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Stélio Furlan José Carlos Siqueira Doutor em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mestre em Literatura Brasileira pela UFSC e graduado em História pela UFSC. Mestre em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portu- guesa pela Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em Linguística pela USP. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br

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Page 1: Stélio Furlan - GOPEM · O Romantismo: prosa José Carlos Siqueira Não busco nesta vida glória ou fama: Das turbas que me importa o vão ruído? Hoje, deus... e amanhã já esquecido

Stélio Furlan

José Carlos Siqueira

Doutor em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mestre em Literatura Brasileira pela UFSC e graduado em História pela UFSC.

Mestre em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portu-guesa pela Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em Linguística pela USP.

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O Romantismo: prosaJosé Carlos Siqueira

Não busco nesta vida glória ou fama:

Das turbas que me importa o vão ruído?

Hoje, deus... e amanhã já esquecido

Como esquece o clarão a extinta chama!

Antero de Quental

Romantismo e burguesia A burguesia fede A burguesia quer ficar rica Enquanto houver burguesia Não vai haver poesia

A burguesia não repara na dor Da vendedora de chicletes A burguesia só olha pra si A burguesia só olha pra si A burguesia é a direita, é a guerra

A burguesia fede A burguesia quer ficar rica Enquanto houver burguesia Não vai haver poesia

(CAZUZA; NEVES; ISRAEL, 2008)

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Os versos anteriores fazem parte da canção “Burguesia”, de autoria de Cazuza, Ezequiel Neves e George Israel. A contundente crítica que aí aparece à classe burguesa, atribuindo a ela a impossibilida-de de haver poesia no mundo, não é, todavia, uma novidade. Já no século XIX, os escritores faziam for-tes críticas ao materialismo burguês e à sua falta de humanitarismo. No entanto, assim como podemos considerar uma contradição de um artista como Cazuza, nascido e criado no cerne da cultura burguesa, atacar tão frontalmente a burguesia, aqueles que criticavam os burgueses no século XIX na sua maior parte provinham dessa mesma classe social. Para entender isso, é preciso que conheçamos melhor o que foi o movimento romântico.

A sensibilidade romântica e o gênero romance As palavras romance e romantismo têm nos dias de hoje diversos sentidos e, quando se trata

de história da literatura, podem confundir o leitor desavisado. Se no sentido corriqueiro esses termos se referem a tudo aquilo que diz respeito ao amor entre duas pessoas, na história literária são coisas bem diferentes.

A palavra romance diz respeito a um gênero literário de origem bastante polêmica. Alguns críti-cos consideram que essa origem remonta às novelas de cavalaria da Idade Média, ou mesmo à epopeia clássica dos gregos, enquanto outros defendem que é um gênero eminentemente burguês e, portanto, próprio do período dos séculos XVIII e XIX, ligado ao movimento literário romântico.

Sem entrar no debate em torno de sua origem, vale lembrar que o romance foi a forma literária em prosa que mais fez sucesso no século XIX. Como todos sabemos, um romance é a narração por escrito de uma história de certo fôlego, que apresenta uma intriga central e diversas outras paralelas, sendo que, ao caminhar para o seu final, as pequenas intrigas se fecham para que se feche finalmente aquela que é cen-tral. Esse modelo surgiu nos folhetins do século XIX.

Folhetim era o nome que se dava a uma história publicada em fascículos em um jornal, tal qual são transmitidas as novelas televisivas de hoje, que, por sinal, tiveram no folhetim romântico seu mode-lo. Do mesmo modo que as novelas televisivas, o romance folhetinesco romântico caracterizava-se por apresentar uma história de apelo popular, que colocava em cena a vida burguesa e, em geral, atacava o materialismo e elegia o amor como a solução para todos os problemas da vida.

Origens do romantismo Mas, para melhor compreensão do que dissemos anteriormente, precisamos entender o que na

história da literatura designamos como romantismo. O termo se reporta a um movimento literário es-pecífico, que tem início, na Europa, no final do século XVIII e perdura por quase todo o século XIX. O romantismo foi uma nova forma de conceber e sentir o mundo. Daí ser possível falar em “sensibilida-de romântica”, não no sentido corriqueiro de sentimento amoroso, mas no sentido de uma nova visão de mundo, surgida no final do século XVIII com a ascensão da burguesia na França, na Inglaterra e na Alemanha. Para entender isso, precisamos lembrar que no século XVIII era a aristocracia que dominava política e culturalmente a Europa. Toda ordem social estava vinculada à aristocracia e ao seu modo de ver o mundo. O trabalho manual e a preocupação financeira, por exemplo, eram aspectos da vida des-

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valorizados por um aristocrata, já que ele não precisava se preocupar com um trabalho para enriquecer, pois sua riqueza era herdada. Além disso, detinha uma vasta cultura literária e filosófica de fundamen-tação clássica greco-romana, só possível de ser adquirida por meio de uma educação que demandava muito tempo.

Como não tinha títulos de nobreza e nem herdara terras do rei, a burguesia conseguiu ascender graças ao trabalho e à especulação financeira, portanto lidando com duas coisas que a nobreza des-prezava: trabalho e administração do dinheiro. No final do século XVIII, a Inglaterra gerou o que ficou conhecido como a Revolução Industrial, que significou o aprimoramento do trabalho em série e o sur-gimento das fábricas. Isso possibilitou a ascensão econômica da classe burguesa naquele país e a per-da do poder da aristocracia. Na França, houve algo semelhante e em 1789, com a Revolução Francesa, a aristocracia foi deposta e a burguesia subiu ao poder. Na Alemanha, a burguesia também se uniu e fez com que o rei perdesse poder. Portanto, no início do século XIX, a classe burguesa era quem governava os países que eram os mais importantes da Europa naquele momento e toda a produção material e cul-tural passou a ser dirigida por e para ela. A nova ordem social gerou um novo quadro de valores, que no âmbito da literatura ganhou a designação de movimento romântico.

A literatura que passava a ser produzida para o burguês não estigmatizava o trabalho e rejeitava a cultura clássica greco-romana, optando por um conjunto de valores cristãos que estariam mais próxi-mos de sua realidade. Portanto, houve a troca do panteão de deuses clássicos pelos santos e mártires do cristianismo. Passou-se também a valorizar a cultura popular, já que a burguesia precisava das classes populares para constituir o Estado-nação, isto é, um Estado que, para além de ter uma demarcação ter-ritorial e política, como era o Estado aristocrático absolutista, tivesse agora uma identidade cultural que lhe garantisse a coesão. A burguesia precisava do operário para produzir em suas fábricas, e do cidadão patriota para lutar em suas guerras. Enquanto a aristocracia agia pela coerção, obrigando os súditos ao trabalho e à guerra, a burguesia passou a dominar por meio da ideologia, induzindo o trabalhador a acreditar que seu salário é justo e convencendo a todos os diferentes grupos sob sua jurisdição que per-tenciam a uma mesma coisa, chamada nação, e que deviam lutar por ela. Daí uma das características do romantismo ser o nacionalismo.

