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Livro Andante - 2016 1 S UGESTÕES DE L EITURA DE V ERÃO "Ler pode tornar o homem perigosamente humano", Guiomar de Grammon O Templo Dourado, de Yukio Mishima De débil constituição física e gago de nascença, Mizoguchi é o único filho de um bonzo Zen. Ao longo de toda a sua vida, sente-se diminuído e complexado por causa da sua gaguez, o que o leva a isolar-se. Quando chega o momento vai estudar para bonzo, no Templo Dourado, em Quioto. Desde cedo preocupado com a Beleza, Mizoguchi vem a desenvolver com o templo uma relação de dependência obsessiva, que constitui um outro obstáculo à sua interação com o mundo exterior. Para ele, "O Templo Dourado" era a encarnação última e suprema da Beleza, conceito que esmaga toda a sua existência. Com a Segunda Guerra Mundial e o Japão do pós- guerra como cenário, "O Templo Dourado" é quase um monólogo interior que espelha a repressão e a obsessão de Mizoguchi, das quais se vem a libertar num final perverso. A Peste, de Albert Camus Em Orão, na Argélia, no início dos anos 40, surge uma epidemia de peste. A cidade, sujeita a quarentena, torna-se um território irrespirável. É talvez por isso que as mulheres quase não são visíveis nestas páginas. Mas a sua ausência não deixa um espaço vazio. Pelo contrário. Sentida como uma falta, como uma ferida aberta (que as lágrimas de Grand, porventura uma das mais tocantes personagens do livro, tornam evidentes), essa ausência sublinha a importância da ternura e da felicidade. E, ao mesmo tempo, vem tornar claro o verdadeiro significado desta obra: trágica alegoria de um tempo consagrado à inumanidade. O Nosso.

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Livro Andante - 2016

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SUGESTÕES DE LEITURA DE VERÃO

"Ler pode tornar o homem perigosamente humano", Guiomar de Grammon

O Templo Dourado, de Yukio

Mishima

De débil constituição física e gago de nascença, Mizoguchi é o único filho de um bonzo Zen. Ao longo de toda a sua vida, sente-se diminuído e complexado por causa da sua gaguez, o que o leva a isolar-se. Quando chega o momento vai estudar para bonzo, no Templo Dourado, em Quioto. Desde cedo preocupado com a Beleza, Mizoguchi vem a desenvolver com o templo uma relação de dependência obsessiva, que constitui um outro obstáculo à sua interação com o mundo exterior. Para ele, "O Templo Dourado" era a encarnação última e suprema da Beleza, conceito que esmaga toda a sua existência. Com a Segunda Guerra Mundial e o Japão do pós-guerra como cenário, "O Templo Dourado" é quase um monólogo interior que espelha a repressão e a obsessão de Mizoguchi, das quais se vem a libertar num final perverso.

A Peste, de Albert Camus

Em Orão, na Argélia, no início dos anos 40, surge uma epidemia de peste. A cidade, sujeita a quarentena, torna-se um território irrespirável. É talvez por isso que as mulheres quase não são visíveis nestas páginas. Mas a sua ausência não deixa um espaço vazio. Pelo contrário. Sentida como uma falta, como uma ferida aberta (que as lágrimas de Grand, porventura uma das mais tocantes personagens do livro, tornam evidentes), essa ausência sublinha a importância da ternura e da felicidade. E, ao mesmo tempo, vem tornar claro o verdadeiro significado desta obra: trágica alegoria de um tempo consagrado à inumanidade. O Nosso.

Livro Andante - 2016

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R e l e r C l á s s i c o s

Ficções, de Jorge Luís Borges

Ficções é um dos livros mais apreciados e, por certo, um dos mais representativos da obra borgesiana. Nele se reúnem textos como «Pierre Menard, autor do Quixote», «As ruínas circulares», «A Biblioteca de Babel», «O jardim dos caminhos que se bifurcam» ou «Funes, o memorioso» - cada um deles uma obra-prima e exemplo da grandeza e do génio de Jorge Luís Borges. Nestes textos, o leitor defronta-se com um narrador inquisitivo que expõe, com elegância e economia de meios, de forma paradoxal e lapidar, as suas conjeturas e perplexidades sobre o universo, retomando motivos recorrentes: o tempo, a eternidade, o infinito. Os enredos são como múltiplos labirintos e desdobram-se num jogo infindável de espelhos, especulações e hipóteses, às vezes com a perícia de intrigas policiais e o gosto da aventura, para, quase sempre, desembocar na perplexidade metafísica…

