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Estilo PARA SEMPRE E AGORA NO MUSEU GUCCI Um edifício medieval junta, no centro de Florença, os tesouros reunidos ao longo de anos pelos responsáveis do Museu Gucci. Está aberto apenas um ano mas parece ter estado sempre ali. É que a Gucci faz parte do ADN desta cidade. E veio para ficar. TEXTO DE RITA IBÉRICO NOGUEIRA, EM FLORENÇ/ O cenário pede um argumento dra- mático. Algo que faça um 'melting- -pot' do melhor que se pode encon- trar nos filmes clássicos italianos. A harmonia entre a loucura poética de Fellini, o melodrama de Viscon- ti, o elitismo de Antonioni, a versatilidade de Berto- lucci, o idealismo de Pasolini, a contemporaneidade de Zefirelli, escolheria Florença como cenário para uma trama protagonizada por figuras maiores do es- trelato internacional. Neste filme lugar para di- vas como Grace Kelly, Elizabeth Taylor, Maria Callas, Audrey Hepburn. O Palazzo medieval delia Mercan- zia, em plena Piazza delia Signoria, é o quartel-gene- ral escolhido. E, com tantas referências a bordo desta produção, a qualidade do argumento torna-se irrele- vante... mas não é. No interior, escondem-se verdadei- ros tesouros com mais de noventa anos de histórias para contar. O filme podia chamar-se "Gucci, agora e sempre". Não é uma película como as que estamos habitu- ados a ver. Mas ela existe. No interior deste Palazzo, ela desenrola-se de sala para sala, na imaginação de quem entra no Museu Gucci e fica a conhecer os deta- lhes de um universo cheio de 'glamour'. Aqui, a his- tória não se conta por ordem cronológica. O filme é constituído por blocos estanques, temáticos, em que o fio condutor e denominador comum éa marca fun- dada em T921 por Guccio Gucci. Uma história que casa na perfeição com a cidade de Florença. Ora não tivesse a Gucci nascido aqui. "QUALITY IS REMEMBERED LONG AFTER THE PRICE IS FORGOTTEN" Uma placa preta com letras douradas apresenta-se como o 'claim' perfeito para uma marca de qualida- de que fez história no mundo dos acessórios e da mo- da. "A qualidade é lembrada muito depois de o preço ser esquecido". E como quem diz: paga bem, mas a qualidade é excepcional. Foi assim, com este mote, que Guccio Gucci construiu uma reputação imacu- lada enquanto fornecedor de artigos de luxo. A placa as boas vindas a quem entra na primeira sala do Museu, dedicada ao tema "Travei" (Viagens), um dos marcos importantes da marca, já que foi assim que a sua história se começou a escrever: com uma viagem de Guccio Gucci ao universo das bagagens. Desde muito jovem que Guccio passeava pelas ru- as de Florença pela mão da mãe, namorando as mon- tras das lojas de artigos em pele na Via de Tornabuo- ni. A mãe, muitas vezes, entrava com ele nas lojas e confidenciava-lhe o sonho que tinha de um dia ter uma carteira daquela pele. E Guccio tomou uma de- cisão: um dia iria fazer malas e carteiras ainda mais bonitas que aquelas com que a mãe sonhava. Anos mais tarde, Guccio foi para Londres, onde esteve al- gum tempo a trabalhar como bagageiro no Savoy Hotel. O jovem ficou fascinado com a elegância dos hóspedes, naqueles anos de viragem do século XX. Admirava as chapeleiras, os baús e as malas, todas feitas em pele e monogramadas em dourado com as iniciais do proprietário. Quando voltou para Itália, o jovem Guccio tinha um objectivo: pôr mãos à obra, abrir uma oficina especializada na produção de baga- gem e acessórios de viagem e realizar o sonho antigo da mãe. Fê-lo com o apoio da mulher, Aida Calvelli, com quem casara recentemente, e, juntos, fundaram a loja da Via Vigna Nuova. As primeiras malas e 'trunks' que produziu le- vavam como inscrição "G. Gucci, artigos de viagem, Florença" (em inglês, pois Guccio achava que assim enfatizava a sua visão internacional da marca, diri- gida aos viajantes modernos de todo o mundo e da- quele tempo). Eram artigos de qualidade inquestio- nável, feitos manualmente, peças de acabamento im-

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Estilo

PARA SEMPRE E AGORANO MUSEU GUCCI

Um edifício medieval junta, no centro de Florença, os tesouros reunidos ao longo de anospelos responsáveis do Museu Gucci. Está aberto há apenas um ano mas parece ter estadosempre ali. É que a Gucci já faz parte do ADN desta cidade. E veio para ficar.