Todavia, a sensibilidade romântica é marcada ainda por um outro aspecto que diz respeito à concepção de sujeito. Como a es-peculação financeira e a exploração do trabalho foram os princi-pais meios de ascensão da burguesia, houve no interior da própria burguesia uma forte reação de viés espiritual que resistia à redu-ção da vida a uma dimensão materialista. Tendo em vista que a Igreja Católica e as diversas igrejas protestantes tinham no acúmu-lo do capital sua prática mais constante, os românticos foram bus-car, tanto no cristianismo medieval ou na Igreja primitiva, quanto nas religiões orientais, novos paradigmas espirituais. A espiritua-lidade passou, portanto, a ser algo extremamente valorizado en-tre os escritores e artistas românticos, funcionando como forma de resistência à mercantilização das relações humanas. Tal qual a espiritualidade, também o amor passou a ocupar um lugar de re-sistência, principalmente porque o casamento funcionava ainda como uma negociação entre famílias, uma maneira de manuten-ção ou de ascensão social. Daí a grande importância que o senti-mento amoroso ganhou nos textos literários desse período.

O gênio romântico era solitário, sonha-dor e conectado com o universo, tal qual O Viajante Perante o Mar de Nuvens, de Caspar David Friedrich.

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A construção do sujeito romântico Como a burguesia pregava o princípio do self-made-man,1 o império do sujeito passa a ser a tônica

de sua visão de mundo. O que importa é garantir a liberdade do sujeito e a partir daí tudo correria bem e a ordem social se estabeleceria de forma justa. Com relação à economia, desenvolvia-se o postulado bá-sico do liberalismo, isto é, o livre-comércio: permissão para a livre circulação de produtos, pois o mercado automaticamente se equilibraria. No âmbito da literatura, isso se expressa de modo peculiar. Os românti-cos negavam a tradição clássica e postulavam a originalidade e a transgressão como referências maiores para se julgar o valor de uma obra literária. Ser verdadeira, autêntica, sincera, sem se prender a normas preestabelecidas, eis o maior valor que uma obra poderia ter, pois ela estaria expressando a subjetivida-de do seu autor – a experiência específica e única de um sujeito, o qual não poderia ser veiculada caso fossem respeitadas as convenções características da literatura clássica. Em outras palavras, a ordem do dia era deixar a imaginação cavalgar livremente, libertar-se das regras da arte, entregar-se somente à in-tuição. Isso gerava um grave problema: sem os critérios clássicos dos manuais de poética e retórica, qual-quer um poderia ser escritor e se considerar original. Como, então, julgar o valor de uma obra literária?

Surgiu, entretanto, a noção de gênio, que diz respeito ao sujeito inspirado, que teria um vínculo es-pecial com toda a ordem do universo – enfim, o eleito, uma espécie de messias da arte. O gênio literário es-creveria a grande obra. Se qualquer um poderia aprender a escrever e se tornar um bom escritor, somente o gênio ficaria para a posteridade, pois a genialidade não se aprendia, era uma dádiva. E como reconhecer o gênio? Só a posteridade poderia dizer. Portanto, os critérios para julgar uma obra romântica eram bastan-te subjetivos, dizendo respeito à sua originalidade e à sua transgressão, oriundas de um gênio literário.

Recapitulando: a valorização do trabalho, da tradição cristã e de toda e qualquer forma de espi-ritualidade, do sentimento amoroso, da cultura popular, da identidade nacional, da originalidade, da transgressão, do gênio literário, gerou os elementos distintivos do movimento romântico. Mas, se sabe-mos o que é o gênero romance e o que foi o movimento romântico, cabe agora perguntar como ambos chegaram a Portugal, que não era dos países mais desenvolvidos da Europa naquele momento. Na ver-dade, até o início do século XIX Portugal ficou à margem da industrialização que acontecia na Europa.

O estabelecimento do liberalismo em Portugal e o romance No início do século XIX, Portugal sofreu graves crises políticas. A primeira delas diz respeito à inva-

são de Napoleão àquele país. Com o final da Revolução Francesa e a subida ao trono de Napoleão, o im-perador francês adotou uma política expansionista e passou a invadir vários países europeus. Em 1807, com os exércitos franceses nas fronteiras de Portugal e sem que este país possuísse força para resistir à investida napoleônica, a Inglaterra, principal adversária da França nesse momento, resolveu patrocinar a fuga da família real portuguesa para o Brasil, que aqui chegou em 1808.

1 Self-made-man, isto é, “o homem que se faz por si mesmo”, é o princípio que norteou a ideologia liberal, partindo do pressuposto de que a sociedade funcionaria perfeitamente se cada um tivesse seus direitos garantidos e procurasse fazer o seu próprio destino, o seu próprio ne-gócio. É o mesmo princípio que inspirou o “sonho americano”, fazendo com que cada americano do século XX acreditasse capaz de se tornar um milionário. Desconsiderava-se, entretanto, que uma nação não pode ser constituída por uma população de milionários. Economicamente falando, para a existência de um único milionário é necessário um correspondente exército de pobres e miseráveis. No caso americano, vale lembrar o romance Por um milhão de dólares (1934), escrito por Nathaniel West (1903-1940), que foi roteirista de Hollywood e nesse livro ironiza de forma muito inteligente o princípio do self-made-man.

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Durante mais de uma década, a família real ficou no Brasil, en-quanto Portugal era administrado pelos ingleses. Todavia, em 1820, a emergente burguesia portuguesa exigiu o retorno da família real e o es-tabelecimento de uma monarquia constitucional. Até então, Portugal fora uma monarquia absolutista, na qual todo o poder estava nas mãos do rei. Em uma monarquia constitucional, como reivindicava a burgue-sia, o poder seria descentralizado, pois haveria uma Constituição, à qual até mesmo o rei estaria subordinado.

D. João VI retornou a Portugal, mas morreu pouco depois, em 1826, o que gerou uma crise sucessória com a disputa entre o nosso D. Pedro I (em Portugal, D. Pedro IV), legítimo herdeiro do trono, e seu ir-mão D. Miguel. Resultando numa traumática guerra civil, a disputa du-rou até 1834, quando finalmente D. Pedro venceu o irmão e instaurou uma monarquia constitucional de cunho liberal no país.

Em meio a tais conflitos, o romance em forma de folhetim come-çava a frequentar as páginas dos jornais portugueses. Primeiramente na forma de textos traduzidos, geralmente da literatura francesa, e posteriormente elaborado por escritores portugueses. O primeiro a exercitar esse gênero literário foi Almeida Garrett, que, em 1846, pu-blicou Viagens na Minha Terra, considerado um marco entre os textos da prosa romântica portuguesa. Mas antes de falar da obra, falemos um pouco do próprio Garrett.

