apostila streptococcus completa

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Universidade Federal do Espírito Santo Centro de Ciências da Saúde Curso de Medicina Departamento de Patologia Disciplina de Microbiologia Streptococcus Felipe Sampaio Soares Miguel Gagno Nunes

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Page 1: Apostila Streptococcus Completa

Universidade Federal do Espírito Santo

Centro de Ciências da Saúde

Curso de Medicina

Departamento de Patologia

Disciplina de Microbiologia

Streptococcus

Felipe Sampaio Soares

Miguel Gagno Nunes

Paulo Augusto Wetler Damazio Martins

Pedro Luiz Silva Dias

Thais Leibel Sant’anna Santos

Page 2: Apostila Streptococcus Completa

Vitória - ES – 2009

Sumário

Introdução............................................................................................................2

Streptococcus pyogenes......................................................................................3

Aspectos gerais.........................................................................................3

Fisiologia e Estrutra...................................................................................4

Patogênese e Imunidade..........................................................................5

Doenças clínicas.......................................................................................9

Diagnóstico Laboratorial..........................................................................21

Tratamento, Prevenção e Controle.........................................................27

Streptococcus agalactiae...................................................................................28

Estrutura..................................................................................................28

Patogênese.............................................................................................31

Síndromes clínicas..................................................................................36

Epidemiologia..........................................................................................39

Diagnóstico Laboratorial..........................................................................41

Tratamento..............................................................................................42

Prevenção e Controle..............................................................................43

Relato de Casos................................................................................44

Outros Streptococcus β Hemolíticos..................................................................46

Streptococcus viridans.......................................................................................47

Streptococcus pneumoniae...............................................................................51

Fatores de virulência...............................................................................51

Patogênese.............................................................................................59

Doenças clínicas.....................................................................................59

Diagnóstico..............................................................................................62

Epidemiologia..........................................................................................65

Tratamento..............................................................................................67

Prevenção e Controle..............................................................................68

Bibliografia.........................................................................................................70

Page 3: Apostila Streptococcus Completa

Introdução

O gênero Streptococcus é formado por diversos cocos Gram-positivos

dispostos aos pares ou em cadeias. A maioria é anaeróbia facultativa, algumas

são capnofílicas (necessidade de CO2 aumentado para crescimento). Os

estreptococos são catalase negativos.

Nesta apostila iremos abordar as seguintes espécies de estreptococos: S.

pyogenes, S. agalactiae, S. viridans, S. pneumoniae e alguns outros

Streptococcus β hemolíticos. Será abordado as estruturas principais

componentes de virulência bem como as doenças clínicas a distribuição

dessas na população, os tratamentos recomendados e as formas de prevenir e

controlar a infecção por esses patógenos,

A diferenciação das espécies no gênero é feita a partir do uso de 3 esquemas

sobrepostos, são eles: (1) Propriedades sorológicas, (2) padrões hemolíticos:

hemólise completa (beta), hemólise incompleta (alfa) e ausência de hemólise

(gama), (3) propriedades bioquímicas.

Page 4: Apostila Streptococcus Completa

Streptococcus pyogenes

ASPECTOS GERAIS

É a espécie mais importante de estreptococos do grupo A sendo

responsável por doenças supurativas e não supurativas. É comumente a causa

de faringite bacteriana, além disso, está associada a doenças graves que

levam risco a vida.

O estreptococos do grupo A está normalmente presente na orofaringe de

crianças saudáveis e adultos jovens. As tonsilites podem ser causadas por

diversos agentes, mas o Streptococcus pyogenes é o mais importante agente

etiológico. Estima-se que 75% dos casos de tonsilite na faixa etária entre dois e

10 anos sejam de etiologia viral, mas a maioria das tonsilites é tratada com

antibióticos. Possivelmente, o uso excessivo de antibióticos no tratamento das

faringotonsilites se deve às dificuldades em diferenciar tonsilites virais das

causadas por Streptococcus pyogenes e ao fato de o tratamento com

antibióticos prevenir futuras complicações, como a febre reumática.

Normalmente a doença por S. pyogenes é causada por meio de cepas

recém – adquiridas capazes de estabelecer uma infecção de faringe ou de pele

antes que anticorpos específicos sejam produzidos ou que microrganismos

competidores sejam capazes se proliferar. Na faringite causada por S.

Page 5: Apostila Streptococcus Completa

pyogenes, aglomerações como salas de aula e creches aumentam a

oportunidade de o microrganismo se disseminar (de pessoa a pessoa através

de perdigotos), particularmente durante os meses de inverno. Pioderma,

erisipela, celulite, fasciite são precedidas tipicamente pela colonização inicial da

pele com o estreptococo do grupo A, então o microrganismo é introduzido em

tecidos superficiais ou profundos através de uma descontinuidade da pele.

FISIOLOGIA E ESTRUTURA

S. pyogenes são cocos GRAM positivos esféricos de 1 a 2 μm de

diâmetro, β – hemolíticos (produzem hemolisina), dispostos em cadeias curtas

nos espécimes clínicos e em cadeias mais longas em meio líquido. São

anaeróbios facultativos e catalase negativos, o que permite diferenciá-los da

família Micrococacceae. O crescimento é ótimo em meio sólido enriquecido

com sangue, mas é inibido se o meio contém altas concentrações de glicose

(possuem metabolismo fermentativo). Após 24 horas de incubação são

observadas colônias brancas de 1 a 2 mm com grandes zonas de μ –

hemólise.

S. pyogenes possui esqueleto básico estrutural da parede celular semelhante

em composição àquela encontrada em outras bactérias Gram – positivas. Na

parede celular, estão os antígenos grupo – específicos e tipo – específicos.

O carboidrato grupo – especifico (antígeno de grupo A de Lancefield) é

um dímero de N – acetilglicosamina e ramnose. Este antígeno é usado para

classificar os estreptococos do grupo A em relação aos outros grupos de

estreptococos.

Nos estreptococos virulentos, a Proteína M é a principal proteína tipo –

específica. A proteína M possui duas cadeias polipeptídicas complexas em

uma alfa hélice ancorada na membrana citoplasmática, estende-se através da

parede celular e projeta-se acima da superfície celular. O terminal carboxil

ancorado na membrana citoplasmática e a porção da molécula na parede

celular são comuns aos outros estreptococos do grupo A. O terminal amino,

que se estende acima da superfície celular, é responsável pela variabilidade

antigênica observada entre mais de 100 sorotipos de proteínas M. As proteínas

M são subdivididas em moléculas de classe I e classe II. As moléculas de

Page 6: Apostila Streptococcus Completa

classe I compartilham antígenos expostos, enquanto as proteínas de classe II

não têm antígenos expostos compartilhados. A colonização com S. pyogenes é

regulada através da imunidade específica para a proteína M da cepa

colonizadora e pela competição com outros microrganismos presentes na

orofaringe. Pacientes não tratados produzem anticorpos antiproteína M

bacteriana específica que pode resultar em uma imunidade duradoura.

Estreptococos α – hemolíticos e não – hemolíticos são capazes de produzir

bacteriocinas, as quais suprimem o crescimento dos estreptococos do grupo A.

Uma proteína secundária tipo – específica é a proteína T (resistente à

tripsina). A função estrutural dessa proteína é desconhecida. Embora a

classificação epidemiológica de S. pyogenes tenha sido tradicionalmente

baseada na identificação dos tipos M ou T específicos por aglutinação com

anticorpos antiM ou antiT específicos, é provável que este procedimento seja

substituído pelo seqüenciamento do gene emm que codifica a proteína M.

Outros importantes componentes na parede celular de S. pyogenes

incluem proteínas de superfície semelhante a M, ácido lipoteíco e proteína F.

Um complexo de mais de 20 genes que compreendem a superfamília dos

genes emm codifica as proteínas semelhante a M. Estes genes codificam para

as proteínas semelhante a M e outras proteínas que se ligam a

Imunoglobulinas (Ig). O ácido lipoteicóico e a proteína F facilitam a ligação com

a célula hospedeira por se complexar com a fibronectina, que está presente na

superfície da célula hospedeira. Estudos demonstraram que as proteínas de S.

pyogens ligantes à fibronectina e laminina funcionam como adesinas e

invasinas. Muitos autores postularam que as proteínas ligantes à fibronectina e

laminina podem levar a uma infecção longa persistente nas células epiteliais.

Uma cápsula externa de ácido hialurônico com moléculas repetidas de

ácido glicurônico e N-acetilgicosamina previne a fagocitose da bactéria. A

cápsula é antigenicamente indistinguível do ácido hialurônico do tecido

conectivo dos mamíferos. Assim, as cepas encapsuladas de S. pyogenes são

mais provavelmente responsáveis por infecções sistêmicas graves.

PATOGÊNESE E IMUNIDADE

Page 7: Apostila Streptococcus Completa

A virulência dos estreptococos do grupo A está relacionada com a

capacidade da bactéria de aderir à superfície das células hospedeiras, invadir

as células epiteliais, evitar a opsonização e a fagocitose e produzir toxinas e

enzimas. O ácido lipoteicóico, a proteína M e a proteína F são os mais

importantes antígenos que medeiam a aderência às células do hospedeiro. A

aderência inicial é uma interação fraca entre o ácido lipoteicóico e os locais de

ligação de ácidos graxos na fibronectina e nas células epiteliais. A aderência

subseqüente envolve a proteína M, a proteína F e outras adesinas que

interagem com receptores específicos da célula hospedeira.

S. pyogenes também tem múltiplos mecanismos para evitar a

opsonização e a fagocitose. A região conservada da proteína M pode se ligar

ao fator H β - globulina do soro, o qual é uma proteína reguladora da via

alternativa do complemento. O componente C3b do complemento é

desestabilizado pelo fator H. Assim, quando o C3b se liga à superfície celular

na região da proteína M, C3b é degradado pelo fator H e a fagocitose é

evitada. O efeito é superado somente quando o paciente produz anticorpos

opsônicos tipo – específicos antiproteína M específica. A ligação do

fibrinogênio à superfície da proteína M também bloqueia a ativação do sistema

complemento pela via alternativa e reduz a quantidade de C3b ligado. As

proteínas semelhantes a M interferem na fagocitose. Finalmente, todas as

cepas de S. pyogenes podem produzir peptidases de C5a, uma serina protease

que inativa C5a. Assim a formação de abscessos é inibida até que o paciente

seja capaz de neutralizar a peptidase com anticorpos específicos.

Exotoxinas Pirogênicas

As Exotoxinas pirogências estreptocócicas (Spes), originalmente

chamadas toxinas eritrogênicas, são produzidas por cepas lisogênicas de

estreptococos.

Quatro toxinas termolábeis imunologicamente distintas (SpeA, SpeB, SpeC e

SpeD) têm sido descritas em S. pyogenes. As toxinas agem como

superantígenos, interagindo com ambos os macrófagos e as células T

auxiliares, com a liberação de IL – 1, IL – 2, e IL – 6; TNF – α e TNF – β; e

interferon γ. Estas citocinas estão relacionadas ao choque e falência de órgãos

Page 8: Apostila Streptococcus Completa

observados em pacientes com a síndrome do choque tóxico estreptocócico e

com a erupção observada em pacientes com escarlatina, embora seja incerto

se a erupção resulta do efeito direto da toxina sobre o leito capilar ou, mais

possivelmente, é secundário a uma reação de hipersensibilidade.

Estreptolisinas S e O

A estreptolisina S é não – imunogênica, estável ao oxigênio e que pode

lisar eritrócitos, leucócitos e plaquetas. Também estimula a liberação do

conteúdo lisossômico após engolfamento, com subseqüente morte da célula

fagocítica. A estreptolisina S é produzida na presença de soro e é responsável

pela β – hemólise característica observada no meio Agar sangue.

A estreptolisina O é uma hemolisina lábil ao oxigênio, capaz de lisar

eritrócitos, leucócitos, plaquetas e células em cultura. Anticorpos são

prontamente formados contra a estreptolisina O, uma característica que a

diferencia da estreptolisina S e é útil para documentar uma infecção recente

por estreptocócica do grupo A (teste antiASO). No entanto, pelo fato de a

estreptolisina O ser irreversivelmente inibida pelo colesterol dos lipídios da

pele, pacientes com infecções de pele por S. pyogenes não desenvolvem

anticorpos antiASO. Esta hemolisina é antigenicamente relacionada às toxinas

lábeis ao oxigênio produzidas por Streptococcus penumoniae, Clostridium

tetani, Clotridium perfringens, Bacillus cereus e Listeria monocytogenes.

Estreptoquinases

Pelo menos duas formas de estreptoquinase (A e B) têm sido descritas.

Estas enzimas medeiam a clivagem do plasminogênio, liberando a protease

plasmina, que, por sua vez, cliva fibrina e fibrinogênio, resultando na lise de

coágulos e depósitos de fibrina. Assim, estas enzimas podem clivar coágulos

sanguíneos e depósitos de fibrina e facilitar a rápida disseminação de S.

pyogenes no tecido infectado. Anticorpos direcionados contra essas enzimas

(anticorpos antiestreptoquinase) são marcadores úteis de infecção.

Desoxiribinucleases

Page 9: Apostila Streptococcus Completa

Quatro DNases A a D imunologicamente distintas foram identificadas.

Estas enzimas não são citolíticas, mas podem despolimerizar DNA livre

presente no pus. Este processo reduz a viscosidade do material do abscesso e

facilita a disseminação dos microrganismos. Os anticorpos desenvolvidos

antiDNase S são um importante marcador de infecção por S. pyogenes,

particularmente para pacientes com infecções cutâneas, porque estes não

desenvolvem anticorpos antiestreptolisina O.

