sumÁrio: pedidos de reexame em ... dos recursos do membro da equipe de apoio e do diretor...

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1 GRUPO II – CLASSE I – Plenário TC 026.021/2015-3 Natureza: Pedidos de Reexame (Representação). Unidade: Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz. Recorrentes: Davi José Franco da Silva (CPF 932.547.507-30), Hermano Albuquerque de Castro (CPF 549.490.257-91 e Maria José Lopes Martins (CPF 452.438.757-91). Representação legal: não há. SUMÁRIO: PEDIDOS DE REEXAME EM REPRESENTAÇÃO DE LICITANTE. PREGÃO ELETRÔNICO. DISCUSSÕES ACERCA DAS ATRIBUIÇÕES E RESPONSABILIDADES DA EQUIPE DE APOIO E DO ESCOPO DA FISCALIZAÇÃO A SER PROCEDIDA PELA AUTORIDADE QUE HOMOLOGA O CERTAME. PROVIMENTO DOS RECURSOS DO MEMBRO DA EQUIPE DE APOIO E DO DIRETOR RESPONSÁVEL PELA HOMOLOGAÇÃO. NEGATIVA DE PROVIMENTO AO RECURSO DA PREGOEIRA. RELATÓRIO Adoto como relatório a instrução elaborada na Secretaria de Recursos (Serur), acolhida pelos dirigentes daquela unidade: INTRODUÇÃO Cuidam os autos de pedidos de reexame interpostos por Hermano Albuquerque de Castro, Diretor da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP), unidade técnico-científica da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) (peça 84); Davi José Franco da Silva, membro da equipe de apoio dos pregoeiros da ENSP (peça 85); e Maria José Lopes Martins, servidora pública federal, pregoeira na ENSP (peça 86) contra o Acórdão 1405/2016 – TCU – Plenário (peça 67). 2. A deliberação recorrida tem o seguinte teor, destacando-se em negrito os itens em que houve sucumbência dos recorrentes (peça 67): ‘Considerando a perda do objeto da cautelar haja vista a publicação da revogação do certame pela Fiocruz, ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, ante as razões expostas pelo Relator, em: 9.1. conhecer da presente representação, uma vez satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos nos arts. 235 e 237 do Regimento Interno deste Tribunal c/c o art. 113, § 1º, da Lei 8.666/1993, para, no mérito, considerá-la parcialmente procedente; 9.2. acolher as razões de justificativa do responsável Marcos Ivan Neves de Carvalho; 9.3. rejeitar parcialmente as razões de justificativa apresentadas por Davi José Franco da Silva, analista administrativo, por Maria José Lopes Martins, pregoeira, e por Hermano Albuquerque de Castro, autoridade homologadora,

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GRUPO II – CLASSE I – Plenário TC 026.021/2015-3 Natureza: Pedidos de Reexame (Representação). Unidade: Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz. Recorrentes: Davi José Franco da Silva (CPF 932.547.507-30), Hermano Albuquerque de Castro (CPF 549.490.257-91 e Maria José Lopes Martins (CPF 452.438.757-91). Representação legal: não há. SUMÁRIO: PEDIDOS DE REEXAME EM REPRESENTAÇÃO DE LICITANTE. PREGÃO ELETRÔNICO. DISCUSSÕES ACERCA DAS ATRIBUIÇÕES E RESPONSABILIDADES DA EQUIPE DE APOIO E DO ESCOPO DA FISCALIZAÇÃO A SER PROCEDIDA PELA AUTORIDADE QUE HOMOLOGA O CERTAME. PROVIMENTO DOS RECURSOS DO MEMBRO DA EQUIPE DE APOIO E DO DIRETOR RESPONSÁVEL PELA HOMOLOGAÇÃO. NEGATIVA DE PROVIMENTO AO RECURSO DA PREGOEIRA.

RELATÓRIO

Adoto como relatório a instrução elaborada na Secretaria de Recursos

(Serur), acolhida pelos dirigentes daquela unidade: “INTRODUÇÃO Cuidam os autos de pedidos de reexame interpostos por Hermano Albuquerque de Castro, Diretor da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP), unidade técnico-científica da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) (peça 84); Davi José Franco da Silva, membro da equipe de apoio dos pregoeiros da ENSP (peça 85); e Maria José Lopes Martins, servidora pública federal, pregoeira na ENSP (peça 86) contra o Acórdão 1405/2016 – TCU – Plenário (peça 67). 2. A deliberação recorrida tem o seguinte teor, destacando-se em negrito os itens em que houve sucumbência dos recorrentes (peça 67):

‘Considerando a perda do objeto da cautelar haja vista a publicação da revogação do certame pela Fiocruz, ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, ante as razões expostas pelo Relator, em: 9.1. conhecer da presente representação, uma vez satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos nos arts. 235 e 237 do Regimento Interno deste Tribunal c/c o art. 113, § 1º, da Lei 8.666/1993, para, no mérito, considerá-la parcialmente procedente; 9.2. acolher as razões de justificativa do responsável Marcos Ivan Neves de Carvalho; 9.3. rejeitar parcialmente as razões de justificativa apresentadas por Davi José Franco da Silva, analista administrativo, por Maria José Lopes Martins, pregoeira, e por Hermano Albuquerque de Castro, autoridade homologadora,

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aplicando-lhes individualmente a multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei 8.443/1992, c/c o artigo 268, inciso II, do Regimento Interno, no valor de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais), com a fixação do prazo de quinze dias, a contar das notificações, para comprovarem, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea ‘a’, do RI/TCU), o recolhimento das dívidas ao Tesouro Nacional, atualizadas monetariamente a partir da data deste Acórdão até a do efetivo recolhimento, se forem pagas após o vencimento, na forma da legislação em vigor; 9.4. autorizar, desde logo, caso venha a ser solicitado pelos responsáveis, o pagamento parcelado da importância devida em até 36 (trinta e seis) parcelas mensais e consecutivas, com a fixação do prazo de 15 (quinze) dias, a contar da ciência da notificação, para comprovarem perante o Tribunal o recolhimento da primeira parcela, e de 30 (trinta) dias, a contar da parcela anterior, para comprovarem o recolhimento das demais parcelas, devendo incidir sobre cada parcela, corrigida monetariamente, os correspondentes acréscimos legais, na forma da legislação vigente, além de alertá-los de que a falta de comprovação do pagamento de qualquer parcela importará no vencimento antecipado do saldo devedor, nos termos do art. 26 da Lei 8.443/1992, c/c art. 217 do Regimento Interno do TCU; 9.5. determinar à Fiocruz, nos termos do art. 28, inciso I, da Lei 8.443/1992, que, caso não atendida a notificação, efetue o desconto da multa imputada da remuneração do responsável, em favor do Tesouro Nacional, na forma estabelecida pela legislação pertinente; 9.6. autorizar, desde logo, com fundamento no art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, caso não atendida a notificação e na impossibilidade de desconto em folha da multa aplicada, a cobrança judicial dos valores; 9.7. determinar, ainda, à Fiocruz que, no prazo de 90 dias, encerre eventuais contratos firmados com sua fundação de apoio que não se enquadrem no conceito de ‘projeto de ensino, pesquisa extensão, desenvolvimento institucional, científico e tecnológico e estímulo à inovação’, nos termos do art. 1.º, caput, da Lei 8.958/1994, c/c inciso XIII do art. 24 da Lei 8.666/1993, dando notícias ao TCU das medidas adotadas; 9.8. recomendar à Auditoria Interna (Audin) da Fiocruz que avalie a conveniência e oportunidade de conferir nas licitações, como foi verificado no presente processo, se possuem fonte comprovada os valores informados nos mapas de pesquisa de preço de mercado prévia à licitação feitos com participação de Davi José Franco da Silva e Maria José Lopes Martins; 9.9. dar ciência à Fiocruz de que a ausência de motivação no edital dos quantitativos mínimos exigidos para comprovação de capacidade técnica contraria o disposto no art. 30 da Lei 8.666/1993, no art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, e na Súmula-TCU 263/2011; 9.10. rejeitar o pedido de ingresso da representante Upgrade Eventos Corporativos Eireli - EPP como parte interessada nos autos, uma vez não haver demonstração legítima e comprovada de razão para intervir no processo, nos termos do art. 144, § 2º, do RITCU; 9.11. determinar à Secex-RJ que acompanhe a próxima licitação lançada pela Fiocruz com vistas à contratação do objeto em tela, a fim de verificar se foram corrigidas as falhas apontadas nesse processo; 9.12. dar ciência desta deliberação, acompanhada do relatório e voto que a

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fundamentam, à Fiocruz, aos responsáveis e à representante.’ (Grifo nosso) HISTÓRICO 3. Estes autos originaram-se de representação formulada por Upgrade Eventos Corporativos Eireli – EPP, em face de supostas irregularidades praticadas na condução do Pregão Eletrônico SRP 06/2015, posteriormente revogado. O referido certame tratou de licitação do tipo menor preço global, com valor máximo de R$ 23.757.555,00, promovida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para registro de preços apto a amparar contratação de empresa especializada em realização de eventos para atendimento ao escritório de projetos da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), dessa fundação usado nesse torneio (peças 1-5). 4. Após o saneamento prévio dos autos, o relator a quo conheceu da representação, uma vez satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos nos arts. 235 e 237 do Regimento Interno deste Tribunal c/c o art. 113, § 1º, da Lei 8.666/1993, e determinou, nos termos da instrução da unidade técnica (peça 64, p. 3/5):

‘a) cautelarmente, nos termos do art. 276, caput, do Regimento Interno/TCU, à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que se abstenha de realizar contratação baseada na Ata de Registro de Preços 72/2015, de 15/9/2015, publicada no DOU de 17/9/2015, resultante do Pregão Eletrônico SRP 06/2015, promovido para registro de preços apto a suportar contratação de empresa especializada em realização de eventos para atendimento ao escritório de projetos da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), até que seja proferida decisão de mérito sobre este processo; b) nos termos do art. 276, § 3º, do Regimento Interno/TCU, a oitiva da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para que, no prazo de quinze dias, apresente esclarecimentos sobre os seguintes aspectos, alertando-os quanto à possibilidade de o Tribunal vir a determinar a anulação, total ou parcial, da licitação e dos atos dela decorrentes: b.1) inabilitação indevida da representante autora de proposta cerca de R$ 1,4 milhão mais baixa do que a atual vencedora do certame; b.2) indeferimento da intenção de recurso tempestiva e motivada apresentada pela Upgrade Eventos Corporativos Eireli - EPP e ausência de resposta para o recurso interposto, cerceando-lhe o exercício de direito legal previsto no art. 109 da Lei 8.666/1993 e na Lei 10.520/2002, art. 4º, XVIII e XX; b.3) ausência de motivação para os quantitativos mínimos exigidos para comprovação da capacidade técnica, tendo constado do termo de referência (subitem 2.3.1) que o dimensionamento dos quantitativos resultou de um levantamento de necessidades do Complexo ENSP/Fiocruz que teve como parâmetro o limite orçamentário para novas contratações; c) com fundamento no art. 250, V, do Regimento Interno do TCU, a oitiva da Q2 Eventos Ltda. – EPP para, no prazo de quinze dias, em querendo, manifestar-se sobre os fatos acima, que podem resultar em decisão do Tribunal no sentido de determinar a anulação de atos praticados na condução do Pregão Eletrônico SRP 06/2015 ou a anulação da licitação integral e dos atos dela decorrente, incluindo da Ata de Registro de Preços publicada no DOU em 17/09/2015; d) realizar, com fundamento no art. 250, inciso IV, c/c o art. 237, parágrafo único, do RI/TCU, a audiência dos responsáveis a seguir indicados, para que, no prazo de quinze dias, apresentem razões de justificativa pelas