TEXTO DE RITA IBÉRICO NOGUEIRA, EM FLORENÇ/

O cenário pede um argumento dra-mático. Algo que faça um 'melting--pot' do melhor que se pode encon-trar nos filmes clássicos italianos. Aharmonia entre a loucura poéticade Fellini, o melodrama de Viscon-

ti, o elitismo de Antonioni, a versatilidade de Berto-lucci, o idealismo de Pasolini, a contemporaneidadede Zefirelli, escolheria Florença como cenário parauma trama protagonizada por figuras maiores do es-

trelato internacional. Neste filme há lugar para di-vas como Grace Kelly, Elizabeth Taylor, Maria Callas,

Audrey Hepburn. O Palazzo medieval delia Mercan-zia, em plena Piazza delia Signoria, é o quartel-gene-ral escolhido. E, com tantas referências a bordo desta

produção, a qualidade do argumento torna-se irrele-vante... mas não é. No interior, escondem-se verdadei-ros tesouros com mais de noventa anos de histórias

para contar. O filme podia chamar-se "Gucci, agorae sempre".

Não é uma película como as que estamos habitu-ados a ver. Mas ela existe. No interior deste Palazzo,ela desenrola-se de sala para sala, na imaginação de

quem entra no Museu Gucci e fica a conhecer os deta-lhes de um universo cheio de 'glamour'. Aqui, a his-tória não se conta por ordem cronológica. O filme é

constituído por blocos estanques, temáticos, em queo fio condutor e denominador comum é a marca fun-dada em T921 por Guccio Gucci. Uma história quecasa na perfeição com a cidade de Florença. Ora nãotivesse a Gucci nascido aqui.

"QUALITY IS REMEMBERED LONG AFTERTHE PRICE IS FORGOTTEN"Uma placa preta com letras douradas apresenta-secomo o 'claim' perfeito para uma marca de qualida-de que fez história no mundo dos acessórios e da mo-da. "A qualidade é lembrada muito depois de o preço

ser esquecido". E como quem diz: paga bem, mas a

qualidade é excepcional. Foi assim, com este mote,

que Guccio Gucci construiu uma reputação imacu-lada enquanto fornecedor de artigos de luxo. A placadá as boas vindas a quem entra na primeira sala do

Museu, dedicada ao tema "Travei" (Viagens), um dos

marcos importantes da marca, já que foi assim que a

sua história se começou a escrever: com uma viagemde Guccio Gucci ao universo das bagagens.

Desde muito jovem que Guccio passeava pelas ru-as de Florença pela mão da mãe, namorando as mon-tras das lojas de artigos em pele na Via de Tornabuo-ni. A mãe, muitas vezes, entrava com ele nas lojas e

confidenciava-lhe o sonho que tinha de um dia teruma carteira daquela pele. E Guccio tomou uma de-

cisão: um dia iria fazer malas e carteiras ainda maisbonitas que aquelas com que a mãe sonhava. Anosmais tarde, Guccio foi para Londres, onde esteve al-

gum tempo a trabalhar como bagageiro no SavoyHotel. O jovem ficou fascinado com a elegância dos

hóspedes, naqueles anos de viragem do século XX.Admirava as chapeleiras, os baús e as malas, todasfeitas em pele e monogramadas em dourado com as

iniciais do proprietário. Quando voltou para Itália, o

jovem Guccio tinha um objectivo: pôr mãos à obra,abrir uma oficina especializada na produção de baga-

gem e acessórios de viagem e realizar o sonho antigoda mãe. Fê-lo com o apoio da mulher, Aida Calvelli,com quem casara recentemente, e, juntos, fundarama loja da Via Vigna Nuova.