Olhai os Lírios do Campo, de Erico

Veríssimo

"Olhai os Lírios do Campo" é um romance poderoso e comovente que convida à reflexão sobre os valores autênticos da vida. No livro, Eugênio Fontes recebe uma chamada do hospital que o alerta para o estado de saúde grave de Olívia. Na viagem até ao hospital evoca o seu passado: a infância infeliz e pobre, os traumas vividos na escola e em casa, o desejo de se tornar um homem rico… É graças aos sacrifícios dos pais que acede a uma educação de excelência e entra na Faculdade de Medicina, onde conhece o amor da sua vida, Olívia. Incapaz de assumir a relação com a colega de turma, Eugênio casa com a filha de um grande empresário, passa a viver de aparências, adultérios e eternas contradições. Mas será que o passado ficará para sempre lá atrás?

Livro Andante - 2016

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R e l e r C l á s s i c o s

Dom Casmurro,

de Machado de Assis

"Dom Casmurro" é, provavelmente, um dos mais importantes livros da literatura em língua portuguesa, e um dos mais traduzidos em todo o mundo. "Dom Casmurro" conta a história de Bento Santiago (Bentinho), apelidado de Dom Casmurro por ser calado e introvertido. Em adolescente apaixona-se por Capítu, abandonando o seminário e, com ele, os desígnios traçados por sua mãe, Dona Glória, para que se tornasse padre. Casam-se e tudo corre bem, até o amor se tornar ciúme e desconfiança. É esta a grande questão que magistralmente “Dom Casmurro” expõe ao longo de 148 capítulos: a dúvida que paira ao longo de toda a obra sobre a possibilidade de traição de Capítu, agravada pela extraordinária semelhança do filho de ambos, Ezequiel, com o grande amigo de Bentinho, Escobar.

Todos os Contos, de Clarice Lispector

«A maior escritora latino-americana de prosa.» The New York Times, «Um dos génios escondidos do século XX, na mesma linha de Flann O’Brien, Borges e Pessoa — original e brilhante, acutilante e perturbador.» Colm Tóibín, «Senti-me fisicamente abalada pelo seu génio.» Katherine Boo, Financial Times, «Clarice Lispector possuía uma inteligência dura como um diamante, um instinto visionário, e um sentido de humor que ia desde a admiração ingénua até à comédia mais perversa… Lispector tenta captar o que é pensar na nossa existência enquanto ainda estamos nela — no “maravilhoso escândalo” da vida, como a autora diz. Um trabalho espetacular, sem uma real continuidade dentro da literatura nem fora dela.» Rachel Kushner, Bookforum.

Livro Andante - 2016

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R e l e r C l á s s i c o s

Vale Abraão, de Agustina Bessa-Luís

«A recriação duma Bovary, destinada a servir de guião para um filme de Manuel de Oliveira, trouxe à Autora a necessidade de descobrir a natureza flaubertiana que concebeu Ema e a tomou como seu espelho: “A Bovary sou eu” – disse Gustave Flaubert, no auge da incriminação que pesou sobre a sua vida de romancista. De facto, Ema é Flaubert, e o romance é uma história de paixão que tem como adversária a mediocridade. Chabrol soube tocar essa realidade que ofusca todas as outras, ao dizer: “O ser humano é estúpido. O que salva Ema é que ela se bate.” Ema bate-se contra a rede de pequenas e formidáveis misérias que se apertam em volta dela. Heroína provinciana das insatisfações típicas do ser humano. Dirão os leitores que uma mulher como Ema não existe. Eu direi que sim. A beleza de Ema tornara-se tão evidente que causava uma espécie de paralisia. Aquilo que se não critica desenvolve uma obediência capaz de, para encontrar saída, cair noutras reprovações.»

As Ondas, de Virgínia Woolf

Marguerite Yourcenar, sua tradutora francesa, descreveu assim este romance: «As Ondas é um livro com seis personagens, ou melhor seis instrumentos musicais, pois consiste unicamente em monólogos interiores, cujas curvas se sucedem e entrecruzam com uma segurança que lembra A Arte da Fuga de Bach. Tanto como uma meditação sobre a vida, As Ondas são um ensaio sobre a solidão. Trata-se de seis crianças, três raparigas, Rhoda, Jinny e Susan; e de três rapazes, Louis, Neville e Bernard, que vemos crescer, diferenciarem-se e envelhecer. Uma sétima criança, que nunca toma a palavra e que só conhecemos através dos outros, é o centro do livro ou melhor o seu coração.». Mais que uma música admirável que a imaginação oferece à inteligência, As Ondas é um livro sobre a impossibilidade do ser.