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irregularidades indicadas: d.1) Davi José Franco da Silva, analista administrativo responsável pela elaboração de mapa de cotação prévia de preços (peça 18, p. 6-7): d.1.1) baseada em adoção injustificada de valores arbitrários como médias, sem explicação dos motivos determinantes desta escolha, e em detrimento da adoção do menor preço de cada item prevista na Instrução Normativa-SLTI/MPOG 5/2014, art. 2º, § 2º, contrariando o disposto na Lei 9.784/1999, arts. 2 e 50, caput, I, e § 1º (itens 49-55 da instrução de peça 29); d.1.2) baseada em, entre outros, orçamento da empresa V3 Agência de Publicidade e Eventos Ltda., elaborado com preços inconsistentes e discrepantes, em média mais do que o quíntuplo (529,85%) da média dos preços das duas primeiras fontes do mercado citadas, com preço até 48 vezes o menor pesquisado no mercado, contrariando o disposto no Decreto 7.892/2013, art. 7º, e na Instrução Normativa-SLTI/MPOG 5/2014, art. 2º, § 6º (itens 49-63 da instrução de peça 29); d.1.3) com inserção injustificada de dados de origem não comprovada, atribuídos erradamente a torneio onde tais serviços não foram licitados, ou seja, o Pregão Eletrônico para Sistema de Registro de Preços (PE SRP) 06/2015-MF/DF, promovido pela Superintendência de Administração do MF-DF (Uasg 170531), e resultante na Ata de Registro de Preços 4/2015, constituindo-se em indício de crime de falsidade ideológica (Código Penal, art. 299), de crime de fraude à licitação (Lei 8.666/1993, art. 93), e de ilícito contrário ao disposto na Lei 8.666/1993, art. 15, § 1º, c/c a Lei 10.520/2002, art. 9º (itens 64-65 da instrução de peça 29); d.2) Maria José Lopes Martins, CPF 452.438.757-91, autora do edital e pregoeira, por: d.2.1) culpa in vigilando na conferência da formação de mapa de cotação prévia de preços com as irregularidades atribuídas a Davi José Franco da Silva (itens 49-65 da instrução de peça 29); d.2.2) inabilitação indevida da licitante Upgrade Eventos Corporativos Eireli - EPP, CNPJ 10.766.372/0001-87, contrariando o disposto na Lei 8.666/1993, art. 41, e no subitem 8.9 do edital deste certame (itens 6-19 da instrução de peça 29); d.2.3) indeferimento indevido da intenção de recurso da licitante Upgrade Eventos Corporativos Eireli - EPP, CNPJ 10.766.372/0001-87, contrariando o disposto na Lei 10.520/2002, art. 4º, XVIII e XX, no Decreto 3.555/2000, art. 11, XVII, e no subitem 9.2.1 do edital (itens 20-29 da instrução de peça 29); d.2.4) ausência injustificada de motivação dos quantitativos mínimos exigidos para comprovação de capacidade técnica, descumprindo o disposto no art. 30 da Lei 8.666/1993, no art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, e na Súmula-TCU 263/2011 (itens 39-48 da instrução de peça 29); d.3) Marcos Ivan Neves de Carvalho, CPF 864.834.637-15, autor do termo de referência, por ausência injustificada de motivação dos quantitativos mínimos exigidos para comprovação de capacidade técnica, descumprindo o disposto no art. 30 da Lei 8.666/1993, no art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, e na Súmula-TCU 263/2011 (itens 39-48 da instrução de peça 29); d.4) Hermano Albuquerque de Castro, CPF 549.490.257-91, por adjudicação e homologação do resultado do certame com as irregularidades acima descritas, exceto a primeira descrita para a autora do edital e pregoeira (itens 6-48 da

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instrução de peça 29); e) encaminhar cópia da instrução de peça 29 a todos os destinatários de audiência e à empresa vencedora do certame, a fim de subsidiar suas respostas (peça 32). 14. A adoção desta medida cautelar de 25/11/2015 foi referendada pelo Plenário do TCU em 9/12/2015 (peça 54; Ata 51/2015-TCU-Plenário, p. 3 e 215-216).’

5. Realizadas as comunicações processuais e oferecidas as respostas (peças 37/57), a unidade técnica elaborou instrução, a qual, após detida análise das razões de justificativa e dos demais elementos carreados aos autos, tendo proposto, em suma, a rejeição dos argumentos aduzidos pelos responsáveis (subitens 19/164, peça 64, p. 6/164), conforme se depreende do seguinte excerto transcrito, in verbis:

‘CONCLUSÃO 169. O documento constante da peça 1 deve ser conhecido como representação, por preencher os requisitos previstos nos arts. 235 e 237 do Regimento Interno/TCU c/c o art. 113, § 1º, da Lei 8.666/1993 c/c Lei 10.520/2002, art. 9º (item 13 desta instrução). No mérito, ela deve ser considerada procedente. 170. No que tange à necessidade de manutenção da medida cautelar vigente (peça 54; Ata 51/2015-TCU-Plenário, p. 3 e 215-216), ela teve perda de objeto em 23/12/2015, quando houve revogação do certame representado (item 13, subitem ‘a’, itens 14 e 16-17). Desde então, não mais subsistem os pressupostos descritos no art. 276 do RI/TCU para manutenção desta providência, cabendo declarar a medida cautelar proferida pelo Ministro Relator nos autos em 25/11/2015 insubsistente desde 23/12/2015, data da publicação, em Diário Oficial da União, de aviso de revogação do referido certame (item 159 desta instrução). 171. O exame técnico mostrou que, ante insuficiência das respostas recebidas para descaracterizar as ilicitudes que motivaram suas respectivas demandas por esse Tribunal, cabe rejeitar os esclarecimentos recebidos, e cabe:

a) rejeitar as razões de justificativa apresentadas pelos responsáveis Davi José Franco da Silva (CPF 932.547.507-30 - peça 18, p. 6-7; itens 34-101 desta instrução), Maria José Lopes Martins (CPF 452.438.757-91 - itens 20-153 desta instrução), Marcos Ivan Neves de Carvalho (CPF 864.834.637-15 - itens 20-33 desta instrução) e Hermano Albuquerque de Castro (CPF 549.490.257-91 - itens 20-159 desta instrução) sobre as ocorrências que motivaram suas respectivas audiências (vide, nesta instrução, itens 13, letra ‘d’); b) aplicar aos responsáveis acima identificados as multas previstas no art. 58, inciso II, da Lei 8.443/1992, c/c o artigo 268, inciso II, do Regimento Interno; c) fixar aos responsáveis acima identificados prazos de quinze dias, a contar das notificações, para comprovarem, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea ‘a’, do RI/TCU), o recolhimento da dívida ao Tesouro Nacional, atualizada monetariamente a partir da data deste Acórdão até a do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor; d) autorizar, desde logo, caso venha a ser requerido pelo responsável, o pagamento da importância devida em até 36 parcelas mensais e consecutivas, com a fixação do prazo de quinze dias, a contar da ciência

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da notificação, para comprovar perante o Tribunal o recolhimento da primeira parcela, e de trinta dias, a contar da parcela anterior, para comprovar o recolhimento das demais parcelas, devendo incidir sobre cada parcela, corrigida monetariamente, os correspondentes acréscimos legais, na forma da legislação vigente, além de alertá-lo de que a falta de comprovação do pagamento de qualquer parcela importará no vencimento antecipado do saldo devedor, nos termos do art. 26 da Lei 8.443/1992, c/c art. 217 do Regimento Interno do TCU; e) determinar à Fiocruz que, nos termos do art. 28, inciso I, da Lei 8.443/1992, caso não atendida a notificação, efetue o desconto da multa imputada da remuneração do responsável, em favor do Tesouro Nacional, na forma estabelecida no art. 46 da Lei 8.112/1990, quando for o caso (itens 13, subitens ‘b’, ‘c’ e ‘d’, e 19-158 desta instrução).

172. Outras providências adicionais também se mostraram aplicáveis, para que haja mais completo tratamento preventivo e/ou corretivo das questões analisadas:

a) determinar à Fiocruz que providencie, para cumprir o disposto na Lei 9.784/1999, art. 53, a anulação ex tunc do Pregão Eletrônico SRP 06/2015, inclusive do termo de referência e da Ata de Registro de Preços (ARP) 72/2015, de 15/9/2015, viciados pelas ilicitudes que motivaram sua oitiva (item 13 desta instrução, subitem ‘b’; item 164 desta instrução); b) recomendar:

b.1) à Fiocruz que: b.1.1) realize o levantamento, o registro e a justificativa dos requisitos ou funcionalidades do bem/serviço a ser contratado, para deixar claramente demonstrado e fundamentado nos autos o nexo entre cada requisito exigido e o seu correspondente benefício para a contratação, a fim de evitar a indevida remuneração de requisitos dispensáveis e o direcionamento ou favorecimento em licitações, com base no princípio da motivação e no art. 3º, § 1º, inc. I, da Lei 8.666/1993; b.1.2) faça o orçamento do objeto a ser licitado com base em ‘cesta de preços aceitáveis’ oriunda, por exemplo, de pesquisas junto a cotação específica com fornecedores, pesquisa em catálogos de fornecedores, pesquisa em bases de sistemas de compras, avaliação de contratos recentes ou vigentes, valores adjudicados em licitações de outros órgãos públicos, valores registrados em atas de SRP e analogia com compras/contratações realizadas por corporações privadas, desde que, com relação a qualquer das fontes utilizadas, só sejam aceitos exclusivamente os valores que: b.1.2.1) representem a realidade do mercado, à luz do disposto na Lei 8.666/1993, art. 6º, inc. IX, alínea ‘f’; b.1.2.2) refiram-se a quantidades compatíveis, em ordem de grandeza, com aquela que será licitada no certame que está sendo planejado, sob risco de essa pesquisa não expressar o verdadeiro preço que pode ser obtido para ela, e risco de não ser obtida suficiente economia de escala na licitação em si (itens 57-58 desta instrução);

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b.2) à Auditoria Interna (Audin) da Fiocruz que avalie a possibilidade de conferir nas licitações passadas e atuais, como foi conferido no presente processo, se possuem fonte comprovada os preços informados nos mapas feitos com qualquer participação do Sr. Davi José Franco da Silva (CPF 932.547.507-30), sobre pesquisa de preço de mercado prévia a licitação, e também nos correspondentes mapas que embasaram certame em que a Sra. Maria José Lopes Martins (CPF 452.438.757-91), tenha atuado a qualquer título (item 104 desta instrução);

c) indeferir o pedido de ingresso nos autos como parte pleiteado pela licitante autora da representação inicial do presente processo (itens 165-168 desta instrução); d) encaminhar cópia da resposta da Q2 Eventos Ltda. - EPP (CNPJ 07.167.076/0001-55 - peça 46) à Fiocruz para conhecimento e adoção das medidas que entender cabíveis (item 131 desta instrução); e) encaminhar cópia da presente instrução e do inteiro teor do que for decidido: e.1) à Fiocruz e à Procuradoria da República no Rio de Janeiro, para ajuizamento das ações cabíveis, no tocante aos indícios de ilícitos detectados (vide peças 29-31; vide nesta instrução, item 7, subitem ‘c’, itens 34-105 e 153); e.2) à representante Upgrade Eventos Corporativos Eireli - EPP (CNPJ 10.766.372/0001-87), e à interessada Q2 Eventos Ltda. - EPP (CNPJ 07.167.076/0001-55 – itens 1-2 desta instrução); f) determinar o arquivamento do processo após efetuadas as comunicações pertinentes e expirados os prazos dos recursos cabíveis dotados de efeito suspensivo, com fundamento no art. 169, inciso II, do Regimento Interno do TCU.’

6. O Escalão Diretivo da unidade técnica anuiu, em essência, à proposta formulada pelo Auditor informante, acrescentando recomendação, complementarmente, para que a entidade observasse que (peças 65 e 66):

‘para a elaboração do orçamento estimativo da licitação, bem como a demonstração da vantajosidade de eventual prorrogação de contrato, a pesquisa de preços não deve ser restrita a cotações realizadas junto a potenciais fornecedores, mas utilizadas fontes diversificadas, dando-se prioridade às consultas ao Portal de Compras Governamentais e a contratações similares de outros entes públicos em detrimento de pesquisas com fornecedores, publicadas em mídias especializadas ou em sítios eletrônicos especializados ou de domínio amplo, cuja adoção deve ser tida como prática subsidiária’ (Informativos de Licitações e Contratos n. 246/2015 e 220/2014- TCU).

7. Ao oficiar no feito, o relator a quo destacou, inicialmente, que não havia concedido a cautelar solicitada para suspensão do certame, pois considerara presente o periculum in mora ao reverso (Voto, subitem 2, peça 68, p. 1). 8. Todavia, após realização de oitiva prévia da Fiocruz visando ao esclarecimento dos pontos que foram considerados necessários ao deslinde da matéria, consoante despacho de 14/10/2015 (peça 16), concluiu-se que a inabilitação da representante no referido certame foi indevida, sendo cabível a anulação do ato ilegal praticado e dos atos consectários. Todavia, em face de a Ata de Registro de Preços (ARP) já

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haver sido assinada e publicada, fez-se necessário promover a oitiva da empresa Q2 Eventos Ltda. – EPP, nos termos do art. 250, inciso V, do RITCU. Determinou-se, ainda, cautelarmente à Fiocruz que se abstivesse de realizar contratações baseadas no certame até que o Tribunal se pronunciasse definitivamente sobre o assunto. Na oportunidade também determinaram-se oitiva da Fiocruz e audiências dos responsáveis pelas irregularidades levantadas no exame da unidade instrutora, de acordo com despacho proferido em 25/11/2015 (peça 32), ratificado pelo Plenário em 9/12/2015 reverso (Voto, subitem 3, peça 68, p. 1). 9. Consoante destacou o relator a quo (peça 68, p. 1):

‘4. Promovidas as comunicações cabíveis pela Secex-RJ, nesse ínterim, a ENSP da Fiocruz publicou aviso de revogação do referido Pregão 6/2015 e informou ao Tribunal que não utilizou a ARP decorrente deste certame, e que o apoio à organização dos eventos de interesse da escola tem se dado por meio de contratos com a Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec), que é a fundação de apoio da Fiocruz, com base na Lei 8.958/1994. 5. Segundo o dirigente da ENSP, a licitação realizada foi uma tentativa de centralizar na escola toda a gestão desses eventos, que não são atividades finalísticas e sim meios para viabilizar o encontro de acadêmicos, profissionais e pesquisadores envolvidos em projetos de ensino e pesquisa, devendo o lançamento de novo edital pela escola ocorrer o mais breve possível, com as correções que se fazem necessárias conforme as comunicações dessa Corte de Contas. Já segundo a Fiocruz, ou será feito esse novo certame, ou se pegará ‘carona’ em outra ARP.’