As primeiras malas e 'trunks' que produziu le-

vavam como inscrição "G. Gucci, artigos de viagem,Florença" (em inglês, pois Guccio achava que assimenfatizava a sua visão internacional da marca, diri-

gida aos viajantes modernos de todo o mundo e da-

quele tempo). Eram artigos de qualidade inquestio-nável, feitos manualmente, peças de acabamento im-

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pecável, mas que simbolizavam já um estilo confian-

te e dinâmico muito à frente no seu tempo. Itens que

continuam a representar, agora como na época, uma

forma inconfundível de explorar o mundo, de viajar

pelos aeroportos internacionais, em navios de luxo

ou em magníficos automóveis.

O Museu Gucci, que inaugurou há cerca de um

ano, com pompa e circunstância, fez o esforço de, ao

longo de 15 anos, reunir as peças mais icónicas e an-

tigas produzidas pela marca, já com um museu em

mente. Um feito da curadora Grazia Venneri, que an-

dou pelas leiloeiras e pelo eßay, por colecções parti-culares a comprar, uma por uma, relíquias dos pri-mórdios da Gucci. Preciosa foi também a ajuda de Pa-

tricia Frost, a directora do departamento de têxteis

da Christie's, que ajudou a localizar peças perdidas.Valeu a pena o esforço. Nesta sala encontramos

uma colecção datada de 1935, com o tecido de padrão

"Diamante", o primeiro padrão da marca, que ante-

cedeu a chegada do padrão "web", a meio dos anos

50, e do padrão "GG", que apareceu nos 6o's. Há umamala feita em pele de zebra, oriunda dos anos 30 e

ainda uma raridade em pergaminho, uma das mais

antigas da marca.A placa que refere a qualidade e o preço, esteve na

primeira loja de Guccio e o espírito parece manter-

-se fiel à marca. Calha bem estar disposta ao lado de

um conjunto de viagem preto com a "web" em verde

e encarnado, peças de uma modernidade tão gran-de na data em que foram lançadas, que ainda hoje se

mantêm actuais.

0 CADILAC BIP-81P...Se tivéssemos de escolher uma peça para represen-tar o Museu Gucci, seria definitivamente o mítico

Cadillac Seville, uma colaboração entre a Gucci e a

marca americana de automóveis datada de 1979- Em

todo o mundo, foram feitos 200 exemplares deste au-

tomóvel, com a capota no padrão "GG", a "web" pin-tada nos lados, e os estofos em pele 'capitonné'. O car-

ro, encontrado na Florida há cerca de 12 anos, tem na

capota um brasão dourado que representa uma opor-

tunidade única para Lavinia Palombi, a nossa guia

na visita ao Museu Gucci, explicar o seu significado,

que remonta ao passado de Guccio como bagageiro.

Orgulhoso das suas origens, o fundador da Guc-

SE TIVÉSSEMOS DE

ESCOLHER UMA PEÇA PARAREPRESENTAR ESTE MUSEU,SERIA DEFINITIVAMENTE0 MÍTICO CADILLACSEVILLE GUCCI.ci não hesitou em fazer delas símbolos da sua marca.A primeira versão do brasão, criado nos anos 30, ti-nha representado um bagageiro fardado a carregarmalas, um ícone imortalizado nos filmes dos anos

30 e um símbolo inequívoco da elegância de tempospassados. Nos anos 50 o bagageiro foi substituído porum cavaleiro de armadura, carregando duas malasGucci, numa clara ligação ao passado medieval de

Florença, com ecos de modernidade nos acessóriosde uma cidade moderna. E esse cavaleiro que se podever na capota do Cadillac. E em muitos outros objec-tos das colecções Gucci recentes, já que Frida Gian-nini, a directora criativa, decidiu adoptar o brasãocomo um dos símbolos mais representados da marca.