Almeida Garrett (1799-1854) Almeida Garrett nasceu em uma família de posses e teve sua primeira educação destinada à vida

eclesiástica. Começou nas letras escrevendo poemas e peças de teatro de gosto neoclássico e só mais tarde adotou a estética Romântica. Em 1825, publicou um longo poema intitulado Camões, hoje con-siderado o marco inaugural do romantismo português. Durante a disputa pelo trono entre o absolu-tista D. Miguel e o liberal D. Pedro, Garrett, liberal convicto, tomou o partido de D. Pedro. Com a vitória do liberalismo, foi encarregado de revitalizar o teatro nacional português e escreveu Frei Luís de Sousa (1844), peça que se tornou um paradigma do teatro lusitano. Em 1853, escreveu um livro de poemas que também se tornou modelar para a poesia romântica portuguesa, intitulado Folhas Caídas. Entre suas obras, vale ainda lembrar os livros de poemas D. Branca (1826), Adozinda (1828), Lírica de João Mínimo (1829), Romanceiro e Cancioneiro Geral (1843-1851), Flores sem Fruto (1845) e os textos em prosa O Arco de Santana (1845-1850) e o inconcluso Helena (1871).

Viagens na Minha Terra Apesar de termos nos referido a Viagens na Minha Terra como se fosse um romance, a verdade é

que a classificação em termos de gênero desse texto é muito difícil, pois ali se empregam tanto estraté-gias textuais típicas do romance, da narrativa de viagem, do jornalismo opinativo e do gênero epistolar, entre outras formas. Mas se lembrarmos que uma das características do romantismo é justamente não

A disputa pelo trono entre os irmãos D. Pedro e D. Miguel mereceu muitas charges nos jornais da época.

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Apesar de ter posto fim à Revolução Francesa, Napoleão era um ídolo dos liberais.

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respeitar a divisão de gêneros (os românticos, por exemplo, criaram seu teatro misturando a tragédia com a comédia, coisa inconcebível para um autor clássico), temos em Viagens na Minha Terra um texto sobre-tudo romântico. Ali são citados, por exemplo, Lawrence Sterne, Xavier de Maistre, Eugene Sue, Vitor Hugo, entre outros escritores referenciais para a sensibilidade romântica de viés crítico.

Publicado originalmente na forma de folhetim na Revista Universal Lisbonense entre 1845 e 1846, Viagens na Minha Terra narra um percur-so de trem entre Lisboa e Santarém realizado por Garrett, que assume o lugar do narrador. Inspirado no que vê na paisagem, o narrador faz uma série de severas críticas à realidade portuguesa, observando o quan-to parte dessa sociedade está inerte para as coisas do espírito, voltada toda para o materialismo mais elementar. Em meio a tais observações, narra a história amorosa entre os primos Carlos e Joaninha, a menina de olhos verdes, que passaram juntos a infância em uma casa no vale de Santarém, na companhia de avó cega Francisca e de um franciscano ri-goroso chamado frei Dinis. Carlos vai estudar em Coimbra e, depois de um desentendimento com frei Dinis, parte para a Inglaterra. Lá se envolve com três irmãs, das quais uma se chama Georgina, com quem pretendia se casar. No entanto, em meio às lutas entre liberais e abso-lutistas, Carlos, um liberal, retorna a Portugal e a Santarém, onde reencontra Joaninha, envolvendo-se amorosamente com ela. Volta, todavia, para casar-se com Georgina, que, por sua vez, sabendo do caso de Carlos com Joaninha, desiste do compromisso. Ao final, Carlos acaba por descobrir que era filho de frei Dinis com a filha da avó Francisca. Georgina torna-se freira. Joaninha enlouquece e morre. Carlos torna-se barão.

A estruturação do texto é bastante original, já que alterna grandes blocos de capítulos que nar-ram a viagem e fatos diversos com outros grandes blocos de capítulos que narram a história do casal amoroso, fazendo com que o leitor fique com a narrativa amorosa suspensa por muitas páginas, geran-do assim uma expectativa muito densa.

O texto discute como a vida espiritual em Portugal se encontra morta, pois a realidade está mar-cada por uma mentalidade estagnada e decadente, e o homem novo, liberal, volta-se apenas para a vida material. Carlos é o paradigma do homem liberal português, que, entre optar pela pureza e simplicida-de campesinas da tradição portuguesa, expressa na figura de Joaninha, a “menina dos rouxinóis”, e pela urbanidade elegante da Europa industrializada, representada na figura de Georgina, acaba optando por se tornar um barão gordo e burguesamente materialista. Seu percurso vai de um idealista a um materia-lista, tal qual seria o percurso, segundo Garrett, de geração liberal a que pertencia.

Ao final da história, o narrador, um liberal, encontra frei Dinis, um conservador, que lhe conta o fim que levou cada personagem daquela história. O narrador pergunta sobre Carlos:

— Mas Carlos?!

— Carlos é barão: no lho disse já?

— Mas por ser barão?...

— Não sabe o que é ser barão?

— Oh se sei! Tão poucos temos nós?

— Pois barão é o sucedâneo dos...

Retratar o país era um dos prin-cipais propósitos da literatura romântica portuguesa.

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— Dos frades... Ruim substituição!

— Vi um dos tais papéis liberais em que isso vinha: e é a única coisa que leio dessas há muitos anos. Mas fizeram-mo ler.

— E que lhe pareceu?

— Bem escrito e com verdade. Tivemos culpa nós, é certo; mas os liberais não tiveram menos.

— Erramos ambos.

— Erramos e sem remédio. A sociedade já não é o que foi, não pode tornar a ser o que era: – mas muito menos ainda pode ser o que é. O que há de ser, não sei. Deus proverá. (ALMEIDA GARRETT, 2005, p. 250)

Percebe-se por essa última fala do frei Dinis um total descontentamento com a realidade portu-guesa do momento, funcionando o livro como uma forma de se refletir profundamente sobre ela.

