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GUIA DO TUTORVolume 1

Língua Portuguesa3ª série do Ensino Médio

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Entre Jovens 3ª série do Ensino Médio: guia do tutor língua portuguesa.

– São Paulo: Instituto Unibanco/CAEd, 2013.

212 p.; Vol I

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Coordenação do materialJuliana Irani do Amaral

Pesquisa e conteúdoCAEd – Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação

Consultoria responsávelCAEd – Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação

Agradecimentos especiaisSecretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, Secretarias de Estado de Educação do Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais e escolas parceiras que contribuíram para a testagem e validação da Metodologia Entre Jovens.

RealizaçãoInstituto Unibanco

PresidênciaPedro Moreira Salles

Vice-PresidênciaPedro Sampaio Malan

ConselhoAntonio MatiasCláudio de Moura CastroCláudio Luiz da Silva HaddadMarcos de Barros LisboaRicardo Paes de BarrosTomas Tomislav Antonin ZinnerThomaz Souto Corrêa NettoWanda Engel

Diretoria ExecutivaFernando Marsella Chacon RuizGabriel Amado de MouraJânio GomesJosé Castro Araujo RudgeLeila Cristiane B. B. de MeloLuis Antônio RodriguesMarcelo Luis Orticelli

Superintendência ExecutivaRicardo Henriques

Gerência de Implementação de ProjetosTiago Borba

Gerência de Desenvolvimento e ConteúdoMarta Grosbaum

Gerência de Gestão do ConhecimentoMirela de Carvalho

Gerência de Administração e FinançasFábio Santiago

Assessoria de Assuntos EstratégicosChristina Fontainha

Assessoria de ComunicaçãoMarina Rosenfeld

Assessoria de VoluntariadoFabiana Mussato

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SUMÁRIO

Apresentação

A LEITURA NA ESCOLA: por uma concepção de texto e leitor

OFICINA 1O TEXTO ARGUMENTATIVO: um diálogo sobre o valor do conhecimento e da leitura

OFICINA 2O TEXTO ARGUMENTATIVO: analisando a estrutura de argumentações

OFICINA 3A NARRATIVA LITERÁRIA: contos brasileiros

OFICINA 4A NARRATIVA LITERÁRIA: o conto contemporâneo

OFICINA 5LENDO POEMAS E FALANDO DE POESIA

OFICINA 6A POESIA MODERNISTA

OFICINA 7O TEXTO EXPOSITIVO: divulgando a ciência

OFICINA 8A CRÔNICA: um olhar sobre o cotidiano

MATRIZ DE REFERÊNCIA DE LÍNGUA PORTUGUESA DO SAEB PARA A 3ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO

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APRESENTAÇÃO

Caro tutor,

Este caderno pretende auxiliá-lo na tarefa de conduzir oficinas de Língua Portuguesa, como atividade de tutoria a alunos da terceira série do Ensino Médio da rede pública de ensino. São oito oficinas que têm a leitura como sua principal atividade. Acreditamos que a leitura deve estar no centro da atividade escolar. São muitos os dados – de avaliações externas e pesquisas – que nos mostram a ainda baixa proficiência em leitura de nossos jovens, não obstante os muitos anos de permanência na escola. A dificuldade de interpretar os textos que circulam na sociedade e na escola ajuda a explicar a própria resistência à leitura que nossos alunos costumam tão frequentemente manifestar. Esse quadro tem, sem dúvida, reflexos no seu desempenho escolar.

Nas oficinas propostas, portanto, sua tarefa principal será “ensinar a ler”. O que significa, para nós, ensinar a ler? Significa desenvolver habilidades e estratégias de leitura, significa ensinar os alunos a agirem como agem leitores mais experientes, mais proficientes. Trabalhar com textos é a melhor forma de ensinar Língua Portuguesa. Conforme você verá, muitos conhecimentos sobre a nossa língua serão trabalhados nas oficinas. Também a partir da leitura de textos, os alunos serão convidados a conhecer nossa literatura, do passado e do presente. É ainda a atividade de leitura que permitirá aos alunos refletir sobre como se organizam vários gêneros textuais, e essa reflexão é fundamental para realizar outra importante tarefa das oficinas: a de ensinar a escrever textos.

As oficinas foram organizadas a partir de uma tipologia de textos: argumentativos, narrativos, expositivos, instrucionais, poéticos. Nosso material de leitura traz textos de opinião, editoriais de jornais, crônicas, notícias, reportagens, textos publicitários, contos, poemas etc. Procuramos incluir uma variedade de textos por acreditarmos também que há estratégias específicas para abordarmos gêneros específicos. Na medida do possível, procuramos organizar as oficinas fazendo dialogar textos sobre um mesmo tema. Essa é uma forma de construir espaços nos quais a leitura esteja no centro de um diálogo sobre questões importantes para nós e para nossa sociedade.

Para a leitura dos textos, elaboramos um conjunto de “atividades de leitura”, cuja finalidade é ajudá-lo a mediar o contato do aluno com os textos, apontando para as pistas relevantes que guiam a construção de sentidos que é a leitura. Acreditamos que esse exercício de diálogo atento com o texto, inicialmente conduzido por um mediador mais experiente, possa oferecer aos nossos leitores em formação instrumentos para que se tornem leitores mais atentos, estratégicos e autônomos.

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Para ajudar a organizar seu trabalho, cada unidade subdivide-se nas seguintes seções:

1. Objetivos da oficina – em que se listam os objetivos do trabalho naquela oficina.

2. Textos para leitura – onde são apresentadas “breves leituras” dos textos selecionados, com indicação de aspectos relevantes de sua organização estrutural e dos recursos linguístico-discursivos utilizados.

3. Roteiro para o trabalho nas oficinas – onde se descreve, passo a passo, a dinâmica da oficina.

4. Atividades de leitura (comentadas) – onde se apresentam as atividades de leitura a serem feitas pelos alunos, preferencialmente por escrito, com a mediação do tutor. São questões de leitura que visam “modelar” estratégias de leitor proficiente. Nessa seção, abaixo de cada atividade, são apresentadas “possibilidades de respostas”. Incluímos também, a cada questão, os respectivos “descritores”1.Devem ser observados, ainda, os comentários relativos ao propósito das questões propostas.

Gostaríamos de esclarecer, no entanto, que:

• As “leituras” dos textos, apresentadas na seção 2, são apenas uma das leituras possíveis para o texto proposto. Conforme veremos adiante, ao discutirmos a concepção de texto e leitor que fundamenta este material, um texto pode ser lido de formas diferentes. Nosso propósito, ao apresentar uma leitura comentada, fundamenta-se, basicamente, na necessidade de apontarmos, nos textos em questão, aspectos relevantes de sua macro e microestrutura, de modo a possibilitar o estudo do gênero e o desenvolvimento das habilidades a ele relativas.

• Os roteiros apresentados são também sugestões que procuram dinamizar o trabalho, propondo atividades em grupo ou individuais, leitura silenciosa ou em voz alta etc. O tutor deve considerar o andamento das oficinas ao seguir o roteiro. No entanto, nosso propósito de desenvolver habilidades de leitura não pode prescindir do contato pessoal, individual do aluno com o texto, contato que deve ser mediado pelo tutor.

• As atividades de leitura – seção 4 – incluem, no caderno do tutor, “possibilidades de respostas”. Insistimos em uma concepção de leitura que considera a atuação subjetiva do aluno leitor, que deve apresentar “suas respostas” e fundamentá-las. Desse modo, o tutor, diante das variedades de leituras que possam surgir, deve estar atento à forma como os alunos dialogam com o texto, procurando reconhecer as pistas que eles consideraram ou mesmo as que deixaram de considerar. Em resumo, as respostas às atividades de leitura apresentadas neste caderno não são as únicas autorizáveis.

Para realizarmos um bom trabalho, é importante considerarmos, ainda, as orientações que se seguem a cada atividade de leitura. A indicação dos descritores aponta para as habilidades de leitura em foco em cada uma das questões. Essa informação é complementada por comentários que pretendem explicitar o propósito das atividades de leitura, bem como mostrar como essas

1 Descritores da Matriz de Referência de Língua Portuguesa do Saeb 2001 para o 3º ano do Ensino Médio (em anexo)

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atividades estão relacionadas numa sequência que pretende “guiar” o leitor no seu exercício de identificar as pistas de leitura relevantes. Muitas questões, por exemplo, chamam a atenção para o título dos textos, propõem a relação do título com outra informação textual. Outras apontam para escolhas lexicais e gramaticais discursivamente relevantes etc.

Em algumas oficinas, propomos atividades de produção de textos após as atividades de leitura. Escrever é uma atividade que demanda um tempo maior. Sugerimos que o tutor oriente a escrita dos alunos, a partir das sugestões apresentadas no guia, e que eles desenvolvam seus textos como atividade de casa, caso não haja tempo para fazê-lo durante a oficina. De qualquer forma, é imprescindível que o tutor dedique algum tempo à correção/comentários dos textos com os alunos, o que poderá ser feito durante as oficinas, enquanto o grupo realiza suas tarefas.

Por fim, este caderno traz também um texto que apresenta a concepção de texto e leitor que fundamenta essa prática e discute o papel do professor no ensino da leitura. Trata-se de uma leitura essencial para que você, tutor, possa compreender a importância de seu papel como mediador nas atividades de leitura propostas nas oficinas.

Acreditamos que, nessas oficinas de leitura, os alunos possam, com a sua ajuda, aprender a ler de forma mais competente. Acreditamos também que esse aprendizado possa, pelo enfrentamento das dificuldades, revelar aos jovens o prazer de ler.

Bom trabalho!

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Este texto pretende discutir o aprendizado da leitura na escola, assumindo uma concepção de texto e leitor que sustente a prática de leitura que propomos para a formação de jovens leitores, estudantes de nossas escolas públicas de ensino básico.

A experiência nos tem mostrado que a distância entre o jovem e a leitura pode ser diminuída se a atividade de ler deixar de ser tão trabalhosa – o que requer aprendizado sistemático – e for reconhecida pelos alunos, com a ajuda da escola, como uma atividade necessária nas complexas sociedades letradas que construímos. Por outro lado, a leitura pode tornar-se, além de uma atividade reconhecidamente necessária, uma atividade divertida, prazerosa. Acreditamos que a escola ensina a gostar de ler quando se compromete em fazer de seus alunos leitores mais competentes e, ao mesmo tempo, cria espaços de diálogo com textos que oportunizem experiências de reflexão e cidadania, contextualizando as práticas de leitura.

Para que esse projeto de formação de leitores se consolide é necessário que a leitura esteja no centro da prática escolar, constituindo-se mesmo no eixo que poderá promover o diálogo tão necessário entre as disciplinas curriculares (Kleiman & Moraes 1999). Particularmente, nas aulas de Língua Portuguesa, o olhar do “especialista”, ou seja, do professor de linguagem, deve organizar e promover práticas de leitura que permitam desenvolver nos leitores em formação “habilidades de leitor proficiente”. (Kato 1985; Kleiman 1989). A aquisição de habilidades para abordar os mais diferentes gêneros de texto, por outro lado, requer sistematicidade na organização do planejamento da disciplina, e o professor tem um papel central na formação do leitor, particularmente na tarefa de mediar as atividades de leitura formulando questões que “guiem” os leitores nesse percurso de aprendizagem.

Um projeto dessa natureza prevê a adoção de novas categorias para a organização de um programa sistemático da disciplina Língua Portuguesa que, acreditamos, seja eficiente para a constituição de leitores competentes: um programa que considere, inicialmente, uma tipologia de textos e alcance, ao fim, o estudo dos recursos linguístico-discursivos mais diretamente associados a cada um dos diferentes gêneros elencados.

Um bom programa poderia organizar-se, por exemplo, a partir dos seguintes tipos de textos: narrar, relatar, instruir, expor, argumentar. Dessas seis categorias derivam subcategorias de gêneros: editoriais, cartas de leitor, textos de opinião, ensaios, que compõem a categoria “argumentar”; contos, crônicas, romances, novelas, que compõem a categoria “narrar”; notícias, reportagens, biografias, que compõem a categoria “relatar” etc.2

2 A categorização que propomos distingue os gêneros do “narrar” como aqueles pertencentes ao universo da ficção, da história “inventada”, e os do “relatar” como gêneros relativos ao fato ocorrido, “real”. Essa diferenciação tem se mostrado eficiente para os propósitos didáticos de ensino da leitura a partir de uma tipologia de textos. Para uma introdução à teoria dos gêneros, sugerimos MEURER, BONINI & MOTTA-ROTH 2005).

A LEITURA NA ESCOLApor uma concepção de texto e leitor

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Esse tipo de programa, conforme podemos observar, possibilita alterar a organização curricular por conteúdos e coloca o estudo da teoria, da metalinguagem – que por muito tempo ocupou posição central no ensino de linguagem – em posição de menor evidência, reconhecendo nesse estudo uma função secundária na tarefa de construção de usuários eficientes da língua.

O projeto de transformar nossos programas de Língua Portuguesa em programas ocupados essencialmente com o ensino da leitura nos parece duplamente eficiente: ler e aprender a ler na escola é um projeto que pode fazer sentido para os jovens, que costumam queixar-se, bastante lucidamente, da falta de sentido da escola. E, o mais importante, responde a uma urgência num país que precisa ampliar o acesso à leitura e melhorar seus índices de proficiência.

Qualquer projeto que pretenda formar leitores hábeis e autônomos exige sistematicidade e uma formação especializada para a leitura e para o ensino de leitura. Nesse sentido, recuperamos brevemente, na seção seguinte, algumas contribuições teóricas que acreditamos já bastante conhecidas pelos professores que atuam na escola básica e por estudiosos interessados na leitura e no ensino da leitura. São teorias que contribuíram para embasar muitos dos textos oficiais que nos servem como parâmetros para a organização de nossos programas de ensino de Língua Portuguesa e que têm aqui a função de fundamentar a prática de leitura que propomos.

Contribuições teóricas: por uma concepção de texto e leitor

São premissas fundamentais do trabalho com leitura que propomos: I) a leitura é uma construção subjetiva de sujeitos leitores que atuam sobre o texto a partir de um conjunto de conhecimentos acumulados; II) o significado, portanto, não está no texto, o texto nos oferece um conjunto de pistas que guiam o leitor na tarefa de construção de sentido que é a leitura; III) além de atividade cognitiva, a leitura é também empreendimento interativo mediado pelo texto, que permite o diálogo com um interlocutor ausente.

A adesão a essas postulações teóricas tem implicações óbvias para o trabalho do professor. A primeira delas diz respeito a uma prática ainda corrente que cerceia os processos de leitura em sala de aula ao impor como correta ou mais autorizável a leitura do professor ou do livro didático. Essa prática aponta para uma concepção de leitura radicalmente diversa da que aqui assumimos. Os livros didáticos costumam indicar, nos manuais do professor, a “resposta certa” nas atividades de leitura e, em muitos casos, as respostas do livro didático são apontadas como a única leitura possível. O resultado mais prejudicial disso é que, ao assumir esse tipo de procedimento, o professor estará inibindo o exercício de interação dos alunos com o texto, exercício que, envolvendo “acertos” e “erros”, deve constituir o centro do trabalho do professor de linguagem.

O ensino da leitura prevê o exercício cotidiano daquilo que faz um leitor proficiente quando lê: o exercício de levantar hipóteses e checá-las, o exercício de confirmar ou descartar hipóteses iniciais, o de retornar a partes dos textos ou mesmo relê-lo para refinar a compreensão, o exercício de inferir o significado de termos desconhecidos em atenção ao contexto local, o exercício de selecionar as pistas relevantes que podem melhor guiar os leitores na tarefa de construir sentido. Toda essa fecunda atividade costuma ser anulada nas aulas de leitura que sobrepõem as “leituras autorizadas” àquelas que nossos alunos nos oferecem a partir de seus conhecimentos e experiências ou mesmo de suas possibilidades de interação com os textos que lhes apresentamos.

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Não estamos assumindo com isso que toda leitura produzida na sala de aula seja autorizável e deva ser acatada sem questionamentos pelo professor. Há certamente leituras que os textos não autorizam, ou seja, aquelas que não encontram fundamentação suficiente nas pistas textuais. Um rico exercício de leitura, a propósito, é justamente o de solicitar que os alunos fundamentem as leituras feitas. Em alguns casos, o resultado desse exercício será o descarte, pelo aluno, de sua construção inicial. Em outros casos, porém, o professor poderá perceber uma possibilidade de leitura ainda não cogitada por ele, professor, ou mesmo uma contribuição coerente com o processo de maturação de determinado leitor ainda em formação3.

Essa compreensão da leitura como empreendimento cognitivo e interacional que estamos assumindo tem, ainda, implicações relativas ao arranjo do espaço interativo onde se produzirão as leituras que pretendem formar leitores. A sala de aula deverá constituir-se num espaço de interação em que os textos circulem e sejam objeto de leitura compartilhada. Os alunos partilham suas leituras entre si e com o professor. Este, no entanto, tem um papel definido no processo: o de mediar os processos de construção de sentido, de modo a “guiar” o leitor em formação em seu percurso de aprendiz. Através de exercícios sistemáticos (como o de localizar informações, o de levantar hipóteses e confirmá-las, o de produzir inferências, o de relacionar informações etc), o professor vai modelando estratégias metacognitivas de abordagem do texto (Kleiman 1993), ou seja, vai possibilitando que o jovem leitor aprenda a proceder como os leitores mais experientes.

Nessa atividade de interação do aluno com o texto, o professor deve atuar, acima de tudo, fazendo perguntas, de modo que os alunos recuperem pistas relevantes, questionem-se sobre avaliações ou hipóteses equivocadas, corrijam rumos. É bastante comum que nós, professores, diante das dificuldades de nossos alunos, leiamos para eles, oferecendo as respostas, o que deve ser evitado. Aprender a ler exigirá exercício, envolverá trabalho. Daí a importância da leitura silenciosa, do contato solitário do aluno com o texto, que, em seu esforço de compreensão, deverá, por sua vez, ser estimulado a fazer perguntas. Por outro lado, em alguns casos, a leitura em voz alta pelo professor pode ter o seu lugar. Uma formação para o ensino de leitura é fundamental para que o profissional possa tomar decisões a respeito dessas e de outras estratégias pedagógicas.

É importante que o professor esteja atento também a uma prática bastante comum em aulas de leitura como as que aqui estamos propondo. O professor deve cuidar para que suas aulas de leitura não se transformem em debates que abandonam o texto e passam a discutir os temas em questão sem dar atenção à “voz” do autor. O aluno deve interagir autonomamente com os textos que lê, o que implica, exatamente, uma “escuta” atenta que leve em conta as sinalizações várias que o texto oferece para que possamos depreender sua intenção comunicativa e com ele dialogar.

Acreditamos que é esse exercício cotidiano, focado no desenvolvimento de habilidades de leitura, que garantirá a formação de leitores competentes, proficientes. Acreditamos também que esse trabalho é resultado de um trabalho sistemático que considere as particularidades de determinados tipos e gêneros de textos.

3 A sala de aula pode, dessa forma, constituir-se num espaço privilegiado de investigação, de pesquisa, que permite ao professor refletir sobre suas práticas e sobre os processos de aprendizagem da linguagem.

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Referências bibliográficas

MEURER, J. L.; BONINI, A. & MOTTA-ROTH, D. Gêneros – teorias, métodos e debates. São Paulo: parábola Editorial, 2005.

KLEIMAN, A. B. & MORAES, S.E. Leitura e Interdisciplinaridade: tecendo redes nos projetos da escola. Campinas, SP: Mercado das Letras, 1999.

KLEIMAN, A. B. Leitura: Ensino e Pesquisa. São Paulo: Pontes, 1989.

KLEIMAN, A. B. Oficina de leitura: teoria e prática. Campinas, SP: Pontes, 1993.

KOCH, I. V & ELIAS, V. M. Ler e compreender – os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006.

KOCH, I. V. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto

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O TEXTO ARGUMENTATIVOum diálogo sobre o valor do conhecimento e

da leitura

OFICINA 1

Begma Tavares Barbosa

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1. OBJETIVOS

1. Motivar os alunos para as oficinas do projeto.

2. Promover uma discussão sobre o valor do conhecimento e da leitura.

3. Desenvolver a habilidade de ler argumentações.

4. Introduzir o estudo sistemático da argumentação, trabalhando as noções de tese e argumento.

2. TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA

Texto I – “Ensinando a voar” – Gilberto Dimenstein

O texto de Gilberto Dimenstein reúne dois relatos de vida, conta as histórias de Expedito Resende, um cientista brasileiro hoje reconhecido por suas invenções, e de seu pai José Parente, “inventor do inventor.” Os relatos ocupam as quatro primeiras partes do texto e, na última, o autor constrói uma breve argumentação, tomando os relatos como evidências de sua tese (ou de suas teses): “Envolvimento na educação dos filhos, culto ao empreendedorismo e reverência ao aprendizado são formas para se evitar a marginalidade”; “Nosso problema não é de maioridade penal, mas de menoridade dos adultos”.

O texto pode ser lido a partir de diferentes enfoques: como um relato que evidencia a importância da família na educação dos filhos; como um relato que ilustra que, com esforço, podemos alterar os rumos de nossa vida etc. No entanto, há pistas que nos permitem identificar um tema como sendo bastante central: recorrem no texto proposições sobre o “valor do conhecimento”. Consideremos algumas: “o gosto pelo conhecimento é a maior herança que posso deixar”; “a maior riqueza está dentro da cabeça”; “ficou arraigada em todos nós aquela reverência pelo saber”; “Voltou para o Ceará, fascinado pelo encanto dos experimentos químicos.” Observe-se que a primeira afirmação ganha, inclusive, destaque em negrito no texto. O apreço, a “reverência” pelo saber mudou a vida de José Parente e de seu filho Expedito e, por outro lado, o conhecimento produzido por Expedito irá promover mudanças positivas no mundo. É interessante observar a importância do personagem do pai, “o grande inventor”, já que ele “ajudou a inventar o inventor”.

Outro dado importante a ser observado é a afirmação do último período: “Nosso problema não é de maioridade penal, mas de menoridade dos adultos”. Na época, estava em debate, no Brasil, o tema da redução da maioridade penal. Essas pistas nos permitem dizer que o texto pretende também argumentar sobre esse tema.

Por fim, queremos destacar o belo título desse texto. Ambíguo, o título pode ser lido como uma metáfora sobre o valor do conhecimento. De um lado, faz referência à tecnologia inventada por Expedito Resende, o combustível para avião, que nos “ensina a voar” utilizando energia limpa; por outro lado, constrói uma representação do conhecimento como algo que nos liberta, “nos ensina a voar”.

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Texto II – “Alegres e ignorantes” – Lya Luft

O texto de Lya Luft é um texto argumentativo, ou seja, um texto escrito para defender um ponto de vista, emitir uma opinião. O título “Alegres e ignorantes”, bem como a afirmação entre aspas e em destaque, aponta para seu tema central: a autora discute o valor da informação e também a desinformação da “elite pensante” brasileira.

Lya Luft inicia seu texto fazendo o elogio do “humor”. No primeiro parágrafo e em parte do segundo, a autora aborda esse tópico, apresentando-se, inclusive, como alguém que “não esquece a importância do bom humor”. A esse respeito expressa, então, um ponto de vista: “Bom humor zero. Desperdício de vida: acredito que, junto com o dinheiro, sexo e amor, é a alegria que move o mundo para o lado positivo.”

No entanto, segundo sua argumentação, ser alegre não pode significar ser alienado. Segundo a autora, não podemos nos fechar em “nosso pequeno círculo pessoal”, esquecendo de participar com consciência da vida social e política do país. Sua tese central está, portanto, expressa em: “Estar informado e atento é o melhor jeito de ajudar a construir a sociedade que queremos, ainda que sem ações espetaculares”.

A autora posiciona-se, ainda, a respeito de nossas “elites pensantes”, afirmando que os que sabem ler e têm oportunidade de acesso à informação não a valorizam, tampouco se preocupam em participar da vida política e social, condição para construirmos a “sociedade que queremos”.

Para cada uma das postulações assumidas, a autora apresenta argumentos. Ao citar dados de pesquisa, por exemplo, a autora sustenta a afirmação de que nossa elite pensante é bastante ignorante. Outro argumento para sustentar a mesma tese: a maioria (e a autora se inclui nesse grupo) não sabe dizer o nome de nossos representantes políticos.

Devemos observar, ainda, que, no último parágrafo do texto, a autora retoma, resume seu posicionamento, remetendo ao título: afirma a importância da alegria e condena “o risinho tolo da burrice e da desinformação”.

Texto III – “Mentes do Futuro” – Gilberto Dimenstein

“Mentes do futuro” é também um texto argumentativo que defende, principalmente, a seguinte tese: “Em meio ao turbilhão de dados fragmentados e desconexos, a habilidade de seleção será cada vez mais demandada.” O título, bem como o destaque que essa afirmação ganha no texto, aponta para a centralidade dessa tese.

A argumentação tem início com um relato: a história de Marcelo Masagão é um exemplo da habilidade de seleção e síntese de que fala o autor. Portanto, esse relato serve como um argumento exemplificativo que irá sustentar a tese principal defendida no texto. Outra estratégia argumentativa é a referência ao trabalho de Howard Gardner. Ao mencionar a teoria da “mente sintetizafora” do psicólogo e pesquisador de Harvard, o autor também valida seu posicionamento a respeito do tipo de habilidade cognitiva que as sociedades de informação tendem a valorizar. Ele utiliza aqui um argumento de autoridade, ao citar um especialista e estudioso do assunto tratado.

A diagramação do texto sinaliza a abordagem de diferentes tópicos que se relacionam nessa argumentação: a história de Marcelo Masagão; a teoria das inteligências múltiplas; a importância da habilidade de síntese; a escola e a habilidade de selecionar e sintetizar informações. Na última parte do texto o autor discute o papel da escola no enfrentamento dessa nova realidade:

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“Em geral, as crianças e os jovens não são treinados, na escola, a selecionar, mas a acumular informações de diferentes matérias...”. Esse outro posicionamento do autor é também confirmado por um argumento: “Está aí uma das razões por que foi muito mais fácil para Masagão fazer sucesso na vida do que na escola.”.

3. ROTEIRO PARA O TRABALHO NAS OFICINAS

1. Atividade oral – conversa com o grupo a partir da leitura do texto I – Nessa primeira oficina, propomos que o tutor convide os alunos para uma conversa sobre o valor do conhecimento e da leitura. É importante que os alunos pensem sobre isso e se sintam motivados ao trabalho a ser desenvolvido nas oficinas. Reunidos em círculo, o tutor deve iniciar as atividades com o guia “Entre Jovens” lendo com os alunos o texto “Ensinando a voar”. O tutor pode, inicialmente, pedir que os alunos se manifestem sobre o texto. A partir daí, deve mediar a leitura, possibilitando que o diálogo com o texto se aprofunde. Uma forma de mediar esse diálogo é propor algumas perguntas, como: I) por que o texto tem esse título?; II) por que José Parente é chamado de “o inventor do inventor”?; III) como você entende a expressão “é uma criação muito mais que biológica”?; IV) na sua opinião, o texto dá mais destaque ao pai ou ao filho?; V) você conhece histórias como a de José Parente?; VI) por que o conhecimento pode ser uma experiência de liberdade? Etc.

2. Leitura do texto II – Os alunos devem ler o texto II e resolver as atividades de leitura. Antes de iniciar essa atividade, o tutor deve checar que tipo de conhecimento os alunos têm sobre argumentações. A partir desse conhecimento, o tutor deve encaminhar a atividade, que pode ser feita individualmente ou em grupo, sempre com a mediação do tutor, que deve estar disponível para atender às dúvidas dos alunos.

3. Correção das atividades relativas à leitura do texto II

4. Leitura do texto III – Os alunos podem fazer as atividades de leitura juntamente com o tutor, que deve estar atento às dúvidas que possam surgir a respeito do conteúdo em estudo: a argumentação. É importante também que, nessa primeira oficina, o tutor utilize o momento de retomar as atividades de leitura para colocar o tema da leitura e do conhecimento em foco. Todos os textos da oficina propiciam isso.

5. Atividade escrita – Os alunos deverão produzir um pequeno texto argumentativo que apresente seu posicionamento e a justificativa ou argumento sustentador desse posicionamento. Uma forma de ajudar os alunos nessa atividade é organizar com eles um esquema dessa argumentação.

