

sítio do presente projeto.

Mais relevante que a rede mundial de computadores uma plataforma tecnológica

útil para a difusão do microcrédito são os aparelhos de celular pela difusão de

tecnologias de meios de pagamento em escala global e mudanças dos marcos

regulatórios nacional, sua maior simplicidade de uso e capilaridade na população alvo.

conforme demonstra os mapas na mesma escala da taxa de cobertura destes elementos

das Tecnologias de Informação e de Comunicação (TICs) entre microempresários no

âmbito das cidades nordestinas.

5 Esta tecnologia foi desenvolvida pelo CPS/FGV no âmbito de programas complementares para o Estado e o município do Rio de Janeiro onde o programa já atua, vide www.fgv.br/cps/fci atingindo que gera beneficios diferenciados por família para 1,7 milhões de pessoas.

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Conta Próprias Mapa Municipal de Acesso a Internet - Mapa Municipal de Acesso a Celular

C o m p u t a d o r c o m I n t e r n e t C o n t a P r ó p r i a0 - 1 2 . 51 2 . 5 - 2 52 5 - 3 7 . 53 7 . 5 - 5 05 0 - 6 2 . 56 2 . 5 - 7 57 5 - 8 7 . 58 7 . 5 - 1 0 0

T e m C e l u l a r C o n t a P r ó p r i a0 - 1 2 . 51 2 . 5 - 2 52 5 - 3 7 . 53 7 . 5 - 5 05 0 - 6 2 . 56 2 . 5 - 7 57 5 - 8 7 . 58 7 . 5 - 1 0 0

Fonte: CPS/FGV a partir dos dados do Censo 2010/IBGE

Outra contribuição é a difusão do conhecimento sobre o potencial dos programas

do Banco do Nordeste em escala internacional como já aconteceu em escala nacional. O

projeto propõe fazer isto através da preparação de monografia para posterior publicação

de livro em inglês que compara o Crediamigo e o Agroamigo com a de 14 experiências

rurais e urbanas de microcrédito avaliada pelo CPS/FGV em quatro países da América

Latina (vide sítio do projeto).

Uma outra forma de reforçar esta ligação externa é acoplar o acesso as

microfinanças no âmbito da meta 8 da agenda das Novas Metas do Milenio da ONU6.

Em época de crise de credibilidade do microcrédito em escala global função da crise

indiana no setor, o Agroamigo e o Crediamigos são o melhor exemplo do desafio de

combinar as virtudes do Estado com as virtudes dos mercados, sem se esquecer de

evitar as falhas de cada um dos lados.

6 O CPS/FGV organiza no dia 4 de setembro de 2012 seminario internacional sobre as novas Metas do Milenio da ONU (POST-2015 MDGs) no Rio de Janeiro.

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