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Subsfdios para uma ami lise da mobilidade populacional a escala local: o caso do concelho de Vila Verde* Carlos "elaso da Veiga! Ana Paula Castro2 Manuel Placido Pereira 3 Susana Santos 4 Neste artigo procura-se compreender os fluxos populacionais com origem e des- tino no concelho de Vila Verde, com base em dados recolhidos no recense\lmento elei- toral enos recenseamentos gerais da populagao por freguesia. E fazemo-lo cientes , de que ao mergulharmos na analise da mobilidade populacional a escala concelhia, das freguesias, ou dos lugares, temos de lidar com movimentos diferenciddos que fazem coabitar no mesmo territ6rio fen6menos de emigragao/imigragao e de cresci- mento/regressao populacional reveladores de uma realidade muito complexa e mal conhecida, face as que os homens provocam com a forma como promo- vern a ocupagao do espago. Ainda que os dados usados neste trabalho possam ser considerados insuficientes e que naa cubram, com rigor, toda a dinamica do movimento migrat6rio interno foi passivel concluir que os limites territoriais do fen6meno analisado sao muito evi- dentes e tern na sua origem diversos factores de natureza socioecon6mica. Abordar a fen6meno migrat6rio das populagoes humanas significa enfrentar mui- tas dificuldades te6ricas e metodol6gicas. -Essas dificuldades decorrem da pr6pria dinilmica demografica, fazendo-se sentir tanto na definigao e delimitagao do objecto demografico como na sua mensuragao e interpretagao em fungao da imensa variedade das possiveis dimensoes de analise. AMm disso, em termos praticos as recolhas de iriformagao para concretizar as objectivos propostos estao sujeitas, entre outras difi- culdades, a falta de dados ou a impossibilidade de obte-los a partir de fontes oficiais . e, par vezes, a fraqueza das metodologias de analise conhecidas. * A publica'riio deste artigo responde a uma do pr6prio Professor Manuel da Silva e Costa aquando da do relat6rio de estagio para conc1nsao da licenciatura em Sociologia apresentado por Ana Paula Cas- tro e Susana Santos sob dos restantes co-autares, que desta forma Ihe renaem homenagem por oca- siao da sua I Soci6logo. Professor Auxiliar do Departamento de Sociologia da Universidade do Minho 2Soci61oga 3Medico de Sande Ptii:)lica. Centro de Sande de Vila Verde (Soci61oga

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L-abrigo

Subsfdios para uma ami lise da mobilidade populacional a escala local: o caso do concelho de Vila Verde*

Carlos "elaso da Veiga!

Ana Paula Castro2

Manuel Placido Pereira3

Susana Santos4

Neste artigo procura-se compreender os fluxos populacionais com origem e des­tino no concelho de Vila Verde, com base em dados recolhidos no recense\lmento elei­toral enos recenseamentos gerais da populagao por freguesia. E fazemo-lo cientes , de que ao mergulharmos na analise da mobilidade populacional a escala concelhia, das freguesias, ou dos lugares, temos de lidar com movimentos diferenciddos que fazem coabitar no mesmo territ6rio fen6menos de emigragao/imigragao e de cresci­mento/regressao populacional reveladores de uma realidade muito complexa e mal conhecida, face as modifica~oe8 que os homens provocam com a forma como promo­vern a ocupagao do espago.

Ainda que os dados usados neste trabalho possam ser considerados insuficientes e que naa cubram, com rigor, toda a dinamica do movimento migrat6rio interno foi passivel concluir que os limites territoriais do fen6meno analisado sao muito evi­dentes e tern na sua origem diversos factores de natureza socioecon6mica.

Introdu~ao

Abordar a fen6meno migrat6rio das populagoes humanas significa enfrentar mui­tas dificuldades te6ricas e metodol6gicas. -Essas dificuldades decorrem da pr6pria dinilmica demografica, fazendo-se sentir tanto na definigao e delimitagao do objecto demografico como na sua mensuragao e interpretagao em fungao da imensa variedade das possiveis dimensoes de analise. AMm disso, em termos praticos as recolhas de iriformagao para concretizar as objectivos propostos estao sujeitas, entre outras difi­culdades, a falta de dados ou a impossibilidade de obte-los a partir de fontes oficiais

. e, par vezes, a fraqueza das pr6pria~ metodologias de analise conhecidas.

* A publica'riio deste artigo responde a uma solicita~ao do pr6prio Professor Manuel da Silva e Costa aquando da

apresenta~ao do relat6rio de estagio para conc1nsao da licenciatura em Sociologia apresentado por Ana Paula Cas­tro e Susana Santos sob co-orienta~ao dos restantes co-autares, que desta forma Ihe renaem homenagem por oca­siao da sua jubila~ao.

I Soci6logo. Professor Auxiliar do Departamento de Sociologia da Universidade do Minho 2Soci61oga

3Medico de Sande Ptii:)lica. Centro de Sande de Vila Verde (Soci61oga

64 CAMINHOS NAS CIENCIAS SOCIAlS: MEMORIA, MUDANGA SOCIAL E RAZAO

Eo que sucede quando se pretende abordar as migra90es inter-regionais em Por­tugal, devido it escassez de dados e de fontes estatlsticas alternativas aos registos oficiais do Instituto Nacional de Estatistica (INE). Alias, como a unica fonte capaz de revelar informa9ao uti! para 0 estudo das migra90es e 0 recenseamento popula­cional que se realiza de 10 em 10 anos, as dificuldades acentuam-se quando se pre­tende estudar os movimentos populacionais intra-concelhios, ou sej~, entre as freguesias de urn mesmo concelho. N a verdade, a analise das migra90es internas enfrenta em Portugal uma importante limita9ao pratica, devido ao fact~ de as fon­tes demograficas apenas disporem de informac;ao relativa aos fluxos inter-eonce­Ihios e nao aos fluxos intra-concelhios.

De facto, 0 estudo do fen6meno das "migrac;6es" ainda induz a tentac;ao de reme­ter para as movimentac;5es de massas de pessoas pobres e carenciadas que deman­daram as gran des cidades em busca de melhores padroes de vida e de sQbrevivencia, instalando-se nas suas periferias ou em "ilhas habitacionais" hlgubres e imundas. Movimentos populacionais do campo para a cidade sustentados muitas1vezes em redes familiares au de amizades, quando nao organizadas por profissionais explo­radores da miseria alheia. Dessa forma se instalaram milhoes de pessoas que pro­curaram exercer urn trabalho industrial ou comercial remunerado e ter uma casa para se abrigarem, provocando 0 crescimento descontrolado das grandes cidades e das taxas de desemprego, em consequencia dos processos de concentra~ao capita­lista e de diversifica9ao das oportunidades de vida que, ao longo dos ultimos 150 anos, foram provocando acentuadas assimetrias regionais.

Se a analise dessa dimensao do fen6meno migrat6rio aindajustifica que se proceda a sua mensuraQao, caracterizaQao e avaliaQao prospectiva, 0 estudo das migra<;5es tambem deve preocupar-se com outros processos complexos e diversificados, que emer­gem de movimentos populacionais mais subtis, mas que tambem promovem a redis­tribuic;.ao das pessoas no espac;.o territorial, como sucede com as simples mudanc;.as de residencia a escala local relacionadas com factores da vida mais intima das familias.

Contrariando a tende:ncia de centrar as analises em torno da "questao migrat6-ria" nas,grandes movimentaQ5es populacionais, 0 nosso objecto de estudo debruc;.a-se sobre a mobilidade populacional no interior do concelho de Vila Verde, com 0 intuito de ajudar a compreender e explicar os movimentos migratorios internos, conside­rando os factores de repulsao das freguesias de origem e os factores de a trac9ao das freguesias de destino, sem a preocupac;.ao de tentar encontrar as tradicionais regu­laridades, que enformam as correntes migratorias.

