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CAPA 110 II II SETEMBRO 2016 CAPA Enquanto você estiver assistindo à segunda – e a última com ele (opa, spoiler?!) – temporada de NARCOS, Pablo Escobar já será passado para o ator, que parou de beber e virou vegano para exorcizar o personagem do traficante. Mas não se preocupe: “Um vinhozinho eu voltei a tomar” TEXTO RODRIGO SALEM, DE LOS ANGELES FOTOS JACQUES DEQUEKER STYLING JEANNE YANG Suéter e camisa Gucci | Gravata Brunello Cucinelli

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CAPA

110 II II SETEMBRO 2016

CAPA

Enquanto você estiver assistindo à segunda – e a última com ele (opa,

spoiler?!) – temporada de NARCOS, Pablo Escobar já será passado para

o ator, que parou de beber e virou vegano para exorcizar o personagem

do traficante. Mas não se preocupe: “Um vinhozinho eu voltei a tomar”

texto RODRIGO SALEM, de Los AngeLesfotos JACQUES DEQUEKER

styLing JEANNE YANG

Suéter e camisa Gucci | Gravata Brunello Cucinelli

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DE JULHO DE 2015. Exatamente um mês antes de Narcos estrear no mundo todo pela Netflix, Wagner Moura curtia uma apresentação do “parceiro” Rodrigo Amarante na Teragram Ballroom, uma das casas de shows mais cool de Los Angeles. O ator brasileiro, que ficou conhecido pelo papel do policial incorruptível Capitão Nascimento nos dois Tropa de Elite, acompanhava a festa calmo, batendo o pé no ritmo e com uma lata de cerveja na mão. Isso até o ex-Los Hermanos soltar “Mistério do Planeta”, cover dos Novos Baianos.

Foi quando o soteropolitano criado na cidade de Rodelas, no interior da Bahia, perdeu a compostura, virou tiete, voltou a ser o garoto fã de MPB e rock. Entre um palavrão e outro de felicidade, Moura escutou a voz rouca de Amarante, que também assina o tema da série, cantarolando:

“Vou mostrando como sou/ E vou sendo como posso/ Jogando meu corpo no mundo/ Andando por todos os cantos”.

Talvez nenhum verso traduza tão bem o que aconteceria com Wagner Moura pouco tempo depois. Narcos, produzida pelo amigo José Padilha (Tropa de Elite), virou uma das séries mais faladas do ano passado e a interpretação do über traficante colombiano Pablo Escobar (1949-1993) rendeu ao brasileiro a inédita indicação ao Globo de Ouro de melhor ator de série dramática – o prêmio terminou indo para o favorito Jon Hamm, de Mad Men.

Um ano se passou desde aquela noite de brasileiradas em Los Angeles – que, nos bastidores, ainda rendeu elogios do músico Devendra Banhart à banda de Wagner, Sua Mãe (“Onde ele ouviu a gente? Deve ter sido Rodrigo”). Por causa da indicação e do sucesso da série, Moura passou a frequentar os disputados programas de talk show americanos, viajou para a Europa para divulgar o seriado, participou de mesas de discussões com atores do quilate de Paul Giamatti (Billions), Forest Whitaker (Raízes) e Rami Malek (Mr. Robot). Mostrando como ele é e sendo como pode ser, Wagner Moura está andando por todos os cantos. Mas não conte com o deslumbramento fácil.

“Vou te falar um negócio muito louco”, diz o ator, novamente em Los Angeles, agora em um hotel de luxo da cidade para divulgar a segunda temporada de Narcos, que estreia em 2 de setembro. “Nestes dias de entrevistas nos Estados Unidos, me perguntaram com frequência

como era ser famoso no mundo todo, mas não sinto nada disso, porque não me pareço com Pablo. As pessoas olham para mim aqui e fazem aquela cara de ‘você parece alguém que conheço, talvez seja amigo do meu primo’”, diverte-se ele.