4. TEXTOS E ATIVIDADES DE LEITURA

O texto que você vai ler conta a história de dois brasileiros: pai e filho. Vale a pena conhecer essas histórias, que falam de “superação”. Leia atentamente o texto, observe as pistas que indicam onde foi publicado e quem é seu autor. Sinalize nele os trechos que chamarem a sua atenção ou as dúvidas que surgirem. Depois de lê-lo, você vai conversar sobre ele com seu grupo.

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TEXTO I

G I L B E R T O D I M E N S T E I N

Ensinando a voarRepetia, como se fosse mantra: “o gosto pelo conhecimento é a melhor herança

que posso deixar”

O CEARENSE Expedito Resende, 66, conseguiu atrair a atenção mundial ao inventar um combustível para avião

feito à base de óleo de babaçu, atualmente em testes avançados nos laboratórios da Boeing, acompanhados pela Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos. Mudar o jeito como os aviões voam, usando o chamado “bioquerosene”, não seria sua mais importante descoberta.

Professor de engenharia química da Universidade Federal do Ceará, Expedito criou, nos anos 70, o biodiesel. Usando plantas comuns no Nordeste, viu que o combustível servia, sem nenhum problema, nos motores como substituto do petróleo. Mas, na época, não havia tanta consciência ecológica, o preço do petróleo ainda não estava nas alturas e não se sabia como dar escala comercial à sua invenção. Em 1991, alemães e austríacos resolveram usar a descoberta para produzir energia limpa.

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Nos últimos tempos, Expedito vem ganhando prêmios internacionais e ajudando a implantar centenas de usinas de biodiesel. Isso significa a perspectiva de criação de empregos, especialmente no Nordeste, e de um recurso contra o aquecimento global.

Por trás dessa tecnologia há uma história não menos interessante sobre quem ajudou a inventar esse inventor. Chama-se José Parente, pai de Expedito – é uma criação muito mais do que biológica.

José Parente tinha 12 anos quando deixou um povoado nas proximidades de Sobral (CE), onde vivia, e mudou-se para Fortaleza. Era o caçula entre seus 28 irmãos, sustentados pelo pai agricultor. Fez o trajeto a pé, sozinho, alimentando-se com o que encontrava no caminho. Tinha dois projetos: obter um emprego e entrar numa escola.

Matriculou-se para o período noturno de uma escola, mas, com o excesso de trabalho, acabou desistindo. Tentou por várias maneiras continuar estudando. Pediu ajuda a seu patrão e ouviu a seguinte frase: “Menino pobre não precisa de escola”.

Praticando, José Parente aprendeu as artes do comércio. Adulto, tornou-se empresário, casou, teve nove filhos, todos entraram na faculdade. Repetia algumas frases como se fossem mantras: “o gosto pelo conhecimento é a melhor herança que posso deixar” ou “a maior riqueza está dentro da cabeça”.

Nas conversas familiares, sempre vinham as histórias do menino de 12 anos, caminhando sozinho pelas estradas de terra, a frustração pela impossibilidade de estudar compensada pelas habilidades autodidatas. Já empresário próspero (depois teve um banco), José Parente tratou de ajudar aquela escola em que tentou, mas não conseguir estudar.

Expedito cresceu ouvindo esses casos. “Ficou arraigada em todos nós aquela

reverência pelo saber”, conta Expedito. Essa reverência estava por trás de sua decisão de sair de casa para estudar, como tinha feito seu pai. “Só que, desta vez, sem desconforto”, diz ele. Mudou-se para o Rio, onde se formou em engenharia química e, depois, aprimorou-se nos Estados Unidos e na Europa. Voltou para o Ceará, fascinado pelo encanto dos experimentos químicos. Uma de suas criações foi a “vaca mecânica” para a produção de leite de soja, disseminada em centenas de cidades brasileiras.

Testou motores com álcool, mas preferiu investigar melhor o poder de plantas como o babaçu. Em 1984, um Bandeirante, da Embraer, voou de São José dos Campos até Brasília, movido a bioquerosene, desenvolvido por Expedito – apesar do sucesso do voo, o projeto foi arquivado pelos militares.

Foram necessários mais 20 anos para que levassem a sério sua experiência, agora em apreciação pelos americanos – certamente seria impossível se o inventor não tivesse com um de seus professores um menino de 12 anos, andando a pé pelo interior do Nordeste, com o sonho de aprender.

PS – O caso de José Parente mostra os caminhos para se evitar a marginalidade, gerando inventores e não criminosos – envolvimento familiar na vida dos filhos, culto ao empreendedorismo e reverência ao aprendizado. Nosso problema não é de maioridade penal, mas a de menoridade dos adultos.

FOLHA DE SÃO PAULO, 25 fev 2007. Cotidiano.

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Vamos ler agora um outro texto argumentativo. Observe sempre, antes de iniciar sua leitura, as várias informações que acompanham o texto: quem o escreveu, onde e quando foi publicado. Preste atenção também naquilo que está em destaque: título, frases, imagens. Isso pode tornar sua leitura mais eficiente.

TEXTO II

Lya Luft

Alegres e ignorantes“Estar informado e atento é o melhor jeito de ajudar a construira sociedade que queremos, ainda que sem ações espetaculares”.

Ilustração Atômica Studio

Há fases em que, inquieta, eu talvez aponte mais o lado preocupante da vida. Mas jamais esqueço a importância do bom humor, que na verdade me caracteriza no cotidiano, mais do que a melancolia. Meu amado amigo Erico Verissimo certa vez me disse: “Há momentos em que o humor é até mais importante do que o amor”. Eu era muito jovem, na hora não entendi direito, mas a vida me ensinou: nem o amor resiste à eterna insatisfação, à tromba assumida, às reclamações constantes, à insatisfação sem tréguas. Bom humor zero. Desperdício de vida: acredito que, junto com dinheiro, sexo e amor, é a alegria que move o mundo para o lado positivo. Ódio, indignação fácil, rancores e inveja – e nossa natureza predadora – promovem mediocridade e atos cruéis.

Quando, seja na vida pessoal, seja como cidadãos ou habitantes deste planeta, a descrença e o desalento rosnam como animais no escuro no meio do mato, uma faísca de bom humor clareia a paisagem. Mas há coisas que nem todo o bom humor do mundo resolveria num riso forçado. Como senti ao ler, numa dessas pesquisas entre esclarecedoras e assustadoras (quando vêm de fonte confiável), que mais de 30% da nossa chamada elite é de uma desinformação avassaladora. Aqui o termo “elite” não tem a ver com aristocracia, roupa de grife, apartamento em Paris ou décima recostura do rosto, mas com a gente pensante. A que usa a cabeça para

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algo além de separar orelhas. Pois, segundo a pesquisa, entre nós a imensa maioria dos ditos pensantes não consegue dizer o nome de um só ministro desta nossa República. Senadores, nem falar.

A turma que completa o 2º grau, que faz faculdade, que tem salário razoável, conta no banco, deveria ser a informada. Essa que não precisa comprar carro em noventa meses e deixar de pagar depois de quatro. A elite que consegue viajar conhece até algo do mundo, e poderia ter uma pequena biblioteca em casa. Em geral, não tem. Com sorte, lê jornal, assiste a boas entrevistas e noticiosos daqui e de fora, enfim, é gente do seu tempo. Para isso não se precisa de muita grana, acreditem. Mesmo assim, essa elite é pouco interessada numa realidade que afinal é dela.

Resolvi testar a mim mesma: nomes de ministros atuais desta nossa República. Cheguei a meia dúzia. São quase quarenta. Então começo a bater no peito, em público, aliás. Num país onde mais da metade dos habitantes são analfabetos, pois os que assinam o nome não conseguem ler o que estão assinando, ou vivem como analfabetos, pois não leem nem o jornal largado na praça, os que sabem ler deveriam ser duplamente ativos, informados e participantes. Não somos. Nossos meninos raramente sabem o título de seus livros escolares ou o nome dos professores (sabem o dos jogadores de futebol, dos cantores de bandas, das atrizezinhas semieróticas). Agimos como se nada fora do nosso pequeno círculo pessoal nos atingisse.

Além das desgraças longe e perto, vindas da natureza ou do homem, estamos num ano eleitoral. Inaugurado o circo de manobras, mentiras e traições escrachadas ou subliminares que conhecemos. Precisamos de claridade nas ideias, coragem nos desafios, informação e vontade, e do alimento dos afetos bons. Num livro interessante (não importa o assunto) alguém verbaliza velhas coisas que a gente só adivinhava; um filme pode nos lembrar a generosidade humana; uma conversa pode nos tirar escamas dos olhos. Estar informado e atento é o melhor jeito de ajudar a construir a sociedade que queremos, ainda que sem ações espetaculares. Mas, se somos desinformados, somos vulneráveis; se continuarmos alienados, bancaremos os tolos; sendo fúteis, cavamos a própria cova; alegremente ignorantes, podemos estar assinando nossa sentença de atraso, vestindo a mordaça, assumindo a camisa de força que, informados, não aceitaríamos.

Alegria, espírito aberto, curiosidade, coisas boas desta vida, todos as merecemos. Mas me poupem do risinho tolo da burrice ou da desinformação: o vazio por trás dele não promete nada de bom.

Lya Luft é escritora

VEJA, 3 Março, 2010.

ATIVIDADES DE LEITURA

O texto que você leu é um texto de opinião, uma ARGUMENTAÇÃO. Antes de iniciar as atividades de leitura, considere, atentamente, o quadro abaixo:

O componente mais importante de uma argumentação é a sua TESE. A tese de um texto argumentativo é o ponto de vista ou posicionamento assumido pelo autor a respeito do tema em discussão.

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1. No texto “Alegres e ignorantes”, Lya Luft posiciona-se a respeito de vários temas. Grife no texto as teses ou pontos de vista da autora:

1.1 Sobre o humor.

“Bom humor zero. Desperdício de vida: acredito que, junto com o dinheiro, sexo e amor, é a alegria que move o mundo para o lado positivo.”

D7

1.2. Sobre a “elite pensante” brasileira.

“(...) Os que sabem ler deveriam ser duplamente ativos, informados e participantes. Não somos”.

D7

1.3. Sobre a importância de nos mantermos informados:

“Estar informado e atento é o melhor jeito de ajudar a construir a sociedade que queremos, ainda que sem ações espetaculares”

D7

A questão (1) requer que os alunos reconheçam, no texto, afirmações que correspondam a posicionamentos assumidos pela autora em relação a três importantes tópicos do texto. Depois de reconhecer esses posicionamentos, os alunos devem ser estimulados a discuti-los, concordando ou discordando deles. Esse exercício é importante para a descoberta de que a leitura é uma atividade que nos permite esse diálogo sobre temas da vida e problemas do mundo.

2. Leia com atenção:

Textos escritos para defender uma opinião sobre determinado tema são textos argumentativos. Uma boa argumentação deve utilizar argumentos que confirmem suas teses.

Que argumentos a autora utiliza para cada uma das opiniões defendidas? Grife esses argumentos no texto:

2.1. “(...) Os que sabem ler deveriam ser duplamente ativos, informados e participantes. Não somos.”

“(...) mais de 30% da nossa chamada elite é de uma desinformação avassaladora. (...) Segundo a pesquisa, entre nós, a imensa maioria dos ditos pensantes, não consegue dizer o nome de um só ministro dessa nossa república. Senadores, nem falar.”

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“Resolvi testar a mim mesma: nomes de ministros atuais dessa nossa República. Cheguei a meia dúzia (...) Então começo a bater no peito, em público, aliás.”

“Nossos meninos raramente sabem o título de seus livros escolares (...) sabem o dos jogadores de futebol, dos cantores de banda, das atrizezinhas semieróticas.”

D8

2.2. “Estar informado e atento é o melhor jeito de ajudar a construir a sociedade que queremos, ainda que sem ações espetaculares”

“Precisamos de claridade nas ideias, coragem nos desafios, informação e vontade...”

“Se somos desinformados, somos vulneráveis; se continuarmos alienados, bancaremos os tolos; sendo fúteis, cavamos a própria cova...”

D8

A questão 3 auxilia os alunos no reconhecimento dos argumentos que sustentam as opiniões da autora. O fato de não sabermos o nome de nossos representantes políticos (e a autora se reconhece parte da “elite desinformada”), a afirmação de que os jovens interessam-se mais por diversão que pelo conhecimento ou pela escola, são argumentos que sustentam a opinião exposta em 3.1. Para defender a importância de estar informado (3.2), a autora reforça a importância da informação, afirmando que estar informado nos permite ter ideias mais claras sobre os fatos da vida. Por outro lado, estar desinformado nos torna seres alienados, vulneráveis, tolos, fúteis. Insistimos que o tutor discuta cada uma dessas ideias com os alunos. É importante que os alunos reflitam sobre elas e se posicionem, dialogando com o texto.

3. Os títulos dos textos são uma pista muito importante sobre o seu conteúdo, e costumam indicar o seu tema central. Comente o título do texto: “Alegres e ignorantes”.

No início do texto a autora fala da importância do humor e da alegria: “é a alegria que move o mundo para o lado positivo”. No entanto, segundo sua argumentação, ser alegre não pode significar ser alienado. A autora defende a ideia de que não podemos nos fechar em “nosso pequeno círculo pessoal”, esquecendo de participar com consciência da vida social e política do país. Por isso defende a importância de estarmos bem informados.

D6

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4. Quem são os alegres e ignorantes de que fala a autora?

Eles fazem parte, principalmente, da chamada “elite pensante”, que a autora define como aqueles que têm oportunidade de estudar, têm um bom salário, podem viajar, têm acesso à leitura e, portanto, à informação, mas não se interessam pela discussão dos problemas da realidade.

D4

5. Por que a autora afirma que “os que sabem ler deveriam ser duplamente ativos, informados e participantes.”?

Porque vivemos num país onde muitos são “analfabetos”, ou seja, não conseguem ler um jornal, e isso limita sua participação na vida social e política. Quem sabe ler, portanto, tem uma responsabilidade dupla.

D4

6. Qual seria o objetivo principal do texto?

O texto de Lya Luft pretende discutir, principalmente, a importância de nos mantermos informados. Além do título, outra pista relevante que nos permite reconhecer esse tema é a informação em destaque à esquerda do texto: “Estar informado e atento é o melhor jeito de ajudar a construir a sociedade que queremos, ainda que sem ações espetaculares”.

D12

7. Considere a ilustração que acompanha o texto. Como você a interpreta?

Os olhos fechados podem indicar a ignorância e a alienação daqueles que, embora tendo condições, não procuram estar informados. O texto também fala do “risinho tolo da burrice e da desinformação”.

D5

As questões de 3 a 7 chamam a atenção para sinalizações importantes em um texto como o título e ilustrações que possam acompanhá-lo. Títulos são pistas que apontam, frequentemente, para o tema central dos textos e ajudam a construir hipóteses sobre o seu objetivo comunicativo.

8. Releia:

“Mas, se somos desinformados, somos vulneráveis; se continuarmos alienados, bancaremos os tolos; sendo fúteis, cavamos a própria cova; alegremente ignorantes, podemos estar assinando nossa sentença de atraso, vestindo a mordaça, assumindo a camisa de força que, informados, não aceitaríamos”.

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8.1. Explique a afirmação: “se somos desinformados, somos vulneráveis”. Considere o verbete abaixo para construir sua resposta.

vulnerável [Do lat. vulnerabile.] Adjetivo de dois gêneros. 1.Que pode ser vulnerado: “Perdidos e sós no grande descampado, sentem-se desamparados e vulneráveis como crianças.” (Miguel Torga, Portugal, pp. 114-115.) 2.Diz-se do lado fraco de um assunto ou de uma questão, ou do ponto pelo qual alguém pode ser atacado ou ferido. [Pl.: vulneráveis. Cf. vulneráveis, do v. vulnerar.]

Dicionário Aurélio versão digital

Vulnerável pode significar frágil. A autora afirma que a desinformação nos torna frágeis, ou seja, uma pessoa desinformada pode ser facilmente enganada, ludibriada.

D3

8.2. Explique também: “se continuarmos alienados, bancaremos os tolos”. Considere o verbete abaixo para construir sua resposta.

alienar [Do lat. alienare.] Verbo transitivo direto. 1.Transferir para outrem o domínio de; tornar alheio; alhear: O testamento proibia alienar os bens herdados. 2.Desviar, afastar; alhear. 3.Indispor, malquistar: Evita alienar o ânimo do velho amigo. 4.Alucinar, perturbar; alhear: O grande desgosto alienou-lhe o juízo. Verbo transitivo direto e indireto. 5.Desviar, apartar: Alienou de mim a boa vontade que o ministro demonstrara. Verbo pronominal. 6.Afastar-se, distanciar-se. 7.Tornar-se alienado; manter-se alheio aos acontecimentos. Dicionário Aurélio versão digital

O melhor sentido para a palavra alienado no texto está exposto em 7: tornar-se alienado é manter-se alheio aos acontecimentos. A alienação causada pela desinformação, segundo a autora, nos faz tolos, bobos, facilmente manipuláveis.

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8.3. No fragmento de texto em destaque na questão 8, grifamos algumas expressões metafóricas que a autora utiliza para argumentar sobre a importância de sermos informados. Explique o significado dessas expressões.

Pelas expressões utilizadas, podemos dizer que a informação e o conhecimento nos libertam. A ignorância é representada como uma mordaça e uma camisa de força, expressões que sugerem que a ignorância nos aprisiona.

D18

Na questão 8 sugerimos que o tutor aprofunde com os alunos o significado do fragmento em destaque. Para tanto, os alunos devem reconhecer o sentido de algumas palavras utilizadas no texto e tentar explicar, através de paráfrases, as afirmações da autora. Essa é uma boa oportunidade para conhecerem e aprenderem a ler um verbete de dicionário. O tutor deve orientar, portanto, a leitura desse gênero, observando que há significados mais apropriados que outros para as palavras, dependendo do contexto em que foram utilizadas.

Em 8.3 chamamos a atenção para uma bela metáfora do texto. As expressões “vestir a mordaça/ assumir a camisa de força da ignorância” nos levam a construir a seguinte representação da ignorância: Ignorância é prisão. Ao contrário disso, “conhecimento é liberdade”. Além de discutir a importância das metáforas como recursos de expressão (tópico que será abordado em outras oficinas) o tutor pode discutir com os alunos a ideia de que conhecimento é liberdade. Merece também destaque no texto a formulação “precisamos de claridade nas ideias”. Essa expressão metafórica constrói outra bela representação do conhecimento: “conhecimento/informação é luz”. O contrário, a ignorância, é escuridão.

Leia agora o último texto desta oficina. Observe que ele foi escrito pelo mesmo autor do texto I e publicado também no jornal Folha de São Paulo. Gilberto Dimenstein costuma discutir, em sua coluna, temas relativos ao conhecimento, à juventude e à educação.

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TEXTO III

G I L B E R T O D I M E N S T E I N

Mentes do futuro

COMEÇA NA PRÓXIMA segunda-feira, em São Paulo, o festival internacional de filmes com apenas um minuto de duração, reunindo 80 países – esse tipo de mostra ocorre anualmente em 40 nações, circula em escala planetária e atrai o patrocínio de empresas multinacionais. Pouca gente sabe que esse festival é uma invenção brasileira e ninguém imagina que seu inventor era visto, por muito tempo, como um fracasso, um caso irrecuperável.

Marcelo Masagão estava desempregado, em 1991, quando conseguiu passar filmes de um minuto num teatro da PUC, em SP; no ano seguinte, iria para o MIS (Museu da Imagem e do Som). Um italiano viu aquela experiência e a levou para a Europa, de onde se disseminou.

Como era excessivamente bagunceiro, foi expulso – ou, como se diz, convidado a se retirar – das escolas em que estudou. “Nunca tive uma turma de formatura”, lembra. Não conseguiu ficar nem mesmo no Colégio Equipe, uma ilha de liberalidade paulistana. Na faculdade, cursou psicologia, mas, após sete anos, não tinha completado 40% dos créditos.

Só resolveu mesmo se esforçar na oitava série porque seu pai o chamou de “burro e vagabundo”. Tirou notas altas, a maioria dez, nas matérias. Mas no final se desentendeu com

um professor e, mais uma vez, recebeu o convite para se retirar.

Como ele conseguiu montar um projeto bem-sucedido? A resposta possivelmente

está nos estudos sobre as diversas formas de inteligência desenvolvidos em Harvard – é uma das questões essenciais para os alunos que, nesta semana, voltam para seus colégios e universidades.

Disseminador da ideia de que existem inteligências múltiplas (a escola só focaria numa delas), o psicólogo Howard Gardner afirma que um dos atributos fundamentais para prosperar profissionalmente é a “mente sintetizadora”. Com o excesso atordoante de informação, graças em boa parte à abundância de fontes na internet, passa a valer mais quem sabe extrair o que é essencial – ou seja, quem sabe selecionar e apontar um caminho.

Em meio ao turbilhão de dados fragmentados e

desconexos, a habilidade da seleção será cada vez

mais demandada

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O primeiro filme de Masagão era um esforço de resumir e encadear em 70 minutos toda a história do século 20 – e sem nenhuma fala, apenas com imagens. Depois de tanto tempo de dispersão, acabou encontrando a síntese de seu futuro na busca de gente que procura uma síntese em apenas um minuto, transformada também num projeto de internet, e não apenas nos festivais.

Agora, ele criou a modalidade de obra em dez segundos, batizada de “nanofilme”.

Em meio ao turbilhão de dados fragmentados e desconexos, a habilidade da seleção será cada vez mais demandada – o que vai abater parte do encanto da produção coletiva de conhecimento (o jornalismo colaborativo, por exemplo), na qual muitos sentem autoridade para falar de qualquer assunto. Afinal, a síntese depende de um longo processo de avaliação do que é essencial.

Mais uma vez, o Festival do Minuto serve como exemplo. Tecnicamente, qualquer um hoje pode se sentir um cineasta. Basta um celular. São enviados para lá milhares de filmes, sem qualquer esforço de produção. O ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, tentou fazer uma emissora de TV, via internet, para a qual qualquer um pudesse mandar sua matéria. Viram-se obrigados a mudar o formato. Um claro sinal dessa tendência apareceu no projeto “Círculo de Leitores”, desenvolvido pela Folha, em que, durante oito meses, o jornal ouviu seus assinantes em São Paulo, Rio e Brasília. Eles querem uma publicação com os seguintes atributos: analítico, sintético, prático e interpretativo. Em síntese: querem ter ajuda para selecionar o que importa para suas vidas.

É fácil entender as razões dessa demanda; difícil é enfrentá-las. Como reduzir tantas coisas, muitas delas complexas, em tão poucos minutos de leitura diária? Como captar a atenção de um público cada vez mais hiperativo? Não é um problema, óbvio,

apenas dos meios de comunicação. É um desafio que envolve toda a rede de produção e disseminação do conhecimento.

Em geral, as crianças e os jovens não são treinados, nas escolas, a selecionar, mas a acumular informações de diferentes matérias, sem muita conexão com a realidade, avaliadas em provas – e depois, rapidamente, esquecidas. Os estudantes voltam, nesta semana, às aulas e vão encontrar um sistema curricular que, na maioria dos casos, está fracassado, determinado não por pedagogos, mas pelo mercado de trabalho. Está aí uma das razões por que foi muito mais fácil para Marcelo Masagão fazer sucesso na vida do que na escola. Só não sabia que iria virar uma espécie de professor na arte de sintetizar.

PS – Coloquei em meu site (www.dimenstein.com.br) um texto para quem quiser conhecer melhor as ideias de Howard Gardner, professor da escola de Educação em Harvard. Também coloquei uma seleção dos filmes de um minuto que serão exibidos, nesta semana, no festival em São Paulo.

[email protected]

FOLHA DE SÃO PAULO, 3 março 2009. Cotidiano.

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ATIVIDADES DE LEITURA

1. Explique o título do texto.

O título faz referência a um tipo de habilidade cognitiva que é e será bastante valorizada nas sociedades modernas: a habilidade de selecionar e sintetizar informações.

D6

2. O texto de Gilberto Dimenstein é um texto argumentativo. Explique por quê.

O autor escreve o texto para defender algumas opiniões. Por exemplo: “Em meio ao turbilhão de dados fragmentados e desconexos, a habilidade de seleção será cada vez mais demandada.”; “Em geral, as crianças e os jovens não são treinados, na escola, a selecionar, mas a acumular informações de diferentes matérias...”

D12

3. A frase em destaque pode ser considerada a tese principal do texto de Gilberto Dimenstein. Releia:

“Em meio ao turbilhão de dados fragmentados e desconexos, a habilidade de seleção será cada vez mais demandada.”

3.1. Como você compreende essa afirmação?

As tecnologias modernas, principalmente o computador, a internet, nos permitem acesso a um turbilhão de informações, por isso a habilidade de selecionar essas informações e construir conhecimento a partir delas será cada vez mais importante.

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3.2. Relacione a imagem que acompanha o texto à tese em destaque acima.

A imagem ilustra o processo de seleção e escolha de que o texto fala. As folhas que caem abundantemente seriam as inúmeras informações que nos chegam, o homem escolhe, seleciona algumas delas.

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3.3. Que argumentos são utilizados, no texto, para sustentar a tese do autor?

O principal argumento é a história de Marcelo Masagão, criador do “festival do minuto’, que faz sucesso no mundo inteiro. Sua capacidade de produzir filmes curtíssimos é um exemplo da habilidade de seleção e síntese de que fala o texto. Ele seria uma “mente do futuro”. O texto utiliza também um argumento de autoridade, ao citar a pesquisa do psicólogo Howard Gardner.

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As questões de 1 a 3 recuperam conhecimentos básicos e importantes para a leitura de argumentações: a noção de tese e argumento. Além disso, exercitam a atenção para as pistas textuais indicadoras do tema de um texto: título, imagem, destaques. Ao corrigir a atividade 3 o tutor deve dar destaque às várias estratégias que podem ser usadas na construção do argumento de um texto, como: a apresentação de exemplos, a citação de discursos de autoridade, a utilização de dados empíricos (dados estatísticos e de pesquisa).

4. Observe a diagramação do texto: ele está dividido em partes. Procure explicar essa divisão.

Podemos dizer que, em cada uma dessas partes, o texto aborda um tópico, e esses tópicos se relacionam em torno do tema central. Os tópicos abordados são: a história de Marcelo Masagão; a teoria das inteligências múltiplas; a importância da habilidade de síntese; a escola e a habilidade de selecionar e sintetizar informações.

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5. Além da tese principal do texto, o autor apresenta também sua opinião sobre como a escola lida com a habilidade de selecionar e sintetizar a informação.

5.1. Identifique no texto o posicionamento do autor a respeito desse assunto.

“Em geral, as crianças e os jovens não são treinados, na escola, a selecionar, mas a acumular informações de diferentes matérias...”

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5.2. Que argumento o autor usa para confirmá-la?

A afirmação de que Marcelo Masagão, embora tenha feito muito sucesso na vida, não o fez na escola, pelo contrário, foi expulso de várias delas.

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5.3. Você concorda com esse posicionamento? Justifique sua resposta.

Resposta pessoal.

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A questão 4 auxilia o aluno na análise da organização estrutural da argumentação. Essa é uma atividade importante para a formação do leitor, pois desenvolve a habilidade de identificar tópicos (de parágrafos ou de partes de um texto) discursivos e de estabelecer relações entre tópicos. Na questão 5, chamamos a atenção para a quarta parte do texto em que se discute o papel da escola no desenvolvimento da habilidade de selecionar e sintetizar, tópico central do texto. Também aí está implicada a habilidade de relacionar tese e argumento.

VAMOS ESCREVER

Depois de ler textos que falam sobre o valor do conhecimento, da informação e da leitura, escreva um texto curto sobre o tema “Juventude e Conhecimento”. As perguntas abaixo devem ajudar você a escrever seu texto, que deve apresentar seu ponto de vista e a sustentação desse ponto de vista.

Pense, então, nessas questões:

O jovem tem interesse pelo conhecimento? Onde ele o busca? Ele valoriza o conhecimento escolar? A escola contribui para que o jovem aprenda a valorizar o conhecimento? O que motiva o jovem a querer aprender algo? O que poderia ser feito na escola para que o jovem se sentisse motivado a aprender?