Portanto, para alem do conhecimento da extensao do fen6meno e da sua caracte­rizac;.ao este estudo tern como objectivo determinar que factores sociais e economicos ou outros levam os habitantes do concelho de Vila Verde a migrarem no seu seio, sabendo que muitas das familias residentes em regioes deprimidas adoptam estrate­gias de sobrevivencia que englobam a sua desloc~ao para dentro ou para 0 exterior do seu meio originario, consoante as oportunidades e os constrangimentos com que se deparam. Logo, e de primordial importancia perceber as 16gicas das dinamicas dos locais mais e menos atractivos, bern como algumas das suas causas e consequemcias.

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Breve

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1S e consequencias.

CARLOS VELOSO DA VEIGA ET AL 65

N a verdade, as freguesias do concelho tendem a apresentar caracteristicas demo­graficas que variam segundo a sua localiza~il.o geografica seja a norte ou a sui do ter­ritorio. Segundo os resultados dos censos, des de ha pelo menos 40 anos que as freguesias situadas a norte tern sentido urn decrescimo continuado do nurnero dos seus habitantes, enquanto que as freguesias do sui tendem a "presentar algum cres­cimento demografico.

Breve caracleriza~ao do concelho de Vila Verde

Historicamente sabe-se que no concelho de Vila Verde, a agricultura foi durante muito tempo a principal ocupa~il.o da maioria da popula~il.o residente e, em muitos casos, constituiu a sua principal base de reproduc;ao social. Neste concelho, como , aconteceu em muitos outros lugares semelhantes, devido aos processos de transic;ao da economia de base rural para uma economia de tipo industrtal, a sustenta~ao eco­nomica da popula(:il.o residente baseada na agricultura tornou-se incapaz de asse­gurar a sustenta~il.o da maioria das unidades familiares. Essa situa~il.o for~ou as familias a procurar alternativas para assegurarem a sua sobrevivencia, recorrendo tamMm ii. mobilidade no interior do seu proprio territorio de origem.

Este concelho, que e conhecido por "terra dos len~os dos namorados", esta geografi­camente localizado no distrito de Braga, em pleno cora~il.o do Minho, encontrando-se delirnitado a norte pelo concelho de Ponte da Barca, a sudeste pelos concelhos de Ama­res e Braga, dos quais fica separado pelos rios Homern e Cavado, a oeste pelos conce­Ihos de Barcelos e Ponte de Lima e a este pelo concelho de Terras de Bouro.

Figura 1: Mapa do distrito de Braga

Fonte: Atlas de Portugal

66 CAMINHOS NAS CIENCIAS SOCIAlS: MEMORIA, MUDAN,A SOCIAL E RAZAo

Em termos morfo16gicos existe urn acentuado contraste entre 0 norte, hastante montanhoso, com encostas acentuadas que chegam a atingir 773 metros de altitude, e as terras planas do suI. Contudo, a maioria da sua area territorial e composta de apraziveis vales, cuja fertilidade e propicia a uma grande diversidade de produtos agricolas, milho, batata, cria~ao de gado, vinha destinada it produ,ao de vinho verde e outras culturas tradicionais desta regiao.

A essa diversidade nao e alheio 0 facto de, em termos climaticos, este cO'lcelho se caracterizar por urn clima temperado, distinguindo-se a zona norte do concelho, que apresenta temperaturas medias anuais mais baixas do que zona suI, devido a menor insola,ao e it maior altitude. Durante 0 Inverno a elevada pluviosidade provoca alguma abundancia de agua que tende a tornar-se escassa durante 0 periodo estival.

Devido a esses contrastes a popula~ao residente nao se distribui, nero nunca se distribuiu, uniformemente pelo territoria, existindo grandes variac;6es de densidade populacional, a qual diminui a medida que 0 relevo se acentua e a altitude aurnenta. '~l;

Influenciam tamhem a distribuic;.ao populacional a rede viaria, com os maiores nucleos populacionais a situarem-se junto das Estradas Nacionais 101,201,205 e 308, bem como a acessibilidade aos loeais de emprego e aos servi,os publicos.

Este concelho e formado por 58 freguesias (Aboim da Nobrega, Arcozelo, Ataes, AtHies, Az6es, Barbudo, Barros, Cabanelas, Cervaes, Codeceda, Coucieiro, Covas, Dossaos, Duas Igrejas, Esqueiros, Freiriz, Geme, Goaes, Godinhac;os, Gomide, Gondiaes, Gondomar, Laje Lanhas, Loureira, Marrancos, Mos, Moure, N evogilde, Oleiros, Parada de Gatim, Passo, Pedregais, Penascais, Pico, Pico de Regalados, Ponte, Portela das Cabras, Rio Mau, Sabariz, Sande, Santa Marinha de Oriz, Santi­ago de Carreiras, Sao Mamede de Escariz, Sao Martinho de Escariz, Sao Martinho de Valbom, Sao Miguel de Carreiras, Sao Miguel de Oriz, Sao Miguel do Prado, Sao Pedro de Valbom, Soutelo Travass6s, Turiz, Valdreu, VaWes, Vila de Prado, Vila Verde, Vilarinho) distribuidas por uma area total de 228.7 km' (ver figura 2).

Algumas considera~oes le6ricas

Por migra,ao deve entender-se todo 0 movimento de pessoas de urn pais para outro ou dentro de um mesmo pais, com mudanc;a de residencia. No primeiro caso trata-se de migra,ao internacional e, no segundo, de migra~ao interna. Esses deslo­camentos podem ser definitivos ou temporarios e distinguem-se do nomadismo, da transumancia e do exodo rural, embora possam ser relacionados.

As migra,oes humanas. fazem parte do patrimonio historico da Humanidade e tiveram lugar em todos os tempos, podendo ser de origem tribal, nacional, colonial, de classe ou individuais e ate for,adas como meio de controlo social utilizado por alguns regimes ditatoriais e autoritarios. As suas causas sao de varios tipos, con­soante 0 espac;o e 0 tempo em que ocorrem, podendo ser politicas, econ6micas, reli­giosas, turisticas, laborais, etnicas, religiosas e culturais ou simplesmente

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CARLOS VELOSO DA VEIGA ET AL 67

Figura 2: Mapa das freguesias do concelho de Vila Verde

Fonte: Atlas de Portugal

resultarem do desejo de "mudan~a de ares", mas as suas consequ~ncias tern ajudado a transformar 0 Mundo.

As migra~oes por motivos econ6micos sao, provavelmente, a principal causa que leva as pessoas a migrarem e resultam quase sempre da diferen~a de desenvolvi­mento socioecon6mico entre paises Oll entre regioes. Em regra, as individuos ,migram porque pretendem assegurar noutr,os locais urn rnelhor nivel de vida.

Actualrnente, as problematicas que se estabelecem em torno das migra~oes deno­tam urn caracter multidisciplinar, ou seja, tern sido desenvolvidas diversas pers­pectivas te6ricas cuja pluralidade de visoes acentuam a inexistencia de uma "teoria geral da migra~ao", na medida em que "A migra~ao e urn problema demografico: influencia a dimensao das popula~oes na origem e no destino; e urn problema eco­n6mico: muitas mudan~as na popula~ao sao devidas a desequilibrios econ6micos entre diferentes areas; pode ser urn problema politico: tal e particularmente ver­dade nas migrac;6es internacionais, onde restrit;6es e condicionantes sao aplicadas

66 CAMINHOS NAS CIENCIAS SOCIAlS: MEMORIA, MUDANQA SOCIAL E RAZAo

aqueles que pretendem atravessar urna fronteira politica; envolve a psicologia social, no sentido em que 0 migrante esta envolvido num processo de tomada de decisao antes da partida, e porque a sua personalidade pode desernpenhar um papel impor­tante no sucesso com que se integra na sociedade de acolhimento; e e tambem urn problema sociol6gico, uma vez que a estrutura social e 0 sistema cultural, tanto dos lugares de origem como de destino, sao afectados pela migra~ao e, em contrapartida, afectam 0 migrante" (Jansen, 1969: 60).

No caso portugues, as desloca{:oes mais comuns enquadram-se no exodo rural, em que as pessoas se deslocam do campo para as cidades tendo em vista a melhoria das suas condi~oes de vida. Deste movimento tern vindo a resultar a desertifica~ao das zonas do interior e a concentrar;ao das pessoas e das actividades econ6micas nas zonas litorais, originando 0 chamado processo de litoraliza~ao do Pais.