Alexandre Herculano (1810-1877)Junto com Almeida Garrett, Alexandre Herculano foi um dos introdu-

tores do romantismo em Portugal. Também liberal, tornou-se um paradigma ético no meio político português. Nascido em Lisboa, no seio de uma família modesta, não pôde frequentar a universidade. No entanto, por esforço pró-prio, cedo ingressou no meio literário português. No decorrer de sua vida, ocupou vários cargos de direção em diversas bibliotecas. Esse contato com os arquivos históricos e sua paixão pela matéria resultaram na publicação de uma série de documentos intitulada Monumentos Históricos de Portugal (do século VIII ao XV), além dos livros A História de Portugal (1853) e História e Origem da Inquisição em Portugal (1859). Desde muito cedo, publicou narrativas ficcio-nais de cunho histórico, que, em 1851, foram reunidas em um volume intitula-do Lendas e Narrativas. Escreveu também romances históricos, como O Monge de Cister (1839), O Bobo (1843) e finalmente sua obra mais apreciada, Eurico, o Presbítero (1844). Herculano é considerado o fundador do romance histórico em Portugal, inspirado na obra do escocês Walter Scott. Em 1851, participou da elaboração e instaura-ção do movimento político de Regeneração, mas logo se decepcionou com os rumos tomados pelo mo-vimento e, em 1867, se exilou na quinta de Vila de Lobos, em Santarém, abandonando tanto a política quanto a vida intelectual.

Eurico, o Presbítero (1844)O romance Eurico, o Presbítero conta a história de amor entre Hermengarda e Eurico. Passa-se no sé-

culo VIII, na Espanha Visigótica do Império de Vitiza. Eurico combate em favor do imperador e contra os montanheses rebeldes e os francos. Vencida a batalha, Eurico, já apaixonado por Hermengarda, pede-a em casamento ao seu pai, Duque de Fávila. O nobre nega-lhe a filha por saber que Eurico era de origem simples, fazendo-o acreditar que Hermengarda o repelia. O jovem, decepcionado, entrega-se ao sacerdó-cio, ordenando-se presbítero de Cartéia. Passa a compor poemas e hinos religiosos para se esquecer de seu grande amor. Todavia, a península Ibérica é invadida pelos árabes e Eurico vê-se na obrigação de com-batê-los, mas, sendo padre, aparece nas batalhas com o disfarce de Cavaleiro Negro. Torna-se assim um co-nhecido herói nessas batalhas e ganha a admiração dos godos, renovando-lhes o ânimo para o combate.

Herculano era um escritor apaixonado pela história de Portugal.

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Quando tudo caminha para a vitória dos godos, Sisibuto e Ebas, os filhos do imperador Vitiza, por ambicionarem o trono de seu pai, traem seu povo e se unem aos árabes. Os invasores começam a ven-cer a guerra e atacam o Mosteiro da Virgem Dolosa, raptando Hermengarda. O Cavaleiro Negro con-segue, no entanto, salvá-la quando a jovem estava prestes a ser violentada. Desfalecida, ela é levada à gruta Covadonga, nas montanhas das Astúrias, onde estava Pelágio, seu irmão. Já em segurança, en-contra-se com Eurico, que lhe revela serem o Presbítero de Cartéia e o Cavaleiro Negro a mesma pessoa. Hermengarda declara seu amor a ele, mas Eurico, por ter feito voto de castidade, já não pode mais con-cretizar seu amor pela donzela. Ao final, Hermengarda enlouquece e Eurico parte para uma batalha sui-cida contra os árabes.

Como se percebe, o enredo tem fundo histórico e retoma um período do cristianismo considera-do pelos românticos como o mais puro e verdadeiro no aspecto da fé. Eurico é digno, honrado, abne-gado, fiel a Deus, ao seu amor por Hermengarda e à palavra dada – enfim, um modelo ético, tanto no aspecto religioso quanto nos aspectos pessoal e político. Na história, o compromisso social do persona-gem se sobrepõe a seus desejos e interesses individuais, algo ausente no mundo da burguesia do sé-culo XIX e que o romantismo queria revitalizar. Herculano idealiza, portanto, o passado na tentativa de reformar eticamente o seu presente.

Assim tem início o romance:

A raça dos visigodos, conquistadora das Espanhas, subjugara toda a Península havia mais de um século. Nenhuma das tribos ger mânicas que, dividindo entre si as províncias do império dos césares, tinham tentado vestir sua bárbara nudez com os trajos despedaçados, mas esplêndidos, da civilização romana soubera como os godos ajun tar esses fragmentos de púrpura e ouro, para se compor a exemplo de povo civilizado. Leovigildo expulsara da Espanha quase que os derra-deiros soldados dos imperadores gregos, reprimira a audácia dos francos, que em suas correrias assolavam as provín-cias visigó ticas d’além dos Pireneus, acabara com a espécie de monarquia que os suevos tinham instituído na Galécia e expirara em Toletum depois de ter estabelecido leis políticas e civis e a paz e ordem públicas nos seus vastos domínios, que se estendiam de mar a mar e, ainda, transpondo as montanhas da Vascônia, abrangiam grande porção da antiga Gália narbonense. (HERCULANO, s.d., p.12)

Veja como o estilo do texto se aproxima muito do texto histórico. É verdade que, com o desenro-lar da narrativa, começam a aparecer diálogos, descrições e digressões que nos afastam do tom sisudo desse parágrafo, mas ainda assim o estilo historiográfico perpassa todo o texto, cumprindo a função de lhe atribuir, sobretudo, verossimilhança.

Camilo Castelo Branco (1825-1890) Camilo é, em geral, associado à segunda geração de românticos por-

tugueses, conhecida como ultrarromântica. No entanto, ao final da vida, passou a fazer uma literatura de viés realista. Foi, sobretudo, um novelista, mas também escreveu contos, poesia, peças teatrais, crônicas e também críticas literárias, somando cerca de 260 títulos.

Teve uma vida que se revela mais rocambolesca que alguns de seus romances. Órfão de mãe aos dois anos de idade e de pai aos dez, viveu com uma tia e depois com uma irmã até os dezesseis, quando se casou com Joaquina Pereira. Do casamento nasceu uma filha. Abandonou a es-posa e a filha, que morreram alguns anos mais tarde. Foi para o Porto, onde frequentou e abandonou a escola de Medicina. Seguiu para Coimbra a fim

Camilo é a encarnação do romantismo português.

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de iniciar sua carreira literária. Raptou a órfã Patrícia Emília de Barros e voltou para o Porto, onde ambos foram presos. Teve também uma filha com Patrícia e do mesmo modo abandonou as duas. Teve um caso com a freira Isabel Cândida e depois com a escritora Maria Browne. Finalmente, apaixonou-se por Ana Plácido, o grande amor de sua vida, mas ela estava prometida a outro, com quem se casou. Ana Plácido, no entanto, acabou abandonando o marido e fugindo com Camilo. Ficaram presos por algum tempo e, na cadeia, Camilo escreveu O Romance de um Homem Rico e Amor de Perdição. Quando o marido de Ana Plácido morreu, os dois passaram a morar juntos. Teve diversos filhos com ela, um deles com problemas mentais. Nesse percurso, adquirira sífilis, fazendo com que o cotidiano de Camilo e Ana não fosse dos mais fáceis. Com outro de seus filhos, Nuno, concebeu e realizou o rapto de Maria Isabel, herdeira rica, para que o filho pudesse fazer um grande casamento. Viveu de encomendas literárias até Ana Plácido morrer e ele começar a ficar cego por causa da sífilis. Chegou a receber o título de visconde, mas, já mui-to deprimido, suicidou-se com um tiro na cabeça.