A par do Cadillac, as preciosidades sucedem-se.Passamos pelos anos 50 e 60, décadas muito positivaspara a Gucci, quando as celebridades começaram adar nas vistas com carteiras da marca. A diversidade

começou a reinar e foi ver chegar lindas chapeleiras,sacos para botas de montar feitos por encomenda. Avaidade crescia e o gosto por objectos exclusivos tam-bém. Foi o tempo do advento das encomendas espe-ciais em materiais raros e preciosos, como é o caso do'set' de mala e 'necessaire' em crocodilo com engastesem prata, marfim e cristal. Há uma mala de médicoem pele de lagarto e, mais à frente, uma mala rígidacheia de autocolantes originais.

Florença é berço e também fonte de inspiração.Tecidos subordinados ao tema renascimento floren-tino fazem uma homenagem a Leonardo Da Vinci,cientista-artista-inventor que também passou pelacidade toscana nos tempos áureos. Mais recente, fei-

to em 1990, é o 'trunk' em camurça preta que fecha a

secção "Travei" do museu.E tempo de subir ao primeiro andar. Encami-

nhamo-nos para as escadas que levam ao piso su-

perior. Nas paredes, a toda a volta dos degraus de

pedra, há fotografias antigas da marca. Uma do 'set'de um filme de Antonioni, que gostava muito de

usar Gucci nos 'décors'. Há um retrato de Vanessa

Redgrave no filme "Blow Up", de 1966. Há retratos

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inesquecíveis da abertura da primeira loja, em Flo-

rença, em 1921, e da segunda, em Roma, em 1928.Mais acima, Audrey Hepburn aparece fotografadacom o 'shopping bag' da Gucci. Usou e fez moda.Merece estar ali, claro!

UMA REVOLUÇÃO FLORALEntramos na segunda geração Gucci e aquela quedeu o salto dos artigos em pele para outros acessó-

rios de moda. Em 1966, a Princesa Grace, acompanha-da pelo marido Rainier, Príncipe do Mónaco, visitoua loja Gucci de Milão, na Via Montenapoleone. Ro-

dolfo, filho de Guccio, decidiu oferecer um presenteespecial à princesa. Pediu ao ilustrador de contos de

fadas Vittorio Accornero que ilustrasse o mais boni-to lenço floral em seda que o mundo já tinha visto. O

desenho tinha de ser original. Accornero desenhounove 'bouquets' de flores das quatro estações do ano.

Juntou-lhes bagas, insectos, borboletas, libelinhas.Era um lenço único, não só pela sua dimensão poéti-ca, como também por ter sido impresso com 37 cores.

Os lenços estampados na época tinham um máximode 18. Nasceu assim o lenço "Flora", que deu depois

origem a uma infinidade de peças.Entre os clássicos, o padrão "Flora" é um ícone de

continuidade nos preciosos arquivos históricos da

Gucci, que renasce a cada estação com o seu podergráfico e intemporal. Uma imagem inspirada peloscontos de fadas e pela vida real, que continua a serreinventada com paixão e uma multiplicidade de va-

riações, às vezes combinadas com outros símbolosGucci - como o bambu ~eo bridão, aparece em car-

teiras, vestidos, acessórios, jóias e até porcelanas e pa-pel de parede. E deu ainda origem ao nome de um dos

mais famosos perfumes criados por esta casa italia-

-0 BRASÃO, OUTRO SÍMBOLOGUCCI, REPRESENTA UMCAVALEIRO QUE CARREGADUAS MALAS. UMA ALUSÃOCLARA AO PASSADO DEGUCCIO COMO BAGAGEIRO.

na. Passados mais de quarenta anos, o tema "Flora"continua suspenso entre o fascínio do passado e ofuturo de uma história que continua a ser desenha-da. E muito bem representada neste canto do museu.