Recorde-se que 0 exodo rural acompanhou os grandes surtas industriais, quando as cidades em fase de crescimento e de industrializa~ao passaram a oferecer melho­res condi~oes de trabalho e de vida. Atraidos por essas condi~oes milhares de cam­poneses, jornaleiros au pequenos proprietarios agrfcolas e suas familias abandonam os seus 1 ugares de origem e as suas profissoes em busea de urn Bucesso profissional que nem sempre acontece. N esses casas as consequencias negativas afectam nao s6 os que participam no exodo, mas tambem 0 mundo rural que assiste a diminuiQao da sua popula~ao, mao-de-obra e produ~ao agricola.

Em geral, 0 debate em torno das razoes que levam it migra~ao divide-se em fac­tores econ6micos e na~ econ6micos. Numa abordagem micro social, os dois factores podem ou nao ser levados em conta pelos individuos na sua decisao de migrar, tendo em conta que varhiveis pessoais tais como sexo, idade, estado civil, etc. mudam a forma como 0 individuo constr6i a sua "utili dade" e avalia os ganhos relativamente a sua continuidade ou na~ no seu local de origem. Em termos macro estruturais, os factores econ6micos fundamentados nas diferen~as salariais e de emprego tendem a prevalecer como motivaQao para niigrar. Pode-se afirmar que a migraQao e urn bar6metro de circunstancias sociais, econ6micas e politicas em transformaQao, a nivel nacional e internacional, reflexo das grandes disparidades das condi~oes eco­n6micas e sociais oferecidas pelos locais de origem e de destino.

Portugal foi durante seculos um pais onde parte da sua popula~ao se viu for~ada a emigrar para poder sobreviver. Alguns autores consideram 0 fen6meno migrat6rio portugues como "uma constante estrutural": "Em urn seculo, de 1866 a 1966, sal­ram de Portugal (. .. ), mais de dois milhoes e setecentos mil individuos, descontados os que retornaram; ou seja, uma media anual de vinte e sete mil. Com os clandesti­nos 0 total deve exceder os tres milhoes e meio (. .. ) 0 saldo migrat6rio representou neste perfodo 38% do saldo fisiol6gico" (Godinho, 1977: 46), com valores mais eleva­dos naB regioes do Norte e Centro do Pais.

Os fluxos migrat6rios dos portugueses conheceram varios destinos ao longo da hist6ria, sendo 0 mais importante aquele que se ocorreu no p6s-II GGM, tendo como destino os paises da Europa Central que precisaram de reconstruir as suas cidades

Breve

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CARLOS VELOSO DA VEIGA ET AL 69

e adquirir mao-de-obra nao qualificada para fun~oes e tarefas que os cidadaos euro­peus ja nao estavam dispostos a exercer. Nesse periodo, entre os cerca de 13 milhoes de imigrantes oriundos dOB pafses do designado "Tereeira Mundo", contavam-se mais de urn milhao de portugueses provenientes dos concelhos rurais edo interior do Pais.

Durante 0 regime salazarista, muitas pessoas viram-se o~rigadas a fugir, tanto por questoes politicas como por questoes militares (fuga it guerra colonial), No Norte de Portugal sao ainda comuns as migra~oes sazonais para E~panha, relacionadas com as vindimas e com a apanha do tomate. A nivel interno, tamMm sao relevan­tes -as movimentos sazonais decorrentes das vindimas no Doura.

Hoje, a escala concelhia, das freguesias au dOB lugares, verifiea-se a ocorrencia de movimentos diferenciados onde 0 crescimento e 0 despovoainento se sobrepoem den­tro do mesmo espa~o, fen6meno que revela uma realidade muito complexa a que nao , tern sido dada a devida aten~ao. Nesses contextos micro demograficos a dinamica precisa ser analisada para melhor compreender e mensurar os')fluxos populacionais na sua associa9ao com as razoes estruturais que promovem a reten98.0 e 0 caracter selectivo do destino dos que nao conseguem partir para lugares mais afastados do seu local de origem.

Breve caracteriza~ao socio-demogrilfica do concelho de Vila Verde

Segundo os resultados do ultimo recenseamento populacional, efectuado em 2001, a popula~iio do concelho de Vila Verde situava-se em 46.578 habitantes (22518 homens e 24060 mulheresl, 0 que representa uma densidade populacional de 418.9 habllon2• Os censos de 2001 registaram tambem a existilncia de 486 edificios e de 758 alojamentos familiares.

0 • 1: .J:! ... ~ .., • ."

Z

47000 46000 45000 44000 43000 42000 41000 40000 39000 38000

Popula~lioro.ldente no Concelho de Vila Verde '. ·segundo os Censos de 1960 .2001

I-+- Populac~o residentd

1960. 1970. 1981. 1991. 2001.

Censos

Figura 3: Popula.;ao residentes no concelho de Vila Verde de 1960 a 2001

Fonte:INE

70 CAMINHOS NAS CIENCIAS SOCIAlS: MEMORIA, MUDANCA SOCIAL E RAZAD

Reflectindo 0 sentido dos movimentos migratorios dos anos 60 e 70 do sec. xx, os resultados dos censos de 1960 a 2001 mostram as flutua~6es da populacao residente ao longo dos ultimos 40 anos. Assim, durante 0 decenio de 60 assiste-se a um decli­nio populacional de 42 256 para 41 060 habitantes que se deve ao surto de emigra­~ao para as areas metropolitanas do Porto e de Lisboa e para alguns paises europeus (Fran~a, Alemanha; Suica; Luxemburgo). A esse declinio segue-se um aumento popu­lacional durante os anos 70 de que os Censos de 1981 dao conta ao registarem 44 432 residentes no concelho, provavelmente por influencia do retorno de nacionais pro­venientes das ex-col6nias portugueses em Africa e devido it extensao das activida­des industriais. Os anos do decenio de 80 mostram urn novo, embora ligeiro, abrandamento demografico que fica registado nos censos de 1991 no menor mimero de habitantes, 0 qual em 1991 se cifra em cerca de 4 centenas face ao registo censi­tario de.1981. Finalmente, os resultados do censos de 2001 evideneiam no periodo compreendido entre 1991 e 2001 um aumento populacional de 5.74%. que se pode considerar bastante significativo, 0 qual espelha a capacidade de crescimento do concelho de Vila Verde seja medida atraves do saldo migratorio, seja medida atra­yeS do saldo fisiologico. Por exemplo no ano de 2000 para urn total de 615 nados vivos verificaram-se 414 obitos, devido a uma Taxa de Natalidade de 13.4%0 (treze por mil hab.) e a uma taxa de mortalidade de 9%0 (nove por mil hab.)'.

N 0 qu~ respeita it distribuicao da estrutura ebiria no concelho os dados para os anos de 1991 e 2001, evidenciados no quadro seguinte, permitem verificar que se actuaimente se assiste a um duplo envelhecimento populacional. Por urn lado 0 grupo etario entre os o e os 14 anos de idade sofreu urna quebra de 6.15%, quebra que tambem ocorreu no grupo etario dos 15 aos 24 anos, embora neste ultimo a redu~ao nao tenha sido tao subs­tancial e, por outro lado, verificou-se urn acn,scimo de 6.64% no grupo etario dos 25 aos 64 anos e de 1.8% no no grupo etario dos individuos maiores de 65 anos.

Grupo de idades 1991 2001

0·14 25.8% 19.65%

15-24 18.4% 16.83%

25-64 42% 48.64%

65 e + 13.1% 14.79%

Quadro 1: Distrihuic;ao da estrutura etaria no concelho de Vila Verde

Fonte: INE

5 Por urn Iada, os indicadores demognlficos do ano 2000 traduzem urna quebra da Taxa de Natalidade (que se situava

nos 14.8%0 (I4,B por mil hab.) em 1991 e, pOl' Dutro lado, traduzem tambem uma quebra da Taxa de Mortalidade, a qual decresceu dOB 10.4%0 (10,4 par mil hab.) registados em 1991 para os referidos 9%0 (9 pOl' mil hah.) regista­

dos em 2000. Este comportamento demografico do concelho de Vila Verde aparece, em nosso entendimento, asso­

ciado a diversos fen6menos socia is. Entre esses fen6menos sociais contam-se a alfabetiza40Ro da populac;ao; 0

alastramento do conhecimento dos metodos anti-concepcionais; a mudan40a de papel social da mulher que deixou

de ver 0 seu trabalho limitado A esfera do lar; os casamentos cada vez mais tardios que beneficiam 0 encurtamento do periodo de fecundidade dos casms, com a Taxa de Nupcialidade a cifrar .. se nos 7,3 individuos pOl' mil habitan­

tes e a Taxa de Div6rcio nos 7 indivfduos par mil habitantes.