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Estamos propondo que o aluno escreva um pequeno texto (de 10 a 15 linhas) sobre o tema “Conhecimento, juventude e escola”. Para tanto, propomos algumas perguntas, que não devem ser respondidas uma a uma. Elas podem servir para ajudar a selecionar os tópicos que deverão compor o texto. Selecionados os tópicos, os alunos devem desenvolvê-los. O tutor deve orientar os alunos, auxiliando-o a construir um pequeno esquema de sua argumentação. Esse esquema deve conter o posicionamento e a sustentação desse posicionamento. É importante também que o aluno conclua seu texto, o que pode ser feito encaminhando-se uma solução para o problema em discussão.

Por exemplo:

POSICIONAMENTO/TESE

•Os jovens gostam da escola, mas, para a maioria, ela é mais um lugar onde se pode fazer amigos e conviver do que um espaço para o aprendizado. O jovem não se interessa pelo conhecimento escolar.

ARGUMENTO

•Muitos conversam durante as aulas, distraem-se com seus aparelhos eletrônicos. Outros fazem bagunça, atrapalhando os interessados em aprender.

CONCLUSÃO

•A escola precisaria mudar seus métodos para que os jovens se interessassem mais pelo conhecimento.

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Anotações

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O TEXTO ARGUMENTATIVOanalisando a estrutura de argumentações

OFICINA 2

Begma Tavares Barbosa

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1. OBJETIVOS

1. Apresentar os componentes da macroestrutura da argumentação.

2. Desenvolver habilidades de: ler argumentações; analisar a estrutura de argumentações; escrever textos argumentativos.

2. TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA

Texto I – Inteligência artificial – editorial da Folha de São Paulo.

Nesse texto argumentativo retoma-se uma questão “muito antiga” e polêmica. A questão-problema que gera a argumentação está explícita no início do texto: “Poderá um dia a máquina pensar melhor e de forma mais inteligente que um ser humano?”. O posicionamento assumido pelo editorial anuncia-se em seguida: “Qualquer resposta definitiva para esta questão parece precipitada...”.

O autor do editorial, antes de apresentar seus argumentos, expõe dois outros posicionamentos, que se opõem. São possibilidades diferentes de responder à mesma pergunta: alguns acreditam que a máquina jamais superará seu criador, outros acreditam que essa realidade é apenas uma questão de tempo. Para cada uma dessas hipóteses, apresentam-se argumentos.

A argumentação do editorial é desenvolvida a partir do quarto parágrafo e se constitui em uma contra-argumentação, pois, ao mesmo tempo em que defende seu posicionamento, o autor contesta as hipóteses apresentadas anteriormente. No último parágrafo, o autor conclui o texto afirmando ser esta uma discussão muito antiga. Essa afirmação pode ser considerada como um reforço da tese apresentada que considera precipitada “qualquer resposta definitiva para a questão”.

É importante lembrar que, sendo um editorial, a tese desse texto argumentativo corresponde ao posicionamento do jornal onde foi publicado, e não de seu autor.

Texto II – 40 anos de internet – Marcelo Gleiser

O texto assinado por Marcelo Gleiser foi publicado em sua coluna semanal – dedicada à discussão de temas da ciência – no Jornal Folha de São Paulo. Trata-se de um texto de opinião que busca responder a uma pergunta central, em destaque no texto: “Será que a tecnologia está redefinindo quem somos?”. A tecnologia em foco no texto é a internet. Esse tópico central pode ser depreendido se considerarmos o conteúdo dos três primeiros parágrafos, o título do texto e seu parágrafo final conclusivo, onde o autor responde à pergunta colocada a partir de uma formulação hipotética: “A internet talvez represente uma nova fronteira, a da integração coletiva da humanidade a um nível sem precedentes. Se não no mundo real, ao menos no virtual.”.

Os dois primeiros parágrafos têm conteúdo expositivo e apresentam o fato que motiva a discussão do texto: os 40 anos da internet. O autor apresenta um posicionamento inicial – “Não há dúvida de que a internet está transformando o mundo, de que vivemos em meio a uma revolução” – para, a partir dele, encaminhar uma discussão mais específica: “A questão, ou uma delas, é que tipo de revolução é essa”. O autor aborda, então, alguns tópicos relacionados

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ao tema central do texto, como: o impacto da tecnologia na vida humana, a relação do jovem com a internet. Nesse percurso, apresenta alguns posicionamentos, por exemplo: afirma que os instrumentos tecnológicos modificam nossa visão de mundo; afirma que um grande diferencial da internet é seu potencial de abertura aos jovens e que estes têm na internet um espaço de “privacidade” antes não experimentado.

Considerando a macroestrutura dessa argumentação, chama a atenção a recorrência de perguntas. Essas perguntas têm, no texto, a função de apontar para questões que mobilizam o debate sobre a relação do homem com a tecnologia, particularmente, sobre as possibilidades de a tecnologia “redefinir” a vida humana. A complexidade das questões envolvidas nessa argumentação explica o posicionamento cauteloso do autor. Ao formular sua resposta à questão central, no último parágrafo do texto, ele se vale de recursos – como o advérbio “talvez” e a forma verbal de presente do subjuntivo – para apresentar uma hipótese que aponta para uma grande possibilidade da tecnologia da internet: a de “integração coletiva da humanidade a um nível sem precedentes”. Observe, no entanto, que, em seguida, esse posicionamento merece uma ressalva: essa possibilidade pode se dar apenas no mundo virtual.

Texto III – Propaganda da Microsoft

O texto tem como objetivo comunicativo vender um produto da Microsoft: o Office 2003, uma espécie de “gerenciador” mais eficiente na distribuição da informação. Como toda boa propaganda, o texto em questão se vale de um forte argumento para vender o produto: aqueles que não atualizaram seu programa são como dinossauros, seres pré-históricos (“Essa era já era”). O homem-dinossauro, imagem central do texto propaganda, ainda não substituiu o programa antigo pelo Office 2003, por isso cometeu um erro em seu trabalho. Ele deveria ter trocado o Office 2000 pelo 2003; dessa forma, estaria adaptado à “nova era”, à modernidade.

Podemos conduzir a leitura dessa propaganda, chamando a atenção para as pistas verbais e não verbais. A imagem do homem-dinossauro trabalhando em seu escritório é a sinalização mais relevante. A essa imagem relaciona-se diretamente o texto verbal “Xiiiiiiiiiiii!!!!!!! Acabei de enviar o e-mail pra todo mundo. E agora?”, texto que corresponderia ao que o homem diz a si mesmo. Essa relação permite que se leia o gesto de “mão na boca” como significando um “susto” ou o reconhecimento de um erro cometido.

Outro texto importante é “ESSA ERA JÁ ERA”, texto verbal que será melhor interpretado se relacionado ao quadro situado abaixo e à direita, em que se apresenta melhor ao interlocutor/consumidor o produto que está sendo oferecido. O diálogo entre os dois pequenos dinossauros indica que o produto que “já era”, o Office 2000, deve ser imediatamente substituído pelo 2003. Dessa forma, os dinossauros se “atualizarão”.

3. ROTEIRO PARA O TRABALHO NA OFICINA

1. Leitura e resolução das atividades relativas ao texto I – Os alunos podem fazê-lo em dupla ou individualmente. É possível que eles tenham dúvidas, pois as atividades introduzem conceitos que podem ser novos para os alunos. O tutor deve auxiliá-los, respondendo às dúvidas que forem surgindo no decorrer da oficina.

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2. Correção das atividades relativas ao texto I – O tutor deve aproveitar esse momento para consolidar o conhecimento sobre argumentações trabalhado nas oficinas. Se necessário, faça anotações no quadro, de modo a ajudar os alunos a organizarem as informações.

3. Leitura e resolução das atividades relativas ao texto II – A leitura de mais um texto argumentativo servirá para os alunos ampliarem seus conhecimentos sobre os componentes de uma argumentação e sobre como elas se organizam. O tutor pode escolher a melhor forma de fazer isso.

4. Leitura e resolução das atividades relativas ao texto III – O tutor pode fazer essa atividade com todo o grupo, oralmente. Em seguida, os alunos farão suas anotações no caderno.

5. Atividade escrita – Depois de analisarem a estrutura de argumentações, os alunos devem escrever um texto argumentativo. Aprender a planejar o texto é uma atividade importante, por isso o tutor deve auxiliar os alunos a construírem seus esquemas durante a oficina, e eles podem terminar seus textos em casa.

4. TEXTOS E ATIVIDADES DE LEITURA

As tecnologias criadas pelo homem têm um poder enorme nos tempos modernos. O homem quer inventar máquinas cada vez mais “inteligentes”. O editorial abaixo discute essa questão. Leia-o atentamente. Antes, porém, saiba o que é um EDITORIAL.

EDITORIAL [Do ingl. editorial.] Adjetivo de dois gêneros. 1.Relativo a editor ou editora. ~ V. encadernação —, matéria — e produção —. Substantivo masculino. 2.Jorn. Artigo que exprime a opinião do órgão, em geral escrito pelo redator-chefe, e publicado com destaque; artigo de fundo. Substantivo feminino. 3.Lus. Casa editora (q. v.).

DICIONÁRIO DIGITAL AURÉLIO

O tutor deve auxiliar os alunos na leitura do verbete, esclarecendo uma questão importante: sendo o texto um editorial, ele irá apresentar uma argumentação, mas, nesse caso, a tese apresentada corresponde ao ponto de vista defendido pelo Jornal Folha de São Paulo, e não à opinião do autor do texto.

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TEXTO I

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Poderá um dia a máquina pensar melhor e de forma mais inteligente que um ser humano? Qualquer resposta definitiva para esta questão parece precipitada, mas os cientistas estão de fato empenhados na busca de um computador capaz de pensar e evoluir mais do que um ser humano.

Para alguns, trata-se de uma tarefa impossível. A máquina jamais poderá superar seu criador. Estes aplaudem estrondosamente a recente vitória do enxadrista Garry Gasparov contra o computador Deep Blue, uma máquina inteligente construída pela IBM, a um custo de US$ 2,5 milhões, com o propósito único de jogar xadrez. O Deep Blue é capaz de analisar 200 milhões de lances por segundo; Gasparov, um ou dois.

Para outros, desenvolver as máquinas mais inteligentes que o homem é apenas uma questão de tempo. O cérebro humano não seria ele próprio mais do que uma máquina biológica, cujo mecanismo carbônico poderia ser transposto para o silício.

A primeira posição parece um pouco ingênua e é certamente alimentada por uma visão catastrofista do criador que perde o controle sobre a criatura, como o Frankenstein de Mary Shellley...

É igualmente precipitado afirmar que, algum dia, a humanidade estará construindo androides mais inteligentes que o homem. Nesse domínio, o bom senso recomenda que não se negue “a priori” o conceito de inteligência (ele próprio tão fluido) a computadores, nem que se considere a existência de androides hiperinteligentes como algo inelutável.

A discussão toda, no fundo, é muito antiga. Trata-se de saber se o homem é uma máquina biológica cuja inteligência seria o produto de estímulos eletroquímicos ou se existe um algo mais que os velhos filósofos gregos batizaram de alma.

(Editorial da Folha de São Paulo – 24-03-96)

ATIVIDADES DE LEITURA

1. Que tema o texto discute?

O texto discute uma questão antiga: a “inteligência” das máquinas e a possibilidade de elas superarem seu criador.

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2. O texto começa com uma pergunta. Qual seria a função dessa pergunta?

A pergunta expõe a questão que o texto pretende discutir. É, portanto, a “questão-problema” que gera a argumentação.

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3. Releia atentamente o segundo e terceiro parágrafos.

O texto expõe aí uma polêmica, ou seja, diferentes posicionamentos a respeito do tema em discussão. Esses posicionamentos não correspondem à opinião defendida pelo editorial. Vamos, então, chamá-los de HIPÓTESES. À opinião defendida pelo editorial chamaremos TESE.

3.1. Grife, no segundo e terceiro parágrafos, as hipóteses defendidas por outros argumentadores.

Hipótese 1- Para alguns, trata-se de uma tarefa impossível. A máquina jamais poderá superar seu criador.

Hipótese 2- Para outros, desenvolver as máquinas mais inteligentes que o homem é apenas uma questão de tempo.

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3.2. Cada uma dessas hipóteses é sustentada por argumentos. Grife no texto esses argumentos.

Argumento para a Hipótese 1 - Estes aplaudem estrondosamente a recente vitória do enxadrista Garry Gasparov contra o computador Deep Blue, uma máquina inteligente construída pela IBM, a um custo de US$ 2,5 milhões, com o propósito único de jogar xadrez. O Deep Blue é capaz de analisar 200 milhões de lances por segundo; Kasparov, um ou dois.

Argumento para a Hipótese 2 - O cérebro humano não seria ele próprio mais do que uma máquina biológica, cujo mecanismo carbônico poderia ser transposto para o silício.

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4. Releia agora o quarto e o quinto parágrafos do texto. Depois de apresentar dois diferentes posicionamentos a respeito do tema em discussão, apresenta-se a tese do editorial.

4.1. Que posicionamento é assumido pelo jornal?

O posicionamento do editorial é anunciado no primeiro parágrafo do texto: “Qualquer resposta definitiva para esta questão parece precipitada, mas os cientistas estão de fato empenhados na busca de um computador capaz de pensar e evoluir mais do que um ser humano”. Embora o texto não negue a existência de máquinas “inteligentes” (“o bom senso recomenda que não se negue “a priori” o conceito de inteligência (...) a computadores”), ele considera precipitado afirmar que a máquina vai superar seu criador: “É igualmente precipitado afirmar que, algum dia, a humanidade estará construindo androides mais inteligentes que o homem”.

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Sendo esse um debate polêmico, o autor constrói sua argumentação de forma ponderada. Por isso, também, contesta posicionamentos extremos, contra-argumentando às teses apresentadas no segundo e terceiro parágrafos.

4.2. Ao posicionar-se no debate, o autor contesta as opiniões de outros argumentadores. Preencha o quadro abaixo, considerando sua resposta à questão 3 e 4:

HIPÓTESES DE OUTROS

ARGUMENTO PARA AS HIPÓTESE 1 E 2

CONTRA ARGUMENTAÇÃO DO

EDITORIAL

1.

Para alguns, trata-se de uma tarefa impossível. A máquina jamais poderá superar seu criador

Estes aplaudem estrondosamente a recente vitória do enxadrista Garry Gasparov contra o computador Deep Blue (...). O Deep Blue é capaz de analisar 200 milhões de lances por segundo; Kasparov, um ou dois.

A primeira posição parece um pouco ingênua e é certamente alimentada por uma visão catastrofista do criador que perde o controle sobre a criatura, como o Frankenstein de Mary Shellley...

2.

Para outros, desenvolver as máquinas mais inteligentes que o homem é apenas uma questão de tempo.

O cérebro humano não seria ele próprio mais do que uma máquina biológica, cujo mecanismo carbônico poderia ser transposto para o silício.

É igualmente precipitado afirmar que, algum dia, a humanidade estará construindo androides mais inteligentes que o homem.

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4.3. No último parágrafo, o autor conclui o seu texto. Como ele o faz?

Na conclusão, o autor lembra que essa é uma discussão muito antiga, o que reforça seu posicionamento de que as posições extremas devam ser evitadas.

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As questões de 1 a 4 propõem a identificação dos componentes da macroestrutura da argumentação lida, que se organiza da seguinte forma:

PERGUNTA/PROBLEMAA pergunta inicial coloca o problema que está em discussão. Podemos, então, dizer que todo texto argumentativo é a resposta a uma questão-problema posta ao debate em torno de um tema relevante. Na maior parte das vezes essa pergunta está implícita, e identificá-la ajuda a compor o esquema argumentativo de um texto, permitindo encontrar mais facilmente sua tese e argumentos. No texto lido, a questão problema que mobiliza o debate está explícita.

HIPÓTESESChamamos hipóteses às possíveis respostas que se apresentam à pergunta colocada. No texto lido, o autor expõe duas hipóteses, duas diferentes respostas para a mesma pergunta, dois diferentes posicionamentos ante o problema apresentado.

TESEA tese de um texto é a resposta que seu autor assume como mais adequada, é o posicionamento ou ponto de vista assumido pelo autor. No caso do texto lido, não se apresenta uma resposta definitiva para a questão discutida. O autor assume que “qualquer resposta definitiva seria precipitada”.

ARGUMENTOArgumento é tudo aquilo que, num texto argumentativo, sustenta a tese defendida. Argumentamos através de postulações que explicam nossos posicionamentos bem como através de recursos vários como: citações, dados estatísticos, exemplos, relatos etc. No texto lido, os argumentos apresentados para defender a tese são contra-argumentos, o autor argumenta contestando os outros posicionamentos apresentados, o que caracteriza esse texto como uma contra-argumentação.

CONCLUSÃO

Exposta a tese e os argumentos em um texto argumentativo, a conclusão encerra o discurso. Muitas vezes, esse “encerramento” se faz retomando-se o que é central no texto, sua tese. Também é muito comum que as conclusões encaminhem uma solução para o problema posto em discussão.

Ao corrigir as atividades com os alunos, o tutor deve deixar claras essas noções, podendo, inclusive, anotá-las no quadro.

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5. Observe agora como o autor organiza os parágrafos de seu texto. Preencha o quadro abaixo indicando os tópicos de cada parágrafo.

PARÁGRAFOS TÓPICOS

1.Pergunta- problema: A máquina poderá superar seu criador? + Tese do autor: Qualquer resposta a essa pergunta parece precipitada.

2.Hipótese 1: A máquina não superará seu criador + Argumento: Gasparov vence o computador numa partida de xadrez

3.Hipótese 2: Com o tempo, as máquinas serão mais inteligentes que o homem + Argumento: O cérebro humano é uma espécie de máquina biológica

4.Contestação da hipótese 1: A primeira posição parece ingênua e catastrofista.

5.Contestação da hipótese 2: É precipitado afirmar que construiremos andróides mais inteligentes que o homem.

6.Conclusão - Reafirmação da tese: Sendo a discussão muito antiga, qualquer resposta definitiva parece precipitada.

6. O texto lido apresenta marcadores que sinalizam o que será apresentado em cada parágrafo. Ao mesmo tempo, essas sinalizações articulam os parágrafos do texto, garantindo a coesão textual. Observe a expressão em negrito na frase em destaque. Ela indica que o autor irá apresentar, nesse parágrafo, uma hipótese, a opinião de um grupo de pessoas.

Para alguns, trata-se de uma tarefa impossível. A máquina jamais poderá superar seu criador.

Grife, no texto, outros marcadores discursivos que fazem a coesão textual, articulando os parágrafos do texto. Explique a sua função.

Para outros – expressão que articula o terceiro parágrafo ao segundo, indicando que o autor irá apresentar uma outra hipótese, diferente da apresentada anteriormente.

A primeira posição – expressão a partir da qual o autor retoma o conteúdo do segundo parágrafo, para contestá-lo.

É igualmente precipitado afirmar – expressão a partir da qual o autor retoma o conteúdo do terceiro parágrafo, para também contestá-lo.

A discussão toda – expressão a partir da qual o autor retoma todo o texto, para concluí-lo.

D2

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As questões 5 e 6 também permitem refletir sobre a organização estrutural da argumentação. É um exercício dos mais importantes para aprender a ler e a escrever textos argumentativos. Em (5) chamamos a atenção para os critérios utilizados para a organização dos parágrafos e dos tópicos textuais. Em (6), apontamos para os marcadores discursivos que anunciam tópicos e articulam esses parágrafos. O tutor deve mostrar aos alunos a importância desses recursos, utilizados, ora para retomar informações (coesão referencial), ora para fazer avançar o texto, criando elos sequenciais (coesão sequencial).

7. Textos que discutem temas polêmicos costumam apresentar posicionamentos bastante ponderados, ou seja, seus autores evitam apresentar, de forma radical, suas opiniões. Que recursos, nas frases abaixo, demonstram que os argumentadores são ponderados ao apresentar suas opiniões?

a- “A primeira posição parece um pouco ingênua.”

b- “O cérebro humano não seria ele próprio mais do que uma máquina biológica.”

O verbo “parecer” e o tempo verbal futuro do pretérito (“seria”) são escolhas feitas para atenuar os posicionamentos assumidos.

D18 – D19

A questão 7 chama a atenção para recursos que permitem atenuar nossas afirmações. São recursos frequentemente utilizados quando, por exemplo, temos dúvida a respeito do assunto tratado ou mesmo quando não queremos nos “comprometer” definitivamente com o que está sendo dito.

Vamos ler agora um outro texto argumentativo sobre o mesmo tema: a relação do homem com a tecnologia. As atividades de leitura do texto ajudarão você a consolidar os conhecimentos sobre o texto argumentativo. Ao mesmo tempo, você terá oportunidade de refletir sobre um tema interessante.

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TEXTO II

+ M a r c e l o G l e i s e r

40 anos de internet

Faz 40 anos que os computadores de Leonard Kleinrock, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, e de Douglas Engelbart, do Instituto de Pesquisas na Universidade de Stanford, foram conectados por uma “linha especial” da Arpanet, um sistema de apenas quatro computadores que faziam parte de um projeto do Departamento de Defesa dos EUA.

Com o passar dos anos, o sistema exclusivo de tráfego de informação evoluiu, saiu dos laboratórios de cientistas para o público e hoje é conhecido como internet.

Não há dúvida de que a internet está transformando o mundo, de que vivemos em meio a uma revolução. A questão, ou uma delas, é que tipo de revolução é essa: será que a internet pode ser comparada, por exemplo, ao telefone ou ao carro, ou mesmo à imprensa de tipo móvel, que revolucionou o livro? Ou será que ela pertence a outra classe de tecnologia, que não só transforma a sociedade mas que vai além, redefinindo quem somos?

A questão é complicada, difícil até de ser formulada. O telefone e o carro transformaram o modo como as pessoas se comunicavam, iam ao trabalho, viajavam, viam o mundo. Como toda tecnologia que se torna de uso público, primeiro começaram pequenos, com alcance limitado: eram poucas as linhas telefônicas e as estradas.

Aos poucos, as coisas foram crescendo e, em meados do século 20, telefones e estradas estavam pelo mundo todo. Uma diferença bem importante é que a internet, por ser acessível por computadores, é bem mais aberta aos

jovens. Telefones celulares também; os jovens têm a sua privacidade, o seu espaço virtual separado do dos pais e irmãos. A comunicação é tão fácil e rápida que chega a tornar o

contato direto, em carne e osso, desnecessário.

Talvez seja uma preocupação dos meus leitores mais velhos, que, como eu, nutriam as amizades no campo real e não por meio de

sites como Facebook e Twitter, mas será que a internet nos fará desaprender como nos relacionar diretamente com outros seres humanos?

Deixando esse tipo de preocupação de lado, se olharmos para a história da civilização, veremos que podemos contá-la como uma história da tecnologia. À medida que novas tecnologias foram sendo desenvolvidas, do controle do fogo e da rotação de terra na agricultura até a roda, o arado e os transistores e semicondutores usados em aparelhos eletrônicos, nossa história foi, em grande parte, determinada pelas nossas máquinas. Valores e interesses mudam, e visões de mundo se transformam de acordo com nossos instrumentos.

O Homo habilis, nosso ancestral que usou ferramentas pela primeira vez, evoluiu rumo ao Homo sapiens e, agora, este se transforma no Homo conectus. Será que nossos avanços tecnológicos são, hoje, a principal mola da nossa evolução como espécie? Nesse caso, será que a tecnologia está redefinindo o que significa ser humano?

Descontando uma grande devastação biológica, como uma epidemia de proporções globais ou um cataclismo climático ou

Será que a tecnologia está

redefinindo quem somos?

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ecológico, somos donos da nossa evolução: nossa transformação como espécie ocorre muito menos devido a mutações aleatórias e ao processo de seleção natural do que, por exemplo, devido a um maior intercâmbio racial, à melhor alimentação e aos avanços da medicina, à integração de tecnologias diversas com o corpo (marca-passos, órgãos e membros artificiais) e com a mente (drogas que mudam nossas emoções, implantes nos olhos e ouvidos, chips no cérebro).

A internet talvez represente uma nova fronteira, a da integração coletiva da humanidade a um nível sem precedentes. Se não no mundo real, ao menos no virtual.

______________________________________

MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro

“A Harmonia do Mundo”

FOLHA DE SÃO PAULO, 3 de nov 2009. MAIS!

ATIVIDADES DE LEITURA

1. Qual é o tema do texto?

A internet e os impactos dessa tecnologia na vida humana.

D6

2. No texto, há uma série de perguntas. Grife-as. Qual é a função dessas perguntas?

As perguntas do texto apresentam as questões-problema que o autor quer discutir.

D19

É importante que o aluno avalie as pistas textuais para a identificação do tema do texto: nos 40 anos da internet, o autor pretende discutir o impacto dessa tecnologia na vida do homem, ou mesmo as possibilidades que as tecnologias teriam de redefinir a vida humana. O tema da internet nos parece central, veja que o texto se conclui abordando as possibilidades da internet. É importante também chamar a atenção dos alunos para a função das perguntas nesse texto argumentativo. Observe-se que uma delas merece destaque, sinalizando que a argumentação parece mais focada nas perguntas do que propriamente na construção de uma resposta definitiva a elas.

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3. Considere a opinião do autor a respeito do impacto da tecnologia na vida humana:

“Valores e interesses mudam, e visões de mundo se transformam de acordo com nossos instrumentos.”

Encontre, no texto, um argumento que sustenta essa opinião.

“O telefone e o carro transformaram o modo como as pessoas se comunicavam (...)viam o mundo.”

“Se olharmos para a história da civilização, veremos que podemos contá-la como uma história da tecnologia”.

D8

4. No texto o autor discute também a relação do jovem com a internet.

4.1. Que opinião ele defende a esse respeito?

Que a internet é uma tecnologia que tem forte impacto na vida dos jovens. Ele afirma também que essa tecnologia, assim como o celular, garante “privacidade” aos jovens, ou seja, eles ganham um novo espaço de comunicação, fora do controle da família.

D7

4.2. Ao discutir o tema Juventude e Internet, o autor apresenta um novo “problema”. Qual?

O autor menciona a adesão de grande parte da juventude a tecnologias como Facebook e Twitter. Esse problema o leva a acrescentar uma nova pergunta ao debate: “será que a internet nos fará desaprender como nos relacionar diretamente com outros seres humanos?”

D1

5. Releia:

“Será que nossos avanços tecnológicos são, hoje, a principal mola da nossa evolução como espécie? Nesse caso, será que a tecnologia está redefinindo o que significa ser humano?”

Observe que, no final do 7º parágrafo, o autor retoma a pergunta já colocada no final do 3º parágrafo.

5.1. Levante hipóteses sobre por que isso acontece.

Essa parece ser a questão central que o autor pretende discutir no texto, por isso ele a repete e a destaca.

D19

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5.2. Ele responde a essa pergunta?

Sim, o autor apresenta uma resposta para essa pergunta no último parágrafo do texto: “A internet talvez represente uma nova fronteira, a da integração coletiva da humanidade a um nível sem precedentes. Se não no mundo real, ao menos no virtual.”

D1

As questões 3 e 4 chamam a atenção para posicionamentos assumidos pelo autor a respeito de diferentes tópicos (em negrito nas questões) abordados no texto. A questão 5 chama a atenção para aquele que nos parece ser o tópico mais central do texto: as possibilidades de as tecnologias (particularmente a internet) “redefinirem quem somos”? Essa pergunta central é respondida no último parágrafo. Observe, no entanto, que o posicionamento do autor é formulado como uma hipótese. Como afirma o autor no início de sua argumentação, as questões postas ao debate são “complicadas”, por isso não há respostas definitivas. O tutor deve chamar a atenção dos alunos para a natureza hipotética da formulação do autor, apontando para o uso do presente do subjuntivo (represente), bem como para o advérbio “talvez”, escolhas discursivas importantes no texto.

TEXTO III

Dando continuidade às nossas discussões a respeito da relação do homem com a tecnologia, propomos a leitura do texto publicitário abaixo. Considere, ao ler esse texto, as várias pistas textuais: imagem, texto verbal, destaques.

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ATIVIDADES DE LEITURA

1. Qual seria o objetivo do texto?

Vender um novo produto da Microsoft: o Office 2003.