Óbvio que é um exagero (os atores Gael García Bernal e Kevin Costner e o diretor Jason Reitman, de Juno, se declararam fãs da atuação do brasileiro), mas existe uma razão para que ele não seja perseguido pelas câmeras do TMZ ao pousar na Califórnia. Nestes dois anos de sucesso de Narcos, Wagner Moura passou metade deles enfurnado na Colômbia, filmando em Bogotá e Medellín. A diferença é que, nesta segunda temporada, ele decidiu levar toda a família – a mulher, a fotógrafa Sandra Delgado; e os três filhos, Bem, de 10 anos, Salvador, de 6, e José, de 4 – para morar na capital colombiana por seis meses. “Nesta segunda temporada, a família estava comigo e foram meses maravilhosos. Os meninos aprenderam a falar espanhol, estudaram em uma escola de regime integral que ia das 8 da manhã e acabava às 5 da tarde, onde, além das aulas normais, praticavam esportes, tocavam guitarra, jogavam xadrez.”

Nesse período, Wagner Moura precisou engordar 20 quilos para interpretar Pablo em fuga, nos seus últimos 18 meses de vida. “Me esforcei muito para engordar, porque meu corpo é de

magro. Então, comi tudo que não prestava e era bom... Pizza, sorvete, cerveja, vinho, sobremesa todo dia. Cara, você não ia me reconhecer dois meses atrás”, diverte-se o ator, que declinou do convite de atuar com Denzel Washington no remake de Sete Homens e Um Destino por causa disso. “Conversei com (o diretor) Antoine Fuqua e acertei tudo, mas notei que tinha aceitado naquelas de ‘não posso recusar isso’, mas meu coração dizia que não ia aguentar. Queria voltar para o Brasil, se o filme atrasasse ia ser um problema com a Netflix e ainda teria de emagrecer para engordar de novo. Não queria essa confusão.”

Não é novidade para ninguém (se for um spoiler para você, por favor desculpe-me) que a segunda temporada marca a despedida de Moura de Narcos, já que Escobar morre ainda neste ano – para surpresa de muitos que achavam que os produtores iriam enrolar ao máximo o momento do assassinato do

“As pessoas sabem de quem estão falando quando meu nome surge em uma reunião. Não sou

mais um ator desconhecido que fez um filme maneiro”

Blazer Gucci | Suéter Eleventy | Camisa Jeans Ralph Lauren | Calça Hugo Boss | Gravata Brunello Cucinelli

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protagonista da série. “A primeira temporada foi mais épica, porque cobria 15 anos da origem do narcotráfico, não apenas de Pablo. A segunda começa a partir do momento em que ele escapa até o dia em que morre, uns 18 meses depois. É mais dinâmica e dramática, focada no drama dos personagens”, conta o ator. “A evolução é chocante. Colocamos Pablo em momentos de vulnerabilidade nos quais precisei imaginar como eu reagiria àquela situação.”

Livrar-se totalmente de Pablo Escobar, no entanto, foi uma missão mais demorada. Moura entrou no boxe e iniciou uma dieta vegana radical. Já perdeu 13 quilos em dois meses. “Ainda faltam sete, mas já estou novamente no jiu-jítsu. Voltei a

tomar um vinhozinho, mas nunca mais vou comer carne ou frango. Além de perder peso, queria tirar esses dois anos de maldade, tiros e morte de mim. Foram dois meses sem beber, fumar, comer carne e derivados de leite”, lista ele.

O ator, por mais que sua aversão a eventos midiáticos seja conhecida, é daquelas “celebridades” que se interessam pelos outros. Faz questão de perguntar ao repórter como anda sua vida e a família, a saúde, o cão, o papagaio da casa, mas evita o olhar quando precisa falar sobre Hollywood (“Você conhece mais essa porra que eu”). No entanto ele sabe que mudou. “Você nota que algo mudou, principalmente em termos de oferta. As pessoas sabem de quem estão falando quando meu nome surge em uma reunião. Não sou mais um ator desconhecido que fez um filme maneiro, Tropa de Elite”, confessa, logo emendando. “Mas isso ainda não se traduziu em um café com Woody Allen.”

