sumÁrio: representaÇÃo. sesc/ro. contrataÇÃo de … · junto à cnc, membro do conselho...

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1 GRUPO I – CLASSE VI – Segunda Câmara TC 013.171/2012-7 [Apenso: TC 013.651/2012-9] Natureza: Representação. Órgão/Entidade: Administração Regional do Serviço Social do Comércio no Estado de Rondônia (SESC/RO). Responsáveis: Carmelita Almeida Barbosa (271.196.701-82); Lima & Paiva Ltda. - Me (02.971.735/0001-98); Maria do Socorro Pinheiro Lima (060.845.322-68); Raniery Araújo Coelho (597.497.501-44). Interessado: Federação das Entidades Estaduais das Micro e Pequenas Empresas do Estado de Rondônia - Feempi (05.521.010/0001-96). Representação legal: Luiz Carlos Braga de Figueiredo (16.010/OAB-DF), Breno Luiz Moreira Braga de Figueiredo (26.291/OAB-DF) e outros, representando Raniery Araújo Coelho. SUMÁRIO: REPRESENTAÇÃO. SESC/RO. CONTRATAÇÃO DE EMPREGADOS PARA EXERCEREM CARGOS COMISSIONADOS EXISTINDO VÍNCULOS DE PARENTESCO COM DIRIGENTES E REPRESENTANTES DA FECOMÉRCIO, DO SESC E/OU DO SENAC. CONTRATAÇÃO DE EMPRESAS PARA FORNECEREM PRODUTOS E PRESTAREM SERVIÇOS CUJOS SÓCIOS DETÉM VÍNCULOS COM DIRIGENTES E REPRESENTANTES DA FECOMÉRCIO, DO SESC E/OU DO SENAC. PREGÃO COM RESTRIÇÃO AO CARÁTER COMPETIVO. NÃO-ACOLHIMENTO DAS RAZÕES DE JUSTIFICATIVA E DOS ESCLARECIMENTOS ÀS OITIVAS. MULTA. DETERMINAÇÕES. 1. Os Serviços Sociais Autônomos administram recursos públicos de natureza tributária advindos de contribuições parafiscais, destinados à persecução de fins de interesse público e, por isso, estão submetidas ao controle externo exercido pelo Tribunal de Contas da União, nos termos do art. 5º, inciso V, da Lei 8.443/1992, e a elas se aplicam os princípios que regem a Administração Pública, nominados na cabeça do art. 37 da Constituição Federal.

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GRUPO I – CLASSE VI – Segunda Câmara TC 013.171/2012-7 [Apenso: TC 013.651/2012-9] Natureza: Representação. Órgão/Entidade: Administração Regional do Serviço Social do Comércio no Estado de Rondônia (SESC/RO). Responsáveis: Carmelita Almeida Barbosa (271.196.701-82); Lima & Paiva Ltda. - Me (02.971.735/0001-98); Maria do Socorro Pinheiro Lima (060.845.322-68); Raniery Araújo Coelho (597.497.501-44). Interessado: Federação das Entidades Estaduais das Micro e Pequenas Empresas do Estado de Rondônia - Feempi (05.521.010/0001-96). Representação legal: Luiz Carlos Braga de Figueiredo (16.010/OAB-DF), Breno Luiz Moreira Braga de Figueiredo (26.291/OAB-DF) e outros, representando Raniery Araújo Coelho. SUMÁRIO: REPRESENTAÇÃO. SESC/RO. CONTRATAÇÃO DE EMPREGADOS PARA EXERCEREM CARGOS COMISSIONADOS EXISTINDO VÍNCULOS DE PARENTESCO COM DIRIGENTES E REPRESENTANTES DA FECOMÉRCIO, DO SESC E/OU DO SENAC. CONTRATAÇÃO DE EMPRESAS PARA FORNECEREM PRODUTOS E PRESTAREM SERVIÇOS CUJOS SÓCIOS DETÉM VÍNCULOS COM DIRIGENTES E REPRESENTANTES DA FECOMÉRCIO, DO SESC E/OU DO SENAC. PREGÃO COM RESTRIÇÃO AO CARÁTER COMPETIVO. NÃO-ACOLHIMENTO DAS RAZÕES DE JUSTIFICATIVA E DOS ESCLARECIMENTOS ÀS OITIVAS. MULTA. DETERMINAÇÕES. 1. Os Serviços Sociais Autônomos administram recursos públicos de natureza tributária advindos de contribuições parafiscais, destinados à persecução de fins de interesse público e, por isso, estão submetidas ao controle externo exercido pelo Tribunal de Contas da União, nos termos do art. 5º, inciso V, da Lei 8.443/1992, e a elas se aplicam os princípios que regem a Administração Pública, nominados na cabeça do art. 37 da Constituição Federal.

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2. É vedado aos dirigentes das entidades do Sistema S a nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, para o quadro de funções de confiança das entidades, do Presidente, ou dos membros, efetivos e suplentes, do Conselho Nacional e do Conselho Fiscal ou dos Conselhos Regionais do Sesc ou do Senac, bem como de dirigentes de entidades sindicais ou civis, do comércio, patronais ou de empregados, uma vez que estas estão sujeitas aos princípios consubstanciados no art. 37 da Constituição Federal, especialmente os da moralidade, da impessoalidade e da isonomia. 3. Aplica-se aos entes do Sistema S o teor do enunciado de Súmula nº 247, no sentido de que a admissão da adjudicação deve ocorrer por item e não por preço global, nos editais das licitações para a contratação de obras, serviços, compras e alienações, cujo objeto seja divisível, desde que não haja prejuízo para o conjunto ou complexo ou perda de economia de escala, tendo em vista o objetivo de propiciar a ampla participação de licitantes que, embora não dispondo de capacidade para a execução, fornecimento ou aquisição da totalidade do objeto, possam fazê-lo com relação a itens ou unidades autônomas, devendo as exigências de habilitação adequar-se a essa divisibilidade. 4. Nos termos do art. 160 do Regimento Interno do TCU, uma vez encerrada a fase instrução, não cabe mais a juntada de novos elementos de defesa para fins de inovação de teses ou contraposição às conclusões da unidade responsável pelo exame da matéria, exceto na superveniência de fato que altere substancialmente o mérito do feito, sem embargo de, incluído o processo na pauta de julgamentos, poder a parte fazer distribuir aos ministros, aos ministros-substitutos e ao representante do Parquet memoriais de caráter meramente informativo, os quais não se confundem com a finalidade da peça homônima prevista no art. 950, § 2º, do vigente Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015). 5. A responsabilidade apurada no âmbito do TCU é subjetiva, para a qual devem ser avaliadas a conduta do agente, a culpa em sentido amplo e o nexo de causalidade entre a conduta e o resultado, de modo

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que para a imputação de sanção ao agente jurisdicionado basta a simples verificação da conduta culposa, não sendo imprescindível a atuação com dolo, má-fé ou comprovado locupletamento.

RELATÓRIO

Reproduzo a seguir, à guisa de relatório, com ajustes de forma, a instrução de peça 70, lavrada pelo auditor lotado na Secretaria de Controle Externo no Estado de Rondônia (Secex/RO), com a qual se puseram de acordo a diretora (peça 71) e o titular da unidade instrutiva (peça 72):

1. O presente processo, autuado como representação, trata de possíveis irregularidades ocorridas no Serviço Social do Comércio – Administração Regional no Estado de Rondônia (Sesc-AR/RO), relacionadas à contratação, como empregados, de cônjuge de dirigentes e representantes do sistema Fecomércio/Sesc/Senac e à compra de mercadorias de empresas vinculadas aos dirigentes e representantes e a parentes de dirigentes e representantes do sistema Fecomércio/Sesc/Senac.

HISTÓRICO

1ª Instrução (peça 2)

2. Em instrução inicial (peça 2), foi proposta a realização de inspeção, na sede do Sesc-AR/RO, a fim de apurar os indícios de irregularidades relativos à contratação/nomeação dos empregados Giselle Araújo dos Santos, Maria do Socorro Pinheiro Lima, Carmelita Almeida Barbosa, e às compras de mercadorias/serviços das empresas Comercial R. Araujo LTDA – EPP, C. G. Comercial LTDA – ME e Lima & Paiva LTDA.

3. A inspeção foi autorizada através do Acórdão 904/2013-TCU-2ªCâmara (peça 5). Os trabalhos foram realizados em conformidade com as Normas de Auditoria do Tribunal de Contas da União e com observância aos Padrões de Auditoria de Conformidade estabelecidos pelo TCU. Nenhuma restrição foi imposta aos trabalhos.

4. Em relação à contratação de empresas pertencentes aos dirigentes e representantes da entidade, foram verificados os relatórios de gastos por fornecedor (peça 12) e os relatórios de pagamentos (peça 13), referentes ao período de janeiro de 2009 a novembro de 2014, para as empresas apontadas no presente processo e no processo de denúncia (TC 013.651/2012-9 - apenso).

5. Com base nos relatórios de gastos e de pagamentos, e considerando a materialidade dos objetos, foram selecionados e analisados os processos licitatórios e de dispensa de licitação mais relevantes (dispensa 09/00356-DL, 09/00695-DL, 10/00334-DL, 10/00738-DL, 11/01266-DL, convite 08/00011-CV e 10/00056-CV, pregão presencial 12/00031-PP).

6. Quanto à contratação/admissão de parentes de dirigentes, de empregados ou de representantes do Sesc-AR/RO, foram verificados os documentos constantes nos

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registros dos empregados mencionados no presente processo e no processo de denúncia (TC 013.651/2012-9 - apenso).

2ª Instrução (peça 13)

7. Na 2ª instrução (peça 32), foi proposta a realização de audiência dos responsáveis e a oitiva do Serviço Social do Comércio – Sesc-AR/RO e da empresa Lima & Paiva Ltda., nos seguintes termos:

b) realizar, com fundamento no art. 234, parágrafo 4º, e art. 250, inciso IV, do RI/TCU, a audiência dos responsáveis a seguir indicados, para que, no prazo de quinze dias, apresentem razões de justificativa pelas irregularidades indicadas:

Responsável: Raniery Araújo Coelho, CPF 597.497.501-44, Presidente do Sesc-AR/RO.

b.1) Ocorrência: Compras de mercadorias com dispensa de licitação da empresa C. G. Comercial LTDA – ME (CNPJ 10.888.556/0001-10), pertencente a José Sálvio Coelho e a Riviany Araújo Coelho (respectivamente pai e irmã do responsável), o que contraria o artigo 2 do Regulamento de Licitações do Sesc-AR/RO e os princípios do processo licitatório, especialmente os princípios da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da probidade, da competitividade, da legalidade, da vinculação ao instrumento convocatório e do julgamento objetivo;

b.2) Ocorrência: Contratar e manter em cargo comissionado a Srª Maria do Socorro Pinheiro Lima (cônjuge de suplente de Delegado representante da Fecomércio junto à CNC, membro do Conselho Regional do Senac e representante efetivo do Conselho Regional do Senac-AR/RO junto ao Conselho Nacional do Senac), o que contraria os princípios constitucionais da legalidade, da impessoalidade e da moralidade (art. 37, caput, da CF), e a jurisprudência do Tribunal de Contas da União;

b.3) Ocorrência: Contratar e manter em cargo comissionado a Srª Carmelita Almeida Barbosa (cônjuge/companheira de membro do Conselho Regional do Sesc, do Senac e da Diretoria Executiva da Fecomércio), contrariando os princípios constitucionais da legalidade, da impessoalidade e da moralidade (art. 37, caput, da CF), e a jurisprudência do Tribunal de Contas da União;

b.4) Ocorrência: homologar o Pregão Presencial 12/0031-PG, o qual continha exigência de que uma mesma empresa prestasse serviços que são prestados por empresas de naturezas/atividades diferentes, restringindo a competitividade do certame e contrariando o artigo 2º do Regulamento de Licitações e Contratos do Sesc e os princípios do processo licitatório (da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da probidade, da competitividade, da legalidade e do julgamento objetivo).

Responsável: Maria do Socorro Pinheiro Lima, CPF 060.845.322-68.

b.5) Ocorrência: Exercer o cargo comissionado de Assessora Técnico I e o cargo comissionado de Consultora da Presidência do Sesc-AR/RO, contrariando os princípios constitucionais da legalidade, da impessoalidade e da moralidade (art. 37, caput, da CF), e a jurisprudência do Tribunal de Contas da União;

Responsável: Carmelita Almeida Barbosa, CPF 271.196.701-82.

b.6) Ocorrência: Exercer o cargo comissionado de Gerente de Unidade III e

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Gerente de Unidade I, contrariando os princípios constitucionais da legalidade, da impessoalidade e da moralidade (art. 37, caput, da CF), e a jurisprudência do Tribunal de Contas da União;

c) determinar, nos termos do artigo 250, inciso V, do Regimento Interno do TCU, a oitiva do Serviço Social do Comércio – Sesc-AR/RO (CNPJ: 33.469.164/0354-11) e da empresa Lima & Paiva Ltda. (CNPJ 02.971.735/0001-98), para, se assim desejarem e no prazo de 15 dias, manifestarem-se sobre o fato abaixo descrito:

c.1) exigência contida no edital de Pregão Presencial 12/0031-PG de que uma mesma empresa prestasse serviços que são prestados por empresas de naturezas/atividades diferentes, restringindo a competitividade do certame e contrariando o artigo 2º do Regulamento de Licitações e Contratos do Sesc e os princípios do processo licitatório (da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da probidade, da competitividade, da legalidade e do julgamento objetivo).

8. A unidade (Secex-RO) pronunciou-se de acordo com a proposta formulada (peça 34), tendo sido realizadas as audiências e as oitivas propostas.

EXAME DE ADMISSIBILIDADE

9. A representação preenche os requisitos de admissibilidade constantes no art. 235 do Regimento Interno do TCU, haja vista a matéria ser de competência do Tribunal, referir-se a responsável sujeito a sua jurisdição, estar redigida em linguagem clara e objetiva, conter nome legível, qualificação e endereço da representante, bem como encontrar-se acompanhada do indício concernente à irregularidade ou ilegalidade.

10. Em relação aos pressupostos de legitimidade, registrou-se em instrução inicial (peça 2) que a representante detinha, com base no art. 237, inciso VII, do Regimento Interno do TCU, legitimidade para oferecer perante esta Corte representação relativa a irregularidades na aplicação de recursos públicos federais.

11. No entanto, em nova análise acerca dos pressupostos de legitimidade, entende-se que a Federação das Entidades Estaduais das Micro e Pequenas Empresas do Estado de Rondônia – FEEMPI não detêm legitimidade para representar ao Tribunal.

12. Apesar de a Federação das Entidades Estaduais das Micro e Pequenas Empresas do Estado de Rondônia – FEEMPI não possuir legitimidade para representar ao Tribunal, consoante disposto no art. 237 do RI/TCU, a gravidade dos indícios informados e as evidências trazidas aos autos, conforme relatado no exame técnico, justificam a necessidade de apuração dos fatos.

13. Assim, considerando que, por força do inciso VI, do art. 237 do Regimento Interno do TCU, esta unidade técnica tem legitimidade para representar ao TCU, para fins de apurar e avaliar a procedência da representação, nos termos da segunda parte do § 2º do art. 234 do Regimento Interno do TCU, aplicável às representações conforme parágrafo único do art. 237 da mesma norma, propõe-se o exame da matéria nestes autos.

EXAME TÉCNICO

14. A audiência dos responsáveis e a oitiva do Sesc-AR/RO e da empresa Lima & Paiva Ltda., foi promovida por meio dos seguintes Ofícios:

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Proposta Responsáveis Ofícios Comprovante de entrega

Audiência Raniery Araújo Coelho

Ofício 0656/2015-TCU/SECEX-RO, de 18/5/2015 (peça 39)

Recebido em 29/5/2015 (peça 42)

Maria do Socorro Pinheiro Lima

Ofício 1013/2015-TCU/SECEX-RO, de 30/7/2015 (peça 57)

Recebido em 14/8/2015 (peça 59)

Carmelita Almeida Barbosa

Ofício 1132/2015-TCU/SECEX-RO, de 20/8/2015 (peça 60)

Recebido em 8/9/2015 (peça 65)

Oitiva Serviço Social do Comércio – Sesc-AR/RO

Ofício 0659/2015-TCU/SECEX-RO, de 18/5/2015 (peça 36)

Recebido em 29/5/2015 (peça 43)

Lima & Paiva Ltda. Ofício 0835/2015-TCU/SECEX-RO, de 15/6/2015 (peça 46)

Recebido em 29/6/2015 (peça 54)

15. Os responsáveis tomaram ciência dos aludidos ofícios e apresentaram, tempestivamente, suas razões de justificativa (peça 48, peça 64 e peça 66). O Sesc-AR/RO e a empresa Lima & Paiva Ltda. apresentaram resposta à oitiva (peça 49 e peça 53).