D12

2. O texto publicitário é um tipo de texto argumentativo, pois apresenta argumentos para convencer seus leitores a comprar um produto ou mesmo uma “ideia”. Qual é o argumento do texto publicitário que você leu?

O texto argumenta através da imagem do “homem-dinossauro”. Por não ter atualizado seu programa, ele executou mal uma tarefa. A frase “Essa era já era” reforça esse argumento, ao afirmar que tecnologias ultrapassadas devem ser substituídas por outras mais modernas, ou seja, o homem dinossauro deve trocar o Office 2000 pelo 2003.

D8

VAMOS ESCREVER

Escreva um texto argumentativo sobre o tema “Juventude e Tecnologia”. Pense nas questões colocadas pelo autor e em outras, como: como o jovem se relaciona com a tecnologia? Você concorda com a afirmação de que o jovem é muito dependente dela? Que aspectos positivos você apontaria na internet como tecnologia para juventude? Que aspectos negativos apontaria? Que outra tecnologia, além da internet, o jovem valoriza? Por quê? Etc.

Mais uma vez o tutor deve orientar os alunos a organizar o esquema de seu texto antes de escrevê-lo. Sugestões:

Esquema I: O jovem e a internet.

Parágrafo 1 – Introdução – O interesse crescente do jovem pela internet.

Parágrafo 2 – Aspectos positivos dessa tecnologia.

Parágrafo 3 – Aspectos negativos dessa tecnologia.

Parágrafo 4 – Como os jovens podem fazer bom uso da tecnologia?

Esquema II: Tecnologias preferidas pelo jovem

Parágrafo 1 – Quais são: internet, celular, Ipod...?

Parágrafo 2 – Por que essas tecnologias atraem os jovens?

Parágrafo 3 – Os jovens fazem bom uso da tecnologia? Como poderiam fazê-lo?

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Esquema III: Juventude e inclusão digital

Parágrafo 1 – A importância da tecnologia da internet como meio de informação e conhecimento.

Parágrafo 2 – Muitos jovens não têm acesso ou ainda não conhecem as possibilidades da internet como tecnologia da informação.

Parágrafo 3 – Como resolver o problema da exclusão digital no Brasil?

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A NARRATIVA LITERÁRIAcontos brasileiros

OFICINA 3

Begma Tavares Barbosa

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1. OBJETIVOS

1. Desenvolver habilidades de leitura de narrativas.

2. Conhecer a estrutura de narrativas.

3. Refletir sobre as estratégias da narrativa literária: organização estrutural; foco narrativo; apresentação e composição dos personagens; discurso direto, indireto e indireto livre.

4. Comparar contos brasileiros de épocas e autores distintos, para refletir sobre diferentes formas de estruturação de narrativas e suas implicações.

2. TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA

Texto I – A carteira – Machado de Assis

O conto “A carteira” é um conto instigante porque foi escrito de modo a criar suspense. Honório, o protagonista do conto, é um homem endividado, que encontra uma carteira que pode significar uma boa “oportunidade” de sair do apuro em que se encontra. Note-se que o conto se inicia pela “complicação” ou “conflito” da narrativa: “DE REPENTE, Honório olhou para o chão e viu uma carteira.”. O que fará com ela? Vai abri-la? Haverá dinheiro ali? Honório vai devolvê-la? A história se desenrola aos poucos e nos surpreende quando descobrimos que a carteira, coincidentemente, pertence a um frequentador assíduo da casa, amigo de Honório e de sua mulher Amélia. Há, naquela carteira, uma boa quantia em dinheiro, que Honório resolve devolver a Gustavo. Mais surpreendente ainda é o desfecho do conto, que revela o romance entre Gustavo e D. Amélia, romance que Honório teria descoberto se mexesse na carteira: teria encontrado ali um bilhete de amor.

O que faz Machado para criar o suspense? Interrompe a ação inicial – Honório apanha a carteira – passando a orientar o leitor sobre quem é o personagem principal. Ficamos sabendo que Honório é um advogado, que é casado, que sua mulher gasta muito dinheiro, que tem uma filha, que está seriamente endividado e que sua dívida é urgente e que por isso anda tão preocupado, embora esconda de todos suas preocupações. O quarto parágrafo do texto é um ótimo exemplo de como se dá a interrupção da ação narrativa: “Para avaliar a oportunidade desta carteira, é preciso saber que Honório tem de pagar amanhã uma dívida, quatrocentos e tantos mil-réis...”. Portanto, a forma como essa narrativa é estruturada garante o suspense. O conto tem início com o elemento complicador da narrativa – Honório encontra uma carteira e a apanha – e essa ação é interrompida por um longo trecho de orientação.

O que são trechos de orientação em uma narrativa? São fragmentos que, substancialmente, ocupam-se da composição do cenário da narrativa e da apresentação de seus personagens. Esses fragmentos costumam reunir importantes informações que orientam os leitores sobre quando e onde acontecem os fatos narrados e sobre quem são os personagens envolvidos na trama, antes que os leitores mergulhem nela tomando conhecimento do conflito da narrativa. Os trechos de orientação respondem, portanto, a perguntas sobre o quando, onde, quem e como de uma história. Observe como exemplo no conto lido este trecho que orienta o leitor sobre como se sentia e agia Honório: “Não contava nada a ninguém. Fingia-se tão alegre como se nadasse em um mar de prosperidades.”

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É importante observarmos que trechos de orientação narrativa são, normalmente, construídos com o pretérito imperfeito do verbo (contava, fingia). Já os trechos focados na ação narrativa são marcados pelo pretérito perfeito. Observe: “Honório teve tentações de fechar os olhos, correr à cocheira, pagar, e, depois de paga a dívida, adeus; reconciliar-se-ia consigo. Fechou a carteira, e com medo de a perder, tornou a guardá-la.”

Observe, ainda, o trecho abaixo, que corresponde ao momento de retorno à ação narrativa: “Eram cinco horas da tarde. Tinha-se lembrado de ir a um agiota, mas voltou sem ousar pedir nada. Ao enfiar pela Rua da Assembléia é que viu a carteira no chão, apanhou-a, meteu no bolso, e foi andando.” Os verbos no pretérito imperfeito (eram, tinha) sinalizam um trecho de orientação narrativa. Os verbos no pretérito perfeito indicam um retorno à ação da narrativa: voltamos ao momento do conto em que Honório encontra a carteira, voltamos ao conflito da narrativa, que vai , finalmente, desenrolar-se: Honório hesita em abrir a carteira, sua consciência lhe diz que não deve fazê-lo, depois resolve abri-la, vê que ali há dinheiro para cobrir toda sua dívida, investiga se há ali pistas do dono da carteira, descobre que pertence a seu amigo Gustavo e resolve devolvê-la.

Honório vence a tentação de ficar com um dinheiro que não era dele, motivado também pela fidelidade a um amigo, atitude que contrasta com o desfecho do conto, que nos revela a infidelidade do outro.

Texto II – Conto de Verão no 2: Bandeira Branca – Luís Fernando Veríssimo

Com o humor característico de seus contos e crônicas, Luís Fernando Veríssimo escreve “Conto de verão no 2: Bandeira Branca”, uma história envolvente e rica em estratégias narrativas. O conto narra a paixão romântica de Píndaro por Janice. A série de encontros entre os dois personagens acontece sempre, como sugere o título, em bailes de carnaval. Os personagens se conhecem ainda crianças, quando brincam juntos inocentemente no baile infantil de um clube, passando a encontrar-se, quase anualmente, durante a infância, adolescência e juventude, quanto Janice visita a cidade , em época de carnaval.

Esse amor da infância e da adolescência marca definitivamente a vida de Píndaro, o que não acontece com Janice. A narrativa recobre um longo período da vida das personagens, que se desencontram na juventude e voltam a se encontrar, casualmente, quando já adultos. O desfecho do conto narra esse reencontro. Num belo fragmento de prosa, temos a captação do que pensam e do que sentem os personagens. Na cena, Píndaro e Janice olham-se em silêncio: ele, tentado a revelar um sentimento que marcou toda a sua vida; ela, tentando lembrar-se do nome dele. Trata-se, portanto, de uma história de amor sem final feliz, contada com o humor próprio da prosa de Veríssimo.

Vale ressaltar uma das muitas estratégias narrativas que fazem desse conto um belo exemplar do gênero na literatura brasileira: a escolha das fantasias de carnaval. Também com humor as fantasias são escolhidas de modo a sinalizar as diferentes fases da vida dos protagonistas. Além disso, a simples escolha da fantasia de carnaval cria no leitor, a certa altura do conto, a falsa expectativa de que a história desse amor de carnaval pode vir a ter um final feliz: “No baile do ano em que fizeram 13 anos, pela primeira vez a fantasia dos dois combinaram. Toureiro e bailarina espanhola. Formavam um casal! Beijaram-se muito, quando as mães não estavam olhando. Até na boca.” Mas isso não acontece. E aí temos mais uma sinalização relevante no conto, que pode passar despercebida: no início da narrativa, temos uma informação que pode ser tomada como uma antecipação de seu desfecho: “Ele: tirolês. Ela: odalisca. Eram de culturas muito diferentes, não podia dar certo.”

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3. ROTEIRO PARA O TRABALHO NAS OFICINAS

1. Leitura do texto “A carteira” – silenciosa ou feita em voz alta pelo tutor.

2. Discussão do conto com o grupo – antes de iniciar as atividades de leitura o tutor pode motivar uma conversa sobre o conto: os alunos gostaram do texto; o que têm a dizer sobre a história, sobre seus personagens? Etc.

3. Resolução das atividades de leitura propostas, individualmente ou em duplas e sob orientação do tutor.

4. Correção/comentários das atividades de leitura.

No momento de correção e comentários, É MUITO IMPORTANTE o tutor trabalhar os “conteúdos” envolvidos nas atividades de leitura, como: I) estrutura da narrativa (orientação, complicação e desfecho); tempos verbais na narrativa (pretérito perfeito e imperfeito); foco narrativo (narrador em primeira pessoa, narrador em terceira pessoa, narrador observador, narrador onisciente, narrador intruso); tipos de personagem (personagem principal e secundário).

5. Leitura do texto de Luís Fernando Veríssimo, resolução e correção das atividades de leitura.

6. Comparação entre textos – tendo em vista nosso objetivo de estudar a estrutura de narrativas, o tutor deve conduzir essa atividade de modo que os alunos observem as diferentes estratégias utilizadas pelos escritores na composição das histórias contadas.

4. TEXTOS E ATIVIDADES DE LEITURA

O texto que você vai ler foi escrito por Machado de Assis (1839-1908), considerado por muitos o maior escritor da literatura brasileira. Grande parte da obra desse escritor se caracteriza por uma visão bastante crítica do ser humano, da sociedade e de suas instituições. Machado foi também um investigador bastante competente da alma humana. Autodidata, foi o fundador da Academia Brasileira de Letras. Conheça um pouco mais desse grande escritor que faz a literatura brasileira ser reconhecida em todo o mundo.

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TEXTO I

A CARTEIRA Machado de Assis

…DE REPENTE, Honório olhou para o chão e viu uma carteira. Abaixar-se, apanhá-la e guardá-la foi obra de alguns instantes. Ninguém o viu, salvo um homem que estava à porta de uma loja, e que, sem o conhecer, lhe disse rindo:

— Olhe, se não dá por ela; perdia-a de uma vez.

— É verdade, concordou Honório envergonhado.

Para avaliar a oportunidade desta carteira, é preciso saber que Honório tem de pagar amanhã uma dívida, quatrocentos e tantos mil-réis, e a carteira trazia o bojo recheado. A dívida não parece grande para um homem da posição de Honório, que advoga; mas todas as quantias são grandes ou pequenas, segundo as circunstâncias, e as dele não podiam ser piores. Gastos de família excessivos, a princípio por servir a parentes, e depois por agradar à mulher, que vivia aborrecida da solidão; baile daqui, jantar dali, chapéus, leques, tanta cousa mais, que não havia remédio senão ir descontando o futuro. Endividou-se. Começou pelas contas de lojas e armazéns; passou aos empréstimos, duzentos a um, trezentos a outro, quinhentos a outro, e tudo a crescer, e os bailes a darem-se, e os jantares a comerem-se, um turbilhão perpétuo, uma voragem.

— Tu agora vais bem, não? dizia-lhe ultimamente o Gustavo C…, advogado e familiar da casa.

— Agora vou, mentiu o Honório.

A verdade é que ia mal. Poucas causas, de pequena monta, e constituintes remissos; por desgraça perdera ultimamente um processo, em que fundara grandes esperanças. Não só recebeu pouco, mas até parece que ele lhe tirou alguma cousa à reputação jurídica; em todo caso, andavam mofinas nos jornais. D. Amélia não sabia nada; ele não contava nada à mulher, bons ou maus negócios. Não contava nada a ninguém. Fingia-se tão alegre como se nadasse em um mar de prosperidades. Quando o Gustavo, que ia todas as noites à casa dele, dizia uma ou duas pilhérias, ele respondia com três e quatro; e depois ia ouvir os trechos de música alemã, que D. Amélia tocava muito bem ao piano, e que o Gustavo escutava com indizível prazer, ou jogavam cartas, ou simplesmente falavam de política.

Um dia, a mulher foi achá-lo dando muitos beijos à filha, criança de quatro anos, e viu-lhe os olhos molhados; ficou espantada, e perguntou-lhe o que era.

— Nada, nada.

Compreende-se que era o medo do futuro e o horror da miséria. Mas as esperanças voltavam com facilidade. A ideia de que os dias melhores tinham de vir dava-lhe conforto para a luta. Estava com trinta e quatro anos; era o princípio da carreira: todos os princípios são difíceis. E toca a trabalhar, a esperar, a gastar, pedir fiado ou emprestado, para pagar mal, e a más horas.

A dívida urgente de hoje são uns malditos quatrocentos e tantos mil-réis de carros. Nunca demorou tanto a conta, nem ela cresceu tanto, como agora; e, a rigor, o credor não lhe punha a faca aos peitos; mas disse-lhe hoje uma palavra azeda, com um gesto mau, e Honório quer pagar-lhe hoje mesmo. Eram cinco horas da tarde. Tinha-se lembrado de ir a um agiota, mas voltou sem ousar pedir nada. Ao enfiar pela Rua da Assembleia é que viu a carteira no chão, apanhou-a, meteu no bolso, e foi andando.

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Durante os primeiros minutos, Honório não pensou nada; foi andando, andando, andando, até o Largo da Carioca. No Largo parou alguns instantes, — enfiou depois pela Rua da Carioca, mas voltou logo, e entrou na Rua Uruguaiana. Sem saber como, achou-se daí a pouco no Largo de S. Francisco de Paula; e ainda, sem saber como, entrou em um Café. Pediu alguma cousa e encostou-se à parede, olhando para fora. Tinha medo de abrir a carteira; podia não achar nada, apenas papéis e sem valor para ele. Ao mesmo tempo, e esta era a causa principal das reflexões, a consciência perguntava-lhe se podia utilizar-se do dinheiro que achasse. Não lhe perguntava com o ar de quem não sabe, mas antes com uma expressão irônica e de censura.

Podia lançar mão do dinheiro, e ir pagar com ele a dívida?

Eis o ponto. A consciência acabou por lhe dizer que não podia, que devia levar a carteira à polícia, ou anunciá-la; mas tão depressa acabava de lhe dizer isto, vinham os apuros da ocasião, e puxavam por ele, e convidavam-no a ir pagar a cocheira. Chegavam mesmo a dizer-lhe que, se fosse ele que a tivesse perdido, ninguém iria entregar-lha; insinuação que lhe deu ânimo.

Tudo isso antes de abrir a carteira. Tirou-a do bolso, finalmente, mas com medo, quase às escondidas; abriu-a, e ficou trêmulo. Tinha dinheiro, muito dinheiro; não contou, mas viu duas notas de duzentos mil-réis, algumas de cinquenta e vinte; calculou uns setecentos mil réis ou mais; quando menos, seiscentos. Era a dívida paga; eram menos algumas despesas urgentes.

Honório teve tentações de fechar os olhos, correr à cocheira, pagar, e, depois de paga a dívida, adeus; reconciliar-se-ia consigo. Fechou a carteira, e com medo de a perder, tornou a guardá-la.

Mas daí a pouco tirou-a outra vez, e abriu-a, com vontade de contar o dinheiro. Contar para quê? Era dele? Afinal venceu-se e contou: eram setecentos e trinta mil-réis. Honório Teve um calafrio. Ninguém viu, ninguém soube; podia ser um lance da fortuna, a sua boa sorte, um anjo… Honório teve pena de não crer nos anjos…

Mas por que não havia de crer neles? E voltava ao dinheiro, olhava, passava-o pelas mãos; depois, resolvia o contrário, não usar do achado, restituí-lo. Restituí-lo a quem? Tratou de ver se havia na carteira algum sinal.

“Se houver um nome, uma indicação qualquer, não posso utilizar-me do dinheiro,” pensou ele.

Esquadrinhou os bolsos da carteira. Achou cartas, que não abriu, bilhetinhos dobrados, que não leu, e por fim um cartão de visita; leu o nome; era do Gustavo. Mas então, a carteira?… Examinou-a por fora, e pareceu-lhe efetivamente do amigo. Voltou ao interior; achou mais dous cartões, mais três, mais cinco. Não havia duvidar; era dele.

A descoberta entristeceu-o. Não podia ficar com o dinheiro, sem praticar um ato ilícito, e, naquele caso, doloroso ao seu coração porque era em dano de um amigo. Todo o castelo levantado esboroou-se como se fosse de cartas. Bebeu a última gota de café, sem reparar que estava frio. Saiu, e só então reparou que era quase noite. Caminhou para casa. Parece que a necessidade ainda lhe deu uns dous empurrões, mas ele resistiu.

“Paciência, disse ele consigo; verei amanhã o que posso fazer.”

Chegando a casa, já ali achou o Gustavo, um pouco preocupado. E a própria D. Amélia o parecia também. Entrou rindo, e perguntou ao amigo se lhe faltava alguma cousa.

— Nada.

— Nada?

— Por quê?

— Mete a mão no bolso; não te falta nada?

— Falta-me a carteira, disse o Gustavo sem meter a mão no bolso.

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Sabes se alguém a achou?

— Achei-a eu, disse Honório entregando-lha.

Gustavo pegou dela precipitadamente, e olhou desconfiado para o amigo. Esse olhar foi para Honório como um golpe de estilete; depois de tanta luta com a necessidade, era um triste prêmio. Sorriu amargamente; e, como o outro lhe perguntasse onde a achara, deu-lhe as explicações precisas.

— Mas conheceste-a?

— Não; achei os teus bilhetes de visita.

Honório deu duas voltas, e foi mudar de toilette para o jantar.

Então Gustavo sacou novamente a carteira, abriu-a, foi a um dos bolsos, tirou um dos bilhetinhos, que o outro não quis abrir nem ler, e estendeu-o a D. Amélia, que, ansiosa e trêmula, rasgou-o em trinta mil pedaços: era um bilhetinho de amor.

ATIVIDADES DE LEITURA

Agora que você já leu o conto de Machado de Assis, procure responder as questões abaixo:

1. Quem são os personagens do conto de Machado de Assis. Quem é o personagem protagonista? Descreva resumidamente esse personagem, destacando informações que são importantes para a compreensão da história.

Honório, D. Amélia e Gustavo são os três personagens do conto. Formam um triângulo amoroso. Honório é o personagem principal, um advogado, casado e que está seriamente endividado.

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2. Leia com atenção a informação abaixo:

Toda narrativa se organiza em torno de um conflito. O conflito (ou complicação) de uma narrativa é seu elemento de tensão, capaz de prender a atenção do leitor. Ao ponto máximo de tensão de uma narrativa chamamos de clímax. O desfecho de uma narrativa corresponde à resolução de seu conflito.

Responda:

2.1. Qual é o conflito ou o elemento complicador dessa narrativa?

O fato de Honório ter encontrado uma carteira num momento em que precisava de dinheiro para saldar uma dívida. Esse fato mobiliza a atenção do leitor que segue acompanhando a história até seu desfecho.

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2.2. Indique, no texto, o clímax da narrativa, ou seja, seu ponto máximo de tensão.

O trecho em que Honório procura na carteira indícios de seu dono para resolver se fica ou não com ela. A partir daí encaminha-se o desfecho surpreendente do conto.

2.3. Releia o último parágrafo do texto. Como você compreende o desfecho dessa história de Machado de Assis?

Honório resolve devolver a carteira ao descobrir que pertence a seu amigo Gustavo. Ao entregá-la, Gustavo parece assustar-se ao pensar na possibilidade de o amigo ter lido os bilhetes de amor que lá estavam e que denunciavam seu romance com D. Amélia. Mas Honório não chegou a ler os bilhetes e a traição dos amantes não é descoberta.

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3. Leia atentamente:

Na maioria das vezes, as narrativas incluem trechos de “orientação”. São partes da narrativa que orientam o leitor indicando, por exemplo: onde e quando acontecem os fatos narrados, quem são e como são os personagens envolvidos na história.

Grife, no texto, trechos de orientação narrativa.

“Para avaliar a oportunidade desta carteira, é preciso saber que Honório tem de pagar amanhã uma dívida, quatrocentos e tantos mil-réis, e a carteira trazia o bojo recheado.”

“Não contava nada a ninguém. Fingia-se tão alegre como se nadasse em um mar de prosperidades.”

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4. Releia o trecho abaixo:

“D. Amélia não sabia nada; ele não contava nada à mulher, bons ou maus negócios. Não contava nada a ninguém. Fingia-se tão alegre como se nadasse em um mar de prosperidades. Quando o Gustavo, que ia todas as noites à casa dele, dizia uma ou duas pilhérias, ele respondia com três e quatro; e depois ia ouvir os trechos de música alemã, que D. Amélia tocava muito bem ao piano, e que o Gustavo escutava com indizível prazer, ou jogavam cartas, ou simplesmente falavam de política.”

Que tempo verbal predomina nesse trecho? Dê exemplos e comente o uso desse tempo verbal na narrativa.

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Predomina o pretérito imperfeito: sabia, contava, fingia, ia, dizia, respondia, escutava, jogavam, falavam. Esse tempo verbal predomina em orientações de narrativa, como o trecho acima, em que se informa ao leitor sobre a situação de Honório e se descreve uma cena do cotidiano dos três amigos.

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5. Leia atentamente:

O NARRADOR é um elemento essencial em uma narrativa. O narrador, na maioria das vezes, não é o AUTOR. Podemos dizer que o narrador é uma ESTRATÉGIA que o autor escolheu para contar sua história. Ele é ponto de vista a partir do qual a história será contada.

Considerando a definição acima, que tipo de narrador observamos no conto de Machado de Assis?

O conto tem um foco narrativo em terceira pessoa, ou seja, o narrador não participa da história narrada. É um narrador onisciente, que sabe tudo sobre a história, sendo capaz de mergulhar no interior dos personagens e saber o que pensam e sentem. Ex: “Compreende-se que era o medo do futuro e o horror da miséria. Mas as esperanças voltavam com facilidade. A ideia de que os dias melhores tinham de vir dava-lhe conforto para a luta.”

Trata-se ainda de um narrador intruso, ou seja, que não se limita a contar a história, ele se “intromete”, fazendo comentários ou julgamentos a respeito dos personagens ou de situações vividas. Ex: “A dívida não parece grande para um homem da posição de Honório, que advoga; mas todas as quantias são grandes ou pequenas, segundo as circunstâncias, e as dele não podiam ser piores.”

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As questões de 1 a 5 pretendem aperfeiçoar a habilidade de ler narrativas, ao considerar elementos/estratégias fundamentais em sua construção, como:

I) composição de personagens: personagens principais e secundários (QUESTÃO 1);

II) estrutura da narrativa: orientação, complicação, climax e desfecho (QUESTÕES 2 E 3);

III) tempos verbais na narrativa: pretérito perfeito e imperfeito (QUESTÃO 4);

IV) foco narrativo: narrador em primeira pessoa, narrador em terceira pessoa, narrador observador, narrador onisciente, narrador intruso (QUESTÃO 5)

É importante que o tutor trabalhe com os alunos todos esses conteúdos, esclarecendo suas dúvidas. São conhecimentos sobre a narrativa que ajudam a tornar os alunos leitores mais atentos às estratégias de narrar, o que possibilita ampliar sua competência de leitura.

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QUESTÕES OBJETIVAS

Resolva agora as questões objetivas abaixo:

1. O conflito da narrativa que você leu tem início em:

a) “…DE REPENTE, Honório olhou para o chão e viu uma carteira.” (X)

b) “A dívida não parece grande para um homem da posição de Honório, que advoga...”

c) “...D. Amélia tocava muito bem ao piano, e o Gustavo escutava com indizível prazer...”

d) “A dívida urgente de hoje são uns malditos quatrocentos e tantos mil-réis de carros...”

e) “Podia lançar mão do dinheiro, e ir pagar com ele a dívida?”

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2. A alternativa que contém um comentário do narrador é:

a) “Olhe, se não dá por ela; perdia-a de uma vez.”

b) “Um dia, a mulher foi achá-lo dando muitos beijos à filha...”

c) “Compreende-se que era o medo do futuro e o horror da miséria.” (X)

d) “Durante os primeiros minutos, Honório não pensou em nada...”

e) “Tinha dinheiro, muito dinheiro; não contou, mas viu duas notas de duzentos mil réis...”

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3. “A consciência acabou por lhe dizer que não podia, que devia levar a carteira à polícia, ou anunciá-la; mas tão depressa acabava de lhe dizer isto, vinham os apuros da ocasião, e puxavam por ele, e convidavam-no a ir pagar a cocheira.”

A palavra “apuros”, no fragmento acima, significa:

a) sacrifícios.

b) apertos. (X)

c) incômodos.

d) deveres.

e) amigos.

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4. “Chegando a casa, já ali achou o Gustavo, um pouco preocupado. E a própria D. Amélia o parecia também. Entrou rindo, e perguntou ao amigo se lhe faltava alguma cousa...”

O pronome grifado tem como referente:

a) D. Amélia.

b) Gustavo. (X)

c) Honório.

d) A expressão “alguma coisa”.

e) A expressão “a casa”.

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5. “Gustavo pegou dela precipitadamente, e olhou desconfiado para o amigo. Esse olhar foi para Honório como um golpe de estilete; depois de tanta luta com a necessidade, era um triste prêmio....”

O fragmento acima permite concluir que:

a) Gustavo desconfiou de que Honório pudesse ter mexido no dinheiro.

b) Honório sentiu no olhar do amigo que ele, Gustavo, desconfiou de sua honestidade. (X)

c) Honório descobriu a traição do amigo.

d) Honório não quis revelar que descobrira a traição do amigo.

e) A traição da esposa foi uma grande dor para Honório.

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Vamos conhecer agora outro grande autor da literatura brasileira, muito conhecido por suas crônicas, publicadas em jornais de grande circulação, é também autor de romances e belos contos, como o que você vai ler abaixo.

Luis Fernando Verissimo (Porto Alegre, 26 de setembro de 1936) é um escritor brasileiro. Mais conhecido por suas crônicas e textos de humor, publicados diariamente em vários jornais brasileiros, Verissimo é também cartunista e tradutor, além de roteirista de televisão, autor de teatro e romancista. É ainda músico, tendo tocado saxofone em alguns conjuntos. Com mais de 60 títulos publicados, é um dos mais populares escritores brasileiros contemporâneos. É filho do também escritor Érico Veríssimo.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Luis_Fernando_Verissimo

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TEXTO II

Conto de Verão No 2: Bandeira BrancaLuís Fernando Veríssimo

Ele: tirolês. Ela: odalisca. Eram de culturas muito diferentes, não podia dar certo. Mas tinham só quatro anos e se entenderam. No mundo dos quatro anos todos se entendem, de um jeito ou de outro. Em vez de dançarem, pularem e entrarem no cordão, resistiram a todos os apelos desesperados das mães e ficaram sentados no chão, fazendo um montinho de confete, serpentina e poeira, até serem arrastados para casa, sob ameaças de jamais serem levados a outro baile de Carnaval.