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UM FESTIVAL DE CARTEIRASE VESTIDOSDesde o início que Guccio Gucci tentou anteciparos desejos da sua elegante clientela ao criar cartei-ras com formas originais, materiais inovadores emanufactura refinada. Com fabrico artesanal quecombinava o lado prático com o 'design' contempo-râneo, as carteiras Gucci tornaram-se rapidamentena assinatura da casa de moda florentina. Em desen-volvimento permanente ao longo dos anos, com a

criação de modelos icónicos como a "Bamboo Bag"(um 'bestseller' criado em 1947, nos anos da escas-sez de peles do período pós-guerra, inspirado na se-la de um cavalo, constituída por 131 peças, sendo obambu moldado com calor, demora cinco horas a fa-zer), a "Jackie" (criada em homenagem a JaquelineKennedy, um ícone de estilo do seu tempo), e aque-las que se tornaram imediatamente reconhecidascomo símbolos Gucci, decoradas com o bridão e a"web" verde-vermelho-verde. Um património queinclui modelos de carteiras exibidas pela primeiravez como testemunho da herança criativa da Gucci.

E Gucci é também sinónimo de 'red carpet'. Osvestidos de noite da marca são feitos para seremusados nas mais exclusivas passadeiras encarnadasdo mundo, são presença assídua em cerimónias deÓscares, festivais de Carmes e

'premières' em Paris, bem comonas revistas de moda. São mo-mentos na história da moda e

da alta-costura, que são celebra-dos em vestidos de gala usadospelas mais amadas celebridadesdo mundo do cinema, espectá-culo e música. Trajes que evo-cam a mestria da 'haute-coutu-re', uma linha que teve a sua es-treia na Gucci apenas em 2010mas que nem por isso tem me-nos importância. Na sala "Eve-

ning", todos os vestidos presen-tes foram usados ou em Carmesou nos Óscares por nomes comoNaomi Watts, Camilla Belle ouHillary Swank.

ARTECONTEMPORÂNEA...PARA VARIARAntes de entrar na galeria "Pre-cious", onde as jóias e os peque-nos objectos são tesouros que marcam presença,passamos por uma sala escura onde está uma ex-posição temporária do artista britânico Paul Fryer,que faz parte da colecção privada de arte de Fran-çois-Henri Pinault. Trata-se de um espaço que o mu-seu Gucci faz questão de dinamizar, uma vez queem Florença existe um 'gap' no que concerne à artecontemporânea. Sendo o presidente do grupo umamante incondicional desta arte - bem como é do-no de uma colecção de arte fabulosa - a Gucci temaqui um lugar ímpar para expressar a sua contem-poraneidade, por oposição às preciosidades medie-vais contidas na vizinha Galeria Uffizi. "Isto é mui-to importante para a marca, porque não se trata ape-nas de carteiras e sapatos, mas de Itália e de Histó-ria", disse à imprensa François-Henri Pinault, pre-sidente do conglomerado de luxo PPR, que detém aGucci, na inauguração do Museu. "O que faz umamarca de luxo e' a combinação da história com o 'de-sign', os materiais e o trabalho manual. A Gucci faz

parte da história italiana".Escada acima, a história da Gucci continua a ser

contada em fotografias a preto e branco. Há umaimagem da actriz Kim Novak ao lado de Aldo Gucci,nos idos anos 50. Outra dos três filhos de Guccio, os

que lhes seguiram os passos, Aldo, Vasco e Rodolfo.Cada um à sua maneira: Aldo abriu as lojas de Roma,apresentando a marca ao 'jet-set' internacional quefrequentava a capital italiana, e mais tarde, expan-diu a marca aos Estados Unidos. Rodolfo foi actor eacabou por se dedicar à marca da família no papel de

relações públicas. Já Vasco era mais introvertido, de-dicou-se à fábrica, onde trabalhava com os artesãos

para desenvolver novos 'designs'.Nos anos 50-60, não havia celebridade de

Hollywood que não fosse fã da Gucci. A Princesa Gra-ce do Mónaco era aficionada da marca. A cantora lí-rica Maria Callas também. Assim como Sofia Loren,Elizabeth Taylor, Ursula Andress, entre muitas ou-tras, aqui retratadas.

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"O QUE FAZ UMA MARCADE LUXO É A COMBINAÇÃODA HISTÓRIA COM O

'DESIGN', OS MATERIAISE O TRABALHO MANUAL.A GUCCI FAZ PARTE DAHISTÓRIA ITALIANA".