16. Audiência do Sr. Raniery Araújo Coelho, Presidente do Sesc-AR/RO (peça 48).

Item da audiência: b.1) Ocorrência: Compras de mercadorias com dispensa de licitação da empresa C. G. Comercial LTDA – ME (CNPJ 10.888.556/0001-10), pertencente a José Sálvio Coelho e a Riviany Araújo Coelho (respectivamente pai e irmã do responsável), o que contraria o artigo 2 do Regulamento de Licitações do Sesc-AR/RO e os princípios do processo licitatório, especialmente os princípios da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da probidade, da competitividade, da legalidade, da vinculação ao instrumento convocatório e do julgamento objetivo;

16.1. O responsável Raniery Araújo Coelho foi ouvido em audiência em razão da irregularidade constante no item “b.1” e apresentou as razões de justificativa e documentos constantes da peça 48.

16.2. Justificativas: O responsável apresenta como justificativa a alegação de que as aquisições não violaram o disposto no artigo 2º do Regulamento de licitações e contratos do Sesc; que o setor de compras realizou cotações e a empresa questionada (C. G. Comercial LTDA – ME) apresentou o melhor preço; que o artigo 39 do Regulamento de licitações e contratos do Sesc não veda a participação ou contratação da empresa C. G. Comercial LTDA – ME; que o que é proibido é a participação de “dirigente” ou “empregado”; que o setor de compras permitiu aos empresários locais o conhecimento do processo de Dispensa; que o artigo 6º do Regulamento de Licitações e Contratos do Sesc permite a contratação por dispensa de licitação até o valor de R$ 44.000,00; que as contratações não trouxeram prejuízos e foram vantajosas para o Sesc-AR/RO; que as vendas realizadas pela contratada foram de pequena monta quando comparadas com o seu faturamento; que as compras realizadas pelo Sesc-AR/RO não influenciaram significativamente

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na vida financeira da empresa; que a soma de todas as contratações realizadas na gestão do atual presidente (R$ 45.213,50) ultrapassou o valor permitido para dispensa por licitação (R$ 44.000,00) em apenas R$ 1.213,50.

16.3. Análise: O Regulamento de Licitações e Contratos do Sesc (Anexo I da Resolução 1.252/2012 - peça 30, p. 18-32) dispõe no artigo 39 que “não poderão participar das licitações nem contratar com o SESC dirigente ou empregado da entidade”.

16.4. Constata-se que o artigo 39 do regulamento não proíbe de forma expressa a participação nos processos licitatórios de empresas pertencentes aos parentes dos dirigentes.

16.5. No entanto, o artigo 2º do Regulamento de licitações e contratos do Sesc dispõe da seguinte forma:

Art. 2º A licitação destina-se a selecionar a proposta mais vantajosa para o SESC e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhe são correlatos, inadmitindo-se critérios que frustrem seu caráter competitivo.

16.6. O artigo 2º do Regulamento de licitações e contratos do Sesc estabelece os princípios que devem ser seguidos pelo Sesc-AR/RO quando da realização de processos licitatórios. No presente caso, a contratação de empresa pertencente ao pai e irmã do Presidente do Sesc-AR/RO contraria esses princípios, especialmente os princípios da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da probidade, da competitividade, da legalidade, da vinculação ao instrumento convocatório e do julgamento objetivo.

16.7. Baseado nos princípios constitucionais que regem a administração pública, e que devem ser observados nos processos licitatórios, o Tribunal de Contas da União já decidiu, por diversas vezes, que é irregular a contratação de empresas cujos sócios ou dirigentes sejam parentes de empregado da contratante que tenha algum poder de influência sobre a condução da licitação, quer por participar diretamente do procedimento, quer em razão de sua posição hierárquica sobre aqueles que participam do procedimento de contratação.

16.8. Nesse sentido, o voto condutor do acórdão 607/2011-TCU-Plenário dispôs da seguinte forma:

43. De qualquer modo, a despeito das irregularidades verificadas no procedimento licitatório, o que mais chama a atenção neste processo é a contratação de empresa de propriedade do sobrinho do então prefeito (irregularidade descrita no item 3.4 desta Proposta de Deliberação), a partir da habilitação de uma única empresa interessada.

44. Das justificativas apresentadas pelo ex-prefeito, depreendo que a contratação de parente próximo não soa irregular para o gestor público, mesmo tendo sua conduta confrontada com os princípios constitucionais da moralidade e impessoalidade. Sustenta o ex-prefeito que do parentesco não se presume a violação dos princípios constitucionais, vez que a contratação teria sido fruto de procedimento licitatório regular. E aí vejo que, não se

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configurando a licitação regular, como visto no Relatório precedente e pelos fatos acima, cai por terra a tese da contratação legítima e impessoal.

45. Assevero que a irregularidade verificada no item 3.4 acima afronta os princípios constitucionais da moralidade e da impessoalidade que devem orientar a atuação da Administração Pública e, mesmo que a Lei nº 8.666, de 1993, não possua dispositivo vedando expressamente a participação de parentes em licitações em que o servidor público atue na condição de autoridade responsável pela homologação do certame, vê-se que foi essa a intenção axiológica do legislador ao estabelecer o art. 9º dessa Lei, em especial nos §§ 3º e 4º, vedando a prática de conflito de interesse nas licitações públicas, ainda mais em casos como o ora apreciado em que se promoveu a contratação de empresa do sobrinho do prefeito mediante convite em que apenas essa empresa compareceu ao certame.

46.Ressalto que a ação dos gestores públicos deve pautar-se sempre pela busca do atendimento aos princípios insculpidos na Constituição, mormente os que regem a Administração Pública. E, como ensina Celso Antônio Bandeira de Mello, in Curso de Direito Administrativo, Editora Malheiros, 17ª Ed., 2004, pág. 842: “violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos”.

47. Condutas tais como a ora examinada têm sido reiteradamente rechaçadas por este Tribunal, como se observa nas deliberações constantes dos Acórdãos 2.136/2006-1ª Câmara, 1785/2003-2ª Câmara, 778/2009 1.170/2010 e 1.893/2010, ambos do Plenário.

16.9. Ressalte-se que os Serviços Sociais Autônomos não se sujeitam à estrita observância da Lei 8.666/1993, no entanto seus regulamentos devem se pautar pelos princípios gerais do processo licitatório e seguir os postulados gerais relativos à Administração Pública, em especial os da legalidade, da moralidade, da impessoalidade, da isonomia e da publicidade.

16.10. Portanto, mesmo que o artigo 39 do Regulamento de Licitações e Contratos do Sesc não possua dispositivo vedando expressamente a participação de parentes de dirigentes em licitações, a compra de mercadorias de empresa pertencente ao pai e a irmã do Presidente do Sesc-AR/RO é irregular por contrariar os princípios expostos no regulamento, os quais seguem os postulados gerais relativos à Administração Pública, e a jurisprudência do TCU.

16.11. Embora as aquisições de mercadorias da empresa C. G. Comercial LTDA – ME (pertencente ao pai e a irmã do responsável) sejam irregulares, as vinte e duas aquisições ocorridas no período de julho de 2010 a dezembro de 2012 (trinta meses) totalizaram o valor de R$ 45.213,50 (peça 13, p. 2).

16.12. Entende-se que este valor, no prazo em que ocorreram as contratações, não apresenta relevância suficiente para justificar a aplicação da pena de multa ao responsável, sendo suficiente, em relação a este item da audiência, dar ciência da irregularidade ao Sesc-AR/RO, a fim de se evitar novas ocorrências.

17. Audiência do Sr. Raniery Araújo Coelho, Presidente do Sesc-AR/RO (peça

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48), da Srª Maria do Socorro Pinheiro Lima, Consultora da Presidência do Sesc-AR/RO (peça 64) e da Srª Carmelita Almeida Barbosa, Gerente de Unidade I do Sesc-AR/RO (peça 66)

Responsável: Raniery Araújo Coelho, CPF 597.497.501-44, Presidente do Sesc-AR/RO.

Item da audiência: b.2) Ocorrência: Contratar e manter em cargo comissionado a Srª Maria do Socorro Pinheiro Lima (cônjuge de suplente de Delegado representante da Fecomércio junto à CNC, membro do Conselho Regional do Senac e representante efetivo do Conselho Regional do Senac-AR/RO junto ao Conselho Nacional do Senac), o que contraria os princípios constitucionais da legalidade, da impessoalidade e da moralidade (art. 37, caput, da CF), e a jurisprudência do Tribunal de Contas da União;

Item da audiência: b.3) Ocorrência: Contratar e manter em cargo comissionado a Srª Carmelita Almeida Barbosa (cônjuge/companheira de membro do Conselho Regional do Sesc, do Senac e da Diretoria Executiva da Fecomércio), contrariando os princípios constitucionais da legalidade, da impessoalidade e da moralidade (art. 37, caput, da CF), e a jurisprudência do Tribunal de Contas da União;

Responsável: Maria do Socorro Pinheiro Lima, CPF 060.845.322-68.

Item da audiência: b.5) Ocorrência: Exercer o cargo comissionado de Assessora Técnico I e o cargo comissionado de Consultora da Presidência do Sesc-AR/RO, contrariando os princípios constitucionais da legalidade, da impessoalidade e da moralidade (art. 37, caput, da CF), e a jurisprudência do Tribunal de Contas da União;

Responsável: Carmelita Almeida Barbosa, CPF 271.196.701-82.

Item da audiência: b.6) Ocorrência: Exercer o cargo comissionado de Gerente de Unidade III e Gerente de Unidade I, contrariando os princípios constitucionais da legalidade, da impessoalidade e da moralidade (art. 37, caput, da CF), e a jurisprudência do Tribunal de Contas da União;

17.1. O responsável Raniery Araújo Coelho foi ouvido em audiência em razão das irregularidades constantes nos itens “b.2” e “b.3” e apresentou as razões de justificativa e documentos constantes da peça 48.

17.2. A responsável Maria do Socorro Pinheiro Lima foi ouvida em audiência em razão da irregularidade constante no item “b.5” e apresentou as razões de justificativa e documentos constantes da peça 64.

17.3. A responsável Carmelita Almeida Barbosa foi ouvida em audiência em razão da irregularidade constante no item “b.6” e apresentou as razões de justificativa e documentos constantes da peça 66.

17.4. Tendo em vista que as razões de justificativas dos responsáveis apresentam, em sua maioria, os mesmos argumentos, serão analisadas em conjunto.

17.5. Justificativas: Os responsáveis apresentam como justificativa a alegação de que não houve acúmulo de cargos; que trabalha exclusivamente para o Sesc-AR/RO (Carmelita Almeida Barbosa); que o exercício da advocacia não traduz acúmulo de funções (Maria do Socorro Pinheiro Lima); que o artigo 44 do Decreto 61.836/1967 (Regulamento do Serviço Social do Comércio) não proíbe a

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contratação de cônjuge e/ou companheiros de membros de Conselhos do Sesc e Senac; que o artigo 62 da Resolução Sesc-AR/RO nº 184/2001 (Regulamento de Pessoal) também não veda a contratação apontada como irregular; que o atual Regulamento de Pessoal do Sesc-AR/RO foi aprovado treze anos após a promulgação da CF/1988 e não veda a contratação de cônjuge/companheira; que em razão da ausência de proibição a contratação de cônjuge/companheira de Presidente, membro de Conselho Regional, Nacional, suplente ou efetivo do Sesc ou Senac é permitida; que onde a Lei não distingue não cabe ao interprete distinguir; que a incidência da Súmula Vinculante nº 13 é restrita sobre atos da administração pública, direta e indireta; que o Sesc é pessoa jurídica de direito privado e não pode ser considerado como órgão ou entidade da administração pública.

17.6. Análise: A Srª Maria do Socorro Pinheiro Lima foi contratada pelo Sesc-AR/RO, em 1 de fevereiro de 2011, para exercer o cargo em comissão de Assessora Técnica I. Em 17 de outubro de 2011 foi exonerada do cargo em comissão de Assessora Técnico I e nomeada para o cargo em comissão de Consultora da Presidência.

17.7. A audiência da Srª Maria do Socorro Pinheiro Lima ocorreu em razão de que a mesma, na condição de cônjuge do Sr. Osmar Santana Lima (suplente de Delegado representante da Fecomércio junto à CNC, membro do Conselho Regional do Senac e representante efetivo do Conselho Regional do Senac-AR/RO junto ao Conselho Nacional do Senac), não poderia exercer cargo no Sesc-AR/RO.

17.8. A Srª Carmelita Almeida Barbosa foi contratada pelo Sesc-AR/RO, em 7 de outubro de 2010, para ocupar o cargo em comissão de Gerente de Unidade III. Em 29 de outubro de 2013 foi exonerada do cargo em comissão de Gerente de Unidade III e nomeada para o cargo em comissão de Gerente de Unidade I.

17.9. A audiência da Srª Carmelita Almeida Barbosa ocorreu em razão de que a mesma, na condição de cônjuge/companheira do Sr. José Ramalho de Lima (membro efetivo do Conselho Regional do Sesc-AR/RO, membro efetivo do Conselho Regional do Senac-AR/RO e membro efetivo da Diretoria Executiva da Fecomércio), não poderia exercer cargo no Sesc-AR/RO.

17.10. Portanto, a audiência ocorreu em razão do vínculo existente entre as responsáveis e membros do conselho regional e/ou representantes do sistema Fecomércio/Sesc/Senac. Em nenhum momento foi alegada a existência de acúmulo de cargos pelas responsáveis.

17.11. O critério utilizado para considerar irregular a contratação e manutenção do contrato de trabalho da Srª Maria do Socorro Pinheiro Lima e da Srª Carmelita Almeida Barbosa também não foi o art. 44 do decreto 61.836/1967 ou o art. 62 da Resolução Sesc-AR/RO nº 184/2001.

17.12. Conforme consta nos itens “b.2”, “b.3”, “b.5” e “b.6” da audiência, os critérios utilizados para considerar irregular a contratação e manutenção dos contratos de trabalho foram os princípios constitucionais da legalidade, da impessoalidade e da moralidade (art. 37, caput, da CF), e a jurisprudência do Tribunal de Contas da União.

17.13. O fato de não constar nos regulamentos do Sesc, de forma expressa, a

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proibição de contratação de cônjuge (consta apenas a proibição de contratação de parentes afins ou consanguíneo até o terceiro grau) não torna a contratação regular, uma vez que esta contratação contraria os princípios constitucionais aplicáveis à administração pública (princípios da legalidade, da impessoalidade e da moralidade).

17.14. Não importa se o regulamento é anterior ou posterior à constituição, o fato é que os mesmos princípios utilizados para impedir a contratação de parentes (afins ou consanguíneos) também é aplicável a cônjuge/companheira.

17.15. Embora o Sesc-AR/RO seja uma instituição de direito privado, o mesmo recebe recursos públicos para manutenção de suas atividades, e deve responder por eles. Em razão do recebimento de tais recursos, há muito tempo já se consolidou no Tribunal de Contas da União (TCU) a jurisprudência de que as entidades do “Sistema S” devem seguir os princípios constitucionais que regem a Administração Pública.

17.16. Nesse sentido, transcreve-se parte do voto do ministro Benjamin Zymler, no processo TC 010.147/2005-7 (Acórdão 0174/2007-TCU-2ªCâmara):

Com efeito, de início é importante relembrar que as entidades paraestatais, rol em que se enquadra o SEBRAE/GO, possuem relativa independência, não integram a Administração Pública, mas estão ao seu “lado”, desempenhando tarefas de relevante interesse social.

A principal fonte de renda dessas entidades é a contribuição mensal compulsória, que corresponde a 2,5% do montante da “remuneração paga a todos os empregados pelas pessoas jurídicas de direito privado, ou a elas equiparadas” (art. 3º, inciso I, da Lei n.º 8.315/91). Essa contribuição, como sedimentado na doutrina, é dinheiro público e, por esta razão, está sujeita ao controle finalístico e à prestação de contas aos órgãos de controle.

Tal controle, consoante entendimento jurisprudencial desta Corte, tem uma abordagem na qual se confere maior ênfase ao interesse público e às finalidades da entidade, respeitando-se os princípios gerais aplicáveis à Administração Pública, quais sejam, moralidade, igualdade, publicidade e impessoalidade. Nesse sentido, cito as Decisões n.ºs 80/1998, 2ª Câmara e 27/1999, 1ª Câmara e o Acórdão n.º 300/1998, 1ª Câmara.