Encontraram-se de novo no baile infantil do clube, no ano seguinte. Ele com o mesmo tirolês, agora apertado nos fundilhos, ela de egípcia. Tentaram recomeçar o montinho, mas dessa vez as mães reagiram e os dois foram obrigados a dançar, pular e entrar no cordão, sob ameaça de levarem uns tapas. Passaram o tempo todo de mãos dadas.

Só no terceiro Carnaval se falaram.

— Como é teu nome?

— Janice. E o teu?

— Píndaro.

— O quê?!

— Píndaro.

— Que nome!

Ele de legionário romano, ela de índia americana.

***

Só no sétimo baile (pirata, chinesa) desvendaram o mistério de só se encontrarem no Carnaval e nunca se encontrarem no clube, no resto do ano. Ela morava no interior, vinha visitar uma tia no Carnaval, a tia é que era sócia.

— Ah.

Foi o ano em que ele preferiu ficar com a sua turma tentando encher a boca das meninas de confete, e ela ficou na mesa, brigando com a mãe, se recusando a brincar, o queixo enterrado na gola alta do vestido de imperadora. Mas quase no fim do baile, na hora do Bandeira Branca, ele veio e a puxou pelo braço, e os dois foram para o meio do salão, abraçados. E, quando se despediram, ela o beijou na face, disse “Até o Carnaval que vem” e saiu correndo.

No baile do ano em que fizeram 13 anos, pela primeira vez a fantasia dos dois combinaram. Toureiro e bailarina espanhola. Formavam um casal! Beijaram-se muito, quando as mães não estavam olhando. Até na boca. Na hora da despedida, ele pediu:

— Me dá alguma coisa.

— O quê?

— Qualquer coisa.

— O leque.

O leque da bailarina. Ela diria para a mãe que o tinha perdido no salão.

***

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No ano seguinte, ela não apareceu no baile. Ele ficou o tempo todo à procura, um havaiano desconsolado. Não sabia nem como perguntar por ela. Não conhecia a tal tia. Passara um ano inteiro pensando nela, às vezes tirando o leque do seu esconderijo para cheirá-lo, antegozando o momento de encontrá-la outra vez no baile. E ela não apareceu. Marcelão, o mau elemento da sua turma, tinha levado gim para misturar com o guaraná. Ele bebeu demais. Teve que ser carregado para casa. Acordou na sua cama sem lençol, que estava sendo lavado. O que acontecera?

— Você vomitou a alma — disse a mãe.

Era exatamente como se sentia. Como alguém que vomitara a alma e nunca a teria de volta. Nunca. Nem o leque tinha mais o cheiro dela.

Mas, no ano seguinte, ele foi ao baile dos adultos no clube — e lá estava ela! Quinze anos. Uma moça. Peitos, tudo. Uma fantasia indefinida.

— Sei lá. Bávara tropical — disse ela, rindo.

Estava diferente. Não era só o corpo. Menos tímida, o riso mais alto. Contou que faltara no ano anterior porque a avó morrera, logo no Carnaval.

— E aquela bailarina espanhola?

— Nem me fala. E o toureiro?

— Aposentado.

A fantasia dele era de nada. Camisa florida, bermuda, finalmente um brasileiro. Ela estava com um grupo. Primos, amigos dos primos. Todos vagamente bávaros. Quando ela o apresentou ao grupo, alguém disse “Píndaro?!” e todos caíram na risada. Ele viu que ela estava rindo também. Deu uma desculpa e afastou-se. Foi procurar o Marcelão. O Marcelão anunciara que levaria várias garrafas presas nas pernas, escondidas sob as calças da fantasia de sultão. O Marcelão tinha o que ele precisava para encher o buraco deixado pela alma. Quinze anos, pensou ele, e já estou perdendo todas as ilusões da vida, começando pelo Carnaval. Não devo chegar aos 30, pelo menos não inteiro. Passou todo o baile encostado numa coluna adornada, bebendo o guaraná clandestino do Marcelão, vendo ela passar abraçada com uma sucessão de primos e amigos de primos, principalmente um halterofilista, certamente burro, talvez até criminoso, que reduzira sua fantasia a um par de calças curtas de couro. Pensou em dizer alguma coisa, mas só o que lhe ocorreu dizer foi “pelo menos o meu tirolês era autêntico” e desistiu. Mas, quando a banda começou a tocar Bandeira Branca e ele se dirigiu para a saída, tonto e amargurado, sentiu que alguém o pegava pela mão, virou-se e era ela. Era ela, meu Deus, puxando-o para o salão. Ela enlaçando-o com os dois braços para dançarem assim, ela dizendo “não vale, você cresceu mais do que eu” e encostando a cabeça no seu ombro. Ela encostando a cabeça no seu ombro.

***

Encontraram-se de novo 15 anos depois. Aliás, neste Carnaval. Por acaso, num aeroporto. Ela desembarcando, a caminho do interior, para visitar a mãe. Ele embarcando para encontrar os filhos no Rio. Ela disse “quase não reconheci você sem fantasias”. Ele custou a reconhecê-la. Ela estava gorda, nunca a reconheceria, muito menos de bailarina espanhola. A última coisa que ele lhe dissera fora “preciso te dizer uma coisa”, e ela dissera “no Carnaval que vem, no Carnaval que vem” e no Carnaval seguinte ela não aparecera, ela nunca mais aparecera. Explicou que o pai tinha sido transferido para outro estado, sabe como é, Banco do Brasil, e como ela não tinha o endereço dele, como não sabia nem o sobrenome dele e, mesmo, não teria onde tomar nota na fantasia de falsa bávara…

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— O que você ia me dizer, no outro Carnaval? — perguntou ela.

— Esqueci — mentiu ele.

Trocaram informações. Os dois casaram, mas ele já se separou. Os filhos dele moram no Rio, com a mãe. Ela, o marido e a filha moram em Curitiba, o marido também é do Banco do Brasil… E a todas essas ele pensando: digo ou não digo que aquele foi o momento mais feliz da minha vida, Bandeira Branca, a cabeça dela no meu ombro, e que todo o resto da minha vida será apenas o resto da minha vida? E ela pensando: como é mesmo o nome dele? Péricles. Será Péricles? Ele: digo ou não digo que não cheguei mesmo inteiro aos 30, e que ainda tenho o leque? Ela: Petrarco. Pôncio. Ptolomeu…

ATIVIDADE DE LEITURA

1. Procure resumir, em poucas palavras, a narrativa de Veríssimo.

O conto narra a paixão romântica de Píndaro por Janice. Píndaro e Janice se conhecem e se encontram somente no Carnaval. Esse amor da infância e da adolescência marca definitivamente a vida de Píndaro, o que não acontece com Janice.

2. Explique o título do conto.

“Bandeira Branca” é um clássico do carnaval, uma marchinha romântica que fala da dor da saudade, tema do conto. É um conto de verão porque os fatos marcantes da infância e adolescência do protagonista acontecem no verão, durante o carnaval.

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3. O conto de Veríssimo está organizado em 4 partes. Cada parte corresponde a fases da vida dos personagens. Preencha o quadro abaixo, considerando essa correspondência e indicando as pistas textuais que a confirmam.

FASES DA VIDA PISTAS TEXTUAIS

Parte 1 infânciatinham quatro anos; brincavam no baile infantil; suas fantasias eram infantis e escolhidas pelas mães

Parte 2 adolescência tinham 13 anos; ela já contestava a mãe

Parte 3 juventude

tinham 15 anos – o corpo dela mudara – ambos “debocham” das fantasias infantis da adolescência – brincam o carnaval sem as fantasias de antes.

Parte 4 vida adultaencontram-se 15 anos depois: ele, divorciado; ela, casada

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4. As fantasias de carnaval usadas pelos personagens são pistas muito importantes na narrativa. Observe:

ELE ELA

tirolês odalisca.

legionário romano índia americana

pirata chinesa

toureiro bailarina espanhola

a fantasia dele era de nada fantasia indefinida

O que elas poderiam indicar?

Além de apontarem para diferentes fases da vida, as fantasias dos dois reafirmam a “diferença de culturas” de que fala o narrador no início do texto. Somente quando, na juventude, os personagens se aproximam, dançam juntos, beijam-se e “formam um casal”, suas fantasias “combinam” (toureiro/bailarina espanhola).

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5. Releia o fragmento abaixo, em que se expõe o que os personagens estão pensando:

“E a todas essas ele pensando: digo ou não digo que aquele foi o momento mais feliz da minha vida, Bandeira Branca, a cabeça dela no meu ombro, e que todo o resto da minha vida será apenas o resto da minha vida? E ela pensando: como é mesmo o nome dele? Péricles. Será Péricles? Ele: digo ou não digo que não cheguei mesmo inteiro aos 30, e que ainda tenho o leque? Ela: Petrarco. Pôncio. Ptolomeu”

O que o fragmento revela a respeito dos sentimentos dos personagens?

O romantismo de Píndaro, personagem marcado por uma paixão da adolescência, por um amor de carnaval, contrasta com a revelação de que Janice nem sequer se lembra do seu nome.

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6. No início da narrativa, temos o seguinte comentário do narrador:

“Ele: tirolês. Ela: odalisca. Eram de culturas muito diferentes, não podia dar certo.”

Considerando o desfecho da história, como você interpreta esse comentário?

No início do conto temos uma pista de que os dois personagens são diferentes. Hipótese que pode ser confirmada ao longo do texto. Essa informação inicial pode ser tomada como um anúncio do desfecho do conto. Píndaro é um rapaz romântico e leva para toda a vida a paixão da adolescência. Isso não acontece com Janice.

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As questões de 1 a 6 recuperam elementos da estrutura da narrativa, permitindo refletir sobre como ela se organiza. Apontam também para uma estratégia importante do conto de Veríssimo: as fantasias de carnaval como pistas significativas para a compreensão da história.

7. Leia atentamente:

Observe:

DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETODISCURSO INDIRETO

LIVRE

Enquanto dançavam ,ele lhe perguntou:

- Você tem namorado?

Enquanto dançavam, ele lhe perguntou se ela tinha namorado.

Dançavam juntinhos. Será que ela tem namorado?

O discurso indireto livre é um recurso que faz surgir, na fala do narrador, elementos típicos da fala do personagem. É um recurso muito interessante para o registro do pensamento do personagem. Encontre no texto exemplos de discurso indireto livre.

“Ela morava no interior, vinha visitar uma tia no Carnaval, a tia é que era sócia.

— Ah.”

“Teve que ser carregado para casa. Acordou na sua cama sem lençol, que estava sendo lavado. O que acontecera?”

— Você vomitou a alma – disse a mãe.

“Passou todo o baile encostado numa coluna adornada, bebendo o guaraná clandestino do Marcelão, vendo ela passar abraçada com uma sucessão de primos e amigos de primos, principalmente um halterofilista, certamente burro, talvez até criminoso, que reduzira sua fantasia a um par de calças curtas de couro.”

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Nos exemplos 1, a fala “Ah”, de Píndaro, indica que ele responde à explicação de Janice, mesclada, como discurso indireto, à fala do narrador. O mesmo acontece no exemplo 2: a mãe responde à pergunta de Píndaro, embutida na fala do narrador. No exemplo 3, a avaliação que se faz do “halterofilista” é, certamente, feita pelo personagem Píndaro, e não pelo narrador.

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8. Compare o conto de Veríssimo ao conto de Machado de Assis. O que caracteriza a linguagem de Veríssimo nesse conto?

O conto de Veríssimo se caracteriza pela concisão da linguagem, num registro, por vezes, “telegráfico”: “Ele: tirolês. Ela: odalisca.” (Ele estava fantasiado de tirolês, ela, de odalisca.); “Só no sétimo baile (pirata, chinesa).” (Ele vestiu-se de pirata e ela de chinesa.). Isso faz a narrativa ficar mais ágil, ao contrário da de Machado de Assis.

É importante que o tutor, ao comentar as atividades de leitura com os alunos, observe que, enquanto Veríssimo constrói uma narrativa ágil, Machado faz sua narrativa mais lenta, ao deter-se num longo trecho de orientação com o objetivo de criar o suspense. Machado narra algumas horas da vida do personagem protagonista. Veríssimo resume quase toda vida de Píndaro e Janice em poucas páginas. O texto de Machado é mais descritivo, como costumam ser os contos “realistas” do século XIX. O texto de Veríssimo, como muitos contos contemporâneos, é “econômico” nas descrições.

9. O humor é um característica marcante da prosa do escritor Luís Fernando Veríssimo. Você reconhece o humor nesse conto?

O nome do protagonista, Píndaro, é engraçado.

O extravagante de algumas fantasias, de culturas muito diferentes das nossas e que pouco conhecemos (tirolês, bávara tropical).

A crítica às mães, no início do conto, para quem brincar o carnaval é desfilar as fantasias escolhidas por elas, é feita com humor sutil.

A afirmação seguinte é marcada pelo humor: “Pensou em dizer alguma coisa, mas só o que lhe ocorreu dizer foi “pelo menos o meu tirolês era autêntico”. Nesse trecho Píndaro, bêbado enciumado, compara-se com o halterofilista, sugerindo que seu corpo malhado não é “autêntico”.

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A NARRATIVA LITERÁRIAo conto contemporâneo

OFICINA 4

Begma Tavares Barbosa

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1. OBJETIVOS

1. Desenvolver habilidades de leitura de narrativas.

2. Analisar a composição estrutural de narrativas.

3. Refletir sobre as estratégias da narrativa literária: organização estrutural, foco narrativo; apresentação e composição dos personagens.

4. Conhecer o conto contemporâneo em autores como Dalton Trevisan e Rubem Fonseca.

5. Refletir sobre a literatura como forma de questionamento da realidade social.

2. TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA

Texto I – Uma vela para Dario – Dalton Trevisan

O conto de Dalton Trevisan é uma narrativa curta, ágil e enxuta, focada na ação. Tem início com o elemento complicador, antecedido por brevíssima descrição do protagonista: “Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo...”. Em seguida, inicia-se a complicação: “e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede da casa”. A mudança do tempo verbal do pretérito imperfeito (vinha) para o perfeito (dobrou, diminuiu) é uma pista que sinaliza o início do conflito da narrativa.

A partir daí, as ações transcorrem rapidamente e o leitor vai acompanhando o drama de Dario, que morre na calçada de uma cidade sem nome, sem que lhe prestem socorro. Os personagens são também anônimos. Alguns observam a cena com fria curiosidade (“Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés”). Outros se aproveitam da situação e furtam objetos de Dario (“Dario conduzido de volta e recostado à parede não tinha os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata”). Outros lhe negam ajuda (“Já no carro a metade do corpo, protestou o motorista: quem pagaria a corrida?”). Alguns poucos conseguem comover-se com seu drama (“Um senhor piedoso despiu o paletó de Dario para lhe sustentar a cabeça”), como o menino que acende uma vela junto ao corpo. O conto tem um desfecho triste, com Dario morto sob a chuva à espera do rabecão.

Texto II – De frente pro crime – letra de música de João Bosco e Aldir Blanc.

Como no conto de Dalton Trevisan temos, nessa letra poética de João Bosco e Aldir Blanc, a imagem forte de um corpo estendido no chão, o rosto provavelmente já coberto por um jornal, como sugerem os versos: “Tá lá o corpo estendido no chão/ Em vez de um rosto uma foto de um gol”. A cena se passa em uma rua movimentada, onde a vida prossegue indiferente ao drama exposto a todos: “Veio camelô vender anel, cordão perfume barato/ E baiana pra fazer pastel e um bom churrasco de gato”. Tem-se, também aqui, a curiosidade das pessoas: “O bar mais perto depressa lotou/Malandro junto com trabalhador”. No entanto, cada um ocupa-se de sua vida – “Sem pressa foi cada um pro seu lado/Pensando numa mulher ou num time” – sem importar-se com o outro que acaba por significar um incômodo: “Em vez de reza uma praga de alguém”.

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Texto III – Relato de Ocorrência – Rubem Fonseca

Relato de Ocorrência é um conto cujo título remete a um outro gênero textual: o boletim de ocorrência ou BO. Logo no início, a descrição do acidente com vítimas fatais impacta o leitor pela forma objetiva e imparcial como é feita, assemelhando-se a textos de BOs. Estamos, no entanto, lendo um conto da literatura brasileira que, como muitos outros de Ruben Fonseca, aborda o tema da violência.

Nesse conto, uma primeira cena violenta – o acidente com vítimas fatais provocado pela vaca que atravessa a ponte – dá lugar a outra cena também violenta: a disputa entre moradores das cercanias pela carne do animal morto no asfalto. As vítimas fatais do acidente passam, portanto, a compor o cenário de um novo drama. O protagonista desse novo drama é Elias Gentil, casado com Lucília, grávida e frágil. O leitor é posto diante da cena (narrada no presente) em que Elias “não consegue tirar os olhos da vaca” e manda a mulher pegar uma faca em casa.

A sequência de acontecimentos exibe Elias encarando e dirigindo-se agressivamente aos vizinhos que se aproximam com a mesma intenção que ele: todos querem a carne do animal. Essa necessidade transforma-os em competidores, rivais. No conto, a personagem de Elias vai se animalizando: Elias, como um bicho, defende seu alimento, seu pedaço de carne, que a mulher lhe servirá, mais tarde, com batatas fritas. Podemos dizer que a miséria e a privação aparecem aqui como uma espécie de justificativa para o comportamento violento do personagem protagonista, que em certo ponto da narrativa afirma: “A situação não anda nada boa (...) Se eu pudesse eu também era rico.”

Caminhando para o seu desfecho, a narrativa apresenta uma outra cena importante: os vizinhos em disputa unem-se para impedir que o açougueiro João Leitão também se aproxime da vaca. Todos gritam que ele “não pode”, unindo-se, nesse momento, contra o açougueiro. O que justificaria esse impedimento? Mais uma vez a necessidade: o açougueiro não precisaria da carne, e é essa necessidade que justifica a atitude dos personagens do conto.

No desfecho da narrativa, temos a cena em que Elias Gentil sorri para a mulher à espera de seu bife com batata frita e a forte imagem final do conto: uma poça de sangue sobre a ponte.

3. ROTEIRO PARA O TRABALHO NA OFICINA

1. Leitura do conto de Dalton Trevisan – para a leitura do conto, sugerimos o vídeo Causos da Literatura, um curta-conto que narra o texto “Uma vela para Dario” (Acesse o vídeo em http://www.youtube.com/watch?v=1qrh5qpaj2o).

2. Atividades de leitura – os alunos podem discutir o texto em pequenos grupos, fazendo as atividades de leitura.

3. Correção / Comentários do TEXTO I – Retomar as questões de leitura, esclarecendo as dúvidas dos alunos e, ao mesmo tempo, motivando-os a discutirem o conto, seu conteúdo, a reflexão que propõe.

4. Música “De frente pro crime” – Escutar com os alunos a música “De frente pro crime”, de João Bosco e Aldir Blanc, para, em seguida, propor que comparem esse texto ao texto de Dalton Trevisan.

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5. Texto “Relato de ocorrência” de Rubem Fonseca – os alunos podem trabalhar em duplas ou individualmente na resolução das atividades de leitura.

6. Correção/comentário das atividades de leitura do TEXTO III.

7. O conto contemporâneo – o tutor deve, nesse momento, apresentar aos alunos informações sobre a literatura dos autores lidos. Dalton Trevisan e Rubem Fonseca abordam com muita frequência em seus contos o tema da violência nas grandes cidades. A discussão de alguns temas e mesmo a forma concisa de sua prosa aproxima esses dois representantes do conto contemporâneo brasileiro.

4. TEXTOS E ATIVIDADES DE LEITURA

TEXTO I

Vamos conhecer um grande contista da literatura brasileira. Sua obra se caracteriza pela linguagem concisa, objetiva. O texto abaixo foi escrito por Dalton Trevisan, escritor curitibano, nascido em 1925. Leia-o atentamente.

Uma Vela para DarioDalton Trevisan

Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva, e descansou na pedra o cachimbo.

Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.

Ele reclinou-se mais um pouco, estendido agora na calçada, e o cachimbo tinha apagado. O rapaz de bigode pediu aos outros que se afastassem e o deixassem respirar. Abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe retiraram os sapatos, Dario roncou feio e bolhas de espuma surgiram no canto da boca.

Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma porta à outra, as crianças foram despertadas e de pijama acudiram à janela. O senhor gordo repetia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado.

A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele estava morrendo. Um grupo o arrastou para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protestou o motorista: quem pagaria a corrida? Concordaram chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado à parede – não tinha os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.

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Alguém informou da farmácia na outra rua. Não carregaram Dario além da esquina; a farmácia no fim do quarteirão e, além do mais, muito pesado. Foi largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobriu o rosto, sem que fizesse um gesto para espantá-las.

Ocupado o café próximo pelas pessoas que vieram apreciar o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozavam as delícias da noite. Dario ficou torto como o deixaram, no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso.

Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os papéis, retirados – com vários objetos – de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficaram sabendo do nome, idade; sinal de nascença. O endereço na carteira era de outra cidade.

Registrou-se correria de mais de duzentos curiosos que, a essa hora, ocupavam toda a rua e as calçadas: era a polícia. O carro negro investiu a multidão. Várias pessoas tropeçaram no corpo de Dario, que foi pisoteado dezessete vezes.

O guarda aproximou-se do cadáver e não pôde identificá-lo – os bolsos vazios. Restava a aliança de ouro na mão esquerda, que ele próprio quando vivo - só podia destacar umedecida com sabonete. Ficou decidido que o caso era com o rabecão.

A última boca repetiu – Ele morreu, ele morreu. A gente começou a se dispersar. Dario levara duas horas para morrer, ninguém acreditou que estivesse no fim. Agora, aos que podiam vê-lo, tinha todo o ar de um defunto.

Um senhor piedoso despiu o paletó de Dario para lhe sustentar a cabeça. Cruzou as suas mãos no peito. Não pôde fechar os olhos nem a boca, onde a espuma tinha desaparecido. Apenas um homem morto e a multidão se espalhou, as mesas do café ficaram vazias. Na janela alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos.

Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acendeu ao lado do cadáver. Parecia morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva.

Fecharam-se uma a uma as janelas e, três horas depois, lá estava Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó, e o dedo sem a aliança. A vela tinha queimado até a metade e apagou-se às primeiras gotas da chuva, que voltava a cair.

ATIVIDADES DE LEITURA

1. De que trata o texto de Dalton Trevisan? O que o título do texto nos sugere?

O texto narra a história de Dario, um homem, um desconhecido, que morre sem socorro na calçada de uma cidade. A indiferença das pessoas à situação de Dario é uma forma de condenar a violência que marca as relações. Poucos transeuntes se comovem com o drama de Dario, como o menino que lhe oferece uma vela, quando ele já está morto.

D6

2. Recupere alguns elementos dessa narrativa:

2.1. Onde ocorrem os fatos narrados?

Numa cidade indefinida, talvez numa cidade grande.

D4

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2.2. Quando ocorrem?

Não há indicação precisa de tempo.

D4

2.3. Quem é Dario? Descreva esse personagem.

Dario, o protagonista da narrativa, é um desconhecido, que pode ser um homem mais velho: levava um cachimbo, usava chapéu, paletó.

D4

2.4. Quem são os demais personagens da narrativa?

São todos personagens desconhecidos e anônimos: “o senhor gordo, de branco”; “o rapaz de bigode”; “a velhinha de cabeça grisalha”; “um terceiro”; “um senhor piedoso” etc.

D4

2.5. Como agem esses personagens que assistem ao drama de Dario?

Alguns poucos personagens se solidarizam, tentam ajudar e se comovem. A maioria, no entanto, assiste fria e cruelmente à morte de Dario: há os indiferentes, que olham a cena com curiosidade; outros se aproveitam da situação e furtam objetos de Dario; outros lhe negam socorro, como o motorista do táxi, e ainda há aqueles que o pisoteiam, apressados e indiferentes ao seu drama.

D1

A questão 2 remete a elementos de orientação da narrativa – onde, quando, quem, como. É importante observar que as informações relativas a esses elementos são vagas, imprecisas. Chama a atenção, sobretudo, a forma como os personagens são referenciados: eles não têm nome. Esses personagens “anônimos”, desconhecidos, podem indicar a solidão do homem moderno, incapaz de se solidarizar com o outro. A cidade também anônima do conto poderia representar nossa modernidade apressada, fria e violenta. É importante que, ao comentar as respostas dos alunos, o tutor estimule-os a voltar ao texto buscando as pistas que indicam a indiferença, o oportunismo e a omissão dos transeuntes à situação dramática vivida por Dario.

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3. Quando tem início o conflito da narrativa?

Logo no início do conto. Podemos dizer que o conto tem início com o elemento complicador. Um homem vem andando pela rua, sente-se mal e cai na calçada. Esse conflito, ou problema, mobiliza todos os fatos da narrativa. A partir dele cria-se a tensão narrativa. Há apenas uma pequena descrição de Dario (“vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo”), antes que o leitor mergulhe na trama pela introdução do conflito.

D10

Nesse ponto, o tutor deve chamar a atenção dos alunos para a forma como se estrutura a narrativa de Dalton Trevisan, um texto curto, conciso, “enxuto”, que se inicia com a complicação e segue focado na ação da narrativa, com poucas informações que orientem o leitor. Proponha que os alunos comparem essa estrutura àquela do conto de Machado de Assis, com um longo trecho de orientação interrompendo a ação narrativa do conto.

4. Qual é o foco narrativo do conto lido?

O conto é narrado em primeira pessoa. Um narrador observador conta, de forma bastante objetiva, a história de Dario.

D10

A objetividade com que o drama de Dario é narrado é uma estratégia narrativa que causa impacto no leitor, fazendo-o pensar na frieza e na indiferença das pessoas em relação ao sofrimento do outro. A objetividade da narrativa deve ser observada também na concisão da linguagem. O texto tem frases curtas e linguagem bastante sintética, o que se pode observar, inclusive, em apagamentos de palavras como em: “(Um) Enxame de moscas lhe cobriu o rosto...“. Esses “cortes“, que fazem o texto mais ágil e enxuto podem ser observados em muitas estruturas: “Já no carro a metade do corpo, protestou o motorista: quem pagaria a conta?”

TEXTOS EM DIÁLOGO

Você vai ler agora a letra de uma música de dois grandes compositores brasileiros: João Bosco e Aldir Blanc. A cena desenhada nessa letra de música é bastante semelhante àquela descrita no conto “Uma vela para Dario”. Procure descobrir as semelhanças entre os dois textos. Faça anotações no seu caderno.

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TEXTO II

De frente pro crime

Tá lá o corpo estendido no chãoEm vez de um rosto uma foto de um golEm vez de reza uma praga de alguémE um silêncio servindo de amémO bar mais perto depressa lotouMalandro junto com trabalhadorUm homem subiu na mesa do barE fez discurso para vereador

Veio camelô vender anel, cordão perfume baratoE baiana pra fazer pastel e um bom churrasco de gatoQuatro horas da manhã baixou o santo na porta bandeiraE a moçada resolveu parar e então... Ta lá o corpo estendido no chãoEm vez de rosto uma foto de um golEm vez de reza uma praga de alguémE um silêncio servindo de amém Sem pressa foi cada um pro seu ladoPensando numa mulher ou num timeOlhei o corpo no chão e fechei Minha janela de frente pro crime Veio camelô vender anel, cordão perfume baratoE baiana pra fazer pastel e um bom churrasco de gatoQuatro horas da manhã baixou o santo na porta-bandeiraE a moçada resolveu parar e então... Tá lá o corpo estendido no chão

Os alunos devem ser auxiliados a perceber as semelhanças entre os dois textos, atividade que pode ser feita com todo o grupo após escutar a música.

TEXTO III

Rubem Fonseca é um outro grande autor da literatura contemporânea. Escritor de romances e contos, sua prosa é escrita em linguagem bastante concisa. O texto abaixo é um bom exemplo de sua literatura.

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RELATO DE OCORRÊNCIA

Na madrugada do dia 13 de maio, uma vaca marrom caminha na ponte do rio Coroado, no quilômetro 53, em direção ao Rio de Janeiro.

Um ônibus de passageiros da empresa Única Auto Ônibus, chapa RF 80-07-83 e JR 81-12-27, trafega na ponte do rio Coroado em direção a São Paulo.

Quando vê a vaca, o motorista Plínio Sérgio tenta se desviar. Bate na vaca, bate no muro da ponte, o ônibus se precipita no rio.