DA LOGOMANIA AO DESPORTOA febre dos monogramas não passou despercebida a

esta marca italiana. O "GG" é o símbolo mais signi-ficativo da história da Gucci e também o mais im-

portante em termos de reconhecimento da marca. As

iniciais do fundador, Guccio Gucci, foram usadas pe-la primeira vez nos fechos das malas de viagem em

1960, mas foram sendo reinterpretadas ao longo dos

anos: foram recriadas em ouro e prata; em peles pre-ciosas; em veludo e em seda.

O mais conhecido monograma da marca nasceudo cruzamento entre o padrão original "Diamante"

com o "GG". Este novo padrão, aplicado a carteiras,

sacos, roupa e pequenos objectos em pele, viveu um'boom' de popularidade no final dos anos 60 e início

dos 70. Com o tempo, outras variantes vieram jun-tar-se: "GGTondo"; "GG Diagonale"; "GG Mignon",bem como o "G" sozinho e o "G" quadrado e ainda a

pele "Guccissima". Os anos 70 foram os anos da mul-

tiplicação dos "G" até à exaustão. Mas o mundo não

se cansou dele.

A marca estava consolidada. E assumiu-se que o

cliente Gucci podia (e queria) ter tudo em Gucci - a

casa, as malas, os sapatos, as carteiras, a moda. O es-

tilo Gucci reflectido em todos os aspectos do dia-a-

-dia, ao ponto de os transformar em objectos de culto.

A linha Gucci cresceu a olhos vistos. Havia 'pic-nicsets', candeeiros, loiça, jogos... até guitarras. Um dos

elementos dos U 2tem uma guitarra Gucci customi-

zada, conta-nos Lavinia enquanto nos mostra a sec-

ção de "Lifestyle" do Museu.A visita está a chegar ao fim com a entrada na úl-

tima sala: "Sport" (desporto). Guccio Gucci sabia quea sua sofisticada clientela também era fã de despor-to. Assim, o logo da marca italiana aparece em itens

de desporto de competição tão variados como o gol-

fe, o ténis, o surf, o ciclismo ou o hipismo - exemplodisso é Charlotte Casiraghi, neta da princesa Grace,

que veste integralmente Gucci nas provas hípicas em

que participa e já foi contratada para rosto da marca

pela segunda campanha consecutiva. Aliás, na partededicada ao mundo equestre, pode ver-se o 'kit' que

a princesa vestiu em 201 1 nas suas provas equestres:blazer azul-escuro, camisa azul clara, calças brancas

e botas pretas.Nesta última sala do museu, destaca-se a Bianca, a

bicicleta branca da marca, que condiz com o trenó, as

máscaras de mergulho com barbatanas, as pranchasde surf, os sacos e sapatos de golfe, todos no mesmo

imaculado tom, que condiz na perfeição com as pare-des do Museu, que fez deste prédio do século XIV, que

conjuga a modernidade despojada do branco com a

pedra e outros elementos da arquitectura original, a

sua morada definitiva. Resta-nos descer ao piso tér-

reo - infelizmente não podemos ir à cave, onde se es-

conde o resto do acervo do museu e onde, confiden-

cia-nos Lavinia, Frida Giannini se dirige com assi

duidade para ir buscar inspiração para as colecções

que desenha para a Gucci - e tomar um café (até aquio logo "GG" está presente, dando forma ao açúcar),namorar alguns dos mais de 700 títulos disponíveis

para consulta na biblioteca pública, quem sabe com-

prar uma recordação na loja. E esperar que as luzes

se acendam, passe o genérico final, com uma banda

sonora a condizer com o 'mood' com que saímos des-

te museu. A vida - com Gucci- é bela! ($

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FOI NA VISITA A CASEUNA, a fábrica PTfVT inncTt v\ cad y \r \n rir Mm »C a mais difícil. É preciso fazer o 'match'

da Gucci nos arredores de Florença(xllXl APOSI A _>A t ORMAÇAO DL NOVAS

entre o padrão e a pele. Por isso, os

- e a maior sede da marca em Itália, GERAÇÕES DE ARTESÃOS técnicos mais experientes estão no

onde trabalham cerca de 1300 pessoas departamento de corte, pois quando se

-, que ficámos a saber que com o departamento de peles da Gucci. Um têm anos e anos de experiência. Só lida com peles raras, é importante que