3C. XX, os residente urn decli­~ emigra­europeU8 rrto popu­m44432 uais pro­activida­a ligeiro, rnumero sto censi­o periodo e se pode mento do [ida atra-15 nados %0 (treze

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CARLOS VELOSO DA VEIGA ET AL 71

Estes indicadores mostram que 0 concelho de Vila Verde, apesar de urn saldo populacional positivo assinalavel nos ultimos anos do seculo XX, esta em processo de envelhecimento populacional, que se tern acentuado nos ultimos anos, de tal modo que em 2001 0 indice de envelhecimento ja atingia a cifra de 77.8%. da esperan~a media de vida.

A analise da evolu~ao da popula~ao activa empregada por i~ctor de actividade revela urn claro crescimento dOB sectores secundario e terciario ~ urn decrescimo sig­nificativo do sector primario. Sao os efeitos do exodo rural e da desertifica~ao de algumas zonas que alteraram profundamente estrutura econ6mica do concelho de Vi!a Verde, corponzando a transforma~ao que come~ou nos anos 60 do sec. XX·.

De urn modo geral, as flutua~6es populacionais de que os censos dao testemunho permitem inferir da existencia de duas etapas de mobilidade populacional cumpridas ao longo do processo migratorio confirmando que tanto 0 exollo rural no concelho como a intensifica~ao dOB processos de urbanizac;ao e industrializfu;ao influenciaram a dinfunica do processo migrat6rio. Assim, os movimentos populacionais entre os cen­sos de 1961 e 1971 reflectem ainda 0 peso das emigra~6es para fora do concelho, seja para 0 estrangeiro seja para as grandes centros urbanos nacionais que provocaram urn crescimento populacional negative de cerca de 1200 residentes. No entanto, 0

periodo entre os censos de 1971 e 2001 ja reflecte a capacidade de atrac~ao do con­celho apresentando urn crescimento populacional de aproximadamente 5500 resi­dentes. Ambos os periodos todavia dao conta de urn inequivoco despovoamento rural continuo e sustentado da maioria das freguesias, em especial as situadas na parte norte do concelho, e da industrializa~ao e do incremento do comercio e dos servi~os que relegaram para uma posi~ao quase residual as actividades ligadas it agricultura, que foi perdendo capacidade competitiva, transformando os modos de vida da popu­lac;ao residente incapaz de proceder it reconversao das estruturas fundiarias, factor de crucial importancia na compreensao dOB movimentos migrat6rios intra-concelhios.

Metodologia de recolha da informa~ao

A abordagem das migra¢6es internas em Portugal denota uma dificuldade acen­tuada pela enorme escassez de dados e fontes estatisticas. A unica fonte capaz de revelar alguma informa~ao uti! para 0 estudo das migra~6es e 0 Recenseamento da Popula~ao.

Contudo, e como bern sabem os demografos, que se interessam pela analise e com­preensao das migra~6es internas, em Portugal existe uma importante limita~ao pra-

6 Por exemplo em 1991 0 seu tecido econ6mico era dominado pelo sector secundtirio, 0 qual ocupava cerca de 45% da popu­

!a~o activa, seguido de urn sector terciario, que continua em expansao, com cerca de 30% e do sector primario com os

restantes 25%, Em 2001, e a costa do decrescimo acentuado do sector primario, que passou a ocupar cerca de 7% da popu­

la~o activa, ao passo que a distribui~o da popula~o activa pelos outros sectores de actividade passou a ser de cerca de 42% no sector terciruio e de 51% no sector secund8rio. No que toea ainda it evolm;ao dos indicadores sociais importa

registar que no perfodo entre 1991 e 2001 a Taxa de Analfabetismo registou urn decrescimo de 15.4% para 11.9%.

72 CAMINHOS NAS CI~NCIAS SOCIAlS: MEMORIA, MUOANCA SOCIAL E RAzAo

tica, devido ao facto de 0 INE apenas disponibilizar a informa9ao relativa aos fluxos inter-concelhios, ficando em falta os dados das migra96es intra-concelhias. Para col­matar esta lacuna recorrernos aos dados do recenseamento eleitoral fornecidos pelos Servi90s Tecnicos de Apoio ao Processo Eleitoral (STAPE), os quais nao se destinando a fins demograficos apenas permitem retratar por via inferencial Q fen6meno das migrac;6es intra-concelhias, assumindo-se que as limitac;oes daf decotrentes sao ine­vitaveis. Neste estudo utilizamos dados retirados dos boletins de rec'l,llseamento elei­toral das 58 freguesias constituintes do concelho de Vila Verde. Com efeito, ap6s a ultima actualiza9ao dos verbetes de inscri9ao efectuada pelo STAPE em 2005, e pos­sivel calcular os movimentos das pessoas da freguesia de residencia anterior e a da residencia actual. Deste modo, pode estimar-se quais as freguesias que receberam popula9ao e as que perderam, quantificando ganhos e perdas das diferentes fregilesias.

A analise dos dados foi efectuada atraves do Programa informatico de analise de dados Statiscal Package for the Social Sciences (SPSS) com a ajuda do qual foi pos­sivel analisar as movimentos populaciona~s entre as freguesias do concelho de Vila Verde, dividindo-as em dois grandes grupos: freguesias em regressao e freguesias em crescimento populacional.

AJem disso efectuaram-se visitas as freguesias que melhor representam as dife­rentes realidades, tendo-se realizado algumas entrevistas a presidentes das res­pectivas juntas e a outros residentes lacais.

Para aJem dos movimentos populacionais, tivemos tambem em aten9ao alguns dados mais relevantes do contexto socioecon6mico de forma a tentar expor as razoes que ajudam a explicar as dinamicas da regressao e do crescimento populacional das freguesias que melhor representam essas dinamicas.

Urn olhar global sobre 0 rnovirnento rnigrat6rio no concelho

Antes de mais, a compreensao das migra96es internas no concelho de Vila Verde exige que se proceda ao seu enquadramento nos movimentos populacionais inter­-concelhios ocorridos na regiao Norte onde se localiza. Deste modo, as indicadores disponiveis permitem verificar que foi 0 concelho do Porto que registou ate 1991 0 maior fluxo de entradas e saidas entre todos os concelhos da regiao norte. Contudo apresentava um saldo migrat6rio mais baixo do que concelhos limitrofes como Mato­sinhos, Maia, Braga, entre o~tros, que se podem considerar as concelhos mais atrac­

tivos desta regiao. Particularmente, devido a proximidade geografica e a influencia exercida sobre

o concelho de Vila Verde, ganha relevancia 0 facto de 0 concelho de Braga apresen­tar urn saldo migrat6rio positivo relativamente a concelhos como Barcelos, Guima­raes e Porto, na medida em que tal saldo coincide temporalmente com 0 periodo de tempo em que concelho de Vila Verde passou tambem a apresentar um saldo migra­

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CARLOS VELOSO DA VEIGA ET AL 73

Assim sendo, analisando os dados disponibilizados pelo STAPE verifica-se que em termos distritais estamos peran~e urn concelho que se revela atractivQ para mui­tos individuos, sejam provenientes de outros distritos do Pais ou do estrangeiro.