Sua atribulada vida pessoal deve-se, em parte, ao fato de ter sido um dos primeiros homens em Portugal a viver exclusivamente do que escrevia. A escrita era sua forma de sobrevivência, o que não era uma tarefa fácil, obrigando-o a recorrer a alguns expedientes pouco convencionais. Essa é uma das ra-zões pela qual sua obra é muito extensa. Apenas para dar um exemplo de cada gênero que cultivou, po-demos lembrar que escreveu: poemas (Juízo Final e O Sonho do Inferno, 1845); comédias (O Morgado de Fafe em Lisboa, 1862); dramas sentimentais (Abençoadas Lágrimas, 1862); dramas históricos (Agostinho de Ceuta, 1848); narrativas de caráter histórico (Perfil do Marquês de Pombal, 1882); crítica literária (Esboços de Apreciação Literária, 1866); contos (Noites de Lamego, 1863); e principalmente novelas de caráter his-tórico (O Judeu, 1866), satírico (A Queda de um Anjo, 1866) e passional (Amor de Perdição, 1863).

Seu gênero preferido era a novela, que, em linhas gerais, diferencia-se do romance apenas por se concentrar na trama central, sem apresentar enredos paralelos. No entanto, nem sempre é fácil dizer se estamos diante de um romance ou de uma novela, pois a crítica diverge muito em relação à definição desses gêneros. De qualquer modo, Camilo foi um dos maiores prosadores românticos que a cultura portuguesa viu nascer, tanto na qualidade quanto na quantidade de suas obras.

Amor de Perdição (1863) O texto narra a história de amor entre Teresa de Albuquerque e

Simão Botelho. As famílias dos Albuquerques e dos Botelhos são inimi-gas, mas os jovens Teresa e Simão acabam se apaixonando. Simão, que era rebelde e arruaceiro, após apaixonar-se por Teresa torna-se estudioso e comportado. Tadeu de Albuquerque, pai de Teresa, deseja casá-la com um primo, Baltasar Coutinho, mas, ao descobrir o discreto namoro entre a filha e o filho de seu odiado vizinho obriga Teresa a optar entre se casar com o pri-mo ou ir para um convento. Teresa opta pelo convento. Simão, avisado por carta de tal fato, tenta encontra-se com Teresa com o auxílio do ferreiro João da Cruz, mas é surpreendido por Baltasar Coutinho e dois capangas. No em-bate, Simão é ferido e os capangas são mortos por João da Cruz. Teresa é enviada ao convento. Simão estreita relações com João da Cruz (que fora salvo da forca pelo pai de Simão, Domingos Botelho) e com sua fi-lha, Mariana. Esta cuida do ferimento de Simão e se apaixona secretamente por ele. Passado algum tempo, Tadeu de Albuquerque resolve transferir a filha para um convento em que se encontra uma tia de Teresa. Simão tenta falar com Teresa antes de sua nova partida, mas ocorre um encontro ca-

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sual com o pai e o primo da moça, em que mata Baltasar Coutinho. Em vez de fugir, assume a autoria do crime, sendo primeiramente condenado à morte e, atenuada a pena, ao degredo na Índia por dez anos. Nesse ínterim, João da Cruz é assassinado e Mariana, órfã, passa a dedicar sua vida a Simão. O herói par-te para a Índia, e Teresa, no convento, morre quando vê o navio que leva Simão. Mariana segue para a Índia junto com o degredado. No entanto, o rapaz morre de febre no navio e seu corpo é jogado ao mar. Mariana então se atira atrás dele e, abraçada ao corpo de Simão, morre afogada.

Os personagens não têm profundidade psicológica, pois cada uma age de acordo com um aspec-to bem definido. Teresa é a encarnação do amor fiel; Mariana, o exemplo do amor abnegado; e Simão, o do amor impulsivo e do poder de regeneração do amor. Podemos considerar a novela de Camilo como uma reedição muito bem-sucedida de Romeu e Julieta, de Shakespeare. Além do elogio que o livro faz ao amor em vários níveis, há ainda uma forte crítica ao tradicionalismo da ordem social e dos valores da família portuguesa, calcada nos modelos da monarquia absolutista, pelos quais a vontade do indivíduo não é levada em conta.

Quem conta a história é um sobrinho de Simão Botelho, na posição de narrador em terceira pes-soa, onisciente, fundamentando-se nos livros de assentamentos das cadeias da Relação do Porto e na correspondência trocada entre os amantes. Assim, a obra ganha em verossimilhança, pois estaria funda-mentada em um fato ocorrido na própria família do narrador, e alicerçada, além disso, em documentos. Emprega exaustivamente o discurso direto, fornecendo teatralidade e agilidade à trama. As peripécias acontecem com rapidez, pois o romance se apoia na quantidade de acontecimentos inusitados que se sucedem em um ritmo célere.

Para além da trama amorosa, o texto de Camilo é muito crítico e irônico em relação à sociedade portuguesa. Para termos ideia dessa ironia, vejamos um trecho do primeiro capítulo, quando o narrador descreve o avô de Simão Botelho:

Já está dito que ele se atreveu aos amores do paço, não poetando como Luís de Camões ou Bernardim Ribeiro; mas na-morando na sua prosa provinciana, e captando a benquerença da rainha para amolecer as durezas da dama. Devia de ser, afinal, feliz o “doutor bexiga” – que assim era na corte conhecido – para se não desconcertar a discórdia em que an-dam rixados o talento e a felicidade. Domingos Botelho casou com D. Rita Preciosa. Rita era uma formosura, que ainda aos 50 anos se podia prezar de o ser. E não tinha outro dote, se não é dote uma série de avoengos, uns bispos, outros generais, e entre estes o que morrera frigido em caldeirão de não sei que terra da mourisma; glórias, na verdade, um pouco ardente, mas de tal monta que os descendentes do general frito se assinaram Caldeirões. (CASTELO BRANCO, 2000, p. 70)

Cortejando uma das damas da rainha, Domingos Botelho é tratado com franco deboche, dizen-do-se que, apesar de ser um sujeito sem talento e sem dotes físicos, conseguiu casar-se com uma for-mosa dama da corte, cuja história de família também é ridicularizada, pois seu sobrenome Caldeirões faz referência ao seu antepassado que foi frito pelos inimigos. Enfim, Camilo desqualifica em sua origem o orgulho dos Botelhos, que será o pivô de todo o drama amoroso, demonstrando o quanto se revelam equivocados os valores dessa sociedade de mentalidade aristocrática.