10. Dessarte, o relator a quo acompanhou na essência a análise efetivada no âmbito da unidade instrutora, no sentido da procedência da representação, com as adequações de encaminhamento que entendeu necessárias (peça 68, subitens 8/29, peça 68, p. 2/5). EXAME DE ADMISSIBILIDADE 11. Os pedidos de reexame foram admitidos pela relatora ad quem (peça 92), que ratificou os exames de admissibilidade contidos nas peças 87 a 89, em que se propôs o conhecimento dos recursos, nos termos do art. 48 da Lei 8.443/1992, c/c os arts. 285 e 286, parágrafo único, do RI/TCU, suspendendo-se os efeitos dos itens 9.3, 9.5 e 9.6 do Acórdão 1405/2016 – Plenário em relação aos recorrentes. EXAME DE MÉRITO 12. Delimitação 12.1. Constitui objeto do presente exame verificar se:

a) a revogação do certame elide as irregularidades apontadas nos autos; b) a sanção imposta, além de desnecessária, violou o princípio da

proporcionalidade ao dosar a pena; c) os procedimentos atinentes à elaboração do mapa de cotação prévia de

preços foram regulares; d) a recusa da intenção de recurso pelo pregoeiro foi regular; e e) a autoridade homologadora do certame revogado não pode ser

responsabilizado por atos cometidos por agentes delegados. 13. Em síntese, os recorrentes foram sancionados por não terem logrado descaracterizar as seguintes irregularidades: 13.1. O Sr. Hermano Albuquerque de Castro, foi ouvido em audiência pela adjudicação e homologação do resultado do certame, contendo as seguintes

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irregularidades (peças 42 e 64, p. 5): a) inabilitação indevida da licitante Upgrade Eventos Corporativos Eireli -

EPP, CNPJ 10.766.372/0001-87, contrariando o disposto na Lei 8.666/1993, art. 41, e no subitem 8.9 do edital deste certame (itens 6/19 da instrução de peça 29);

b) indeferimento indevido da intenção de recurso da licitante Upgrade Eventos Corporativos Eireli - EPP, CNPJ 10.766.372/0001-87, contrariando o disposto na Lei 10.520/2002, art. 4º, XVIII e XX, no Decreto 3.555/2000, art. 11, XVII, e no subitem 9.2.1 do edital (itens 20/29 da instrução de peça 29); e

c) ausência injustificada de motivação dos quantitativos mínimos exigidos para comprovação de capacidade técnica, descumprindo o disposto no art. 30 da Lei 8.666/1993, no art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, e na Súmula-TCU 263/2011 (itens 39/48 da instrução de peça 29). 13.2. O Sr. Davi José Franco da Silva, por seu turno, apresentou razões de justificativa em face de irregularidades relacionadas à elaboração de mapa de cotação prévia de preços (peças 39 e 64, p. 4):

a) baseada em adoção injustificada de valores arbitrários como médias, sem explicação dos motivos determinantes desta escolha, e em detrimento da adoção do menor preço de cada item prevista na Instrução Normativa-SLTI/MPOG 5/2014, art. 2º, § 2º, contrariando o disposto na Lei 9.784/1999, arts. 2 e 50, caput, I, e § 1º (itens 49/55 da instrução de peça 29); b) baseada em, entre outros, orçamento da empresa V3 Agência de Publicidade e Eventos Ltda., elaborado com preços inconsistentes e discrepantes, em média mais do que o quíntuplo (529,85%) da média dos preços das duas primeiras fontes do mercado citadas, com preço até 48 vezes o menor pesquisado no mercado, contrariando o disposto no Decreto 7.892/2013, art. 7º, e na Instrução Normativa-SLTI/MPOG 5/2014, art. 2º, § 6º (itens 49/63 da instrução de peça 29); e c) com inserção injustificada de dados de origem não comprovada, atribuídos erradamente a torneio onde tais serviços não foram licitados, ou seja, o Pregão Eletrônico para Sistema de Registro de Preços (PE SRP) 06/2015-MF/DF, promovido pela Superintendência de Administração do MF-DF (Uasg 170531), e resultante na Ata de Registro de Preços 4/2015, constituindo-se em indício de crime de falsidade ideológica (Código Penal, art. 299), de crime de fraude à licitação (Lei 8.666/1993, art. 93), e de ilícito contrário ao disposto na Lei 8.666/1993, art. 15, § 1º, c/c a Lei 10.520/2002, art. 9º (itens 64/65 da instrução de peça 29);

13.3. A Sra. Maria José Lopes Martins, por sua vez, foi ouvida em audiência, na qualidade de autora do edital e pregoeira, por (peças 40 e 64, p. 4/5):

a) culpa in vigilando na conferência da formação de mapa de cotação prévia de preços com as irregularidades atribuídas a Davi José Franco da Silva (itens 49/65 da instrução de peça 29); b) inabilitação indevida da licitante Upgrade Eventos Corporativos Eireli - EPP, CNPJ 10.766.372/0001-87, contrariando o disposto na Lei 8.666/1993, art. 41, e no subitem 8.9 do edital deste certame (itens 6/19 da instrução de peça 29); c) indeferimento indevido da intenção de recurso da licitante Upgrade Eventos Corporativos Eireli - EPP, CNPJ 10.766.372/0001-87, contrariando o disposto na Lei 10.520/2002, art. 4º, XVIII e XX, no Decreto 3.555/2000, art. 11, XVII, e no subitem 9.2.1 do edital (itens 20/29 da instrução de peça 29);

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d) ausência injustificada de motivação dos quantitativos mínimos exigidos para comprovação de capacidade técnica, descumprindo o disposto no art. 30 da Lei 8.666/1993, no art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, e na Súmula-TCU 263/2011 (itens 39/48 da instrução de peça 29);

14. Da suposta elisão das irregularidades motivada pela revogação do certame. 14.1. Em sede preliminar, alegam os recorrentes que a revogação da licitação saneou toda e qualquer irregularidade, não lhes podendo ser imputada culpa pelas irregularidades versadas nestes autos, em face dos seguintes argumentos (peças 84, p. 2/6 e 8; 85, p. 3; e 86, p. 2/4, 6, 8 e 11/13):

a) afiançam que não houve qualquer dano ao Erário público, visto que a assinatura da Ata do Sistema de Registro de Preços não implicaria, por si só, a sua utilização, bem como o Pregão em comento restou revogado; b) afirmam que a anulação ou revogação de uma licitação atinge todo o processo administrativo e não apenas alguns de seus atos, impedindo que o certame passe a produzir qualquer efeito. Soma-se ao fato que nenhum item do Registro de Preços revogado chegou a ser contratado, o que afasta qualquer hipótese de dano ao Erário; c) alertam que não há qualquer justificativa jurídica ou fática para que se estabeleça hierarquia entre os atos administrativos praticados no curso do processo licitatório, tendo em vista a decisão pelo não prosseguimento do certame materializada em sua revogação; d) aludem que o saneamento impediu que a licitação prosseguisse e que gerasse qualquer efeito relativo ao Pregão em espécie. Anotam que tal objetivo foi alcançado, pois a licitação juridicamente deixou de existir por meio do ato administrativo que a revogou; e) reforçam o entendimento de que a revogação do certame saneou totalmente o erro consubstanciado na elaboração do mapa de preços, fato este reconhecido pelo item 16 do Voto do relator a quo; e f) sustentam que ‘a licitação revogada não chegou a produzir qualquer efeito, pois, mesmo antes do ato de revogação, nenhum item chegou a ser contratado, inexistindo gastos de recursos públicos para os itens licitados’.

Análise 14.2. Sem razão os recorrentes. Assim como reportado na instrução da unidade técnica, ‘(...) a revogação de certame não impede a atuação tribunalícia em relação aos ilícitos nele detectados, conforme exemplificado pelo Acórdão 1.375/2015 – TCU – Plenário’ (peça 64, p. 6), várias outras deliberações antecedentes caminharam na mesma direção:

‘A revogação da licitação, após a instauração e a consumação do contraditório, conduz à perda de objeto da cautelar que determinou a suspensão do certame, mas não da representação em si, tornando necessário o exame de mérito do processo, com o objetivo de evitar a repetição de procedimento licitatório com as mesmas irregularidades verificadas.’

Acórdão 743/2014 - Plenário | Relator: AUGUSTO SHERMAN ÁREA: Direito Processual | TEMA: Representação | SUBTEMA: Perda de objeto Outros indexadores: Licitação, Revogação, Mérito

‘A revogação de ato eivado de grave irregularidade posteriormente a sua identificação pelo Tribunal não isenta o agente que o praticou de responsabilização.’

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Acórdão 3275/2012 - Plenário | Relator: AUGUSTO SHERMAN ÁREA: Processual | TEMA: Medida cautelar | SUBTEMA: Medida cautelar Outros indexadores: Anulação de ato suspenso pelo TCU

‘É irregular a desclassificação e inabilitação sem motivação ou com fundamentação imprecisa e deficiente, uma vez que prejudica a defesa dos licitantes e a própria transparência do certame. A revogação do certame não elide a ilicitude praticada.’

Acórdão 3772/2012 - Segunda Câmara | Relator: AROLDO CEDRAZ ÁREA: Licitação | TEMA: Proposta | SUBTEMA: Desclassificação Outros indexadores: Princípio da motivação, Inabilitação, Imprecisão, Fundamentação 14.3. A jurisprudência desta Corte apenas considera a perda de objeto da representação, e, consequentemente, da possibilidade de serem sancionados os responsáveis nos casos em que os procedimentos licitatórios são revogados ou anulados antes da provocação desta Corte, consoante se depreende dos seguintes Enunciados da Jurisprudência Selecionada do Tribunal de Contas da União:

‘Considera-se prejudicada a representação, por perda de objeto, diante da revogação do procedimento licitatório questionado, operada pela própria administração contratante.’

Acórdão 808/2008 - Plenário | Relator: AUGUSTO SHERMAN CAVALCANTI ÁREA: Processual | TEMA: Arquivamento | SUBTEMA: Ausência de pressuposto válido Outros indexadores: Revogação da licitação

‘Devem ser arquivadas as representações por perda de objeto nas situações em que houver anulação dos certames em relação aos quais foram apontadas irregularidades.’

Acórdão 3012/2007 - Segunda Câmara | Relator: AROLDO CEDRAZ ÁREA: Processual | TEMA: Arquivamento | SUBTEMA: Ausência de pressuposto válido Outros indexadores: Revogação da licitação

‘Considera-se prejudicada a representação ante a constatação de que houve perda de seu objeto, em razão da anulação do certame licitatório.’

Acórdão 595/2007 - Plenário | Relator: BENJAMIN ZYMLER ÁREA: Processual | TEMA: Arquivamento | SUBTEMA: Ausência de pressuposto válido Outros indexadores: Revogação da licitação 14.4. Desse modo, não há como acatar os argumentados apresentados. 15. Da suposta desnecessidade da sanção imposta e da violação ao princípio da proporcionalidade na dosimetria da pena. 15.1. Alegam os recorrentes que é desnecessária a sanção imposta ou que teria violado o princípio da proporcionalidade em sua fixação. Para tanto os Srs. Hermano Albuquerque de Castro e Davi José Franco da Silva ofertaram os seguintes argumentos recursais: 15.1.1.Sr. Hermano Albuquerque de Castro (peça 84, p. 8):

a) assegura que mesmo na hipótese de culpa, a individualização da conduta reprovável é necessária para a fixação proporcional da pena. Contudo, segundo o seu entendimento, isso não ocorreu no caso concreto, pois:

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‘todos os condenados pelo acórdão ora recorrido (o trabalhador terceirizado que teria preenchido o mapa, a Pregoeira e o Diretor da Unidade) receberam o mesmo valor de multa. Mas esse é um problema decorrente da própria ausência de descrição da conduta do Recorrente, um limite lógico e jurídico, pois sem descrição da conduta, diante da qual se exigiria outra diversa, é impossível concluir culpa e fixar qualquer pena.’

b) transcreve excerto da obra do Auditor Federal de Controle Externo Laureano Canabarro Dios que versa sobre a aplicação de penas pelo TCU; e

15.1.2.Sr. Davi José Franco da Silva (peça 85, p. 4/6): a) assere que este processo é pedagógico por si só, não sendo necessária a aplicação de sanção; b) assevera que as razões recursais apresentadas, sua história profissional e pessoal de integridade e seu compromisso de se esforçar ainda mais para que não ocorra reincidência de tais erros justificam a elisão da multa que lhe foi imposta; c) assinala que a aplicação da multa em comento é medida excessiva e tem natureza coercitiva, apesar de aplicada com cunho pedagógico. Diz que o juízo de valor por ele exercido culminou com a certeza de que não laborou ‘de forma desatenta, descompromissada, ao contrário! E por isso, o maior efeito que produzirá a multa aplicada, será a de prejudicar diretamente a vida familiar do Recorrente’. Anexa às razões recursais cópia do contracheque, da declaração de imposto de renda e certidões de nascimento dos seus filhos, em que resta comprovado ser empregado celetista, com ganhos líquidos mensais irrisórios. Desse modo, o valor da multa aplicada compromete seu salário mensal. Diz que é simples trabalhador, morador de periferia, conforme consta de sua declaração de imposto de renda. Conclui, assim, que a multa representará pena pecuniária excessiva, implicando direta violação ao princípio da dignidade da pessoa humana, verdadeiro alicerce da Constituição Federal; d) diz que há total ausência de proporcionalidade na fixação do valor da multa em face do grau de sua culpabilidade, pois foi ‘condenado por apenas um fato alegado, enquanto que os dois servidores, também penalizados, o foram por dois fatos alegados, embora todos tenham recebido multas no mesmo valor’. Ecoa que os processos julgados pelo TCU também devem observar o ditame constitucional de proporcionalidade na aplicação das sanções, como ensina o Auditor Federal de Controle Externo Laureano Canabarro Dios; e) ecoa, por fim, que o Voto condutor do Acórdão recorrido reconhece a ausência de dolo no preenchimento do mapa, além do fato da ausência de prejuízo ao erário público como consequência da adoção, pela Administração, de medidas saneadoras, nos termos do item 16 do precitado Voto. Aduz, entretanto, que ‘a aplicação de multa não se configura uma medida saneadora, pois não produz qualquer consequência no processo. Trata- se, ao contrário, de uma medida punitiva’.