17.17. Ressalte-se que a interpretação dada aos princípios constitucionais da legalidade, da impessoalidade e da moralidade (art. 37, caput, da CF), tanto pelo TCU quanto pelo Supremo Tribunal Federal (STF), proíbem que o dirigente nomeie para cargo comissionado ou função gratificada cônjuge/companheira ou parentes (afins ou consanguíneos) até o terceiro grau.

17.18. Neste sentido, cabe transcrever a súmula vinculante nº 13, do STF, a qual, embora não aplicável diretamente às entidades paraestatais, revela a incongruência da prática de nomeação de cônjuge, companheiro ou parente com o regime jurídico administrativo assentado na Constituição Federal:

“A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou,

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ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta, em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal.”

17.19. Cabe ainda transcrever parte do voto do ministro José Múcio Monteiro no processo TC 033.528/2008-9 (Acórdão 2063/2010-TCU-Plenário):

3. De fato, a contratação de parentes de dirigentes e conselheiros, sem processo seletivo, para o exercício de funções de assessoria do Conselho Deliberativo e da Diretoria vai de encontro aos princípios constitucionais respeitantes à Administração Pública, em especial os da moralidade e impessoalidade, os quais, segundo pacífica jurisprudência desta Corte, devem ser observados pelas entidades do Sistema “S”, a exemplo do Sebrae/GO.

4. Relativamente ao provimento de cargos nessas entidades, temos os Acórdãos nºs 119/2006-Plenário, 2.305/2007-Plenário, 875/2003-1ª Câmara, 2.489/2004-1ª Câmara, 174/2007-2ª Câmara, 1.914/2008-2ª Câmara, 2.660/2010-2ª Câmara e 623/2010-2ª Câmara, entre outros, em que o TCU, manifestando-se contra o nepotismo e seus nefastos efeitos, exigiu a obediência aos mencionados preceitos constitucionais e determinou o desligamento de funcionários contratados irregularmente.

5. Vê-se que, bem antes da Súmula Vinculante nº 13, por meio da qual o STF fixou critérios para a caracterização do nepotismo, o TCU já condenava a prática, inclusive nas entidades integrantes do sistema “S”, restando improcedente, portanto, a alegação da defesa de que, em relação a elas, a matéria não teria sido ainda amplamente discutida e decidida neste Tribunal.

17.20. Conforme já mencionado nos parágrafos anteriores, embora as entidades do sistema “S” não façam parte da Administração Pública direta ou indireta, a jurisprudência do TCU há muito já se consolidou no sentido de que tais entidades devem seguir os mesmos princípios da Administração Pública.

17.21. Portanto, independentemente de haver ou não previsão nos estatutos da entidade, os seus dirigentes estão impedidos de nomear, para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança, cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau.

17.22. Propõe-se, portanto, determinar ao Sesc-AR/RO que adote as medidas necessárias com vistas à demissão das Srs.ª Maria do Socorro Pinheiro Lima e Carmelita Almeida Barbosa.

17.23. Propõe-se, ainda, a aplicação de multa ao Sr. Raniery Araújo Coelho (Presidente do Sesc-AR/RO), por nomear e manter em cargo comissionado a Srª Maria do Socorro Pinheiro Lima (cônjuge de suplente de Delegado representante da Fecomércio junto à CNC, membro do Conselho Regional do Senac-AR/RO e representante efetivo do Conselho Regional do Senac-AR/RO junto ao Conselho Nacional do Senac) e a Srª Carmelita Almeida Barbosa (cônjuge/companheira de membro do Conselho Regional do Sesc-AR/RO, do Senac-AR/RO e da Diretoria Executiva da Fecomércio).

17.24. Deixa-se de propor aplicação de multa às Srs.ª Maria do Socorro Pinheiro

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Lima e Carmelita Almeida Barbosa, em razão de que a responsabilidade pela adoção de medidas necessárias para regularizar a situação incompatível era do Presidente do Sesc-AR/RO, Sr. Raniery Araújo Coelho.

18. Audiência do Sr. Raniery Araújo Coelho, Presidente do Sesc-AR/RO (peça 48) e oitiva do Serviço Social do Comércio – Sesc-AR/RO (peça 49)

Item da audiência: b.4) Ocorrência: homologar o Pregão Presencial 12/0031-PG, o qual continha exigência de que uma mesma empresa prestasse serviços que são prestados por empresas de naturezas/atividades diferentes, restringindo a competitividade do certame e contrariando o artigo 2º do Regulamento de Licitações e Contratos do Sesc e os princípios do processo licitatório (da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da probidade, da competitividade, da legalidade e do julgamento objetivo).

Item da oitiva: c.1) exigência contida no edital de Pregão Presencial 12/0031-PG de que uma mesma empresa prestasse serviços que são prestados por empresas de naturezas/atividades diferentes, restringindo a competitividade do certame e contrariando o artigo 2º do Regulamento de Licitações e Contratos do Sesc e os princípios do processo licitatório (da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da probidade, da competitividade, da legalidade e do julgamento objetivo).

18.1. O responsável Raniery Araújo Coelho foi ouvido em audiência em razão das irregularidades constantes no item “b.4” e apresentou as razões de justificativa e documentos constantes da peça 48.

18.2. O Serviço Social do Comércio – Sesc-AR/RO foi ouvido em oitiva em razão da irregularidade mencionada no item “c.1” e apresentou as justificativas, esclarecimentos e documentos constantes da peça 49.

18.3. Tendo em vista que as razões de justificativa e a resposta à oitiva apresentam, em sua maioria, os mesmos argumentos, serão analisadas em conjunto.

18.4. Justificativas: O responsável e o Sesc-AR/RO apresentam como justificativa a alegação de que foi obtido o mínimo de três cotações de empresas que atuam nos dois segmentos que atendem o objeto do certame; que a opção pela modalidade Pregão Presencial foi mais econômica quando comparada com a modalidade Concorrência; que o processo licitatório seguiu desde o início os trâmites recomendados pelas normas internas e as recomendações dos órgãos de controle externo; que o pregão presencial foi amplamente divulgado em jornal impresso de grande circulação no Estado de Rondônia; que empresas que prestam serviços de reparação em ar condicionado predial e em ar condicionado automotivo possuem a mesma natureza; que os serviços de reparação em ar condicionado predial e em ar condicionado automotivo são assemelhados e de fundamentos tecnológicos próximos; que a opção pela reunião dos dois serviços (reparos e manutenção em ar condicionado predial e veicular) num mesmo certame, deu-se em virtude do princípio da economicidade; que não ocorreu a alegada restrição de competitividade e a suposta violação do artigo 2° do Regulamento Interno; que o edital de licitação foi retirado por quatro empresas; que o referido instrumento de convocação não foi impugnado por nenhuma empresa; que a licitação ora questionada teve na fase de lances duas empresas habilitadas (Lima & Paiva e A da Silva Menezes - ME), as quais disputaram o melhor preço por quatorze lances consecutivos; que o Setor de Compras e a Comissão Permanente de Licitações

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seguiu corretamente os trâmites típicos e previamente definidos em regulamento próprio de compras do Sesc.

18.5. Análise: O edital continha exigência de que uma mesma empresa prestasse os serviços de manutenção em ar-condicionado de uso predial e de manutenção em ar-condicionado de uso automotivo (não houve a divisão em itens/lotes específicos).

18.6. Estes serviços, no comércio, são prestados por empresas de natureza diferentes, as quais atuam em mercados distintos.

18.7. Como os serviços de manutenção em ar-condicionado de uso predial e de manutenção em ar-condicionado de uso automotivo são prestados por empresas de natureza/atividades diferentes, exigir que ambos os serviços sejam prestados em conjunto (mesmo lote) restringe em demasia a competitividade do certame.

18.8. A exigência também levanta dúvidas acerca da impessoalidade da licitação, principalmente se for considerado que o sócio da empresa vencedora, Franklin da Providência Paiva (sócio desde 3/2/1999), participa do conselho fiscal da Fecomércio/RO (peça 11, p. 17), e que o antigo sócio da empresa vencedora da proposta, Osmar Santana Lima (sócio administrador da empresa Lima & Paiva Ltda.-ME até maio de 2012), é membro do Conselho Regional do Senac/RO (peça 31 e TC 029.636/2013-2, peça 2, p. 6) e Delegado representante da Fecomércio junto à CNC (peça 11, p. 17).

18.9. Apesar da participação de empresas pertencentes a dirigentes ou representantes da Fecomércio/RO e do Senac-AR/RO levantar dúvidas acerca da impessoalidade, o artigo 39 do Regulamento de Licitações e Contratos do Sesc (peça 30) limita-se a impedir a participação de dirigente ou empregado do próprio Sesc, não mencionando a participação de dirigentes e/ou representantes da Fecomércio/RO ou do Senac-AR/RO.

18.10. As alegações do responsável procuram afirmar que o pregão ocorreu de forma regular e econômica, que as empresas que prestam serviços de manutenção em ar condicionado predial e em ar condicionado automotivo possuem a mesma natureza e que os serviços são assemelhados, no entanto tais alegações não justificam o fato de que a exigência restringiu a competitividade do certame.

18.11. Deve-se observar que no pregão realizado pelo Sesc-AR/RO apenas duas empresas compareceram e foram habilitadas para a oferta de lances, enquanto que em pregões eletrônicos com objeto semelhante, porém sem a exigência restritiva, o quantitativo de empresas que foram habilitadas e participaram da fase de lances foi bem superior.

18.12. Como exemplo, cita-se os seguintes pregões:

a) Pregão eletrônico 0007/2012 (peça 69, p. 1-4), realizado pela Superintendência Regional do Incra em Rondônia (UASG 373082), com sete empresas habilitadas (município de Porto Velho);

b) Pregão eletrônico 0008/2012 (peça 69, p. 5-71), realizado pela Fundação Universidade Federal de Rondônia (UASG 154055), com quatro empresas habilitadas (municípios de Ji-Paraná, Cacoal, Rolim de Moura e Presidente Médici);

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c) Pregão eletrônico 0003/2013 (peça 69, p. 72-77), realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (UASG 135001), com doze empresas habilitadas (município de Porto Velho);

d) Pregão eletrônico 0003/2014 (peça 69, p. 78-83), realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB (UASG 135461), com dez empresas habilitadas (município de Porto Velho);

e) Pregão eletrônico 0038/2014 (peça 69, p. 84-114) – Lote 1, realizado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia (UASG 70024), com doze empresas habilitadas (municípios de Porto Velho e Guajará Mirim);

f) Pregão eletrônico 0038/2014 (peça 69, p. 84-114) – Lotes 2 a 6, realizado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia (UASG 70024), com média de sete empresas habilitadas em cada lote (municípios do interior);

g) Pregão eletrônico 0006/2015 (peça 69, p. 115-119), realizado pela Superintendência Regional da Polícia Federal em Rondônia (UASG 200378), com quatro empresas habilitadas (município de Porto Velho).

18.13. Ao pesquisar os termos manutenção preventiva ar condicionado no portal de compras do governo federal (http://comprasnet.gov.br/acesso.asp?url=/ConsultaLicitacoes/ConsLicitacao_texto.asp), utilizando como filtro o período de publicação de 01/01/2012 a 31/12/2014 e como unidade da federação o Estado de Rondônia, foram encontrados quarenta e seis pregões eletrônicos cujo objeto incluía manutenção preventiva em aparelhos de ar condicionado predial e quatro pregões eletrônicos cujo objeto incluía manutenção preventiva em aparelhos de ar condicionado automotivo (Pregão: 149/2014, Pregão 38/2012, Pregão 4/2012 e Pregão 13/2011), no entanto, nenhum dos pregões tinha como objeto, de forma concomitante, a manutenção preventiva em aparelhos de ar condicionado predial e automotivo (peça 68).

18.14. O resultado da pesquisa deixa claro a existência de mercados distintos e evidencia o fato de que exigências semelhantes à contida no pregão presencial 12/0031-PG, de que uma mesma empresa preste ambos os serviços, não ocorre nos processos licitatórios realizados por outras entidades.

18.15. Já em relação aos preços praticados e à economicidade do certame, extrai-se a seguinte tabela comparativa entre os pregões realizados pelo Sesc-AR/RO (pregão presencial 12/0031-PG) e pelo TRE/RO (pregão eletrônico 0038/2014):

Município BTU’s Empresa Lima & Paiva

Pregão TRE/RO Diferença (%)

Quant. R$ Quant. R$

Porto Velho 7.500 1 120,00 0 N/C

9.000 3 120,00 0 N/C

12.000 6 120,00 2 90,00 33,33%

18.000 8 120,00 1 N/C

24.000 4 120,00 16 100,00 20,00%

27.000 6 120,00 0 N/C

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30.000 2 120,00 0 N/C

36.000 5 120,00 0 N/C

48.000 27 170,00 4 113,00 50,44%

60.000 24 200,00 4 113,00 76,99%

80.000 8 200,00 0 N/C

Nova Mamoré (*)

12.000 4 200,00 1 90,00 122,22%

24.000 0 N/C 6 100,00

Ariquemes 12.000 4 200,00 1 179,40 11,48%

24.000 0 N/C 7 179,40

Ji-Paraná 12.000 1 200,00 1 177,99 12,37%

24.000 3 200,00 6 177,99 12,37%

30.000 3 200,00 2 280,00 -28,57%

Presidente Médici

12.000 4 200,00 2 177,99 12,37%

24.000 0 N/C 5 177,99

Vilhena 12.000 4 200,00 1 185,28 7,94%

24.000 0 N/C 5 185,18

(*) A comparação ocorreu com a unidade do TRE localizada no município de Guajará Mirim (48 km de distância).

18.16. Constata-se na tabela que, exceto por um item no município de Ji-paraná, o preço oferecido pela empresa Lima & Paiva Ltda. foi superior em todos os demais itens em que foi possível a comparação.

18.17. Deve-se observar ainda que o pregão realizado pelo Sesc-AR/RO ocorreu em dezembro de 2012, enquanto que o Pregão realizado pelo TRE/RO ocorreu em dezembro de 2014, ou seja, dois anos após o pregão do Sesc-AR/RO, e mesmo assim o pregão do TRE/RO obteve propostas inferiores às propostas obtidas no pregão realizado pelo Sesc-AR/RO.

18.18. A audiência do responsável ocorreu em razão de exigência restritiva indevida, tal exigência restou comprovada no item 1.1 do edital (peça 21, p. 89) e no anexo I do edital (peça 21, p. 100-107) e efetivamente restringiu a competitividade do pregão presencial.

18.19. O processo licitatório impõe como regra a competitividade, tendo em vista a existência de exigência restritiva no edital, não se pode dizer que o responsável atendeu a todas as regras impostas pelo processo licitatório.

18.20. Por fim, cabe mencionar que a súmula 247 do TCU estabelece que na contratação de obras, serviços, compras e alienações, sendo o objeto divisível e não havendo prejuízo para o conjunto, é obrigatória a admissão da adjudicação por item.

18.21. A seguir transcreve-se a Súmula 247 do TCU:

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É obrigatória a admissão da adjudicação por item e não por preço global, nos editais das licitações para a contratação de obras, serviços, compras e alienações, cujo objeto seja divisível, desde que não haja prejuízo para o conjunto ou complexo ou perda de economia de escala, tendo em vista o objetivo de propiciar a ampla participação de licitantes que, embora não dispondo de capacidade para a execução, fornecimento ou aquisição da totalidade do objeto, possam fazê-lo com relação a itens ou unidades autônomas, devendo as exigências de habilitação adequar-se a essa divisibilidade.

18.22. Portanto, a licitação empreendida deveria contemplar lote específico para o serviço de manutenção de ar-condicionado predial e lote específico para o serviço de manutenção de ar-condicionado automotivo.

18.23. Ante ao exposto, conclui-se que as alegações do responsável não afastam a irregularidade.

18.24. Propõe-se, portanto, determinar ao Sesc-AR/RO que, no prazo de noventa dias, adote as medidas necessárias com vistas ao cancelamento do Contrato de Prestação de Serviço, decorrente do Pregão Presencial 12/0031-PG, firmado com a empresa Lima & Paiva Ltda. (peça 22, p. 62-69).