aumento da procura dos bens de luxo exemplo? Uma colecção passada em que eles sabem que só há 10% de 'pytons' os técnicos conheçam bem as técnicas

manufacturados, é cada vez mais a aparência da roupa requeria acessórios gigantes no mundo animal. Que a pele certas para cada tipo de pele. Algumas

escassa a mão-de-obra qualificada a fazer lembrar o neopreme aborrachado de avestruz é preciosa mas também a têm de ser molhadas. Outras polidas com

nesta indústria. Os artesãos que há dos fatos de surf. Depois de 'bríefado', o mais resistente. Que a pele de lagarto pedra de ágata, para ficarem brilhantes

décadas garantem a mesma qualidade departamento de desenvolvimento - um se destina mais a cintos e pequenos e acetinadas,

e apresentação dos produtos destas departamento estratégico da marca, onde objectos em peie. Ove também as partes Para fazer um 'trunk', são precisas 24

marcas de topo estão a envelhecer e se faz a pesquisa de materiais inovadores, laterais dos crocodilos s3o usadas para peles de crocodilo. Todos os rebites de

as gerações seguintes parecem não uma aposta da Gucci - arregaçou as cintos. Ove a pele de rena é suave, metal são colocados manualmente. Só

sentir qualquer atracção por estas mangas para tentar formas de dar à pele ideal para luvas e roupa. E que só mãos há um homem no mundo que os faz

artes manuais. A pensar no futuro um aspecto baço. Fizeram-no com pele de experientes sabem como tingir, tratar, para a Gucci. E não conseguimos deixar

da sua produção, a Gucci tem vindo a crocodilo, e com sucesso. trabalhar - e principalmente cortar - a de pensar o quão valioso deve ser este

estabelecer protocolos com escolas, Na zona de peles preciosas, vemos uma pele sem desperdiçar ou estragar. artesão para uma marca como a Gucci.

para dar formação a novos artesãos. pele de 'pyton' a ser tratada e pintada, A pele de crocodilo, por exemplo, é Confirmam-nos: são pagos a peso de

0 artesanato ganhou urna importância em cores néon, de tons diferentes, para cortada com um x-acto afiado. Para ouro e quanto mais especializados,

crescente na Gucci nos últimos anos, com criar diferentes nuances de cores, mesmo uma carteira de crocodilo média, são melhor ganham. Vicissitudes de ter urna

a ascensão de Frida Giannini, contam-nos antes de dar forma às carteiras que já necessários quatro crocodilos inteiros. profissão em vias de extinção. Ou de

em Caselina. A directora criativa gosta fazem furor nas lojas esta estação. As sobras são geralmente usadas para futuro. Já que as novas gerações ficam a

de inovar nas suas colecções e já não é O trabalho destes artesãos é fazer estojos de iPad e Blackberry. Já a saber que são bem-vindas na Gucci paraa primeira nem a segunda vez que Frida especializado e nota-se, pela forma avestruz, que é muito rija, é cortada em se especializarem e para poderem dar

põe à prova as capacidades técnicas do como tocam e mexem na pele, que moldes de máquina. A pele de 'pyton' é continuidade a este 'savoir-faíre'.

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O sucesso chegou definitivamente com a criação de modelosicónicos como a "Bamboo Bag" (um 'bestseller' criado em 1947, nosanos da escassez de peles do período pós-querra, inspirado na selade um cavalo, constituída por 131 peças, sendo o bambu moldadocom calor, demora cinco horas a fazer) ou a "Jackie",em homenagem ao ícone de estilo que era Jackie Kennedy.

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Assumiu-se que o clienteGucci podia (e queria) tero estilo Gucci reflectidoem todos os aspectos dodia-a-dia, ao ponto de ostransformar em objectosde culto. A linha Guccicresceu a olhos vistos.Havia 'pic-nic sets',candeeiros, loiça, jogos...até guitarras. Um doselementos da banda U

2

tem uma guitarra Guccicustomizada. Só Tom Fordficou esquecido nesteMuseu.

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