15.1.3. Sra. Maria José Martins Lopes (peça 86, p. 11/13): a) assim como o Sr. Davi José Franco da Silva, ‘entende que o caráter pedagógico deste processo já foi atingido, o que influenciará na rotina administrativa da Unidade, contribuindo para que as ocorrências verificadas no certame, por fim revogado, não venham a se repetir’; b) esclarece que ‘a aplicação da multa se constituiria em uma medida

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excessiva, desproporcional aos fatos apurados, tendo em vista a revogação total da licitação, sem convalidação parcial, e a ausência de qualquer dano ao erário’; c) lembra que esta Corte, em diversas ocasiões, tem optado por decisões que privilegiam o caráter pedagógico das recomendações, sem que tenha sido adotada a aplicação de qualquer pena, como é o caso do Acórdão n° 79/2010 – Plenário, em uma situação comparável, mas aparentemente bem mais grave do que a ocorrida no pregão revogado na ENSP/Fiocruz;

Análise 15.2 Não houve ofensa ao princípio constitucional da proporcionalidade na dosimetria da multa dos recorrentes, pois o Voto condutor, além de ter se apoiado em instrução minudente da unidade técnica, fundamentou as razões pelas quais fixou multa aos recorrentes, especialmente por meio dos subitens 13, 19 e 20/21 (peça 68, p. 2, 3 e 3/4, respectivamente). 15.3. A caracterização das ilicitudes de per si, por sua vez, foi suficiente para justificar a aplicação da pena uniforme aos recorrentes. Não houve, por conseguinte, violação à individualização das condutas para fins de aplicação da sanção. Ressalte-se, ademais, que o quantum da multa é fixado pelo colegiado a quo de acordo com a culpabilidade das condutas, o que envolve certa discricionariedade dos julgadores, mas dentro dos limites impostos pela lei e pelo regimento interno, que foram devidamente respeitados no caso concreto. 15.4. Embora esta Corte, em muitas circunstâncias, prestigie sua ação pedagógica, muitas vezes essa postura deve vir acompanhada de sanção, com vistas a inibir a prática recorrente de irregularidades tendentes a onerar indevidamente o Erário. 15.5. Desse modo, não se podem acolher os argumentos aduzidos pelos recorrentes. 16. Da suposta regularidade dos procedimentos atinentes à elaboração do mapa de cotação prévia de preços. 16.1. Especificamente quanto à elaboração do mapa de cotação prévia de preços, o Sr. Hermano Albuquerque de Castro apresentou a seguinte linha defensiva (peça 84, p. 7/10):

a) argui que a cotação prévia de preços e o preenchimento dos mapas são atribuições do setor de compras da unidade. Contesta afirmação do item 11 do Voto condutor do Acórdão recorrido, pois não é responsável pela elaboração dessa planilha. Aduz que sua condenação se limita à fundamentação constante do item 21 do aludido Voto, ou seja, ‘prosseguimento da licitação eivada de vícios’; b) arremata que não consta do Acórdão e do Voto que o fundamentou qualquer individualização de sua conduta que aponte para atuação displicente que tenha contribuído para o prosseguimento do equívoco no preenchimento da planilha; c) reitera que não foi o responsável pela pesquisa de mercado e elaboração do mapa de preços. Acrescenta que a decisão recorrida não individualiza em que atividades de planejamento, supervisão, coordenação ou controle houve falha. Questiona, por conseguinte:

‘(...) como seria possível, numa unidade com tantos projetos de alta relevância à Saúde Pública do país, como é o caso da ENSP/FIOCRUZ, que o seu Diretor viesse a conferir diretamente a pesquisa prévia de preços e o lançamento de dados no mapa? Além de não ser razoável, por humanamente impossível, tal responsabilidade não lhe é por força de lei

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imputada e está fora do que razoavelmente se espera de um gestor médio.’

d) arrima que um dos elementos que caracteriza a culpabilidade – a exigência de conduta diversa do agente – não está presente no caso em tela. Com efeito, assegura que não há uma conduta que lhe poderia ter sido exigida no âmbito de suas atribuições de Diretor de Unidade, que fosse capaz de identificar os erros presentes na elaboração do mapa de cotação prévia de preços. Reforça que a decisão recorrida não descreve que condutas praticou ou deixou de praticar e que teriam relação causal com o prosseguimento da licitação com os vícios apontados para o mapa de preços; e) reitera, finalizando este ponto de sua defesa, os argumentos constantes de suas razões de justificativa;

16.2. O Sr. Davi José Franco da Silva, por sua vez, alegou o seguinte (peça 85, p. 2/4):

a) aduz que é empregado terceirizado e sua função é de apoio administrativo, não possuindo, por não ser servidor público, qualquer atribuição de caráter decisório no processo administrativo de licitação; b) afiança que sua participação no certame em tela se limitou em auxiliar na montagem física do processo administrativo e em transcrever para planilhas os dados colhidos em pesquisas de mercado, procedimentos prévios à realização do pregão; c) ‘admite o erro na transcrição dos dados e não é capaz de explicar, nesse caso específico, a causa de tal erro, tendo em vista que o seu comportamento sempre se pautou e continua a se pautar pela diligência e zelo no atendimento ao interesse público’; d) afirma:

‘contudo, que, durante a ocorrência do referido erro, a FIOCRUZ não se encontrava em seu pleno funcionamento. Como já dito e comprovado anteriormente, o período de formação do procedimento licitatório coincidiu com a ocorrência de uma greve nacional dos servidores públicos federais que representou a mais longa paralisação na história da FIOCRUZ. Havia manifestações e piquetes diários, o que dificultava o trânsito de trabalhadores para as unidades. Por isso, naquele momento, o Recorrente encontrava-se com sobrecarga de trabalho, o que, sem dúvida, se traduziu num estresse físico e psicológico, o que pode e por certo contribuiu para o erro que foi identificado.’

e) alude que ‘não agiu com dolo e nem mesmo com imprudência, imperícia ou negligência, tendo em vista seu esforço pessoal e as condições de anormalidade administrativa do período, em face da longa greve dos servidores públicos’; f) anota que:

‘De um total de 75 itens do mapa de cotação prévia de preços, 08 (itens 5 a 12) foram preenchidos sem que se encontrasse nos autos comprovação da pesquisa de mercado. Esse foi o erro. Entretanto, como é admitido no item 56 da peça 29, todos esses preços lançados equivocadamente apresentam proximidade com os preços mais baixos da pesquisa. Os preços preenchidos equivocadamente apresentam proximidade com os preços da fonte B do mapa de cotação prévia de preços. Ademais, no pregão chegou-se a preços menores para todos esses itens, que, aliás,

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nem foram posteriormente contratados.’ g) aponta que as empresas Upgrade Corporativos Eireli – EPP e Q2 Eventos Ltda. – EPP cotaram preços para os itens 5 a 12, os quais ‘são menores do que os menores preços lançados no mapa de cotação prévia de preços’. Desse modo, ‘chegou-se a preços menores para todos esses itens’. h) quanto à ‘utilização como fonte de preços do orçamento da empresa V3 Agência de Publicidade e Eventos Ltda.’ (item 11.b do Voto do Relator), esclarece que:

‘tal decisão estava fora da alçada de tarefas do Recorrente, que sendo empregado terceirizado de apoio administrativo não possui qualquer poder decisório em processos administrativos para a inclusão ou exclusão de fontes documentais, nem para decidir sobre a forma de cálculo, seja por média ou menor preço, nos termos da IN SLTI/MPOG 02/2008.’

16.3. A Sra. Maria José Martins Lopes, por seu turno, apresenta as seguintes teses recursais (peça 86, p. 3/6):

a) reconhece ter havido erros na transcrição de dados da pesquisa de preços para o documento mapa de cotação prévia de preços. Com efeito, relata que dos 75 itens do certame, há 8 itens (itens 5 ao 12) em que num dos preços, dos três lançados no mapa, não é possível verificar correspondência em pesquisa de preço; b) aduz, contudo, que esse erro não representou qualquer majoração de preços na pesquisa, conforme reconhecido no item 56 da peça 29, ‘pois é um fato que todos esses preços lançados equivocadamente apresentam proximidade com a faixa de preços mais baixa da cotação. Nos 8 itens em que houve lançamento equivocado de preços, estes apresentam proximidade com os preços da fonte B do mapa’. Afiança que em todos esses 8 itens, o pregão alcançou preços menores. As propostas das duas empresas que apresentaram menores lances continham preços mais baixos do que os menores preços lançados para os itens de 5 a 12 do mapa de cotação prévia de preços. Admite, portanto, que o erro que se deve lamentar e evitar que se repita não influenciou o resultado do certame, ou seja, não produziu efeitos. Ademais, não houve contratação com base na licitação de registro de preços que aqui se debate, que por fim, acabou sendo revogada; c) assume que a conferência do processo por ela realizada não conseguiu identificar esses equívocos, os quais não influenciaram no resultado do certame, que restou revogado; d) alega que:

‘durante a formalização do processo administrativo, a FIOCRUZ passava por sua mais longeva greve nacional de servidores públicos federais. A Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, consequentemente, carência da presença de recursos humanos no período, pois trabalhava com um quórum baixo de trabalhadores, tendo em vista não apenas a adesão ao movimento grevista quanto à realização diária de piquetes que dificultavam a entrada de pessoal.’

e) alerta que se tratou de erro isolado, não havendo nada nos autos que permita concluir em sentido oposto. Alude que o item 16 do Voto condutor do decisum recorrido ‘é claro em excluir a possibilidade de ter ocorrido dolo’;

16.4. Quanto às duas outras ocorrências verificadas na elaboração do mapa de

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cotação prévia de preços: adoção de médias em detrimento da adoção do menor preço e inclusão como fonte de preços da empresa V3 Agência de Publicidade e Eventos Ltda., com preços muito acima dos demais pesquisados, a Sra. Maria José Martins Lopes apresentou os seguintes esclarecimentos (peça 86, p. 5/6):

a) alude que relativamente à utilização de médias, trata-se de interpretação diversa da norma pelo setor de compras da Unidade. Anota que a Instrução Normativa 5, de 27/6/2014 estabelece no § 2º de seu art. 2º que ‘no âmbito de cada parâmetro, o resultado da pesquisa de preços será a média dos preços obtidos’. Por sua vez, o guia de orientação sobre essa Instrução Normativa orienta em sua página 32 que ‘O método previsto na norma é a utilização de média entre os valores pesquisados, que pode ser obtida a partir da soma dos resultados encontrados na pesquisa dividida pela quantidade numérica de pesquisas realizadas’; b) anota que a Fiocruz, por ser autarquia federal, subordinada ao Ministério da Saúde, integra a estrutura do Poder Executivo, e, como tal, se orienta pelas instruções emitidas pelos órgãos superiores desse Poder. Acrescenta que ‘É difícil no nível da gestão de uma autarquia adotar posição contrária a uma orientação superior dentro do próprio Poder Executivo’; c) aponta que ‘a alternativa entre utilizar-se da média de preços ou do preço mais baixo dentre os levantados na cotação prévia de preços é uma controvérsia quanto à interpretação da norma, o que não poderia ensejar qualquer punição’. Argui que o Acórdão recorrido ‘não incluiu a adoção do menor preço em detrimento da média de preços entre as suas recomendações para a autarquia’. Arrima que é possível presumir que esta Corte ‘entendeu que se trata de um assunto que comporta mais de uma posição juridicamente válida. Se o Acórdão não firmou tal recomendação, não poderia ter ocorrido uma punição com base na não adoção dessa interpretação da norma’. d) quanto à adoção de fonte de preços de empresa com valores muito maiores do que os demais cotados, ressalta que ‘se tratou de pesquisa com fornecedor, enquanto que os preços das outras duas fontes eram decorrentes de licitações realizadas’. Aduz que se trata de fato recorrente ‘os fornecedores, no momento da pesquisa de mercado, buscam orçar seus preços para cima no intuito de influenciar a estimativa de preços balizadora da licitação’. Promete que ‘O setor de Compras da Unidade estará mais atento com essas discrepâncias da parte dos fornecedores que apresentam preços para a pesquisa prévia à licitação, buscando excluir as fontes inconsistentes’; e) reitera que ‘os preços das duas empresas melhor classificadas no certame, Upgrade Corporativos Eireli – EPP e Q2 Eventos Ltda. – EPP, encontram-se bem mais próximos dos preços pesquisados das fontes A e B’. Aduz, portanto, que ‘a adoção dos preços da empresa V3 Agência de Publicidade e Evento Ltda., apesar de ter se configurado um equívoco, não influiu no resultado da licitação’. Reafirma que ‘o próprio certame foi revogado e não resultou em nenhuma contratação’; e f) confirma, por fim, que ‘DAVI JOSÉ FRANCO DA SILVA, empregado terceirizado na Unidade, não possui qualquer poder de decisão sobre os processos administrativos da Unidade, atuando nos limites de uma equipe de apoio administrativo’.