Peptidase de C5a

A peptidase de C5a causa degradação de C5a, comprometendo a

atuação deste como mediador da inflamação através do recrutamento e

ativação de células fagocíticas.

Outras Enzimas

Hialuronidase e nucleotidase difosfopiridina (DPNase) foram descritas

como enzimas presentes em estreptococos do grupo A, porém desconhece-se

o papel dessas enzimas na patogênese.

Fatores de virulência Ação/Características

Cápsula de ácido hialurônico Antigenicamente indistinguível do

ácido hialurônico dos mamíferos.

Previne a fagocitose da bactéria

Proteína M Principal fator de virulência; medeia a

aderência às células do hospedeiro e

protege contra a ação do sistema

complemento

Page 10: Apostila Streptococcus Completa

Proteína F e Ácido lipoteicóico Facilitam a ligação com a célula

hospedeira por se complexar com a

fibronectina presente na superfície da

célula hospedeira

Hialuronidase Auxilia na disseminação do S.

pyogenes

Estreptoquinase Medeia a clivagem do plasminogênio,

liberando plasmina, que cliva fibrina e

fibrinogênio, resultando na lise de

coágulos e depósitos de fibrina,

facilitando a rápida disseminação de

S. pyogenes

Dnases – tipos A, B, C e D Despolimerizam DNA livre presente

no pus, reduzindo a viscosidade do

material do abscesso. Isso facilita a

disseminação S. pyogenes

Exotoxinas pirogências

estreptocócicas (Spes)

Atuam como superantígenos,

interagindo com macrófagos e células

T auxiliares, ocorrendo liberação de

citocinas

Estreptolisinas O e S

Lisam eritrócitos, leucócitos e

plaquetas

DOENÇAS CLÍNICAS

Doenças Supurativas Estreptocócicas

Faringite

Page 11: Apostila Streptococcus Completa

Ela ocorre com maior freqüência em crianças entre 5 e 10 anos de

idade. A infecção é disseminada por meio do contato direto das pessoas com

as secreções nasais ou saliva das pessoas infectadas.

O organismo pode colonizar as gargantas das pessoas sem produzir

sintomas. Geralmente se desenvolve 2 a 4 dias após a exposição ao patógeno,

com surgimento abrupto de dor de garganta, febre, mal-estar e cefaléia. A

faringe posterior pode aparecer eritomatosa com um exsudato, e a

linfadenopatia cervical pode ser proeminente. Apesar destes sinais e sintomas

clínicos, a diferenciação da faringite estreptocócica e viral é difícil. As crianças

pequenas geralmente apresentam sintomas muito brandos para o diagnóstico.

O teste específico pode ser feito com testes bacteriológicos ou sorológicos.

Os fatores de risco incluem infecção recente por estreptococos na

família ou membros da casa. A incidência é de 5 entre cada 1000 pessoas.

Escarlatina

É uma complicação da faringite

estreptocócica que ocorre quando a cepa infectante

é lisogenizada por um bacteriófago temperado que

estimula a produção de uma exotoxina pirogênica,

em 1 a dois dias após os sintomas clínicos iniciais

de faringite se desenvolverem. Uma erupção

eritematosa difusa aparece inicialmente no pescoço e no tórax, disseminando-

se posteriormente por todo o corpo. A área ao redor da boca é geralmente

poupada (palidez ao redor dos lábios), bem como a palma das mãos e a sola

dos pés. Um revestimento branco-amarelado inicialmente cobre a língua, e

mais tarde se desprende, revelando embaixo uma superfície vermelha e

inflamada (“língua de morango”). A erupção que clareia quando pressionada é

mais bem visualizada no abdome e nas dobras da pele (linhas de Pastia). O

exantema pode também ser mais denso na virilha. A erupção desaparece após

5 a 7 dias e é seguida de descamação. A febre escarlatina era inicialmente

uma doença infantil comum e grave, mas atualmente é facilmente tratável,

desde o advento da terapia antibiótica.

Page 12: Apostila Streptococcus Completa

Os fatores de risco para essa doença são as infecções da garganta por

estreptococos, embora menos de 50% dos pacientes que desenvolvem a febre

escarlatina possuam um histórico de dor de garganta.

Pioderma (Impetigo)

Pioderma é uma infecção de pele

confinada, purulenta, que afeta

primariamente áreas expostas (face,

braços, pernas). A infecção se inicia

quando a pele é colonizada com S.

Pyogenes após contato direto com

pessoas ou fômites infectados. O microorganismo é introduzido no tecido

subcutâneo através de uma abertura na pele (como picadas de inseto,

arranhões ou cortes pré-existentes nesta região). Roupas e toalhas podem,

também, ser via de transmissão, em casos mais raros. As vesículas se

desenvolvem, progridem para pústulas, e então se rompem e formam uma

crosta que as cobre. Os linfonodos regionais podem se tornar aumentados,

porém sinais sistêmicos de infecção são raros. A disseminação secundária

dérmica da infecção causada por arranhadura é típica.

O pioderma é observado inicialmente durante os meses quentes e

úmidos de verão em crianças pequenas com pouca higiene pessoal. Embora o

S. pyogenes seja responsável pela maioria das infecções estreptocócicas de

pele, os estreptococos dos grupos C e G também estão implicados. O

Staphylococcus aureus está também comumente presente nas lesões. As

manifestações cutâneas, desta forma, variam de acordo com o agente

infeccioso.

As cepas de estreptococos que causam infecções de pele diferem daquelas

que causam faringite, embora os sorotipos que causam pioderma possam

colonizar a faringe e estabelecer um estado de portador persistente. O

diagnóstico é feito, geralmente, pela visualização das lesões. Exame de

sangue e biópsia podem ser recomendados.

Recomenda-se que o tratamento seja iniciado em até 48 horas após o

aparecimento dos sintomas, visto que esta doença, em casos não muito

Page 13: Apostila Streptococcus Completa

frequentes, pode evoluir para um quadro mais grave, como febre reumática,

varicela, glomerolunefrite ou se espalhar em outros órgãos; além da

possibilidade de causar manchas nas regiões afetadas. Antibióticos orais,

derivados da penicilina, são requeridos. Pomadas à base de mupirocina

podem, também, ser recomendadas pelo médico.

Ferver a roupa da criança afetada e evitar que ela ou qualquer outra

pessoa manipule as feridas são medidas importantes para que não haja a

contaminação de outras regiões do corpo ou de mais indivíduos. Bons hábitos

de higiene, como lavar as mãos frequentemente e evitar o uso de toalhas e

roupas de outras pessoas são outras medidas.

Erisipela

Erythros: “vermelho”, pella: “pele”.

Nomes populares: esipra, mal-da-praia, mal-do-monte,

maldita, febre-de-santo-antônio.

Os primeiros sintomas podem ser aqueles comuns a qualquer infecção:

calafrios, febre alta, astenia, cefaléia, mal-estar, náuseas e vômitos. As

alterações da pele podem se apresentar rapidamente e variam desde um

simples vermelhidão, dor e edema (inchaço) até a formação de bolhas e feridas

por necrose (morte das células) da pele. A localização mais freqüente é nos

membros inferiores, na região acima dos tornozelos, mas pode ocorrer em

outras regiões como face e tronco. No início, a pele se apresenta lisa, brilhosa,

vermelha e quente. A área da pele envolvida é tipicamente elevada e

diferenciada da pele não envolvida. Com a progressão da infecção, o inchaço

aumenta, surgem as bolhas de conteúdo amarelado ou achocolatado e, por

fim, a necrose da pele. É comum o paciente queixar-se de “íngua” (aumento

dos gânglios linfáticos na virilha), além de dor localizada.

A erisipela ocorre em pessoas de qualquer idade, porém é mais comum

nos diabéticos, obesos e nos portadores de deficiência da circulação venosa

dos membros inferiores. Não é contagiosa.

A porta de entrada quase sempre é uma micose interdigital (as famosas

“frieiras”), mas qualquer ferimento pode desencadear o mal.

Page 14: Apostila Streptococcus Completa

O diagnóstico é feito apenas pelo exame clínico, analisando os sinais e

sintomas apresentados pelo paciente. Não há necessidade de nenhum exame

de sangue ou de outro exame especial da circulação, a não ser para

acompanhar a evolução do paciente.

Quando o paciente é tratado logo no início da doença, as

complicações não são tão evidentes ou graves. No

entanto, os casos não tratados a tempo podem progredir

com abscessos, ulcerações (feridas) superficiais ou

profundas e trombose de veias. A seqüela mais comum é

o linfedema, que é o edema persistente e duro (não forma

uma depressão na pele quando submetido à compressão

com os dedos), localizado principalmente na perna e no tornozelo, resultante

dos surtos repetidos de erisipela.

O Tratamento pode ser feito pelo uso de antibióticos, redução do

inchaço, fazendo repouso absoluto com as pernas elevadas, principalmente na

fase inicial. Pode ser necessário o enfaixamento da perna para diminuir o

edema mais rapidamente; Deve ser feito também o fechamento da porta de

entrada da bactéria, tratando as lesões de pele e as frieiras; Limpeza adequada

da pele, eliminando o ambiente adequado para o crescimento das bactérias;

Uso de medicação de apoio, como antiinflamatórios, antifebris, analgésicos e

outras que atuam na circulação linfática e venosa.

A prevenção das crises repetidas de erisipela podem ser evitadas

através de cuidados higiênicos locais, mantendo os espaços entre os dedos

sempre bem limpos e secos, tratando adequadamente as frieiras, evitando e

tratando os ferimentos das pernas e tentando manter as pernas desinchadas.

Page 15: Apostila Streptococcus Completa

Deve-se evitar engordar, bem como permanecer muito tempo parado, em pé

ou sentado. O uso constante de meia elástica é uma grande arma no combate

ao inchaço, bem como fazer repouso com as pernas elevadas sempre que

possível.

Procurar um especialista quando apresentar qualquer dos sintomas iniciais da

doença, relatados anteriormente.

Celulite

A celulite envolve tipicamente a pele e os tecidos subcutâneos mais

profundos, e a distinção entre pele infectada e desinfectada não é esclarecida.

A infecção é mais comum nos membros inferiores e, freqüentemente, inicia

com uma alteração cutânea causada por uma pequena lesão, uma úlcera ou

uma infecção fúngica entre os dedos dos pés. A celulite causa inflamação, dor,

calor e hiperemia. Algumas áreas podem apresentar aspecto de equimose e

podem apresentar pequenas bolhas. Os sintomas da infecção podem incluir

febre, calafrios, cefaléia e complicações mais graves (p.ex., confusão mental,

hipotensão arterial e aumento da freqüência cardíaca).

É necessária a identificação precisa do microorganismo causador,

porque muitas bactérias diferentes podem causar celulite, especialmente após

mordidas de seres humanos ou de animais, ou após lesões produzidas na

água.

O tratamento imediato pode evitar que a infecção se dissemine rapidamente e

atinja o sangue e outros órgãos. Freqüentemente, a celulite é tratada com

penicilina ou uma droga do tipo da penicilina (p.ex., dicloxacilina). Os indivíduos

com celulite leve podem utilizar antibióticos orais. Os indivíduos idosos e

aqueles com uma celulite que se dissemina rapidamente, com febre alta ou

qualquer outro sinal de infecção grave comumente recebem uma injeção de

antibiótico antes de iniciar o tratamento com antibióticos orais. Quando houver

infecção dos membros inferiores, estes devem ser mantidos elevados e devem

ser realizados curativos com panos úmidos e frios. Se as pernas estiverem

infectadas, deve-se mantê-las elevadas. A aplicação de compressas úmidas e

frias alivia o desconforto e reduzem a inflamação. Quando a celulite retorna, é

Page 16: Apostila Streptococcus Completa

provável que exista uma condição subjacente (p.ex., pé de atleta) que

predispõe o indivíduo a apresentá-la e esta também deve ser tratada.

Fasciite Necrosante

Fasciite necrosante (também chamada de gangrena estreptocócica) é

infecção bacteriana destrutiva e rapidamente progressiva do tecido subcutâneo

e fáscia superficial, é caracterizada por uma destruição extensiva do músculo e

do tecido adiposo. Está associada a altos índices de morbimortalidade, se não

tiver tratamento precoce. Recentemente, inúmeros casos publicados têm

demonstrado aumento na freqüência e gravidade dessa infecção,

particularmente causada pelo Streptococcus do grupo A (GAS) e que acomete

até mesmo pessoas jovens e saudáveis.

Classifica-se em tipo I, quando causada por flora mista de anaeróbios e

outras bactérias, e tipo II, quando causada pelo GAS isolado ou associado ao

Staphylococcus aureus. Os fatores predisponentes incluem: doenças crônicas

e malignas, abuso de álcool, uso de drogas endovenosas, lesões da pele como

varicela, úlceras crônicas, psoríase, cirurgia, traumas abertos e fechados, entre

outros. Clinicamente destacam-se: a dor intensa, o edema grave, a rápida

progressão e a resposta pobre à antibioticoterapia.

O microorganismo (referido pelos meios de comunicação de “bactéria

carnívora”) é introduzido no tecido através de uma abertura na pele (p. ex.,

cortes pequenos ou trauma, infecção viral vesicular, queimadura, cirurgia).