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R e l e r C l á s s i c o s

O Som e a Fúria,

de William Faulkner

"O Som e a Fúria" é a tragédia da família Compson, apresentando algumas das personagens mais memoráveis da literatura: a bela e rebelde Caddy, Benjy, o filho varão, o assombrado e neurótico Quentin; Jason, o cínico brutal, e Dilsey, o criado negro. Com as suas vidas fragmentadas e atormentadas pela história e pela herança, as suas vozes e ações enredam-se para criar o que é, sem dúvida, a obra-prima de Faulkner e um dos maiores romances do século XX. William Faulkner afirmou muitas vezes que "O Som e a Fúria" era o romance mais próximo do seu coração porque era o que lhe tinha causado mais sofrimento e angústia a escrever. Neste magnífico romance, publicado pela primeira vez em 1929, Faulkner criou a «menina dos seus olhos», a bela e trágica Caddy Compson, cuja história nos conta através dos monólogos separados dos seus três irmãos: Benjy, o idiota; Quentin, o suicida neurótico; e o monstruoso Jason. "O Som e a Fúria" é o seu quarto romance e a primeira das suas obras-primas indiscutíveis, aquela que, mais do que qualquer outra, confirmou Faulkner como figura central da literatura do século XX.

A Divina Comédia, de Dante Alighieri

Longo poema épico e teológico, A Divina Comédia divide-se em três partes: o Inferno, o Purgatório e o Paraíso. Não há uma datação exata da obra, mas presume-se que tenha sido escrita entre 1304 e 1321, ano da morte de Dante. Foi escrita em língua toscana - muito próxima do que hoje se designa por italiano - num registo vulgar, portanto, por oposição ao uso generalizado do latim na escrita erudita. Assim se tornou a obra fundadora da língua italiana moderna. Em Portugal A Divina Comédia chegou a um universo de leitores alargado através da inexcedível tradução de Vasco Graça Moura. Com mais de seis edições desde a sua primeira publicação, A Divina Comédia conheceu em Portugal um sucesso e uma popularidade extraordinários.

Livro Andante - 2016

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R e l e r C l á s s i c o s

Ressurreição, de Lev Tolstói

"Ressurreição" é o último dos grandes romances de Lev Tolstói. Conta-nos a história de um príncipe russo, Dmítri Nekhliúdov, e de uma jovem empregada doméstica, Máslova, que ele seduziu no passado, com consequências dramáticas para esta, que acaba por cair na prostituição, por ser acusada de um crime que não cometeu e por ser enviada como prisioneira para a Sibéria. Tolstói constrói aqui uma narrativa de grande intensidade psicológica, dominada pela visão que tem da redenção e do perdão inerentes ao amor, que é ao mesmo tempo uma descrição panorâmica e incisiva da vida social da Rússia czarista de finais do século XIX e uma crítica sarcástica às injustiças sociais, ao sistema judicial e ao regime russo.

Alguns Preferem Urtigas,

de Junichiro Tanizak

Alguns Preferem Urtigas é a história das ramificações de um casamento em crise. Kaname procura um escape da sua vazia existência doméstica nos braços de uma bela euroasiática, e fecha os olhos à possibilidade da sua mulher arranjar um amante. O seu sogro é um burguês da velha escola, civilizado, refinado, treinado nas elegantes ambiguidades de uma tradição antiga. Instintivamente, o velho senhor adivinha que o casamento da sua filha falhou porque o jovem casal se desligou das tradicionais raízes japonesas da realização estética e emocional, e tenta reparar os estragos conduzindo-os de volta às artes clássicas do país. Por baixo da calma, embora sombria, superfície da narrativa, desenrola-se um violento e absorvente conflito entre a indecisão do marido e a posição tortuosa e manipuladora do velho senhor. «Um soberbo romance em que os problemas surgidos […] das conflituosas divergências entre antigas e novas formas de pensamento e de conduta são combinados de forma subtil e comovente.»