Análise 16.5. As razões recursais do Sr. Hermano Albuquerque de Castro não merecem

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acolhida. 16.6. Com efeito, a jurisprudência desta Corte entende que ‘Ao homologar o resultado de um procedimento licitatório, a autoridade signatária ratifica todos os atos pretéritos praticados, assumindo responsabilidade integral’ (Acórdão 2133/2016 – Primeira Câmara, Relator: BENJAMIN ZYMLER). 16.7. Sua responsabilidade somente poderia ser afastada se se tratasse de vício oculto. Contudo, embora fossem atribuições do setor de compras da unidade proceder à cotação prévia de preços e o preenchimento dos mapas, tais documentos constavam do procedimento licitatório submetido à autoridade homologadora para apreciação (Acórdão 8744/2016 – Segunda Câmara, Relator: RAIMUNDO CARREIRO; Acórdão 1526/2016 – Plenário, Relator: AUGUSTO NARDES). 16.8. Ademais, ‘A homologação se caracteriza como um ato de controle praticado pela autoridade competente sobre todos os atos praticados na respectiva licitação. Esse controle não pode ser tido como meramente formal ou chancelatório, mas antes como um ato de fiscalização’ (Acórdão 1018/2015 – Plenário, Relator: VITAL DO RÊGO). 16.9. Por outro lado, o recorrente labora em equívoco ao emprestar interpretação restritiva ao item 21 do Voto condutor do Acórdão recorrido, pois sua condenação não se limitou a permitir o ‘prosseguimento da licitação eivada de vícios’. Na verdade, consoante reportado no subitem 13.1 desta análise, sua responsabilidade adveio de ter falhado na fiscalização do procedimento desde o seu nascedouro. 16.10. A individualização da conduta do Sr. Hermano Albuquerque de Castro, ao contrário do que afirma o recorrente, se encontra satisfatoriamente delineada no item 21 do aludido Voto, o qual fundamentou a razão precípua de sua condenação:

‘21. O responsável Hermano Albuquerque de Castro, diretor da ENSP e consequentemente autoridade homologadora do certame sob comento, foi ouvido em audiência por adjudicação e homologação do resultado do certame com as irregularidades acima descritas. Suas razões de justificativa não lograram afastar sua responsabilidade pelo prosseguimento da licitação eivada de vícios, cabendo, portanto, aplicar-lhe a multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei 8.443/1992, em razão das irregularidades relativas à elaboração do mapa de cotação prévia de preços e à indevida recusa da intenção de recurso.’

16.11. Como visto, a jurisprudência desta Corte acima mencionada reconhece que a autoridade homologadora é responsável pela lisura de todo o procedimento licitatório, devendo, por conseguinte, acompanhar pari passu seu desenrolar, fiscalizando-o de forma concomitante, o que lhe assegurará, ao final, ratificar todos os atos precedentes como aderentes aos princípios e normas jurídicas aplicáveis à espécie. Se não agiu desta maneira, se encontra presente um dos elementos que caracteriza a culpabilidade mencionado pelo recorrente: a exigência de conduta diversa do agente. 16.12. Desse modo, não é possível isentar a responsabilidade do Sr. Hermano Albuquerque de Castro em face de sua atuação omissa quanto à homologação de certame licitatório eivado de vícios. 16.13. Passa-se à análise das razões recursais aduzidas pelo Sr. Davi José Franco da Silva em relação ao tópico em epígrafe. 16.14. Embora se encontrasse à época como empregado terceirizado, exercendo função de apoio administrativo, o fato de não ser servidor público formal é irrelevante. A questão é que exercia função pública, razão pela qual era seu dever ajustar seus procedimentos aos princípios constitucionais aplicáveis ao caso

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concreto, entre estes o da eficiência. Desse modo, ainda que aceitável o fato de que suas atribuições não possuíssem caráter decisório, é patente na jurisprudência desta Corte a possibilidade da responsabilização do parecerista técnico. Nesse sentido, ao admitir expressamente ter cometido erro na transcrição dos dados, não se pode afastar sua responsabilização. 16.15. Outras justificativas apresentadas pelo recorrente, como o histórico de sua atuação profissional, problemas conjunturais enfrentados pela FIOCRUZ, sobrecarga de trabalho, estresse físico e psicológico e não ter agido com dolo são insusceptíveis de isentar sua responsabilidade, pois não são capazes de desnaturar a irregularidade que lhe é atribuída. 16.16. Ora se não há elementos nos autos que permitam concluir que não agiu dolosamente, o mesmo não se pode afirmar quanto à sua culpa stricto sensu. Como admitiu ter cometido erro, sua conduta falha somente pode ser explicada por negligência, imprudência ou imperícia. 16.17. Desse modo, não é possível acatar as razões recursais aduzidas pelo Sr. Davi José Franco da Silva em relação ao item acima delimitado. 16.18. Examina-se, a seguir, as teses recursais apresentadas pela Sra. Maria José Martins Lopes quanto ao tópico em discussão. 16.19. Não são aceitáveis as razões recursais aduzidas pela recorrente, pois na qualidade de autora do edital (peça 24, p. 1) e pregoeira faltou com a culpa in vigilando na conferência da formação de mapa de cotação prévia de preços com as irregularidades atribuídas a Davi José Franco da Silva (itens 49/65 da instrução de peça 29). Embora tenha admitido expressamente em seu recurso a ocorrência de erros na transcrição de dados da pesquisa de preços para o documento mapa de cotação prévia de preços, procura minimizá-los. Contudo, suas razões recursais não são suficientes para elidir sua responsabilização consoante apontado no § 11 do Voto condutor do Acórdão recorrido (peça 68, p. 2):

‘11. Quanto às irregularidades relativas à elaboração do mapa de cotação prévia de preços (item 1.2 da instrução transcrita no relatório precedente), concordo com a unidade instrutora que é inadmissível que os responsáveis procedam de maneira displicente na elaboração da planilha de preços que irão balizar uma contratação pública orçada em mais de vinte milhões de reais. Afirmo que houve atuação displicente porque foram constatadas as seguintes ocorrências:

a) adoção injustificada de valores arbitrários como médias em detrimento da adoção do menor preço de cada item, prevista na Instrução Normativa-SLTI/MPOG 5/2014, art. 2º, § 2º, contrariando o disposto na Lei 9.784/1999, arts. 2 e 50, caput, I, e § 1º; b) utilização como fonte de preços do orçamento da empresa V3 Agência de Publicidade e Eventos Ltda., elaborado com preços inconsistentes e discrepantes, em média mais do que o quíntuplo (529,85%) da média dos preços das duas primeiras fontes do mercado citadas, havendo item com preço até 48 vezes mais caro do que o menor valor pesquisado para o mesmo item no mercado, contrariando o disposto no Decreto 7.892/2013, art. 7º, e na Instrução Normativa-SLTI/MPOG 5/2014, art. 2º, § 6º; c) inserção injustificada de dados de origem não comprovada, atribuídos erradamente a torneio onde tais serviços não foram licitados, ou seja, o Pregão Eletrônico para Sistema de Registro de Preços (PE SRP) 6/2015-MF/DF, promovido pela Superintendência de Administração do MF-DF

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(Uasg 170531), e resultante na ARP 4/2015.’ 16.20. Não é aceitável, ademais, que os erros expressamente reconhecidos não tenham sido capazes de resultar em danos ao Erário, caso o certame não tivesse sido revogado. A menção ao item 56 da minudente instrução da unidade técnica, por sua vez, longe de atenuar os erros cometidos, demonstra cabalmente as irregularidades cometidas. Para maior clareza, transcrevem-se os itens 55/57 para melhor contextualização das irregularidades atribuídas à pesquisa de preços (peça 29, p. 14/15 – grifos nossos):

‘55. Para obter o valor estimado de mercado de cada item, a Fiocruz teria feito uma média dos três respectivos preços cotados por ela. Na verdade, este preço médio informado pela fundação para cada item é, em média, 10,56% menor do que a verdadeira média aritmética de preços que ela se propôs a calcular. Essa situação beneficiaria a administração pública, pois essa média subcalculada tornou-se o preço máximo aceitável nesse torneio. Nove itens (2, 3, 4, 25, 32, 36, 44, 60 e 64) são exceção a esta constatação, pois têm preços médios estipulados pela Fiocruz até 11,27% maiores do que a média aritmética dos respectivos preços pesquisados. Apenas em um item (40) a média da Fiocruz foi igual à média dos preços cotados. Ao invés desta definição injustificada, a Fiocruz deveria ter exercitado seu poder dever de identificar o menor dos preços obtidos para cada item como resultado da sua pesquisa de preços aceitáveis, com base na Instrução Normativa-SLTI/MPOG 5/2014, art. 2º, § 2º. A adoção de média dos preços, em detrimento do menor preço, embora facultada neste mesmo dispositivo, precisa ser devidamente justificada, por representar dispêndio maior para a administração pública, e não foi. No geral, mesmo havendo uma redução injustificada de 65 dos 75 preços estimados, um grave problema perdurou, como será explicado a seguir. 56. Nas fontes A e B acima descritas, a Fiocruz obteve preços unitários semelhantes, próximos entre si, para cada item disputado em pregões feitos para registro de preços. Contudo, os preços informados pela fonte C mostraram-se inaceitáveis, em média mais do que o quíntuplo (529,85%) da média dos preços das duas primeiras fontes citadas. Veja-se, por exemplo, o item 7 da cotação (correspondente ao item 8 do edital), sobre aluguel de auditório, com capacidade de 150 até 250 pessoas. Nesse caso mais extremo, a empresa Premier tinha proposto ao MPOG R$ 53,00 por m2/dia, mas a V3 cotou para a Fiocruz R$ 2.599,99 por m2/dia para este mesmo serviço (vide peça 26, p. 5, item 1.17 versus peça 25, p. 8, item 1.8). Assim, no ápice do seu aparente sobrepreço, a V3 chegou a pedir valor até 48 vezes mais caro do que o menor preço pesquisado no mercado por essa fundação. 57. A ata de registro de preços, acima identificada como fonte A, é mais confiável como origem de dados por ter sido constituída em disputa multilateral entre diversos licitantes perante órgãos públicos, e a proposta feita em outra licitação, mencionada como fonte B, mostra preços similares aos dela (peça 25, p. 6-7, peça 26-28). Já a fonte C, que é a aludida empresa V3, foi uma das duas empresas contactadas por e-mail pela autoridade da Fiocruz requisitante do serviço demandado no certame em tela (peça 25, p. 4-5 e 8-13). Esta terceira fonte é unilateral, menos confiável, autora de orçamento de preços sem comprovação de que tenham sido mais efetivamente praticados (compromissados) no mercado do que na própria cotação feita pela Fiocruz.’

16.21. Se, como já mencionado, a autoridade homologadora tinha o dever de

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fiscalizar todo o encadeamento dos atos administrativos constitutivos do procedimento licitatório, com mais razão a autora do edital e pregoeira do certame deveria ter se esmerado para que tais erros não tivessem sido evidenciados, em face de sua repercussão negativa no objetivo maior da licitação: obter a proposta mais vantajosa à Administração. 16.22. Questões conjunturais, a exemplo de greve, carência de recursos humanos e inexistência de atitude dolosa, consoante já comentado no presente exame, não são capazes de elidir a irregularidade em comento. 16.23. Ademais, diz a Instrução Normativa SLTI/MPOG nº 5, de 27/6/2014 (grifos nossos):

‘Art. 2º A pesquisa de preços será realizada mediante a utilização de um dos seguintes parâmetros: (Alterado pela Instrução Normativa nº 7, de 29 de agosto de 2014) I - Portal de Compras Governamentais - www.comprasgovernamentais.gov.br; II - pesquisa publicada em mídia especializada, sítios eletrônicos especializados ou de domínio amplo, desde que contenha a data e hora de acesso; III - contratações similares de outros entes públicos, em execução ou concluídos nos 180 (cento e oitenta) dias anteriores à data da pesquisa de preços; ou IV - pesquisa com os fornecedores. § 1º No caso do inciso I será admitida a pesquisa de um único preço. (Alterado pela Instrução Normativa nº 7, de 29 de agosto de 2014) § 2º No âmbito de cada parâmetro, o resultado da pesquisa de preços será a média ou o menor dos preços obtidos. (Alterado pela Instrução Normativa nº 7, de 29 de agosto de 2014) (...) § 6º Para a obtenção do resultado da pesquisa de preços, não poderão ser considerados os preços inexequíveis ou os excessivamente elevados, conforme critérios fundamentados e descritos no processo administrativo.’ Disponível em: <http://www.comprasgovernamentais.gov.br/paginas/instrucoes-normativas/instrucao-normativa-no-5-de-27-de-junho-de-2014> Acesso em: 13 out. 2016.