Júlio Dinis (1839-1871)Joaquim Guilherme Gomes Coelho nasceu em Porto, em uma família burguesa, com ascendên-

cia inglesa por parte de mãe. Ali mesmo licenciou-se em medicina, pela Escola Médico-Cirúrgica, na qual também foi professor. Começou sua carreira literária ainda na faculdade, escrevendo peças teatrais, reu-nidas no volume Teatro Inédito (1946-1947). Também tentou a poesia de verve ultrarromântica, publica-

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da em 1874, pouco depois de sua prematura morte por tuberculose, no volume Poesias (1874). Mas foi na prosa que mais se destacou, em especial no gêne-ro romance. Além do livro de contos e novelas intitulado Serões da Província (1870), publicou os romances As Pupilas do Senhor Reitor (1867), A Morgadinha dos Canaviais (1868), Uma Família Inglesa (1868) e Os Fidalgos da Casa Mourisca (1871). Deixou inédita uma verdadeira arte do romance em suas Ideias que me Ocorrem, escritas entre 1869 e 1870, e publicadas no volume Inéditos e Esparsos (1910). Como escritor, utilizou vários pseudônimos, sendo Júlio Dinis o que o tornou mais conhecido.

Apesar da mentalidade romântica, sua escrita já apresentava traços do que viria a ser o movimento realista, quer pelo tratamento que dá aos persona-gens, procurando penetrar em suas consciências, quer pela valorização da des-crição como estratégia analítica, ou ainda pelo objetivo pedagógico atribuído ao romance. Todavia, mantém sua sensibilidade romântica na forma idealista e otimista de conceber a re-alidade que o cerca, apresentando personagens excepcionais e soluções harmoniosas para os conflitos.

As Pupilas do Senhor Reitor (1867)O romance trata do envolvimento amoroso entre Daniel e

Margarida, ou Guida. Ainda crianças, o estudante Daniel e a pastorinha Guida se apaixonam. Daniel preparava-se para ingressar no seminário, mas quando o reitor descobre seu inocente namoro e conta a seu pai, José das Dornas, este decide enviá-lo para estudar medicina no Porto. Passados dez anos, Daniel retorna à aldeia, já como médico, e reencon-tra Margarida, agora professora, que se mantém fiel ao amor que par-tilharam. Ele, no entanto, transformado pelos hábitos da cidade, havia se transformado em um conquistador barato, sem compromisso, e já nem se lembrava de sua paixão de infância. Nessa época, Pedro, irmão de Daniel, estava noivo de Clara, irmã de Margarida. Daniel fica fascina-do pela futura cunhada e tenta conquistá-la. Clara, por vaidade, alimenta os cortejos de Daniel, mas quando percebe a gravidade da situação, de-siste da brincadeira. Na tentativa de colocar fim àquela situação, aceita se encontrar com ele no jardim de sua casa, onde são surpreendidos por Pedro. No entanto, Margarida, para salvar o inconsequente casal, toma o lugar da irmã. A divulgação de tal encontro macula a reputação de Margarida e Daniel finalmente acaba por reconhecer nela o antigo amor de infância. Verdadeiramente apaixonado por Guida, procura reconquistá-la, mas ela o rejeita. No entan-to, ao final, Margarida acaba por se reconciliar com Daniel e o casal finalmente se une.

Vemos que o desfecho da narrativa não poderia ser mais romântico. Enfim, tudo se arranja da melhor forma possível. Sem dúvida, a mentalidade que gerou a intriga era romântica, opondo o amor vulgar ao amor verdadeiro, saindo este último vencedor. Todavia, não há aqui, como em Amor de Perdição, um obstáculo externo à concretização do amor, mas sim um obstáculo interno, produzi-do pela própria frivolidade do protagonista Daniel. Portanto, Júlio Dinis se afasta da perspectiva ro-mântica, fazendo com que o conflito amoroso tenha origem no caráter dos personagens e não em

Júlio Dinis morreu muito jovem, mas deixou uma obra madura.

Uma intriga simples e uma lingua-gem direta contribuíram para o sucesso deste livro.

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algum evento excepcional. Apesar disso, a caracterização dos personagens tem um viés romântico, já que Daniel é o representante do donjuanismo, enquanto Margarida exprime a pureza amorosa e a integridade moral. Em contraste, a personificação e o comportamento de Clara se aproximam mais da perspectiva realista.

Vejamos um trecho do romance, quando a senhora Joana, governanta do médico João Semana, en-contra-se com Clara, logo após toda a aldeia ter tomado conhecimento do encontro ocorrido no jardim.

– Então que doidices foram aquela lá por casa? – perguntou Joana, que não era para rodeio, e ia logo direta ao fim que tinha em vista. – Aquilo é coisa que se faça? Ainda se fosse consigo, não me admirava eu tanto, mas a Guida!

Clara ficou surpreendida com o que ouvia a Joana. Margarida para acalmar à irmã os escrúpulos em aceitar o sacrifício, dera-lhe a entender que, a exceção de Pedro, ninguém mais na aldeia suspeitava a cena do quintal. Agora adquiriu ela certeza do contrário.

– Então você sabe?... – perguntou timidamente, não ousando olhar para Joana.

– Se eu sei! E quem não o há de saber, filha, se por aí não se fala em outra coisa?

– Que diz, Joana?

– Pois que cuidava? Ai está bom, está! É o que eu digo! Aí tem que ontem... Mas a mim custa-me a crer! Pois a Guida?

– Joana! Por quem é, não fale dessa maneira. Se soubesse...

– Pois não falo, não... Ainda que de eu falar não é que vem o mal. Assim não andassem por aí outras línguas danadas...

– Então dizem? Ó meu Deus! Meu Deus!

– Dizem tudo, e mais alguma coisa: é o costume. Pois ainda aí está! Bem o digo eu!

– Jesus Senhor! E falam de Guida?!

– Que dúvida! Há lá manjar mais doce para essas boquinhas cá da terra, do que uma novidade daquelas? Falam dela, e de modo que já me fizeram ferver o sangue. Olhe que estive para obrigar uma das tais a engolir a língua peçonhenta, a ver se a envenenava com ela. Ora imagine a Zefa da Graça a contar história e veja lá o que não diria!

Clara ocultou o rosto com as mãos; a dor e a desesperação estavam-na torturando.

– E então o pior não é isso – continuava Joana. – O pior é que a essas desalmadas meteu-se-lhes em cabeça que as filhas corriam perigo, continuando a ser ensinadas por a sua irmã; e é de crer que já hoje... Mas veja aquelas tolas, que mais o que sabem é estragar os filhos com maus exemplos e com más palavras, a fazerem-se agora de escrúpulos! Impostoras!

– Oh! isto é demais! – bradou Clara, tremendo de indignação.

– A Rosa alfaiata, por exemplo – prosseguiu Joana. – Ora digam se não é mesmo de uma pessoa perder a paciência ou-vir aquela desbocada com medos que lhe estraguem a filha? A filha, que se não sair das que nem o demônio quer, não há de ser por falta de diligências que faça a mãe para isso.