Em cima da ponte a vaca está morta.Debaixo da ponte estão mortos: uma mulher vestida de calça comprida e blusa amarela,

de vinte anos presumíveis e que nunca será identificada; Ovídia Monteiro, de trinta e quatro anos; Manuel dos Santos Pinhal, português, de trinta e cinco anos, que usava uma carteira de sócio do Sindicato de Empregados em Fábricas de Bebidas; o menino Reinaldo de um ano, filho de Manuel; Eduardo Varela, casado, quarenta e três anos.

O desastre foi presenciado por Elias Gentil dos Santos e sua mulher Lucília, residentes nas cercanias. Elias manda a mulher apanhar um facão em casa. Um facão?, pergunta Lucília. Um facão depressa, sua besta, diz Elias. Ele está preocupado. Ah! percebe Lucília. Lucília corre.

Surge Marcílio da Conceição. Elias olha com ódio para ele. Aparece também Ivonildo Moura Júnior. E aquela besta não traz o facão!, pensa Elias. Ele está com raiva de todo mundo, suas mãos tremem. Elias cospe no chão várias vezes, com força, até que a sua boca seca.

Bom dia, seu Elias, diz Marcílio. Bom dia, diz Elias entre dentes, olhando pros lados.Esse mulato!, pensa Elias.

Que coisa, diz Ivolnildo, depois de se debruçar na amurada da ponte e olhar os bombeiros e os policiais embaixo. Em cima da ponte, além do motorista de um carro da Polícia Rodoviária, estão apenas Elias, Marcílio e Ivonildo..

A situação não anda boa não, diz Elias olhando para a vaca. Ele não consegue tirar os olhos da vaca.

É verdade, diz Marcílio.Os três olham para a vaca.Ao longe vê-se o vulto de Lucília, correndo.Elias recomeçou a cuspir. Se eu pudesse eu também era rico, diz Elias. Marcílio e Ivonildo

balançam a cabeça, olham para a vaca e para Lucília, que se aproxima correndo. Lucília também não gosta de ver os dois homens. Bom dia, dona Lucília, diz Marcílio. Lucília responde balançando a cabeça. Demorei muito?, pergunta, sem fôlego, ao marido.

Elias segura o facão na mão, como se fosse um punhal; olha com ódio para Marcílio e Ivolnildo. Cospe no chão. Corre para cima da vaca.

No lombo é onde fica o filé, diz Lucília. Elias corta a vaca.Marcílio se aproxima. O senhor depois me empresta a sua faca, seu Elias?, pergunta

Marcílio. Não, responde Elias.Marcílio se afasta, andando apressadamente. Ivonildo corre em grande velocidade. Eles vão apanhar facas, diz Elias com raiva, aquele mulato, aquele corno. Suas mãos, sua

camisa e sua calça estão cheias de sangue. Você devia ter trazido uma bolsa, uma saca, duas sacas, imbecil. Vai buscar duas sacas, ordena Elias.

Lucília corre.Elias já cortou dois pedaços grandes de carne quando surgem, correndo, Marcílio e

sua mulher Dalva, Ivolnildo e sua sogra Aurélia e Erandir Medrado com seu irmão Valfrido Medrado. Todos carregam facas e facões. Atiram-se sobre a vaca.

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Lucília chega correndo. Ela mal pode falar. Está grávida de oito meses, sofre de verminose e sua casa fica no alto de um morro. A ponte no alto de outro morro. Lucília trouxe uma segunda faca com ela. Lucília corta a vaca.

Alguém me empresta a faca senão eu apreendo tudo, diz o motorista do carro da polícia. Os irmãos Medrado, que trouxeram vários facões, emprestam um ao motorista.

Com uma serra, um facão e uma machadinha aparece João Leitão, o açougueiro, acompanhado de dois ajudantes.

O senhor não pode, grita Elias.João Leitão se ajoelha perto da vaca.Não pode, diz Elias dando um empurrão em João. João cai sentado.Não pode, gritam os irmãos Medrado.Não pode, gritam todos, com exceção do motorista da polícia.João se afasta; a dez metros de distância, para; com os seus ajudantes, fica observando.A vaca está semidescarnada. Não foi fácil cortar o rabo. A cabeça e as patas ninguém

conseguiu cortar. As tripas ninguém quis.Elias encheu as duas sacas. Os outros homens usam as camisas como se fossem sacos..Quem primeiro se retira é Elias com a mulher. Faz um bifão pra mim, diz ele sorrindo

para Lucília. Vou pedir umas batatas a dona Dalva, vou fazer também umas batatas fritas para você, responde Lucília.

Os despojos da vaca estão estendidos numa poça de sangue. João chama com um assobio os seus dois auxiliares. Um deles traz um carrinho de mão. Os restos da vaca são colocados no carro. Na ponte fica apenas a poça de sangue.

ATIVIDADES DE LEITURA

1. O título do conto de Ruben Fonseca remete a um outro tipo de texto: a ocorrência policial ou Boletim de ocorrência. Que elementos do texto confirmam isso?

As informações precisas e objetivas contidas nos cinco primeiros parágrafos, que indicam dia e local do acidente que será relatado, quem são os envolvidos no acidente, quantos e quem são os mortos.

D4

2. Releia os cinco primeiros parágrafos do conto e identifique:

2.1. Um trecho de orientação narrativa. (Grife no texto e, a seguir, explique sua resposta).

Os dois primeiros parágrafos, onde se orienta o leitor sobre o dia e local do fato narrado. Descreve-se o cenário da narrativa.

D10

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2.2. Qual é o conflito ou elemento complicador da narrativa?

O acidente entre um ônibus de passageiros e uma vaca que atravessa o asfalto. Esse acidente provoca a morte de várias pessoas e a disputa entre alguns moradores das cercanias.

D10

3. A narrativa tem início com um acidente grave com vítimas fatais. Observe, no entanto, que esse drama inicial deixa de ocupar o primeiro plano da narrativa.

3.1. Que outro drama passa a ocupar o primeiro plano da narrativa?

O acidente com o ônibus provoca a morte de várias pessoas. No entanto, esses “personagens” saem da cena focal e passam a compor o cenário de um novo drama: a disputa entre alguns moradores das cercanias pela carne da vaca também morta no acidente.

D10

3.2. Quem são os personagens desse drama?

São vizinhos, moradores de um bairro próximo ao local do acidente. Há pistas que indicam que se conhecem, pois se cumprimentam pelo nome.

D4-D10

3.3. Como eles se relacionam na cena descrita?

A cena os descreve como rivais, pessoas em disputa, sobretudo pela atitude de Elias Gentil, protagonista do conto, que se apresenta agressivo e violento, tanto na relação com os vizinhos como com sua mulher Lucília.

D1

4. No conto, um personagem se destaca: Elias Gentil dos Santos.

4.1. Como se descreve, no conto, seu estado emocional? Que gesto, repetido pelo personagem, ajuda a descrever esse estado?

Elias cospe no chão várias vezes. Esse gesto demonstra que ele está nervoso, tenso, parecendo sentir-se ameaçado. Talvez por isso torne-se agressivo e violento.

D4

4.2. Há ironia na escolha do nome desse personagem? Explique sua resposta.

Certamente. Elias Gentil apresenta-se na cena como um homem agressivo e individualista, inclusive com sua mulher grávida.

D16

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5. Na oficina anterior vimos que o pretérito (ou passado) é o tempo verbal que predomina em narrativas. Que tempo verbal predomina no conto lido? Analise essa escolha do autor.

O conto é narrado no presente. O presente do verbo é frequentemente usado em narrativas com o objetivo de aproximar a cena do leitor.

D19

Releia:

A situação não anda boa não, diz Elias olhando para a vaca. Ele não consegue tirar os olhos da vaca.

É verdade, diz Marcílio.

Os três olham para a vaca.

Ao longe vê-se o vulto de Lucília, correndo.

Elias recomeçou a cuspir. Se eu pudesse eu também era rico,

6. Como você interpreta a afirmação de Elias: “A situação não anda nada boa (...) se eu pudesse eu também era rico.” ?

A afirmação de Elias pode ser tomada como uma espécie de justificativa para suas ações. Nesse sentido, a violência da miséria e da fome “justifica” as reações violentas desse personagem, seu ódio, sua agressividade.

Releia também:

Elias segura o facão na mão, como se fosse um punhal; olha com ódio para Marcílio e Ivolnildo.

7. Que expectativa essa informação do narrador poderia criar nos leitores?

Sobretudo a palavra “punhal” sugere que Elias está “armado” e pode usar essa arma contra um de seus vizinhos para defender seu pedaço de carne.

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8. Compare e comente os dois fragmentos abaixo, que apresentam Elias na relação com sua mulher Lucília:

Elias manda a mulher apanhar um facão em casa. Um facão?, perguntou Lucília. Um facão depressa, sua besta, diz Elias.

Faz um bifão pra mim, diz ele sorrindo para Lucília.

No primeiro fragmento, Elias é um personagem agressivo, violento. No segundo, esse mesmo personagem aparece sorrindo. Essa transformação sofrida pelo personagem nos permite interpretar sua agressividade como consequência de condições que o oprimem. Elias pode não ser um homem agressivo, mas torna-se agressivo em situações nas quais precisa defender-se.

9. Releia a cena em que aparece o personagem João Leitão, o açougueiro. Por que todos o impedem de se aproximar, “com exceção do motorista da polícia”?. Que conflito se instaura nesse momento?

Nesse ponto da narrativa, os vizinhos em disputam “unem-se” contra o açougueiro. Podemos dizer que o açougueiro “não seria um deles”, ou seja, não tem as mesmas necessidades que eles. É essa necessidade que justifica a atitude dos personagens, inclusive de Gentil, que, antes, não reconhece o “direito” de seus vizinhos.

10. A narrativa literária de Rubem Fonseca, com muita frequência, aborda o tema da violência. Na sua opinião, como esse tema é abordado no conto “Relato de ocorrência”?

O acidente de trânsito com vítimas fatais, narrado inicialmente no conto, é uma cena violenta. Mas, em primeiro plano, está a violência da miséria, da fome que faz com que vizinhos tornem-se inimigos em disputa por um pedaço da carne do animal morto sobre a ponte. Podemos dizer que a descrição dessa disputa, no texto, chega a animalizar os seres humanos nela envolvidos.

D6

11. Estabeleça aproximações entre essa narrativa de Ruben Fonseca e o conto “Uma vela para Dario”, de Dalton Trevisan.

Ambos os contos têm como tema a violência marcando as relações entre os humanos, que se defendem uns dos outros e parecem cada vez mais incapazes de se solidarizar.

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As questões de 1 a 4 propõem que os alunos analisem como a narrativa se estrutura e como são desenhados seus personagens e o drama que enfrentam (observem-se os negritos nas questões). É importante que o tutor recupere, nesse momento, as noções e os conceitos relativos ao estudo da narrativa já apresentados. São conhecimentos importantes que permitem ler mais verticalmente narrativas literárias, possibilitando a análise de suas estratégias. A partir dessa análise, as questões seguintes propõem que os alunos construam suas hipóteses de leitura e interpretem o texto a partir da retomada de fragmentos da narrativa, sinalizações relevantes para a construção de sentido do texto. A última questão pede que se comparem os autores lidos – Dalton Trevisan e Rubem Fonseca. O tutor deve complementar essa atividade conversando com os alunos sobre a literatura desses dois autores, sobretudo sobre essa literatura que toma a violência como tema. A forma como esses autores nos expõem a crua realidade de violência, sobretudo nas grandes cidades brasileiras – a partir de histórias narradas de forma objetiva e imparcial – são uma forma de nos despertar, às vezes violentamente, para uma realidade que, muitas vezes, não queremos ver.

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Anotações

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OFICINA 5

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LENDO POEMASE FALANDO DE POESIA

OFICINA 5

Marilda Clareth Bispo de Oliveira

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1. OBJETIVOS

1. Desenvolver habilidades de leitura de poesias.

2. Conhecer recursos de expressão e de produção de sentidos da linguagem poética: metáfora, imagens, comparação.

3. Apresentar e discutir os seguintes conceitos: poesia, poeta, invenção, criação literária, estética.

2. TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA

Texto I – Mundo pequeno – Manoel de Barros

O poema de Manoel de Barros discute o fazer poético, o trabalho do poeta com a linguagem. Este poema é muito interessante tanto pelo conteúdo quanto pela forma e pelas estratégias usadas pelo poeta. É uma narrativa em primeira pessoa em que o narrador Manoel, um poeta adolescente que se inicia no processo de ler/escrever poesias, narra a sua história, suas primeiras reflexões sobre a forma de compor textos literários, a partir de um ponto de vista subjetivo. Por isso, a escolha de um narrador personagem de primeira pessoa. A personagem pensa que o seu gosto é um tanto esquisito, pois o seu prazer de ler/escrever não nasce da beleza, mas da “doença” das palavras. Incomodado, conversa com o seu preceptor, Padre Ezequiel, expondo a sua dificuldade: Pensa que é um sujeito “escaleno”.

O padre lhe diz que é muito saudável fazer defeitos na frase e faz um “limpamento” nos receios do adolescente. Mostra-lhe que ele tem “um certo gosto por nadas”, o gosto por sair do que já está predeterminado, que talvez o acompanhará pelo resto da vida, principalmente porque esta é uma característica de quem é “bugre”, descendente de índios. Bugre, segundo o padre, não anda em estradas, só escolhe desvios, por ser o lugar onde a surpresa e os frutos maduros são encontrados. O padre tranquiliza Manoel, mostrando-lhe a importância da doença das palavras , dos desvios, supostos erros de idioma. O padre só faz uma advertência que é “saber errar bem o idioma”. Revela para o adolescente que errar, criar a linguagem literária implica saber, conhecimento. Deve-se ter um domínio do idioma e das estratégias de criar, inventar a linguagem. Diante do que diz o padre, o adolescente escritor reconhece que teve a sua primeira aula de agramática. O Padre Ezequiel foi o seu primeiro professor de agramática.

A narrativa foi uma estratégia discursiva importante para a construção de sentidos. De uma forma suave, o autor apresentou e discutiu temas fundamentais para a leitura de poesias e para o estudo de textos literários. Um dos caminhos para ler este poema é reconhecer a sua estrutura. Logo no início, encontramos a complicação: Descobri aos 13 anos que tinha um gosto esquisito: gostar da doença, defeitos das palavras.

O problema provocou, no adolescente, um certo estranhamento de si mesmo. A complicação se desenvolve a partir do momento em que o receio de ser diferente dos outros leitores faz com que o adolescente busque ajuda. O padre desfaz os receios, explica o que acontece. Nesse ponto, parece que a narrativa se encaminha para a resolução, mas aparece um novo elemento: o conselho que padre Ezequiel dá: “Há que apenas saber errar bem o seu idioma”. Há nesse conselho do padre uma contradição (“errar bem”), que o adolescente compreende muito bem ao concluir que o padre Ezequiel fora o seu primeiro professor de agramática. A avaliação do narrador personagem pressupõe que o conflito foi resolvido e o escritor aprendeu a valorizar o

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seu prazer pela “doença das palavras”. O estudo da narrativa literária foi muito bem trabalhado em oficina anterior e pode ser retomado para contribuir para a compreensão do poema lido.

É importante observar que são abordados, no poema, temas importantes como a linguagem, o processo de construção da linguagem poética, a noção de acerto e de erro. O autor desmistifica uma concepção da linguagem que defende a correção linguística, a partir da imposição de normas gramaticais, sem reconhecer as possibilidades de mudanças – sintáticas, semânticas, morfológicas – possibilitadas pela criatividade dos usuários da língua.

Através da oposição beleza/doença, o poeta suscita reflexões. No poema, a “beleza das frases” estaria relacionada ao rigor formal e semântico. A doença, ao contrário, significa os desvios da linguagem ou a presença de construções linguísticas diferentes do uso comum, não determinadas por regras gramaticais. Fazer defeitos nas frases pode significar também produzir significados inesperados.

É importante observar que o autor discute em um texto tão simples temas importantíssimos para a formação dos leitores, como o processo de invenção e de criação da linguagem poética que ultrapassa os limites das regras usuais. Para ele, a beleza não estaria relacionada à correção gramatical, à ausência de erros, à expressão de significados autorizados pelo dicionário, mas à capacidade de criar, inventar. A leitura do poema implica dar-se conta de que o poeta apresenta um conceito de linguagem que valoriza a participação do leitor/escritor como um sujeito que constrói sentidos e formas de expressão para falar o que pretende. A criatividade ou a capacidade de inventar é uma competência tanto do leitor quanto do poeta.

Texto II – Uma didática da invenção – Manoel de Barros

O poema II da 1ª parte de “O Livro das Ignorãças”, UMA DIDÁTICA DA INVENÇÃO, do poeta Manoel de Barros discute o fazer poético. Propõe “Desinventar objetos”. O que seria desinventar? A resposta aparece no exemplo que o poeta apresenta, no mesmo verso: “O pente, por exemplo.” Como desinventar o pente? A resposta encontra-se no próximo verso que diz que a desinvenção seria um ato de dar “outra função” para o pente. Isso significa desfazer um sentido comum, de conhecimento geral. Seria aguçar o olhar para ver o pente a partir de outra perspectiva. “Não pentear” seria a primeira função que desfaz o que já faz parte do esquema de mundo automatizado.

Mas não para aí o processo de desinvenção. O poeta propõe continuar a tarefa de desinventar, buscando novas funções “até que ele fique à disposição de ser uma begônia. Ou uma gravanha.”. Atentem para a expressão “até que”. Revela a continuidade do processo de criação em que se engaja o poeta. Um processo que transforma o olhar do poeta e também o do leitor. A mudança de função do pente é um meio através do qual o poeta/leitor abandona o esquema já determinado e permite que o objeto do olhar, o pente, ”fique à disposição de ser begônia”. De objeto inanimado o pente se transforma até ganhar a condição de ser flor. Há um espaço de transformação e de mudança de ponto de vista entre “ser pente”, “não pentear” e “ser begônia/flor”. A transformação do objeto passa pela ação do sujeito poeta e/ou leitor, que é capaz de “desinventar”.

Na última estrofe, o poeta avança na explicação do processo de criação poética, apresentando uma técnica: usar algumas palavras que ainda não tenham idioma. Explica-se, assim, o uso da palavra “gravanha” no poema, pouco conhecida por ser um termo próprio da região do cerrado. O contato com essa palavra, que pode não estar dicionarizada, mergulha o leitor num universo de sentido que não faz parte de seu cotidiano. A surpresa em ver/pensar que o

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pente deve ser gravanha cria um espaço de reflexão, de significação inusitada. Por outro lado, o idioma se enriquece ao incorporar este termo a partir do qual se irradia um novo significado para pente.

O texto de Manoel de Barros nos permite uma reflexão profunda sobre uma das funções da linguagem simbólica, em especial da linguagem literária ou poética: aprender a ler e a transferir significado. “Dar outra função a um objeto”, “desinventar” um objeto implica ter a capacidade de olhar as coisas de outro ângulo, ter a capacidade de raciocinar e mudar o ponto de vista a partir do qual interpretamos a realidade. Nesse sentido, a leitura de literatura pode assumir uma dimensão importante no processo de humanização de leitores e escritores.

Poema III – Estética – Solano Trindade

O poema “Estética”, de Solano Trindade, discute também o fazer poético. A “estética”, ou forma de compor poemas é o tema do texto. O poeta se propõe a dizer como ele constrói o poema. A primeira regra é: “Não disciplinarei as minhas emoções estéticas”. Posicionando-se contra a forma tradicional de compor poesias, o poeta define que a liberdade de expressão de emoções deve ser uma das diretrizes do processo de composição da poesia. A busca de liberdade, seja na definição do tema, seja na linguagem poética emergem neste poema.

As emoções estéticas são comparadas ao desejo de viver que ficam “à vontade”, livres de imposições. Interessante observar que o poeta faz uma distinção entre desejo de viver e vida. O desejo de viver está sob o domínio do sujeito lírico, enquanto que a vida depende de limitações externas. O poeta pode ter controle de seu desejo de viver, mas a vida tem controle sobre o poeta. Assim as emoções e o desejo de viver seguem o curso que o poeta determinar. O sujeito lírico pode submeter ou deixar livres o desejo de viver e o as emoções estéticas. Neste caso o poeta assume o seu papel como sujeito, como criador de suas emoções e do desejo de viver. O mesmo não acontece com a vida que é a disciplinadora e sempre está submetendo o poeta ao rigor de suas leis.

É importante ainda notar que o poeta reconhece que há limites tanto ao seu desejo de viver quanto à expressão das emoções estéticas. O sujeito lírico reconhece que “embora seja grande o espaço de criação, alguns limites são criados”. Pode-se ler aqui uma referência a escolas ou estéticas literárias que assumem determinadas regras de expressão e de composição do poema. São limites, uma vez que não há escolas sem regras, sem princípios. A Escola Literária Modernista, a que pertence Solano Lopes, assume a regra da liberdade, posicionando-se contra as regras das escolas tradicionais. “Basta somente /que eu sofra a disciplina da vida”, nestes versos, a vida disciplinadora impõe regras ou limites ao poeta. E não há como escapar disto, “mas a estética/deve ser liberta”. Revela-se, nesses versos, o poder do sujeito que inventa, cria, constrói o seu fazer poético. Preso ou limitado pela vida o poeta escolhe, toma a decisão de deixar a estética sempre liberta.

Texto IV – Eu gosto de ler gostando – Solano Trindade

O poema “Eu gosto de ler gostando” tematiza o prazer de ler poesias. O título é repetido no primeiro verso das duas estrofes. Revela que o sujeito lírico quer mencionar que o prazer (de ler) nasce do gostar, é uma tarefa centrada no gostar. Em seguida, explica-se o que significa o “gostar gostando”.

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A primeira estrofe menciona o ato de gozar, sentir prazer, através do contacto com a poesia: “gozando a poesia”. Intimidade é uma das condições para ter o prazer de sentir/gozar a poesia. A intimidade com a poesia, igual a que se tem com a mulher amada, evidencia-se quando o poeta, através de comparações, descreve a mulher e a poesia “como uma boa camarada/ dessas que beijam a gente /gostando de ser beijada”. Observa-se que a poesia, como a mulher, deve participar do processo de leitura. A poesia deve ser boa camarada, beijar o leitor. Assim, pode-se pressupor que os verdadeiros leitores têm familiaridade com a poesia, são capazes de descobri-la e se relacionar com ela, tornam-se “amantes”.

Na segunda estrofe, entra em cena o poema, que se transfigura em “boca de mulher pura/simples boa libertada/boca de mulher que pensa....”. O adjetivo “pura” pode remeter o leitor para ideia da poesia como um ato de expressão livre de regras que maculam a linguagem, as emoções estéticas. “Pura” pode ser associado a “não disciplina das emoções estéticas”, como foi visto no poema anterior. “Simples, boa, libertada” pode referir-se tanto à ausência de regras impostas, quanto às emoções ou temas emergentes no cotidiano. “Boca de mulher que pensa” se relaciona à poesia como um processo que nasce de um fazer criativo, baseado na capacidade de pensar para subverter a ordem preestabelecida. Reforça a ideia de liberdade e nos lembra a proposta da Estética Modernista.

Os últimos versos retomam a imagem da poesia como um sujeito que age ou interage com o leitor. Parece que a poesia gosta de leitores competentes e se mostra ou se revela no momento em que é buscada, é tratada com gosto, com desejo, com prazer.

Poema V – Convite – José Paulo Paes

O poema “Convite” de Paulo Paes apresenta como tema a leitura de poesia. O poeta inicia o poema afirmando que “poesia é brincar com palavras”. A metáfora “ler poesias é brincar” aparece como a base desse enunciado. O leitor e o escritor aparecem como crianças ou pessoas dispostas a brincar. A ideia comumente difundida de que ler poesia é uma tarefa difícil se desfaz. Ler é brincar com palavras como se brinca com bola, papagaio, pião. Quem nunca brincou com estes brinquedos? A comparação feita desmistifica a ideia de dificuldade de ler poesia. Portanto, o primeiro convite feito ao leitor é para olhar a poesia a partir de outra concepção: poesia é brincar.

Na estrofe a seguir, o leitor encontra uma ressalva: “só que bola, papagaio, pião de tanto brincar se gastam”. O leitor deve ver a fragilidade das brincadeiras comuns com objetos que se gastam. A poesia ganha outra dimensão: não se gasta. Na terceira estrofe, as palavras aparecem como objeto da poesia, objetos que não se acabam. Ao contrário, “quanto mais se brinca com elas, mais novas ficam”. Isso significa que as palavras têm o poder de se renovarem à medida que são usadas. Para esclarecer ou reforçar a imagem da mudança, o autor usa a imagem da água, a imagem do rio para mostrar a fluidez, as mundanças: “Como a água do rio que é água sempre nova”. O poema e a água se identificam para refletir a mudança, a renovação constante. O rio é o mesmo, mas as suas águas mudam. Ainda para reforçar a ideia da mudança, o autor usa a comparação da mudança da palavra como um novo dia. Invenção e processo de criação de surgimento do novo se interrelacionam. O novo nasce da capacidade de brincar, isto é, sair do espaço do que é sério para subverter as leis, criar as brincadeiras como o espaço do surgimento do novo.

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3. ROTEIRO PARA O TRABALHO NAS OFICINAS

1. Conversa com os alunos sobre POESIA – O tutor pode propor algumas perguntas, como: vocês gostam de ler poesia?; por que gostam?; por que não gostam?; o que já leram?; que poetas da literatura brasileira conhecem?; pra que serve a poesia, a literatura, a arte? São questões que podem antecipar discussões que a oficina propõe e ajudar o tutor a melhor organizar a dinâmica da oficina, pois estará conhecendo seus leitores.

2. Leitura dos poemas I e II, de Manoel de Barros – A interpretação dos textos pode ser feita oralmente, com a mediação do tutor, ou alunos podem ler e resolver em pequenos grupos as atividades de leitura, enquanto o tutor observa e atende os alunos nas suas dúvidas e questionamentos.

3. Correção/Comentários das atividades propostas – deve-se aproveitar esse momento para algumas discussões motivadas pelos textos, como: o processo de criação do texto poético; o trabalho que o artista realiza com a linguagem e seu efeito na fruição do texto; as concepções de “belo”, “certo” ou “errado” em linguagem e em literatura; a leitura de poesia e literatura como experiência que nos permite olhar para a realidade com outros olhos, sob outro ponto de vista etc.

4. Leitura dos poemas III e IV, de Solano Trindade – os alunos devem ter um tempo para trabalhar os textos e podem fazê-lo individualmente ou em grupo.

5. Correção/Comentários das atividades propostas – ao retomar as atividades, questões sobre a poesia/literatura devem ser retomadas ou colocadas. Os poemas de Solano Trindade permitem uma boa discussão sobre a poesia moderna e contemporânea, particularmente sobre a linguagem da poesia. O tutor deve estar atento para desmistificar uma concepção da linguagem que defende a correção linguística, a partir, unicamente da adequação à norma gramatical. É uma boa oportunidade para introduzir as discussões sobre o tema promovidas pelos modernistas de 22.

6. Leitura do texto V, de José Paulo Paes – o tutor pode realizar as atividades oralmente, com todo o grupo, consolidando conhecimentos trabalhados durante a oficina, como as diferentes metáforas, presentes nos textos, para falar da poesia, tanto para a experiência de ler quanto de escrever poemas.

7. Leituras complementares – na sessão “textos em diálogo” inserimos outros poemas de temática metalinguística. São leituras complementares que poderão ser feitas, caso haja tempo, na oficina.

8. Sugerimos ao tutor, ainda, que crie oportunidades, durante o trabalho da oficina, de leitura dos textos em voz alta. Promover uma leitura bem feita, rítmica, melódica ajuda a atrair a atenção dos leitores para o poema.

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4. TEXTOS E ATIVIDADES DE LEITURA

Nesta oficina você vai ler vários poemas que falam da própria poesia. O primeiro foi escrito por Manoel de Barros, um escritor contemporâneo.

Manoel de Barros, poeta, advogado, fazendeiro em Cuiabá, nasceu em 1916. Escreveu seu primeiro poema aos 19 anos, mas se revelou como poeta aos 13 anos. Desde a década de 1930 foram vários livros publicados. Sua poesia tem como temática o pantanal, representado através de sua natureza e o cotidiano marcado pelas experiências pantaneiras.

