suicídio sob um olhar Ético cristão

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  • 7/25/2019 Suicdio Sob Um Olhar tico Cristo

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    UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL

    Curso de Ps-Graduao em Teologia

    Questes atuais em tica e Teologia Pastoral

    Suicdio sob um olhar tico Cristo

    Gabriel Boldt

    Prof: Dr. Clvis Jair Prunzel

    So Leopoldo, RS

    Novembro/ 2015

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    Introduo

    O suicdio em todos os tempos tem causado mal entendido, receios e muitas perguntas.

    Mal entendido devido pouco se ouvir falar em tratativas de como lidar casos de suicdio em

    nossa sociedade, devido a isso certos receios tm sido alimentados. Primeiro lugar porque amorte sempre uma intrusa na vida, ela sempre causa desconforto e consequentemente a dor.

    Agora se a morte j causa desconforto naqueles que ficam mais ainda ela machuca quando se

    provoca a morte sobre si prprio. O desconforto sempre maior, pois muitos no sabem o que

    levou a pessoa a tomar tal atitude, e at mesmo ningum espera que um ente querido tome

    essa deciso sobre sua vida. Logo, surgem muitas perguntas: Porque tal pessoa fez isso? O

    que levou ela a tomar essa atitude? Os familiares tm culpa diante disso? falta de f? Ou

    devido algum distrbio orgnico em seu organismo? Essas so apenas algumas perguntas quesurgem na cabea de muitas pessoas que precisam conviver com o suicdio de um ente

    querido. No decorrer desse trabalho tentarei responder essas perguntas partindo de um

    princpio tico cristo.

    O que o suicdio?

    O suicdio nada mais que algum tirar sua prpria vida, algo intencional, auto

    infligido. Acontece quando uma pessoa diante de contnuo sofrimento no v sada a no ser a

    morte sobre si.

    Ora, entre a diversas espcies de mortes, h as que apresentam o seguinte traoparticular: o fato de serem obra da prpria vtima, de resultarem de um ato de que opaciente o autor, e, por outro lado, acontece que este mesmo trao se encontra nabase da ideia que normalmente se tem de suicdio.1

    Ento, o suicdio de maneira geral algo pensado, planejado e visto como algo

    positivo e violento que na maioria das vezes exige o uso de fora fsica. Mas pode acontecer

    tambm quando pessoas de uma simples ao, vista muitas vezes como algo normal, como o

    uso de drogas e o mau uso da alimentao, causando assim a morte da pessoa que assim a faz.

    O suicdio muito mais que uma questo filosfica ou religiosa, mas sim uma questo social

    e de sade pblica como considera a Organizao Mundial da Sade (OMS)2

    1

    DURKHEIM mil. O suicdio. Estudo sociolgico.In. Os pensadores. Trad. Luiz Cary, Margarida Garrido eJ. Vasconcelos Esteves. So Paulo/ Cmara Brasileira do Livro. 1983. P.1662Preveno do suicdio in Debates Psiquiatria Hoje. Ano 2 N 1. Janeiro/Fevereiro 2010.p.10

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    Causas

    Existe diversos fatores que podem levar ao suicdio. Alguns casos podemos classificar

    como transtornos mentais, em outros casos como transtornos espirituais. Dentro dos

    transtornos mentais podemos tomar por base a depresso, comumente o maior ndice desuicdio acontece com pessoas depressivas, geralmente a depresso vem devido falta de

    algum elemento qumico no organismo.