Clara não podia já reter as lágrimas.

– E a Joaquina do Moleiro? Pois não querem ver aquela senhora também com delicadezas? Ora isto! Isto é de uma pes-soa morrer com riso. A Joaquina do Moleiro, que eu conheci... Cala-te, boca.

E por esta forma continuou a senhora Joana fazendo a severa crítica das suas escrupulosas patrícias, e aumentando, sem o saber, a grande aflição em que estava Clara.

Ao separar-se da velha governante de João Semana, ia Clara com uma resolução formada, a qual se lhe podia adivinhar na firmeza do olhar e na expressão do semblante.

– É demais! murmurava ela – vou procurar Pedro; vou dizer-lhe tudo; quero que todos saibam... (DINIS, 2000, p. 339-341)

Mais que a angústia e o remorso de Clara de ver sua inocente irmã pagar por um erro que ela co-metera, emerge desse diálogo o mundo de fofocas e intrigas que move a pequena aldeia portuguesa. Se a situação que precede a cena, a troca de lugares entre as irmãs no encontro secreto, é indiscutivel-mente de gosto romântico, Júlio Dinis dá um tratamento muito realista ao modo como a Senhora Joana conduz a conversa com Clara, sempre em defesa de Guida, mas sem deixar de revelar sua surpresa ou enumerar todas as consequências do seu suposto ato. Portanto, na prática, condenando-a sumariamen-te como todas as outras. Eis, pois, um claro exemplo desse lugar ambíguo que o texto de Júlio Dinis ocu-pa entre o romantismo e o realismo.

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A sedimentação do romance em PortugalFoi graças ao trabalho árduo dos escritores românticos como Almeida Garrett, Alexandre

Herculano, Camilo Castelo Branco e Júlio Dinis que o gênero romance pôde sedimentar-se em Portugal. Gênero em prosa que marcará todo o século XIX e também o século XX, o romance serviu ainda de modelo para a narrativa do cinema, criado no final do século XIX, e mesmo para as novelas televisivas, como já mencionado.

É um gênero que fez e que hoje ainda faz história na literatura portuguesa e em todas as outras li-teraturas nacionais, permitindo que possamos encontrar, ainda que momentânea e ficcionalmente, cer-ta ordem, unidade e sentido no caótico mundo em que vivemos.

Dicas de estudoFERREIRA, Alberto. :::: Perspectiva do Romantismo Português: 1834-1865. Lisboa: Edições 70, 1971. – Apesar dos mais de 30 anos de publicação dessa obra, ela continua a ser inspiradora e po-lêmica, dando um enfoque inovador ao estudo do romantismo. Ferreira mostra que há uma maior articulação entre o romantismo e o realismo do que se pode pensar, e que condições próprias da sociedade lusitana tiveram um peso relativo maior do que normalmente se supõe no desenvolvimento da cultura romântica portuguesa.

<http://purl.pt/96/1>. – O site da Biblioteca Nacional de Lisboa possui diversas páginas espe-::::cialmente construídas para certos autores e suas obras. No nosso caso, indicamos o projeto dedicado a Almeida Garrett por ocasião do bicentenário de seu nascimento.

Texto complementar

Qual é o estado da nossa literatura? Qual é o trilho que ela hoje tem a seguir?

(HERCULANO, 1834)

Essas duas perguntas pedem nada menos do que a dolorosa confissão da decadência em que se acha em Portugal a poesia e a eloquência, e o encargo dificultoso de indicar os meios de melho-ramento no ensino e no estudo delas. Sem pretender que sejam as únicas, nem as melhores, expo-remos a série das nossas ideias sobre este duplicado objeto.

A convicção de uma verdade literária produziu no 16.o e 17.o século um erro na Itália, que, es-tendendo-se à Espanha e a Portugal, transviou da legítima direção todos, ou quase todos os escri-

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tores da época chamada do seiscentismo. Sentiu-se que a metáfora, a mais bela de todas as figuras poéticas e oratórias, a mais repetida, a mais necessária mesmo nos discursos comuns da vida, abun-dava por isso nos bons escritores clássicos e modernos, que já nesse tempo ilustravam a Europa: viu-se que as passagens belas ou sublimes de Horácio, Píndaro e Virgilio, de Dante e Ariosto, deviam--lhe em grande parte a sua beleza e sublimidade, e isso era certo; inferiu-se daí que a metáfora era o principal e talvez o único meio da poesia e eloquência, e que ela devia revestir todas as imagens e sujeitar ao seu império todos os gêneros, todos os estilos, e isso foi um erro: a vertigem metafóri-ca se apossou dos poetas e oradores, e, por uma consequência natural, o fundo das ideias esqueceu e só se olhou para as formas: à sombra dessa mania prosperavam os conceitos e as agudezas, che-gando as letras a cair numa barbárie, que tanto mais irremediável parecia por ser filha da civilização literária já exagerada. O Zodíaco Soberano, os Cristais d’Alma, a Fênix Renascida e outros muitos es-critos desse tempo são lamentáveis monumentos da corrupção de gosto a que chegou Portugal no principio do 18.o século.

Porém o mal não foi sem remédio, e os membros da Arcádia fizeram volver as letras à severa singeleza das puras formas da Grécia. Muito se deve a Garção, Gomes e Quita; mas ninguém tanto como Dinis mostrou a superioridade do gênio e do gosto que caracterizaram a segunda metade do seculo XVIII. [...]

Entretanto nenhum dos poetas e literatos do século de José I olhou as letras de um ponto de vista eminente. Semelhantes aos escritores do século de Luís XIV, foram muito eruditos, mas pouco filóso-fos, e assim o caráter das duas literaturas é a confusão dos princípios absolutos com os de convenção. Cingindo-se quase cegamente à autoridade dos antigos, miudeada e explanada pelos comentadores, a sua obediência ilimitada a alheias opiniões contribuiu muito para a posterior decadência. [...]

Enquanto assim entre nós a crítica se apoucava, um sentimento vago de desgosto pelas anti-gas formas poéticas, a influencia da filosofia na literatura, a necessidade que sentia o gênio de beber as suas inspirações num mundo de ideias mais análogas às dos nossos tempos, e enfim, várias ou-tras causas difíceis de enumerar, começaram a criar na Europa uma poética nova, ou, digamos antes, a fazer abandonar os cânones clássicos. [...]