Estao nessa situa~ao cerca de 11,2% do total dos 44.131 inscritos nos cadernos .eleitorais de todas as freguesias do concelho. Em concreto, a Il\aior percentagem de individuos cuja naturalidade e exterior ao concelho de Vila Verde provem dos paises europeus e do continent;' africano com 4,1% do total e dos dist'Htos de Viana do Cas­telo (2.4%) e Porto (1.3%). Em maior ou menor numero todos 'os distritos de Portu­gal forneceram popula~ao ao concelho embora a maioria 0 tenha feito de forma pouco expressiva.

Alem disso, dando conta da actual capacidade de atra~~ao do concelho de Vila Verde, quando se repartem pelos diferentes concelhos os resiqentes que sao naturais do distrito de Braga e que estao recenseados neste concelho, verificamos que apenas 89.4% saonaturaisdo mesmo, sendo os restantes 10,6% naturai~ de varios concelhos deste Distrito, em particular do vizinho concelho de Braga (6%).

Estes dados comprovam que concelho de Vila Verde tern conseguido captar popu­la~aoem todo 0 territ6rio nacional, importando agora tentar compreender e explicar, na medida do possivel, algumas especificidades da mobilidade populacional no inte­rior do concelho.

Compulsando os dados dos Censos entre 1960 e 2001 podemos perceber que a escala micro das 58 freguesiasque compoem 0 concelho de Vila Verde existem rea­lidades demograficas distintas que se consolidaram pela dinamica dos movimentos migrat6rios intra e inter-concelhios. Os dados dos censos dao conta desses movi­mentos ao permitirem subdividir as 58 freguesias do concelho em 2 grandes grupos quanto it evolu~ao da sua situa~ao demografica: 1) freguesias em regressao demo­grafica onde se incluem todas aquelas onde de forma sistematica as taxas de varia­~ao da popula~ao residente se !,presentam como negativas e que, segundo os dados do ultimo censo face ao cens" de 1991 perderam popula~ao residente; 2) freguesias em crescimento populacional, grupo que inclui as freguesias que no ultimo perfodo inter~censitario registaram uma varia~ao positiva na sua popula~ao residente. Algu­mas das freguesias, em ambos as grupos, parecem denotar uma certa tendencia para a estagna~ao demografica, sobretudo aquelas cujos efectivos populacionais, oscila­ram entre ganhos e perdas que nao ultrapassaram os 5% no referido periodo.

As migra~iies internas nD cDncelhD de Vila Verde

As freguesias em regressiio demografica

Pertencem ao grupo das freguesias em regressao demografica, as 29 freguesias constantes no quadro seguinte, as quais representam 50% do numero total de fre­guesias do concelho de Vila Verde (cf. quadro 2)

74 CAMINHOS NAS CIENCIAS SOCIAlS, MEMORIA, MUOANGA SOCIAL E RAZAo

Taxa de Taxa de Taxa de Taxa de Saldo fisio- Saldo de Varia~ao Variar;ao Variac;ao Variac;ao 16gico eleitores

populacional populacional populacional populacional (2003) (2005) 60-70 70-81 81-91 9112001

Abies -7,7 24,4 -17,8 -10,0 -3 0

Atiiies 5,1 -2,1 1,2 -2,4 4 -13

Carreiras S. Miguel 20,0 14,4 12,2 -1,6 -2 -8

Carreiras S. Tiago -5,8 -5,1 4,2 -12,7 ~ -6 -2

Cervaes -8,1 8,6 5,3 -6,6 16 4

Codeceda 13,7 -9,9 -26,1 -2,5 2 -8

Coucieiro -26,8 21,2 2,3 -24,3 -6 -7

Covas -20,2 5,9 -5,8 -14,3 1 7

Duas Igrejas -23,3 27,4 -17,3 -1,5 0 -13

Escariz S. Mamede 11,0 -15,8 -12,3 -6,1 -2 -10

Escariz S. Martinho -5,9 0,4 -4,5 -15,0 '8 0

Godinhac;os -19,0 -1,0 -16,8 -12,8 -4 0

Gomide 18,7 -19,5 -17,4 -4,9 2 38

Gondomar -25,5 1,3 -26,1 -25,0 -1 -14

M6s 0,5 -5,4 -7,2 -0,9 -2 11

ariz S. Miguel 4,4 11,0 -17,3 -7,8 3 -6

Oriz 8ta Marinha 0,0 6,9 -8,7 -1,7 2 -18

PassO 11,6 5,4 -18,2 -6,3 -6 4

Pedregais 10,9 -7,2 -15,3 -5,9 -2 0

Penascais -10,5 4,1 0,9 -2,4 -1 -1

Pico -14,2 -10,0 -5,2 -2,2 -6 -2

Portela de Cabras 13,0 -18,4 -5,6 -11,9 2 -6

Prado S.Miguel 3,6 -12,1 -12,4 -7,1 -7 2

Sabariz -12,6 2,2 -2,7 -9,2 7 7

Soutelo 13,6 9,1 18,7 -6,5 16 -2

Valbom S. Martinho -18,9 12,6 -13,6 ·0,3 -4 -3

Valbom S. Pedro -2,3 0,2 -2,4 -17,7 -4 29

Valdreu -8,8 -1,3 -10,5 -32,1 -1 -8

Valoes 7,4 -24,5 -8,7 -20,8 2 1

Quadro 2: Taxas de variat:;:ao populacional, saldo de eleitores e saldo fisiol6gico das freguesias do

concelho de Vila Yerde que se encontram em regressao demograiica.

Assim sendo, quando se olha para 0 con junto das freguesias que apresentam uma dinamica de regressao demograJica, as fregtiesias de Gondomar e de Valdreu podem ser apontadas como expoentes maximos de locais em situa~ao de acentuado decres­cimo populacional. Na primeira, Gondomar, a sua popula~ao regrediu 58,2% nos ulti­mos 40 anos e na segunda, Valdreu, a varia~ao negativa do efectivo populacional foi de 45,3%. Sao perdas demograJicas consideraveis que tern a particularidade de se terem acentuado, sobremaneira, entre 1981 e 2001.

Saldo de eleitores (2005)

0

-13

-8

-2

4

-8

-7

7

-13

-10

0

0

38

-14

11

-6

-18

4

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-2

-6

2

7

-2

-3

29

-8

1

guesias do

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CARLOS VELOSO DA VEIGA ET At 75

Se atentarmos na sua loealiza~ao geogratica verifieamos que se tratam de fre­guesias vizinhas e perifericas que se encontram localizadas na regHio mais a- norte do eoneelho de Vila Verde e que sao 0 espelho da aeentuada regressao demografica sentida em quase todos oslugares dessa regiao. Conforme se pode verifiear no mapa 4, 0 fen6meno da regressao demografiea espalha-se por toda a zona norte do eonce­Iho, e espelha, sem duvida urn movimento de aproxima~ao dos iiabitantes dessa zona em direc~aoas freguesias situadas a suI. 0 pr6prio saldo migrl"t6rio inter-freguesias apreciado a partir dos dados dos registos eleitorais mostra qu'e na sua larga maio­ria as freguesias emregressao demografiea forneeem eleitores as freguesias em eres­cimento demografieo.

Os motivos que levaram os residentes nas freguesias sao fundamentalmente de natureza eeon6miea. Deeorrem da perda de eompetitividade da agricultura devido , ao exodo rural e a degrada~ao dos solos, do nao acesso a bens e servi~os que escas-seiam ou mesmo nao existem, como sejam as casas comerciais,tos servic;os de saude e os estabelecimentos de ensino. Em alguns casos juntam-se a esses factores a falta de transportes e as mas condi~6es da rede viaria que liga algumas das freguesias It sede do coneelho ou mesmo aos concelhos limitrofes.

Figura 4: Mapa das freguesias em regressao demografica

76 CAMINHOS NAS CIENCIAS SOCIAlS: MEMORIA, MUDANCA SOCIAL E RAZAo

A freguesia de Gondomar e de todas as freguesias em regressao demografica a aquela onde a situa~ao se tern vindo a agravar de forma mais acentuada. Trata-se de uma das freguesias mais pequenas com apenas 2,2 Km' de area. Em 2001 os cen­sos registaram a existencia de apenas 87 habitantes, pelo que a taxa de varia~ao de -44,6 ocorrida entre 1981 e 2001 corresponde a uma perda de 70 habjtantes, 29 dos quais no periodo de 1991 a 2001. Nos cadernos eleitorais estao apenas registadas duas entradas e uma unica saida.

