neto braga, poeta e amante da cultura popular nordestina

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1261 Junho/2013 Afonso Bezerra Neto Braga, poeta e amante da cultura popular nordestina Leonidas Ferreira Braga Neto, amante a poesia e da cultura popular. Leonidas Ferreira Braga Neto, conhecido como Neto Braga, 46 anos, natural de Afonso Bezerra, agricultor, cordelista, poeta, licenciado em história pela Universidade Estado do Rio Grande do Norte - UERN, conta que desde adolescente despertou o gosto pela poesia. O primeiro poema que escreveu foi para uma jovem com que estudava no colegial. Apaixonado pela cultura popular nordestina, Neto Braga fundou a casa de cultura popular na fazenda Santa Clara local, de sua propriedade no município de Afonso Bezerra, que hoje se encontra desativada por falta de apoio. Retira dos costumes e tradições da sua região sua poesia e seus versos ele também tomou a iniciativa de escrever alguns cordéis e crítica social como o intitulado ‘Os costumes liberais no Brasil de hoje em dia’ ou o que escreveu em homenagem ao Nordeste de título ‘Viagem pelo nordeste’. Já tem publicado mais de 10 títulos de cordéis e recebeu uma monção de aplausos e congratulações da câmara municipal de Afonso Bezerra em homenagem a premiação recebida na faculdade de Washington nos EUA, onde o seu cordel ficou entre os 30 melhores do Brasil, como também pelo trabalho à frente da cultura deste município, Neto Braga também é estudioso assíduo e apaixonado pelo cangaço no sertão, chegando a ser convidado a ministrar palestras e conversas para expor seus conhecimentos sobre a história do cangaço, Sempre vestido a caráter, ele se apresenta em eventos e escolas municipais e até em outros municípios vizinhos. Na casa de cultura popular, expõe Busca no semiárido inspiração para compor poemas e cordéis como, por exemplo, o “Boi de Osso”, que lembra dos brinquedos criados na sua infância. Sua relação com o semiárido é de admiração, por ser uma região de pessoas corajosas e lutadoras, que conseguem criar soluções criativas para conviver com o clima. A própria natureza do lugar tem uma força regenerativa incrível. Com as primeiras gotas de chuva, as plantas ficam verdinhas, após meses de estiagem.

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Page 1: Neto Braga, poeta e amante da cultura popular nordestina

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1261

Junho/2013

Afonso Bezerra

Neto Braga, poeta e amante da cultura popular nordestina

Leonidas Ferreira Braga Neto, amante a poesia e da cultura popular.

Leonidas Ferreira Braga Neto, conhecido como Neto Braga, 46 anos, natural de Afonso Bezerra, agricultor, cordelista, poeta, licenciado em história pela Universidade Estado do Rio Grande do Norte - UERN, conta que desde adolescente despertou o gosto pela poesia. O primeiro poema que escreveu foi para uma jovem com que estudava no colegial. Apaixonado pela cultura popular nordestina, Neto Braga fundou a casa de cultura popular na fazenda Santa Clara local, de sua propriedade no município de Afonso Bezerra, que hoje se encontra desativada por falta de apoio.

Retira dos costumes e tradições da sua região sua poesia e seus versos ele também tomou a iniciativa de escrever alguns cordéis e crítica social como o intitulado ‘Os costumes liberais no Brasil de hoje em dia’ ou o que escreveu em homenagem ao Nordeste de título ‘Viagem pelo nordeste’. Já

t e m publicado mais de 10 títulos de cordéis e recebeu uma monção de aplausos e congratulações da câmara municipal de Afonso Bezerra em homenagem a premiação recebida na faculdade de Washington nos EUA, onde o seu cordel ficou entre os 30 melhores do Brasil, como também pelo trabalho à frente da cultura deste município, Neto Braga também é estudioso assíduo e apaixonado pelo cangaço no sertão, chegando a ser convidado a ministrar palestras e conversas para expor seus conhecimentos sobre a história do cangaço, Sempre vestido a caráter, ele se apresenta em eventos e escolas municipais e até em outros municípios vizinhos. Na casa de cultura popular, expõe

Busca no semiárido inspiração para compor poemas e cordéis como, por exemplo, o “Boi de Osso”, que lembra dos brinquedos criados na sua infância. Sua relação com o semiárido é de admiração, por ser uma região de pessoas corajosas e lutadoras, que conseguem criar soluções criativas para conviver com o clima. A própria natureza do lugar tem uma força regenerativa incrível. Com as primeiras gotas de chuva, as plantas ficam verdinhas, após meses de estiagem.

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Rio Grande do Norte

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Realização Patrocínio

objetos que fizeram parte da cultura e dos costumes populares a um acervo de fotos, quadros e documentários que guarda dos locais a que foi convidado a expor seu talento.

Neto Braga também mostra seu talento como repentista, Chegou anos atrás a formar um dupla com outro repentista de uma cidade vizinha. Apresentavam- se em rádios e programas da região. Dois cantores melodiosos e talentosos, eles cantavam a boa música, recitavam a boa poesia e falavam a linguagem simples. Neto Braga defende com unhas e dentes a cultura da região central de Afonso Bezerra e guardião das artes e da cultura popular. Tem hoje em sua filha de 8 anos, Tarcila Braga, o orgulho e a esperança do poema e da cultura pois, ela está puxando as correntes poéticas do pai, escreve e recita em eventos escolares e comunitários.

Sua filha Tarcila Braga, sua casa que transformou na casa de cultura e alguns dos objetos da casa de cultura popular.

1

Quando eu era moleque

boi de osso era diversão

lá em casa no oitão

eu fazia meu curral

com gravetinho de pau

com paciências e ousadia

o cercado eu fazia

de dois pegava a boiada

resto de uma velha ossada

que lá no munturo jazia

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Limpava osso por osso

pra depois batizar

cada ossinho ia ganhar

um apelido comum

não esqueço boi anum

que de preto eu tisnava

na velha panela de fava

que curtia no fogão

recordo o boi canção

pois era o que eu mais mimava

3

Hoje é tudo diferente

menino não brinca mais

brincar com osso jamais

tem que ter televisão

um bom parque de diversão

vivei gama, gibi

um mundo assim nunca vi

um mundo assim desconheço

quero um mundo que mereço

e um passado que vivi

4

Carrinho movido a pilha

brinquedo mecanizado

um robozinho importado

com mil travessuras fazendo

eu pouco compreendendo

tanta tecnologia

com a minha melancolia

já de volta ao passado

chego lá no meu cercado

trago os bois que eu fazia

5

Depois pegue a meninada

mostre que automação

é apenas invenção

do homem que se destrói

pois o sistema corroí

nos levando aos destroços

destruindo dias nossos

mas peco que a modernidade

não venha a roubar a saudade

que eu sinto dos bois de ossos.

CORDEL: BOI DE OSSO (Neto Braga).