Mas a Portugal não coube o figurar nesta lide. A parte teórica da literatura há 20 anos que é en-tre nós quase nula: o movimento intelectual da Europa não passou a raia de um país onde todas as atenções, todos os cuidados estavam aplicados às misérias públicas e aos meios de as remover. Os poemas D. Branca e Camões apareceram um dia nas páginas da nossa história literária sem prece-dentes que os anunciassem, um representando a poesia nacional, o romântico; outro a moderna po-esia sentimental do Norte, ainda que descobrindo às vezes o caráter meridional de seu autor. Não é para este lugar o exame dos méritos e deméritos desses dois poemas; mas o que devemos lembrar é que eles são para nós os primeiros e até agora os únicos monumentos de uma poesia mais liberal do que a de nossos maiores.

Contudo, não existindo ainda um só livro sobre as letras consideradas de um modo mais geral e mais filosófico do que os que possuímos; sem uma só voz se ter levantado contra a autoridade de Aristóteles e de seus infiéis comentadores, será impossível emitir um juízo imparcial sobre escritos de semelhante natureza. Julgá-los por formas que o poeta não admitiu será um absurdo enquan-to se não provar a necessidade dessas formas; e isso, mesmo que elas sejam legítimas, só pode ser resultado de um maduro exame ou de uma polêmica sincera. Antes disso os velhos eruditos, ven-

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do ofendida a inviolabilidade de um tropel de preceitos que julgavam imprescritíveis, só darão ao gênio nascente o sorriso do desprezo; e os mancebos poetas, a quem o sentimento incerto das opiniões contemporâneas dirige por estradas que muitas vezes não conhecem, farão que as suas poesias corram brevemente parelhas com os desvarios que têm ultimamente manchado a mais bela das artes na França e na Inglaterra.

Um curso de literatura remediaria os danos que devemos temer, e serviria ao mesmo tempo de dar impulso às letras. Em Portugal ainda há homens cheios de vasta erudição, de filosofia e de gênio. Tiranias mais ou menos longas, mais ou menos cruéis os têm conservado na obscuridade de que de-vem sair, agora que se não receia a instrução, agora que os resguarda a égide da lei. Nós não deseja-ríamos, porém, que uma tal obra fosse puramente órgão desta ou daquela escola; deste ou daquele partido. Convém que os princípios opostos sejam examinados de boa-fé e sem acrimônia: a intole-rância em ideias políticas ou religiosas é odiosa; em matérias científicas, é ridícula. [...]

É, portanto, a educar homens que ventilem dignamente as questões de interesse público nas câmaras legislativas, ou que defendam a inocência e persigam o crime nos tribunais já públicos, que o estudo e ensino desta parte da literatura se deve dedicar: é assim que nós faríamos da essência destes dois gêneros de oratória o objeto da segunda parte de um curso literário, tocando apenas de leve quanto é formal na arte e que sapientíssimos retorições, copiando-se uns aos outros, de sobejo explicaram; mas tratando com profundeza os princípios aplicáveis principalmente aos gêneros judi-ciário e deliberativo em relação à nossa situação política. Para isso seria do exame da eloquência nos diferentes tempos e lugares, que nós partiríamos em nossas indagações [...]

Tal é o rápido quadro do nosso modo de pensar sobre a atual literatura portuguesa, e sobre os meios de a dirigir. As curtas reflexões que temos feito sobre a poesia e a eloquência são as bases em que julgamos dever-se fundar um curso de literatura, que serviria como de introdução aos estudos mais profundos do poeta e do orador. Oxalá que entre os nossos literatos algum se encarregue des-sa útil e importante tarefa.

Atividades1. Qual dos escritores românticos portugueses mais se preocupou com a história da nação? Justifique

sua resposta.

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2. Quais são as principais características do movimento romântico?

3. Qual a importância de Camilo Castelo Branco para a literatura portuguesa?

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CASTELO BRANCO, Camilo. Amor de Perdição. 9. ed. Lisboa: Ulisseia, 2000.

CAZUZA; NEVES, Ezequiel; ISRAEL; George. Burguesia. Disponível em: <http://letras. terra. com. br/cazuza/43858/ >. Acesso em: 20 ago. 2012.

DINIS, Júlio. As Pupilas do Senhor Reitor. 3. ed. Lisboa: Ulisseia, 2000.

FERREIRA, Maria Ema Tarracha. Época Clássica: Século XVIII. Lisboa: Ulisséia. S. d.

_____. Século XVI: Poesia Clássica e Literatura de Viagens. Lisboa: Ulisséia, S. d.

_____. Carta. Disponível em: <http://www. revista. agulha. nom. br/ferr01. html>. Acesso em: 5 ago. 2008.

GARRETT, João B. S. L. de Almeida. Folhas Caídas. Disponível em: <http://www. dominiopublico. gov. br/download/texto/ua00013a. pdf>. Acesso em: 29 jul. 2012.

_____. Viagens na minha Terra. São Paulo: Martin Claret, 2005.

_____. Folhas Caídas. Lisboa: Portugália, 1955.

GOMBRICH. E. H. A História da Arte. Rio de janeiro: LTC, 1999.

GOMES, Maria dos Prazeres. Ensaio para ler Camões. Revista Camoniana, v. 10, n. 2, p. 63-77.

HERCULANO, Alexandre. A Vitória e a Piedade. Disponível em: <http://www. dominiopublico. gov. br/download/texto/bi000017. pdf>. Acesso em: 29 jul. 2012.

_____. Eurico, o Presbítero. Lisboa: Unibolso, S. d.

_____. Qual é o estado da nossa literatura? Qual é o trilho que ela hoje tem a seguir? Repositório Literário da Sociedade das Sciencias Medicas e de Literatura do Porto, 1834.

RAMOS, Maria Ana. Cancioneiro da Ajuda. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 2007.

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Gabarito1. Alexandre Herculano foi o escritor romântico português que mais se dedicou ao estudo da his-

tória da sua nação: além de ter escritor vários textos ficcionais de caráter histórico, inaugurando o romance histórico português, ele ainda publicou diversos trabalhos somente historiográficos, como Monumentos históricos de Portugal, A história de Portugal e História e origem da Inquisição em Portugal.

2. O movimento romântico rejeita a tradição greco-romana e valoriza a tradição cristã. Rejeita o ma-terialismo e valoriza toda e qualquer forma de espiritualidade e o sentimento amoroso. Rejeita a cultura aristocrática e valoriza a cultura popular e a identidade nacional. Rejeita os manuais de re-tórica, as artes poéticas clássicas e os gêneros clássicos e valoriza a originalidade, a transgressão, o gênio literário e a mistura dos gêneros literários.

3. Camilo Castelo Branco foi um dos maiores escritores portugueses do século XIX, pois escreveu tanto prosa romântica como prosa realista. Dono de uma obra vastíssima, com mais de 260 títu-los, exercitou os mais variados gêneros literários: prosa, poesia, drama, crítica literária, política etc. Foi um dos primeiros escritores a viver somente de literatura em Portugal e ainda foi o autor de um dos textos mais famosos da história da literatura portuguesa, Amor de Perdição.

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