Manoel de Barros inventa e transforma a linguagem, a realidade, a vida, os sentimentos. Publicou, dentre outros, os livros: Poemas sem pecado (1937), O Livro das Ignorãnças(1993), Cantigas por um passarinho à toa (2003).

Texto I

Mundo PequenoManoel de Barros

Parte VI Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas leituras não era a beleza das frases, mas a doença delas. Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor, esse gosto esquisito. Eu pensava que fosse um sujeito escaleno. - Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável, o Padre me disse. Ele fez um limpamento em meus receios. O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença, pode muito que você carregue para o resto da vida um certo gosto por nadas... E se riu. Você não é de bugre? - ele continuou. Que sim, eu respondi. Veja que bugre só pega por desvios, não anda em estradas - Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas e os ariticuns maduros. Há que apenas saber errar bem o seu idioma. Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de agramática.

Conheça o significado de algumas palavras:

Preceptor- educador, instrutor, encarregado da educação de alguém.

Bugre- indivíduo rude, incivilizado, indígena, criado nos matos.

Ariticuns – árvore frutífera de 6 a 8 metros de altura que dá frutos comestíveis, espécie muito comum no cerrado.

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ATIVIDADES DE LEITURA

1. Quais são os personagens do texto?

Manoel, o adolescente de 13 anos e o Padre Ezequiel.

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2. O texto que você acabou de ler narra uma história sobre:

a) Um menino doente que precisava da ajuda de um padre.

b) Um padre muito severo que via só o defeito do menino.

c) O medo de não poder ver a beleza das frases no texto.

d) O prazer da leitura, a partir da invenção da linguagem. (X)

e) A importância da leitura de textos poéticos.

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3. No enunciado “Eu pensava que fosse um sujeito escaleno”, a palavra em destaque por ser substituída sem perda de sentido por:

a) desobediente

b) teimoso

c) coerente

d) inconstante

e) diferente (X)

D3

4. O que o adolescente de 13 anos descobriu sobre si mesmo? Explique sua resposta

O adolescente descobriu que gostava da “doença das palavras”. A palavra “doença” se opõe a beleza. No texto, “doença” significa um uso diferente da linguagem: formas de organizar a frase; uso de palavras com sentido diferente do habitual; uso de construções que não obedeçam à norma gramatical etc.

D1-D3

5. “Ele fez um limpamento em meus receios”. Esse verso indica que Pe Ezequiel:

a) Explicou ideias que não estavam justificadas para o adolescente. (X)

b) Confirmou os receios de Manoel, o leitor adolescente.

c) Entendeu que o adolescente ainda deveria aprender muito.

d) Sugeriu que o adolescente estudasse mais a gramática.

e) Orientou Manoel, explicando o que é um desvio de linguagem.

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6. Como o Padre Ezequiel fez o “limpamento” dos receios de Manoel? Escreva um argumento usado pelo padre.

Defendeu a opinião de que não havia nada errado com Manoel. Ao contrário, ele era uma pessoa muito saudável. Para argumentar a favor de seu ponto de vista, o Padre disse que o modo de ler/escrever de Manoel era uma questão de estilo, uma característica que o acompanharia por toda a vida. Acrescentou que esta era uma característica que fazia parte da natureza de quem, como Manoel, é de bugre, que se expressa na escolha de andar em desvios e não em estradas.

D8

7. Com base na leitura do texto, podemos dizer que Manoel é apresentado como leitor e também como escritor. Transcreva do texto versos que confirmam isso.

Os fragmentos “que me dava prazer nas leituras” e “gostar de fazer defeitos na frase”, indicam que Manoel era, ao mesmo tempo, um leitor que preferia ler textos construídos a partir de uma linguagem “não-padrão”, “doente” e um escritor que deformava as frases, isto é, subvertia a regra gramatical, sintática, semântica, morfológica.

D4

8. Padre Ezequiel é o preceptor, isto é, o instrutor, o educador, o conselheiro de Manoel. Transcreva o fragmento do texto que expressa o conselho que o padre dá a Manoel. Justifique também a preocupação do padre em dar este conselho.

O padre Ezequiel pede a Manoel para “saber errar bem o idioma.” Isso significa que, para criar, “errar o idioma” é preciso saber, conhecer o que se está fazendo, ter um propósito e encontrar formas apropriadas para alcançar o objetivo pretendido. Não é dizer qualquer coisa. O processo de criação exige trabalho e muito conhecimento da linguagem e rigor na determinação do sentido que ser quer construir.

D8

9. “Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de agramática.”

Nesse enunciado, há uma situação que provoca surpresa. Identifique-a e explique a afirmação feita por Manoel.

A situação surpreendente é a que apresenta o padre como professor de agramática. Normalmente, encontramos um professor que ensina gramática. O padre foi um professor de agramática porque ensinou a Manoel que a criatividade da linguagem rompe com os limites da gramática e que o escritor usa os recursos gramaticais para ver ou descobrir desvios da linguagem que contribuem para a elaboração da linguagem poética.

D4

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As questões acima auxiliam o processo de construção de sentidos chamando a atenção para elementos da história narrada no poema: quem são os personagens; qual é o conflito vivido pelo adolescente/leitor/poeta; como esse conflito se resolve. Uma importante habilidade de leitura envolvida nessas atividades é a de interpretar metáforas. No poema há duas expressões metafóricas centrais: “gostar da doença das palavras” e “fez um limpamento em meus receios”.

É importante discutir com os alunos que o prazer de ler pode estar relacionado à identificação do processo de invenção da linguagem. O processo criativo é fonte de prazer e, ao mesmo tempo, é uma condição para que a literatura assuma o status de arte. No texto lido, as palavras de uso comum assumem sentidos novos: a palavra “doença”, por exemplo, ganha um sentido diferente, estranho, e essa significação implica a utilização de vários processos de construção semântica, como a metáfora, a oposição beleza/doença, que não é uma oposição esperada (doença/saúde).

A metáfora do receio como um objeto que precisa ser limpo permite-nos pensar que os receios do leitor/escritor fundavam-se em conceitos associados a uma visão da língua como uma estrutura fixa, imutável. Limpar, tirar a sujeira ou o preconceito que limita o processo de construção, é uma tarefa que pode ser entendida como um mecanismo de organização das ideias a partir de um novo ponto de vista. O texto traz esta inovação quando afirma que Manoel não tem nenhuma doença, mas uma forma diferente de lidar com as palavras. A advertência para que Manoel saiba errar bem mostra que o fazer literário demanda saber e arte. As questões orientam e contribuem para que discussões sobre esse tema sejam propostas para facilitar ao leitor sua participação no processo de construção de sentidos de textos literários.

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Vamos ler mais um poema do poeta Manoel de Barros.

Texto II

UMA DIDÁTICA DA INVENÇÃOII

Desinventar objetos. O pente, por exemplo. Dar ao pente funções de não pentear. Até que ele fique à disposição de ser uma begônia. Ou uma gravanha. Usar algumas palavras que ainda não tenham idioma.

Conheça o significado da palavra: Gravanha - folha seca de pinheiro

1. Considerando a leitura do poema, a palavra desinventar significa:

a) Criar um novo objeto.

b) Reinventar um novo objeto.

c) Dar uma nova função para um objeto. (X)

d) Destruir totalmente o objeto velho.

e) Criar um novo nome para o objeto.

D3

2. Leia os versos do poema transcritos abaixo

“Desinventar objetos. O pente, por exemplo.

Dar ao pente funções de não pentear.”

O poeta usa a estratégia de exemplificar. Atribua uma intenção ao uso deste recurso discursivo.

O exemplo foi usado para explicar o sentido de desinventar, para garantir a interação entre leitor e autor do texto. Sem o exemplo, o leitor poderia dar um sentido que não seria o que pretendia o autor. Assim, o autor deixa pistas para o leitor construir uma interpretação que seja autorizada pelo texto. Desinventar, neste poema, significa tirar a função comum e dar novas funções para o pente.

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3. O pente, de acordo com a leitura do poema, deverá assumir novas funções, um novo estado de ser. Transcreva do poema o verso que confirma isto.

“Até que /ele fique à disposição de ser uma begônia. Ou/ uma gravanha.” Os versos mostram que o pente deixará a função de pentear para se transformar em flor, begônia, ou então em gravanha, folha seca.

D1

4. No verso “Dar ao pente funções de não pentear”, o verbo em destaque dar é uma pista linguística que nos permite identificar a metáfora :

a) do poeta como um criador, um inventor. (X)

b) do pente como um simples objeto.

c) do poeta como um repetidor incansável

d) do pente como uma pessoa maleável

e) do poema como objeto imutável.

D18

5. O que significa estar à disposição de ser begônia ou gravanha?

Significa que o pente perde a sua condição de ser um objeto imutável para estar em processo de mudança. Assume uma condição de ser isto ou aquilo, isto é, begônia ou gravanha. O imprevisível, o surpreendente caracteriza o processo de construção da poesia, a invenção ou criatividade do poeta.

D4

6. O poema que você está lendo é a parte II do poema intitulado “UMA DIDÁTICA DA INVENÇÃO”. Veja o que o dicionário nos informa sobre o sentido da palavra Didática:

Didática: [Fem. substantivado de didático.] S. f. 1. A técnica de dirigir e orientar a aprendizagem; técnica de ensino. 2. O estudo dessa técnica.

Considerando o sentido da palavra didática, explique o título do poema.

Didática, no título, significa técnica de ensinar. No poema ensina-se a técnica da invenção, da criação de um poema, que, na verdade, implica “desinventar”.

D3

7. Que técnicas o poeta utiliza para “ensinar a invenção”?

A primeira orientação é desinventar, isto é, dar uma função para o pente que seja diferente daquela que ele sempre tem. A segunda orientação é usar palavras novas, palavras inventadas que ainda não foram dicionarizadas. “Desinventar”, por exemplo, é um neologismo, uma palavra nova que ainda não aparece no dicionário.

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Tutor/a, as questões propostas orientam a leitura do poema. As três primeiras trabalham com o sentido da palavra “desinventar” para que o leitor possa compreender, com base no texto, o que o autor pretende dizer a respeito do processo de criação poética. As outras questões orientam o leitor a atribuir sentidos a determinadas palavras ou expressões, a perceber e ser capaz de visualizar imagens que contribuem para a construção da coerência do poema, a interpretar metáforas como “Poesia é desinvenção”. A metáfora é um recurso cognitivo que contribui para a construção de sentidos e de expressão figurativa da linguagem. É um recurso do pensamento e não, essencialmente, um recurso da linguagem poética. Não deve ser vista como um mero adorno ou enfeite para embelezamento do poema. A linguagem cotidiana é rica em expressões metafóricas. Saber lidar com a metáfora é uma das possibilidades de desenvolver estratégias de leitura. Nas atividades, as questões relacionadas à metáfora consideram esse ponto de vista. E passo a passo desenvolvemos este raciocínio.

Vamos conhecer agora outro poeta da literatura brasileira, Solano Trindade. Escolhemos, desse autor, dois textos que também tratam do fazer-poético.

Solano Trindade (1908 -1973) é grande um poeta brasileiro que nasceu em Pernambuco. Pobre, filho de sapateiro, foi conhecido, nos meios intelectuais, como o Grande Poeta Negro brasileiro. Sua grande preocupação era criar centros culturais para promover, divulgar o trabalho de artistas negros. Poeta do povo, tinha uma profunda consciência dos problemas sociais, das dificuldades vividas pelos

descendentes afrobrasileiros. Poeta, cineasta, pintor, teatrólogo, ator, estudioso da cultura popular e da cultura negra, o seu trabalho foi reconhecido internacionalmente. Elogiado por intelectuais importantes, como Darcy Ribeiro, Carlos Drummond de Andrade, Solano Trindade não só fazia poesias, mas participava de várias atividades ligadas à arte, à cultura, aos movimentos de conscientização do negro. Publicou: Poemas Negros (1936), Poemas de uma vida simples (1944),Seis tempos de poesia (1958) e Cantares ao meu povo (1961).

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Texto III

EstéticaSolano Trindade

Não disciplinareiAs minhas emoções estéticasDeixá-las-ei à vontadeComo o meu desejo de viver...

É grande o espaçoEmbora se criem limites...

Basta somenteQue eu sofra a disciplina da vidaMas a estéticaDeve ser sempre liberta

ATIVIDADES DE LEITURA

Antes de iniciar as atividades de leitura, considere o verbete transcrito abaixo:

Estética [Fem. substantivado do adj. estético.] S. f. 1. Estudo das condições e dos efeitos da criação artística.2. Tradicionalmente, estudo racional do belo, quer quanto à possibilidade da sua conceituação, quer quanto à diversidade de emoções e sentimentos que ele suscita no homem.3. Caráter estético; beleza: a estética de um monumento, de um gesto.4. Beleza física; plástica: Ia à praia para apreciar a estética das garotas.

1. O que o poeta se propõe, na primeira estrofe?

O poeta se propõe a não limitar a sua sensibilidade poética, submetendo-a a regras impostas por uma determinada escola ou estética literária. As emoções estéticas devem estar livres, surgirem espontaneamente, de acordo com o que se sente ou o que se deseja expressar. A liberdade de escrever/compor poemas é a proposta do poeta.

D4

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2. Releia:

“É grande o espaço/ Embora se criem limites...”

2.1. A oração “embora se criem limites” pode ser reescrita de todas as formas abaixo, EXCETO:

a) Mesmo que se criem limites...

b) Apesar de se criarem limites...

c) Já que se criam imites... (X)

d) Apesar de limites serem criados...

e) Mesmo que sejam criados limites...

2.2. A conjunção embora estabelece relação semântica de:

a) Causa

b) Concessão (X)

c) Tempo

d) Lugar

e) Consequência

D 15

3. No poema, o poeta reconhece que há:

a) liberdade e limitação tanto na forma de expressão poética quanto no desejo de viver. (X)

b) restrições em seu desejo de viver e liberdade total em seu processo de escrever poesias.

c) diferença entre a liberdade presente em seu desejo de viver e a liberdade em sua vida.

d) muitas semelhanças entre as limitações existentes em sua estética e em sua própria vida.

e) uma diferença muito grande entre as suas emoções estéticas e o seu desejo de viver.

D4

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4. No poema, o poeta se apresenta em duas situações discursivas diferentes. Em um momento ele assume uma atitude de comando, de controle sobre suas ações. Em outra situação, o poeta se vê limitado ou submetido a regras ou imposições. Transcreva os versos que mostram esta mudança de atitude comunicativa do sujeito lírico.

Na primeira estrofe, o poeta assume o papel de sujeito de suas ações. Ele diz: “Eu não disciplinarei...deixá-las-ei”. Depois, na última estrofe, no verso, “deixa que eu sofra a disciplina da vida”, o poeta perde o controle da situação, sofre as limitações da disciplina da vida.

D1

5. Considerando o uso do verbo disciplinar, podemos dizer que este item linguístico deflagra todas as seguintes metáforas apresentadas nas opções abaixo, exceto:

a) O poeta é o libertador da poesia.

b) Viver é sofrer punições.

c) A vida é o juiz do poeta.

d) A vida é o professor do poeta.

e) O poeta é o repressor da poesia. (X)

D4

As questões de 1 a 5 procuram auxiliar os alunos na leitura do texto, chamando sua atenção para partes do poema e para recursos linguísticos que o estruturam. A questão 5 trata da identificação de metáforas que podem ser depreendidas se considerarmos a expressão metafórica “Não disciplinarei minhas emoções estéticas”. Essa expressão permite reconhecer uma série de representações sobre poesia e vida.

6. Leia a informação abaixo.

O Modernismo brasileiro, para alguns autores, pode ser dividido em duas fases: O período de combate (1922 - 1930) e o período de “construção” (1930 - 1945). A primeira fase é marcada pela difusão de novas ideias, pela crítica à literatura tradicional. A segunda fase é marcada pela consolidação da renovação proposta tanto na linguagem quanto na técnica para criar formas de representação da vida. A busca de liberdade de pensar e de se expressar sentimentos, a partir de uma linguagem simples, a valorização do popular eram objetivos da escola/estética modernista.

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De acordo com as informações que você leu podemos afirmar que:

a) O poema de Solano Trindade se enquadra na Estética Modernista, já que defende a liberdade de suas emoções estéticas. (X)

b) A crítica à literatura tradicional não aparece no poema de Solano Trindade, pois ele não participa da Estética Modernista.

c) A renovação da linguagem e da forma de expressão das emoções estéticas não são propósitos do poeta Solano Trindade.

d) O autor Solano Trindade pertence ao movimento Modernista, mas ele não valoriza a liberdade de expressão poética.

e) A poesia de Solano Trindade pertence à Estética Modernista, pois busca o rigor formal, o rigor da expressão de emoções.

Tutor/a, a questão acima envolve o conceito de estética literária e estética modernista. Esse pode ser um bom momento para que se discuta com os alunos a questão das Escolas/Estéticas Literárias. Essa discussão, no entanto, não deve nos levar a um estudo classificatório de autores e obras. Ela só fará sentido se possibilitar aos alunos um aprofundamento de sua atividade interpretativa, na medida em que permite uma leitura mais situada. Ao situarmos, por exemplo, a obra de Solano Trindade no contexto do modernismo de 22, permitimos, inclusive, que seu texto dialogue com outros textos que, à época, buscaram promover uma importante ruptura com nossa tradição literária. Por outro lado, o fato de o poeta propor a liberdade de expressão não significa que ele não aceite um conjunto de regras para compor o seu texto poético. Segundo Tringali (2004), “a ordem de abolir as regras já enuncia uma regra.” O fazer poético, a arte verbal depende de alguns procedimentos que determinam a forma de expressão, a elaboração da linguagem literária.

É importante destacar que as estéticas literárias se inserem em um contexto histórico cultural e se organizam a partir de um conjunto de normas ou princípios. Pode-se mencionar, sem muito detalhamento, as Escolas Literárias brasileiras (Barroco, Arcadismo, Romantismo, Realismo...), o período de cada uma, num exercício que permita reconhecer tendências estéticas, de modo a facilitar ao aluno que ele organize seu conhecimento sobre a literatura brasileira.

Você vai ler, agora, outro poema de Solano Trindade, o Poeta do Povo.

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TEXTO IV

Eu gosto de ler gostandoEu gosto de ler gostando,Gozando a poesia,Como se ela fosseUma boa camarada,Dessas que beijam a genteGostando de ser beijada.

Eu gosto de ler gostandoGozando assim o poema,Como se ele fosseBoca de mulher puraSimples boa libertadaBoca de mulher que pensa...Dessas que a gente gostaGostando de ser gostada

1. O tema do poema é:

a) O fazer poético.

b) O prazer de fazer poesia.

c) A arte de compor poemas.

d) O prazer da criação estética.

e) O prazer de ler poesias. (X)

D6

2. Neste poema encontramos todas as metáforas apresentadas nos itens abaixo, exceto:

a) A poesia é uma mulher livre.

b) Ler poemas é vivenciar um prazer.

c) Ler poesias é beijar e ser beijado.

d) A poesia é uma boca de mulher.

e) A leitura de poesias é uma viagem. (X)

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3. Nos dois primeiros versos do poema, o poeta “joga” com duas palavras, dois verbos: gostar e gozar. Que efeitos essas escolhas produzem?

Com esse jogo de palavras o poeta compara o ato de ler ao ato de amar fisicamente uma mulher. O prazer de ler é representado metaforicamente como o prazer do amor.

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4. Retire do poema versos em que “a poesia é mulher”.

“Uma boa camarada/ dessas que beijam a gente/ gostando de ser beijada.”; “boca de mulher pura”; “boca de mulher que pensa”.

D1

5. Como o poeta caracteriza essa mulher? Resuma com suas palavras essa caracterização.

A mulher do poema gosta de ser amada (“dessas que beijam a gente/gostando de ser beijada”); é uma mulher pura e livre para o amor (“simples boa libertada”); é uma mulher inteligente (“mulher que pensa”).

D1

6. O que seria um poema com as características de mulher que você listou acima?

O adjetivo “pura” pode remeter à ideia da poesia como um ato de expressão livre de regras que maculam a linguagem, as emoções estéticas. “Pura” pode ser associado à “não disciplina das emoções estéticas”. “Simples, boa, libertada” pode referir-se tanto à ausência de regras impostas, quanto às emoções ou temas emergentes no cotidiano. “Boca de mulher que pensa” se relaciona à poesia como um processo que nasce de um fazer criativo, baseado na capacidade de pensar para subverter a ordem preestabelecida.

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Chamamos novamente a atenção do tutor para a relevância de se trabalhar com os alunos a identificação de metáforas, comparações, imagens poéticas que ajudam a construir sentido do texto. Nesse poema de Solano Trindade, a poesia é representada como mulher; a leitura do poema, como o prazer de amar.

Conheça um outro grande poeta brasileiro: José Paulo Paes.

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José Paulo Paes (1926-1998) nasceu em Taquiritinga, São Paulo. Formou-se em Química Industrial, em Curitiba, Paraná. Publicou seu primeiro livro de poesia, O Aluno, em 1947. Escreveu em jornais, revistas e se destacou como tradutor de obras de autores importantes. A poesia de Paulo Paes é de tendência contemporânea. Sabe inventar, fazer da linguagem um recurso valioso para a construção de sentidos e de formas de expressão bastante inovadoras.

Texto V

ConvitePoesia é brincar com palavras como se brinca com bola, papagaio, pião.

Só que bola, papagaio, pião de tanto brincar se gastam.

As palavras não: quanto mais se brinca com elas mais novas ficam.

Como a água do rio que é água sempre nova. Como cada dia que é sempre um novo dia.

Vamos brincar de poesia?

1. No poema de Solano Trindade, lido anteriormente, encontramos algumas metáforas para definir “poesia”: “Ler é amar”; “Ler é gozar”. Que metáfora está presente no texto de José Paulo Paes?

“Poesia é brincar”.

D4

2. O que significa “brincar com as palavras”?

Brincar significa jogar, isto é, dar novas formas e novos sentidos às palavras. Usar uma palavra para inventar outra, para criar novas construções semânticas, sintáticas e morfológicas. A rima, o ritmo, a inversão, a metáfora são recursos ou “brincadeiras” importantes no processo de criação poética.

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O tutor deve ajudar os alunos a descobrirem os jogos de palavras presentes no poema “Convite” como as rimas elaboradas a partir da repetição de palavras (pião, dia), que contribuem para a criação de um ritmo que traduz o movimento de brincar. Observe-se a inversão, na 2ª estrofe, que, desfeita, ficaria assim: “Só que bola, papagaio, pião se gastam de tanto brincar”. A inversão realça um belo jogo sonoro, a rima “brincam/pião”. O poeta também rima “não/ficam”. Observe também o uso de aliterações, a repetição de fonemas como o p (papagaio/pião). Os jogos sonoros são formas de brincar com palavras.

3. A única metáfora poética que NÃO contribui para organizar o sentido do poema Convite de Paulo Paes é:

a) A leitura de poesia é um jogo, um prazer.

b) Ler poesias é brincar com significados.

c) Brincar com palavras é inventar sentidos.

d) Ler poesia é jogar com as palavras.

e) O poeta é um carcereiro de palavras. (X)

D18

4. Releia os versos abaixo:

“Só que bola, papagaio, pião de tanto brincar se gastam.

A expressão em destaque, só que, determina a seguinte relação semântica:

a) Negação

b) Tempo

c) Lugar

d) Ressalva (X)

e) Justificativa

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5. Entre a segunda e a terceira estrofe identificamos uma relação de:

a) Oposição (X)

b) Causa

c) Consequência

d) Condição

e) Conformidade

D15

6. Depois de comparar poesia e brincadeira infantil, o poeta aponta uma diferença entre ambas. Como você entende essa diferenciação?

Brincar com palavra é um jogo interminável que está sempre se renovando, modificando-se. O sentido das palavras pode ser inventado, criado à medida em que se brinca, lê ou se escreve poesias. Já o pião, a bola, o papagaio são objetos que não se renovam durante a brincadeira. Eles se gastam, acabam-se com o tempo, seja porque eles ficam velhos, estragados ou porque não mais provocam o interesse do jogador. Há também a ideia de que estes brinquedos passam a não servir mais quando as pessoas ficam adultas.

D4

7. Qual é a ideia defendida pelo poeta sobre a leitura de poesias.

O poeta defende a opinião de que a ler poesias é muito fácil, é uma brincadeira interminável.

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8. Escreva pelo menos um argumento usado pelo autor para defender a opinião apresentada no poema.

Um argumento é mostrar que brincar com palavras é mais divertido que brincar com pião, bola, papagaio. Um outro argumento é dizer que o prazer de ler/brincar com as palavras se relaciona ao processo de criação poética. O poeta exemplifica isso ao associar a brincadeira, a leitura ou o fazer literário, a um rio cujas águas estão sempre se renovando. A ideia da fluidez, do movimento da água é um bom argumento para revelar a importância de criar, inventar no processo literário.

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9. Encontre duas imagens criadas pelo poeta para justificar também a opinião defendida.

A imagem das águas de um rio que flui e a do amanhecer.

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Algumas ideias sobre poesia que o tutor deve levar à discussão com os alunos: o poder de renovação da palavra; a permanência da arte e da literatura. O poeta também discute a crença de que ler poesia e literatura é difícil. Ao contrário, pode ser um jogo divertido, uma experiência lúdica e de descobertas inúmeras. Ao trabalhar as questões é importante que o tutor busque ouvir os alunos, estimule-os a produzirem suas leituras e interfira, caso necessário, chamando atenção para pistas textuais que os levem a construir leituras cada vez mais “verticais” do texto. Fazer comentários pertinentes, com base nas informações do poema, é uma forma de interagir e aprofundar o nível de leitura dos alunos.

TEXTOS EM DIÁLOGO

Leia os textos a seguir e encontre semelhanças entre eles e os poemas trabalhados nesta oficina. Considere, portanto, o que você leu, estudou, conheceu nesta oficina

Texto I

“ Poesia é voar fora da asa.” (Manuel de Barros)

Texto IIExplicação da poesia sem ninguém pedir

(Adélia Prado)Um trem de ferro é uma coisa mecânica,Mas atravessou a noite, a madrugada, o dia,Atravessou minha vida,Virou só sentimento.

Texto IIISenhora Gramática

Solano Trindade

Senhora gramáticaPerdoai os meus pecados gramaticais.Se não perdoardesSenhoraEu errarei mais.

Os alunos devem ser auxiliados a perceber as semelhanças entre os textos, considerando o que foi discutido em todas as atividades de leitura.

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OFICINA 6

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A POESIA MODERNISTAOFICINA 6

Begma Tavares Barbosa

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1. OBJETIVOS

1. Desenvolver habilidades de leitura de poemas.

2. Conhecer poetas da literatura brasileira: Castro Alves, Manuel Bandeira, Oswald de Andrade.

3. Conhecer o Modernismo Brasileiro, a partir da leitura de paródias que exemplificam a ruptura promovida por esse movimento artístico.

2. TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA

Texto I – O Adeus de Teresa – Castro Alves

O poema de Castro Alves tem estrutura narrativa (obsevem-se os marcadores de tempo que organizam seus episódios). O eu-poético narra sua história de amor, sua paixão por Teresa, uma mulher que o arrebata logo no primeiro encontro. As estrofes de um único verso podem ser consideradas uma espécie de refrão e descrevem o estado da mulher a cada vez que o amante lhe diz “adeus”. No entanto, o título do poema, bastante significativo, sinaliza que o “adeus definitivo” é o “Adeus de Teresa”. O desfecho da narrativa (penúltima estrofe) revela que Teresa tem outro, o que põe fim a essa história de amor.

O poema de Castro Alves é um bom exemplo do modelo de amor cultuado largamente pelo Romantismo, estética literária do século XIX. A beleza incomparável do ser amado, o amor eterno, o amor como experiência de dor e sofrimento são alguns dos ingredientes do discurso amoroso romântico, discurso que será questionado pelos poetas do Modernismo, em textos que dialogam com a literatura do passado em divertidas paródias.