Livro Andante - 2016

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R e l e r C l á s s i c o s

Se Numa Noite de Inverno um

Viajante, de Italo Calvino

É um romance sobre o prazer de ler romances; o protagonista é o leitor, que dez vezes começa a ler um livro que, devido a vicissitudes estranhas à sua vontade, não consegue acabar. Tive, pois, que escrever o início de dez romances de autores imaginários, todos eles de alguma forma diferentes de mim e diferentes entre si. Italo Calvino

Victoria, de Knut Hamsun

«Victoria», livro de rara beleza narrativa, é uma das obras mais representativas de Knut Hamsun. Johannes, filho de um modesto moleiro, que em jovem sonha trabalhar numa fábrica de fósforos para ter os dedos sempre sujos de enxofre e assim não ter de apertar a mão a ninguém, ama Victoria, jovem de família aristocrata mas com poucos meios financeiros. Contudo, o amor deles será um amor impossível, pois Victoria vê-se obrigada a casar com o rival Otto para salvar a família da bancarrota. Em adulto, Johannes tornar-se-á num poeta que se orgulha de conhecer os nomes das árvores e dos pássaros. Continuará a jurar amor eterno a Victoria, mas o sentimento que nutre por ela é fruto da obsessão, do orgulho e da distância, precipitando um trágico final quando chamado a cumprir-se.

Livro Andante - 2016

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R e l e r C l á s s i c o s

As Flores do Mal,

de Charles Baudelaire

«Há nos melhores versos de Baudelaire uma combinação de carne e de espírito, uma mistura de solenidade, de calor e de amargura, de eternidade e de intimidade, uma raríssima aliança da vontade com a harmonia, que os distingue nitidamente dos versos românticos, como os distingue nitidamente dos versos parnasianos» Do Posfácio de Paul Valéry.

Grande marco da poesia moderna e um livro inovador, “As Flores do Mal” reúne tópicos inusitados, que viriam a ser recorrentes em toda a modernidade. A queda; a expulsão do paraíso; o amor; o erotismo; a decadência; a morte; o tempo; o exílio e o tédio representam muitos dos motivos presente no livro, que possui uma temperatura e uma sensualidade nunca antes vista na literatura mundial.

A Grande Arte, de Rubem Fonseca

«O assassinato de duas prostitutas, no Rio de Janeiro, que, de início, parece obra de um maníaco sexual, abre uma caixa de Pandora de onde vão brotando, no decorrer de uma ação trepidante, as complexas ramificações de um tenebroso sindicato do crime. A história passa-se em bares sórdidos, em sumptuosas mansões do Rio, em vilarejos da fronteira entre a Bolívia e o Brasil, onde reinam a cocaína e o crime, bem como na interminável viagem de um comboio que percorre metade do Brasil com couchettes que rangem sob o peso de casais fazendo sexo.» Do posfácio de Mário Vargas Llosa.

Livro Andante - 2016

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R e l e r C l á s s i c o s

A Cartuxa de Parma, de Stendhal

«Quantos jovens não sentirão uma súbita paixão pelas primeiras páginas de "A Cartuxa de Parma", convencendo-se, de imediato, que é, sem dúvida, o mais belo romance do mundo, reconhecendo nele o romance que sempre quiseram ler e que lhes servirá de pedra de toque para todos os que vão ler depois! (Refiro-me sobretudo aos primeiros capítulos; à medida que se avança na leitura deparamos com um romance diferente, com vários romances entre si distintos, que vão exigir algumas alterações no modo de participar no que aí se passa; mas o impulso inicial continuará a fazer sentir o seu efeito.)» Italo Calvino

Todos os Contos, de Edgar Allan Poe

O génio de Poe vai uma vez mais seduzir os seus leitores. Edgar Allan Poe é um dos autores mais publicados do mundo, conhecido pela genialidade expressa também nos seus famosos contos de terror e em algumas das histórias de detetives mais macabras jamais escritas, como "A Queda da Casa de Usher", "Os Crimes da Rua Morgue" ou "O Escaravelho de Ouro". Notável mestre do suspense, Poe também era poeta e, como demonstram os seus contos sobre hipnotismo e viagens no tempo, foi um pioneiro da ficção científica. A presente edição reúne todos os contos deste autor clássico da literatura universal e decorre da edição ilustrada anteriormente publicada em dois volumes.

Fontes: