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  • Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Complexo Streptococcus bovis / Streptococcus

    equinus: Uma Avaliao Fenotpica e Genotpica

    de Carter Taxonmico e Epidemiolgico

    FELIPE PIEDADE GONALVES NEVES

    Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Ges

    Rio de Janeiro

    2008

  • Livros Grtis

    http://www.livrosgratis.com.br

    Milhares de livros grtis para download.

  • ii

    Complexo Streptococcus bovis / Streptococcus

    equinus: Uma Avaliao Fenotpica e Genotpica

    de Carter Taxonmico e Epidemiolgico

    FELIPE PIEDADE GONALVES NEVES

    Rio de Janeiro

    2008

    Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Ps-graduao em Cincias

    Biologicas (Microbiologia), Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Ges

    (IMPPG), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), como parte dos

    requisitos necessarios obteno do ttulo de Doutor em Cincias

    (Microbiologia).

    Orientador: Profa. Dra. Lcia Martins Teixeira

  • iii

    Complexo Streptococcus bovis / Streptococcus

    equinus: Uma Avaliao Fenotpica e Genotpica

    de Carter Taxonmico e Epidemiolgico

    Autor: Felipe Piedade Gonalves Neves

    Orientador: Lcia Martins Teixeira

    Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Ps-graduao em Cincias Biologicas

    (Microbiologia), Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Ges (IMPPG), da Universidade Federal do

    Rio de Janeiro (UFRJ), como parte dos requisitos necessarios obteno do ttulo de Doutor em

    Cincias (Microbiologia).

    Aprovada por:

    _______________________________________

    Presidente, Profa. Lcia Martins Teixeira

    _____________________________________

    Profa. Beatriz Meurer Moreira

    _____________________________________

    Profa. Vnia Lucia Carreira Merquior _____________________________________

    Profa. Maria Cristina Plotkowski

    _____________________________________

    Profa. Regina Maria Cavalcanti Pilotto Domingues (Revisora)

    Rio de Janeiro

    Fevereiro 2008

  • iv

    FICHA CATALOGRFICA

    Neves, Felipe Piedade Gonalves

    Complexo Streptococcus bovis / Streptococcus equinus: Uma Avaliao Fenotpica e

    Genotpica de Carter Taxonmico e Epidemiolgico / Felipe Piedade Gonalves Neves. - Rio

    de Janeiro: UFRJ/ IMPPG, 2008.

    xvi, 158 f.: il.; 31 cm.

    Orientador: Lcia Martins Teixeira

    Tese (doutorado) UFRJ/ Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Ges/ Programa de Ps-

    graduao em Cincias Biologicas (Microbiologia), 2008

    Referncias Bibliogrficas: f. 134 - 158

    1. Complexo Streptococcus bovis / Streptococcus equinus. 2. Caracterizao fenotpica. 3.

    Caracterizao genotpica. 4. Susceptibilidade a antimicrobianos. 5. Taxonomia. 6. Epidemiologia

    molecular. I. Teixeira, Lcia Martins. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de

    Microbiologia Prof. Paulo de Ges, Programa de Ps-graduao em Cincias Biologicas

    (Microbiologia). III. Ttulo

  • v

    O presente trabalho foi realizado no Laboratrio de Apoio Biotecnolgico do

    Departamento de Microbiologia Mdica, Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de

    Ges (IMPPG), Centro de Cincias da Sade (CCS), Universidade Federal do Rio

    de Janeiro (UFRJ), sob a orientao da Profa. Dra. Lcia Martins Teixeira

  • vi

    "Todos me dizem que o meu sucesso certo

    afinal e que s devo preservar. Mas, apesar de

    no saber como isso vai acontecer, fao tudo

    quanto posso para acreditar nisso e no deixarei

    de fazer o que de mim depender."

    Bicketech

  • vii

    Agradecimentos

    Ao final de mais uma importante etapa em minha vida, reservo este espao para

    agradecer a todos que fizeram parte, direta ou indiretamente, dessa longa caminhada e,

    assim, contriburam para a realizao desse trabalho e tambm para a minha realizao

    pessoal e profissional.

    Primeiramente, a Deus, presena constante em minha vida e que, com certeza, me

    ajudou a enfrentar todos os obstculos. S tenho a agradecer por tudo.

    A minha me-guerreira, Celeste, mulher batalhadora e dedicada, que, sozinha,

    enfrentou muitas barreiras e venceu. Conseguiu criar seus filhos com toda a dignidade,

    formando-os para a vida. Voc merece uma esttua. Perdoe-me pelos momentos de

    impacincia.

    Ao meu irmo, Rafael, companheiro e amigo. Dividimos tantas coisas: segredos,

    alegrias... E agora mais uma, sua filhinha Gioavana. Minha afilhada est chegando! Vou

    ser um tio-padrinho coruja.

    A minha namorada, Tatiana, companheira leal, pelo carinho, dedicao e

    incentivo. Obrigado por voc existir e por ser essa pessoa to especial. O futuro nos reseva

    uma surpresa muito boa. Te amo muito, demais, praca e ziriziguizum!

    Aos meus avs maternos, Mrio e Da, que se foram durante meu Mestrado e

    Doutorado. Dei-lhes o orgulho de me ver formado na faculdade e continuarei me

    esforando para que sempre se sintam orgulhosos de mim. Sei que, de onde esto, sempre

    olharo por mim. Saudades!

    A Profa. Lcia Martins Teixeira, exemplo de profissionalismo e competncia, cuja

    experincia e sabedoria me fizeram crescer pessoal e profissionalmente. Tenho certeza de

    que fiz a escolha certa ao optar por seu laboratrio. Obrigado por todos os ensinamentos,

    pela oportunidade e confiana.

    A Profa. Vnia Lcia Carreira Merquior, amiga e orientadora, no s no

    trabalho, mas tambm na vida. Contigo aprendi e continuo aprendendo muito. Ter a

    oportunidade de compartilhar sua companhia como colega de laboratrio, como nos

  • viii

    dois ltimos anos, foi uma experincia nica e com a qual tirei vrias lies. Te admiro

    muito!

    A Giseli da Silva da Costa, por todo o excelente trabalho desenvolvido em conjunto

    e sem a qual essa dissertao jamais teria sido concluda. No sei o porqu, mas essa

    menina morre de medo de mim. Ser que sou muito mau? Enfim, te agradeo por toda a

    colaborao e amizade durante essa longa caminhada, no at Miguel Couto (que tambm

    longe), mas sim o Doutorado. (risos)

    Ao meu grande amigo Rafael Silva Duarte, um ser humano de enorme corao e

    inteligncia. Foi a primeira pessoa que eu conheci quando cheguei no laboratrio em

    2003, quando ainda fazia Mestrado pela UERJ. Ensinou-me muita coisa, desde tcnicas

    laboratoriais a lies de vida. Obrigado por toda a confiana, respeito e carinho em mim

    depositados.

    A minha grande amiga Rachel Leite Ribeiro, que, desde os tempos da Graduao

    em Cincias Biolgicas na UERJ, l em 1999, me acolheu como um irmo caula. Gosto

    muito de ti e toro por voc sempre. Deus, com certeza, te reserva um futuro brilhante, pois

    voc merece. No desista nunca.

    A Camille Moura, menina divertidssima, com um bom humor mpar (s podia ser

    geminiana tambm). Perco a conta de quantos momentos engraados passamos durante

    esse perodo. Momentos que, com certeza, tornaram mais agradvel essa etapa da minha

    vida. Valeu filhote, fica de bigode no, hein! (risos)

    Ao Felipe Cruz, que chegou ao laboratrio no ltimo ano do meu Doutorado, mas

    com quem logo fiz amizade. Obrigado por sempre rir das minhas piadas, que muitos

    consideram sem-graa, mas na verdade s os inteligentes conseguem perceber a

    sagacidade delas.

    A Fabola Kegele, que entrou no laboratrio praticamente junto comigo.

    Competente e dedicada, sempre vai em busca do que quer. Ela s tem um probleminha com

    os seus pneumococos: eles no gostam de amplificar essas tais de pbps. , Cus! ,

    Vida! (risos) Sucesso sempre.

    A Jaqueline Martins e Filomena Rocha, pessoas importantssimas no laboratrio,

    sem as quais o mesmo no anda. Obrigado por toda a ateno e presteza sempre que

    precisei.

  • ix

    Aos antigos e novos integrantes do Laboratrio de Apoio Biotecnolgico (IMPPG),

    Bruna Bellei, Carlos Zarden, Tatiana Abreu, Gabriela Reis, Eduardo Costa, Clarissa

    Christiano, Juliana Caiero, Ccero Dias, Rosana Barros, Silvia Mondino e Suely

    Fracalanzza, pela convivncia sempre agradvel. Boa sorte em tudo o que almejarem.

    Estarei torcendo sempre para todos vocs.

    Aos meus grandes amigos Gustavo Zoletti e Marcos Dornelas, por todos os

    momentos compartilhados durante esses quatro anos. Nos divertimos muito nesse tempo,

    principalmente nos churrascos e seminrios. Quanta enrolao! (risos) Obrigado por toda

    amizade e companheirismo gratuitos.

    s amigas Karla Rodrigues, Luiza Lessa, Natalia Iorio e Roberta Caboclo por

    todos os momentos vividos. Cada uma de vocs foi e continua sendo muito importante em

    uma parte dessa minha trajetria. Obrigado tambm, e muito, pelas cervejas no bloco A s

    sextas-feiras, afinal ningum de ferro, n?

    s amigas e professoras Regina Domingues e Ktia Santos, por todo o carinho,

    apoio e incentivo. Nunca esquecerei a considerao que vocs tm por mim.

    A toda equipe do Streptococcus Laboratoty do CDC (Atlanta, EUA), principalmente

    Arnold Steigerwalt, Bernard Beall, Glria Carvalho, Patricia Shewmaker, Richard

    Facklam e Roger Morey..

    Ao Prof. Jos Mauro Peralta, chefe do Laboratrio de Sorologia, por toda

    considerao e respeito.

    Aos amigos do Laboratrio de Sorologia do IMPPG, Carlos Ausberto, Regina

    Peralta, Margareth, Mauro, Ronald, Nathlia, Adriana, Laura, Diva, Jorge, Maria Jos,

    Helena e Tiana, pela ajuda sempre presente e os inmeros momentos de boas conversas.

    Aos amigos dos diversos laboratrios, bibliotecas e secretarias do IMPPG, por

    todo apoio, alegrias, sorrisos e carinho, principalmente Dalziza, Lo e Ricardo.

    A todos os professores e funcionrios do IMPPG, pela ateno que me foi

    concedida sempre que precisei.

    A todos os professores e funcionrios da Disciplina de Microbiologia e Imunologia

    da FCM/UERJ, por todo o carinho que sempre demonstaram por mim. Serei sempre grato

    a esta instituio, pois foi ali onde tudo comeou.

  • x

    Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), a

    Fundao de Amparo Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), a Finaciadora

    de Estudos e Projetos (FINEP), a Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel

    Superior (CAPES) e ao Ministrio da Cincia e Tecnologia (MCT/Pronex), por todo o

    suporte financeiro para a execuo do projeto.

  • xi

    RReessuummoo

    Complexo Streptococcus bovis / Streptococcus equinus: Uma Avaliao Fenotpica e Genotpica de Carter Taxonmico e Epidemiolgico

    Autor: Felipe Piedade Gonalves Neves Orientador: Lcia Martins Teixeira

    Resumo da Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Cincias Biolgicas (Microbiologia), Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Ges (IMPPG), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Doutor em Cincias (Microbiologia).

    O complexo Streptococcus bovis / Streptococcus equinus, freqentemente referido como estreptococos do grupo D, composto por espcies altamente relacionadas, cuja diferenciao difcil utilizando os mtodos convencionais de identificao. Nos ltimos anos, o interesse por esses microrganismos foi renovado, sobretudo por seu envolvimento em vrias infeces humanas, principalmente endocardite e pelas evidncias de sua associao com bacteremias e a ocorrncia de cncer de clon. Apesar das importantes contribuies de estudos recentes, a posio taxonmica precisa de algumas das espcies continua controversa. Por outro lado, variaes nas metodologias e nos critrios usados por diferentes autores dificultam a comparao dos dados existentes na literatura. Considerando a necessidade do desenvolvimento e/ou aplicao sistemtica de metodologias que permitam a discriminao e identificao precisa das diferentes espcies deste complexo, e dando continuidade a um estudo taxonmico iniciado por nosso grupo, o presente trabalho teve como objetivo caracterizar fenotpica e genotipicamente uma coleo de 213 amostras isoladas de diferentes fontes clnicas, as quais haviam sido presuntivamente identificadas como pertencentes ou relacionadas a este complexo. Uma coleo de 23 amostras de referncia foi tambm includa. Das 213 amostras clnicas, 134 foram confirmadas como membros do complexo, com base nos resultados de testes fisiolgicos e de anlise dos perfis de protenas totais obtidos por eletroforese em gel de poliacrilamida em presena de dodecil sulfato de sdio. Sua identificao ficou assim distribuida: S. gallolyticus subsp. gallolyticus (55 amostras), S. gallolyticus subsp. pasteurianus (52 amostras) e S. infantarius subsp. coli (27 amostras). Tais amostras foram submetidas a testes de susceptibilidade a antimicrobianos, atravs da tcnica de disco-difuso e, quando resistentes, a testes para determinao dos respectivos genes de resistncia, atravs de reaes em cadeia da polimerase. Todas as 134 amostras clnicas foram sensveis a penicilina, a vancomicina e a nveis elevados de gentamicina. As taxas mais elevadas de resistncia foram observadas para canamicina (91,8%), tetraciclina (68,7%) e eritromicina (20,1%). O fentipo HLSR (High-Level Streptomycin Resistance) foi observado em 4,5% (6/134) das amostras. Destas, 3 apresentaram o gene ant(6)-I. Com relao aos fentipos de resistncia a

  • xii

    eritromicina, a nica amostra com resistncia intermediria a este antimicrobiano apresentou o fentipo M e carreava o gene mef(A). Das 28 amostras resistentes a eritromicina, 18 apresentaram o fentipo iMLSB e, dessas, 14 eram portadoras dos genes erm(A) e/ou erm(B). O fentipo cMLSB foi observado em 10 amostras e todas apresentaram o gene erm(B). Dos determinantes de resistncia a tetraciclina pesquisados, o gene tet(M) foi o prevalente, sendo encontrado em 79,4% (73/92) das amostras resistentes a tetraciclina, seja isoladamente ou associado ao gene tet(L) ou ao gene tet(O). A anlise dos perfis de restrio do gene que codifica o rRNA 16S, utilizando as enzimas AflIII e HaeIII separadamente, mostrou-se menos discriminatria quando comparada a anlise dos perfis de protenas, j que, embora tenha permitido diferenciar as espcies S. equinus e S. infantarius, as amostras de S. gallolyticus e S. alactolyticus apresentaram perfis idnticos. A tcnica de PFGE, alm de servir como um instrumento de diferenciao intra-especfica (tipagem), tambm mostrou ser uma alternativa interessante para a diferenciao das espcies e, em alguns casos, das subespcies. Nossos resultados contriburam para a elaborao de um esquema de caracterizao fenotpica bastante til para a identificao das espcies e subespcies deste complexo. Palavras-chave: complexo Streptococcus bovis / Streptococcus equinus, caracterizao fenotpica, caracterizao genotpica, susceptibilidade a antimicrobianos, taxonomia, epidemiologia molecular.

    Rio de Janeiro

    Fevereiro 2008

  • xiii

    AAbbssttrraacctt

    Streptococcus bovis / Streptococcus equinus Complex: A Taxonomic and Epidemiological Approach based on Phenotypic and Genotypic

    Characterizations Author: Felipe Piedade Gonalves Neves Advisor: Lcia Martins Teixeira

    Abstract of the Dissertation presented to the Programa de Ps-graduao

    em Cincias Biolgicas (Microbiologia), Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Ges (IMPPG), Univesidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), as part of the requirements to receive the degree of Doctor in Sciences (Microbiology).

    The Streptococcus bovis / Streptococcus equinus complex, often referred as group D streptococci, is composed by highly related species that are normal inhabitants of human and animals intestinal tract. An increasing interest in the precise identification of these microorganisms was generated by their involvement in serious infections in humans, mainly endocarditis, and the finding of a strong association between bacteremia and the occurrence of colon cancer. In recent years, considerable progress has been achieved in the characterization and delineation of the taxonomic status of this complex of microorganisms. However, the differentiation of some of the species remains problematic because of the overlap of phenotypic and even molecular characteristics, and some controversies have arisen by the use of different methodologies and by the proposal of new species and/or subspecies. Considering the need of the development and/or plenty application of methods to assist in their accurate identification and differentiation, and continuing a taxonomic study initiated by our group, an array of phenotypic and genotypic techniques was performed to characterize 23 reference strains as well as a collection of 213 clinical isolates, mostly recovered from blood, obtained between 1970 and 2006, which had been presumptively identified as belonging or related to this complex. Based on whole-cell protein profiles analysis, in conjunction with the physiological characterization, 134 of the 213 clinical isolates were confirmed as members of this complex: S. gallolyticus subsp. gallolyticus (n=55), S. gallolyticus subsp. pasteurianus (n=52) and S. infantarius subsp. coli (n=27). The highest resistance rates among all clinical isolates tested were found to kanamycin (91.8%), tetracycline (68.7%) and erythromycin (20.1%). The only isolate that showed intermediate resistance to erythromycin carried the mef(A) gene and displayed the M phenotype. Of the 28 erythromycin resistant isolates, 18 presented the iMLSB phenotype and 14 of them carried the erm(A) and/or erm(B) genes. The cMLSB phenotype was detected in ten isolates and all of them had the erm(B) gene. Among the 92 tetracycline resistant isolates, the tet(M) gene was the prevalent (79.4%), found exclusively or associated with the tet(L) or tet(O) genes. Six isolates exhibited high-level resistance to streptomycin and three of them carried the ant(6)-I gene. 16S rRNA gene restriction analysis, using AflIII and

  • xiv

    HaeIII enzymes separately, showed to be less discriminatory than WCPP analysis. By using this technique, S. equinus and S. infantarius species could be differentiated from S. gallolyticus and S. alactolyticus after digestion with HaeIII. AflIII restriction allowed further differentiation between S. infantarius and S. equinus strains and even the delineation of S. infantarius subspecies. However, patterns obtained for S. gallolyticus and S. alactolyticus isolates were identical. PFGE analysis was shown to be an interesting alternative for the discrimination of these species and, in some cases, subspecies. Our results contributed for the elaboration of a phenotypic characterization scheme that may be useful for the identification of the members of this complex. Key words: Streptococcus bovis / Streptococcus equinus complex, phenotypic characterization, genotypic characterization, taxonomy, antimicrobial susceptibility, molecular epidemiology.

    Rio de Janeiro

    February 2008

  • xv

    SSuummrriioo

    Pgina

    RESUMO xi

    ABSTRACT xiii

    INTRODUO 1

    OBJETIVOS 38

    MATERIAIS E MTODOS

    1. Amostras Bacterianas

    2. Caracterizao Fisiolgica das Amostras Bacterianas

    2.1. Colorao pelo Mtodo de Gram

    2.2. Produo da Enzima Catalase

    2.3. Observao do Tipo de Hemlise

    2.4. Hidrlise da Esculina em Presena de Bile (BE)

    2.5. Crescimento na Presena de 6,5% de Cloreto de Sdio (NaCl)

    2.6. Hidrlise de L-leucina--naftilamida (LAP) e de L-pirrolidonil--naftilamida (PYR)

    2.7. Hidrlise do Amido

    2.8. Produo de cidos a partir de Glicognio, Inulina, Lactose, Manitol, Melibiose,

    Metil--D-glicopiranosdeo, Metil--D-glicopiranosdeo, Rafinose e Trealose

    3. Caracterizao Fisiolgica Atravs do Sistema Comercial Miniaturizado API 20 Strep

    4. Testes de Susceptibilidade aos Antimicrobianos

    4.1. Tcnica de Disco-Dufuso

    4.2. Determinao de Fentipos de Resistncia a Eritromicina

    5. Anlise dos Perfis de Protenas Totais

    5.1. Preparao de Extratos contendo Protenas Celulares Totais

    5.2. SDS-PAGE

    6. Anlise atravs de Seqenciamento do Gene que Codifica o rRNA 16S (Gene rrs)

    7. Anlise dos Perfis de Fragmentao dos Produtos de Amplificao do Gene rrs

    7.1. Extrao do DNA

    7.2. Amplificao do Gene rrs

    7.3. Digesto dos Produtos de Amplificao com Endonucleases de Restrio

    7.4. Eletroforese e Anlise dos Produtos Amplificados

    8. Deteco atravs de Tcnicas de PCR de Genes Envolvidos na Expresso de

    Resistncia a Eritromicina, Tetraciclina e Nveis Elevados de Estreptomicina

    8.1. Deteco de Genes de Resistncia a Eritromicina

    8.1.1. Extrao do DNA

    40

    40

    41

    41

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    52

    53

    54

    54

    54

  • xvi

    8.1.2. PCR

    8.2. Deteco de Genes de Resistncia a Tetraciclina

    8.2.1. Extrao do DNA

    8.2.2. PCR Multiplex

    8.3. Deteco do Gene Envolvido na Expresso de Resistncia a Nveis Elevados de

    Estreptomicina

    8.4. Eletroforese e Anlise dos Produtos Amplificados

    9. Anlise dos Perfis de Fragmentao do DNA Cromossmico por PFGE

    54

    55

    55

    55

    56

    57

    57

    RESULTADOS 60

    DISCUSSO 103

    CONCLUSES 132

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 134

  • 1

    IInnttrroodduuoo

    Os microrganismos do gnero Streptococcus so cocos Gram-positivos

    arranjados em cadeias ou aos pares. Uma caracterstica peculiar deste grupo

    no produzir a enzima catalase. Os membros deste gnero so exigentes em

    termos nutricionais, necessitando de meios complexos, contendo soro ou sangue,

    para o seu crescimento. Embora os Streptococcus cresam na presena de

    oxignio, eles so incapazes de sintetizar o composto heme e, por isso, no

    possuem metabolismo respiratrio, sendo anaerbios facultativos, ainda que a

    necessidade de CO2 durante o perodo de crescimento seja varivel entre as

    diferentes espcies. Glicose e outros carboidratos so metabolizados por

    fermentao, sendo o cido ltico o principal produto final deste metabolismo

    (RUOFF, WHILEY & BEIGHTON, 1999).

    A composio da parede celular dos estreptococos similar de outras

    bactrias Gram-positivas, sendo formada primariamente de peptideoglicano, no

    qual esto inseridos diversos carboidratos, cido teicico, lipoprotenas e

    protenas antignicas de superfcie (KILIAN et al., 2005).

    A identificao deste gnero relativamente complexa, levando a utilizao

    de diversos esquemas fenotpicos, dentre os quais se destacam: padres

    hemolticos em meios de gar-sangue de carneiro (permitindo a classificao em

  • 2

    , ou no-hemolticos), caractersticas de patogenicidade, grupagem sorolgica

    baseada nas diferenas antignicas do carboidrato C (classificao de Lancefield,

    1933) e caractersticas bioqumicas (LARSEN,1995).

    Atualmente, embora esses esquemas ainda sejam de grande utilidade, a

    introduo e ampla aplicao de mtodos moleculares tm trazido importantes

    contribuies para a identificao e caracterizao precisa desses

    microrganismos. Entre os membros do gnero Streptococcus cuja taxonomia e

    mtodos de caracterizao tiveram avanos significativos, oriundos da aplicao

    de mtodos moleculares, esto aqueles anteriormente denominados de

    estreptococos do grupo D.

    Os estreptococos possuidores do antgeno do grupo D eram, antigamente,

    divididos em duas categorias: os enterococos e os no-enterococos. A partir de

    meados da dcada de 1980, a taxonomia desse gnero sofreu modificaes

    significativas (KILIAN et al., 2005). Com a alocao dos enterococos em um novo

    gnero (Enterococcus), os estreptococos do grupo D ficaram representados, em

    termos de importncia mdica, pela espcie Streptococcus bovis. Uma vez que

    esses microrganismos tambm so positivos para o teste da hidrlise da esculina

    em presena de 40% de bile, a sua diferenciao daqueles pertencentes ao

    gnero Enterococcus se baseia em provas bioqumicas, tais como o crescimento

    na presena de 6,5% de cloreto de sdio (NaCl) e a hidrlise do L-pirrolidonil--

    naftilamida (teste do PYR), para os quais so negativos. Outra caracterstica

    diferencial a sua maior susceptibilidade aos antimicrobianos, pois, em geral, os

  • 3

    enterococos so mais resistentes penicilina, a cefalosporinas e aos

    aminoglicosdeos. semelhana dos enterococos, esses microrganismos so

    encontrados normalmente no trato gastrintestinal em 5-16% da populao normal,

    sendo este a sua principal porta de entrada para bacteremias e endocardites,

    embora tambm haja suspeitas da participao do trato urinrio, da rvore

    hepatobiliar ou da orofaringe atuando como origem para estas infeces

    (SIEGMAN-IGRA & SCHWARTZ, 2003; SINAVE, 2007).

    Uma particularidade interessante dos S. bovis sua tendncia de se

    encontrar associado ao cncer de clon, embora no haja evidncia de qualquer

    relao etiopatognica. Devido a esta associao, recomendvel pesquisar-se

    este tipo de cncer em pacientes com bacteremia causada por esses

    microrganismos (SINAVE, 2007). Acredita-se que essa associao seja resultado

    de dois fatores: (i) mudanas na microbiota do clon em pacientes com carcinoma

    de clon, uma vez que Klein et al. (1977) observaram um aumento na taxa de

    colonizao por S. bovis (56%) nesses pacientes; e (ii) o fato de que esta bactria

    possa ter uma propenso especfica tanto para invadir a mucosa intestinal quanto

    para desenvolver bacteremia e endocardite. Contudo, os fatores que promovem o

    aumento da colonizao, o acesso circulao sistmica e o alojamento em

    vlvulas cardacas ainda permanecem por ser elucidados.

    Em termos de patognese, como os S. bovis fazem parte da microbiota

    intestinal, no por acaso que uma proporo razovel de pacientes com

    bacteremias por esses microrganismos apresenta concomitantemente leses no

  • 4

    trato gastrintestinal (ALAZMI et al., 2006). Baseado nesse conceito, Klein et al.

    (1977) descreveram os primeiros casos de endocardite por S. bovis associados

    com carcinoma de clon. Desde ento, vrios relatos vm sendo descritos,

    corroborando essa associao (STEINBERG & NAGGAR, 1977; CROWLEY,

    AHOLA & BEHAR, 1978; LEVY, VON REYN & ARBEIT, 1978; SALTZMAN,

    BRAND & MCKINLEY, 1981; ZARKIN et al., 1990; BALLET et al., 1995; GOLD,

    BAVAR & SALEM, 2004).

    No est claro se o S. bovis tem um papel etiolgico no carcinoma de clon

    ou se meramente um marcador para a doena. Alguns pesquisadores sugerem

    que o aumento da colonizao por essa bactria no trato gastrintestinal pode ser

    responsvel por essas leses. Antgenos extrados da parede celular dessa

    bactria foram capazes de estimular a produo de citocinas inflamatrias e

    promover leses pr-malignas em modelos animais (ELLMERICH et al., 2000;

    BIARC et al., 2004). Os S. bovis so capazes de causar inflamao crnica no

    clon e, de um modo geral, doenas inflamatrias crnicas esto associadas a

    leses malignas, como esofagite de Barrett, gastrite crnica secundria a infeco

    por Helicobacter pilori levando ao carcinoma gstrico, doena inflamatria do

    intestino no carcinoma de clon e hepatite B ou C crnica causando hepatoma

    (KOK et al., 2007).

    Em 1993, Darjee & Gibb documentaram que no havia distino entre

    pacientes com cncer de clon e indivduos saudveis utilizando a tcnica de

    immunoblotting para a deteco do ttulo de anticorpos contra S. bovis.

  • 5

    Por outro lado, outros estudos demonstraram resultados contraditrios.

    Atravs de ensaios de espectrometria de massa por imunocaptura, utilizando

    anticorpos do soro de pacientes com cncer de clon, Tjalsma et al. (2006)

    analisaram 20 indivduos e conseguiram detectar antgenos de S. bovis em 11 de

    12 pacientes com cncer de clon, sendo que nos oito pacientes-controle no

    foram detectados antgenos de S. bovis. Alm disso, antgenos de Escherichia

    coli, oriundas do trato gastrintestinal, no reagiram com os soros obtidos dos

    pacientes com cncer de clon. Em adio, antgenos de S. bovis tambm foram

    detectados em pacientes com plipos, indicando que a infeco por essa bactria

    ocorre precocemente durante a carcinognese. Um desses antgenos detectados

    foi identificado como uma protena de superfcie de ligao a heparina, que pode

    estar envolvida na ligao s clulas tumorais. Segundo esses pesquisadores,

    esses achados, em conjunto, reforam a hiptese de que leses no clon

    fornecem um nicho especfico para S. bovis, resultando em infeces silenciosas

    associadas ao tumor. Estas infeces, contudo, s se tornam aparentes em

    pacientes com um sistema imune comprometido, levando bacteremia, ou com

    leses nas vlvulas cardacas, causando endocardite (TJALSMA et al.,2006).

    Na medida em que houve uma maior interesse acerca dos S. bovis,

    principalmente devido a sua forte associao com bacteremia e a ocorrncia de

    cncer de clon, e com o advento de tcnicas moleculares a partir de meados da

    dcada de 1980, novas metodologias foram introduzidas para o estudo desses

    microrganismos, constatando-se a complexidade dessa espcie e a necessidade

    de esclarecimento de questes taxonmicas, o que tem gerado a descrio de

  • 6

    vrias espcies novas que comporiam um complexo de espcies bastante

    relacionadas, que tem sido freqentemente referido como grupo ou complexo

    Streptococcus bovis / Streptococcus equinus.

    Este grupo de estreptococos apresenta as seguintes caractersticas em

    comum: cocos Gram-positivos, que se apresentam como clulas esfricas ou

    ovides arranjadas aos pares ou em cadeias curtas, catalase-negativos, imveis,

    no-esporulados, no-pigmentados, anaerbios facultativos; so alfa ou no-

    hemolticos e no crescem em caldo contendo 6,5% de NaCl; no hidrolisam a

    arginina e o hipurato de sdio; no produzem fosfatase alcalina e PYRase;

    produzem LAPase e acetona; apresentam colnias circulares, lisas e inteiras

    quando crescidos em meio gar-sangue ou gar nutriente; crescem em caldo

    Man, Rogosa, Sharpe (M.R.S.) sem produo de gs; crescem a 45C mas no a

    50C; e a maioria hidrolisa a esculina e cresce na presena de 40% de bile

    (SINAVE, 2007).

    A seguir so apresentados alguns aspectos de espcies descritas, at o

    momento, como pertencentes ou relacionadas ao complexo S. bovis / S.

    equinus:

    Streptococcus equinus______________________________________________

    Streptococcus equinus (equinus, latim, eqinos = cavalo). Esta espcie foi

    descrita em 1906 por Andrewes & Horder (apud HODGE & SHERMAN, 1937)

  • 7

    como sendo um microrganismo que no possua propriedades patognicas, no-

    hemoltico, que apresentava a forma de cocos Gram-positivos arranjados em

    cadeias curtas, isolado originalmente de intestino e estrume de cavalos.

    Caractersticas adicionais compreendem a fermentao da sacarose, salicilina e

    coniferina e a no fermentao de lactose, manitol e, geralmente, de rafinose e

    inulina, embora algumas amostras variantes utilizem esses acares. Estes

    microrganismos apresentam ainda uma temperatura mnima de crescimento

    relativamente alta (25C), sendo evidenciado pouco ou nenhum crescimento em

    culturas a 20C.

    Hodge & Sherman (1937) demonstraram que o S. equinus no hidrolisava o

    amido, sendo este teste considerado importante, visto que em muitos aspectos o

    S. equinus parecia ser relacionado a espcie S. bovis, que hidrolisava amido

    ativamente. Em 1962, Dunican & Seeley determinaram que o S. equinus era

    capaz de hidrolisar o meio de amido se este possusse um carboidrato facilmente

    fermentvel como a glicose, por exemplo, e que no estivesse em uma atmosfera

    com 5% de CO2 e 95% de N2.

    Streptococcus bovis________________________________________________

    Streptococcus bovis (bovis, latim, bovinos). Esta espcie foi descrita por

    Orla-Jensen em 1919, que a isolou de fezes bovinas. Amostras de S. bovis so

    caracterizadas pelo crescimento em temperaturas que variam de 22C a 45C,

    pela capacidade de formao de cpsulas e hidrlise do amido. A fermentao de

  • 8

    inulina e rafinose varivel, enquanto manitol ou outros lcoois no so

    fermentados. Estes microrganismos tambm so capazes de fermentar a

    arabinose (apud KIEL & SKADHAUGE, 1973).

    Nesse mesmo ano (1919), Orla-Jensen isolou outro grupo de

    estreptococos, semelhante ao S. bovis, encontrados no leite e em fezes bovinas,

    sendo proposto o nome Streptococcus inulinaceus, pela capacidade de fermentar

    a inulina mais intensamente que o S. bovis, mas no hidrolisar o amido com a

    mesma intensidade. Tais amostras diferiam do S. bovis por no formar cpsulas e

    por ter uma variao de temperatura de crescimento menor. Alm disso, a

    fermentao do manitol foi uma caracterstica encontrada no S. inulinaceus,

    enquanto que a arabinose no era fermentada (apud KIEL & SKADHAUGE, 1973).

    Sherman (1937), aparentemente negligenciando a importncia dada por

    Orla-Jensen para a capacidade de S. bovis formar cpsulas e incapacidade de

    fermentar o manitol, concluiu que essas diferenas no justificavam a

    considerao de S. inulinaceus como uma espcie distinta, propondo que deveria

    ser considerado como uma variante do S. bovis. Num artigo seguinte, Sherman

    (1938) relatou que uma proporo substancial de amostras de S. bovis fermentava

    manitol. Este ponto de vista tem sido geralmente aceito a partir de ento (apud

    KIEL & SKADHAUGE, 1973).

    Em 1937, Sherman publicou o seu esquema de classificao que separava

    o gnero Streptococcus em quatro grupos (piognicos, lticos, enterococos e

  • 9

    viridans). A diviso dos enterococos de Sherman exclua o S. bovis e o S.

    equinus, pois estes microrganismos no cresciam a 10C e nem em meio

    contendo 6,5% de cloreto de sdio, sendo por estes motivos agrupados na diviso

    viridans.

    Em 1964, Deibel descreveu em seu trabalho de reviso sobre os

    estreptococos do grupo D que, sorologicamente, os estreptococos pertencentes a

    diviso dos enterococos de Sherman possuam o antgeno do grupo D de

    Lancefield. Os estreptococos do grupo D foram reconhecidos, desde ento, como

    S. bovis, S. equinus e a diviso denominada, por Sherman, de enterococos, que

    consistia de S. faecalis, S. faecium e sua variante durans.

    Facklam (1972) descreveu que os microrganismos S. bovis, S. bovis

    variante e S. equinus eram reconhecidos por no crescerem em caldo

    Streptococcus faecalis (SF), nem temperatura de 10C e nem em caldo

    contendo NaCl a 6,5%. A hidrlise do amido e a formao de polissacardeos

    mucides em gar ou caldo contendo 5% de sacarose eram as caractersticas

    singulares de S. bovis entre as amostras do grupo D. Facklam verificou que as

    amostras de S. bovis variante no hidrolisavam o amido, nem formavam muco em

    gar ou caldo contendo 5% de sacarose ou produziam cidos a partir do manitol.

    Tais amostras cresciam em leite litmus ou formavam cidos a partir da lactose,

    diferindo, portanto, de S. equinus. Facklam hesitou em designar o biotipo S. bovis

    variante do grupo D como uma nova espcie devido ao nmero limitado de

    amostras reportadas e limitao do espectro de testes. Ficou desde ento

  • 10

    definido que amostras tpicas de S. bovis, encontradas em seres humanos, seriam

    pertencentes ao biotipo I, enquanto que as amostras de S. bovis variante

    comporiam o biotipo II (FACKLAM, 1972).

    Portanto, levando-se em considerao inicial a fermentao do manitol, foi

    desenvolvida a caracterizao fenotpica de amostras de S. bovis em dois

    biotipos: o biotipo I, que compreende amostras manitol positivas e o biotipo II,

    compreendendo amostras manitol negativas. O biotipo II pode ainda ser dividido

    em dois subtipos, baseado em caractersticas fenotpicas determinadas pelo

    sistema Rapid Strep. O biotipo II.1 composto por amostras que fermentam

    amido, melibiose e glicognio, mas no trealose, e que no produzem -

    glicuronidase e -galactosidase (GARVIE & BRAMLEY, 1978; COYKENDALL &

    GUSTAFSON, 1985). As amostras do biotipo II.2 fermentam trealose, mas no

    amido e glicognio e produzem -glicuronidase e -galactosidase (COYKENDALL

    & GUSTAFSON, 1985; KNIGHT & SHLAES, 1985). Esta terminologia foi, at

    algum tempo atrs, comumente usada para a identificao de amostras de origem

    clnica (RUOFF et al., 1989).

    Com base em resultados de estudos de hibridizao DNA-DNA, Farrow et

    al. (1984) propuseram uma classificao em seis grupos genmicos, a maioria dos

    quais englobaria amostras do complexo S. bovis / S. equinus e outras espcies

    relacionadas. Esses autores concluram que o S. equinus e o S. bovis so

    sinnimos por apresentarem grau de homologia de DNA-DNA acima de 70% e os

    enquadraram no grupo de homologia 1. O epteto S. equinus deveria ter prioridade

  • 11

    de uso sobre a denominao S. bovis, mas raramente usado em bacteriologia

    clnica humana. Utilizando esta mesma metodologia, outros autores demonstraram

    no haver similaridade suficiente entre amostras de S. bovis dos biotipos I e II

    isoladas de humanos e as amostras-tipo de S. bovis e S. equinus para consider-

    las variantes de uma mesma espcie. Foi observado tambm que amostras de S.

    bovis biotipo II.2 de origem humana eram muito relacionadas geneticamente s

    amostras de S. bovis biotipo I (COYKENDALL & GUSTAFSON, 1985; KNIGHT &

    SHLAES, 1985).

    A partir de 1984, ano marcado pela publicao da proposta de criao do

    gnero Enterococcus (SCHLEIFER & KILPPER-BLZ, 1984), separando esses

    microrganismos dos demais estreptococos do grupo D, e do trabalho acima

    referido de Farrow et al. (1984), apresentando resultados de estudos moleculares

    sobre esses microrganismos, diversos outros estudos foram sendo publicados,

    sobretudo a partir de meados da dcada de 1990, contribuindo para a aquisio

    de um conhecimento mais amplo e o aumento do nmero de espcies

    consideradas como pertencentes a essa categoria de estreptococos, como

    apresentado a seguir:

    Streptococcus alactolyticus__________________________________________

    Streptococcus alactolyticus (a.lac.to.ly.ti.cus., prefixo grego a = no; nome

    latino lac, lactis = leite; adjetivo grego lyticus = que digere; alactolyticus, que no

    digere leite). Espcie descrita por Farrow et al. (1984), pertencente ao grupo de

  • 12

    homologia 6, para englobar amostras lactose negativas isoladas de porcos e

    galinhas, que eram previamente chamadas de S. equinus. Entretanto, Bentley,

    Leigh & Collins (1991) relataram que a espcie S. alactolyticus, aparentemente

    associada exclusivamente a animais claramente um txon distinto, embora sua

    afinidade filogentica com o complexo S. bovis / S. equinus seja evidente.

    Streptococcus intestinalis___________________________________________

    Streptococcus intestinalis (in.test.in.alis., adjetivo masculino latino

    intestinalis, pertencendo ao intestino), Em 1988, Robinson et al. propuseram o

    nome de S. intestinalis para um grupo de estreptococos beta-hemolticos e

    ureolticos que eram membros predominantes da microbiota intestinal de porcos.

    Em 1999, Vandamme et al. verificaram que o motivo para a espcie S. intestinalis,

    descrita por Robinson et al. em 1988, ser beta-hemoltico estaria no fato de os

    pesquisadores terem usado o meio Brain-Heart Infusion Agar (BHI-A) acrescido de

    5% de sangue, um meio que no normalmente usado para caracterizao de

    hemlise, e demonstraram que as amostras de S. intestinalis eram alfa-

    hemolticas em gar Columbia suplementado com sangue. Baseados, ainda, em

    ensaios de hibridizao DNA-DNA e em perfis de protenas totais, estes autores

    sugeriram que Streptococcus intestinalis (ROBINSON et al., 1988) fosse um

    sinnimo jnior de Streptococcus alactolyticus (FARROW et al., 1984), o que

    posteriormente foi confirmado por Schlegel et al. (2003).

  • 13

    Streptococcus caprinus_____________________________________________

    Streptococcus caprinus (caprinus, latim, da cabra). A espcie S. caprinus foi

    descrita por Brooker et al. em 1994 englobando estreptococos encontrados no

    intestino de cabras selvagens. capaz de crescer em meio complexo contendo

    cido tnico, formando halos de clareamento, e tambm de crescer em meio

    complexo com menos de 2,5% (p/v) de taninos condensados, derivados de Acacia

    aneura. Entretanto, Sly et al. (1997) observaram que a espcie S. caprinus

    tratava-se de um sinnimo da espcie Streptococcus gallolyticus (OSAWA,

    FUJISAWA & SLY, 1995), mas o epteto especfico gallolyticus tem a prioridade

    nomenclatural.

    Streptococcus gallolyticus___________________________________________

    Streptococcus gallolyticus (gallolyticus, adjetivo masculino latino, que digere

    galato). Osawa et al. (1995) demonstraram que amostras isoladas de coalas,

    ces, vacas e outros animais pertenciam ao grupo de homologia 2 de Farrow et al.

    (1984) e propuseram o nome de Streptococcus gallolyticus, baseado na

    capacidade destas amostras degradarem o galato. Os autores observaram que

    essas amostras degradavam os taninos com liberao de cido glico e, em

    seguida, havia descarboxilao do cido glico em pirogallol. Algumas amostras

    requerem crescimento em atmosfera enriquecida com CO2. Estes microrganismos

    crescem a 10C e 45C, mas sua temperatura tima de crescimento de 37C.

  • 14

    Estes autores tambm incluram em seus estudos amostras de infeco

    humana de S. bovis pertencentes aos biotipos I e II e, baseados em estudos de

    reassociao de DNA, relacionaram as amostras dos biotipos I e II.2 a espcie S.

    gallolyticus. Estudos posteriores confirmaram, atravs da anlise do perfil de

    protenas totais e da utilizao de sondas especficas para o rRNA 16S, que

    nenhuma amostra de origem humana denominada S. bovis pelos critrios at

    ento utilizados estava relacionada ao grupo de homologia 1 descrito por Farrow

    et al. (1984), o qual compreendia as amostras de referncia de S. bovis e S.

    equinus, e foi sugerido que todas as amostras humanas de S. bovis I e II.2 fossem

    identificadas oficialmente como S. gallolyticus (NELMS et al., 1995; DEVRIESE et

    al., 1998). Por sua vez, Clarridge et al. (2001) demonstraram, atravs de testes

    fenotpicos e do sequenciamento do gene que codifica o rRNA 16S, que as

    amostras de S. bovis do biotipo II.2 constituam uma genoespcie distinta de S.

    bovis, S. gallolyticus e S. infantarius.

    Streptococcus infantarius____________________________________________

    Streptococcus infantarius (in.fan.tari.us., adjetivo latino infantarius

    relacionado aos infantes). Em 1997, Bouvet et al. propuseram a nomenclatura de

    Streptococcus infantarius para algumas amostras do grupo de homologia 4

    proposto por Farrow et al. (1984). Em 2000, Schlegel et al. validaram a

    nomenclatura e propuseram a diviso em duas subespcies: S. infantarius subsp.

    infantarius para amostras -glicosidase negativas e esculina variveis e S.

    infantarius subsp. coli para amostras -glicosidase e esculina positivas. As

  • 15

    amostras descritas por Coykendall & Gustafson (1985) e Knight & Shlaes (1985)

    como S. bovis II.1 foram relacionadas a espcie S. infantarius e encontravam-se

    distribudas em ambas as subespcies.

    Streptococcus macedonicus_________________________________________

    Streptococcus macedonicus (ma.ce.do.ni.cus., adjetivo masculino latino;

    macednicos, da Macednia, Norte da Grcia, de onde a bactria foi

    primeiramente isolada). Espcie descrita por Tsakalidou et al. (1998), isolada do

    queijo grego Kasseri (feito com leite de ovelha e/ou cabra). No hidrolisa a

    esculina.

    Streptococcus waius________________________________________________

    Streptococcus waius (waius, substantivo neo-zelands maori waiu = leite).

    Espcie descrita por Flint, Ward & Brooks (1999), compreendendo amostras de

    estreptococos isoladas do leite e laticnios e que toleram a pasteurizao (72C/

    15 s), crescem em temperaturas acima de 52C, em caldo contendo NaCl a 7% e

    em uma faixa de pH variando de 4,0 a 10,0. Baseados em anlises da seqncia

    do espaador intergnico 16S-23S, anlises de fingerprinting de DNA obtidos

    atravs do polimorfismo gentico gerado a partir da amplificao randmica de

    segmentos de DNA (Randomly Amplified Polymorphic DNA - Polymerase Chain

    Reaction, RAPD-PCR) e da tcnica de eletroforese em campo pulsado (Pulsed

    Field Gel Electrophoresis, PFGE), experimentos de hibridizao DNA-DNA e em

  • 16

    testes fenotpicos, Manachini et al. (2002) consideraram as espcies S.

    macedonicus e S. waius sinnimos, sendo que S. macedonicus tem prioridade

    nomenclatural.

    Streptococcus pasteurianus__________________________________________

    Streptococcus pasteurianus (pas.teu.ri.an.us., do Instituto Pasteur, onde a

    espcie foi caracterizada). Espcie descrita por Poyart, Quesne & Trieu-Cuot

    (2002) que compreende amostras anteriormente caracterizadas como S. bovis

    biotipo II.2.

    Streptococcus lutetiensis____________________________________________

    Streptococcus lutetiensis (lu.teti.en.sis., de Lutcia, Paris, onde a espcie

    foi caracterizada). As amostras de Streptococcus lutetiensis, espcie descrita por

    Poyart, Quesne & Trieu-Cuot (2002), eram previamente designadas como S.

    infantarius subsp. coli.

    Apesar de estudos recentes terem trazido importantes contribuies, ainda

    h controvrsias com relao taxonomia de algumas espcies desse grupo de

    microrganismos. Portanto, diferentes propostas de classificao taxonmica tm

    sido descritas desde ento.

  • 17

    Poyart, Quesne & Trieu-Cuot (2002), com base no seqenciamento do gene

    sodA, que codifica a enzima superxido dismutase dependente de mangans (Mn-

    SOD), definiram cinco diferentes clusters dentre as espcies que compem o

    complexo S. bovis / S. equinus:

    As amostras-tipo de S. equinus e S.bovis compreenderiam um cluster, e, por

    questo de prioridade nomenclatural, prevaleceria a designao S. equinus;

    As amostras-tipo de S. gallolyticus, S. caprinus, S. macedonicus e S. waius

    foram alocadas em um cluster, correspondendo a uma nica espcie,

    denominada S. gallolyticus;

    As duas subespcies que constituam a espcie S. infantarius foram

    separadas em dois clusters distintos, sendo que um desses clusters

    compreendeu a espcie S. infantarius e incluiu a amostra-tipo de S.

    infantarius subsp. infantarius. O outro cluster foi representado por S.

    infantarius subsp. coli, levando a proposio de sua reclassificao como

    uma nova espcie, denominada S. lutetiensis;

    O cluster restante compreendeu todas as amostras previamente identificadas

    como S. bovis biotipo II.2, cuja nomenclatura proposta foi S. pasteurianus.

    Em seguida, Schlegel et al. (2003; 2004) publicaram novos estudos sobre a

    sistemtica das espcies deste complexo e, com base em resultados fenotpicos,

    anlises genticas e filogenticas (hibridizao DNA-DNA e seqenciamento do

    gene que codifica o rRNA 16S) propuseram que as espcies S. gallolyticus (S.

    bovis biotipo I e S. caprinus), S. bovis biotipo II.2 (S. pasteurianus), S.

  • 18

    macedonicus e S. waius constituam um mesmo DNA cluster dividido em trs

    diferentes subgrupos. De acordo com os critrios atuais para definio de

    espcies, foram propostas as denominaes S. gallolyticus subsp. gallolyticus

    subsp. nov., S. gallolyticus subsp. pasteurianus subsp. nov. e S. gallolyticus

    subsp. macedonicus subsp. nov.. Esses autores tambm confirmaram que S.

    alactolyticus, S. equinus, S. gallolyticus e S. macedonicus so, respectivamente,

    sinnimos anteriores de S. intestinalis, S. bovis, S. caprinus e S. waius e dividiram

    as espcies deste complexo em quatro genomoespcies distintas. So elas:

    Genomoespcie 1 corresponde espcie S. equinus, agrupando as

    amostras-tipo de S. equinus e S. bovis;

    Genomoespcie 2 inclui as espcies previamente identificadas como S.

    gallolyticus, S. macedonicus e S. pasteurianus, as quais foram subdivididas

    em trs subespcies: S. gallolyticus subsp. gallolyticus, S. gallolyticus subsp.

    macedonicus e S. gallolyticus subsp. pasteurianus;

    Genomoespcie 3 rene a espcie S. infantarius, que foi novamente

    dividida em duas subespcies: S. infantarius subsp. infantarius e S.

    infantarius subsp. coli, as quais haviam sido reclassificadas,

    respectivamente, como S. infantarius e S. lutetiensis por Poyart, Quesne &

    Trieu-Cuot (2002);

    Genomoespcie 4 representada pela espcie S. alactolyticus.

    Devido variao das metodologias, critrios e denominaes empregadas

    pelos diversos autores, torna-se difcil a comparao e avaliao de vrias

  • 19

    informaes j existentes na literatura sobre os membros desse complexo de

    microrganismos. Algumas espcies ou variantes de estreptococos do complexo

    S. bovis / S. equinus no so conhecidas como agentes etiolgicos de infeces

    em seres humanos, embora estabeleam infeces em animais. Outras raramente

    so isoladas de processos patolgicos em hospedeiros humanos. Na rea de

    microbiologia mdica, os estreptococos do grupo D que apresentam importncia

    clnica so ainda freqentemente referidos como S. bovis e seus biotipos, uma vez

    que ainda faltam estudos empregando as denominaes mais recentemente

    propostas.

    Embora ocasionalmente os estreptococos do grupo D estejam associados

    com infeces do trato urinrio, peritonite espontnea, meningite e sepse

    neonatais e raramente com artrite sptica, endoftalmite, osteomielite vertebral e

    peritonite associada dilise peritoneal ambulatorial contnua, a bacteremia e a

    endocardite so os quadros clnicos mais comuns causados por estes

    microrganismos (CALDERN, PEIR & PEALVER, 1992; HECHMANN-

    WITTRUP et al., 1999; VILAICHONE et al., 2002; GAVIN et al., 2003; BLEIBEL et

    al., 2007; SINAVE, 2007).

    No entanto, esses microrganismos no so freqentemente isolados a partir

    de bacteremias nos EUA e o SENTRY Antimicrobial Surveillance Program no

    lista os estreptococos do grupo D entre os 20 microrganismos mais freqentes

    responsveis por infeces da corrente sangnea naquele pas. Eles foram

    identificados apenas em 0,8% das bacteremias causadas por estreptococos,

  • 20

    sendo que S. pneumoniae foi a espcie mais freqente deste gnero causadora

    deste tipo de infeco. De acordo com o SCOPE Program de 30 hospitais norte-

    americanos, os estreptococos em geral correspondem a 6% de todas as amostras

    isoladas de hemoculturas e, dessas, os S. bovis representam 2,4% (SINAVE,

    2007).

    Internacionalmente, os dados do SENTRY indicam que os estreptococos do

    grupo D foram identificados em 1,3% e 6,9% das bacteremias estreptoccicas no

    Canad e na Amrica Latina, respectivamente (SINAVE, 2007).

    Por outro lado, nos EUA, os microrganismos mais comumente encontrados

    como agentes etiolgicos de endocardite infecciosa subaguda em vlvulas nativas

    de pacientes que no haviam sido submetidos a tratamento com drogas

    intravenosas foram os estreptococos da categoria dos viridans e os S. bovis

    (SINAVE, 2007). Na Alemanha, Kupferwasser et al. (1998), analisando 177 casos

    de endocardite infecciosa, verificaram que os S. bovis foram responsveis por

    12,5% dos casos.

    Os estreptococos do grupo D respondem por cerca de 5,0% a 15,1% de

    todos os casos de endocardite infecciosa (KUPFERWASSER et al., 1998;

    HERRERO et al., 2002; TRIPODI et al., 2004; FERREIROS et al., 2006). Em

    alguns pases, a freqncia de endocardite por S. bovis vem aumentando

    significativamente nos ltimos anos. A proporo de endocardites estreptoccicas

    cresceu de 10,9% para 23,3% aps 1989, sendo que, na Frana, essa proporo

  • 21

    foi para 56,7%, em contraste com o resto da Europa (9,4%) e os Estados Unidos

    (6,0%). Estudos recentes revelaram que os S. bovis so responsveis por 25% de

    todos os episdios de endocardite infecciosa na Frana (HOEN et al., 2002; 2005;

    GIANNITSIOTI et al., 2007).

    Estas infeces acometem principalmente os idosos, com idade acima de

    50 anos (idade mdia 67 anos). Essa faixa etria consideravelmente superior

    dos pacientes com endocardite causadas por outros estreptococos, estafilococos

    e outras bactrias (SINAVE, 2007). Tambm apresentam uma alta taxa de

    mortalidade (45%), quando comparadas a endocardites causadas por outros

    microrganismos (25%) (KUPFERWASSER et al., 1998). Por outro lado, Tripodi et

    al. (2004) observaram uma taxa de mortalidade menor (16,7%) em pacientes com

    endocardite por S. bovis.

    Bacteremia por esses microrganismos tambm so comuns em pacientes

    HIV positivos com uma taxa de mortalidade bastante elevada (71%). O papel da

    AIDS em facilitar o desenvolvimento desse processo infeccioso incerto, porm

    acredita-se que alteraes na regulao imune e mudanas na microbiota do

    clon possam promover essa infeco sistmica (ALAZMI et al., 2006).

    O S. bovis biotipo I est relacionado a bacteremias com ou sem endocardite

    e leses malignas ou pr-malignas no clon, enquanto que o S. bovis biotipo II

    est mais associado com bacteremia de origem hepatobiliar (SINAVE, 2007).

    Corredoira et al. (2005) observaram que, em 50% dos pacientes com bacteremia

  • 22

    por S. bovis II, a porta de entrada para a infeco foi a rvore hepatobiliar, em

    contraste com apenas 5% dos pacientes com bacteremia por S. bovis I. Ruoff et

    al. (1989) e Corredoira et al. (2005) investigaram a associao entre neoplasias

    intestinais e bacteremias por S. bovis e observaram que, respectivamente, em

    seus estudos, 71% e 57% dos pacientes com bacteremias por S. bovis I

    apresentavam leses malignas ou pr-malignas no clon. Em contrapartida, S.

    bovis II estava associado a leses no clon em apenas 17% e 15% dos casos,

    respectivamente. Da mesma maneira, a associao entre bacteremia e

    endocardite foi muito maior com S. bovis I em ambos os estudos (94% e 74%,

    respectivamente) do que com S. bovis II (18% e 15%, respectivamente). Adotando

    as nomenclaturas recentemente propostas, a subespcie S. gallolyticus subsp.

    gallolyticus estaria mais freqentemente associada a bacteremias em pacientes

    com cncer de clon do que S. gallolyticus subsp. pasteurianus e as duas

    subespcies de S. infantarius.

    Outros possveis fatores de risco para o desenvolvimento de bacteremia por

    S. bovis so plipos neoplsicos e outras leses malignas no trato gastrintestinal,

    como carcinoma de esfago, estmago e pncreas e linfoma gstrico

    (HERRINGTON et al., 1980; PIGRAU et al., 1988). H tambm relatos de

    bacteremias por S. bovis associadas com doena crnica do fgado (ZARKIN et

    al., 1990; TRIPODI et al. 2004), doena inflamatria do intestino (MOSHKOWITZ

    et al., 1992) e parasitose intestinal (colite por Strongyloides stercoralis) (LINDER et

    al., 2000).

  • 23

    S. infantarius subsp. infantarius pode ser isolado de fezes de humanos e j

    foi detectado em hemoculturas, inclusive em casos de endocardite (MIHAILA-

    AMROUCHE, SCHLEGEL & BOUVET, 2004). Amostras desta subespcie

    tambm j foram isoladas de produtos alimentcios (laticnio e ervilha congelada).

    J S. infantarius subsp. coli tem sido isolado exclusivamente de humanos, porm

    de diversos espcimes clnicos, como fezes, urina e sangue, incluindo alguns

    casos de endocardite (EUZBY, 2003).

    Na literatura, h apenas a descrio de um caso de infeco por S.

    gallolyticus subsp. macedonicus em seres humanos. Em 2002, Herrero et al.

    reavaliaram os casos de endocardite causados por S. bovis entre os anos de 1975

    e 1985 em um hospital nos EUA, atravs da anlise do gene que codifica o rRNA

    16S. Assim, os autores demonstraram que uma amostra responsvel por um

    quadro de endocardite no ano de 1978 era estreitamente relacionada a amostra-

    tipo de S. macedonicus. Entretanto, no se sabe se quadros de endocardite

    causados por S. gallolyticus subsp. macedonicus esto associados com cncer de

    clon. Neste caso em particular, o paciente apresentava plipo cecal.

    Atualmente, S. alactolyticus, S. equinus e as trs subespcies de S.

    gallolyticus so as espcies pertencentes ao complexo S. bovis / S. equinus de

    interesse na microbiologia veterinria.

    S. alactolyticus normalmente encontrado no intestino de porcos e galinhas

    e pode ser isolado de suas fezes, sendo uma das espcies predominantes no

  • 24

    clon de sunos. Esta espcie tambm j foi isolada em associao com

    Corynebacterium suicordis de um caso de pericardite em suno, mas at o

    presente momento nenhuma infeco foi atribuda formalmente a esta espcie

    (EUZBY, 2003).

    Amostras de S. equinus podem ser isoladas de intestino e fezes de seres

    humanos, ruminantes (bovinos e ovinos), cavalos e porcos, sendo, s vezes,

    isoladas da vagina de eqinos e, com menor freqncia, do tero de cadelas.

    Estes microrganismos podem causar bacteremias em seres humanos, mastite em

    ruminantes e, eventualmente, septicemia em ces (HODGE & SHERMAN, 1937;

    EUZBY, 2003).

    O S. bovis biotipo I foi renomeado por Osawa, Fujisawa & Sly (1995) como

    S. gallolyticus e por Schlegel et al. (2003) como S. gallolyticus subsp. gallolyticus,

    estando preferencialmente relacionado a infeces septicmicas em pombos,

    denominadas estreptococoses (DE HERDT et al., 1994). Dentro dessa espcie,

    diferentes fentipos podem ser reconhecidos em pombos: cinco biotipos e dois

    sub-biotipos; cinco sorotipos e seis fentipos de sobrenadante de cultura. Um

    esquema de caracterizao bioqumica, que compreende a fermentao de L-

    arabinose, inulina, manitol e trealose, a produo de polissacardeo extracelular

    em meio contendo sacarose e a observao de -hemlise, define os biotipos (1,

    2a, 2b, 3, 4 e 5). Os cinco sorotipos (1-5), por sua vez, so determinados aps

    ensaios de aglutinao em lmina utilizando soros hiper-imunes preparados contra

    cinco amostras de referncia isoladas de pombos (DE HERDT et al., 1992). J os

  • 25

    seis fentipos de sobrenadante so classificados baseados na presena das

    protenas extracelulares T1 (70kDa), T2 (68kDa) ou T3 (74kDa) e na presena ou

    ausncia da protena A (185kDa), conforme observado aps eletroforese em gel

    de poliacrilamida na presena de dodecil sulfato de sdio (SDS-PAGE) das

    protenas do sobrenadante da cultura (VANROBAEYS et al., 1996). Embora o

    papel dessas protenas na patognese ainda seja desconhecido, h uma alta

    correlao entre o fentipo de sobrenadante e a virulncia da amostra, uma vez

    que estudos sobre infeces experimentais demonstraram que as amostras

    pertencentes aos fentipos A+T1, A+T2, A+T3 e A-T1 so altamente virulentas para

    pombos, com uma morbidade ps-inoculao de 70% a 100%, enquanto que

    amostras A-T3 e A-T2 so moderadamente ou pouco virulentas para essas aves,

    respectivamente (VANROBAEYS et al., 1997).

    S. gallolyticus subsp. gallolyticus tambm tem sido isolado de casos de

    mastite bovina, assim como do rmen de cabras selvagens e fezes de diversos

    animais, como ruminantes, cavalos, ces, pombos, coalas, cangurus e outros

    (DEVRIESE et al., 1998).

    S. gallolyticus subsp. pasteurianus j foi isolado de diversos espcimes

    clnicos humanos, como lquor, sangue, urina e espcimes vaginais, sendo

    responsvel por casos de sepse e meningite neonatais, infeces do trato urinrio

    e endocardite (GAVIN et al., 2003; MIHAILA-AMROUCHE et al., 2004). Casos de

    septicemia em aves (pato e peru) tambm j foram relatados para esta espcie

    (EUZBY, 2003).

  • 26

    A espcie S. gallolyticus subsp. macedonicus foi isolada de queijo grego do

    tipo Kasseri e tambm de queijos italianos. Amostras desta espcie foram isoladas

    de biofilmes presentes em peas de ao inoxidvel utilizadas na indstria de

    laticnios (TSAKALIDOU et al., 1998; FLINT, WARD & BROOKS, 1999; EUZBY,

    2003).

    Em seres humanos, os microrganismos pertencentes a este complexo,

    principalmente S. gallolyticus subsp. pasteurianus, tambm so capazes de

    causar sepse ou meningite neonatais fulminantes, que so clinicamente

    indistinguveis daquelas causadas por estreptococos do grupo B. Nos casos de

    infeco na forma precoce (dentro da primeira semana de vida), bacteremia a

    manifestao clnica mais comum (72%), enquanto que meningite corresponde a

    20% dos casos (GAVIN et al., 2003). Embora a sua associao com infeces

    neonatais seja rara, possvel que a real freqncia destas infeces seja

    subestimada, uma vez que muitas amostras clnicas de S. bovis podem ser

    identificadas equivocadamente como enterococos ou estreptococos pertencentes

    categoria dos viridans, como Streptococcus salivarius. A identificao precisa

    de amostras de S. bovis causadoras de infeces neonatais tem importantes

    implicaes na escolha do tratamento adequado, pois a penicilina G considerada

    suficiente para o tratamento de infeces neonatais por esses microrganismos,

    enquanto que vancomicina ou a associao com um aminoglicosdeo pode ser

    necessria para o tratamento de infeces neonatais causadas por enterococos e

    algumas espcies de estreptococos da categoria dos viridans (AMERICAN

    ACADEMY OF PEDIATRICS, 2000).

  • 27

    Por outro lado, dados referentes resistncia aos antimicrobianos entre os

    microrganismos desse complexo so raros na literatura. Em geral, amostras de S.

    equinus, S. gallolyticus subsp. gallolyticus e S. gallolyticus subsp. pasteurianus

    so sensveis in vitro aos beta-lactmicos e glicopeptdeos, mas j foi evidenciada

    resistncia aos macroldeos, lincosamidas, cloranfenicol, nitrofurantona,

    tetraciclina, sulfamida e trimetropim. Amostras de S. gallolyticus subsp.

    macedonicus so susceptveis vancomicina, clindamicina, eritromicina e

    oxacilina (EUZBY, 2003).

    Mouton et al. (1997), analisando 19 amostras de S. bovis, observaram que

    as concentraes mnimas inibitrias capazes de inibir 50% (CMI50) e 90% (CMI90)

    das amostras para penicilina foram, respectivamente, 0,06g/mL (categorizado

    como susceptvel) e 1g/mL (susceptibilidade intermediria). Apenas duas

    amostras foram resistentes a esse antimicrobiano (CMI = 2g/mL).

    Embora haja relatos de amostras resistentes a penicilina, a grande maioria

    das amostras clnicas permanece sensvel (CMI 0,1g/mL). A penicilina G a

    droga de escolha para o tratamento de infeces causadas por esses

    microrganismos, inclusive endocardite. Para amostras com susceptibilidade

    reduzida (CMI > 0,1g/mL e 0,5g/mL), a associao com um aminoglicosdeo

    se faz necessria. J para as raras amostras com CMI > 0,5g/mL, o tratamento

    deve ser idntico ao da endocardite enteroccica: associao sinrgica entre

    ampicilina e gentamicina. Ceftriaxona e vancomicina podem ser utilizadas como

  • 28

    antimicrobianos alternativos em alguns casos, como por exemplo, em pacientes

    alrgicos a penicilina (SINAVE, 2007).

    Teng et al. (2001) observaram uma alta prevalncia de amostras de S.

    bovis biotipo II.2 (S. gallolyticus subsp. pasteurianus) resistentes a tetraciclina e a

    nveis elevados de eritromicina (71,7%). Em um estudo conduzido por Lee et al.

    (2003), foi observado que todas as amostras de S. bovis isoladas de bacteremia

    foram susceptveis a penicilina, cefalotina e vancomicina, sendo detectada

    resistncia a clindamicina e eritromicina em 41% e 65% das amostras,

    respectivamente. Siegman-Igra & Schwartz (2003) evidenciaram que duas

    amostras de S. bovis isoladas de quadros de endocardite apresentaram

    resistncia a nveis elevados de clindamicina (> 256g/mL).

    Em 2004, Mihaila-Amrouche et al. realizaram um estudo sobre o impacto da

    susceptibilidade aos antimicrobianos em amostras de estreptococos e enterococos

    isoladas de pacientes com endocardite. Entre as 61 amostras de estreptococos do

    grupo D, S. gallolyticus subsp. gallolyticus foi a espcie predominante (83,6% dos

    casos), com 39% das amostras apresentando resistncia a altos nveis de

    estreptomicina. Amostras de S. gallolyticus subsp. pasteurianus (6,6%) e S.

    infantarius subsp. infantarius (9,8%) tambm foram analisadas neste estudo e as

    trs espcies apresentaram baixos nveis de resistncia a gentamicina e

    tobramicina. Tambm foi observada resistncia a eritromicina e clindamicina em

    67% das amostras de estreptococos do grupo D. Embora a maioria das amostras

    fosse resistente a vrios antimicrobianos, elas foram susceptveis aos

  • 29

    antimicrobianos recomendados para profilaxia durante procedimentos intestinais,

    que incluem penicilina, amoxicilina, gentamicina e vancomicina.

    Em contrapartida, a resistncia a glicopeptdeos j foi detectada em duas

    espcies pertencentes ao complexo S. bovis / S. equinus. Duas amostras de S.

    gallolyticus (S. gallolyticus subsp. gallolyticus), portadoras dos genes vanA e

    vanB2 concomitantemente, e uma nica amostra de S. lutetiensis (S. infantarius

    subsp. coli), que carreava apenas o determinante vanB2, foram isoladas de fezes

    de bezerros na Holanda (MEVIUS et al., 1998). Em 2003, Dahl & Sundsfjord

    confirmaram a identificao dessas amostras, atravs da anlise do gene sodA, e

    demonstraram a transferncia in vitro do gene vanB2 presente nestas amostras

    para amostras de Enterococcus faecalis e Enterococcus faecium, sugerindo a

    possibilidade de disseminao destes determinantes de resistncia a vancomicina

    para outras bactrias patognicas.

    A aceitao e o uso amplo das novas designaes de membros do

    complexo S. bovis / S. equinus depender da adoo, pelos microbiologistas

    clnicos, de procedimentos que identifiquem, com preciso, cada uma das distintas

    espcies (FACKLAM, 2002).

    A caracterizao dos estreptococos do complexo S. bovis / S. equinus tem

    sido realizada tradicionalmente atravs de testes fisiolgicos convencionais ou de

    sistemas comerciais de identificao (p. ex. API 20 Strep, Rapid ID 32 Strep e

    outros) e sorotipagem. A maioria destes sistemas comerciais destina-se a

  • 30

    identificao de microrganismos de importncia mdica e possui vantagens como:

    necessidade de pouca manipulao e fornecimento de resultados rpidos e de

    fcil interpretao. Entretanto, alguns problemas tm sido encontrados quanto

    identificao de espcies novas, cujos testes fisiolgicos necessrios no so

    conhecidos ou as informaes so incompletas. Outra desvantagem a

    dificuldade apresentada por esses sistemas para a identificao de amostras de

    origem animal (FERTALLY & FACKLAM, 1987; BASCOMB & MANAFI, 1998).

    Alm disso, essas caracterizaes fenotpicas no so muito confiveis, devido

    expresso varivel de determinadas caractersticas e a freqente ambigidade na

    interpretao de alguns resultados (POYART, QUESNE & TRIEU-CUOT, 2002).

    Desse modo, diferentes pesquisadores (FARROW et al., 1984; BENTLEY,

    LEIGH & COLLINS, 1991; KAWAMURA et al., 1995; POYART et al., 1998;

    SCHLEGEL et al., 2004) tm usado tecnologias baseadas em cidos nuclicos

    para aprimorar a identificao das espcies bacterianas, inclusive dos

    estreptococos.

    Uma parte significativa destes estudos envolve a aplicao de tcnicas

    baseadas na reao em cadeia da polimerase (Polymerase Chain Reaction, PCR),

    associada ou no a outras tcnicas moleculares, empregando uma variedade de

    determinantes genticos como alvo. Um alvo universal de DNA, ideal para ser

    utilizado na identificao microbiana ao nvel de espcies, deve conter seqncias

    de nucleotdeos bem conservadas para cada espcie, mas tambm variao

    suficiente para permitir a identificao espcie-especfica (GOH et al., 1996).

  • 31

    As diferentes subunidades do rRNA, principalmente 16S e 23S, tm sido

    utilizadas em estudos relacionados a evoluo e identificao de gneros e

    espcies bacterianas, devido ao seu grau de constncia funcional, o que assegura

    uma relativa representatividade da taxa de mudana evolutiva numa linha de

    descendentes. Eles so universais, ou seja, esto presentes em todos os

    organismos e assumem diferentes posies em suas seqncias, mudando ao

    acaso em taxas muito diferentes, permitindo que a maioria das relaes

    filogenticas seja medida. Essas seqncias so longas, o que permite que elas

    forneam informaes adequadas (WOESE, 1987).

    A ampla utilizao da anlise das seqncias de genes que codificam o

    rRNA 16S como ferramenta taxonmica em bacteriologia permitiu a redefinio

    das relaes genticas e filogenticas, previamente baseadas na anlise do

    metabolismo celular (JENSEN, WEBSTER & STRAUS, 1993). Anlises

    comparativas do rRNA 16S revelaram que as suas seqncias altamente

    conservadas contm regies variveis, permitindo a diferenciao de gneros e

    espcies e a determinao de suas relaes filogenticas e evolutivas (JAYARAO,

    DOR & OLIVER, 1992). Esta metodologia bastante utilizada para a

    identificao de espcies de estreptococos, onde as amostras que apresentam

    seqncias com similaridade igual ou superior a 97% so consideradas como

    pertencentes a uma mesma espcie (MAGEE, 1998).

    A avaliao do carter polimrfico de seqncias-alvo pode ser

    estabelecida atravs da amplificao parcial ou integral por tcnicas de PCR,

  • 32

    utilizando oligonucleotdeos iniciadores que reconheam regies altamente

    conservadas que flanqueiam estes alvos de DNA. O tamanho e a seqncia do

    produto desta amplificao podem ser utilizados para a identificao de gneros e

    espcies. A anlise deste produto pode ser realizada atravs do seu

    seqenciamento ou, alternativamente, atravs de sua digesto com

    endonucleases de restrio e os fragmentos resultantes podem ser separados

    eletroforeticamente. Se o produto de PCR contiver stios de reconhecimento por

    enzimas de restrio, o perfil de fragmentao deste produto pode ser indicativo

    de uma espcie em particular (JENSEN, WEBSTER & STRAUS, 1993).

    Outras seqncias de DNA j foram analisadas com esse propsito,

    inclusive para aplicao ao estudo do complexo S. bovis / S. equinus. Dentre

    elas, destacam-se:

    Anlise dos espaadores internos dos genes que codificam o rRNA 16S e

    23S (Internally Transcribed Spacer, ITS) (MANACHINI et al., 2002).

    O gene cpn60, que codifica a protena do choque trmico de 60kDa

    (HSP60), tambm conhecida como chaperonina molecular (Cpn60),

    homlogo GroEL ou MopA (GOH et al., 1996; 2000; HILL et al., 2004).

    O gene rpoB, que codifica a subunidade da RNA polimerase

    (DRANCOURT et al., 2004).

    O gene sodA, que codifica a enzima Mn-SOD (POYART, QUESNE &

    TRIEU-CUOT, 2002; SASAKI et al., 2004).

  • 33

    Diversos fatores contribuem para as dificuldades encontradas na

    identificao dos microrganismos do gnero Streptococcus, tanto por mtodos

    fenotpicos quanto por moleculares. A taxonomia desse grupo de bactrias tem

    estado sob freqente reviso e muitas novas espcies vm sendo descritas,

    freqentemente sem informaes suficientes sobre caractersticas diferenciais e a

    extenso das variaes fenotpicas e genticas dentro das espcies propostas

    (FACKLAM, 2002).

    Nas ltimas dcadas, a taxonomia de procariotos sofreu profundas

    alteraes na direo de um sistema que refletisse as relaes evolutivas entre os

    organismos aproximando a classificao microbiana o melhor possvel da

    realidade biolgica. O uso da homologia DNA-DNA associada a uma variedade de

    caractersticas ecolgicas e fenotpicas na classificao de microrganismos foi

    denominada de taxonomia polifsica por Colwell (1970). Colwell props a

    integrao da informao do nvel molecular ao ecolgico de forma a se obter

    identificaes e classificaes mais precisas e confiveis. Em princpio, toda

    informao genotpica, fenotpica e filogentica pode ser incorporada na

    taxonomia polifsica, mas a hibridizao de DNA tem papel central no

    delineamento de espcies. A abordagem polifsica da taxonomia tem sido

    praticada nos ltimos 20 anos e pressupe que as descries polifsicas de

    espcie devem refletir relaes filogenticas, ser baseadas em hibridizao de

    DNA do genoma total e fornecer informao genotpica, fenotpica e

  • 34

    quimiotaxonmica adicional que d consistncia espcie definida em termos

    filogenticos.

    Em 1977, Woese & Fox publicaram um trabalho sobre o uso de seqncias

    do cronmetro rRNA 16S para a reconstruo da rvore da Vida.

    Subseqentemente, demonstrou-se que a anlise das seqncias do rRNA 16S

    seria extremamente til na afiliao filogentica de bactrias em espcies,

    gneros e famlias (WOESE, 1987), sendo, ento, esta prontamente incorporada

    taxonomia polifsica (STACKEBRANDT & GOEBEL, 1987).

    Sob o ponto de vista metodolgico, um dos principais problemas na

    taxonomia de procariotos, em geral, a identificao de linhagens em nvel de

    espcie por meio apenas de testes fenotpicos e de seqncias de rRNA 16S, pois

    as caractersticas fenotpicas entre as espcies existentes so muito semelhantes

    e a natureza conservativa das seqncias do gene do rRNA 16S muitas vezes

    limita o poder de discriminao deste mtodo em distinguir linhagens

    geneticamente prximas.

    Neste caso, o critrio decisivo para definir a relao ao nvel de espcie

    ainda a similaridade obtida em ensaios de hibridizao de DNA entre genomas

    de dois organismos (STACKEBRANDT et al., 2002). Amostras demonstrando

    similaridade igual ou superior a 70% em condies timas de reassociao, igual

    ou superior a 60% em condies de estringncia e com divergncia nas regies

    homlogas igual ou inferior a 5% so consideradas como pertencentes a mesma

  • 35

    espcie (WAYNE et al., 1987). A hibridizao de DNA a parte mais laboriosa e

    demorada na taxonomia de procariotos e requer equipamentos especiais, alm de

    pessoal treinado. Os resultados obtidos com esta tcnica no so cumulativos em

    bases de dados, sendo que cada experimento novo deve incluir as linhagens de

    referncia.

    Atualmente, a taxonomia polifsica um consenso entre sistematas, pois

    integra dados fenotpicos, quimiotaxmicos, moleculares e genmicos com o

    objetivo de representar a biodiversidade nos seus diferentes nveis, isto , de

    linhagem supra-famlia (VANDAMME et al., 1996). Neste contexto, diversas

    tcnicas moleculares, tanto fenotpicas quanto genotpicas, baseadas, em sua

    maioria, em padres de bandas (fingerprintings), foram aplicadas na dcada

    passada (DIJKSHOORN, TOWNER & STRUELENS, 2002). Dentre elas,

    destacam-se: anlise do perfil de protenas totais atravs de eletroforese em gel

    de poliacrilamida na presena de dodecil sulfato de sdio (Sodium Dodecyl Sulfate

    - Polyacrilamide Gel Electrophoresis, SDS-PAGE), determinao da composio

    de cidos graxos de cadeia longa por cromatografia lquido-gasosa (Gas-Liquid

    Chromathograph, GLC), anlise de perfis plasmidiais, RAPD-PCR, PCR de

    elementos repetitivos (Repetitive Elements - PCR, rep-PCR), PCR seguido de

    polimorfismo de comprimento de fragmentos de restrio (PCR - Restriction

    Fragment Length Polymorphisms, PCR-RFLP) de seqncias conservadas,

    ribotipagem, polimorfismo de comprimento de fragmentos amplificados (Amplified

    Fragment Length Polimorphism, AFLP), entre outras.

  • 36

    Aplicando ento uma abordagem polifsica, envolvendo tcnicas

    moleculares fenotpicas (anlise dos perfis de protenas totais por SDS-PAGE e

    determinao da composio de cidos graxos de cadeia longa por GLC) e

    genotpicas (seqenciamento do rRNA 16S e hibridizao DNA-DNA), nosso

    grupo iniciou um estudo com o intuito de melhor esclarecer as relaes

    taxonmicas das espcies pertencentes ao complexo S. bovis / S. equinus e

    props a sua diviso em quatro espcies e sete subespcies (TEIXEIRA et al.

    2005):

    Streptococcus alactolyticus;

    Streptococcus equinus, subdividida em 2 subespcies:

    S. equinus subsp. equinus;

    S. equinus subsp. bovis;

    Streptococcus gallolyticus, subdividida em 3 subespcies:

    S. gallolyticus subsp. gallolyticus;

    S. gallolyticus subsp. macedonicus;

    S. gallolyticus subsp. pasteurianus;

    Streptococcus infantarius, subdividida em 2 subespcies:

    S.infantarius subsp. infantarius;

    S.infantarius subsp. coli;

    Entretanto, como nos demais estudos taxonmicos, foram includas apenas

    algumas amostras de referncia, sendo necessria a aplicao mais ampla das

  • 37

    recomendaes resultantes, envolvendo a anlise de amostras isoladas em

    laboratrios de rotina diagnstica. Ou seja, estudos adicionais precisam ser

    realizados levando em considerao os novos conhecimentos sobre a taxonomia

    e nomenclatura dentro do complexo S. bovis / S. equinus, j que esses

    microrganismos continuam sendo isolados, com freqncia significativa, em

    hemoculturas de pacientes com bacteremia, sepse e endocardite.

    Tais estudos contribuiro para a validao de novas metodologias e

    recomendaes para a identificao, assim como para o conhecimento da

    associao das diferentes espcies com quadros clnicos diversos, podendo

    tambm servir de base para a elucidao de vrias outras questes sobre esses

    microrganismos que permanecem por ser esclarecidas.

  • 38

    OObbjjeettiivvooss

    Com base nos resultados j obtidos e considerando que os estreptococos

    do complexo Streptococcus bovis / Streptococcus equinus ainda apresentam

    aspectos a serem esclarecidos com relao a sua taxonomia e critrios de

    identificao e, ainda, a necessidade do desenvolvimento e/ou aplicao

    sistemtica de metodologias que permitam a discriminao e identificao precisa

    das diferentes espcies pertencentes a este complexo, aliada a escassez de

    trabalhos aplicando as recomendaes taxonmicas mais recentes ao estudo de

    amostras isoladas de materiais clnicos, o presente trabalho teve como objetivos:

    I. Dar continuidade ao estudo taxonmico, atravs da aplicao das

    recomendaes do trabalho iniciado por nosso grupo para a identificao

    fisiolgica das espcies pertencentes ao complexo S. bovis / S. equinus e de

    tcnicas moleculares, baseadas na anlise de protenas e de DNA. Para tal,

    amostras de referncia das diferentes espcies descritas at o momento como

    pertencentes ou relacionadas a este complexo, bem como uma coleo de

    amostras de origem clnica, foram analisadas comparativamente, quanto :

    Caractersticas fenotpicas atravs de testes fisiolgicos convencionais e de

    um sistema miniaturizado de identificao;

    Anlise do perfil de protenas totais por SDS-PAGE;

  • 39

    Determinao dos padres de restrio dos produtos de amplificao do

    gene que codifica o rRNA 16S (gene rrs);

    Anlise por seqenciamento do gene rrs;

    II. Caracterizar fenotpica e genotipicamente uma coleo de amostras isoladas de

    materiais clnicos diversos. Para tal, foram empregadas as seguintes

    metodologias:

    Determinao do perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos por tcnica

    de disco-difuso;

    Determinao de fentipos de resistncia a eritromicina por tcnica de duplo-

    disco;

    Deteco, por tcnica de PCR, da presena de genes envolvidos na

    expresso de resistncia a eritromicina, tetraciclina e nveis elevados de

    estreptomicina;

    Caracterizao genotpica atravs da anlise dos perfis de fragmentao do

    DNA cromossmico por PFGE;

  • 40

    MMaatteerriiaaiiss && MMttooddooss

    1. AMOSTRAS BACTERIANAS

    Foram estudadas 236 amostras, incluindo 23 amostras de referncia, sendo

    12 amostras-tipo e 11 outras amostras de referncia das diferentes espcies

    pertencentes ou relacionadas ao complexo Streptococcus bovis / Streptococcus

    equinus (Tabela 1), e 213 amostras de origem clnica, em sua maioria cedidas

    pelo Dr. Richard Facklam do Streptococcus Laboratory, Centers for Disease

    Control and Prevention (CDC), Atlanta, Georgia, EUA. As amostras clnicas foram

    isoladas de seres humanos (208 amostras) e animais (5 amostras) entre 1970 e

    2006 e haviam sido presuntivamente identificadas como pertencentes ou

    relacionadas a este complexo.

    As amostras esto mantidas em tanques de N2 lquido, sob a forma de

    suspenses em soluo contendo Skim Milk (Difco Laboratories, Detroit, Michigan,

    EUA) a 10% (p/v) e glicerol (Reagen, Quimibrs Indstrias Qumicas S/A, Rio de

    Janeiro, Brasil) a 10% (v/v). A reativao das amostras foi feita atravs da

    semeadura em placas contendo Trypticase Soy Agar (TSA, Difco Labs.)

    suplementado com 5% de sangue desfibrinado de carneiro (TSA-S) e incubao a

    352C por 20h-24h em atmosfera com 5% de CO2.

  • 41

    2. CARACTERIZAO FISIOLGICA DAS AMOSTRAS BACTERIANAS

    As amostras bacterianas foram caracterizadas por testes fisiolgicos

    convencionais, com base nas recomendaes de Facklam (2002) e de Teixeira et

    al. (2005), empregando os seguintes testes: observao das caractersticas morfo-

    tintoriais pelo mtodo de Gram, produo de catalase, observao do tipo de

    hemlise, hidrlise da esculina em presena de 40% de bile, crescimento na

    presena de 6,5% de cloreto de sdio, hidrlise de L-leucina--naftilamida e de L-

    pirrolidonil--naftilamida, hidrlise do amido, produo de cidos a partir de inulina,

    lactose, manitol, melibiose, rafinose e trealose. Os critrios para interpretao

    foram aqueles apresentados na Tabela 2. As amostras foram tambm testadas

    quanto produo de cidos a partir de glicognio, metil--D-glicopiranosdio e

    metil--D-glicopiranosdio.

    2.1. Colorao pelo Mtodo de Gram

    Aps o crescimento das amostras em TSA-S a 352C por 20h-24h em

    atmosfera de CO2, foram preparadas suspenses bacterianas em soluo salina

    fisiolgica (NaCl 0,85%) e, destas, foram feitos esfregaos em lminas de vidro.

    Aps colorao pelo mtodo de Gram, os esfregaos foram observados ao

    microscpio ptico em objetiva de 100X (imerso).

  • 42

    2.2. Produo da Enzima Catalase

    A observao da produo de catalase foi efetuada por metodologia

    convencional, em lmina de vidro. A partir de um crescimento recente em meio

    TSA-S, uma suspenso espessa do microrganismo foi depositada sobre uma gota

    de perxido de hidrognio (H2O2) a 3% (v/v). A formao de bolhas, resultante da

    hidrlise da H2O2 por ao da enzima catalase, foi indicativa de reao positiva.

    Os microrganismos do gnero Streptococcus so negativos para esse teste.

    2.3. Observao do Tipo de Hemlise

    As propriedades hemolticas foram observadas a partir do crescimento das

    amostras em placas contendo meio TSA-S, aps incubao a 352C por 20h-24h

    em atmosfera com 5% de CO2. Durante a semeadura, foram feitas picadas em

    profundidade no gar com o auxlio de uma ala bacteriolgica, a fim de facilitar a

    verificao do tipo de hemlise. A formao de halos de hemlise total ao redor

    das colnias foi definida como -hemlise. Amostras que apresentaram halos de

    hemlise parcial, adquirindo a colorao esverdeada, foram caracterizadas como

    -hemolticas. Amostras que no produziram alterao dos eritrcitos presentes

    no meio foram definidas como no-hemolticas.

  • 43

    2.4. Hidrlise da Esculina em Presena de Bile (BE)

    As amostras foram semeadas em gar Bile Esculina (Bile Esculin Agar,

    BEA, Difco Labs.) e incubadas a 352C por 20h-24h. A positividade do teste foi

    considerada pelo escurecimento do meio, em funo da hidrlise da esculina em

    esculetina, na presena de bile.

    2.5. Crescimento na Presena de 6,5% de Cloreto de Sdio (NaCl)

    O crescimento na presena de cloreto de sdio a 6,5% foi verificado atravs

    da inoculao das amostras em meio HIB (Heart Infusion Broth, Difco Labs.),

    suplementado com cloreto de sdio na concentrado de 6,5% (p/v); 0,1% de

    soluo alcolica de prpura de bromocresol a 1,6% (p/v) e 0,1% (p/v) de D-

    glicose. O resultado positivo foi indicado atravs da turvao do meio,

    acompanhada ou no da mudana de cor do indicador, de prpura para amarelo,

    em at sete dias de incubao na temperatura de 352C.

    2.6. Hidrlise de L-Leucina--Naftilamida (LAP) e L-Pirrolidonil--

    Naftilamida (PYR)

    Para a execuo destes testes, uma suspenso espessa de cada amostra,

    obtida a partir de um crescimento recente, foi preparada em 0,2mL de caldo Todd-

    Hewitt (Todd-Hewitt Broth, THB, Difco Labs.) contendo 0,01% de PYR ou 0,02%

    de LAP (Sigma Chemical Co., St Louis, EUA). Aps um perodo de 4h de

  • 44

    incubao a 352C, foram adicionadas uma a duas gotas de soluo reveladora

    contendo dimetilamino cinamaldedo (Sigma Co.) a 1% em HCl a 10% (v/v). A

    leitura do teste foi feita imediatamente e em at 10 min, aps agitao suave. A

    positividade do teste foi considerada pelo aparecimento de colorao rosa forte ou

    prpura.

    2.7. Hidrlise do Amido

    Para a verificao da produo de amilases, os microrganismos foram

    cultivados em meio HIA (Heart Infusion Agar, Difco Labs.) contendo amido solvel

    a 2% (p/v) (Sigma Co.) e incubados a 352C por 18h-24h. A reao positiva foi

    verificada pelo aparecimento de uma regio no corada ao redor do crescimento,

    aps adio de soluo lugol sobre a superfcie da placa. A colorao azul escura

    (ou roxa) em toda a placa indicou a ausncia de hidrlise.

    2.8. Produo de cidos a partir de Glicognio, Inulina, L