18.25. Propõe-se, ainda, a aplicação de multa ao Sr. Raniery Araújo Coelho, Presidente do Sesc-AR/RO, por homologar o Pregão Presencial 12/0031-PG (peça 22, p. 43), o qual continha exigência de que uma mesma empresa prestasse serviços que são prestados por empresas de natureza/atividades diferentes (restrição à competitividade), ou seja, não houve a divisão do objeto em itens/lotes específicos.

19. Oitiva da empresa Lima & Paiva Ltda. (peça 53).

Item da oitiva: c.1) exigência contida no edital de Pregão Presencial 12/0031-PG de que uma mesma empresa prestasse serviços que são prestados por empresas de naturezas/atividades diferentes, restringindo a competitividade do certame e contrariando o artigo 2º do Regulamento de Licitações e Contratos do Sesc e os princípios do processo licitatório (da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da probidade, da competitividade, da legalidade e do julgamento objetivo).

19.1. A empresa Lima & Paiva Ltda. foi ouvida em oitiva em razão da irregularidade mencionada no item “c.1” e apresentou as justificativas, esclarecimentos e documentos constantes da peça 53.

19.2. Justificativas: A empresa Lima & Paiva Ltda. informa que concorreu ao pregão em igualdade de condições com as demais empresas qualificadas; que provou possuir legitimidade, habilitação jurídica, capacidade técnica, idoneidade econômica e financeira, regularidade fiscal e trabalhista; que foi escolhida em virtude de ter a proposta mais vantajosa; que participou de forma íntegra e não restringiu a competitividade do pregão; que o art. 2º do Regulamento de Licitações e Contratos do Sesc não cita qualquer proibição de que uma mesma empresa preste serviços que são prestados por empresas de naturezas diferentes; que todo o histórico do Pregão Presencial 12/0031-PG foram atos de livre concorrência e obedeceram a uma sequência lógica, ordenada, coerente, no prazo e forma prevista; que houve nada menos que quatorze lances oferecidos e contrapostos em pé de igualdade com a empresa A. da Silva Menezes – ME; que o reiterado número de

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lances demonstra o amplo aspecto competitivo e isonômico do certame.

19.3. Análise: As justificativas de que a empresa concorreu em igualdade de condições, atendeu as exigências referentes à habilitação e ofereceu a proposta mais vantajosa não questionam o fato de que a exigência contida no edital restringiu a competitividade.

19.4. Por sua vez, a afirmação da empresa de que todo o histórico do pregão foram atos de livre concorrência também não justifica a exigência restritiva constante no edital.

19.5. Em relação a afirmação de que o art. 2º do Regulamento de Licitações e Contratos do Sesc não proíbe a prestação de serviços de manutenção em ar condicionado predial e de manutenção em ar condicionado automotivo por uma mesma empresa, tem-se que o citado artigo proíbe a fixação de critérios que frustrem o caráter competitivo da licitação e a exigência de que um único fornecedor preste ambos os serviços restringe a competitividade.

19.6. Ressalte-se que no comércio estes serviços são prestados por empresas de natureza/ramos diferentes.

19.7. Observa-se que, caso o edital previsse a separação em lotes para cada tipo de serviço, uma mesma empresa poderia concorrer em ambos os lotes, vencer e prestar ambos os serviços, não há impedimento para que isso ocorra. É a exigência contida no edital de que uma única empresa (mesmo lote) preste ambos os serviços que restringe a competitividade.

19.8. Por fim, quanto ao fato de que na fase competitiva foram oferecidos e contrapostos pelas empresas Lima & Paiva Ltda. e A. da Silva Menezes – ME quatorze lances, tem-se que a restrição ocorreu em relação as demais empresas que deixaram de participar por não atuarem, concomitantemente, em ambas as áreas.

19.9. Ressalte-se que no pregão realizado pelo Sesc-AR/RO apenas duas empresas compareceram para a oferta de lances, enquanto que em pregões eletrônicos com objeto semelhante, porém sem a exigência restritiva, o quantitativo de empresas que foram habilitadas e participaram da fase de lances foi bem superior.

19.10. Como exemplo, cita-se os seguintes pregões:

a) Pregão eletrônico 0007/2012 (peça 69, p. 1-4), realizado pela Superintendência Regional do Incra em Rondônia (UASG 373082), com sete empresas habilitadas (município de Porto Velho);

b) Pregão eletrônico 0008/2012 (peça 69, p. 5-71), realizado pela Fundação Universidade Federal de Rondônia (UASG 154055), com quatro empresas habilitadas (municípios de Ji-Paraná, Cacoal, Rolim de Moura e Presidente Médici);

c) Pregão eletrônico 0003/2013 (peça 69, p. 72-77), realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (UASG 135001), com doze empresas habilitadas (município de Porto Velho);

d) Pregão eletrônico 0003/2014 (peça 69, p. 78-83), realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB (UASG 135461), com dez empresas habilitadas (município de Porto Velho);

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e) Pregão eletrônico 0038/2014 (peça 69, p. 84-114) – Lote 1, realizado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia (UASG 70024), com doze empresas habilitadas (municípios de Porto Velho e Guajará Mirim);

f) Pregão eletrônico 0038/2014 (peça 69, p. 84-114) – Lotes 2 a 6, realizado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia (UASG 70024), com média de sete empresas habilitadas em cada lote (municípios do interior);

g) Pregão eletrônico 0006/2015 (peça 69, p. 115-119), realizado pela Superintendência Regional da Polícia Federal em Rondônia (UASG 200378), com quatro empresas habilitadas (município de Porto Velho).

19.11. Portanto, a restrição se deu em relação à possibilidade de participação de outras empresas, o que também afeta à oferta de lances durante a fase competitiva.

20. Irregularidades analisadas na instrução de peça 32.

20.1. Além das irregularidades que foram objeto de audiência e/ou oitiva, foram analisadas na instrução anterior (peça 32) os seguintes indícios de irregularidade:

a) Compras de mercadorias da empresa Comercial R. Araujo LTDA - EPP (CNPJ 01.602.981/0001-00), a qual pertence ao presidente da Fecomércio, Raniery Araújo Coelho, e à sua esposa, Giselle Araújo dos Santos.

...

c) Contratação da empresa Lima & Paiva Ltda. (CNPJ 02.971.735/0001-98), de propriedade de Franklin da Providência Paiva, suplente do Conselho Fiscal da Fecomércio, e de Osmar Santana Lima, suplente de Delegado representante da Fecomércio junto à CNC e representante do Conselho Regional do Senac/RO junto ao Conselho Nacional do Senac, para manutenção dos aparelhos de ar condicionado.

d) A esposa do presidente do sistema Fecomércio/Sesc/Senac, Giselle Araújo dos Santos, atuou como diretora de planejamento do Sesc-AR/RO.

20.2. Em relação à irregularidade constante no item “a” (compras de mercadorias da empresa Comercial R. Araujo LTDA – EPP), a análise concluiu que as aquisições ocorridas a partir de maio de 2010 (momento em que assumiu a presidência do Sesc-AR/RO o Sr. Raniery Araújo Coelho) não apresentavam valores relevantes e que, em relação a este item, era suficiente, por ocasião da instrução de mérito, dar ciência da irregularidade ao Sesc-AR/RO, a fim de se evitar novas ocorrências (peça 32, parágrafos 14-19).

20.3. Em relação à irregularidade constante no item “c” (Contratação da empresa Lima & Paiva Ltda.), a análise concluiu que o artigo 39 do Regulamento de Licitações do Sesc não proíbe a participação nas licitações de membros/representantes da Fecomércio e do Senac e que o fato de os sócios da empresa atuarem junto à Fecomércio e/ou Senac e terem contato direto com o presidente do sistema Fecomércio/Sesc/Senac, por si só, não levava à comprovação de que os princípios do processo licitatório foram violados (peça 32, parágrafos 26-36).

20.4. Quanto à irregularidade constante no item “d” (a esposa do presidente do sistema Fecomércio/Sesc/Senac atuou como diretora de planejamento do Sesc-AR/RO), a análise concluiu que a irregularidade que estava sendo apurada no TC

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013.174/2012-6 possuía a mesma natureza, os mesmos responsáveis, e, de certo modo, abrangia o período de tempo em que a Srª Giselle esteve à disposição do Sesc-AR/RO. Portanto, uma vez que constava proposta de audiência dos responsáveis no TC 013.174/2012-6, deixava-se de propor, no presente processo e em relação a esta irregularidade, a audiência do Presidente do Sesc-AR/RO (peça 32, parágrafos 37-47).

Processo apenso (TC 013.651/2012-9)

21. Em despacho à peça 7 do TC 013.651/2012-9, o Ministro-Relator determinou, com fundamento nos arts. 33, 34 e 36 da Resolução/TCU n. 191/2006, o apensamento do TC 013.651/2012-9 ao TC 013.171/2012-7, para apreciação conjunta.

22. O TC 013.651/2012-9 trata de denúncia (identidade preservada - art. 53, § 3º, e art. 55 da Lei 8.443/1992) e, conforme consta na instrução de peça 4 do TC 013.651/2012-9, noticia as mesmas irregularidades relatadas e analisadas no presente processo.

CONCLUSÃO

23. O documento constante da peça 1 preenche os requisitos de admissibilidade previstos no artigo 235 do Regimento Interno do TCU, e deve ser conhecido como representação da unidade, a teor do artigo 237, inciso VI do mesmo regimento.

24. Diante do que consta nos autos, conclui-se que restaram comprovadas as seguintes irregularidades:

24.1. Compras de mercadorias de empresa pertencente ao Presidente do sistema Fecomércio/Sesc/Senac, identificada no Relatório de Gastos por Fornecedor (peça 12, p. 1) e no Relatório de Pagamentos por Fornecedor (peça 13, p. 1), o que contraria os artigos 2 e 39 do Regulamento de Licitações e Contratos do Sesc (Anexo I da Resolução 1.252/2012 - peça 30, p. 18-32) e os princípios que devem ser observados nos processos licitatórios, especialmente os princípios da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da probidade, da competitividade, da legalidade, da vinculação ao instrumento convocatório e do julgamento objetivo (peça 32, parágrafos 14-19);

24.2. Compras de mercadorias com dispensa de licitação de empresa pertencente a parentes (pai e irmã) de dirigente/representante do Sesc-AR/RO, identificada no Relatório de Gastos por Fornecedor (peça 12, p. 2) e no Relatório de Pagamentos por Fornecedor (peça 13, p. 2), o que contraria o artigo 2º do Regulamento de Licitações e Contratos do Sesc (Anexo I da Resolução 1.252/2012 - peça 30, p. 18-32) e os princípios que devem ser observados nos processos licitatórios, especialmente os princípios da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da probidade, da competitividade, da legalidade, da vinculação ao instrumento convocatório e do julgamento objetivo (parágrafo 16);

24.3. O responsável Raniery Araújo Coelho (Presidente do Sesc-AR/RO) mantém em cargo comissionado e em função de confiança a Srª Maria do Socorro Pinheiro Lima, cônjuge do Sr. Osmar Santana Lima (suplente de Delegado representante da Fecomércio junto à CNC, membro do Conselho Regional do Senac e representante efetivo do Conselho Regional do Senac-AR/RO junto ao Conselho Nacional do Senac), o que contraria os princípios constitucionais da legalidade, da

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impessoalidade e da moralidade (art. 37, caput, da CF), e a jurisprudência do Tribunal de Contas da União; (parágrafo 17);

24.4. O responsável Raniery Araújo Coelho (Presidente do Sesc-AR/RO) mantém em cargo comissionado e em função de confiança a Srª Carmelita Almeida Barbosa, cônjuge/companheira do Sr. José Ramalho de Lima (membro efetivo do Conselho Regional do Sesc-AR/RO, membro efetivo do Conselho Regional do Senac-AR/RO e membro efetivo da Diretoria Executiva da Fecomércio), o que contraria os princípios constitucionais da legalidade, da impessoalidade e da moralidade (art. 37, caput, da CF), e a jurisprudência do Tribunal de Contas da União; (parágrafo 17).

24.5. O responsável Raniery Araújo Coelho (Presidente do Sesc-AR/RO) autorizou/homologou o Pregão Presencial 12/0031-PG, o qual continha exigência de que uma mesma empresa prestasse serviços que são prestados por empresas de natureza/atividades diferentes, restringindo a competitividade do certame, contrariando o artigo 2º do Regulamento de Licitações e Contratos do Sesc (Anexo I da Resolução 1.252/2012 - peça 30, p. 18-32) e os princípios do processo licitatório (da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da probidade, da competitividade, da legalidade e do julgamento objetivo) (parágrafo 18).

25. Entende-se que em relação às irregularidades era exigível conduta diversa daquela adotada e é razoável admitir que o gestor diligente não teria cometido o mesmo erro. Assim, não é possível reconhecer a boa-fé do responsável.

26. Em razão das irregularidades mencionadas nos subitens 24.1 (peça 32, parágrafos 14-19) e 24.2 (parágrafo 16), deve-se dar ciência da irregularidade ao Sesc-AR/RO, a fim de se evitar novas ocorrências.

27. Quanto às demais irregularidades (parágrafos 17-18), deve-se aplicar ao responsável Raniery Araújo Coelho a multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei 8.443/1992.

28. Deve-se, ainda, determinar ao Sesc-AR/RO que adote as medidas necessárias com vistas à demissão das empregadas Maria do Socorro Pinheiro Lima e Carmelita Almeida Barbosa e que adote as medidas necessárias com vistas ao cancelamento do Contrato de Prestação de Serviço, decorrente do Pregão Presencial 12/0031-PG, firmado com a empresa Lima & Paiva Ltda.

29. Quanto às responsáveis Maria do Socorro Pinheiro Lima e Carmelita Almeida Barbosa, embora as mesmas estejam exercendo de forma indevida cargo/função no Sesc-AR/RO, deixa-se de propor a aplicação de penalidade (multa) às responsáveis, em razão de que a responsabilidade pela adoção de medidas necessárias para regularizar a situação era do Presidente do Sesc-AR/RO, Sr. Raniery Araújo Coelho.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

30. O TC 013.174/2012-6 (representação) tem como unidade jurisdicionada o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - Administração Regional no Estado de Rondônia (Senac-AR/RO), tem como um dos responsáveis o Sr. Raniery Araújo Coelho, e trata de indícios de irregularidades semelhantes aos constatados na presente representação.

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PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO

31. Ante o exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo:

a) conhecer da presente representação, satisfeitos os requisitos de

admissibilidade previstos nos arts. 235 e 237, inciso VI do Regimento Interno

deste Tribunal, para, no mérito, considerá-la parcialmente procedente;

b) rejeitar as razões de justificativa apresentadas pelos responsáveis

Raniery Araújo Coelho, Maria do Socorro Pinheiro Lima e Carmelita Almeida

Barbosa;

c) aplicar ao responsável Raniery Araújo Coelho, CPF 597.497.501-44,

Presidente do Sesc-AR/RO, a multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei 8.443/1992,

fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que

comprove, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno

do TCU), o recolhimento da dívida ao Tesouro Nacional, atualizada

monetariamente desde a data do acórdão até a do efetivo recolhimento, se for

paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;

d) autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992,

a cobrança judicial da dívida, caso não atendida a notificação;

e) determinar ao Serviço Social do Comércio – Administração Regional no

Estado de Rondônia (Sesc-AR/RO), com fundamento no art. 250, inciso II, do

Regimento Interno do TCU, que:

e.1) adote, no prazo de sessenta dias, as medidas necessárias com vistas à

demissão da empregada Srª Maria do Socorro Pinheiro Lima, cônjuge do Sr.