Neste caso concreto, 0 actual ritmo do decrescimo populacional nao parece dever-se a dinamica migrat6ria intra ou inter-concelhia mas a baixa natalidade e ao enve­lhecimento acentuado da sua popula~ao. Segundo apuramos cerca de 80% da popu­la~ao residente e formada por pessoas na situa~ao de reforma e/ou que tern a agricultura como principal actividade econ6mica.

Trata-se de uma freguesia desertificada e fortemente deprimida, onde ha pouco tempo ainda funcionava uma escoia primaria frequentada por dais alunos, sem saneamento basico e sem qualquer tipo de estabelecimentos comerciais, factores que aliados a distancia que separa os seus habitantes da sede do concelho a tornam social e economicamente repulsiva.

No caso da freguesia de Valdreu, a mesma caracteriza-se por ser a que ocupa maior area na regiao norte do concelho de Vila Verde, com as seus 8 !un'. Em termos absolutos de 1991 para 2001 tera perdido 306 habitantes em consequencia de sal­dos naturais e migratorios negativos. Os dados disponiveis no INE revelam que em Valdreu no ano de 2001 foram registados 8 Nascimentos e 9 obitos e os dados do STAPE, para 2005, referem que 14 individuos transferiram a sua inscri~ao eleitoral para outra freguesia do concelho, tendo-se verificado a entrada de 6 novos eleitores.

Apesar de pouco relevantes em termos absolutos esses indicadores ilustram bern como se esta a processar a redu~ao do numero de habitantes desta freguesia, em par­ticular, devido a mobilidade migrat6ria no interior do proprio concelho de Vila Verde. Efectivamente, nas trocas com as outras freguesias do concelho, Valdreu fica nitida­mente a perder, sobretudo para as freguesias mais a suI, em particular para a sede do concelho, a freguesia de Vila Verde (7), com os seus outros emigrantes a desloca­rem-se para as freguesias de Coucieiro (1); Gondomar (1); Prado S. Miguel (1); Sande (1); Geme (1); Barbudo (1) e Esqueiros (1). Ha, ainda assim, de registar que os dados das entradas se referem a pessoas provenientes de freguesias vizinhas como Aboim da Nobrega (2), Oriz S. Migu,el (1), Oriz Sta. Marinha (1) e Valbom S. Martinho (1).

Segundo os Censos de 2001, 63,9% dos seus 648 habitantes (414) estavam liga­dos i\ agricultura. Este indicador denuncia a exisMncia de uma popula~ao residente envelhecida' que ainda resiste a custa de trabalho realizado numa agricultura de subsistencia, uma vez que a pobreza dOB solos dessa zona nao permite obter rendi­mentas capazes de manter ou atrair pessoas jovens. ISBO mesma podemos facilmente observar deslocando-nos aos diversos lugares que compoem a freguesia ou simples­mente, como tamMm fizemos, questionando as responsaveis pela Junta de Fregue­sia e alguns residentes.

CARLOS VELOSO DA VEIGA ET AL 77

Figura 5: Mapa dos principais fluxos das safdas da freguesia de Valdreu

Para alem da pobreza das terras, que os seus habitantes apontam como sendo a principal causa da situa~ao de despoyoamento acelerado em que se encontra a fre­guesia de Valdreu, tamMm se fazem sentir os efeitos da quase inexistencia de esta­belecimentos comerciais, de recreio e lazer, de salide e os maus acessos rodovhirios. Para aIem disso, a pr6pria localiza~ao da freguesia favorece 0 exodo populacional por se encontrar "bastante longe" da sede de concelho e dOB centros urbanos mais pr6ximos, nomeadamente da cidade de Braga. Segundo, Manuel Martins, Presidente da Junta de Freguesia, " Estamos a perder habitantes porque aqui na~ ha quase nada. S6 temos urn mini-mercado e urn restaurante".

Freguesias em crescimenlo demognifico

Pertencem ao grupo das freguesias em crescimento demografico, as 29 fregue­sias constantes no quadro seguinte, as quais tamMm representam exactamente 50% do numero total de freguesias do concelho de Vila Verde:

78 CAMINHOS NAS CI£NCIAS SOCIAlS: MEMORIA, MUDANGA SOCIAL E RAzAo

Taxa de Taxa de Taxa de Taxa de

Freguesias Varia~ao Variac;iio Variac;ao Variac;ao Saldo Saldo migra-populacional populacional populacional populacional fisiol6gico t6rio interne

60·70 70·81 81·91 91·2001

Aboimda 7,6, 27,0 -22,4 2,4 ·9 ·7 N6brega

Arcozelo -6,3 15,9 -14,7 17,9 , 4 3

Azoes ·11,1 -6,5 5,9 1,5 6 ·15

Barbudo 16,5 -1,7 14,3 26,1 6 1

Barros -15,4 13,5 -5,2 10,7 ·4 ·2

Cabanelas ·15,4 18,2 23,6 6,8 13 10

Dossaos -5,8 4,6 9,9 4,0 1 9

Esqueiros -0,9 29,1 10,2 9,1 ·1 ·1

Freiriz ·19,9 19,6 13,6 8,9 8 ·11

Geme ·15,2 12,5 -8,9 22,7 ·7 4

Godes 138,5 ·46,8 ·15,5 4,9 1 1

Gondiaes ·21,8 20,9 5,0 8,6 3 ·1

Lage 12,9 4,9 10,2 7,8 9 9

Lanhas ·10,1 16,7 15,8 6,5 ·1 11

Loureira -1,4 26,1 12,5 11,0 4 5

Marrancos 14,2 3,6 6,1 13,6 4 ·11

Moure -8,3 36,5 ·10,9 11,7 2 ·7

Nevogilde -4,0 15,6 -3,1 2,6 ·1 ·10

Oleiros ·16,8 28,7 -7,7 10,9 8 ·9

Parada de ·11,5 6,8 -6,2 11,5 2 ·1 Gatim

Pico de -9,5 1,7 -6,0 2,6 4 1 Regalados

Ponte ·7,5 24,2 ·28,5 20,8 0 10

Prado Sta ·15,5 18,9 8,4 20,8 60 3 Maria .

Rio Mau 27,6 9,3 -16,2 3,6 ·11 ·1

Sande ·39,3 47,4 ·15,1 22,3 3 ·4

Travassos ·17,5 28,8 0,5 4,8 1 ·3

Turiz ·16,3 32,8 10,1 3,9 4 ·40

Vila verde 17,1 10,7 16,6 46,3 61 149

Vilarinho 6,3 -0,9 4,1 7,4 7 6

Quadro 3 : Taxas de variac;ao populacional, saldo de eleitores e saldo fisioI6gico das freguesias que

se encontram em crescimento demognifico.

Fonte:INE

aido migra-irio interno

-7

3

-15

1

-2

10

9

-1

-11

4

1

-1

9

11

5

-11

-7

-10

-9

-1

1

10

3

-1

-4

-3

-40

149

6

eguesias que

CARLOS VELOSO OA VEIGA ET AL 79

Assim sendo, quando se olha para 0 eonjunto das freguesias que apresentam uma dinamiea de ereseimento demogr:ifieo, as freguesias de Vila Verde e de Barbudo podem ser faeilmente apontadas como os prinei pais loeais em situagao de aeentuado aereseimo populaeional. Na primeira, Vila Verde, a sua populagao ereseeu mais de 100% nos ultimos 40 anos (121,2%), mais do que duplieando a sua populagao resi­dente, enquanto que na segunda, Barbudo, a variagao positiva do efeetivo popula­cional foi no mesmo perfodo de 65,2%. Em ambos os )Casos estamos perante freguesias com ganhos demogrMieos eonsideraveis que ganham relevo no perfodo entre 1981 e 200l.

Se atentarmos na sua loealizagao geografiea verifieamos que se tratam de fregue­sias vizinhas que se eneontram loealizada na parte sui do eoncelho de Vila Verde e que refleetem a tendeneia sentida em quase todos os lugares dessa regiao. Conforme , se pode verifiear figura 6, 0 fenomeno do erescimento demografieo espalha-se por toda a zona suI do concelho, com algumas excepc6es, confirmando ;'0 movimento dos habi­tantes para sui do eoneelho. 0 saldo migratorio inter-freguesias apreciado pelos dados dos registos eleitorais mostra que a maioria das fceguesias em crescimento demogra­fico tende a reeeber eleitores das freguesias em regressao demografiea.

Figura 6: Mapa das freguesias em crescimento demografico

80 CAMINHOS NAS CI~NClAS SOCIAlS: MEMORIA, MUDANGA SOCIAL E RAlAn

A leitura dos indicadores socioecon6micos e a observa~ao directa no terreno permite identificar os factores de atrac~ao que levaram ao aumento da popula~ao residente na generalidade das freguesias da zona sui. Esses factores sao fundamentalmente de natu­reza economica, em especial a expansao do sector cornercial em varios areas e da oferta de habita~ao a pre~os competitivos e com melhores condi~oes de couforto que as habita~oes tradicionais, bern como as acessibilidades aos servi~os publicos e pri­vados instalados na sede do concelho ou nas areas circundanfus.

o tradicional centralismo das decisoes politicas em materia de administra~ao e gestao do territ6ria, agora em boa medida nas maos das autarquias Iocais, que sem­pre privilegiou a localidades sedes de distrito ou concelho sera 0 principal agente da instala~ao de urn cicio virtuoso nas freguesias em expansao demografica, espe­'cialmente na freguesia de Vila Verde e por arrastamento na ~ua vizinha Barbudo.

Na verdade, a freguesia de Vila Verde, beneficiando do facto de ser sede de con­celha, e a uniea a p.Dssuir servi~os publicos tais como: Finan~a~, Seguranc;a Social, Tribunal, Hospital, Escola Secundaria, Centro de Saude, Biblioteca Municipal, Camara Municipal, entre outros. AMm destes, a freguesia possui estabelecimentos comerciais que abrangem todas as areas deste sector de actividade. Como comple­mento possui ainda excelentes acessibilidades, nomeadamente a proximidade it via rapida entre Braga e Vila de Prado. Contrastando com esta "hegemonia", verifica-se que a freguesia de Vila Verde e das mais pequenas em termos de area total (3,1 Km2). Contudo, esta freguesia e aquela que denota maior concentra~ao populacional (1225 habIKm2), sendo a segunda maior freguesia ao nivel do numero de residentes. De 2608 habitantes em 1991 passou a 3813 em 2001'.

A freguesia de Vila Verde vern apresentando saldos fisiol6gicos positivos com 0

mlmero de nascimentos a ser superior ao numero de 6bitos, factor que tambem tern contribuido para 0 aumento do numero dos seus habitantes. Para 0 crescimento da sua popula~ao tambem apontam os dados dos cadernos eleitorais, os quais rnostrarn que esta freguesia apresenta 0 maior saldo migrat6rio positivo do concelho, regis­tando-se no periodo analisado 115 saidas e 264 entradas. As freguesias que rnais pessoas perderam para a freguesia de Vila Verde forain: Barbudo (40), Loureira (23), Geme (21), Soutelo (15), Pico de Regalados (11), Prado S. Miguel (11), Vila de Prado

7 Urn ponnenor curioso ressalta da analise desses indicadores no que se refere a freguesia de Vila Verde, a qual apre­senta urn maior nUmero de habitantes naturais dessa freguesia do que de residentes. Uma explica~ao para esse facto, segundo apuramos, podera estar relacionada, entre outros aspectos, pelo facto de no passado decenio de 80 do seculo XX, a freguesia de Vila Verde ter passado a possuir urna maternidade podendo as parturientes optarem par dar af dar a luz, evitando recorre ao Hospital de Braga, factor que tambem ajuda a explicar 0 grande numero de individuos naturais da freguesia de Vila Verde. Em situa~ao oposta esM a freguesia de Vila de Prado, na medida em que possui residentes em muito maior numero do que indivfduos naturais dela. Neste caso 0 facto desta fre­guesia fazer fronteira com 0 concelho de Braga podera explicar 0 menor numero de naturais dessa freguesia por­que devido a facilidade de as futuras maes poderem aeeder ao Hospital de Braga. De urn modo gel'al, as informa~oes recolhidas indiciam que uma percentagem elevada dos habitantes do Concelho de Vila Verde nasceu no Hospital de S. Marcos em Braga, pelo facto de ser esse Hospital Distrital 0 mais pr6ximo da residencia dos pais. No entanto, ap6s a altera~ao da lei do registo de nascimento, embol'a muitas crian~as de Vila Verde continuem a nascer em Braga,ja lhes e atribuida naturalidade da freguesia de residencia das suas maes.

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CARLOS VELOSO OA VEIGA ET AL 81

(9), Aboim da N6brega (6), Dossaos (6) e Esqueiros (5) e, no que diz respeito as sai­das os locais de destino mais relevantes foram: Barbudo (25), Lanhas (12), Pico de Regalados (9), Turiz (9) e Esqueiros (8) ..

Outra particularidade das migra~oes internos no concelho prende-se com 0 facto de muitos destes movimentos ocorrerem em virtude de casamentos entre pessoas de fregue;ias diferentes e por motivo de heran~as de terrenos, confornle se apurou nas entrevistas aos presidentes de Junta e aos residentes dasfreguesi"s.

A estrutura etaria dos migrantes internos denuncia uma maior mobilidade dos individuos do sexo masculino em idade activa em rela~ao as mulheres e aos mais velhos. 0 facto de serem os individuos do sexo masculino que apresentam maior indice de mobilidade parece corroborar a ideia de que os homen. estao mais dispo­niveis para os riscos e oportunidades das mudan~as territoriais. Estas i1a90es devem ser vistas com alguma prudencia devido impossibilidade de cru~amento de dados dos censos populacionais e eleitorais, em especial devido ao nao cl!tmprimento de muitos eleitores da obriga9ao da actualiza9ao do registo eleitoral aquando da mudan9a de residencia. Logo, os dados disponiveis apenas dao uma ideia aproxi­mada da realidade das migra~oes dentro do concelho.

De resto, os testemunhos recolhidos apontam para que os movimentos migrat6-rios mais frequentes sejam efectuados por toda.a familia (marido, esposa elon filhos) e nao de uma forma solitaria por urn dos membros. Aparentemente, os motivos que levam a este tipo de mobilidade, estao relacionados com o emprego do marido, em primeira instiincia, e da mulher em segunda instancia, a que se juntam as neces­sidades dos filhos em idade escolar.

Como seria de esperar a mai~ria­dos migrantes que se deslocou para a freguesia de Vila Verde tern actual­mente idades compreendidas entre os 26 e as 40 anos, mas eram, em regra, ainda mais jovens quando efectuaram a desloca¢o, pelo que contribuem for­temente para 0 duplo envelhecimento dos seus locais de origem, onde ten­dem a permanecer as pessoas mais idosas. Mantendo-se 0 ritmo de cres­cimento actual, nwn prazo de 20 a 25 anos a maior parte das freguesias do norte do concelho estarao totabnente desertas.