16.24. A adoção da utilização de médias pelo setor de compras da unidade não resultou de interpretação diversa da norma, mas, sim, da faculdade atribuída ao gestor: emprego da média ou do menor dos preços obtidos. A instrução revelou, todavia, que o emprego da média inflou demasiadamente o orçamento do pleito, como registrou a unidade técnica (peça 29, p. 16):

‘62. Conforme acima detalhado, a média artificialmente elevada por cotação caríssima de empresa potencial licitante, acolhida indevidamente por esse agente público, bem como a escolha de valores arbitrários por pesquisador como médias, resultaram num valor máximo estimado de R$ 23.757.555,00, portanto mais do que o dobro do valor total acima estimado de R$ 10.888.000,00, que poderia ter sido obtido pela adoção do menor preço de cada item prevista na Instrução Normativa-SLTI/MPOG 5/2014, art. 2º, § 2º. 63. Por sua vez, o resultado final do certame chegou a R$ 14.024.750,00, sendo assim 28,80% superior à proposta de R$ 10.888.000,00 potencialmente mais vantajosa que a administração poderia ter conseguido

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nesse torneio, a julgar por sua pesquisa prévia de preços de mercado. Assim, há uma ameaça de dano potencial à Fiocruz de até R$ 3,1 milhões de reais, que pode se concretizar caso ela venha a contratar organização de eventos com base na sua referida Ata de Registro de Preços 72/2015, de 15/9/2015 (item 2 desta instrução).’

16.25. Assim, ainda que regular a utilização do critério da média, como mencionou a unidade técnica (subitem 55, peça 29, p. 14), os responsáveis não lograram justificar o emprego desse parâmetro em detrimento do uso dos menores preços obtidos para cada item cotado:

‘55. (...) A adoção de média dos preços, em detrimento do menor preço, embora facultada neste mesmo dispositivo, precisa ser devidamente justificada, por representar dispêndio maior para a administração pública, e não foi. No geral, mesmo havendo uma redução injustificada de 65 dos 75 preços estimados, um grave problema perdurou, como será explicado a seguir.’

16.26. Ademais, mesmo que se admitisse como regular o emprego da média em questão, os responsáveis não excluíram da amostragem os preços exorbitantes, consoante exigência constante do art. 2º, § 6º da aludida IN SLTI/MPOG 5/2014, conforme registrou a unidade técnica (peça 29, p. 15):

‘60. Conforme decidido com o Acórdão 2.943/2013 – TCU – Plenário, não se deve considerar, para fins de elaboração do mapa de cotações, as informações relativas a empresas cujos preços revelem-se evidentemente fora da média de mercado, de modo a evitar distorções no custo médio apurado e, consequentemente, no valor máximo a ser aceito para cada item licitado. Essa orientação consta na Instrução Normativa-SLTI/MPOG 5/2014, que no art. 2º, § 6º, dispõe que, para a obtenção do resultado da pesquisa de preços, não poderão ser considerados os preços inexequíveis ou os excessivamente elevados, conforme critérios fundamentados e descritos no processo administrativo (trecho de análise constante de Relatório do Relator referente ao Acórdão 2.637/2015 – TCU – Plenário). Realmente, ‘não é admissível que a pesquisa de preços de mercado feita pela entidade seja destituída de juízo crítico acerca da consistência dos valores levantados, máxime quando observados indícios de preços destoantes dos praticados no mercado’ (Acórdão 1.108/2007 – TCU – Plenário, Sumário).

16.27. Consulta ao guia de orientação sobre a IN SLTI/MPOG 5/2014 na rede mundial dos computadores, vez que os responsáveis não o juntaram aos autos, desmente a informação da recorrente, segundo a qual ‘O método previsto na norma é a utilização de média entre os valores pesquisados, que pode ser obtida a partir da soma dos resultados encontrados na pesquisa dividida pela quantidade numérica de pesquisas realizadas’ (peça 86, p. 5). Com efeito, na mesma pág. 32 referenciada pela recorrente, consta a seguinte informação (grifos nossos):

‘FORMA DE PESQUISA 3.1 No âmbito de cada parâmetro, o resultado da pesquisa de preços será a média ou o menor dos preços obtidos. Um dos métodos previstos na norma é a utilização de média entre os valores pesquisados, que pode ser obtida a partir da soma dos resultados encontrados na pesquisa dividida pela quantidade numérica de pesquisas realizadas. O outro método de pesquisa, resultado da Instrução Normativa nº 7/2014, é a utilização do menor preço obtido no âmbito do parâmetro. Neste caso não haverá necessidade de realização de média, podendo o gestor adotar de pronto

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a forma que melhor atenda ao objeto a ser contratado e à realidade local. O órgão poderá, justificadamente, utilizar métodos diversos dos previstos na norma para a obtenção do preço médio na pesquisa de preços, usando, por exemplo, parâmetros estatísticos a fim de apurar o valor estimado (desvio padrão, moda, mediana, índice deflatores, etc.). 3.2 Para a obtenção do resultado da pesquisa de preços, não poderão ser considerados os preços inexequíveis ou os excessivamente elevados, conforme critérios fundamentados e descritos no processo administrativo. Os critérios e parâmetros a serem analisados para fins de considerar um valor inexequível ou excessivamente elevado devem ser os próprios preços encontrados na pesquisa, a partir de ordenação numérica na qual se busque excluir aquelas que mais se destoam do alinhamento dos demais preços pesquisados.’ Disponível em: <www.comprasgovernamentais.gov.br/arquivos/caderno/pesquisa_precos-02-09.pdf> Acesso em: 13 out. 2016.

16.28. Noutras palavras, a norma introduz o tema por meio de um artigo indefinido ‘Um dos métodos previstos na norma é a utilização de média entre os valores pesquisados (...)’, admitindo, por conseguinte, o emprego de outro método, ao passo que a recorrente empregou, se referindo ao mesmo texto regulamentador, o artigo definido ‘O método previsto na norma é a utilização de média entre os valores pesquisados (...)’ e, consequentemente, o uso do plural em detrimento do singular, com evidente indício de cometimento de crime de falsidade ideológica, tipificado no Código Penal (grifos acrescidos):

‘Falsidade ideológica Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular. Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte’.

16.29. Desse modo, não existe a aventada controvérsia quanto à interpretação da norma. 16.30. De outro lado, dissente-se do argumento da recorrente, segundo o qual o Acórdão recorrido ‘não incluiu a adoção do menor preço em detrimento da média de preços entre as suas recomendações para a autarquia’, esse comando se encontra implícito no subitem 9.11 do Acórdão recorrido:

‘9.11. determinar à Secex-RJ que acompanhe a próxima licitação lançada pela Fiocruz com vistas à contratação do objeto em tela, a fim de verificar se foram corrigidas as falhas apontadas nesse processo;’

16.31. Ademais, a despeito de o mencionado Acórdão não ter direcionado tal determinação ou recomendação à Autarquia, o relator fez questão de ressaltar em seu Voto que aquiesceu à instrução da unidade técnica sobre o tema, razão pela qual eventual reiteração da conduta censurada por esta Corte certamente será apenada com maior rigor (peça 68, p. 2 – grifo nosso):

‘13. As justificativas apresentadas pelos responsáveis não lograram afastar as

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irregularidades relativas à elaboração do mapa de cotação prévia de preços, consoante exame realizado pela Secex-RJ, cujos argumentos lançados nos parágrafos 48 a 56 da instrução transcrita no relatório precedente adoto como minhas razões de decidir. Como consequência, entendo que cabe multa aos responsáveis, com base na Lei 8.443/1992, art. 58, inc. II.’

16.32. Quanto ao argumento de que ‘os fornecedores, no momento da pesquisa de mercado, buscam orçar seus preços para cima no intuito de influenciar a estimativa de preços balizadora da licitação’, sabedora dessa probabilidade, competia-lhe adotar as precauções necessárias para expurgar do procedimento tais vícios, contudo não o fez. 16.33. A alegação de que os preços das duas empresas melhor classificadas no certame (Upgrade Corporativos Eireli – EPP e Q2 Eventos Ltda. – EPP) se encontraram ‘bem mais próximos dos preços pesquisados das fontes A e B’ e que ‘a adoção dos preços da empresa V3 Agência de Publicidade e Evento Ltda., apesar de ter se configurado um equívoco, não influiu no resultado da licitação’, não são críveis, em face da manifestação da unidade técnica (peça 29, p. 16):

‘61. A Fiocruz não atendeu a essa orientação [Acórdãos 2.943/2013 e 1.108/2007 – TCU – Plenário, cf. subitem 60 – peça 29, p. 15], ao não proceder à exclusão de valores da empresa V3 manifestamente fora de mercado, observados pelas discrepâncias entre as propostas, nem buscou outros orçamentos que robustecessem seu levantamento, como se vê no mapa de preços unitários resultante da sua pesquisa prévia (peça 18, p. 6-7). 62. Conforme acima detalhado, a média artificialmente elevada por cotação caríssima de empresa potencial licitante, acolhida indevidamente por esse agente público, bem como a escolha de valores arbitrários por pesquisador como médias, resultaram num valor máximo estimado de R$ 23.757.555,00, portanto mais do que o dobro do valor total acima estimado de R$ 10.888.000,00, que poderia ter sido obtido pela adoção do menor preço de cada item prevista na Instrução Normativa-SLTI/MPOG 5/2014, art. 2º, § 2º. 63. Por sua vez, o resultado final do certame chegou a R$ 14.024.750,00, sendo assim 28,80% superior à proposta de R$ 10.888.000,00 potencialmente mais vantajosa que a administração poderia ter conseguido nesse torneio, a julgar por sua pesquisa prévia de preços de mercado. Assim, há uma ameaça de dano potencial à Fiocruz de até R$ 3,1 milhões de reais, que pode se concretizar caso ela venha a contratar organização de eventos com base na sua referida Ata de Registro de Preços 72/2015, de 15/9/2015 (item 2 desta instrução)’

16.34. Desse modo, não há como acatar as razões recursais aduzidas pelos recorrentes. 17. Da suposta regularidade da recusa da intenção de recurso. 17.1. Quanto à recusa da intenção de recurso, o Sr. Hermano Albuquerque de Castro apresentou os seguintes argumentos (peça 84, p. 10/11):

a) assere que não praticou esse ato. Lembra que nos termos dos incisos XVIII a XX do art. 4º da Lei 10.520/2002, a aceitação ou recusa da intenção de recurso é ato de competência do pregoeiro e não da autoridade responsável pela homologação do certame;

b) assevera que, mesmo que se entendesse que o ato em questão extrapolou os limites estabelecidos pela Lei 10.520/2002, tal ato não poderia ser controlado pelo Recorrente, consoante previsão contida no § 2º do art. 80 do Decreto-Lei 200/1967;

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c) assinala que adotou internamente as recomendações desta Corte, ‘em especial, para que nos processos licitatórios futuros o exercício da competência de Pregoeiro, no que se refere aos recursos interpostos, seja interpretada e executada restritivamente, de maneira a impedir que se repitam o ocorrido no certame revogado’;

d) repete os mesmos argumentos manifestados quanto à elaboração do mapa da cotação prévia de preços, no que diz respeito à ausência de individualização da conduta do agente. Reitera, por conseguinte, que em ambos os casos os atos não foram praticados pelo recorrente;

e) finaliza este tópico (e, consequentemente, o recurso interposto), reafirmando que:

‘(...) não foi apontada qualquer conduta, dentro das atribuições de Diretor de Unidade, que poderia ter contribuído para resultado diverso. Pelo contrário, no momento em que os erros foram apontados, revogou-se a licitação, o que atinge todos os atos praticados no certame, que deixaram de existir e de terem a capacidade de produzir qualquer efeito. Nenhuma contratação resultou da licitação revogada.’

f) ao pedir o provimento do recurso, proclama que foram respeitados os princípios constitucionais da legalidade, moralidade, eficiência, isonomia e transparência. 17.2. A Sra. Maria José Martins Lopes, por sua vez, apresentou as seguintes teses recursais (peça 86, p. 7/11):

a) argui que ao ter decidido nos autos do processo pela recusa da aceitação da intenção de recurso da empresa Upgrade Eventos Corporativos Eireli – EPP, estava convicta de que cumpria com as suas prerrogativas legais de pregoeira, conforme estabelecido pelo art. 4º, inciso XVIII, da Lei 10.520/2002;

b) arrima que interpretou o termo ‘motivadamente’ presente na Lei 10.520/2002 não se referindo ‘apenas a quaisquer palavras lançadas por uma empresa participante no sistema, mas a motivos com um mínimo de plausibilidade, passível de ser detectada em um exame preliminar’. Entendeu, naquele momento, que ‘a manifestação da empresa era meramente protelatória, pois a mesma não tinha mais interesse no certame, pois já havia sido inabilitada e o objeto de seu recurso era a inabilitação de outra empresa’. Assevera que o recurso da Empresa Upgrade Eventos Corporativos Eireli – EPP limitou-se a atacar a habilitação da empresa Q2 Eventos Ltda. – EPP. Assinala que ‘Mesmo que o recurso da primeira tivesse sido aceito, o resultado não poderia ser a sua habilitação. Por isso, a Pregoeira, ora Recorrente, entendeu que não havia motivos’;

c) diz que tanto não havia intenção em prestar qualquer favorecimento, que houve recurso de outra empresa que foi aceito naquele momento, embora posteriormente julgado improcedente. Ecoa que a decisão liminar de não aceitação da intenção de recurso configura-se legal e idônea, pois foi aceita na mesma sessão a intenção de recurso da empresa ícone Viagens e Eventos Ltda. – ME contra a mesma empresa Q2 Eventos Ltda. – EPP. Emenda que ‘Embora, as duas empresas, Upgrade Eventos Corporativos Eireli – EPP e Q2 Eventos Ltda. – EPP, tenham intentado recurso contra a habilitação da empresa Q2 Eventos Ltda. – EPP, o da primeira foi inadmitido e o da segunda admitido’;

d) esclarece que ‘estava certa de que os atos são posteriormente submetidos a juízo quando do momento de homologação do certame. Ou seja, havia possibilidade jurídica de revisão de seus atos’;