    Os transtornos mentais mais comumente associados ao suicdio so a depresso,transtorno bipolar e o abuso de lcool e de outras drogas. A esquizofrenia e certascaractersticas de personalidade tambm so importantes fatores de risco. A situao ainda mais grave quando h comorbidade destas condies, por exemplo, depresso ealcoolismo, ou ainda depresso, ansiedade e agitao psicomotora associados.3

    Entre estes acontecimentos acima citados que podem levar a um transtorno mental

    podemos ressaltar tambm os acontecimentos inesperados da vida. Como sofrimento, a dor,

    problemas de sade, perda de uma pessoa querida, seja por morte ou mesmo por divrcio,

    crise econmica, problemas no trabalho e na famlia e o sentir-se rejeitado por pessoas do

    prprio convvio, tanto social quanto familiar, etc.4 Estes, por sua vez, geram malefcios

    neurolgicos que muitas vezes levam o indivduo ao suicdio achando que a nica soluo a

    morte como alvio de seu sofrimento contnuo.

    J os transtornos espirituais vm devido uma compreenso errada da Bblia e de Deus.

    Em alguns casos o fanatismo por uma religio, ou compreenso errada da divindade tem

    levado ao suicdio. Por vezes, a f quando no compreendida numa viso

    bblica/cristocntrica tem feito com que pessoas, na nsia de se salvar ou mesmo levadas por

    culpa, fazem certos ritos como que querendo com isso aplacar a ira dos deuses, chegam a

    loucura vendo que nada do que fazem ir servir de mrito diante de Deus, resultando

    distrbios mentais, depresso e consequentemente o suicdio.

    Consequncias

    Sem contar com a bvia consequncia que a morte da pessoa que comete o suicdio.

    Outras consequncias resultam aps o suicdio. Pra comear com aqueles que ficam.

    Geralmente os familiares desprovidos de conhecimento se perguntam: porque ele (a) fez isso?

    Ns temos culpa no processo? Em cima dessas perguntas surgem diversas teorias e muitas

    3

    HETEM, Luiz Alberto. Preveno do Suicdio inDebates Psiquiatria Hoje. Ano 2. N 1. Janeiro/Fevereiro,2010, p. 174BAUTISTA, Mate e CORREA, Marcelo. Ajuda perante o Suicdio. Paulinas, So Paulo, 2000, p.11

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    teologias erradas que mais julgam o indivduo que se suicidou do que ajudam no processo do

    luto, aumentando assim a culpa dos entes que ficam. Geralmente os traumas e perguntas que

    ficam levam mais pessoas ao desespero causando uma corrente de problemas emocionais que

    podem levar mais pessoas ao mesmo caminho do suicida. Diante disso preciso ter cuidado

    no agir em casos de suicdio, sempre bom buscar auxlio com profissionais na rea do

    aconselhamento para que possam ajudar no processo.

    Como reagir diante de um suicdio

    Pessoas ligadas ao vnculo religioso geralmente buscam seu guia espiritual quando

    casos de suicdio acontecem em sua rede de relacionamentos. Isso porque sempre h uma

    preocupao naqueles que creem em uma vida aps a morte que errado tirar sua prpria

    vida, logo se errado, automaticamente o suicida vai para o inferno ou algo parecido.

    Mas em um contexto cristo temos que tomar alguns cuidados ao aconselharmos

    pessoas que passaram pela perda de um ente pelo suicdio. Primeiro lugar, nunca determinar e

    nem predizer julgamentos. Essa no nossa funo como cristos! Uma coisa a se fazer com

    muito amor, carinho e f, ouvir familiares e amigos desse ente. Sempre h muito desabafo e

    questionamentos da parte dos familiares e amigos. Por isso ouvir fundamental! Segundo

    lugar, procurar saber se o suicida era batizado, pois h um grande consolo no batismo, que

    muitas vezes perdemos de vista. Quando uma pessoa batizada, ela assim recebe o Esprito

    Santo e com ele a f, esta que salva. Sabendo disso abre-se um leque para consolar a famlia.