Figura 7: Mapa dog principais fluxos populacionais

par~ a freguesia de Vila Verde

82 CAMINHOS NAS CI~NClAS SOCIAlS: MEMORIA, MUDAN,A SOCIAL E RAZAo

Efectivamente, analisando a totalidade dos fluxos migratorios para freguesia de Vila Verde resulta que das outras 57 freguesias do concelho apenas 7 nao ''fornece­ram" novos habitantes a freguesia de Vila Verde. Entre as excep~oes incluem-se as freguesias de Cervaes e Parada de Gatim. Uma das explica~oes que podeni servir de resposta a este fenomeno resulta do facto de estas duas freguesias serem contiguas ao forte polo de atra~ao que caracteriza actualmente a localidade de Vila de Prado, a qual tern sido nos ultimos anos urn dos locais mais atractivos do cOncelho devido a forte implementar;ao de comercio ligado as mais variarlas areas e a construr;ao de novos fogos habitacionais. Esta freguesia contrasta em absoluto com freguesias do norte do concelho pelo baixo numero de pessoas ligadas a agricultura, sector que agrega apenas 2.8% da popula~ao residente

A segunda freguesia com maior taxa de crescimento positivo a seguir a de Vila Verde, para 0 periodo entre 1960 e 2001, e freguesia de Barbudo. Estafreguesia pode considerar-se uma extensao territorial da freguesia de Vila Verde, bel1eficiando a sua capacidade de atrac~ao da proximidade aos equipamentos e as acessibilidades especificas dessa freguesia e da instala~ao no seu espa~o territorial de duas escolas primarias, dois infantarios e uma escoia profissionaL

Contudo, a freguesia com maior numero de residentes e Prado Sta. Maria (Vila de Prado) que possui mais 568 habitantes do que Vila Verde, com urn total de 4383 individuos. Trata-se de uma das freguesias que parece estar a beneficiar mais de saldos fisiol6gicos elevados do que de deslocamentos inter-freguesias, pois as trocas migrat6rias a este nivel parecem ser de soma nula dado que tendem a DcorTer com as freguesias limitrofes de Cabanelas, Lage, Oieiros, Soutelo, Cervaes e Vila Verde, ganhando e perdendo residentes para todas elas de forma globalmente equilibrada. A sua capacidade de atrac~ao verificada nos ultimos anos parece tambem assentar num saldo migrat6rio positivQ com outras concelhos vizinhos, embora os dados dis­poniveis denunciem a existencia de uma enorme discrepancia entre 0 numero de habitantes e 0 numero de eleitores recenseados da freguesia. Provavelmente, uma parte significativa das pessoas que se tern deslocam para esta freguesia, nao proce­deu a altera~ao do seu registo eleitoral, ou seja, residem em Vila de Prado mas con­tinuam registados nas freguesias das anteriores resid€mcias.

A actual capacidade de atrac~ao desta freguesia pode estar relacionada com a instala~ao de varios servi~os ligados a area da saude, da educa~ao e dos lazeres, pois possui uma extensao de saud\" 3 laboratorios de analises, 1 clinica privada, 2 far­macias, 4 escolas do 2" e 3" ciclos e 4 escolas do 1" cicio. Os locais de lazer sao diver­sificarlos: praia fluvial, pavilhao desportivD, canoagem, piscina municipal, entre Qutros, e possui outras actividades terchirias e secundarias cujo crescimento fez com que a agricultura seja actualmente meio de vida de uma infima parte da sua popu­la~ao, cerca de 5%.

Consequentemente, em termos absolutos e relativos as freguesias a sui tendem a apresentar maior mobilidade populacional e maior dinamica populacional (seja a nivel das migra~iies intra e inter-concelhias ou dos saldos fisioI6gicos), e economica,

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apresentando uma popula~ao residente com melhores qualifica~oes e uma certa diversidade das actividades economicas, que conferem a propria migra~iio inter-con­celhia um caracter fortemente assimetrico.

Alem disso, a capacidade de atrac~iio das freguesias da zona suI parece tambem dever-se a sua menor distancia espacial e temporal em rela~ao aos cl;'ntros urbanos mais proximos (cidades de Braga e Barcelos), e aos servi~os neles disponiveis tam­bem pela melhoria da vias de acesso rodoviario, factores de atrac~iiq que fazem das suas freguesias espa~os privilegiados de fixa~ao de residencia de nluitas pessoas que trabalham nesses centros ljrbanos'.

Considera~iies finais

Uma das principais conclusoes que se pddem retirar deste estudo reside elevado contraste entre algumas· das demografica e economicamente pujantes freguesias situadas a suI do concelho, e as freguesias situadas a norte que apresentarn uma mobilidade populacional diminuta, com as saidas a sobreporern-se as entradas, num processo de degrada~ao acelerado em termos econ6micos e sociais, a que nao sao estranhas as condi90es do relevo montanhoso e 0 clima (temperaturas mais baixas e maior precipita~ao a norte), que influem de forma directa no uso dos solos, nas actividades economicas enos rendimentos familiares.

A zona norte do concelho tern cada vez mais areas deprimidas, com fracas ou nulas oportunidades de vida e de emprego, onde a agricultura de subsistencia gera pobreza endernica e 0 atraso tecnol6gico gera desemprego, sub-ocUpa9iio e baixos rendimentos.

Os dados mostram-nos como a mobilidade de pessoas entre as freguesias do con­celho de Vila Verde estao a conduzir ao despovoamento absoluto de algumas e ao crescirnento acentuado de outras. EBs'; realidade alerta para a necessidade de acorn­panhar de perto os rnovimentos da popula~ao e as mudan9as estruturais que os determinam, incluindo saber se as migra90es intra-concelhias funcionam au nao como agentes de transforma~iio social, traduzida em novas rela90es sociais e de reconfigura~iio da for~a de trabalho disponivel.

No norte do concelho, os diminutos rendimentos gerados pela agricultura, as fra­cas condi~oes de habita~iio ~ de conforto, 0 dificil acesso aos servi~os publicos de saude e educa~iio empurram os residentes para fora dessa zona. Particularrnente os residentes mais jovens que desejam melhorar 0 seu nivel de vida e as suas con­di~oes de conforto e habitabilidade. As freguesias da regiiio Norte aliam ainda a

8 Note-se que 0 Concelho de Vila Verde possni apenas urn hospital privado 0 que impede que algumas pessoas pro­curem 08 seus servi~os. Deste modo, em caso de urgencia os individuos ~m que se deslocar ao Hospital de S. Mar­cos em Braga. Para aMm deste servi~o outros he. que s6 existem em Braga e Barcelos trus como salas de cinema e teatro.loja do cidadiio, universidade. alguma especialidades medicas, certos estabelecimentos comerciais. grandes superficies comerciais. governo civil, maior abrangi!ncia de areas escolares, sao apenas alguns dos exemplos.

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esses factores de repulsao a fraca implementa~ao de bens essenciais como 0 sanea­mento basico, a luz publica e a agua canalizada. Pelo contrario, apesar de esses pro­blemas nao serem exclusivos daquelas freguesias, as freguesias aglutinadoras de migrantes passuem melhores condic;oes nas suas redes de saneamento basiea, agua e distribui9ao de energia electrica.

Para alem dos aspectos ligados as acessibilidades, onde as freguesias mais a norte tambem ficam a perder, os servi90s publicos encontram-se todos na freguesia de Vila Verde ..

Em nossa opiniao, 0 nivel de despovoamento a que chegaram as freguesias do norte do concelho na~ mais deixara de ser urn entrave ao investimento, pelo que a falta de actividade econ6mica e social tera como consequencia urn futuro sem restia de esperantJa em melhores dias, pais, como bern refere Marx, sao as homens que fazem a sua propria hist6ria, mas mlo nas condic;oes por si escolhldas.

o registo que decorre da aparente ambivalencia de alguma das'motiva90es das pessoas para se deslocarem apela para uma metodologia de aproxima9ao aos acto­res sociais concretos como fontes privilegiadas na compreensao e analise deste tipo de fen6menos migrat6rios. Abordagem necessaria para que se possa estabelecer uma liga9ao entre as motiva90es das pessoas com a sua mobilidade no territ6rio, sob pena de permanecemos ignorantes em rela9ao as causas e a rela9ao entre as causas que apromovem.

Na verdade, encontrar respostas cabais para as razoes pelas quais migram as pessoas e algo complicado, sobretudo quando observamos que os indicadores pare­cern apontar para tomadas de decisao onde se cruzam as vontades individuais e os constrangimentos das estruturas sociais a nivellocal. E esta rela9ao parece poder aplicar-se a simples mudan9as de habita9ao dentro do mesmo territOrio como a movi­mentos populacionais com durac;.ao, magnitude e longitude variaveis, envolvendo tanto a mudan9a de residencia de uma zona residencial para outra como a desloca-9ao para locais longfnquos da zona de origem. Obviamente, estamos a sugerir que a analise dos movimentos migrat6rios, a escala local pode exigir estudos parciais e de tipo multidimensional.

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