Osmar Santana Lima (suplente de Delegado representante da Fecomércio junto à

CNC, membro do Conselho Regional do Senac e representante efetivo do

Conselho Regional do Senac-AR/RO junto ao Conselho Nacional do Senac);

e.2) adote, no prazo de sessenta dias, as medidas necessárias com vistas à

demissão da empregada Srª Carmelita Almeida Barbosa, cônjuge/companheira do

Sr. José Ramalho de Lima (membro efetivo do Conselho Regional do Sesc-AR/RO,

membro efetivo do Conselho Regional do Senac-AR/RO e membro efetivo da

Diretoria Executiva da Fecomércio);

e.3) adote, no prazo de noventa dias, as medidas necessárias com vistas ao

cancelamento do Contrato de Prestação de Serviço, decorrente do Pregão

Presencial 12/0031-PG, firmado com a empresa Lima & Paiva Ltda.;

f) dar ciência ao Serviço Social do Comércio – Administração Regional no

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Estado de Rondônia (Sesc-AR/RO) sobre as seguintes impropriedades:

f.1) Compras de mercadorias de empresa pertencente ao Presidente do

sistema Fecomércio/Sesc/Senac, identificada no Relatório de Gastos por

Fornecedor e no Relatório de Pagamentos por Fornecedor, o que contraria os

artigos 2 e 39 do Regulamento de Licitações e Contratos do Sesc (Anexo I da

Resolução 1.252/2012) e os princípios que devem ser observados nos processos

licitatórios, especialmente os princípios da impessoalidade, da moralidade, da

igualdade, da probidade, da competitividade, da legalidade, da vinculação ao

instrumento convocatório e do julgamento objetivo;

f.2) Compras de mercadorias com dispensa de licitação de empresa

pertencente a parentes (pai e irmã) de dirigente/representante do Sesc-AR/RO,

identificada no Relatório de Gastos por Fornecedor e no Relatório de Pagamentos

por Fornecedor, o que contraria o artigo 2º do Regulamento de Licitações e

Contratos do Sesc (Anexo I da Resolução 1.252/2012) e os princípios que devem

ser observados nos processos licitatórios, especialmente os princípios da

impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da probidade, da competitividade,

da legalidade, da vinculação ao instrumento convocatório e do julgamento

objetivo;

g) determinar, nos termos dos artigos 234, § 4º, e 250, inciso II, do

Regimento Interno do TCU, à Secretaria de Controle Externo em Rondônia que

monitore as medidas determinadas ao Serviço Social do Comércio –

Administração Regional no Estado de Rondônia (Sesc-AR/RO);

h) dar ciência do acórdão que vier a ser proferido, assim como do relatório e do voto que o fundamentarem, à Federação das Entidades Estaduais das Micro e Pequenas Empresas do Estado de Rondônia – FEEMPI e ao Serviço Social do Comércio – Administração Regional no Estado de Rondônia (Sesc-AR/RO).

É o relatório.

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VOTO

Como visto no relatório precedente, examina-se representação acerca da ocorrência de indícios de irregularidades na contratação de empregados e na realização de procedimentos licitatórios no Serviço Social do Comércio – Administração Regional no Estado de Rondônia (Sesc/RO).

2. À guisa de breve recapitulação dos fatos, a representação em tela decorreu do Ofício 116/12/PRESIFEEMPL, de 4/4/2012 (peça 1), subscrito pelo Diretor-Presidente da Federação das Entidades Estaduais das Micro e Pequenas Empresas do Estado de Rondônia (Feempi), Sr. Leonardo Heuler Calmon Sobral e que, remetido circularmente a diversos órgãos de controle (v.g. Ministério Público Federal - MPF, Controladoria-Geral da União – CGU, Departamento de Policia Federal em Rondônia – DPF/RO etc.), continha documentação recebida de forma anônima naquela entidade que indicava a existência de uma série de irregularidades praticadas no Sesc/RO, entre elas parentes do presidente e de diretores contratados pela entidade, e licitações dispensadas que privilegiariam empresas de propriedade do presidente, de parentes e de diretores de entidades vinculadas à unidade regional do Serviço Social do Comércio (Sesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac).

3. Por meio do Acórdão 904/2013, desta 2ª Câmara, a representação foi inicialmente conhecida e, pelo citado aresto, foi autorizada, para sanear o feito, inspeção no ente jurisdicionado.

4. Colhidos por meio da medida saneadora os elementos necessários à uma melhor caracterização dos fatos (cf. itens 4 a 6 da instrução, reproduzida no relatório antecedente), restaram comprovadas as seguintes irregularidades:

i. dispensa de licitação da empresa C. G. Comercial Ltda. – ME, que tem como proprietários José Sálvio Coelho e Riviany Araújo Coelho, respectivamente pai e irmã do Sr. Raniery Araújo Coelho, Presidente do Sesc/RO;

ii. homologação do Pregão Presencial 12/0031-PG contendo exigência de que uma mesma empresa prestasse serviços que são realizados por empresas de naturezas/atividades diferentes, restringindo a competitividade do certame e contrariando o Regulamento de Licitações e Contratos do Sesc e os princípios do processo licitatório;

iii. contratação e manutenção em cargo comissionado da Sras. Maria do Socorro Pinheiro Lima e Carmelita Almeida Barbosa, parentes de suplentes de Delegados representantes da Federação do Comércio de Rondônia (Fecomércio/RO) junto à Confederação Nacional do Comércio (CNC), membro do Conselho Regional do

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Serviço Nacional de Aprendizagem em Rondônia (Senac/RO) e representante efetivo do Conselho Regional do Senac/RO junto ao Conselho Nacional do Senac.

5. Nesse contexto, após ordenadas em 18/5/2015, por delegação (peça 34), foram realizadas as audiências do Sr. Raniery Araújo Coelho, Presidente do Sesc/RO, em razão das ocorrências listadas nos itens “i” a “iii”, e das Sras. Maria do Socorro Pinheiro Lima e Carmelita Almeida Barbosa, estas por força da irregularidade citada no item “iii”, conforme os ofícios 656/2015-TCU/SECEX-RO, de 18/5/2015 (peça 39), 1.013/2015-TCU/SECEX-RO, de 30/7/2015 (peça 57), e 1.132/2015-TCU/SECEX-RO, de 20/8/2015 (peça 60), cujas entregas foram comprovadas pelos AR de peças 42, 59 e 65, respectivamente.

6. Procedeu-se, ainda, na esteira do despacho ordinatório, conforme previsto no art. 250, V, do Regimento Interno do TCU (RITCU), as oitivas do Serviço Social do Comércio (Sesc/RO) e da empresa Lima & Paiva Ltda., para que se manifestassem sobre a irregularidade mencionada no item “ii”, medidas essas que foram levadas a efeito pelos Ofício 0659/2015-TCU/SECEX-RO, de 18/5/2015 (peça 36) e Ofício 0835/2015-TCU/SECEX-RO, de 15/6/2015 (peça 46), com comprovação de entrega consubstanciada, respectivamente, nas peças 43 e 54.

7. Uma vez apresentadas tempestivamente na forma das peças 48, 64, 66, 49 e 53, a unidade instrutiva analisou nos itens “8” a “14” da instrução as razões de justificativa e as respostas às oitivas.

8. Resumidamente, a Secex/RO alvitrou, quanto ao mérito:

i. pela rejeição da argumentação apresentada pelo presidente do Sesc/RO quanto à aquisição de mercadorias com dispensa de licitação junto à empresa C. G. Comercial Ltda. – ME, cujos sócios são José Sálvio Coelho e a Riviany Araújo Coelho (respectivamente pai e irmã do responsável), por violação aos princípios aplicados à Administração Pública, mormente os da impessoalidade, da moralidade e da igualdade, sem, todavia, propor a aplicação de sanção pecuniária ao mencionado gestor, isso em razão de que, embora irregulares, as 22 contratações verificadas entre julho de 2010 e dezembro de 2012 apresentaram montante reduzido, na casa de 45 mil reais, bastando dar-se ciência à entidade da irregularidade, de modo a que não sucedam outras ocorrências;

ii. pelo afastamento das razões de justificativa apresentadas pelo responsável Raniery Araújo Coelho e pelas Sras. Maria do Socorro Pinheiro Lima e Carmelita Almeida Barbosa, em razão da nomeação e manutenção dessas últimas, por aquele presidente do Sesc/RO, para ocuparem cargos em comissão na estrutura do Serviço Social, apesar de manterem vínculo de parentesco por afinidade com membros titular e/ou suplente, no Sesc/RO, na Fecomércio/RO, na CNC, e no Senac/RO, por infringência aos princípios constitucionais da legalidade, da impessoalidade e da moralidade, e a jurisprudência desta Corte, com a aplicação da multa capitulada no art. 58 da Lei Orgânica ao primeiro responsável e a emissão de determinação ao Sesc/RO para a adoção das providências visando à demissão das outras duas responsáveis dos cargos em comissão que ocupam na estrutura da entidade;

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iii. pelo não acolhimento tanto das razões de justificativa do Presidente do Sesc/RO quanto dos esclarecimentos fornecidos após a oitiva do ente jurisdicionado e da empresa Lima & Paiva Ltda., em razão da homologação, por aquela autoridade máxima, do Pregão Presencial 12/0031-PG, que redundou na contratação da sociedade empresarial, contendo exigência de que uma mesma empresa prestasse serviços que são ofertados por empresas de natureza/atividades diversas, e que, por não prever a divisão do objeto em itens/lotes específicos, restringiu a competitividade do certame, com a sugestão de aplicação da multa capitulada no art. 58 da Lei 8.443/1992 ao Sr. Raniery Araújo Coelho, além de determinação ao serviço Social em comento para que adote as medidas necessárias objetivando cancelar o Contrato de Prestação de Serviço firmado com a já citada Lima & Paiva Ltda.;

iv. pela ciência ao Sesc/RO das impropriedades identificadas.

9. Quanto ao mérito, anoto, desde já, que me ponho em linha de concordância com o essencial do encaminhamento propugnado pela Secex/RO, incorporando assim às minhas razões de decidir os argumentos declinados pela referida unidade instrutiva, sem prejuízo de tecer alguns comentários sobre os aspectos mais importantes em exame.

10. Primeiro, quanto à nomeação e manutenção das Sras. Maria do Socorro Pinheiro Lima e Carmelita Almeida Barbosa em cargos em comissão na estrutura do Sesc/RO, por ato de Presidente do ente jurisdicionado, apesar de as interessadas terem vínculo de parentesco por afinidade com membros titular e/ou suplente, no Serviço Social, na Fecomércio/RO, na CNC, e no Senac/RO, concordo com a unidade instrutiva no sentido de que tal prática configura afronta aos princípios constitucionais da legalidade, da impessoalidade e da moralidade, insculpidos no art. 37, caput, da Carta Política, e burla à pacífica jurisprudência desta Corte de Contas.

11. Observo que a Sra. Maria do Socorro Lima, como ela mesmo esclarece em suas razões de justificativa (peça 64), ocupa o cargo comissionado de Consultora da Presidência, após ter sido exonerada, anteriormente, do cargo em comissão de Assessora Técnico I, conforme a Portaria “E” Sesc/RO n° 2.126, de 17/10/2011, e é casada com Osmar Santana Lima, o qual, por sua vez, era, à época, suplente de Delegado representante da Fecomércio/RO junto à CNC, membro do Conselho Regional do Senac/RO e representante efetivo do Conselho Regional do Senac/RO junto ao Conselho Nacional do Senac. Atualmente, o Sr. Osmar Santana de Lima permanece na suplência de Delegado representante da Fecomércio/RO junto à CNC (http://fecomercio-ro.websiteseguro.com/site/index.php/ 2016-09-02-06-07-37/diretoria).

12. Já a Sra. Carmelita Almeida Barbosa, consoante inclusive suas razões de justificativa (peça 66), exerce desde 1º/9/2013, conforme a Portaria “E” do Sesc/RO nº 2.729, de 29/9/2013, o cargo de Gerente de Unidade I, Classe IV, em substituição ao de Gerente de Unidade III, Classe IV ― para o qual havia sido nomeada em 7/10/2010 ― e, “de fato, (...) vive em regime de união estável com José Ramalho de Lima”, o qual era, à época, membro efetivo do Conselho Regional do Sesc/RO, membro efetivo do Conselho Regional do Senac/RO e membro efetivo da Diretoria Executiva da Fecomércio/RO. Atualmente, segundo dados do Portal da Federação do Comércio em

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Rondônia (http://fecomercio-ro.websiteseguro.com/site/index.php/2016-09-02-06-07-37/diretoria), o Sr. José Ramalho de Lima ocupa o cargo de 1º Diretor Tesoureiro da entidade.

13. Tais situações impedem, à evidência, que as defendentes ocupem qualquer cargo em comissão na estrutura do Serviço Social do Comércio em Rondônia, não podendo os argumentos declinados pelas aludidas responsáveis e pelo Sr. Raniery Araújo Coelho serem aceitos.

14. Na espécie, não prospera o argumento de que inexiste disposição expressa no Decreto 61.836, de 5/12/1967, que aprovou o Regulamento do Sesc e deu outras providências, ou ainda na Resolução Sesc/RO 184, de 26/4/2001, que aprovou o Regulamento de Pessoal da entidade regional, para vedar a nomeação para cargo em comissão na estrutura do Serviço Social de cônjuge ou companheiro de integrantes do conselho regional e/ou representantes do Sistema Fecomércio/Sesc/Senac.

15. Na verdade, a vedação está, precipuamente, lastreada nos princípios constitucionais de observância obrigatória no âmbito da Administração pública, extensíveis, na forma da assentada jurisprudência desta Casa às entidades do “Sistema S”, isso porque gerenciam e aplicam contribuições parafiscais de recolhimento obrigatório, na forma do artigo 240 da Constituição Federal de 1988, caracterizadas portanto como dinheiro público, mormente os da moralidade e da impessoalidade, o que obriga a esses últimos a se submeterem ao controle exercido pelo TCU.

16. Nesse sentido são, por exemplo, a Decisão 907/1997, do Plenário, e os Acórdãos 1.461/2006, 2.606/2008, 3.044/2009, 1.770/2013, 3.249/2013, e 2.079/2015, também do Tribunal Pleno; 2.013/2003, 2.371/2003, 2.314/2004, 2.073/2004, 146/2007, 2.534/2009, e 6.045/2012, todos da 1ª Câmara; e 629/2001, 1.120/2003, 1.224/2003, 1.427/2003, 2.452/2004, 2.542/2004, e 728/2007, estes da 2ª Câmara. Por relevante, reproduzo, a seguir, o seguinte fragmento, extraído do voto condutor do Acórdão 2.079/2015-Plenário, relator Ministro-substituto Marcos Bemquerer Costa:

6. Preliminarmente, cabe ressaltar que os Serviços Sociais Autônomos administram recursos públicos de natureza tributária advindos de contribuições parafiscais, destinados à persecução de fins de interesse público. Em decorrência da natureza pública desses recursos, estão as entidades integrantes do denominado "Sistema S" submetidas ao controle externo exercido pelo Tribunal de Contas da União, nos termos do art. 5º, inciso V, da Lei n. 8.443/1992, e a elas se aplicam os princípios que regem a Administração Pública, nominados na cabeça do art. 37 da Constituição Federal. (destaquei)

17. De mais a mais, noto que o espírito do próprio art. 44 do Decreto 61.836/1967 foi nessa direção, ou seja, o de impedir que pessoas no mais estrito vínculo pessoal do gestor pudessem ocupar cargos comissionados nas estruturas das entidades e, assim, pudessem se beneficiar indevidamente durante esse exercício ou, ao menos, gerar conflito de interesses na hierarquia do ente. Veja-se a redação do aludido dispositivo:

Não poderão ser admitidos como servidores do Sesc, parentes até o terceiro grau civil (afim ou consanguíneo) do Presidente, ou dos membros, efetivos e suplentes, do Conselho Nacional e do Conselho Fiscal ou dos Conselhos Regionais do Sesc

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ou do Senac, bem como de dirigentes de entidades sindicais ou civis, do comércio, patronais ou de empregados. (grifo nosso)

18. A propósito, como bem anotado pela Secex/RO, conquanto não se aplique com identidade às entidades paraestatais, como sucede às do “Sistema S”, a Súmula Vinculante nº 13, aprovada na Sessão Plenária de 21/8/2008 pelo egrégio Supremo Tribunal Federal (STF), referido enunciado, de observância obrigatória para todo o Poder Judiciário e para a Administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, consoante a disciplina do art. 103-A da Constituição Federal, introduzido pela Emenda Constitucional 45, de 30/12/2004, deixou ainda mais claro a extensão de tal entendimento, expedindo determinação para que o gestor da coisa pública respeite os princípios constitucionais, mormente os estabelecidos no art. 37, caput, do Diploma Maior. Reproduzo, a seguir, o inteiro teor da referida súmula vinculante:

A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta, em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal. (grifos nossos)

19. Estabelecido, desse modo, que, a despeito de não existir norma que impeça o nepotismo ― sendo o caso da espécie ―, tal conduta é vedada pela Carta Maior por violação aos princípios nela dispostos, fica afastada qualquer intelecção anterior ao aludido regramento sumular no sentido de que haveria necessidade de diploma para expressamente disciplinar o nepotismo.