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e) lembra que ao recusar a intenção de recurso, ‘pensou estar adotando o mesmo entendimento do TCU, conforme manifestado pelo Acórdão n° 1440/2007, que mais uma vez se evoca nos autos deste processo (...)’; e

f) ressalta, por fim, que, ao tomar conhecimento de que não poderia ter recusado a intenção de recurso, quando no desempenho das funções de pregoeira, irá acatar esse posicionamento e interpretar mais restritivamente ainda as definições de suas competências presentes no art. 4º, inciso XVIII, da Lei 10.520/2002. Análise 17.3. Não procedem os argumentos recursais do Sr. Hermano Albuquerque de Castro, consoante já abordado nos itens 16.5/16.12, retro. 17.4. As razões recursais da Sra. Maria José Martins Lopes também são incapazes de alterar o juízo de mérito negativo sobre sua conduta, vez que negou ao licitante a intenção de recurso, afrontando, literalmente, o disposto no art. 4º, inciso XVIII, da Lei 10.520/1992, vez que indeferiu liminarmente o pedido (peças 1, p. 10; 4, p. 76; e 29, p. 6), decidindo antecipadamente o mérito recursal, o que lhe era vedado, consoante expressa dicção legal (grifos nossos):

‘Art. 4º A fase externa do pregão será iniciada com a convocação dos interessados e observará as seguintes regras: (...) XVIII - declarado o vencedor, qualquer licitante poderá manifestar imediata e motivadamente a intenção de recorrer, quando lhe será concedido o prazo de 3 (três) dias para apresentação das razões do recurso, ficando os demais licitantes desde logo intimados para apresentar contrarrazões em igual número de dias, que começarão a correr do término do prazo do recorrente, sendo-lhes assegurada vista imediata dos autos;’

17.5. Ademais, consoante reportado pela unidade técnica, o próprio edital do certame vedava a análise prévia do mérito recursal, restando, por conseguinte, transgredido a própria norma regedora do pregão (peça 29, p. 7/8 – grifado no original):

‘25. Como se vê, a recusa, baseada em exame de mérito de intenção de recurso, foi confirmada pela própria Fiocruz, em visível contrariedade ao edital, que tinha previsto o seguinte processamento (peça 11, p. 10):

9. DOS RECURSOS 9.1. O pregoeiro declarará o vencedor e, depois de decorrida a fase de regularização fiscal de microempresa ou empresa de pequeno porte, se for o caso, será concedido o prazo de no mínimo vinte minutos, para que qualquer licitante manifeste a intenção de recorrer, de forma motivada, isto é, indicando contra qual(is) decisão(ões) pretende recorrer e por quais motivos, em campo próprio do sistema. 9.2. Havendo quem se manifeste, caberá ao Pregoeiro verificar a tempestividade e a existência de motivação da intenção de recorrer, para decidir se admite ou não o recurso, fundamentadamente. 9.2.1. Nesse momento o Pregoeiro não adentrará no mérito recursal, mas apenas verificará as condições de admissibilidade do recurso. [grifos deste servidor] 9.2.2. A falta de manifestação motivada do licitante quanto à intenção de recorrer importará a decadência desse direito. 9.2.3. Uma vez admitido o recurso, o recorrente terá, a partir de então, o prazo de três dias para apresentar as razões, pelo sistema eletrônico,

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ficando os demais licitantes, desde logo, intimados para, querendo, apresentarem contrarrazões também pelo sistema eletrônico, em outros três dias, que começarão a contar do término do prazo do recorrente, sendo-lhes assegurada vista imediata dos elementos indispensáveis à defesa de seus interesses.

26. A lei e a jurisprudência desse Tribunal mostram em tese o mesmo entendimento defendido pela reclamante como aplicável no presente caso concreto:

O segundo questionamento, por sua vez, decorre do fato de que não houve autorização por parte da pregoeira para a licitante recorrer, embora ela tenha manifestado de forma imediata e motivada tal intenção. Quanto a este aspecto específico, entendo que a reclamação da representante é procedente. A Lei nº 10.520, de 17 de julho de 2002, que instituiu o pregão, dispõe em seu artigo 4º, incisos XVIII e XX, que qualquer licitante poderá manifestar imediata e motivadamente a intenção de recorrer e que a ausência desta manifestação importaria na decadência do direito de recurso. Por sua vez, o Decreto nº 3.555, de 08 de agosto de 2000, em seu art. 11, inciso XVII, que regulamentou a referida modalidade licitatória, assina que a manifestação da intenção de interpor recurso será feita no final da sessão, com prazo de três dias úteis para apresentação das razões. Assim, está claro nos normativos que abordam a matéria a possibilidade de o licitante que se julgar prejudicado manifestar, de forma imediata e motivada, a sua intenção de recorrer. E tal foi feito pela representante.’ Acórdão 1619/2008 Plenário (Voto do Ministro Relator)

17.6. Desse modo, se alvitra a rejeição dos argumentos recursais encetados. 18. Da suposta ausência de responsabilidade pela autoridade homologadora do certame revogado. 18.1. O Sr. Hermano Albuquerque de Castro apresentou razões recursais personalíssimas para isentá-lo de responsabilidade pela homologação do certame revogado, firmando-se nas seguintes premissas (peça 84, p. 3/6):

a) afirma que os itens 18 e 19 do Voto condutor do Acórdão recorrido contradiz a imputação de ter homologado a licitação eivada de vícios;

b) alerta que o Plenário desta Corte acolheu suas razões, deixando de lhe aplicar penalidade sobre o ponto relativo à ‘inabilitação indevida que apresentou proposta mais vantajosa’ por ter entendido que a licitação não produziu qualquer efeito e porque adotou as medidas cabíveis que sanearam a questão;

c) alude que o acatamento da justificativa quanto à inabilitação deve ser estendido à elaboração do mapa de cotação prévia de preços e à recusa da intenção de recurso. Aduz que, ‘ao contrário da inabilitação, não praticou nenhum desses dois últimos atos no exercício do cargo de Diretor da Unidade’.

d) anota que a Administração reconheceu os equívocos na condução do processo, o que, além de uma virtude moral e ética, é uma exigência jurídica;

e) destaca que não há qualquer responsabilidade nas irregularidades que motivaram sua condenação: a uma, porque não foram por ele praticados diretamente e sim por terceiros; a duas, porque não houve falha no exercício de suas atribuições, na qualidade de Diretor de Unidade. Nesse sentido, aponta que os atos que lhe são imputados sequer podem ser considerados atos delegados, pois estão fora do rol de competências de Diretor de Unidade e Ordenador de Despesas, nos

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termos dos arts. 10, § 2º, e 80, § 2º, do Decreto-Lei 200/1967. Argui que a elaboração do mapa de cotação prévia de preços pode ser enquadrada como ato de rotina administrativa, enquanto que as competências do Pregoeiro estão definidas na Lei 10.520/2002. Entende, por conseguinte, que a sanção não seria cabível, visto que, apesar de ser o Diretor da Unidade, não operou diretamente na cotação dos preços, nem tampouco na condução do pregão;

f) reafirma que ao tomar ciência das falhas contidas no edital e na condução do processo licitatório, saneou-o por meio da revogação que alcançou todos os seus atos e efeitos; e

g) aponta que a Administração acatou as orientações desta Corte, recomendando que nos processos licitatórios futuros não mais se repetissem os erros verificados. Análise 18.2. Sem razão o recorrente, em face da análise contida nos itens 16.5/16.12, retro CONCLUSÃO 19. Das análises anteriores, conclui-se que:

a) a revogação do certame não elide as irregularidades apontadas nos autos, uma vez que a licitação somente foi revogada pela Administração após a concessão de medida cautelar por esta Corte;

b) não houve violação aos princípios da proporcionalidade na dosimetria da pena, tampouco de sua individualização, vez que a sanção se encontra devidamente fundamentada no Voto condutor do decisum recorrido e na instrução da unidade técnica e demais manifestações que lhe deram suporte;

c) os procedimentos atinentes à elaboração do mapa de cotação prévia de preços e à recusa da intenção de recurso são irregulares, pois violam dispositivos expressos de lei; e

d) a autoridade homologadora do certame deve ser responsabilizado por atos cometidos por agentes delegados, em face do seu dever de fiscalizar os atos de seus subordinados, consoante jurisprudência desta Corte. PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO 20. Ante o exposto, submete-se à consideração superior a presente análise dos pedidos de reexame interpostos contra o Acórdão 1405/2016 – TCU – Plenário, nos termos do art. 48 da Lei 8.443/1992, propondo-se:

a) conhecer os recursos interpostos, para, no mérito, negar-lhes provimento; b) dar ciência aos recorrentes, ao Ministério Público Federal em face do indício

de crime cometido (cf. subitens 16.27/16.28, retro) e aos demais interessados do acórdão que vier a ser proferido, remetendo-se-lhes cópia da instrução, das manifestações posteriores da unidade técnica, do Acórdão e do Voto que o fundamentarem.”

É o relatório.

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VOTO

Trata-se de pedidos de reexame interpostos por Hermano Albuquerque de Castro, Davi José Franco da Silva e Maria José Lopes Martins contra o acórdão 1.405/2016 – Plenário, proferido em processo de representação, que lhes aplicou multas individuais de R$ 2.500,00 em razão de irregularidades na condução do Pregão Eletrônico 6/2015, promovido pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) para contratação e registro de preços de empresa especializada na realização de eventos. 2. Em breve síntese, as multas foram aplicadas em decorrência das seguintes questões: (i) Davi José Franco da Silva, empregado terceirizado que atuava como apoio administrativo aos pregoeiros: irregularidade na elaboração do mapa de cotação prévia de preços; (ii) Maria José Lopes Martins, pregoeira: recusa da intenção de recurso da firma Upgrade Eventos Corporativos Ltda. – EPP e “culpa in vigilando na conferência da formação de mapa de cotação prévia de preços”; (iii) Hermano Albuquerque de Castro, Diretor da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP), unidade técnico-administrativa da Fiocruz: adjudicação e homologação do certame com as irregularidades descritas.

3. Os recorrentes, em uníssono, alegaram que o pregão 6/2015 foi revogado pela Fiocruz, sem a produção de qualquer efeito negativo para aquela Fundação, ademais, em relação à individualização de suas condutas, registraram: (i) Davi José Franco da Silva que: (a) houve erro na transcrição dos dados quando da montagem do mapa de cotação prévia de preços, possivelmente decorrente de sobrecarga de tarefas, uma vez que, à época, a Fiocruz enfrentava greve, com condições anormais de trabalho; (b) apenas 08 itens, de um total de 75, foram preenchidos sem que exista comprovação de que foi realizada pesquisa de preços para um dos três preços lançados no mapa de cotação; os preços desses itens, no entanto, apresentavam proximidade com os mais baixos da pesquisa; (c) durante o pregão, os preços foram reduzidos, ou seja, os preços equivocados consignados para os itens questionados não foram praticados; (d) as multas foram aplicadas em valor igual para todos os responsáveis, com inobservância da dosimetria da pena;

(ii) Maria José Lopes Martins que: (a) reitera os argumentos de Davi José Franco da Silva; (b) a utilização de médias, em detrimento da adoção do menor preço constante do mapa de cotação, decorreu de interpretação normativa utilizada pelo setor de compras da Fiocruz; (c) a inclusão da fonte de preços da empresa V3 Agência de Publicidade e Eventos Ltda., que apresentou cotações muito acima das demais pesquisadas, deu-se porque se tratou de pesquisa realizada diretamente com o fornecedor, ao contrário dos outros dois preços pesquisados, que foram extraídos de licitações realizadas; (d) endossa a argumentação de Davi José Franco da Silva acerca de ser ele apenas um empregado terceirizado, sem qualquer poder de decisão sobre processos administrativos da unidade; (e) a recusa da intenção de recurso da firma Upgrade Eventos Corporativos Ltda. decorreu de sua interpretação de que o termo