E talvez apenas o cineasta nova-iorquino consiga desviar Moura do seu próximo projeto, o primeiro após o sucesso global de Narcos: dirigir seu primeiro longa-metragem, a história do guerrilheiro comunista Carlos Marighella. “Para ser xingado ainda mais”, gargalha ele, que é um dos artistas mais explicitamente contrários ao afastamento da presidente Dilma Rousseff. “Dilma é uma presidente muito incompetente. Nunca votei nela e já batia no governo desde 2013. Reconheço o progresso

que o PT fez para diminuir a desigualdade social, mas o ciclo do PT acabou, caiu de maduro, de corrupto e incompetente”, explica ele. “Não sou petralha nem coxinha, essa polarização besta que existe no Brasil agora. Normalmente, a inteligência mora no espaço do meio. Mas acho que o impeachment foi uma manobra de interesses escrotos com os mesmos atores de 1964, com exceção dos militares. Quando a bonança deixou de favorecer a esse segmento da elite, aplica-se a velha solução latino-americana: tirar e colocar quem eles querem. Isso é golpe. E não posso compactuar.”

A posição engajada de Moura projeta em alguns uma imagem de um sujeito que poderia ser aquele mala que estraga a festa para fazer algum discurso político. “Não me incomodo com o que as pessoas pensam de mim. Não acho bonito ver minoria ser ridicularizada, não acho graça, não acrescenta e não é inteligente. Mas quem quiser fazer, pode ir em frente. Um monte de gente vai rir. Isso é ser politicamente correto? Então, foda-se”, exalta-se. Como você notou, a realidade é diferente. Wagner fala tanto palavrão quanto qualquer torcedor fanático do Vitória quando o time está perdendo, gosta de música, futebol e cinema e discute com bom humor com José Padilha, que tem posições políticas diversas das do ator. “Tenho orgulho da minha amizade com ele. A gente se implica todos os dias pelo WhatsApp, mas nunca deixamos nossa posição interferir na nossa amizade, porque sei que a visão dele vem de um imperativo moral muito sólido e ele sabe que é a mesma coisa do meu lado”, conta. “Amigo que é amigo precisa mandar o outro tomar no cu e o cara precisa segurar a onda. A gente faz isso o tempo todo, mas nunca com raiva”, gargalha.

Moura quer começar a filmar em janeiro de 2017 e, por isso, não está aceitando convites para atuar. “Meus agentes estão putos comigo, porque tem muita coisa rolando e

gostariam que eu ficasse mais disponível para aproveitar meu momento com Narcos, mas estou tranquilo com minha decisão. Estou recusando vários papéis, nada muito espantoso, personagens bobos”, revela ele, que até foi sondado para um teste de elenco para um longa da Marvel (“Seria deselegante dizer qual”).

Apesar disso, não se espante ao ver o brasileiro procurando uma casa vizinha à do amigão Padilha, em Los Angeles. “Precisa ser uma experiência boa para a minha família. Já passei férias na cidade e vi que é um bom lugar para as crianças, saudável. E passar o tempo na Colômbia foi muito bom para eles”, deixa em aberto o ator, que também pensa em fazer um filme político e uma série sobre espiritualidade. “O Globo de Ouro foi o carimbo atestando que fazemos parte desse momento incrível da televisão americana. Quero fazer projetos aqui interessantes, mas sem a família, não venho.”

Ou, como os Novos Baianos, na voz de Rodrigo Amarante, avisam sobre aquele baiano de 40 anos: “Abra um parênteses, não esqueça/ Que independente disso/ Eu não passo de um malandro/ De um moleque do Brasil”.

“Além de perder peso, queria tirar esses dois anos de maldade, tiros e morte de mim. Foram dois meses sem beber, fumar, comer carne e derivados de leite”

Costume, camisa, gravata e cinto Gucci

Assistente de fotografiaJasmin DruffnerProduçãoPedro Rego & Moani Lee (Beauty Exchange NYC)Grooming Diana SchmidtkeAgradecimentoThe Den thedenonsunset.com