    Pastores so os nicos profissionais treinados em aconselhamento que tm entradaautomtica para o mundo da maioria das pessoas contristadas. Isto proporciona aoclero oportunidade e responsabilidade impares de serem eficientes guias ecompanheiros dos que esto atravessando o seu sombrio vale da perda. Obviamentecabe, por isso aos pastores desenvolver alto grau de competncia na poimnica e noaconselhamento em casos de perda pessoal5

    No entanto, pode haver que estejamos diante de uma famlia que perdeu um ente

    querido em que o mesmo no era batizado. Mesmo assim, segundo o que vimos acima, h

    casos de suicdio que no mais uma questo em que o indivduo esteja perfeitamente mental,

    mas com problemas neurolgicos. Muitas vezes, os problemas da vida levam a pessoa a um

    estado de extrema incapacidade neurolgica de raciocinar questo simples do dia a dia, tendo

    como o nico meio de sair desta angstia e sofrimento a morte. Por isso, no se deve julgar

    5CLINEBELL. Howar J. Aconselhamento Pastoral: Modelo centrado em libertao e Crescimento . So

    Leopoldo. Sinodal. 1987

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    uma pessoa mesmo no sendo batizada. Basta crermos, pois Deus no leva em conta casos de

    incapacidade mental de raciocinar sobre questes ticas crists.

    de extrema importncia que o pastor, em casos de suicdio ento oua, abrace,

    acolha e esteja com famlia e amigos enlutados, pois isso diz mais do que palavras, e quandosurgir a oportunidade diga baseando-se em outras cincias, o que o suicdio na viso mdica

    e psicolgica, sem determinar julgamentos.

    No nos compete especular sobre o destino final do suicida. J parei de mepreocupar com o destino eterno de meu pai. No me faz bem pensar sobre as coisasque so impossveis de conhecermos. No nos compete fazer o julgamento final

    dos atos de uma pessoa que no podemos condenar o ato suicida uma vez que nofomos chamados para dar o veredito. Tenho esperana de ver meu pai novamenteum dia, mas no me apego a uma falsa esperana, afirmando que tenho certeza queele est no cu. No me compete fazer esta afirmao. Entretanto confortante saberque o Deus do universo bom e justo e podemos confiar que ele far a coisa certa.Ele misericordioso e justo ao mesmo tempo, e entende a dor tanto da vtima quantodos sobreviventes de um suicdio. S Deus conhece o destino daqueles por quemchoramos. Por fim, devemos colocar nossa confiana em sua bondade emisericrdia.6

    Para concluir devemos sempre se apoiar na graa de Cristo em casos de suicdio, pois

    assim como Cristo agiu diante dos mais diversos pecadores, devemos ns tambm agir. Cristo

    no julgou, mas tomou a nossa frente, cravando nosso pecado na cruz, isso nos mostra a

    forma misericordiosa de Deus agir com os mais diversos pecados, e isso devemos anunciar a

    todos quanto sofrem com o suicdio.

    Bibliografia

    BAUTISTA, Mate e CORREA, Marcelo. Ajuda perante o Suicdio. Paulinas. So Paulo.

    2000

    CLINEBELL. Howar J. Aconselhamento Pastoral: Modelo centrado em libertao e

    Crescimento. Sinodal. So Leopoldo, 1987

    DURKHEIM mil. O suicdio. Estudo sociolgico. In. Os pensadores. Trad. Luiz Cary,Margarida Garrido e J. Vasconcelos Esteves. So Paulo/ Cmara Brasileira do Livro. 1983

    HETEM, Luiz Alberto. Preveno do Suicdio inDebates Psiquiatria Hoje. Ano 2. N 1.Janeiro/Fevereiro, 2010HSU Albert. Superando o Suicdio. Vida. So Paulo, 2003

    Preveno do suicdio in Debates Psiquiatria Hoje. Ano 2 N 1. Janeiro/Fevereiro 2010

    Bibliografia Consultada:

    WARTH, Martin Carlos. A tica de cada dia.Ulbra. Canoas; Concrdia. Porto Alegre, 2002

    6HSU Albert. Superando o Suicdio. So Paulo. Vida, 2003, p.122