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“motivadamente” constante da Lei 10.520/2002 abrangia a análise de “um mínimo de plausibilidade, passível de ser detectada em um exame preliminar”; dessa forma, não aceitou a intenção do recurso por entender que ele era meramente protelatório; (f) a aceitação, por ela, de recurso de outra recorrente demonstra que não havia intenção deliberada de prestar favorecimento à vencedora; (g) a aplicação de multa é medida excessiva, uma vez que o “caráter pedagógico” já foi atingido; (iii) Hermano Albuquerque de Castro que: (a) não praticou os atos tidos pelo Tribunal como irregulares; ao contrário, ciente das falhas, reconheceu os equívocos na condução do processo e revogou o certame; (b) não foi apontada “displicência sua que tenha contribuído para prosseguimento (...)” dos equívocos apontados; (c) “a decisão recorrida não individualiza em que atividades de planejamento, supervisão, coordenação ou controle houve falha”; (d) como Diretor da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, não poderia conferir diretamente a pesquisa prévia de preços e seu lançamento no mapa de cotação; (e) em face do universo de suas atribuições, não era esperada conduta diversa; (f) a recusa da intenção de recurso foi ato da pregoeira e, ainda que tenha sido por aquela praticado com extrapolação de sua competência, “não poderia ser regulado, controlado pelo recorrente”. 4. A Secretaria de Recursos, em pareceres uniformes, manifestou-se pelo conhecimento dos recursos e pela negativa de provimento a eles, sob os argumentos de que: (i) a revogação do certame não isenta o agente que praticou a irregularidade; (ii) as multas foram aplicadas em valores iguais em razão da “caracterização das ilicitudes de per si” e se situaram dentro dos limites impostos pela lei e pelo regimento interno; (iii) a responsabilidade de Hermano Albuquerque de Castro somente poderia ser afastada “se se tratasse de vício oculto”; contudo todos os documentos constavam do processo que lhe foi submetido; (iv) a responsabilidade de Davi José Franco da Silva remanesce, sendo irrelevante o fato de ele ser empregado terceirizado, e não funcionário público; (v) embora não existam elementos que comprovem o dolo de Davi José Franco da Silva, é certo que agiu ele com culpa e que “sua conduta falha somente pode ser explicada por negligência, imprudência ou imperícia”; (vi) Maria José Martins Lopes, na condição de pregoeira, tinha o dever de fiscalizar “todo o encadeamento dos atos administrativos constitutivos do procedimento licitatório”; (vii) “não é aceitável que os erros expressamente reconhecidos não tenham sido capazes de resultar em danos ao Erário”, uma vez que alguns dos preços médios estipulados pela Fiocruz se apresentavam superiores à média aritmética dos preços pesquisados; (viii) a utilização do preço médio era admitida pela IN-SLTI/MPOG 5/2014, desde que fossem desconsiderados os preços excessivamente elevados; (ix) em decorrência da adoção da média dos preços, sem exclusão dos valores exorbitantes, o valor máximo estimado foi da ordem de R$ 23,7 milhões; caso adotado o critério do menor preço pesquisado, esse valor seria R$ 10,8 milhões; a proposta vencedora do certame foi de R$ 14 milhões, o que mostra ter o equívoco cometido afetado o resultado da licitação; (x) o próprio edital do certame veda a análise prévia, pelo pregoeiro, do mérito recursal. 5. Não restam dúvidas acerca da existência de impropriedades no Pregão Eletrônico 6/2015 da Fiocruz. Os próprios recorrentes as reconheceram, tanto assim que o certame foi revogado após a oitiva realizada pelo Tribunal. O que se discute agora são os efeitos dos atos indevidamente praticados, as responsabilidades dos envolvidos e a eventual possibilidade de mitigação das penas aplicadas. 6. Davi José Franco da Silva é trabalhador terceirizado, com atuação de suporte ao trabalho dos pregoeiros. Conquanto tenha assinado o Mapa de Pesquisa de

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Mercado que deu suporte ao estabelecimento dos preços máximos estabelecidos para o certame, não deve, na esfera deste Tribunal, ser responsabilizado pelo equívoco cometido. 7. Da defesa inicialmente apresentada por Maria José Lopes Martins extrai-se que Davi José Franco da Silva “não possui nem possuía qualquer poder de decisão administrativa sobre o setor de compras e sobre os processos administrativos da unidade” e que “o trabalhador (...) não foi o responsável pela pesquisa de mercado, nem sobre a decisão de utilizar a média dos preços pesquisados e não o menor preço. Sua responsabilidade foi a de organizar a planilha, na qual ocorreram, ao que tudo indica, erros de digitação, que, como verificado, não influenciaram no resultado da licitação” (peça 56, p. 2). 8. O Decreto 5.450/2005, em seu art. 12, definiu que “Caberá à equipe de apoio, dentre outras atribuições, auxiliar o pregoeiro em todas as fases do processo licitatório”, deixando claro que suas atividades são acessórias, destinadas tão-somente a prestar auxílio ao pregoeiro, ao qual, nos termos do art. 11, inciso X, do Decreto 5.450/2005, incumbe, em especial, “conduzir os trabalhos da equipe de apoio”. Os integrantes da equipe de apoio, por sua vez, dão suporte àquele, mas não praticam atos decisórios e não avaliam as questões de mérito do certame, que são formalmente atribuídos ao pregoeiro. Nessa condição, sua responsabilidade somente emerge se, na condição de servidores públicos, eventualmente ostentarem, agirem com dolo, cumprirem ordem manifestamente ilegal ou deixarem de representar à autoridade superior na hipótese de terem conhecimento de ilegalidade praticada pelo pregoeiro. 9. Nessa linha é o acórdão 2.341/2012 – 2ª Câmara (relator ministro Raimundo Carreiro), assim ementado:

“Pedido de reexame em processo de representação. Conhecimento. Responsabilidade da equipe de apoio que se afasta, tendo em vista a sua atuação apenas auxiliar, sem poder decisório. Peculiaridade que a distingue da comissão de licitação, conforme amplamente reconhecido pela doutrina e jurisprudência. Extensão ao pregoeiro dos mesmos fundamentos invocados pelo acórdão recorrido para isentar de responsabilidade a diretora-geral, em exercício, signatária do ato impugnado. Situações iguais reclamam soluções iguais. Incidência do princípio da igualdade nos julgamentos desta corte. Provimento. Ciência aos interessados.”

10. Consoante argumentos trazidos aos autos pelo recorrente e corroborados pelas afirmações dos demais responsáveis ouvidos no processo, Davi José Franco da Silva não possuía qualquer poder decisório, e não se inseria em sua alçada deliberar sobre: (i) a “adoção injustificada de valores arbitrários como médias”, em detrimento dos menores preços colhidos na pesquisa; (ii) a exclusão de valores exorbitantes, coletados em pesquisa de preços, para cálculo das médias a serem utilizadas no orçamento dos serviços. Seria inerente ao recorrente, portanto, apenas a digitação equivocada de preços na planilha utilizada para condução do certame. 11. A esse respeito, a imputação refere-se especificamente aos preços atribuídos à denominada “fonte A” para os itens 5 a 12 do Mapa de Pesquisa de Mercado (que não teriam correspondência no mundo real). Ocorre que, do ponto de vista prático, o erro não teve qualquer consequência, uma vez que, para todos os referidos itens, o valor adjudicado foi inferior ao preço cotado pela outra fonte de preços (fonte essa não questionada pelas instruções), a denominada “fonte B”.

12. De toda forma, a análise da culpabilidade efetuada a partir do juízo de reprovabilidade da conduta milita em favor do recorrente, sobretudo em razão: (i) de

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suas condições adversas de trabalho à época da ocorrência, em razão da greve por que passava a Fiocruz: (ii) das declarações de Maria José Lopes Martins e de Hermano Albuquerque de Castro que o isentaram de responsabilidade por quaisquer decisões associadas ao certame. 13. Por essas razões, considero que o equívoco cometido por Davi José Franco da Silva não deva ser motivo de punição por este Tribunal. Melhor se amolda ao caso a aplicação de eventual punição no âmbito da própria Fiocruz, mediante utilização dos institutos próprios previstos na legislação trabalhista (advertências, etc.), caso entendido conveniente por aquela Fundação. 14. Hermano Albuquerque de Castro foi responsabilizado pela adjudicação e homologação do certame, desenvolvido com as impropriedades apontadas pela unidade técnica. Uma vez mais, divirjo da Serur no que concerne à possibilidade de exclusão da sanção que lhe foi imputada.

15. É certo que a homologação de processo licitatório pode ser tida como um “ato de fiscalização”, como entende a jurisprudência desta Corte colacionada pela Serur. Há que se discutir, no entanto, qual o exato escopo dessa “fiscalização”. Não me parece razoável exigir-se que as checagens que precedem a homologação de um certame abarquem todos os dados contidos no processo licitatório, incluída a verificação individual de todos os documentos que comprovem a pesquisa de preços realizada para cada item lançado no Mapa de Pesquisa de Mercado e a análise individualizada de cada intenção de recurso rejeitada pelos pregoeiros. Mais razoável é admitir que a fiscalização inerente à homologação deve se ater à verificação do cumprimento das macroetapas que compõem o procedimento licitatório, de fatos isolados materialmente relevantes e de questões denunciadas como irregulares que tenham chegado ao conhecimento daquela autoridade. 16. Exigir que a autoridade responsável pela homologação tenha conhecimento pleno de tudo quanto consta do processo licitatório é fazer letra morta do princípio da eficiência, introduzido no art. 37 da Constituição Federal pela Emenda Constitucional 19/1998. 17. Com as devidas vênias, considero não haver reprovabilidade na conduta de Hermano Albuquerque de Castro no que se refere à homologação do Pregão Eletrônico 6/2015, por não vislumbrar exigibilidade de conduta diversa. Ao contrário, ciente das irregularidades apontadas por este Tribunal, levadas ao conhecimento da Fiocruz por meio de oitiva, revogou o certame, como demonstra publicação constante do DOU de 23/12/2015. 18. Maria José Lopes Martins foi a pregoeira que conduziu o Pregão Eletrônico 6/2015 e, na linha já defendida neste voto, sobre ela recairia a responsabilidade pelos fatos aduzidos. De forma específica, considero que são pertinentes os esclarecimentos prestados em relação: (i) à questão dos preços incorretamente inseridos no Mapa de Pesquisa de Mercado, em decorrência de equívocos de digitação de Davi José Franco da Silva, porque, como se afirmou neste voto, não apresentaram consequência de ordem prática; (ii) à utilização das médias dos preços pesquisados, para orçamentação do certame, em detrimento do menor dos preços obtidos, porque tal possibilidade é facultada ao gestor pelo art. 2º da IN/SLTI/MPOG 5/2014, não havendo irregularidade nesta opção, isoladamente. 19. Por outro lado, não restaram elididas: (i) a recusa da intenção de recurso apresentada pela Upgrade Eventos Corporativos – EPP, pois não cabia a ela fazer exame de mérito do recurso apresentado pela licitante, mas apenas se manifestar

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quanto à tempestividade e à existência de motivação para recorrer, uma vez que o juízo de mérito é de competência da autoridade superior; (ii) a utilização dos preços cotados pela empresa V3 Agência de Publicidade e Eventos Ltda. no cálculo das médias dos preços balizadores da contratação pública, uma vez que o § 6° do art. 2º da referida IN/SLTI/MPOG 5/2014 exige o expurgo dos preços excessivos; como destacou a instrução, a utilização daqueles preços inflou indevidamente o valor da cotação. 20. A atuação da pregoeira conduziu, portanto, a uma situação de potencial dano aos cofres da Fiocruz, somente evitada pela atuação tempestiva deste Tribunal. Ante o exposto, ao opinar pelo não provimento do pedido de reexame da pregoeira e pelo provimento dos apelos dos outros dois responsáveis, voto por que seja adotado o acórdão que submeto à apreciação deste colegiado.

TCU, Sala das Sessões, em 7 de dezembro de 2016.

ANA ARRAES

Relatora

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ACÓRDÃO Nº 3178/2016 – TCU – Plenário

1. Processo TC 026.021/2015-3.

2. Grupo II – Classe I – Pedidos de Reexame (Representação).

3. Recorrentes: Davi José Franco da Silva (CPF 932.547.507-30), Hermano Albuquerque de Castro (CPF 549.490.257-91) e Maria José Lopes Martins (CPF 452.438.757-91).

4. Unidade: Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz.

5. Relatora: ministra Ana Arraes.

5.1. Relator da deliberação recorrida: ministro Bruno Dantas.

6. Representante do Ministério Público: não atuou.

7. Unidade Técnica: Secretaria de Recursos (Serur).

8. Representação legal: não há.

9. Acórdão:

VISTOS, relatados e discutidos estes pedidos de reexame, interpostos por Hermano Albuquerque de Castro, Davi José Franco da Silva e Maria José Lopes Martins contra o acórdão 1.405/2016 – Plenário.

ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, ante as razões expostas pela relatora e com fundamento nos arts. 32, 33 e 48 da Lei 8.443/1992, em:

9.1. conhecer do recurso apresentado por Maria José Lopes Martins e negar-lhe provimento;

9.2. conhecer dos recursos apresentados por Hermano Albuquerque de Castro e Davi José Franco da Silva e dar-lhes provimento;

9.3. tornar sem efeito as multas aplicadas a Hermano Albuquerque de Castro e Davi José Franco da Silva pelo subitem 9.3 do acórdão 1.405/2016 – Plenário;

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9.4. dar ciência desta deliberação aos recorrentes e à Fundação Oswaldo Cruz.

10. Ata n° 50/2016 – Plenário.

11. Data da Sessão: 7/12/2016 – Ordinária.

12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-3178-50/16-P.

13. Especificação do quorum:

13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (na Presidência), José Múcio Monteiro, Ana Arraes (Relatora) e Bruno Dantas.

13.2. Ministros-Substitutos convocados: Augusto Sherman Cavalcanti e Weder de Oliveira.

13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e André Luís de Carvalho.

(Assinado Eletronicamente)

RAIMUNDO CARREIRO

(Assinado Eletronicamente)

ANA ARRAES

Vice-Presidente, no exercício da Presidência Relatora

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)

PAULO SOARES BUGARIN

Procurador-Geral