Inicialmente há uma evidência de celulite, em seguida se forma uma bolha e se

desenvolvem os sintomas sistêmicos e a gangrena. As características dessa

doença são a toxicidade sistêmica, a falência de múltiplos órgãos e a morte;

dessa maneira, é necessária a pronta intervenção médica para salvar o

paciente. Diferente da celulite, que pode ser tratada com terapia antibiótica, a

fasciite deve também ser tratada agressivamente com procedimentos

cirúrgicos, como o debridamento do tecido infectado.

O mais forte preditor de mortalidade associado com FN é a idade. Em

pacientes com menos de 35 anos de idade, a taxa de mortalidade é

significativamente mais baixa (0%) quando comparada com a mortalidade em

pacientes acima de 70 anos (65%).

Page 17: Apostila Streptococcus Completa

Outros fatores significativamente associados com aumento do risco de

mortalidade são a TS-LS, a hipotensão sem outros comemorativos da TS-LS e

a bacteremia. No entanto, esta última só pode ser detectada em prazo que

varia de 24 a 48 horas depois da apresentação, não servindo como marcador

clínico à admissão.

A mortalidade pode chegar a 100% nos casos não tratados

cirurgicamente e quando há miosite.

Os exames radiológicos são úteis, e o diagnóstico diferencial deve ser

feito principalmente com celulite em seu estágio inicial. O tratamento, que deve

ser precoce, é feito com antibióticos de amplo espectro, debridamento cirúrgico

agressivo e medidas de suporte clínico e nutricional.

Algumas modalidades terapêuticas têm sido associadas com melhora do

prognóstico. A administração de clindamicina, isoladamente ou em combinação

com a penicilina, tem sido associada com diminuição da mortalidade quando

comparada com outros antibióticos.

Síndrome do Choque Tóxico Estreptocócico (SCT)

Embora a incidência de doenças graves por S. pyogenes tenha

declinado uniformemente após o advento de antibióticos, essa tendência

mudou dramaticamente no final da década de 1980, quando infecções

caracterizadas por toxicidade multissistêmica foram relatadas. Vários fatores

têm sido sugeridos para explicar esse aumento, incluindo o aparecimento de

estirpes mais virulentas, maior número de pacientes com condições que

interferem com o sistema imunológico e alterações na comunidade que

facilitam a transmissão do estreptococo.

A porta de entrada mais freqüente para o Streptococcus β hemoliticus do

grupo A é a pele e as membranas mucosas, embora em cerca de 45% das

situações não seja possível identificar uma porta de entrada. A SCT também

pode ocorrer como uma complicação rara de faringite.

A associação entre varicela, uso de anti-inflamatórios não esteróides e

fasciíte necrosante por Streptococcus pyogenes tem sido discutida sem que se

tenha chegado a um consenso, no entanto o uso de anti-inflamatórios não

esteróides é, por alguns autores, desaconselhado nesta infecção vírica. A

Page 18: Apostila Streptococcus Completa

ocorrência de choque e falência multiorgânica no início da infecção caracteriza

a SCT e ajuda a diferenciá-la de outro tipo de infecções invasivas.

A SCT por Streptococcus β hemoliticus está associada a elevada

mortalidade, cerca de 30%, havendo maior risco em idades inferiores a cinco

anos e superiores a sessenta e cinco anos, em pacientes com diabetes

mellitus, doenças pulmonares ou cardíacas crônicas e imunodeficiências, e

quando há hipotensão ou a doença atinge múltiplos órgãos.

Os mecanismos patogênicos da SCT por estreptococo ainda não são

totalmente conhecidos, mas foi sugerida a associação com as exotoxinas

pirogênicas, que são também as responsáveis pelo exantema da escarlatina, e

que pertencem ao grupo dos superantígenos que são capazes de estimular a

proliferação e a ativação dos linfócitos T e macrófagos resultando na produção

de grandes quantidades de citocinas. É a ação das citocinas que leva ao

choque e a necrose tecidual.

Os pacientes com essa síndrome inicialmente experimentam uma

inflamação do tecido mole no sítio da infecção, dor e sintomas inespecíficos

como febre, calafrios, mal-estar, náuseas, vômito e diarréia. A dor se intensifica

à medida que a doença progride para o choque e a falência dor órgãos (p. ex.,

rins, pulmões, fígado, coração) – características semelhantes àquelas da

síndrome do choque tóxico estafilocócico. No entanto, os pacientes com a

doença estreptocócica têm bacteremia e a maioria tem fasciite necrosante.

As cepas de S. pyogenes responsáveis por essa síndrome, diferem das

cepas que causam faringite, uma vez que a maioria das que causam a

síndrome do choque tóxico pertencem aos sorotipos M 1 ou 3, e muitas

apresentam uma cápsula de mucopolissacarídio ácido hialurônico proeminente

(cepas mucóides). Outra característica proeminente destes microorganismos é

a produção de exotoxinas pirogênicas, particularmente SpeA e SpeC.

A evolução da doença é muitas vezes dramaticamente rápida, sendo

necessário um elevado grau de suspeita para um pronto diagnóstico e início da

terapêutica apropriada.

A varicela é um fator de risco importante para as infecções invasivas

pela bactéria em crianças previamente saudáveis. Esta associação parece ser

explicada pelo fato da varicela lesar a integridade da pele e das membranas

Page 19: Apostila Streptococcus Completa

mucosas criando assim uma porta de entrada, mas também pela

imunodepressão transitória causada pelo próprio vírus.

Outra associação importante referida na literatura é o uso de anti-

inflamatórios não esteróides (AINES) e o desenvolvimento de fasciíte

necrosante por Streptococcus β hemoliticus do grupo A. Os AINES diminuem a

atividade granulocítica e a produção de citocinas mascarando os sinais de

progressão da doença como febre, dor e sinais inflamatórios locais, o que leva

a atraso no diagnóstico. Há autores que aconselham prudência no uso de

AINES na varicela.

A penicilina mantém-se o tratamento de escolha para o Streptococcus β

hemoliticus do grupo A. No entanto modelos animais com miosite

estreptocócica têm verificado uma diminuição da eficácia da penicilina devido

ao baixo ritmo de replicação da bactéria quando o inóculo é grande. Como a

clindamicina inibe a síntese proteica, a sua eficácia não é afetada por este

fenômeno. Atualmente recomenda-se a terapêutica conjunta com penicilina e

clindamicina nas infecções graves por Streptococcus β hemoliticus do grupo A.

Outras Doenças Supurativas

O S. pyogenes tem sido associado a uma variedade de outras infecções

supurativas, incluindo sepse puerperal, linfangite e pneumonia. Embora estas

infecções ainda possam ser observadas, tornaram-se menos comuns após a

introdução de terapia antibiótica.

Bacteremia

O S. pyogenes é um dos mais comuns estreptococos β-hemolíticos

isolados em hemoculturas. Os pacientes com infecções localizadas como

faringite, pioderma e erisipela raramente têm bacteremia. No entanto, as

culturas de sangue de pacientes com fasciite necrosante ou síndrome do

choque tóxico são positivas para o microorganismo; a mortalidade nesta

população de paciente se aproxima de 40%.

Doenças Estreptocócicas Não-supurativas

Page 20: Apostila Streptococcus Completa

Febre Reumática (FR)

A FR é uma doença inflamatória difusa, não supurativa, do tecido

conectivo, que ocorre como complicação tardia pós-infecção das vias aéreas

superiores pelo estreptococo do grupo A de Lancefield. Comporta-se como

afecção crônica com surtos agudos recorrentes. Trata-se de uma doença

sistêmica que acomete caracteristicamente as articulações, a pele, tecidos

subcutâneos, sistema nervoso central (SNC) e o coração, podendo levar a

cardites graves e até ao óbito. O envolvimento do coração se manifesta como

uma pancardite (endocardite, pericardite, miocardite) e está frequentemente

associado a nódulos subcutâneos. Pode ocorrer um dano crônico e progressivo

das válvulas cardíacas. As manifestações nas articulações podem variar de

artralgias a artrite franca, com envolvimento de múltiplas articulações num

padrão migratório (i.e., mudanças de envolvimento de uma articulação para

outra).

A fase aguda da FR é caracterizada por processo inflamatório agudo

necessitando de internação clínica e, em alguns casos, de intervenções

cirúrgicas. O manejo clínico dos pacientes na fase aguda está bem

estabelecido, sendo o suporte para a vida e a redução da sintomatologia,

medidas essenciais para controlar as manifestações tóxicas da doença.

Durante a fase crônica pode-se desenvolver a Doença Reumática Valvar

Crônica (DRVC), que se instala de 10-20 anos após o surto inicial, um

processo que acomete preferencialmente as válvulas cardíacas,

comprometendo suas funções. Na DRVC não há evidências para tratamento

específico senão a prevenção primária após o surto inicial agudo a ser

realizada com agentes antimicrobianos como a penicilina.

Sua incidência é mais observada em crianças, adolescentes e jovens em

sua fase mais produtiva, levando a incapacitação para o trabalho, onerando

assim o sistema previdenciário. Alguns estudos têm demonstrado a presença

de inflamação continuada nos pacientes com DRVC, porém a fisiopatogenia do

processo ainda não foi bem elucidada. Vários são os mecanismos

responsáveis por desencadear o processo inflamatório na doença, dentre os

quais incluem-se: exacerbação da imunidade celular e humoral e ativação do

Page 21: Apostila Streptococcus Completa

sistema complemento. O estudo de todos estes 2 fatores é importante para que

haja maior compreensão da doença, principalmente na sua fase crônica.

O estresse oxidativo vem sendo observado em diversas doenças que

cursam com processos inflamatórios e imunológicos associados. A oxidação de

diversas moléculas como proteínas, lipídios, açúcares e ácido

desoxirribonucléico (DNA), têm sido associados a diferentes enfermidades

como: insuficiência renal, doenças neurológicas, reumatológicas e cardíacas.

A incidência de febre reumática nos Estados Unidos diminuiu de um pico

de mais de 100.000 casos por ano relatados em 1961 a 122 casos relatados

em 1994 (o último ano de notificação compulsória). Ao contrário, em países em

desenvolvimento, é muito mais comum, com uma estimativa de 100 casos por

100.000 crianças por ano. Tipos M específicos (p. ex., tipos 1, 3, 5, 6 e 18)

causam a doença. A febre reumática está associada a faringite estreptocócica,

mas não com infecções estreptocócicas cutâneas. Como poderia ser esperado,

as características epidemiológicas da doença são semelhantes àquelas da

faringite estreptocócica. Embora a doença ocorra mais comumente em

pacientes com faringite estreptocócica grave, até um terço dos pacientes

podem apresentar infecções brandas ou assintomáticas. A febre reumática

pode sofrer reicidiva com infecção estreptocócica subseqüente se não for

usada profilaxia antibiótica. O risco para recorrência diminui com o tempo.

Como nenhum teste diagnóstico específico pode identificar pacientes

com febre reumática, o diagnóstico é feito com base nos achados clínicos e em

evidências documentadas de uma infecção recente por S. pyogenes, como (1)

resultados de cultura, (2) detecção de antígenos do grupo A, ou (3) uma

elevação dos anticorpos antiASO, antiDNase B, ou anti-hialuronidase. A

ausência de títulos seria uma forte evidência contra febre reumática.

Glomerulonefrite

A glomerulonefrite ocorre cerca de três semanas após a infecção por

estreptococo do grupo A de sorotipo nefritogênico. A doença afeta cerca de

15% dos indivíduos infectados, embora muitos casos sejam subclínicos e se

resolvam. É uma rara complicação da infecção estreptocócica, que pode

seguir-se a faringites (comumente no inverno) ou infecções cutâneas

Page 22: Apostila Streptococcus Completa

(comumente no verão), causadas principalmente pelo sorotipo M12. Epidemias

de impetigo causadas por sorotipos nefritogênicos resultam na alta incidência

de glomerulonefrite em crianças, cuja freqüência é maior entre os meninos. As

características epidemiológicas da doença são semelhantes àquelas da

infecção estreptocócica inicial.

Na glomerulonefrite pós-estreptocócica, anticorpos são formados contra

um antígeno estreptocócico implantado no glomérulo durante a infecção.

Ocorre alteração da permeabilidade da membrana glomerular, permitindo a

deposição dos complexos imunes pré-formados. O antígeno estreptocócico

pode estabelecer reação cruzada com estruturas glomerulares ou diretamente

ativar o complemento com subseqüente atração de células inflamatórias.

Neutrófilos são atraídos ao glomérulo por produtos da ativação do

complemento. Os depósitos imunes iniciam a glomerulonefrite difusa

proliferativa, afetando as células mesangiais e endoteliais.

A maioria dos pacientes apresenta a síndrome nefrítica aguda incluindo

hematúria com urina escura, proteinúria, sedimento urinário, retenção líquida,

edema, hipertensão com redução da função renal, dor de cabeça, anorexia,

náusea e vômito. A sorologia mostra aumento dos títulos de anticorpos anti-

estreptolisina, mas sua ausência não exclui o diagnóstico, pois alguns sorotipos

nefritogênicos não produzem estreptolisina. O diagnóstico é determinado

com base na apresentação clínica e na descoberta de evidência de infecção

recente por S. pyogenes.

A antibioticoterapia não parece influenciar a progressão da

glomerulonefrite aguda. Na ausência de falência renal aguda somente a terapia

de suporte com agentes anti-hipertensivos e diuréticos para o controle da

pressão sanguínea e da retenção de líquidos é necessária. Os pacientes

jovens geralmente se recuperam prontamente. Cerca de 95% dos pacientes se

recuperam espontaneamente com retorno da função renal normal dentro de

três a quatro semanas e sem seqüelas. Quando há atraso na resolução da

doença, falência renal severa e progressiva, dor nas articulações,

hepatoesplenomegalia e febre persistente podem ocorrer, então a biópsia é

indicada para assegurar que não existe uma causa mais séria para a doença.