20. Anoto que a situação em tela guarda identidade com uma das três irregularidades que foram objeto, no mesmo período que o da ocorrência ora examinada, do Processo TC 013.174/2012-6, relatado pelo eminente Ministro-Substituto Marcos Bemquerer Costa e apreciado na sessão extraordinária de caráter reservado de 20/1/2016, redundando na prolação do Acórdão 55/2016, do Plenário, versando sobre ilicitudes, no âmbito do Senac/RO (entidade congênere que, por disposições legais e regulamentares, também é presidida pelo Presidente da Fecomércio e do Sesc) relacionadas à contratação de pessoal comissionado e permanente com vínculos de parentesco com dirigentes e representantes do Sistema Fecomércio/Sesc/Senac, bem assim à compra de mercadorias de empresas vinculadas a essas pessoas e, ainda, à exigência de que uma mesma empresa prestasse serviços que são realizados por empresas de natureza/atividades diferentes, com restrição da competitividade do certame.

21. Nesse contexto, registro que, naquela oportunidade, o egrégio Tribunal Pleno, por meio do aresto mencionado, concluiu por afastar as razões de justificativa e os esclarecimentos prestados em resposta às audiências promovidas, restando caracterizada a irregularidade da manutenção, pelo Sr. Raniery Araújo Coelho,

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Presidente do Senac/RO, da Sra. Giselle Araújo dos Santos, sua cônjuge/companheira, em cargo comissionado de Consultora e da função gratificada de Diretora da Divisão Administrativa e Financeira do Senac/RO.

22. Isso posto, esta Corte, em face de terem sido contrariados os princípios constitucionais da legalidade, da impessoalidade e da moralidade (art. 37, caput, da Constituição Federal de 1988), aplicou ao mencionado dirigente máximo a multa capitulada no art. 58 da Lei Orgânica, e fixou prazo ao Senac/RO para que adotasse as providências necessárias com vistas à regularização da situação da empregada Giselle Araújo dos Santos.

23. Por pertinente, reproduzo excerto do voto condutor do já citado Acórdão 55/2016-Plenário que abordou a questão, vez que perfeitamente aplicável ao presente exame:

11. Relativamente ao ato envolvendo a Sra. Giselle Araújo dos Santos, cabe rememorar, desde logo, que, segundo a jurisprudência dominante deste Tribunal (Acórdãos ns. 2.455/2012 e 843/2015, ambos deste Plenário, entre outros julgados), as entidades do “Sistema S” estão sujeitas aos princípios consubstanciados no art. 37 da Constituição Federal, devendo observar especialmente os princípios da moralidade, da impessoalidade e da isonomia, sendo vedada a nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, para o seu quadro de funções de confiança. 12. Nessa linha de entendimento, trago, a título de exemplo, parte do Voto que fundamentou o Acórdão n. 843/2015 – Plenário, da relatoria do Ministro Augusto Nardes, que tratou de situação assemelhada à posta nestes autos:

“Entretanto, o responsável não justifica as nomeações das Sras. Irlanda

Cavalcante de Castro (sobrinha), Marília Costa Arcoverde (nora) e Aline

Beatriz D. de Carvalho Aguiar (sobrinha) para cargo em comissão, durante a

sua gestão, caracterizando beneficiamento pessoal, em desacordo com os

princípios da imparcialidade, moralidade e isonomia.

18. Em reforço a essa convicção, reproduzo trecho da instrução

preliminar (peça 15), que melhor representa a jurisprudência do Tribunal

em relação ao “Sistema S”:

‘12.1.5 Além do disposto acima, as entidades do “Sistema S’

estão sujeitas às normas gerais consubstanciadas no artigo 37 da

Constituição Federal vigente, no que diz respeito à admissão de

pessoal e à contratação de obras/serviços e às aquisições, devendo

observar, especialmente, os princípios da moralidade,

impessoalidade e isonomia. É o que se depreende da jurisprudência

deste Tribunal (Decisão 907/1997-P; Acórdãos 2.013/2003,

2.371/2003, 2.314/2004; 2.073/2004; 146/2007- 1ª Câmara;

30

629/2001, 1.120/2003, 1.224/2003 1.427/2003, 2.452/2004,

2.542/2004-2ª Câmara; 1461/2006-Plenário). O entendimento desta

Colenda Corte parte da premissa de que as entidades em tela

prestam serviços de interesse público ou social, são beneficiadas com

recursos oriundos de contribuições parafiscais pelos quais hão de

prestar contas à sociedade.

12.1.6 Convém, ainda, observar que a vedação para a nomeação de

cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por

afinidade, até o terceiro grau, nos normativos que tratam da matéria:

Súmula Vinculante do SFT n. 13; Decreto 7.203/2010 (Regimento

Interno do STF), Resolução n. 7/2005 do Conselho Nacional de Justiça

e Lei n. 9.427/1996 (Regime Jurídico dos Servidores do Poder

Judiciário da União), dizem respeito a cargo em comissão ou função

comissionada, e não para cargo efetivo. Já no Regulamento do Sesc a

proibição é indistinta.’

13. No caso ora em exame, tanto a Sra. Giselle Araújo dos Santos quanto o

Presidente do Senac/RO ofereceram razões de justificativa no sentido de que a

contratação ocorreu na época em que Sr. Raniery Araújo Coelho não era

Presidente do Senac, e que a empregada mantém conduta compatível com a

função/cargo, não sendo verificados benefícios em seu favor.

14. Importa lembrar que o Sr. Raniery não foi ouvido em razão da contratação, mas por manter cônjuge/companheira em cargo comissionado e em função gratificada. 15. A Secex/RO confirma que a nomeação da Sra. Giselle Araújo dos Santos se deu sob a gestão do Sr. Francisco Teixeira Linhares, presidente falecido em maio de 2010. Todavia, o ato de nomeação ocorreu no dia seguinte à eleição do Sr. Raniery Araújo Coelho para o cargo de vice-presidente da Fecomécio/RO. 16. Ademais, com a posse no mencionado cargo, em junho de 2004, o Sr. Raniery também passou a ser dirigente do Senac/RO (assumia a presidência do Senac/RO nas ausências do Sr. Francisco Teixeira Linhares). Após o falecimento do Sr. Francisco Teixeira Linhares, ocorrido em 8/5/2010, o Sr. Raniery assumiu de forma permanente a administração da Fecomércio/RO, do Sesc/RO e do Senac/RO, sendo que, em 2014, ele foi eleito presidente do referido Sistema, para o período de 23/06/2014 a 22/06/2018. 17. Com base nas informações acima, entendo, em consonância com a unidade técnica, que a manutenção da Sra. Giselle Araújo dos Santos em cargo comissionado de Consultora e na função gratificada de Diretora da Divisão Administrativa e Financeira do Senac/RO contrariou os princípios constitucionais da legalidade, da impessoalidade e da moralidade (art. 37, caput, da CF).

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18. O cargo comissionado e a função gratificada exercidos pela Sra. Giselle Araújo dos Santos, bem como os cargos comissionados exercidos pelos demais diretores, são de livre nomeação do Presidente do Senac/RO e, por sua própria natureza, têm caráter provisório/transitório. 19. Ainda que o responsável tenha optado por manter no cargo os diretores nomeados pelo anterior presidente, não poderia manter em cargo comissionado e/ou função gratificada cônjuge/companheira ou parentes (afins ou consanguíneos), em razão da vedação constitucional referida.

24. Registro que essa intelecção, especificamente quanto aos entes do “Sistema S”, de ser vedado aos dirigentes das entidades dele integrantes a nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, para o quadro de funções de confiança das entidades, por representar ofensa aos princípios constitucionais declinados no art. 37 da Carta Maior, já se encontrava assentada na jurisprudência da Corte, sendo claros exemplos os Acórdãos 2.063/2010 e 843/2015, do Plenário, este último por mim relatado, como aliás anotado no voto condutor do Acórdão 55/2016-TCU-Plenário.

25. A propósito, os enunciados jurisprudenciais extraídos dos Acórdãos 2.063/2010, 843/2015 e 55/2016, e presentes na ferramenta informatizada “Jurisprudência selecionada”, constante da Portal do TCU, conquanto não reproduzam a expressa dicção emanada pelo Colegiado Pleno, bem representam a essência de cada decisum, e constam com as seguintes redações, de igual valor:

Acórdão 2.063/2010-TCU-Plenário

A contratação de parentes de dirigentes e conselheiros de entidades do “Sistema S”, sem processo seletivo, para o exercício de funções de assessoria vai de encontro aos princípios constitucionais da Administração Pública, em especial os da moralidade e impessoalidade, os quais devem ser observados por tais entidades. Não é importante a qualificação profissional dos parentes contratados, já que a condição necessária e suficiente para a configuração do nepotismo é justamente o grau de parentesco.

Acórdão 843/2015-TCU-Plenário

As entidades do “Sistema S” estão sujeitas às normas gerais consubstanciadas no art. 37 da Constituição Federal no que diz respeito à admissão de pessoal, devendo observar especialmente os princípios da moralidade, da impessoalidade e da isonomia, sendo vedada a nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, para o seu quadro de funções de confiança, consoante o disposto na Súmula Vinculante 13/STF.

Acórdão 55/2016-TCU-Plenário

É vedado aos dirigentes das entidades do “Sistema S” a nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, para o quadro de funções de confiança das entidades, uma vez que estas estão sujeitas aos princípios consubstanciados no art. 37 da Constituição Federal, especialmente os da moralidade, da impessoalidade e da isonomia.

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26. Pelas razões antes declinadas, rechaço a argumentação dos defendentes, funcionárias comissionadas e Presidente do Sesc/RO, entendendo que a tipificação da conduta deste último merece a reprimenda capitulada no art. 58, II, da Lei 8.442/1992, bem assim que esta Corte fixe prazo para que o Sesc/RO regularize as situações das Sras. Maria do Socorro Pinheiro Lima e Carmelita Almeida Barbosa.

27. No que concerne à irregularidade atinente à homologação do Pregão Presencial 12/0031-PG contendo exigência de que uma mesma empresa viesse a prestar serviços que são realizados por empresas de naturezas/atividades diferentes, acarretando restrição da competitividade do certame e infringindo o próprio Regulamento de Licitações e Contratos do Sesc, bem assim os princípios do processo licitatório, também me ponho de acordo com a intelecção da Secex/RO.

28. No caso concreto, o instrumento convocatório do Pregão Presencial 12/0031-PG previu que a mesma empresa que viesse a prestar os serviços de manutenção em ar-condicionado de uso predial também deveria realizar a manutenção em ar-condicionado de uso automotivo, consoante se extrai do item 2.1 e seguintes do edital (peça 21, fls. 60-68). Por exemplo, o item 2.1 teve a seguinte redação:

2.1 - Constitui-se objeto deste selecionar propostas para PREGÃO PRESENCIAL visando eventual contratação de empresa especializada para limpeza e manutenção de Aparelhos e Centrais de Ar condicionados e Ar Condicionado Veicular, para atender as unidades do Sesc/RO: Esplanada, Centro, Campestre, Nova Mamoré, Ariquemes, Ji-Paraná, Presidente Médici e Vilhena, para um período de 12 (doze) meses, podendo ser prorrogado por mais 48 meses. (grifo nosso)

29. Já o item “3. DAS CONDIÇÕES DE EXECUÇÃO DOS SERVIÇOS”, conteve a seguinte especificação:

3.1 - A Contratada efetuará os serviços de Manutenção e Conservação Corretiva e Preventiva em 14 (quatorze) veículos que atende as Unidades Operacionais do SESC/RO.

3.1.1 - A Contratada efetuará a cada 90 (noventa) dias a limpeza e higienização dos aparelhos de Ar Veicular.

3.2 - A Contratada efetuará os serviços de Manutenção e Conservação Corretiva e Preventiva em 122 (cento e vinte e dois) Centrais de Ar Condicionado e 40 (quarenta) Aparelhos de Ar Condicionado (tipo janela), instalados nas dependências das Unidades Operacionais SESC/RO.

3.2.1 - A Contratada efetuará a cada 15 (quinze) dias a limpeza dos filtros e painéis de todos os aparelhos Centrais de Ar.

3.3 - A Contratada efetuará trimestralmente a limpeza dos filtros e painéis de todos os aparelhos Centrais de Ar, sendo:

(...)

30. Observa-se, claramente, que tal disciplinamento deixou de prever a divisão em itens/lotes específicos, vez que os serviços a serem contratados ― manutenção de ar-condicionado predial e de uso automotivo ― são prestados por empresas atuam em

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mercados distintos, visto serem de natureza diferentes, ocasionando, ipso facto, restrição à competitividade do certame.

31. Tal constatação é ratificada pela Secex/RO pelo fato de que apenas duas empresas compareceram e foram habilitadas para a oferta de lances, ao passo que em certames na forma eletrônica com objeto semelhante, embora sem a aludida exigência, muito mais empresas teriam acorrido, sido habilitadas e participado da fase de lances. A unidade instrutiva cita, assim, 7 (sete) pregões eletrônicos realizados por órgãos e entidades federais no estado de Rondônia, nos quais, em média, 7 (sete) de empresas foram habilitadas.

32. Em reforço, a unidade instrutiva menciona que, a partir de consulta ao portal de compras do governo federal (Comprasnet), 46 (quarenta e seis) pregões foram realizados no estado de Rondônia no período de 1º/1/2012 a 31/12/2014, cujo objeto incluía manutenção preventiva em aparelhos de ar condicionado predial, ao passo que outros 4 (quatro) previam no objeto a manutenção preventiva em aparelhos de ar condicionado automotivo, o que, a seu ver, demonstra serem distintos os mercados para os serviços em questão.

33. Tais registros, aliadas à avaliação da unidade técnica quanto à falta de economicidade do certame ― que, embora não objeto da audiência ou mesmo de apontamento inicial ― feita a partir da comparação entre os preços praticados no Pregão Presencial 12/0031-PG, levado a efeito pelo Sesc/RO em 2012 e vencido pela empresa Lima & Paiva Ltda., superiores àqueles constantes do Pregão Eletrônico 0038/2014, conduzido pelo Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia (TRE/RO) no mês de dezembro de 2014, portanto cerca de dois anos depois, ratifica a sua posição pela ocorrência da restrição da competitividade.

34. Observo, de igual modo, que o entendimento sumulado por esta Corte, na forma do Enunciado 247, aprovado pelo Tribunal Pleno na sessão de 10/11/2004, conforme o Acórdão 1.783, do Plenário, exige, sempre que possível, a divisão do objeto, bem assim a sua adjudicação por itens. Veja-se o teor do aludido verbete:

É obrigatória a admissão da adjudicação por item e não por preço global, nos editais das licitações para a contratação de obras, serviços, compras e alienações, cujo objeto seja divisível, desde que não haja prejuízo para o conjunto ou complexo ou perda de economia de escala, tendo em vista o objetivo de propiciar a ampla participação de licitantes que, embora não dispondo de capacidade para a execução, fornecimento ou aquisição da totalidade do objeto, possam fazê-lo com relação a itens ou unidades autônomas, devendo as exigências de habilitação adequar-se a essa divisibilidade.

35. Embora não tenha sido objeto da audiência dirigida ao presidente do Sesc/RO, e o Regulamento de Licitações e Contratos do Sesc vede tão-só a participação de dirigente ou de empregado da entidade em certames licitatórios por ela promovidos, não incluindo a participação de dirigentes e/ou representantes da Fecomércio/RO ou do Senac/RO (cf. o art. 39), a existência de vínculos entre os sócios e ex-sócios da Lima & Paiva Ltda., vencedora do pregão eletrônico em exame, com membros das entidades

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integrantes do Sistema Fecomércio/Sesc/Senac em Rondônia é outro aspecto mencionado pela Secex/RO que levanta dúvidas sobre a impessoalidade do certame.

36. À época, a Lima & Paiva tinha como sócio, desde 3/2/1999, o Sr. Franklin da Providência Paiva, o qual também participava do Conselho Fiscal da Fecomércio/RO. Além disso, a empresa contou em seu quadro societário até maio de 2012 com o Sr. Osmar Santana Lima, então sócio administrador e, ao tempo da contratação, como visto no item 11 deste voto, também membro do Conselho Regional do Senac/RO e Delegado representante da Fecomércio junto à CNC e, atualmente, ocupa a suplência de Delegado representante da Federação local junto à Confederação Nacional do Comércio.

37. A propósito, chamo a atenção, novamente, para o Acórdão 55/2016, do Plenário, o qual, como já anotei no item 21, retro, abordou irregularidades praticadas no âmbito do Senac/RO relativas à exigência de que uma mesma empresa prestasse serviços que são realizados por empresas de natureza/atividades diferentes, com restrição da competitividade do certame.