Casos isolados de encefalopatia hipertensiva têm sido causados por

Page 23: Apostila Streptococcus Completa

glomerulonefrite assintomática, indicando o largo espectro da doença pós-

estreptocócica.

Diagnóstico Laboratorial

Microscopia

A coloração de Gram de espécimes de tecido afetado pode ser usada

para fazer um rápido diagnóstico preliminar de infecções de tecidos moles ou

pioderma por S. pyogenes. Como os estreptococos não colonizam

normalmente a superfície da pele, a observação de cocos Gram-positivos aos

pares e cadeias em associação a leucócitos é importante. Ao contrário, os

estreptococos são parte da microbiota da orofargine, assim sua presença em

espécime respiratório de um paciente com faringite tem pouco valor preditivo.

Cultura

Apesar da dificuldade de coletar

swabs da orofaringe de crianças, o espécime

deve ser obtido a partir da orofaringe

posterior (p.ex., tonsilas). Poucas bactérias

estão presentes nas áreas anteriores da

boca, e a boca (particularmente a saliva) é

colonizada com bactérias que inibem o

crescimento de S. pyogenes. Portanto, a contaminação, mesmo de um

espécime coletado apropriadamente, pode prejudicar ou suprimir o crescimento

de S. pyogenes. O isolamento de S. pyogenes de paciente com impetigo não é

um problema. A superfície em crosta de lesão é suspensa, e o material

purulento e a base da lesão são usados para a cultura. Espécimes para cultura

não devem ser obtidos de pústulas de pele que estejam abertas ou drenando,

porque podem estar superinfectadas com estafilococos. Os microorganismos

são rapidamente isolados nas culturas de tecidos e de sangue obtidas de

pacientes com fasciite necrosante, no entanto, relativamente poucos

Page 24: Apostila Streptococcus Completa

microorganismos podem estar presentes na pele de pacientes com erisipela ou

celulite.

Como discutido previamente, os estreptococos são fastidiosos e

apresenta exigências nutricionais para o crescimento. Antibióticos (p. ex.,

trimethoprim-sulfametoxazol-trimetoprima) podem ser adicionados as placas de

Agar sangue para suprimir o crescimento das bactérias da microbiota oral.

Embora estas placas seletivas sejam úteis, o crescimento de S. pyogenes

nessas placas pode ser retardado e a incubação prolongada (2 a 3 dias) deve

ser usada. Não se tem certeza de que a atmosfera de incubação deve ser

utilizada. Como todas as cepas de S. pyogenes produzem estreptolisina S, o

padrão hemolítico das culturas bacterianas nas placas de Agar sangue pode

ser detectado quando as culturas são incubadas em atmosfera ambiente sem

suplementação com CO2.

Identificação

O S. pyogenes foi historicamente identificado por sua suscetibilidade à

bacitracina. Neste método, um disco saturado com bacitracina é colocado na

superfície de uma placa inoculada com estreptocococs do grupo A, após

incubação por 18 horas, as cepas inibidas pela bacitracina são consideradas

estreptococos do grupo A.

Os estreptococos do grupo A são identificados definitivamente através

de demonstração do carboidrato grupo-específico, uma técnica que não era

prática até a introdução de testes de detecção direta de antígeno.

A diferenciação de S. pyogenes de S. anginosus e todos os outros

estreptococos β-hemolíticos pode ser realizada rapidamente através de

demonstração através da presença da enzima L-pirrolidonil arilamidase (PYR).

Esta enzima hidrolisa a L-pirrolidonil-β-naftilamida, liberando a β-naftilamina,

que é detectada na presença de p-dimetilaminocinamaldeído pela formação de

um composto vermelho. A vantagem deste teste específico é que se leva

menos de um minuto para determinar se a reação é positiva (S. pyogenes) ou

negativa (S. anginosus).

Detecção de Antígenos

Page 25: Apostila Streptococcus Completa

Uma variedade de testes imunológicos usando anticorpos que reagem

com o carboidrato grupo-específico na célula bacteriana pode ser usada para

detectar os estreptococos do grupo A diretamente nos swabs da orofaringe. O

antígeno é extraído através do tratamento do espécime com ácido nitroso ou

pronase por cinco minutos. O extrato é, então, misturado com anticorpos

específicos que estão imobilizados sobre uma membrana filtrante (ensaio

imunoenzimático [EIA, do inglês immunoassay]) ou ligados a partículas de

látex. O desenvolvimento de um indicador positivo no EIA ou de aglutinação

das partículas de látex representam um resultado positivo.

Embora estes testes sejam muito específicos, a sensibilidade é baixa

(provavelmente não melhor que 90%); portanto, todos os resultados negativos

devem ser confirmados pela cultura. Uma sonda de ácidos nucléicos altamente

específica e sensível também está disponível para a identificação direta de S.

pyogenes em espécimes clínicos.

Detecção de Anticorpos

Os pacientes com doença por S. pyogenes produzem anticorpos para

muitas enzimas específicas. Embora os anticorpos contra proteína M sejam

produzidos e importantes para manutenção da imunidade, esses anticorpos

aparecem tarde durante a evolução clínica de doença e são tipo-específicos.

Ao contrário, a medida de anticorpos contra a estreptolisina O (o teste ASO) é

útil para confirmar febre reumática ou glomerulonefrite aguda resultante de uma

infecção estreptocócica de orofaringe recente. Estes anticorpos aparecem 3 a 4

semanas após exposição inicial ao microorganismo e então persistem.

Um título de ASO elevado não é observado em pacientes com pioderma

estreptocócico. A produção de outros anticorpos antienzimas estreptocócicas,

particularmente DNase B tem sido documentada em pacientes com pioderma e

faringite estreptocócicos. O teste antiDNase B deve ser realizado quando se

suspeita de glomerulonefrite estreptocócica.

Utilização de marcadores moleculares na identificação de sorotipos de S.

pyogenes

Page 26: Apostila Streptococcus Completa

Surtos de doenças infecciosas freqüentemente resultam de exposição a

uma fonte comum do agente etiológico, em que os microrganismos envolvidos

são clonalmente relacionados. Entretanto, existe diversidade no nível de

espécie, e microrganismos isolados de diferentes fontes, em diferentes tempos

e diferentes regiões geográficas, podem ser diferenciados ou classificados

dentro de sorotipos.

Os sistemas de tipagem sorológica baseados na superfície exposta da

proteína M permitem estabelecer relação entre os sorotipos de estreptococos

do grupo A com as doenças que eles causam. O reconhecimento do antígeno

T também tem sido útil, embora os antígenos T não sejam específicos. A

sorotipagem por antígenos M e/ou T pode distinguir entre recorrências

causadas por uma nova linhagem de S. pyogenes e a persistência de uma

linhagem original, porém, muitas linhagens não podem ser tipadas devido à

falta de anti-soro tipo-específico apropriado. A sorotipagem destes antígenos

pode ser insuficiente para diferenciação clonal em estudos epidemiológicos, ao

passo que técnicas moleculares podem identificar linhagens dentro de um

mesmo sorotipo sendo, portanto, indispensáveis para a elucidação de surtos.

Em anos recentes, vários estudos epidemiológios envolvendo S.

pyogenes têm utilizado métodos moleculares, como Restriction Endonuclease

Analysis (REA), Ribotyping, tipagem do gene emm, PFGE (Pulsed-field gel

electrophoreis) e RAPD (Random amplified polymorphic DNA). Estas técnicas

têm mostrado uma boa capacidade de diferenciação entre vários clones de

estreptococos do grupo A porém, a maioria destes métodos requer muito

tempo, e são caros, além de tecnicamente exigentes.

Muitas técnicas moleculares usadas para tipagem baseiam-se na

separação eletroforética de fragmentos de DNA de diferentes comprimentos

moleculares. O resultado é representado por um padrão de bandas em um gel.

É uma técnica que apresenta facilidade com a qual os padrões são

interpretados e relacionados, bem como praticidade, facilidade técnica, custo e

tempo.

O seqüenciamento do gene emm, que codifica a proteína M, é utilizado

para a caracterização de sorotipos de estreptococos do grupo A. Uma vez que

as seqüências emm 5’ podem ser eficiente e confiavelmente utilizadas para

Page 27: Apostila Streptococcus Completa

identificar sorotipos M, este sistema de tipagem é uma ferramenta molecular

epidemiológica com a qual se pode investigar e monitorar a diversidade dos

isolados.

MLST utiliza seqüências internas de loci housekeeping, que são

comparadas para caracterizar os isolados, enquanto ribotyping, ou tipagem do

DNA ribossomal, é uma variação de RFLP-Southern blotting, na qual as probes

15 são derivadas de genes do rRNA 16S e 23S.

A eletroforese em campo pulsado, ou PFGE, envolve a lise bacteriana in

situ e utiliza enzimas de restrição para clivar o DNA. Os fragmentos de DNA

cromossomal são submetidos à eletroforese, na qual a direção da corrente

elétrica é mudada em intervalos pré-determinados e os padrões dos

fragmentos de DNA resultantes são comparados. PFGE também é amplamente

utilizado nas investigações epidemiológicas envolvendo S. pyogenes e seus

resultados mostram correlação com os tradicionais métodos de sorotipagem da

proteína M e T, além de distinguir os isolados pertencentes ao mesmo tipo M.

RAPD, também chamado Arbitrary Primed PCR (AP-PCR), é mais fácil,

rápido e menos oneroso que outros métodos de tipagem molecular e tem sido

utilizado na resolução de assuntos epidemiológicos envolvendo estreptococos

do grupo A. O método recebe atenção por sua simplicidade, rapidez e por

requerer mínimas quantidades de DNA genômico. A estratégia básica envolve

a amplificação de fragmentos ao acaso do DNA genômico, com um único

primer de seqüência arbitrária. A ligação do primer ao DNA é favorecida pela

baixa temperatura de anelamento. Os múltiplos produtos de PCR são

separados de acordo com o tamanho por eletroforese em gel de agarose. Os

padrões de RAPD resultantes de diferentes isolados podem então ser

comparados. Polimorfismos entre sorotipos são detectados como diferenças

entre os padrões de fragmentos de DNA amplificados. RAPD é uma ferramenta

que possibilita a diferenciação entre sorotipos.

O uso de um único primer no RAPD permite reconhecimento apropriado

de um amplo número de sorotipos de estreptococos do grupo A, mas a

eficiência do RAPD pode ser aumentada pelo uso paralelo de vários primers. A

otimização das condições da PCR é de grande importância para a

maximização do poder discriminatório do RAPD. Os padrões de RAPD

produzidos são altamente dependentes das condições específicas da reação e

Page 28: Apostila Streptococcus Completa

da concentração dos reagentes. Variações na temperatura de anelamento, a

proporção da concentração primer-DNA e a concentração de magnésio afetam

os resultados. As sensibilidades dos diferentes primers à variações nestes

parâmetros pode ser 16 diferente. Até mesmo o uso de um termociclador

diferente pode causar variação.

Tratamento, Prevenção e Controle

O S. pyogenes é muito sensível à penicilina. A eritromicina ou uma

cefalosporina oral pode ser usada em pacientes com um histórico de alergia a

penicilina. No entanto, esta terapia é ineficaz em pacientes com infecções

mistas que envolvem Staphylococcus aureus. O tratamento nestes casos deve

incluir oxacilina ou vancomicina. Os novos macrolídios (p. ex., azitromicina,

claritromicina) não são mais efetivos do que a eritromicina, e a utilidade das

tetraciclinas e sulfonamidas é limitada por causa da resistência ou fraca

resposta clínica. O debridamento cirúrgico agressivo e a drenagem devem ser

prontamente iniciados em pacientes com infecções sérias de tecidos moles.

O estado portador persistente na orofaringe pode ocorrer após uma

terapia longa. Este estado pode vir de um mau uso pelo paciente da duração

da terapia prescrita, reinfecção com uma nova cepa, ou de estado de portador

persistente em um foco infeccioso seqüestrado. Aos pacientes que portam o

microorganismo na orofaringe, pode ser dado um tempo adicional de

tratamento porque a resistência à penicilina não foi observada em cepas

isoladas desses pacientes. Se o estado de portador persistir, um tratamento

repetido não é indicado, porque a terapia antibiótica prolongada pode perturbar

a flora bacteriana normal. A terapia antibiótica em pacientes com faringite

acelera o alívio dos sintomas e, se iniciada em 10 dias da doença clínica inicial,

previne a febre reumática.

Page 29: Apostila Streptococcus Completa

Streptococcus agalactiae

Reconhecido em 1920 como agente causador de mastite bovina, doença

que deu o nome a bactéria. A espécie Streptococcus agalactiae é a única que

possui o antígeno do grupo B. Geralmente coloniza o trato gastrointestinal e o

trato geniturinário de adultos saudáveis. Esses não apresentam sintomatologia

de infecção por S. agalactiae, mas sobre certas circunstâncias, ambientais e do

hospedeiro, o patógeno passa a apresentar capacidades invasivas e de evasão

de imunidade, sendo por isso causador de doenças de sério risco de vida.

Mas o S. agalactiae é conhecido, principalmente, por infectar neonatos e

mulheres grávidas, sendo mais notório, no período próximo ao parto, causando

nos recém nascidos sepse, meningite e pneumonia.

O desenvolvimento de infecções por estreptococo do grupo B reflete o

sucesso da colonização do epitélio vaginal, penetração das barreiras

placentárias, evasão da imunidade, aquisição de nutrientes e capacidade de

romper a barreira hematoencefálica, expressando assim diversos fatores de

virulência os quais mediam a interação com a célula hospedeira e interferem

nos mecanismo da imunidade inata.

A patogenicidade desse estreptococo é um modelo de grande valor para

analisar infecções causadas por patógenos encapsulados e analisar infecções

no período perinatal.

ESTRUTURA

São cocos gram-positivos que apresentam uma cápsula polissacarídea,

diversas proteínas de superfície. Suas colônias apresentam um aspecto

cremoso e uma zona estreita de β hemólise.

Page 30: Apostila Streptococcus Completa

Podem ser caracterizados por: (1) antígeno polissacarídeo de parede

celular grupo específico; (2) polissacarídeos tipo específicos; (3) proteína de

superfície.

Cápsula Polissacarídea e Sorotipos

O Streptococcus agalactiae apresenta uma cápsula de polissacarídeo. A

tipação capsular é muito importante epidemiologicamente além de ser o maior

fator de virulência com atividade antifagocitária.

Os sorotipos capsulares conhecidos são: Ia, IB, II, III (clássicos,

identificados por Lancefield), V, VI e VIII.

Genômica

Foram identificadas sequências genômicas para os sorotipos III e V, e

em ambas há aproximadamente 15 regiões dispersas ao longo do genoma, as

quais contém genes para muitas proteínas de superfície, supostos fatores de

virulência e a maioria dos genes codificadores de proteínas únicas a essa

espécie. É importante observar a enorme homologia das proteínas do S.

agalactiae com as proteínas das espécies, Streptococcus pneumoniae e

Streptococcus pyogenes (Figura. 1).

Proteínas de Superfície

FIGURA 1. O Streptococcus agalactiae apresenta 2144 proteínas das quais 683 são únicas a espécie, 1060 apresenta homologia com ambas as outras espécies e 401 homologia com apenas uma das outras espécies.

Page 31: Apostila Streptococcus Completa

Antígeno C

Composto de duas proteínas α e β proteínas, a primeira tripsina

resistente e a segunda tripsina sensível. Cepas que expressam o antígeno c

tem que expressar pelo menos uma das duas proteínas.

Família das Proteínas Alp. (Figura 2)

Identificados quatro membros que são a α proteína, Rib, R28 e a Alp2

proteína. Essa família de proteínas apresentam sequências repetitivas

terminais o que é comum em bactérias Gram-positivas e organismos

superiores. Por essas Características são um modelo para o estudo de

proteínas com sequências repetitivas.

α Proteína (α C Protein, ACP)

É tripsina resistente, essa propriedade é utilizada pra identificação de

cepas que possuem essa proteína. É mais encontrada nos sorotipos Ia, Ib, II e

quase nunca encontrada nos sorotipos III e V.

Proteína Rib

É uma proteína de alto peso molecular que apresenta relação com a α

proteína, sendo também resistente a tripsina, mas a imunização por reação

cruzada não ocorre para essas duas proteínas. É encontrada na maioria das

cepas do sorotipo III, algumas cepos do II e poucas do V.

Proteína R28

Foi identificada primeiramente na espécie Streptococcus pyogenes e sua

caracterização mostra a relação com as proteínas α e Rib. Apresenta

imunização por reação cruzada com a proteína Rib. É expressa nos sorotipos V

e VIII.

Page 32: Apostila Streptococcus Completa

Proteína Alp2

É A proteína mais rara de ser encontrada em cepas dentre as outras

constituintes da família das Alp proteínas. É encontrado em poucas cepas dos

sorotipos Ia, III e V.

C5a Peptidase

Localizada na superfície, é uma protease que inativa o C5a humano o

qual é quimiotático e produzido na ativação do complemento.

Proteína β

É uma proteína sensível a tripsina encontrada em todos as cepas do

sorotipo Ib, na minoria dos sorotipos Ia, II e V e quase nunca em cepas do

sorotipo II.

Proteína Lmb

É uma lipoproteína de superfície.

Outras Proteínas de Superfície

Fbsa proteína (proteína ligante ao fibrinogênio); Proteína Sip; Proteína

Spb1.

FIGURA 2. Proteínas da família Alp que são comumente expressas em cada sorotipo.

Page 33: Apostila Streptococcus Completa

PATOGÊNESE

Fatores de Virulência

(Tabela 1)

Fator de virulência Função

Proteína R28 Ligação a células epiteliais cervicais

C5a peptidase

(ScpB, ScpA)

Cliva o C5a humano inativando-o; inibe a quimiotaxia de

neutrófilos e inibe ativação do complemento; liga-se a

fibronectina.

β proteína Liga-se a Iga-Fc e fator H; adesão a células humana, inibe

ativação do complemento; inibe quimiotaxia de neutrófilos;

Proteína Lmb Adesão e transporte de metais; liga-se a laminina

(controverso) promovendo colonização e invasão tecidual.

FbsA proteína Liga-se ao fibrinogênio.

Spb1 proteína Internalização da bactéria às células do hospedeiro.

Ácido lipoteicóico

(LTA)

Adesão às células epiteliais.

Hialuronidase Degradação da matriz extracelular (MEC).

Pili Adesão e colonização da célula hospedeira

ACP (α proteína) Interação com glicosaminoglicanos.

β-hemolisina Formadora de poros, lise celular.

GBS GAPDH

(Gliceraldeido-3-

fosfato

desidrogenase de

estreptococus do

grupo B)

Ativação do plasminogênio e degradação da MEC.

Ácido Siálico

capsular

Prejudica a opsonização, ativação do complemento e

fagocitose.

Superóxido

desmutase (SodA)

Neutralizador de Ros.

Page 34: Apostila Streptococcus Completa

Pigmento

carotenóide

Neutralizador de Ros.

Glutationa Neutralizador de Ros.

Fatores ativadores

de apoptose

Ativam a apoptose via caspase 3 e cisteína protease

citosólica (clivagem de proções da proteína Bcl-2.

Aderência a Superfície Epitelial do Hospedeiro

(figura 3)

A patogênese, por Streptococcus do grupo B (GBS), pode ser

evidenciada primariamente pela colonização assintomática do hospedeiro,

principalmente o trato urogenital de mulheres e o trato gastrointestinal. O

Streptococcus agalactiae liga fortemente às células epiteliais da vagina em

condições de pH ácido, o que é normal na mucosa vaginal. Isso ocorre pela

fraca adesividade à membrana pelo ácido lipoteicóico (LTA) e a interações de

grande afinidade mediada pelas proteínas superficiais hidrofóbicas.

A ScpB (C5a peptidase) liga-se a fibronectina e é importante na

aderência às células hospedeiras. A aderência a laminina depende da proteína

Lmb. Em cada caso essa interação receptor-ligante ajuda o estreptococo do

grupo B a aderir a células epiteliais. Recentemente foi descoberto que o GBS

apresenta pili componente que é mais estudado em bactérias gram-negativas,

onde são responsáveis pela adesão e colonização de células humanas, é

considerado que o pili apresenta a mesma função no Streptococcus agalactiae.

Invasão através das Barreiras Epiteliais

(figura 3)

O GBS secreta toxinas e fatores de virulência de superfície (invasinas)

que promovem a entrada e sobrevivências com as células hospedeiras.

Ultimamente é mostrado que o Streptococcus agalactiae apresenta um nicho

Page 35: Apostila Streptococcus Completa

de sobrevivência intracelular, este pode ser quebrado e causar danos ao tecido

do hospedeiro e ativar uma resposta inflamatória.

O GBS também produz a hialuronidase enzima capaz de degradar a

matriz extracelular (MEC). A adesão do FbsB, Lmb e ScpB com a MEC é

importante na invasão tecidual. A interação de ACP com glicosaminoglicanos

promove a internalização da bactéria. O dano celular resulta da ação da β-

hemolisina, uma toxina formadora de poros que lisa epitélio pulmonar, células

endoteliais e compromete as barreiras do hospedeiro. GBS mutantes

desprovidos de β-hemolisina são menos ábeis de penetrar nas barreiras

pulmonares e produzir infecções sistêmicas, quando comparadas a tipos

selvagens. O estreptococo do grupo B pode ligar-se a resíduos de lisina do

plasminogênio do hospedeiro através do GAPDH.

FIGURA 3As proteínas de superfície Fbs A/B, ScpB, Pili, Bib A, LTA e ACP mediam a ligação às células epiteliais, à MEC, fibrinogênio e fibronectina. A β hemolisina promove a invasão.

Page 36: Apostila Streptococcus Completa

Resistência a Imunidade Inata

(figura 4)

Assim que a atravessa as barreiras epiteliais ou alcança tecidos

profundos, o sistema imune do hospedeiro é ativado para acabar com a

infecção para que isso ocorra com eficiência é necessário que haja anticorpos

específicos e ativação do complemento. Isso é quantitativamente e

qualitativamente deficiente em recém nascidos, mais ainda em prematuros.

A ligação ao fator H pelo GBS é um fator de evasão da imunidade, a

cápsula sializada é um fator anti-fagocítico por prejudicar a deposição de

fatores do complemento na bactéria. Por isso o Streptococcus agalactiae

mutante deficiente em ácido siálico são mais facilmente mortos por neutrófilos.

A redução de C3 (dependente de ácido siálico) junto com a clivagem do

C5a pela ScpB reduz a quimiotaxia de neutrófilos. A ligação da β proteína ao

fator H e a IgA prejudica a deposição de C3b na superfície bacteriana.

Quando englobado o GBS sofre ação de espécies reativas de oxigênio

(ROS), porém são resistentes a esses, pois produz glutationa, superóxido

desmutase e pigmentos carotenóides, esses sistemas são capazes de

metabolizar e inativar as ROS.

A indução da apoptose um mecanismo alternativo de defesa,

dependente da ativação da caspase-3 ou por ativação de cisteínas proteases

citosólicas que clivam a proteína Bcl-2.

FIGURA 4

Page 37: Apostila Streptococcus Completa

Ativação Inflamatória e Sepse

Quando ocorre rompimento das barreiras epiteliais e evasão da resposta

imune o GBS estabelece um bacteremia, e isso ocorrendo há liberação de

citocinas pró-inflamatórias por células epiteliais danificadas, por quebra da

MEC, por macrófagos locais ( IL-1, IL-6, TNF-α), causando um processo

inflamatório sistêmico e conseqüências sistêmicas disso, podendo resultar em

choque.

SÍNDROMES CLÍNICAS

Doença Neonatal de Início Precoce

Page 38: Apostila Streptococcus Completa

Aproximadamente 80% das infecções em neonatos por Streptococcus

aaglactiae ocorrem antes de uma semana de vida, e são chamadas de

infecções de início precoce. (figura 5)

Os neonatos com doença de início precoce adquirem o microorganismo

de suas mães, que apresentam colonização assintomática por GBS, durante o

parto. A maioria dessas infecções ocorrem com o espalhamento crescente da

bactéria no líquido amniótico e posterior aspiração, pelo recém nascido, desse

fluido contaminado. Também pode ocorrer infecção por membranas intactas.

As síndromes clínicas encontradas nessa doença são: sepse, meningite,

pneumonia, celulite, osteomielite, e atrite séptica. Infecções sanguíneas com ou

sem pneumonia são observadas em 89% dos casos, meningite é menos

comum ocorrendo em aproximadamente 10 % dos casos.

As infecções por GBS podem resultar em morte, sequelas neurológicas

e raramente podem recorrer. Estimativas recentes sugerem que a fatalidade é

de 4 a 6% sendo que na década de setenta, essa estimativa era de 55%, a

essa diminuição deve-se o diagnóstico precoce, medidas profiláticas em

gestantes e antibiótico terapia. As sequelas neurológicas são observadas em

decorrência de meningite e são mais observadas em crianças prematuras.

FIGURA 5. Porcentagem dos casos de infecções em recém nascidos. Notar que aproximadamente 80% ocorre antes de uma semana de vida. E dos casos de infecções de início precoce aproximadamente 80% ocorre antes da criança completar um dia de vida.

Page 39: Apostila Streptococcus Completa

Doença Neonatal de Início Tardio

A patogênese da doença de início tardio é menos conhecida, mas

alguns casos provavelmente refletem a aquisição do microorganismo durante

passagem pelo canal do parto, e 50% das mães com filhos infectados

apresentam a mesmo sorotipo GBS que o causador da infecção na criança.

Infecções nasocomiais e de comunidade possivelmente também estão

envolvidos nessas infecções. Essa doença ocorre após uma semana de vida

até dois meses e 3 meses de vida.

Síndromes clínicas incluem: sepse, meninginte, pneumonia, celulite,

osteomielite e artrite séptica.

Enquanto houve um declínio na incidência de infecções de início

precoce a incidência de doenças tardia permanecem constantes.

Infecções na Mulher Grávida

GBS infecta mulheres grávidas e causam desde brandas infecções no

trato urinário até doença que oferecem risco de vida, sepse e meningite.

Infecções por S. aglactiae são causas conhecidas de nascimentos de

crianças mortas, por isso mesmo a mãe tendo um eficiente sistema imune e as

infecções geralmente não serem sérias, é necessário ter cuidado com essas

infecções em gestantes. Inclusive alguns autores dizem que há relação entre

infecção por GBS e nascimentos prematuros.

Infecções em Homens e Mulheres Não Grávidas

A incidência de doenças invasivas em homens e mulheres não grávidas

vem crescendo, por, principalmente duas razões: (1) um aumento da

prevalência de cepas virulentas; (2) e um aumento do número de adultos que

apresentam doenças crônicas.

As síndromes clínicas são apresentadas na tabela 2. Quando há

infecção por GBS e há bacteremia de causa conhecida, a mortalidade é de

31%.

Page 40: Apostila Streptococcus Completa

EPIDEMIOLOGIA

Fatores de Risco

Doença Neonatal de Início Precoce e de Início Tardio

Entre 15 e 35% das mulheres grávidas são colonizadas por GBS no trato

genital e/ou no reto, porém a incidência de neonatos que desenvolvem a

doença é de 1 a 2 por 1000 nascimentos.

Fatores de risco para a infecção de início precoce estão descrito na

tabela 3. Os principais fatores que aumentam o risco do recém nascido são: (1)

suscetibilidade do hospedeiro, (2) grande quantidade de microorganismos no

trato genital materno.

A virulência do sorotipo III está relacionada a sua ocorrência quando há

meningite e em infecções de início tardio, a prevalência de algum cepa

causando doença de início precoce não é vista já que essa é causada por

diversos sorotipos.

Page 41: Apostila Streptococcus Completa

A susceptibilidade do recém nascido aumenta quando o nível de

anticorpos-anticapsular materno, contra o sorotipo infectante, é baixo.

Infecções na Mulher Grávida

Os fatores de risco maternos podem aumentar siguinificavelmente a

probabilidade de doenças em neonatos. GBS bacteriuria durante a gestação,

ruptura prematura das membranas fetais, febre durante o parto, tachas

Incidência de doença de início precoce e de início tardio nos EUA ao longo do tempo. AAP - American academy of pediatrics; ACOG – American college of obstetrician and gynecologists. As setas indicam quando foram instruídas diretrizes na profilaxia da doença de início precoce.

TABELA 3

Page 42: Apostila Streptococcus Completa

sanguíneas de anticorpos-anicapsulares baixas e história de filho que já teve

doença de início precoce são fatores de risco e para que o neonato não

desenvolva a doença devem ser tomadas medidas profiláticas.

Infecções em Homens e Mulheres Não Grávidas (tabela 4)

Essas infecções acometem hospedeiros imunudeficientes, debilitados,

com doenças crônicas (diabetes mellitus e câncer). O risco de uma infecção

invasiva em diabéticos é de catorze vezes o risco de adultos saudáveis serem

infectados.

O gráfico 1 mostra a incidência das doença invasivas por GBS de acordo

com a idade.

TABELA 4

GRÁFICO 1

Page 43: Apostila Streptococcus Completa

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL

Cultura

O material de cultura de ser coletado de um swab vaginal e um anal. O

S. agalactiae cresce facilmente em meio enriquecido. A β hemólise às vezes

está ausente ou pode ser de difícil visualização. É bom selecionar o meio para

suprimir o crescimento de outras bactérias, pode-se usar caldo LIM com

colistina e ácido naçidíxico.

O médico pedinte do exame tem que especificar o propósito do exame, e

tomar medidas de coleta e transporte do material adequadas, por exemplo o

material de coleta não pode ser do cérvice.

Detecção do Antígeno

O objetivo desse exame é detectar o antígeno grupo específco, são

utilizados os seguintes métodos: coaglutinação estafilocócica, aglutinação com

látex e EIA. Esses teste são muito insensíveis para serem usados como meios

de triagem em mulheres grávidas.

PCR

A reação em cadeia polimerase é utilizada para detectar ácidos

nucléicos. Há dois testes disponíveis nos EUA, um produzido recentemente

Métodos de detecção em um grupo de pacientes (mulheres não grávidas), de acordo com as técnicas laboratoriais.

Page 44: Apostila Streptococcus Completa

mas que apresenta praticamente os mesmos valores do que o primeiro teste

aprovado pelo FDA. Tabela 5.

TRATAMENTO

A penicilina G é a droga de escolha, o S. agalactiae, pode apresentar

tolerância a essa droga e por isso pode ser associada a um aminoglicosídeo.

Pacientes alérgicos a penicilina, é utilizado a vancomicina como terapia

alternativa.

PREVENÇÃO E CONTROLE

Page 45: Apostila Streptococcus Completa

A figura 6 mostra o padrão de prevenção das doenças neonatais, esse é

focado principalmente em uma quimioprofilaxia dada a gestante de acordo com

os fatores de risco.

Após a introdução dessa quimiprofilaxia a incidência das doenças

neonatais caiu drasticamente o q pode ser observado no gráfico x.2.

Vacina

FIGURA 6

Page 46: Apostila Streptococcus Completa

Os anticorpos anticapsulares promovem uma imunidade protetora, essa

informação combinada com o uso eficaz da vacina polissacarídea

penumocóccica em adultos, sugerirram que o uso de um vacina em mulheres

grávidas poderia proteger recém nascidos, essa vacina seria baseada na GBS

polissacarídeo purificado. Porém foi constatado que esses polissacarídeos são

pobremente imunogênicos.

Verificou-se que a vacina conjugada com o toxóide-tetânico, estudo em

animais, aumentou a imunidade, isso indica que a prevenção perinatal pode ser

feita com a imunização por essa vacina.

A partir do desenvolvimento dessa vacina, vem sendo tentado a

produção de novas vacinas.

O licenciamento dessa vacinas é de grande dificuldade pois afeta fatores

éticos ao tentar testar as vacinas em mulheres grávidas.

RELATO DE CASOS

Uma Recém Nascida com Lesões Epiteliais

Recém nascida com rash cutâneo presente ao nascimento. Gravidez

sem complicações. Mãe apresentava anticorpos contra rubéola e HSV. A

criança apresentava lesões pustulares de pele. Cultura retrovaginal da mãe foi

positiva para GBS.

Page 47: Apostila Streptococcus Completa

Endocardite Infecciosa Causada por Streptococcus agalactiae

Homem, 39 anos, não apresentava fatores de risco para infecção por

GBS, internado no hospital após 3 dias de febre, seguido de ataxia, vertigem e

diplopia. Paciente estava sonolento, discreta hemiparesia da face. Ausculta

revelou intenso murmúrio mesosistólico na área da aorta que irradiava até o

pescoço. Hematócrito apresentava neutrofilia. Função hepática normal. LCE

com presença de PMN e mononucleares, cultura negativa. Cultura sanguínea

positiva para Streptococcus agalactiae sensível a ampicilina, penicilina,

resistente a vancomicina.

Outros Estreptococos Beta-Hemolíticos

Page 48: Apostila Streptococcus Completa

Os grupos C, F e G são os mais comumente associados a doenças

humanas entre os outros estreptococos beta-hemolíticos. Particularmente

importantes, são os microrganismos do grupo dos Streptococcus anginosus

(dentro do qual estão S. anginosus, S. constellatus e S. intermedius) e o

Streptococcus dysgalactiae. Os microrganismos do grupo dos S. anginosus

podem possuir polissacarídio capsular do grupo A, C, F ou G. O S.

dysgalactiae pode possuir polissacarídio do grupo C ou G. Uma cepa individual

possui apenas um único tipo de antígeno de grupo, o que condiz com o fato de

uma espécie ser um grupo de organismos intimamente relacionados.

Os microrganismos do grupo dos S. anginosus crescem como pequenas

colônias com uma zona estreita de beta-hemólise, nas culturas em placa com

ágar sangue. O crescimento ocorre em dois dias de incubação. As espécies do

grupo dos S. anginosus estão associadas primariamente à formação de

abcessos.

Streptococcus do grupo C. Cultura de S. anginosus, espécie formadora de colônias pequenas.

O S. dysgalactiae cresce como grandes colônias com uma zona ampla

de beta-hemólise, nas culturas em placa com ágar sangue. Esse

comportamento é semelhante ao do S. pyogenes. Assim como o S. pyogenes,

o S. dysgalactiae provoca faringite, algumas vezes, associada à

glomerulonefrite aguda, mas não com febre reumática.

Page 49: Apostila Streptococcus Completa

Streptococcus do grupo C. Cultura de S. dysgalactiae, espécie formadora de colônias grandes.

Outro microrganismo do grupo é o Streptococcus bovis. Lancefield

classificou a cepa original como beta-hemolítica. No entanto, a maioria das

cepas é alfa-hemolítica e não beta-hemolítica, sendo, portanto, reclassificada

como pertencente aos estreptococos viridans. O S. bovis é clinicamente

significante porque as cepas causadoras de bacteremia estão associadas a

neoplasias no cólon.

Page 50: Apostila Streptococcus Completa

Estreptococos Viridans

Os estreptococos viridans formam um grupo heterogêneo de

estreptococos alfa-hemolíticos e não-hemolíticos. O nome viridans é derivado

de viridis (que significa “verde” em latim), pelo fato de várias dessas bactérias

produzirem um pigmento de cor verde no meio ágar sangue no qual são

cultivadas.

Colônias alfa-hemolíticas de Streptococcus mitis

Microbiologistas europeus e americanos não chegaram a um consenso

em relação à nomenclatura taxonômica dessas espécies, o que a torna

confusa. Diferentes nomes de espécies podem ser encontrados na literatura.

Nos Estados Unidos, mais de 20 espécies foram identificadas e são

classificadas em 5 subgrupos.

Grupos Espécies

Anginosus S. anginosus, S. constellatus,

S. intermedius

Mitis S. mitis, S. pneumoniae, S. sanguis,

S. parasanguis, S. gordonii,

S. crista, S. oralis

Page 51: Apostila Streptococcus Completa

Mutans S. mutans, S. sobrinus, S. cricetus,

S. rattus, S. downei, S. macacae

Salivarius S. salivarius, S. vestibularis,

S. thermophilus

Bovis S. bovis, S. alactolyticus,

S. equinus

Não-agrupável S. acidominimus, S. suis

Muitas amostras de estreptococos viridans não possuem um carboidrato

grupo-específico. No entanto, tem sido relatada sua reação com alguns grupos

de carboidratos. Isso ocorre com os membros do subgrupo anginosus e com a

espécie Streptococcus bovis do subgrupo bovis. Deve ser observado que o

Streptococcus pneumoniae é membro do subgrupo mitis dos estreptococos

viridans. O S. pneumoniae é intimamente relacionado às espécies

estreptocócicas viridans, embora seja discutido separadamente.

Como a maioria dos outros estreptococos, as espécies viridans são

nutricionalmente fastidiosas, requerendo meios de cultura complexos

suplementados com produtos sanguíneos e, com frequência, incubação em

atmosfera com mais CO2, de 5% a 10%. Algumas cepas são nutricionalmente

deficientes, crescendo apenas na presença de piridoxal, que é a forma ativa da

vitamina B6. Usualmente, estes microrganismos podem crescer em culturas

com sangue. No entanto, não podem crescer quando são subcultivados, a não

ser que seja utilizado meio suplementado com piridoxal. Dois novos gêneros,

Abiotrophia e Granulicatella, foram criados para reclassificar estas cepas,

embora muitos investigadores se refiram a elas como, simplesmente,

estreptococos nutricionalmente deficientes.

Os estreptococos viridans colonizam a orofaringe, o trato gastrointestinal

e o trato genitourinário. Raramente, são encontrados sobre a superfície da

pele. Os ácidos graxos de superfície são tóxicos para eles. Estes

microrganismos são mais comumente associados a cárie dental, endocardite

subaguda e infecções intra-abdominais supurativas, mas podem também

causar outras variedades de infecções. Embora coletivamente classificadas

como estreptococos viridans, muitas espécies estão associadas a doenças

Page 52: Apostila Streptococcus Completa

específicas. A cárie dental, por exemplo, está associada a S. mutans e S.

sobrinus. A endocardite subaguda está associada a S. gordonii, S. mitis, S.

mutans, S. oralis e S. sanguis. A formação de abcessos está associada a S.

anginosus, S. constellatus e S. intermedius. A sepse em pacientes com

mucosite e neutropenia está associada a S. mitis. As neoplasias do trato

gastrointestinal estão associadas a S. bovis.

Doenças Espécies

Cárie Dental S. mutans, S. sobrinus

Endocardite Subaguda S. mitis, S. sanguis, S. gordonii,

S. oralis, S. mutans

Abcessos S. anginosus, S. constellatus,

S. intermedius

Sepse em mucosite com neutropenia S. mitis

Neoplasias do trato gastrointestinal S. bovis

No passado, a maioria das cepas de estreptococos viridans era

altamente suscetível à penicilina, com MICs de menos de 0,1

micrograma/mililitro. Hoje, no entanto, tornaram-se comuns estreptococos

moderadamente resistentes, com MICs para penicilina de 0,2 a 2

microgramas/mililitro, e estreptococos altamente resistentes, com MICs para

penicilina maiores que 2 microgramas/mililitro. A resistência é particularmente

comum no subgrupo mitis. Infecções com amostras moderadamente

resistentes podem ser tratadas com uma combinação de penicilina e um

aminoglicosídio. Infecções graves causadas por cepas resistentes à penicilina

devem ser tratadas com antibióticos alternativos, como cefalosporinas de

amplo espectro ou vancomicina.

Streptococcus pneumoniae

Page 53: Apostila Streptococcus Completa

Streptococcus pneumoniae, frequentemente referido como pneumococo,

é uma espécie constituída por cocos Gram-positivos que se dispõem aos pares

ou em cadeias curtas. Quando se apresentam aos pares, as bordas adjacentes

são achatadas e as externas lanceoladas, lembrando o formato de chama de

vela. Como as demais espécies do gênero Streptococcus, os pneumococos

são anaeróbios facultativos, não produzem catalase e crescem bem em ágar

sangue e em outros meios ricos. Em ágar sangue, as colônias são α-

hemolíticas e imprimem cor esverdeada ao meio. São auxotróficos para a

colina, um dos principais constituintes da parede celular. Embora seja

encontrado com freqüência no trato respiratório superior de indivíduos normais,

S. pneumoniae é um dos principais patógenos humanos, responsável, em

particular, por infecções graves em crianças e indivíduos idosos.

Streptococcus pneumoniae.

FATORES DE VIRULÊNCIA

Page 54: Apostila Streptococcus Completa

Os principais fatores de virulência de pneumococos incluem a cápsula, a

parede celular e várias proteínas localizadas na superfície da célula ou no

citoplasma.

Cápsula

A cápsula é polímero de alto peso molecular, composto de subunidades

oligossacarídicas repetitivas, cada uma contendo de duas a oito moléculas.

Protege a célula bacteriana da fagocitose e é considerada como o seu principal

fator de virulência. Devido à sua diversidade antigênica estrutural, a cápsula

polissacarídica além de fator de virulência primário, é explorada como alvo nas

reações sorológicas para a identificação e diferenciação de sorotipos. Os

polissacarídeos capsulares são a base da divisão dos pneumococos em mais

de noventa sorotipos distintos. A identificação dos sorotipos é feita por meio de

reações com anti-soros específicos. Para tal, uma das técnicas mais usadas é

a de intumescimento capsular ou reação de quellung. Os loci cap de vários

sorotipos já foram caracterizados, ocupam a mesma posição no cromossomo e

estão sujeitos à variação de fase, que torna os pneumococos mais facilmente

adaptáveis aos diferentes microambientes do organismo (ver adiante). O

polissacarídeo capsular de pneumococos é altamente imunogênico e é

utilizado no preparo das vacinas, pois induz o desenvolvimento de anticorpos,

que conferem proteção contra as infecções pneumocócicas invasivas.

Page 55: Apostila Streptococcus Completa

Estrutura do Streptococcus pneumoniae.

Parede Celular

As estruturas básicas da parede celular dos pneumococos são o

peptideoglicano (PG) e os ácidos teicóico e lipoteicóico. Estes últimos são

quimicamente similares, diferindo em sua ligação com outros constituintes

celulares. O ácido teicóico (também conhecido como substância ou

polissacarídeo C) está ligado aos resíduos de ácido murâmico do PG, e o ácido

lipoteicóico (também conhecido como polissacarídeo ou antígeno F) aos

lipídeos da membrana citoplasmática. Ambos são ricos em resíduos de fosforil-

colina, um álcool aminado muito importante na biologia desses

microrganismos. Além de ser uma molécula-chave no processo de invasão, a

fosforil-colina atua como uma adesina, sendo ainda o sítio de ligação das

proteínas que se ligam à colina ou CBP (cholin binding proteins). Os genes

responsáveis pela adição de colina aos ácidos teicóicos são conhecidos,

sabendo-se também que mutações a seu nível podem ser letais. Resíduos de

colina são também encontrados como constituintes da parede celular de outros

patógenos respiratórios, como Haemophilus, Neisseria e Mycoplasma, o que

Page 56: Apostila Streptococcus Completa

sugere que atuem como elementos de interação com a mucosa respiratória do

hospedeiro.

A parede celular dos pneumococos é um forte indutor de inflamação.

Este fato pode ser observado pela reprodução de sintomas característicos de

pneumonia, otite e meningite, após tratamento de animais de laboratório

apenas com os seus componentes. Assim, esta estrutura como um todo, ou

através de seus componentes, pode ser considerada um importante fator de

virulência e é capaz de exercer efeitos semelhantes aos observados por ação

das endotoxinas de bactérias Gram-negativas.

O ácido teicóico juntamente com o seu complemento de ácido murâmico

é também conhecido como substância C, conforme já mencionado. A proteína

presente no sangue humano, denominada de proteína C reativa, recebeu esta

designação porque tem a capacidade de precipitar, em presença de cálcio, a

substância C de pneumococos. Esta proteína está presente em baixos níveis

no sangue de indivíduos normais, tendo sua concentração aumentada na

vigência de processos inflamatórios.

Proteínas

A análise genômica dos pneumococos sugere a existência de um grande

número de proteínas de superfície, assim como proteínas citoplasmáticas, as

quais podem ser liberadas ou excretadas para o meio extracelular, em níveis

variados. Até o presente, no entanto, somente algumas parecem estar

envolvidas com a virulência da bactéria e têm sido alvo de estudos para a

elucidação da patogênese das pneumococcias e do desenvolvimento de novas

abordagens vacinais para a prevenção destas infecções.

Proteínas que se Ligam à Colina (CBP):

LytA, PspA e CbpA

Já foram identificadas várias proteínas que se ligam aos resíduos de

colina dos ácidos teicóicos, mas somente as seguintes parecem ter um papel

mais ativo como fatores de virulência: autolisina (LytA), proteína A da superfície

Page 57: Apostila Streptococcus Completa

de pneumococos (PspA, pneumococcal surface protein A) e a adesina

conhecida como CbpA.

LytA é uma enzima pertencente ao grupo das autolisinas, responsável

pela degradação do peptideoglicano e consequente lise celular, na fase

estacionária do crescimento bacteriano e em presença de antibióticos ou outras

substâncias. Apresenta dois domínios funcionais, sendo um responsável pela

sua ligação à colina (C terminal) e o outro (N terminal) pela sua atividade

enzimática (amidase). Atua direta e indiretamente na patogênese da infecção

pneumocócica. Sua ação indireta é resultante da liberação dos constituintes da

parede celular e de pneumolisina, que são substâncias dotadas da capacidade

de causar inflamação.

A proteína de superfície PspA é expressa por virtualmente todos os

sorotipos de maior importância clínica e, em modelos animais, demonstrou

funcionar como um antígeno que promove o desenvolvimento de anticorpos

protetores. CbpA tem dado provas de ser uma importante molécula de adesão.

Mutantes deficientes em CbpA são incapazes de colonizar eficientemente a

mucosa respiratória de camundongos e de aderir a células pulmonares e

endoteliais. Além disso, amostras de pneumococos deficientes desta proteína

são incapazes de atravessar a barreia hemoliquórica in vitro, sugerindo um

possível papel na patogênese da meningite pneumocócica. Outras

propriedades de CbpA incluem a sua capacidade de se ligar a IgA secretora e

ao terceiro componente do complemento.

Adesina A da Superfície de Pneumococos (PsaA)

É uma lipoproteína que também desencadeia uma resposta protetora em

animais. Atualmente, acredita-se que sua função está ligada ao transporte de

íons Mn2+ e Zn2+ para o citoplasma da célula bacteriana e não à atuação como

adesina, como se deduziu quando de sua detecção inicial. É possível que seu

papel na adesão seja apenas indireto, já que a presença ou ausência de Mn2+ e

Zn2+ modulam a expressão de outros genes de virulência, como, por exemplo,

aqueles que codificam adesinas, particularmente CbpA. Devido a isto, alguns

autores preferem denominá-la apenas de antígeno A da superfície de

pneumococo.

Page 58: Apostila Streptococcus Completa

Pneumolisina (Ply)

Esta hemolisina é uma citotoxina intracelular produzida por todas as

amostras clínicas de S. pneumoniae, que é liberada quando o microrganismo

sofre ação da autolisina. Faz parte de um grupo de proteínas comuns em

bactérias Gram-positivas, conhecidas como citolisinas dependentes de

colesterol, ou CDCs. Seu mecanismo de ação é, portanto, dependente da

ligação às moléculas de colesterol presentes nas células do hospedeiro. É

tóxica para quase todos os tipos de células eucarióticas, nas quais tem a

capacidade de criar poros que resultam em lise celular. Os poros são formados

por oligômeros da toxina que se inserem na membrana citoplasmática da

célula-alvo. Além de sua capacidade lítica, a pneumolisina expressa uma gama

de outras propriedades reconhecidamente citotóxicas, entre as quais estão a

diminuição dos movimentos ciliares das células do epitélio brônquico e a

inibição direta da fagocitose. Em baixas concentrações podem ainda estimular

a produção de citocinas inflamatórias, reduzir a migração de neutrófilos, a

proliferação de linfócitos e a síntese de anticorpos.

Hialuronidase (Hyl)

Esta enzima é membro da família das enzimas que clivam o ácido

hialurônico, sendo também produzida por outras espécies de bactérias Gram-

positivas. O ácido hialurônico, uma vez clivado ou degradado, torna o tecido

conjuntivo mais frouxo, o que facilita a invasão bacteriana. Assim sendo, Hyl

desempenha papel importante na patogênese das infecções pneumocócicas.

Neuraminidase (Nan)

Duas principais neuraminidades (NanA e NanB) foram descritas em

amostras de pneumococos. Essas enzimas clivam as moléculas de ácido

siálico ou neuramínico que fazem parte da estrutura da mucina, reduzindo a

viscosidade do muco. Estas enzimas também têm ação sobre glicolipídeos,

glicoproteínas e oligossacarídeos, alterando a superfície das células epiteliais

Page 59: Apostila Streptococcus Completa

do hospedeiro, provavelmente expondo receptores e aumentando a

capacidade de aderência do microrganismo.

Diagrama da superfície da parede celular de Streptococcus pneumoniae.

IgA Protease

Esta enzima é capaz de degradar imunoglobulinas da subclasse A1 (é

uma IgA1 protease). Como estas fazem parte de um importante mecanismo de

defesa do hospedeiro, acredita-se que a produção de IgA1 protease possa ter

um papel significativo na virulência dos pneumococos, particularmente com

relação às mucosas do trato respiratório.

Aspectos Genéticos da Virulência

Muitos esforços têm sido feitos nos últimos anos para se entender a

genética dos mecanismos de patogenicidade de pneumococos, inclusive pela

análise seqüencial do seu genoma completo. O volume de informações já se

tornou grande, e assim somente abordaremos a questão da variação de fase,

que é crucial para compreendermos a versatilidade destes microrganismos em

Page 60: Apostila Streptococcus Completa

se adaptarem aos diferentes ambientes que encontram na sua trajetória pelo

organismo do hospedeiro. Os pneumococos podem expressar de maneira

reversível, e com elevada frequência, muitos dos seus constituintes de

superfície associados à virulência, de acordo com suas necessidades de

sobrevivência no organismo. Isto é sugerido pelo estudo de dois tipos de

variantes coloniais que podem ser observados quando a bactéria é cultivada

em meio de ágar Todd-Hewitt acrescido de extrato de levedura: variantes

opaca e transparente. As diferenças entre os dois tipos de variantes não são

apenas morfológicas. Ao contrário, envolvem a expressão de constituintes que

são cruciais na virulência. A variabilidade na composição e expressão das

estruturas de superfície, aparentemente, está relacionada às diferenças na

capacidade de colonização e invasão, entre amostras de pneumococos. A

variante transparente apresenta maior capacidade de aderência do que a

variante opaca, fato este explicado pela menor expressão da cápsula e maior

de proteínas de superfície (tabela). Outro aspecto genético da virulência que

deve ser mencionado diz respeito à competência natural dos pneumococos

para realizar transformação, um mecanismo de troca genética. Muitas

evidências sugerem que não é só in vitro que o fenômeno ocorre. Parece ser

comum a troca de genes capsulares in vivo mesmo porque diferentes sorotipos

podem colonizar o indivíduo ao mesmo tempo. Adicionalmente, este processo

tem significância clínica, já que vem sendo responsabilizado pela aquisição de

resistência aos antimicrobianos, particularmente penicilina, por estes

microrganismos.

Características de Virulência das Variantes de Pneumococos de Colônia Transparente e de

Colônia Opaca

Características Transparentes Opaca

Cápsula + +++

Ácido teicóico +++ +

Colina +++ +

CbpA (proteína que se liga à

colina)

+++ +

PspA (proteína de superfície) + +++

Capacidade de colonização +++ +

Capacidade de invasão + +++

Page 61: Apostila Streptococcus Completa

PATOGÊNESE

A infecção pneumocócica tem início com a colonização da nasofaringe

pelo microrganismo. Provavelmente, uma das proteínas mais importantes nesta

etapa é a CbpA. A partir da região inicialmente colonizada, os pneumococos

podem alcançar o ouvido médio, por meio da tuba auditiva, e os pulmões,

através dos brônquios. Podem, ainda, entrar na corrente circulatória por meio

de mecanismos ainda não bem estabelecidos. De acordo com as vias de

disseminação, o portador da bactéria poderá vir a ter otite média, pneumonia,

meningite ou mais raramente outros tipos de infecção. Para que os

pneumococos sobrevivam e se multipliquem, é necessário transpor as defesas

do organismo, representadas principalmente pela opsonofagocitose. Para isto,

dependem principalmente da presença da cápsula e das proteínas que

interferem com as atividades do complemento e dos anticorpos. A

disseminação dos pneumococos para o ouvido médio e para os pulmões é um

processo praticamente direto, mas, para atingirem as meninges, é necessário

atravessar a barreira hemoliquórica, normalmente impermeável às bactérias. A

reação inflamatória na infecção pneumocócica é, basicamente, causada pelos

elementos da parede celular que são liberados durante a autólise da bactéria,

que ativam o complemento e estimulam a produção de citocinas.

DOENÇAS CLÍNICAS

As doenças mais frequentemente associadas aos S. pneumoniae são

pneumonia, meningite, bacteremia, otite média e sinusite.

Pneumonia

A pneumonia pneumocócica se desenvolve quando as bactérias se

multiplicam nos espaços alveolares. Após aspiração, as bactérias crescem

rapidamente no fluido nutricionalmente rico do edema. Os eritrócitos, vazando

dos capilares congestionados, acumulam-se nos alvéolos, seguidos pelos

neutrófilos e então os macrófagos alveolares. A resolução ocorre quando se

Page 62: Apostila Streptococcus Completa

desenvolvem anticorpos específicos anticapsulares, facilitando a fagocitose do

microrganismo e sua morte.

O surgimento das manifestações clínicas da pneumonia pneumocócica é

abrupto e consiste em calafrios intensos com tremores, febre persistente de

39°C a 41°C. O paciente frequentemente tem sintomas de infecção viral do

trato respiratório 1 a 3 dias antes do aparecimento dos sintomas. A maioria dos

pacientes apresenta uma tosse produtiva com escarro sanguinolento, e

comumente apresentam dor torácica (pleurisia). Como a doença está

associada à aspiração, é geralmente localizada nos lóbulos inferiores dos

pulmões (por isso o nome pneumonia lobar). No entanto, crianças e idosos

podem apresentar uma broncopneumonia mais generalizada. Os pacientes

geralmente se recuperam rapidamente após o início da terapia antimicrobiana

apropriada, com completa resolução radiológica em 2 a 3 semanas.

A taxa de mortalidade total é 5%, embora a probabilidade de morte seja

influenciada pelo sorotipo do microrganismo e pela idade e doença subjacente

do paciente. A taxa de mortalidade é consideravelmente mais alta em

pacientes com doença causada pelo S. pneumoniae tipo 3, bem como em

pacientes idosos e pacientes com bacteremia documentada. Os pacientes com

disfunção esplênica ou submetidos a esplenectomia podem também

desenvolver doença pneumocócica severa, como resultado de uma diminuição

da eliminação bacteriana da corrente sanguínea e produção deficiente dos

primeiros anticorpos. Nestes pacientes, a doença está associada a um curso

fulminante e alta taxa de mortalidade.

Comumente não se formam abscessos em pacientes com pneumonia

pneumocócica, exceto aqueles infectados com sorotipos específicos (p. ex.

sorotipo 3). Infusões pleurais são vistas em aproximadamente 25% dos

pacientes com pneumonia pneumocócica, e empiema (efusão purulenta) é uma

complicação rara.

Meningite

S. pneumoniae é um dos agentes mais comuns da meningite purulenta,

tanto na criança como no adulto. Pode resultar de bacteremias primárias, mas

muitas vezes se instala em associação a otites, sinusites e pneumonias. Em

Page 63: Apostila Streptococcus Completa

pessoas que sofreram fratura do crânio, pode ocorrer devido a comunicações

que se estabelecem entre o espaço subaracnóideo e os seios paranasais. A

meningite pneumocócica pode ser letal, mesmo nos casos tratados

adequadamente. As taxas de mortalidade e deficiência neurológica grave são 4

a 20 vezes mais comuns em pacientes com meningite causada pelo S.

pneumoniae do que pelas meningites resultantes de outros patógenos.

Otite e Sinusite

S. pneumoniae é uma das principais causas de otites e sinusites.

Frequentemente, estes processos são complicações de infecções virais do

trato respiratório, que provocam obstrução dos seios paranasais e da tuba

auditiva. A infecção do ouvido médio (otite média) é observada principalmente

em crianças pequenas, mas a sinusite bacteriana pode ocorrer em pacientes

de todas as idades.

Bacteremia

Ocorre bacteremia em aproximadamente 25% dos casos de pneumonia

e em 80% dos casos de meningite pneumocócica. Ao contrário, em pacientes

com otite média ou sinusite geralmente a bactéria não está presente no

sangue.

Outras Doenças

A ocorrência de outras infecções de etiologia pneumocócica, tais como

endocardite e artrite, é rara.

Page 64: Apostila Streptococcus Completa

Doenças Causadas por Pneumococo

Doenças não-invasivas Doenças invasivas *

Otite média aguda Bacteremia

Sinusite Pneumonia bacterêmica / empiema

Conjuntivite Meningite

Bronquite Sepse

Pneumonia Peritonite

Artrite / osteomielite

* Doença invasiva: isolamento do pneumococo de locais habitualmente estéreis (sangue, líquido

cefalorraquidiano, pleural ou sinovial).

DIAGNÓSTICO

Atualmente, diferentes abordagens diagnósticas são possíveis e

algumas delas dependem do local da infecção. A abordagem clássica é a

cultura em meios ricos, tais como ágar sangue e ágar chocolate. No ágar

sangue, os pneumococos formam colônias circundadas por halos de α-

hemólise, que podem ser facilmente identificadas através de testes simples,

tais como o de suscetibilidade à optoquina e o de bile-solubilidade.

Page 65: Apostila Streptococcus Completa

Colônias de Streptococcus pneumoniae em placa de ágar sangue. Notar a presença de α-

hemólise e cor esverdeada do meio.

Em casos de meningite, a cultura deve ser sempre precedida do exame

microscópico de esfregaços corados pelo Gram, pois a presença de diplococos

Gram-positivos no material é altamente sugestiva de meningite pneumocócica.

Page 66: Apostila Streptococcus Completa

Características morfotintoriais de Streptococcus pneumoniae: cocos Gram-

positivos aos pares (diplococos) e em cadeias curtas. A morfologia das

células (em detalhe) lembra o formato de chama de vela. As células

grandes com núcleo vermelho escuro são glóbulos brancos sanguíneos.

Uma coloração de Gram consistente com S. pneumoniae pode ser

confirmada pela reação de intumescimento (quellung) (inchaço em alemão).

Neste teste, anticorpos polivalentes anticapsulares são misturados com a

bactéria, e a mistura é examinada microscopicamente. Uma grande

refringência ao redor da bactéria é considerada uma reação positiva para S.

pneumoniae.

Page 67: Apostila Streptococcus Completa

Reação de intumescimento capsular ou reação de quellung.

Outro método que pode ser usado tanto para o líquor como para o

sangue é a pesquisa de antígenos capsulares por diferentes técnicas

imunológicas. Mais recentemente, foi demonstrado que a metodologia da

reação em cadeia da polimerase (PCR) pode ser extremamente útil para o

diagnóstico das infecções pneumocócicas. A técnica pode ser aplicada

diretamente a diferentes materiais clínicos (escarro, sangue, líquor e secreções

em geral) e vários genes podem ser selecionados como alvos para serem

amplificados, entre elas o da pneumolisina.

EPIDEMIOLOGIA

S. pneumoniae é um habitante normal das vias aéreas superiores: cerca

de 5% a 70% dos indivíduos são portadores de um ou mais tipos sorológicos,

mas essa incidência é significantemente afetada pelos métodos usados para

detectar o microrganismo e pela população estudada. A colonização é mais

comum na criança e, de modo geral, tem início aos seios meses de idade. A

partir desta idade, a criança é sucessivamente colonizada por diferentes

sorotipos. A freqüência de portadores é mais elevada durante o inverno e

meses mais frios. Embora se acredite que os pneumococos de qualquer um

Page 68: Apostila Streptococcus Completa

dos sorotipos capsulares possam causar infecções, alguns são mais

freqüentes, podendo a sua distribuição variar de acordo com a região e o

período de tempo. Vários estudos realizados em algumas localidades

brasileiras mostraram que os seguintes sorotipos estão entre os mais

freqüentes: 1, 3, 4, 5, 6B, 14, 19A, 19F e 23F. Os sorotipos associados com

doenças e com o estado do portador são os mesmos, mas acredita-se que as

infecções sejam causadas por sorotipos recém-adquiridos, e não pelos já

existentes no portador. As infecções pneumocócicas permanecem como uma

das principais causas de mortalidade em todo o mundo, especialmente em

crianças e idosos. Nos países em desenvolvimento, é estimado que pelo

menos um milhão de crianças morrem anualmente em decorrência da

pneumonia pneumocócica, sendo mais da metade com faixa etária inferior a

cinco anos.

Doenças pneumocócicas sérias são a principal causa de morte prevenível por vacina em

crianças menores de cinco anos.

Embora as cepas possam se disseminar através de gotículas

transmitidas pelo ar de um indivíduo para outro em uma população fechada, as

epidemias são raras. A doença ocorre quando os mecanismos de defesa

naturais (p. ex. reflexo da epiglote, apreensão das bactérias pelas células

produtoras de muco que recobrem os brônquios, remoção dos microrganismos

pelo epitélio respiratório ciliado e o reflexo da tosse) são logrados, permitindo

Page 69: Apostila Streptococcus Completa

que os microrganismos que colonizam a orofaringe ganhem acesso aos

pulmões. A doença pneumocócica é mais comumente associada a uma doença

respiratória viral antecedente, como influenza ou sarampo, ou com outras

condições que interfiram na eliminação bacteriana, como doença pulmonar

crônica, alcoolismo, insuficiência cardíaca congestiva, diabetes melito e doença

renal crônica.

Grupos de risco para doenças invasivas causadas por S. pneumoniae

Crianças menores de 5 anos;

Idosos (> 65 anos);

Pessoas que apresentam comprometimento da resposta imune por doença congênita

ou adquirida (incluindo portadores do HIV sintomáticos e assintomáticos) ou que estão

em uso de tratamentos imunossupressores;

Portadores de asplenia anatômica ou funcional (inclui anemias hemolíticas, como

anemia falciforme e esferocitose);

Portadores de doenças crônicas (nefropatias, doenças cardiorrespiratórias, diabetes,

alcoolismo, cirrose, asma, doenças de depósito e trissomias);

Indivíduos com fratura de crânio, fístula liquórica e submetidos a cirurgia de crânio,

incluindo colocação de implante coclear;

Alguns grupos étnicos (índios Navajos, Apaches, nativos do Alasca e Austrália, raça

negra);

Pessoas que vivem em ambientes aglomerados (creches, escolas) ou que têm contato

com crianças;

Pessoas expostas à fumaça de cigarro;

Após infecções virais, particularmente pós-influenza e infecção pelo vírus sincicial

respiratório.

TRATAMENTO

Antes do advento dos antibióticos, o tratamento específico da infecção

por S. pneumoniae era realizado pela infusão passiva de anticorpos capsulares

tipo-específicos. Estes anticorpos opsonizados aumentavam a fagocitose

mediada por polimorfonucleares (PMN) e, consequentemente, levavam à morte

das bactérias. Esta imunoterapia deixou de ser realizada após a disponibilidade

da terapia antimicrobiana.

A penicilina rapidamente tornou-se o tratamento de escolha para a

doença pneumocócica. Para pacientes alérgicos à penicilina, agentes

Page 70: Apostila Streptococcus Completa

alternativos efetivos incluíam cefalosporinas, eritromicina e, para meningite,

cloranfenicol. Foi documentada a resistência à tetraciclina. Pesquisadores da

África do Sul, em 1977, documentaram cepas de S. pneumoniae resistentes à

vários antibióticos, incluindo penicilina. Até 1990, a resistência a altos níveis de

penicilina (MIC de pelo menos 2 microgramas/mililitro) era relativamente rara.

Apenas 5% de todos os S. pneumoniae isolados nos Estados Unidos eram

considerados moderadamente resistentes (MIC de 0,1 a 1 micrograma/mililitro).

Esta situação, no entanto, mudou muito. Agora, é observada resistência à

penicilina em um terço das cepas isoladas nos Estados Unidos e em números

mais elevados em outros países. A maior resistência à penicilina está

associada à diminuição da afinidade do antibiótico pelas proteínas que se fixam

à penicilina presentes na parede celular bacteriana.

PREVENÇÃO E CONTROLE

O desenvolvimento de vacinas anticapsulares tem sido o maior objetivo

dos esforços para prevenir e controlar a doença. Anteriormente, foi

recomendada uma vacina polissacarídica pneumocócica 23-valente (com 23

polissacarídios capsulares diferentes) para crianças maiores de dois anos de

idade e adultos. Em fevereiro de 2000, foi licenciada uma vacina conjugada 7-

valente para crianças menores de dois anos de idade. Os polissacarídios são

antígenos T-independentes. Estimulam os linfócitos B maduros, mas não os

linfócitos T. Vacinas polissacarídicas são ineficazes para crianças muito novas

porque estas respondem pobremente aos antígenos T-independentes. Uma

resposta primária forte e uma resposta efetiva de reforço na reimunização

podem ser obtidas com a conjugação dos polissacarídios a proteínas, o que

estimula uma resposta de células T auxiliares. Vacinas conjugadas também

têm sido usadas para outros patógenos neonatais (como para Haemophilus

influenzae). Atualmente, a imunização com vacina pneumocócica 7-valente é

recomendada para crianças menores de dois anos de idade, enquanto a vacina

23-valente é recomendada para adultos que apresentam maior risco de adquirir

doença por S. pneumoniae. Aproximadamente, 94% das cepas isoladas de

pacientes infectados estão incluídas na vacina 23-valente ou são relacionadas

sorologicamente aos sorotipos presentes na vacina 23-valente. Estudos

Page 71: Apostila Streptococcus Completa

longitudinais têm demonstrado que os sorotipos de S. pneumoniae associados

a doença não têm sido influenciados pelo uso da vacina. Em adultos normais, a

vacina 23-valente é imunogênica e a imunidade é duradoura. A vacina é menos

efetiva, no entanto, em pacientes com alto risco de doenças pneumocócicas,

como pacientes com asplenia, com anemia falciforme, com neoplasia

hematológica, com infecção por HIV, além de pacientes que sofreram

transplante renal e pacientes idosos.

Page 72: Apostila Streptococcus Completa

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