38. In casu, o Pregão Presencial 007/2012, conduzido pelo Senac/RO, teve identidade de objeto e empresa, ou seja, buscou contratar empresa que viesse a prestar os serviços de manutenção em ar-condicionado de uso predial concomitantemente com a realização da manutenção em ar-condicionado de uso automotivo, e foi vencido pela Lima & Paiva Ltda.

39. Também por pertinente à análise ora empreendida, transcrevo, a seguir, o fragmento do voto condutor do Acórdão 55/2016-Plenário que abordou a questão e, ao final, considerou irregular a prática, culminando com a aplicação da sanção do art. 58 da Lei Orgânica do TCU (LOTCU):

28. Outra ocorrência tratada nesta Representação se refere ao Pregão Presencial 007/2012, o qual continha exigência de que uma mesma empresa prestasse serviços que são realizados por empresas de natureza/atividades diferentes, restringindo a competitividade do certame e contrariando o artigo 2º do Regulamento de Licitações e Contratos do Senac e os princípios do processo licitatório, quais sejam, os da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da probidade, da competitividade, da legalidade e do julgamento objetivo. 29. Foi promovida a audiência do Sr. Osvino Juraszek, delegado representante do Presidente do Senac/RO, por autorizar/homologar o referido Pregão, nas condições caracterizadas pela Secex/RO. O edital vinculado ao Pregão Presencial 007/2012 continha exigência indevida de que uma mesma empresa prestasse os serviços de manutenção em ar-condicionado de uso predial e de manutenção em ar-condicionado de uso automotivo (mesmo lote). Tais serviços, no comércio, são prestados por empresas de natureza/atividades diferentes, sendo que até os fabricantes dos aparelhos são diferentes, o que demonstra a existência de mercados distintos. 30. Como não se veem empresas que realizam ambos os serviços de

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forma concomitante, fazer tal exigência restringe em demasia a competitividade e levanta dúvidas acerca da impessoalidade da licitação, principalmente se for considerado que o antigo sócio da única empresa que apresentou proposta, Osmar Santana Lima (sócio administrador da empresa Lima & Paiva Ltda. – ME até maio de 2012), faz parte do Conselho Regional do Senac/RO (peça 9, p. 211, e TC 029.636/2013-2, peça 2, p. 6).

40. Isso posto, cabível a multa capitulada no art. 58 da LOTCU ao Sr. Raniery Araújo Coelho, Presidente do Sesc/RO, por ter homologado o Pregão Presencial 12/0031-PG com exigências que restringiram o caráter competitivo do certame.

41. Quanto a este tópico, examino, ainda, a proposta de Secex/RO de que se fixe prazo para que o Sesc/RO adote as medidas visando à rescisão do Contrato RO-2013-CS-001, firmado com a Lima & Paiva Ltda. e decorrente do Pregão Presencial 12/0031-PG.

42. Nesse sentido, observo que no Acórdão 55/2016, o Plenário deixou de acolher idêntica proposta alvitrada pela unidade instrutiva, ou seja, o de anotar prazo para a rescisão do Contrato 049/2012, celebrado entre o Senac/RO e a empresa Lima & Paiva, em decorrência do Pregão Presencial 007/2012.

43. Tal se deu em razão de que, embora passível de ser prorrogado por até 48 meses, por termo aditivo, não estaria ocorrendo a firmatura de aditivos para a extensão de prazo de vigência, e estaria previsto para agosto último o término contratual.

44. Muito embora não tenham sido coligidas aos autos muitas informações dessa natureza a respeito do Contrato RO-2013-CS-001, observo que em relação ao ajuste, firmado em 26/12/2012 e vigorando por 12 (doze) meses a partir de 1º/1/2013 (peça 22, fls. 62-69), consta ao menos um aditivo firmado, relativo a prorrogação do prazo de vigência, no caso o Primeiro Termo Aditivo, que estabeleceu o mesmo passar a viger no período de 2/1/2014 a 1º/1/2015 (peça 22, fls. 81-82).

45. Afora esse fato, colho do Relatório de Gestão do Sesc/RO, disponível na Portal da entidade (http://sescro.blogspot.com.br/p/blog-page_28.html), especificamente do “Quadro 46 – Contratos de Prestação de Serviços com Locação de Mão de Obra”, que o contrato alusivo ao Pregão Presencial 12/0031-PG, que tem como contratada a empresa de CNPJ 02.971.735/0001-98 (no caso, a Lima & Paiva Ltda.), tem previsão de término para 2/1/2017.

46. Assim, estaria inclinado a adotar encaminhamento similar ao adotado pelo relator do Acórdão 55/2016-Plenário, vez que resta menos de 3 meses para o fim da vigência do ajuste eivado de irregularidade.

47. Ocorre que, como estabelecido na Cláusula Quarta do Contrato RO-2013-CS-001, pode o referido ajuste ser prorrogado, “de comum acordo, por períodos iguais e sucessivos até o limite máximo de 60 (sessenta) meses, conforme [o] art. 26 da Resolução Sesc nº 1.252 de 01.Ago.2012, através de Termo Aditivo (...)”.

48. Nessa toada, de modo a prevenir a continuidade do ajuste, eis que maculado pela restrição à competição no certame que o precedeu, necessário dirigir comando ao

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Serviço Social do Comércio em Rondônia para que se abstenha de firmar qualquer outro aditivo de extensão de prazo alusivo ao Contrato RO-2013-CS-001, decorrente do Pregão Presencial 12/0031-PG.

49. Finalmente, no que concerne à contratação, por dispensa de licitação, da C. G. Comercial Ltda. – ME, cujos sócios tem grau de parentesco direto com o Presidente do Sesc/RO, é correto o entendimento da unidade instrutiva de que tal fato viola o ordenamento jurídico.

50. Ainda que, de um lado, as entidades do “Sistema S” não se submetam à legislação federal específica sobre licitações, a exemplo da Lei 8.666, de 21/6/1993, e a Lei do Pregão, e de outro, o Regulamento de Licitações e Contratos do Sesc, alterado, modificado e consolidado pela Resolução 1.252, de 6/6/2012, contenha vedação tão-só dirigida a dirigente ou empregado da entidade para participar de licitações ou contratar com o aludido Serviço Social (Anexo I, art. 40), é dever de tais entes, como já visto, e na esteira da já consolidada jurisprudência desta Corte, observarem os princípios constitucionais aplicados à Administração Pública, vez que gerenciam e aplicam contribuições parafiscais de recolhimento obrigatório e consideradas recursos públicos.

51. Com efeito, a contratação da C. G. Comercial Ltda. – ME, que pertence ao pai e à irmã do Presidente do Sesc/RO infringe essa lógica, especialmente violando os princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, bem assim, no espectro das licitações, os da igualdade, competitividade, e da vinculação ao instrumento convocatório e do julgamento objetivo, todos, aliás, integrando o rol declinado pelo art. 2º do próprio Regulamento de Licitações do Sesc e, como ali estabelecido, de observância estrita no âmbito da entidade.

52. No que concerne ao princípio da moralidade aplicado às licitações, o Subprocurador-Geral do Ministério Público junto a esta Corte, Lucas Rocha Furtado, afirma o seguinte:

A moralidade vincula tanto a conduta do administrador quanto a dos particulares que participam do processo de contratação. É a moralidade que deve impedir, por exemplo, a realização de conluio entre os licitantes ou a contratação de empresas de parentes dos administradores, ainda que se trate de hipótese de contratação direta prevista em lei. (FURTADO, Lucas Rocha. Curso de licitações e contratos administrativos. 5. ed. Belo Horizonte. 2015) (destaques nossos)

53. Pensamento similar é o de JUSTEN FILHO, para quem a relação de disposições legais e regulamentares impeditivas da participação de determinados agentes ou sociedades empresárias em procedimentos licitatórios é meramente exemplificativa, devendo prevalecer a principiologia constitucional aplicável à Administração Pública. Nesse sentido, ao se referir ao rol do artigo 9º da Lei de Licitações, o autor assim se posiciona:

“Não podem participar da licitação, ainda que tal não seja explicitamente indicado no ato convocatório, aqueles que, por sua situação subjetiva, estejam em condições de frustrar o cunho competitivo do certame. Estão abrangidas as hipóteses do art. 9º, da Lei 8.666/93, mas não apenas elas. Todo aquele que, por

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alguma via, tiver acesso a informações privilegiadas não poderá participar do certame, ainda quando não se vincule formalmente à Administração.

Aplica-se o princípio da moralidade, sem viabilidade de determinações precisas, rigorosas e exaustivas. Até é possível o ato convocatório conter cláusula genérica, mas a ausência de explícita previsão não será obstáculo à incidência de vedações derivadas dos princípios jurídicos fundamentais”. (JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 13. ed. São Paulo. 2009). (destaques nossos)

54. Além dos precedentes deste Tribunal citados pela Secex/RO que condenam condutas tais como a examinada, visto representarem situações evidentes de conflito de interesse nas licitações públicas (Acórdãos 778/2009, 1.170/2010, 1.893/2010 e 607/2011, do Plenário; 2.136/2006, da 1ª Câmara; e 1.785/2003, da 2ª Câmara), cito, na mesma linha, os Acórdãos 1.511/2013 e 1.941/2013, do Tribunal Pleno. Colho, a propósito, deste último aresto, o seguinte fragmento do voto condutor, da lavra do eminente Ministro José Múcio Monteiro:

9. A despeito de não haver, na Lei nº 8.666/1993, vedação expressa de contratação, pela Administração, de empresas pertencentes a parentes de gestores públicos envolvidos no processo, a jurisprudência desta Corte tem se firmado no sentido de considerar que há um evidente e indesejado conflito de interesses e que há violação dos princípios constitucionais da moralidade e da impessoalidade.

(grifo nosso)

55. Nessa mesma esteira também o Judiciário vem se posicionando pela garantia dos princípios constitucionais quando na seara das licitações públicas, mormente o da moralidade administrativa e o da impessoalidade.

56. Por exemplo, o egrégio Supremo Tribunal Federal (STF), ao ser instado a se manifestar sobre a inserção, em legislação local, de normas mais restritivas sobre a participação em licitações públicas, se posicionou pela constitucionalidade de tal previsão. Veja-se o seguinte julgado:

EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. LICITAÇÃO E CONTRATAÇÃO PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA MUNICIPAL. LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE BRUMADINHO/MG. VEDAÇÃO DE CONTRATAÇÃO COM O MUNICÍPIO DE PARENTES DO PREFEITO , VICE-PREFEITO, VEREADORES E OCUPANTES DE CARGOS EM COMISSÃO. CONSTITUCIONALIDADE . COMPETÊNCIA SUPLEMENTAR DOS MUNICÍPIOS. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO.

A Constituição Federal outorga à União a competência para editar normas gerais sobre licitação (art. 22, XXVII) e permite, portanto, que Estados e Municípios legislem para complementar as normas gerais e adaptá-las às suas realidades. O Supremo Tribunal Federal firmou orientação no sentido de que as normas locais sobre licitação devem observar o art. 37, XXI da Constituição, assegurando “a igualdade de condições de todos os concorrentes”. Precedentes. Dentro da permissão constitucional para legislar sobre normas específicas em matéria de

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licitação, é de se louvar a iniciativa do Município de Brumadinho-MG de tratar, em sua Lei Orgânica, de tema dos mais relevantes em nossa pólis, que é a moralidade administrativa, princípio-guia de toda a atividade estatal, nos termos do art. 37, caput da Constituição Federal. A proibição de contratação com o Município dos parentes, afins ou consanguíneos, do prefeito, do vice-prefeito, dos vereadores e dos ocupantes de cargo em comissão ou função de confiança, bem como dos servidores e empregados públicos municipais, até seis meses após o fim do exercício das respectivas funções, é norma que evidentemente homenageia os princípios da impessoalidade e da moralidade administrativa, prevenindo eventuais lesões ao interesse público e ao patrimônio do Município, sem restringir a competição entre os licitantes. Inexistência de ofensa ao princípio da legalidade ou de invasão da competência da União para legislar sobre normas gerais de licitação. Recurso extraordinário provido. (RE 432.560/MG. 2ª Turma. Rel. Min. Joaquim Barbosa. Julg. 29/5/2012)

57. Quanto ao viés repressivo de condutas como as apontadas, na consideração de que configuram atos de improbidade administrativa, vale citar o seguinte julgado do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF/5):

PROCESSUAL CIVIL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. SENTENÇA QUE CONDENOU OS RÉUS ÀS SANÇÕES PRESENTES EM DISPOSITIVO DIVERSO. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. ADOÇÃO DA TÉCNICA DE FUNDAMENTAÇÃO PER RELATIONEM. POSSIBILIDADE. VEDAÇÃO DE CONTRATAÇÃO COM O MUNICÍPIO DE EMPRESAS CONTROLADAS POR PARENTES DO CHEFE DO EXECUTIVO. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. DESNECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DE PREJUÍZO. DIRECIONAMENTO ILÍCITO DE LICITAÇÃO CARACTERIZADOR DE DANO IN RE IPSA. IMPOSSIBILIDADE. FIXAÇÃO DAS SANÇÕES POR ATO DE IMPROBIDADE. PROPORCIONALIDADE. ALEGAÇÃO DE DESCONHECIMENTO DA SITUAÇÃO IRREGULAR PELA COMISSÃO DE LICITAÇÃO. VERIFICAÇÃO A PARTIR DAS PECULIARIDADES (E DAS PROVAS) DE CADA CASO CONCRETO. COMPROVAÇÃO, A PARTIR DE DOCUMENTOS JUNTADOS SOMENTE COM A APELAÇÃO, DA NÃO PARTICIPAÇÃO DAS FILHAS DE GESTOR PÚBLICO NAS CONDUTAS ÍMPROBAS PERPRETADAS PELAS EMPRESAS VENCEDORAS DA LICITAÇÃO. POSSIBILIDADE. EXCEPCIONALIDADE DA PROVA. PRESERVAÇÃO DA JUSTIÇA NO CASO CONCRETO. 1. (...) 4. O direcionamento ilícito de procedimento licitatório, ainda que não resulte de prejuízo material ao erário, atinge, pois, os fundamentos mais basilares da República, notadamente quando se verifica, como na espécie, a reprodução da antiquíssima cultura patrimonialista, a que confunde público e privado através, entre outras práticas, do favorecimento de familiares, chaga infamante da história institucional brasileira. Precedentes do STF e desta Corte. 5. Hipótese em que, 02 (duas) das 03 (três) empresas vencedoras da carta-convite tinham como integrantes de seu quadro societário parentes do gestor público que realizou e homologou a licitação, ilicitude esta que não fora identificada pelos integrantes da Comissão de Licitação responsável pela habilitação das empresas licitantes, nem tampouco reconhecida pelo genitor das sócias de algumas das

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empresas vencedoras e Prefeito da cidade de Pesqueira/PE, mesmo quando uma das empresas já tinha sido conduzida e gerenciada pelo ex-gestor público, que repassou suas cotas da empresa primeiro para sua esposa e, depois, para uma de suas filhas. (...) (TRF-5 - AC: 200983020014100, Relator: Desembargador Federal Luiz Alberto Gurgel de Faria, Data de Julgamento: 30/01/2014, Terceira Turma, Data de Publicação: 12/03/2014)

58. Portanto, sendo irregular a conduta inquinada, rejeito as razões de justificativa apresentadas pelo Sr. Raniery Araújo Coelho, Presidente do Sesc/RO, também no que respeita à dispensa de licitação da empresa C. G. Comercial Ltda. – ME, cujos proprietários são o Sr. José Sálvio Coelho e a Sra. Riviany Araújo Coelho, respectivamente pai e irmã do aludido gestor.

59. Nesse contexto, sou obrigado a divergir da Secex/RO quanto ao desfecho proposto no exame da irregularidade em questão.

60. Compreendo que, a par de as 22 (vinte e duas) contratações efetuadas pelo Sesc/RO da C. G. Comercial Ltda. entre julho de 2010 e dezembro de 2012 terem representado baixo valor, cerca de 45 mil reais, sobretudo frente ao orçamento executado pela entidade, que de acordo com dados disponíveis na rede mundial, foi de R$ 24.575.191,47 no exercício de 2013, R$ 27.044.418,73 no de 2014, e R$ 28.577.725,46 no de 2015, o comportamento impugnado, que vulnerou sobremaneira os princípios constitucionais aplicáveis aos atos de gestão dos dinheiros compulsoriamente arrecadados do cidadão, mormente os da moralidade e da impessoalidade, deve ser reprimido por esta Corte.

61. Assim, por considerar não ser suficiente a emissão de ciência à entidade da irregularidade, objetivando a não ocorrência de novas falhas, necessário cominar, em face da infração, ao Presidente do Sesc/RO, a multa capitulada no art. 58 da Lei Orgânica.

62. Ademais, ante essa última ocorrência, bem assim em razão da identificação de que, como visto nos itens 36 a 40, o sócio administrador da Lima & Paiva Ltda. – ME até maio de 2012, Sr. Osmar Santana Lima, fazia parte do Conselho Regional do Senac/RO e era Delegado representante da Fecomércio junto à CNC, cabível endereçar determinação ao Sesc/RO para que se abstenha de firmar contratos com empresas que detenham em seus quadros societários cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, do Presidente, ou dos membros, efetivos e suplentes, do Conselho Nacional e do Conselho Fiscal ou dos Conselhos Regionais do Sesc ou do Senac, bem como de dirigentes de entidades sindicais ou civis, do comércio, patronais ou de empregados, em razão de que tal prática possibilita o surgimento de conflito de interesses e representa infração aos princípios constitucionais declinados no art. 37 da Carta Maior, mormente os da moralidade, da impessoalidade e da isonomia.

63. Por derradeiro, anoto ter recebido, na manhã de ontem, dia 25, memorial subscrito por um dos patronos do Sr. Raniery Araújo Coelho, por meio do qual o

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referido dirigente do Sesc/RO apresenta “razões adversas” às conclusões exaradas pela Secex/RO, mediante “fatos, esclarecimentos e fundamentos complementares”.

64. Quanto aos referidos memoriais, esclareço que, nos termos do art. 160 do RITCU, a parte tem o direito de apresentar as suas alegações e/ou razões de justificativa dentro do prazo determinado na citação ou na audiência, bem assim juntar documentos novos até o término da etapa de instrução, que se caracteriza no momento em que o titular da unidade técnica emite o seu parecer conclusivo sobre o processo e, ainda, uma vez incluído o processo em pauta, apresentar memoriais aos ministros, aos ministros-substitutos e ao representante do Ministério Público.

65. Na mesma linha vão as disposições da Resolução-TCU 35, de 30/8/1995, que “estabelece procedimentos sobre o exercício da ampla defesa no âmbito do Tribunal de Contas da União”. Referido normativo disciplina, por exemplo, no art. 3º, que a apresentação de alegações de defesa ou razões de justificativa deve ocorrer “apenas dentro do prazo determinado quando da citação ou da audiência do responsável, salvo na hipótese de fato novo superveniente que afete o mérito do processo”. E, no art. 4º, que “o Relator não conhecerá de alegações de defesa ou razões de justificativa adicionais que contrariem o disposto no artigo anterior”.

66. Em outras palavras, encerrada a fase instrução, não cabe mais a juntada de novos elementos de defesa para fins de inovação de teses ou contraposição às conclusões da unidade responsável pelo exame da matéria, exceto na superveniência de fato que altere substancialmente o mérito do feito, sem embargo da possibilidade de a parte fazer distribuir memoriais informativos após a inclusão do processo na pauta de julgamentos.

67. Além disso, a Resolução-TCU 35/1995 estabelece, também, agora no art. 8º, que “as partes poderão requerer (...) juntada de documentos” (caput), pedido esse que “poderá ser indeferido se o respectivo processo já estiver incluído em pauta” (§2º).

68. A jurisprudência desta Casa ratifica as disposições precedentes, valendo destacar, a título de exemplos, os seguintes arestos: Acórdãos 1.302/2004, 1.521/2007, 2.279/2007, 96/2013, 1.887/2013 e 1.088/2016, do Plenário; 8.509/2013 e 689/2015, da 1ª Câmara; e 1.420/2008, 7.359/2014, 7.364/2014 e 11.380/2016, estes da 2ª Câmara. Reproduzo, por elucidativos, os seguintes fragmentos de votos condutores de algumas deliberações do Tribunal que bem assentam essa intelecção:

Acórdão 7.359/2014-TCU-2ª Câmara

6. Em outras palavras, os memoriais apresentados pelo Sr. Marcos de Queiroz

Ferreira pouco antes da sessão de 2ª Câmara ocorrida em 9/9/2014 deveriam

simplesmente sintetizar e/ou enfatizar o que foi arguido no recurso em

apreciação naquele momento, sendo-lhes defeso inovar nos argumentos ou na

documentação destinada a comprovar a boa e regular aplicação dos recursos em

tela.

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Acórdão 689/2015-TCU-1ª Câmara

Rejeito, também, o pedido do recorrente, no sentido de que o processo seja restituído à unidade técnica e ao Ministério Público, para manifestação acerca dos documentos intempestivamente trazidos aos autos (peça 106), porque o direito à juntada de documento novo encerra-se com o término da etapa de instrução. Nesses termos, a peça trazida tardiamente ao processo somente pode ser recebida como memorial (art. 160, §§ 1º e 3º, do Regimento Interno).

No caso concreto, já em grau de recurso o processo, os responsáveis tiveram todas as oportunidades de comprovar a regular aplicação dos recursos públicos e não o fizeram.

Não se obriga o relator a determinar a repetição de atos da instrução em razão da intempestiva apresentação de memorial. O teor dessa peça pode ser considerado ou ignorado pelo relator, a seu exclusivo juízo, sem que a negativa configure prejuízo à defesa ou nulidade da deliberação proferida, porque o memorial tem caráter meramente informativo, não se confundindo com a finalidade da peça homônima prevista no art. 454, § 3º, do CPC.

Acórdão 11.380/2016-TCU-2ª Câmara

9. É preciso ficar claro que os documentos novos a que alude o § 1º do art. 160 do Regimento Interno têm abrangência maior que a concebida pelos embargantes:

“Art. 160. As alegações de defesa e as razões de justificativa serão admitidas dentro do prazo determinado na citação ou na audiência. § 1º Desde a constituição do processo até o término da etapa de instrução, é facultada à parte a juntada de documentos novos. § 2º Considera-se terminada a etapa de instrução do processo no momento em que o titular da unidade técnica emitir seu parecer conclusivo, sem prejuízo do disposto no § 3º do art. 157. § 3º O disposto no § 1º não prejudica o direito da parte de distribuir, após a inclusão do processo em pauta, memorial aos ministros, ministros-substitutos e ao representante do Ministério Público.”

10. A interpretação sistemática das disposições do artigo denota que toda a argumentação de defesa e a documentação probatória devem ser apresentadas no prazo determinado na citação ou na audiência (caput), ressalvada a possibilidade de juntada de novos elementos até o término da etapa da instrução (§ 1º) e de distribuição de memoriais após inclusão do processo em pauta (§ 3º). Caso fosse permitido à parte “aditar” ou “reformular” suas justificativas após concluída a etapa da instrução não haveria necessidade de se destacar no § 3º a exceção relativa à faculdade conferida de distribuição de memoriais. (destaquei)

Acórdão 1.088/2016-TCU-Plenário

16. Preliminarmente, lembro que, nos termos do art. 160, §§ 1º e 2º, do Regimento Interno do TCU, a faculdade conferida à parte para juntar novos documentos ao processo se encerrou no momento em que o titular da unidade técnica emitiu seu parecer conclusivo. Ademais, por força da preclusão

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consumativa, que se operou com a interposição do presente pedido de reexame, não há amparo jurídico para a juntada de novos elementos relacionados a esta fase recursal. Contudo, em homenagem ao princípio da verdade material, admito a petição interposta pela APO como memorial, nos termos do art. 160, § 3º, do Regimento Interno.

69. Sem embargo, observo que a argumentação contida nos aludidos memoriais de interesse do Presidente do Sesc/RO em nada acresce à análise empreendida pela unidade instrutiva, vez que todos os argumentos aduzidos em sede de memoriais, além de repetirem aqueles coligidos nas razões de justificativa apresentadas pelo interessado, foram enfrentados pela Secex/RO e por este relator.

70. De mais a mais, a verificação pelo TCU da responsabilização do agente jurisdicionado prescinde de caracterização do dolo ou da culpa estrita, bastando a configuração da culpa lato sensu. Nesse sentido, sob a ótica do exame da responsabilidade subjetiva, basta a avaliação da ocorrência de imperícia, de imprudência ou de negligência na conduta.

71. Dito de outro modo, para esta Corte, a simples verificação da conduta culposa fundamenta a imposição de ressarcimento ao erário, bem assim, quando for o caso, a imputação de sanção pecuniária, tudo dentro das hipóteses previstas na LOTCU, não sendo imprescindível a atuação com dolo, má-fé ou comprovado locupletamento a fim de se puna o responsável. Corroborando esse entendimento vale citar os seguintes Acórdãos: 3.051/2008, 479/2010, 1.253/2011, 760/2013, 795/2014, 1.427/2015, 1.512/2015, 2.067/2015, 2.367/2015, 2.420/2015, 185/2016, 434/2016, 1.316/2016, 1.465/2016 e 2.494/2016, todos do Plenário; 123/2007 e 6.943/2015, estes da 1ª Câmara; e 1.952/2011, 3.874/2014, 6.479/2014 e 10.913/2016, da 2ª Câmara.

72. No processo em exame, e ao reverso que afirma o defendente, restou sobejamente comprovado nas irregularidades imputadas ao Sr. Raniery Araújo Coelho a sua conduta ao menos culposa, quando concorreu para: i. contratar, por licitação dispensada, empresa pertencente a pessoas com seu estreito vínculo de parentesco para fornecer mercadorias; ii. nomear e manter em cargos comissionados pessoas detentoras de vínculo de parentesco com outras ocupantes de cargos e funções na estrutura do Sesc/RO, do Senac/RO ou da Fecomércio/RO; e iii. homologar procedimento de pregão contendo restrição ao caráter competitivo do certame.

73. Ao encerrar, registro que, dada à gravidade das situações verificadas no âmbito do Sesc/RO, os precedentes invocados pelo responsável não são capazes de socorrê-lo, sendo mais consentâneo com o caso encaminhamento similar ao levado a efeito pelo egrégio Tribunal Pleno ao prolatar o já mencionado Acórdão 55/2016, relator Ministro-Substituto Marcos Bemquerer Costa, encaminhamento, aliás, com o qual me coloquei de acordo naquela ocasião.

Ante o exposto, reiterando minha concordância quanto à essência da proposta formulada pela Secex/RO, VOTO por que este Colegiado adote o acórdão que ora submeto à sua consideração.

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, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em tagDataSessao.

Ministro JOÃO AUGUSTO RIBEIRO NARDES

Relator

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ACÓRDÃO Nº 11516/2016 – TCU – 2ª Câmara

1. Processo nº TC 013.171/2012-7.

1.1. Apenso: 013.651/2012-9.

2. Grupo I – Classe de Assunto: VI – Representação.

3. Interessados/Responsáveis:

3.1. Interessado: Feempi - Federação das Entidades Estaduais das Micro e Pequenas Empresas

do Estado de Rondônia (05.521.010/0001-96).

3.2. Responsáveis: Carmelita Almeida Barbosa (271.196.701-82); Lima & Paiva Ltda. - ME

(02.971.735/0001-98); Maria do Socorro Pinheiro Lima (060.845.322-68); Raniery Araújo

Coelho (597.497.501-44).

4. Órgão/Entidade: Serviço Social do Comércio - Administração Regional no Estado de

Rondônia (Sesc/RO).

5. Relator: Ministro Augusto Nardes.

6. Representante do Ministério Público: não atuou.

7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado de Rondônia (Secex/RO).

8. Representação legal:

8.1. Luiz Carlos Braga de Figueiredo (16.010/OAB-DF), Breno Luiz Moreira Braga de Figueiredo

(26.291/OAB-DF) e outros, representando Raniery Araújo Coelho.

9. Acórdão:

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Representação formulada pelo Diretor-Presidente da Federação das Entidades Estaduais das Micro e Pequenas Empresas do Estado de Rondônia (Feempi) sobre irregularidades na contratação de empregados e na realização de procedimentos licitatórios no Serviço Social do Comércio – Administração Regional no Estado de Rondônia (Sesc/RO).

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ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da Segunda Câmara, diante das razões expostas pelo Relator, em:

9.1. com fundamento nos arts. 235 e 237, inciso IV, do Regimento Interno do TCU (RITCU), conhecer da presente representação para, no mérito, considerá-la procedente;

9.2. rejeitar as razões de justificativa apresentadas pelo Sr. Raniery Araújo Coelho (597.497.501-44), e pelas Sras. Carmelita Almeida Barbosa (271.196.701-82) e Maria do Socorro Pinheiro Lima (060.845.322-68);

9.3. em consequência ao disposto no subitem precedente:

9.3.1. com fulcro no art. 58, II, da Lei 8.443/1992, c/c art. 268, II, do Regimento

Interno do TCU (RITCU), aplicar multa ao Sr. Raniery Araújo Coelho (597.497.501-44) no valor

de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da

notificação, para que comprove perante o Tribunal (art. 23, inciso III, alínea “a” da Lei

8.443/1992 c/c o art. 214, inciso III, alínea “a” do RI/TCU) o recolhimento da dívida aos cofres

do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente, a contar da data deste Acórdão até a data

do efetivo recolhimento, caso não seja paga no prazo estabelecido, na forma da legislação em

vigor;

9.3.2. determinar ao Serviço Social do Comércio - Administração Regional no

Estado de Rondônia (Sesc/RO) que:

9.3.2.1. no prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da ciência deste Acórdão, adote

as providências necessárias com vistas à regularização das situações dos seguintes

empregados:

9.3.2.1.1. Sra. Carmelita Almeida Barbosa (271.196.701-82), ocupante de cargo

comissionado de Gerente de Unidade I, Classe IV, no Senac/RO, e companheira do Sr. José

Ramalho de Lima, ocupante do cargo de 1º Diretor Tesoureiro da Federação do Comércio em

Rondônia (Fecomércio/RO), o que contraria os princípios constitucionais da legalidade, da

impessoalidade e da moralidade (art. 37, caput, da CF), bem assim a jurisprudência do Tribunal

de Contas da União;

9.3.2.1.2. Sra. Maria do Socorro Pinheiro Lima (060.845.322-68), ocupante de

cargo comissionado de Consultora da Presidência, no Senac/RO, e casada com o Sr. Osmar

Santana Lima, suplência de Delegado representante da Fecomércio/RO junto à Confederação

Nacional do Comércio (CNC), o que contraria os princípios constitucionais da legalidade, da

impessoalidade e da moralidade (art. 37, caput, da CF), bem assim a jurisprudência do Tribunal

de Contas da União;

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9.3.2.2. abstenha-se de prorrogar para além de 1º/1/2017 o Contrato RO-2013-

CS-001, decorrente do Pregão Presencial 12/0031-PG, firmado com a empresa Lima & Paiva

Ltda. - ME (02.971.735/0001-98), e promova o competente procedimento licitatório para os

serviços objeto do aludido ajuste, escoimado dos vícios que, apontados neste processo,

macularam o referido certame;

9.3.2.3 abstenha-se de firmar contratos com empresas que detenham em seus

quadros societários cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por

afinidade, até o terceiro grau, do Presidente, ou dos membros, efetivos e suplentes, do

Conselho Nacional e do Conselho Fiscal ou dos Conselhos Regionais do Sesc ou do Senac, bem

como de dirigentes de entidades sindicais ou civis, do comércio, patronais ou de empregados,

em razão de tal prática possibilitar o surgimento de conflito de interesses e representar

infração aos princípios consubstanciados no art. 37 da Constituição Federal, especialmente os

da moralidade, da impessoalidade e da isonomia;

9.4. com fundamento no art. 28, inciso II, da Lei nº 8.443/1992, autorizar a

cobrança judicial da multa de que trata o item 9.3.1, caso não atendida a notificação;

9.5. dar ciência da presente deliberação aos responsáveis, ao Serviço Social do

Comércio - Administração Regional no Estado de Rondônia (Sesc/RO) e ao repersentante;

9.6. arquivar os presentes autos.

10. Ata n° 38/2016 – 2ª Câmara.

11. Data da Sessão: 25/10/2016 – Ordinária.

12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-11516-38/16-2.

13. Especificação do quorum:

13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente) e Augusto Nardes (Relator).

13.2. Ministros-Substitutos convocados: André Luís de Carvalho e Weder de Oliveira.

13.3. Ministro-Substituto presente: Marcos Bemquerer Costa.

(Assinado Eletronicamente) (Assinado Eletronicamente)

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RAIMUNDO CARREIRO AUGUSTO NARDES

Presidente Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)

CRISTINA MACHADO DA COSTA E SILVA

Subprocuradora-Geral