Texto II – Teresa – Manuel Bandeira

O texto de Manuel Bandeira é um exemplo de uma paródia modernista, um discurso de ruptura, que ironiza o discurso amoroso romântico. O diálogo entre os textos pode ser percebido por algumas pistas: o título (a mulher é também “Teresa”); o primeiro verso; a estrutura do poema, que também narra encontros sucessivos com a mulher. O tom de paródia pode ser percebido logo no primeiro verso, em que Bandeira inverte a sintaxe e substitui um verbo, tornando a linguagem mais coloquial, bem ao gosto dos modernistas (“A vez primeira que eu fitei Teresa” por “A primeira vez que vi Teresa”. Outro traço de paródia é a descrição de Teresa como uma mulher nada atraente à primeira vista, uma mulher que tem “pernas estúpidas” e “cara que parece uma perna”.

O poema rompe com o discurso romântico ao narrar um amor que não acontece “à primeira vista”, mas que acontece. A metáfora da última estrofe – “Os céus se misturaram com a terra/ E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas” – poderia indicar que o eu-poético apaixonou-se por Teresa, mulher que chamou sua atenção de muitas formas: observe que, na segundo estrofe, os “olhos velhos” de Teresa chamam a atenção do eu-poético.

Esse diálogo sobre o amor que se pode perceber entre os dois poemas revela-se ainda mais se considerarmos o contexto de produção do texto de Bandeira: trata-se de um belo exemplar da poesia da primeira fase do Modernismo Brasileiro, um momento de revisão da nossa tradição

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literária que incluiu questionamentos múltiplos: o poema de Bandeira, por exemplo, rompe com uma “ideia” de amor e com um modelo de linguagem.

Textos III e IV – Poema de J. M. de Macedo e “Tradução”, de Manuel Bandeira

O texto III foi escrito por Joaquim Manuel de Macedo, importante escritor do Romantismo Brasileiro. Nele, o eu-poético, dirige-se a uma mulher e a aconselha a não amar, sob a justificativa de que os homens não mercem confiança, são capazes de fingir e trair.

O texto IV é um poema de Manuel Bandeira que dialoga claramente com o anterior, propondo uma tradução do poema brasileiro escrito numa modalidade linguística própria de Portugal. Bandeira rompe com essa linguagem, substituindo o pronome de segunda pessoa utilizado no português de Portugal pelo tratamento “você” , preferido no Brasil. O rebuscamento de linguagem que se pode observar no poema de Macedo é também substituído pelo registro informal e pela incorporação da fala à linguagem escrita, como é próprio dos artistas que fizeram a “revolução modernista”.

Texto V – Epitáfio – Oswald de Andrade

Em Epitáfio, o eu-poético apresenta-se como alguém que amou muito e amou muitas mulheres (“Eu sou urna redond’ilha/ Das mulheres que beijei”). Nos versos “Por falecer do oh! Amor/ Das mulheres de minh’ilha”, o poeta modernista “provoca” os poetas românticos, ao fazer referência ao tema da “Morte por amor”. Enquanto os poetas românticos associavam o amor com a dor, o poeta modernista prefere associá-lo ao humor, à alegria. Tendo vivido o amor, tendo amado muitas mulheres, sua vida valeu a pena, por isso sua caveira rirá.

Consideremos um recurso formal importante na composição do texto: o poema foi escrito em redondilha, versos de cinco sílabas poéticas, um ritmo da tradição medieval. O poeta brinca com as palavras fazendo recorrer no texto imagens circulares (“eu sou redondo”; “sou uma redondilha das mulheres que beijei”; “as mulheres de minha ilha”). Trata-se de uma composição bastante lúdica, como muitas outras desse autor e de alguns de seus contemporâneos.

Texto V – Poética – Manuel Bandeira

Poética é um texto metalinguístico: poesia falando de poesia. Manuel Bandeira, cuja poesia é bastante representativa da primeira poesia modernista, compõe um poema em que declara sua adesão a uma “nova poética”: uma poética arrebatadora, libertária e inovadora. “Poética” pode ser lido também como um poema de crítica a duas estéticas de nossa tradição literária. De um lado a crítica ao “lirismo namorador” e “doentio” dos românticos; de outro, a poesia “purista”, “objetiva” e cheia de “formalismos” dos parnasianos.

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3. ROTEIRO PARA O TRABALHO NAS OFICINAS

1. Conversa informal com os alunos sobre o que sabem ou já estudaram a respeito do tema da oficina. Essa conversa inicial pode ajudar a organizar a dinâmica de trabalho.

2. Leitura dos textos I, II, III e IV e resolução das atividades de leitura – a tarefa pode ser feita em duplas.

3. Correção / Comentário das atividades de leitura – Ao retomar as atividades de leitura com os alunos, o tutor deve auxiliá-los a organizarem seu conhecimento sobre a poesia modernista e também sobre o Modernismo. Caso seja possível, sugerimos que os alunos assistam ao vídeo indicado a seguir ou a outro que seja esclarecedor e motive o interesse dos jovens: http://www.youtube.com/watch?v=q2RiBip7ur4&feature=related.

4. Atividade oral – o tutor deve ler com os alunos o poema de Oswald de Andrade, ajudando-os a perceber de que modo esse poema dialoga com o discurso amoroso romântico. A atividade que pode ser difícil para os alunos, por isso sugerimos que eles a realizem junto com o tutor, que deve mediar a leitura do texto, fazendo perguntas, motivando a interação com o texto.

5. Leitura do texto VI e resolução das atividades de leitura.

6. Correção das atividades com os alunos e sistematização dos conhecimentos sobre o Modernismo discutidos na oficina.

4.TEXTOS E ATIVIDADES DE LEITURA

A literatura sempre falou do Amor, em prosa e em poesia. Os poemas que você vai ler falam de Amor e foram escritos por dois grandes poetas brasileiros: o primeiro, por Castro Alves; o segundo, por Manuel Bandeira. Leia os textos atentamente e observe como eles “dialogam” entre si. Antes, porém, saiba quem foi Castro Alves.

Castro Alves é um dos nossos mais importantes poetas do século XIX. Nasceu em Salvador, em 14 de março de 1847. Morreu bastante jovem, aos 24 anos, já tendo produzido uma obra grandiosa. É conhecido como Poeta dos Escravos, pois suas poesias mais conhecidas procuraram combater a escravidão, e por essa causa ele lutou muito.

Sobre essa temática, são muito conhecidos os poemas “Vozes D’África” e “Navio Negreiro”. Escreveu também lindos poemas de amor, marcados por lirismo e por muita sensualidade.

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TEXTO I

O “adeus” de Teresa Castro Alves

A vez primeira que eu fitei Teresa, Como as plantas que arrasta a correnteza, A valsa nos levou nos giros seus E amamos juntos E depois na sala “Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala E ela, corando, murmurou-me: “adeus.” Uma noite entreabriu-se um reposteiro. . . E da alcova saía um cavaleiro Inda beijando uma mulher sem véus Era eu. Era a pálida Teresa! “Adeus” lhe disse conservando-a presa E ela entre beijos murmurou-me: “adeus!” Passaram tempos sec’los de delírio Prazeres divinais gozos do Empíreo ... Mas um dia volvi aos lares meus. Partindo eu disse - “Voltarei! descansa!. . . “ Ela, chorando mais que uma criança, Ela em soluços murmurou-me: “adeus!” Quando voltei era o palácio em festa! E a voz d’Ela e de um homem lá na orquestra Preenchiam de amor o azul dos céus. Entrei! Ela me olhou branca surpresa! Foi a última vez que eu vi Teresa! E ela arquejando murmurou-me: “adeus!”

TEXTO II

Manuel Bandeira nasceu em Recife, em 19 de abril de 1886 e morreu aos 82 anos. Foi poeta, crítico literário, tradutor e professor de literatura. Produziu vasta obra poética. Juntamente com Mário e Oswald de Andrade participou da Semana de Arte Moderna, evento realizado no Teatro Municipal de São Paulo, em fevereiro de 1922, que “inaugura” o Modernismo Brasileiro, movimento

que impulsinona a construção de uma literatura brasileira mais autônoma em relação aos padrões europeus, que nos serviam de modelo naquela época.

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Teresa Manuel Bandeira

A primeira vez que vi Teresa Achei que ela tinha pernas estúpidas Achei também que a cara parecia uma perna Quando vi Teresa de novo Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo (Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse) Da terceira vez não vi mais nada Os céus se misturaram com a terra E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.

Conheça o significado de algumas palavras:

Reposteiro - cortina pendente nas portas interiores da casa.

Alcova - quarto de dormir; quarto de mulher, dormitório de casal.

Arquejar - respirar com dificuldade, ofegar, ansiar.Referência: Dicionário Aurélio- versão digital.

ATIVIDADES DE LEITURA

Para melhor compreender os poemas, resolva as questões abaixo.

1. O poema de Castro Alves tem estrutura narrativa, ou seja, ele narra acontecimentos que envolvem Teresa e seu amante.

1.1. Gripe, no poema, as expressões de tempo que organizam os episódios da história contada.

A vez primeira; e depois; uma noite; passaram tempos; mas um dia volvi; partindo eu disse; quando voltei; foi a última vez.

D15

1.2. Que momentos ou fases da vida dos amantes o texto destaca?

• O momento em que se conheceram (“A vez primeira que fitei Teresa...”).

• O tempo em que se amaram (“Uma noite entreabriu-se um reposteiro...”; “Passaram tempos... séc’los de delírio...).

• Os vários momentos de despedida, em que o amante ia embora (“E depois na sala “adeus” eu disse-lhe...”; ““Adeus” lhe disse”; “Mas um dia volvi aos lares meus...”)

• O último encontro (“Quando voltei...”; “Foi a última vez...”)D10

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1.3. Explique o título do poema.

O título do poema é significativo, pois quem sempre diz “adeus” é o amante, e Teresa sofre com as despedidas. Mas o adeus definitivo é o de Teresa.

D4

1.4. Como você compreende o desfecho da narrativa?

A penúltima estrofe (“Quando voltei... era o palácio em festa!...”) sugere que Tereza tem outro, isso coloca um “ponto final” na relação dos amantes.

D4

1.5. Releia as estrofes abaixo, que são uma espécie de “refrão”, no poema:

E ela, corando, murmurou-me: “adeus.” E ela entre beijos murmurou-me: “adeus!”Ela em soluços murmurou-me: “adeus!”E ela arquejando murmurou-me: “adeus!”

O que indicam as pequenas modificações feitas nesse refrão?

Os versos descrevem as reações de Teresa a cada despedida, recompondo diferentes momentos de sua relação. Podemos reconhecer uma Teresa inicialmente tímida, envergonhada; uma Teresa apaixonada; uma mulher que sofre por amor; e, por fim, uma mulher que se emociona ao rever o amante.

D4

As questões acima exploram elementos da narrativa, estratégia utilizada na composição do poema de Castro Alves, chamando a atenção para pistas que ajudam a construir a compreensão global do texto, como: os marcadores de tempo que organizam os episódios da história contada; o título; as modificações feitas na estrofe que se destaca e que se caracteriza como um refrão.

2. Releia, agora, o poema de Manuel Bandeira.

2.1. Construa sua interpretação dos versos abaixo:

a) “Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo”

Os versos poderiam estar descrevendo Teresa como uma mulher madura, experiente, ou como uma mulher sofrida, ou mesmo como uma mulher com um rosto “envelhecido”.

D3

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b) “Os céus se misturaram com a terra/ E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.”

Os versos poderiam representar o estado de paixão, ou de envolvimento amoroso, que produz vida, alegria.

D3

A questão 2 implica a interpretação de expressões metafóricas importantes para a construção de sentido do poema. Essas expressões podem ser lidas de formas diferentes. É importante que os alunos construam suas hipóteses de leitura e as fundamentem.

3. Compare o poema de Bandeira ao poema de Castro Alves.

3.1. Que semelhanças há entre eles?

Em ambos, o eu-poético masculino fala de uma mulher de nome Teresa. Os dois poemas são narrativos, narram episódios envolvendo um homem e uma mulher. Ambos contam uma história de amor.

D20

3.2. Em que os textos diferem?

A Teresa de Manuel Bandeira não parece ser uma bela mulher como a de Castro Alves, por quem o eu-poético se apaixona “à primeira vista”, como acontece no primeiro poema. Ao contrário, a Teresa do poema de Manuel Bandeira tem pernas e cara “estúpida”, já que esta “parece uma perna”.

D20

4. O texto de Manuel Bandeira pode ser considerado uma paródia do texto de Castro Alves. Explique por quê.

paródia [Do gr. parodía, ‘canto ao lado de outro’, pelo lat. parodia.] Substantivo feminino. 1.Imitação cômica de uma composição literária. Fonte: Dicionário Aurélio – versão digital

O poema de Bandeira “ironiza” o discurso romântico presente no poema de Castro Alves. Neste poema uma bela mulher arrebata o amor do homem já no primeiro encontro. Essa forma romântica de ver e viver o amor motiva o poeta do modernismo a apresentar uma história de amor diferente. O amor do poema de Bandeira não é um amor “à primeira vista”, mas é um amor que acontece. A metáfora da última estrofe - Os céus se misturaram com a terra/ E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas – poderia indicar que o eu-poético apaixonou-se por Teresa, mulher que chamou sua atenção de muitas formas.

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Ao comparar os textos, os alunos devem reconhecer, inicialmente, aproximações (3.1), para, em seguida, apontar para diferenças (3.2) que ajudam a reconhecer o texto de Manuel Bandeira como uma paródia. Essa atividade implica reconhecer os recursos de humor presentes no poema, como aqueles utilizados na descrição da mulher.

Leia agora dois outros poemas de amor. Um deles é também de Manuel Bandeira. Mais uma vez esse autor dialoga com outro escritor romântico: Joaquim Manuel de Macedo.

TEXTO III

Joaquim M. de Macedo

“Mulher, irmã, escuta-me: não amesQuando a teus pés um homem terno e curvoJurar amor, chorar pranto de sangue,Não creias não, mulher, ele te engana!As lágrimas são galas da mentira.E o juramento manto da perfídia.”

TEXTO IV

Tradução Manuel Bandeira

Teresa, se algum sujeito bancar o sentimental em cima de vocêE te jurar uma paixão do tamanho de um bondeSe ele chorarSe ele se ajoelharSe ele se rasgar todoNão acredita não TeresaÉ lágrima de cinemaÉ tapeaçãoMentiraCAI FORA.

Conheça o significado de algumas palavrasGala- traje de gala; pompa; ornamentação ou enfeites ricos, preciosos.Perfídia- deslealdade, traição.

Referência: Dicionário Aurélio- versão digital.

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ATIVIDADES DE LEITURA

1. Qual é o tema do texto de Joaquim Manuel de Macedo?

O texto fala da falsidade dos homens. É um conselho dirigido a uma mulher para que não ame e não acredite nos homens, pois eles enganam.

D6

2. Explique o sentido das expressões metafóricas abaixo:

“As lágrimas são galas da mentira./ E o juramento manto da perfídia.”

As lágrimas podem ser falsas e estar apenas encobrindo (“enfeitando”) a mentira. Da mesma forma, o juramento de amor pode esconder (manto) a traição.

D3

3. Leia agora o texto de Manuel Bandeira. Considere, atentamente, o diálogo ente o texto de Bandeira e o de Macedo.

3.1. Explique o título do texto de Bandeira.

Manuel Bandeira “traduz” o texto de Joaquim Manuel de Macedo. O texto de Macedo é escrito numa modalidade bastante formal da língua, mais portuguesa que brasileira. Manuel Bandeira traduz o “conselho” usando uma linguagem mais coloquial e, portanto, mais compreensível para a maioria das pessoas.

D4

3.2. O texto de Bandeira pode ser considerado uma paródia?

Sim, o texto se vale do humor para contestar a linguagem dos escritores do século XIX.

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As atividades de leitura acima foram propostas com os seguintes objetivos: i) desenvolver habilidades de leitura de poemas; ii) conhecer grandes escritores e poetas brasileiros; iii) conhecer o Modernismo, destacando sua importância como movimento de ruptura com a nossa tradição literária. As paródias foram muito utilizadas pelos modernistas brasileiros como forma de questionar nossa produção literária do passado e, desse modo, promover mudanças na arte e na literatura. Manuel Bandeira é um dos escritores mais importantes da 1ª fase do Modernismo brasileiro. Juntamente com Oswald de Andrade, Mário de Andrade e outros artistas, Bandeira contribuiu para que a literatura brasileira ganhasse mais autonomia e refletisse a nossa cultura. São contribuições importantes desses primeiros modernistas: a busca por uma linguagem própria, com experiências de inovação inusitadas; a valorização do verso livre e da linguagem coloquial; o nacionalismo crítico; a valorização da fala brasileira etc. A partir da leitura das paródias é que o tutor vai aprofundar com os alunos conhecimentos sobre esse importante movimento artístico brasileiro. Para saber mais sobre o Modernismo, você pode consultar os sites:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Modernismo_no_Brasil

http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=literatura/docs/semana

Você vai conhecer agora outro grande autor do Modernismo Brasileiro: o poeta Oswald de Andrade.

Oswald de Andrade nasceu em São Paulo, em 11 de janeiro de 1890. Seu espírito combativo e irreverente fez dele um dos escritores mais importantes do Modernismo e da Literatura brasileira. Juntamente com Mário de Andrade e Manuel Bandeira, Oswald representa o Modernismo de 22. Escreveu o “Manifesto Antropofágico”, em que propôs que o Brasil “devorasse” a cultura estrangeira e criasse uma cultura revolucionária própria. Morreu aos 64 anos.

EPITÁFIOOswald de Andrade

Eu sou redondo, redondo Redondo, redondo eu sei Eu sou urna redond’ilha Das mulheres que beijei Por falecer do oh! amor Das mulheres de minh’ilha Minha caveira rirá ah! ah! ah! Pensando na redondilha

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ATIVIDADE DE LEITURA

Considerando seu conhecimento sobre o Modernismo Brasileiro, apresente sua leitura do texto acima: por que ele tem esse título?; onde se pode notar o humor nesse poema?; que imagem recorre nos versos?

Considere o verbete abaixo para construir sua resposta

epitáfio [Do gr. epitáphion, pelo lat. epitaphiu.] Substantivo masculino. 1.Inscrição tumular. 2.P. ext. Lápide ou tabuleta com epitáfio (1). 3.Elogio fúnebre. 4.Arte Poét. Espécie de poesia satírica (em geral uma quadra) feita sobre um vivo como se se tratasse de um morto.

Dicionário Aurélio – Versão Digital

Você vai ler agora um último texto do poeta Manuel Bandeira.

TEXTO VI

Poética Manuel Bandeira

Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor. Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo. Abaixo os puristas Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis Estou farto do lirismo namorador Político Raquítico Sifilítico De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo De resto não é lirismo Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbedos O lirismo difícil e pungente dos bêbedos O lirismo dos clowns de Shakespeare - Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

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Conheça o significado de algumas palavras:

Lirismo- poesia líricaVernáculo- linguagem pura, correta, isenta de estrangeirismosBarbarismos- erro de pronúncia, grafia, forma gramatical ou significaçãoPungente- comoventeClown- palhaço

Referência: Dicionário Aurélio- versão digital.

1. Qual é o tema do texto de Manuel Bandeira?

A própria poesia. O poeta rejeita um tipo de poesia, para, em seguida, falar do tipo de poesia que ele quer e admira.

D6

2. Que tipo de poeta e de poesia o autor critica?

O autor critica a poesia bem comportada do passado, a poesia dos puristas, aquela que se preocupa em utilizar uma linguagem sempre requintada e “correta”. O poeta também condena a poesia sentimental dos românticos e, ao mesmo tempo, a poesia que não comove.

D4

3. Que tipo de poesia o poeta valoriza?

Nos quatro últimos versos o autor declara sua adesão a uma poesia libertária, alegre, marcada pelo humor, uma poesia comovente e inovadora.

D4

Cabe ao tutor auxiliar os alunos na leitura desse poema, que exemplifica bem a ruptura que o Modernismo quis promover com a literatura do passado. O poeta é duro na sua crítica à poesia brasileira do passado: “Estou farto...”. Há sinalizações no texto que nos permitem dizer que o poeta nega valores das estéticas romântica e parnasiana. O discurso sentimental dos românticos é contestado em versos como: “Estou farto do lirismo namorador”. A poesia castiça dos parnasianos é mencionada em: “Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.” A crítica à poesia da “objetividade” parnasiana também pode ser reconhecida em “de resto não é lirismo/ será contabilidade tabela de co-senos...”. É importante chamar a atenção dos alunos também para forma do texto de Bandeira, escrito em versos livres, alguns muito longos, outros, de uma só palavra. Bandeira rompe com a métrica regular, propõe uma poética nova. Sem necessidade de um estudo aprofundado das estéticas literárias, o tutor pode trabalhar noções básicas que ajudem a compreender a discussão proposta.

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Anotações

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O TEXTO EXPOSITIVOdivulgando a ciência

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Begma Tavares Barbosa

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1. OBJETIVOS

1. Desenvolver estratégias de leitura de textos expositivos.

2. Familiarizar-se com a estrutura e as estratégias discursivas de textos expositivos.

3. Estimular a leitura de textos de divulgação científica.

2. TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA

TEXTO I

O texto I é a introdução de uma reportagem sobre células-tronco. Foi publicado numa edição da Revista Veja – Veja Especial – de 2002. Seu conteúdo expositivo define célula-tronco, fala de seu potencial na cura de doenças, apresenta a polêmica envolvendo o uso das células-tronco embrionárias e descreve os procedimentos utilizados em tratamentos médicos. Tudo isso de forma bastante sucinta. É um texto interessante pela forma como se introduz um tema da ciência: a partir da narrativa mítica do poeta grego Hesíodo.

A narrativa de Hesíodo ilustra bem nosso enfrentamento com a morte e o envelhecimento. Eos deseja que seu amado tenha a vida eterna e tem seu pedido atendido. Porém, esquece-se de pedir a Zeus que ele permaneça jovem. Titon torna-se imortal, mas vive acorrentado à velhice. O mito de Hesíodo é utilizado para introduzir o tema da reportagem: as possibilidades que a ciência apresenta, a partir da utilização de células-tronco, para o enfrentamento do envelhecimento.

Duas estratégias discursivas chamam a atenção nesse texto. Em primeiro lugar, destacam-se várias expressões metafóricas que representam o trabalho da ciência como uma “luta”, uma batalha contra o envelhecimento: domar as adversidades; enfrentar doenças; as armas que a ciência está desenvolvendo etc.

Outra estratégia interessante do texto é a referência ao livro “Como e por que envelhecemos?”, particularmente a afirmação de que “o envelhecimento é um produto da civilização”. Aparentemente contraditória, a afirmação do médico americano assinala o potencial da ciência em prolongar a vida. Nesse percurso, a pesquisa com células-tronco é mais um passo da nossa civilização que, dotada de tecnologias cada vez mais sofisticadas, pode agora vencer novas batalhas contra o envelhecimento que, felizmente, ela criou.

Considerando a estrutura desse texto, vimos que ele tem início com uma narrativa breve, inclui uma argumentação e tem, em sua parte final, conteúdo expositivo. Ao propormos que seja tomado como texto, principalmente, expositivo, estamos considerando como seu objetivo central o de “fazer saber” o que é célula-tronco e apresentar o potencial das pesquisas atuais na luta contra o envelhecimento.

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TEXTO II

O TEXTO II foi retirado da Folha Online (Jornal Folha de São Paulo em versão digital) e aborda o mesmo tema do texto anterior, com foco na polêmica que envolve o uso de células-tronco embrionárias. Observe que o título - Entenda o que são células-tronco embrionárias – indica o tema e o objetivo do texto. Trata-se de um texto que pretende, principalmente, “fazer saber”.

Seu conteúdo está organizado em três partes. Na primeira, define-se “célula-tronco embrionária”, mencionando-se, brevemente, sua importância, a polêmica que envolve sua utilização em pesquisa e o modo de utilização desse tipo de célula. Os títulos das outras duas partes são importantes por indicarem, de forma eficiente, os tópicos abordados. Na segunda parte, apresentam-se duas alternativas à utilização de células-tronco embrionárias, dada a polêmica que envolve a manipulação de embriões humanos: a utilização de células humanas adultas da pele para criar células-tronco embrionárias “induzidas”; a utilização de células-tronco adultas derivadas de tecidos do organismo, como a medula óssea e cordão umbilical.

O título “debate ético”, que introduz a terceira parte, faz referência à polêmica que envolve a utilização de células-tronco embrionárias. Nessa última parte do texto, apresenta-se uma nova experiência científica que pode por fim a essa polêmica. O autor, no entanto, parece questionar as possibilidades reais da nova experiência.

3. ROTEIRO PARA O TRABALHO NAS OFICINAS

1. Atividade oral – conversa com o grupo para mobilizar o conhecimento prévio acerca do assunto de que os textos tratarão: a pesquisa com células-tronco.

2. Leitura dos textos e resolução das atividades de leitura – o tutor pode escolher a melhor forma de organizar a oficina. Caso queira, pode retomar as atividades relativas ao texto I e corrigi-las com os alunos antes de passar ao texto II. Ou sugerir que a turma trabalhe os dois textos para que as atividades sejam corrigidas e comentadas depois. Da mesma forma, as atividades podem ser feitas em pequenos grupos ou individualmente. O importante é que os alunos façam seus exercícios de leitura e exponham suas dúvidas para que o tutor melhor os oriente em suas estratégias de construção de sentido dos textos.

3. Atividade escrita – o tutor deve orientar os alunos na elaboração do esquema do texto. Se forem escrevê-lo durante a oficina, o tutor deve orientá-los, sobretudo na construção da coesão do texto, como, por exemplo, na utilização de marcadores que explicitem as relações entre parágrafos, períodos e orações no texto.

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4. TEXTOS E ATIVIDADES DE LEITURA

O texto que você vai ler foi retirado da Revista Veja Especial, edição de novembro de 2002.

TEXTO I

Os novos horizontes da ciência

O que está em pesquisa nos laboratórios mais modernos do mundo para vencer as doenças associadas ao envelhecimento

No clássico Teogonia, escrito 700 anos antes do nascimento de Cristo, o poeta grego Hesíodo conta a seguinte história: Eos, a deusa da alvorada, pede que Zeus conceda a vida eterna a Títon, príncipe de Tróia e seu grande amor. Seu desejo é atendido. Ela não se lembra, porém, de pedir que ele também permaneça jovem para sempre. O tempo passa. Carcomido pela velhice, sem conseguir mais mexer as mãos e os pés, Títon quer morrer. Clama por isso. Mas se tornou imortal, está acorrentado à velhice. Quando entra em total estado de decrepitude, Eos, compadecida, o transforma em gafanhoto, o mais musical dos insetos, para ouvir eternamente a voz de seu amado.

O mito transmitido por Hesíodo construiu-se a partir de duas dificuldades que, aos povos antigos, pareciam ser tão intransponíveis quanto voar – a de uma pessoa viver por décadas a fio e a de um velho manter a força dos verdes anos. Desde então, é uma obviedade ululante, vários obstáculos foram superados nos dois aspectos. No entanto, para a realização do sonho de uma juventude que ultrapasse os limites biológicos, a ciência ainda tem de percorrer um árduo caminho. Não foi decifrado, por exemplo, o processo de envelhecimento em toda a sua complexidade. E esse ponto é fundamental para que se consiga detê-lo.

É curioso notar que essas questões não fazem parte da ordem natural das coisas. No livro Como e Por que Envelhecemos, o médico americano Leonard Hayflick, professor de anatomia da Universidade da Califórnia, observa que o envelhecimento é um produto da civilização. “A natureza planejou as coisas de modo que morrêssemos antes de envelhecer. O envelhecimento é um fenômeno que a natureza nunca pretendeu que experimentássemos”, escreve Hayflick. Ele explica que a degeneração do corpo humano começa entre 25 e 30 anos. Isso porque, nessa época da vida, homens e mulheres já teriam cumprido a sua única função: a de gerar uma prole, garantindo, assim, a continuidade da espécie. Morrer cedo, portanto, está inscrito na lógica dos genes – contra a qual, felizmente, nos opomos. Graças às conquistas da civilização, o homem aprendeu a domar as adversidades que encurtavam demais a sua expectativa de vida. Em contrapartida, viu-se obrigado a enfrentar doenças associadas ao envelhecimento (caso do câncer e dos distúrbios cardíacos). Veja a seguir quais são as armas que a ciência está desenvolvendo para ganhar essa batalha.

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CÉLULAS-TRONCO

Uma das grandes esperanças da medicina são as células-tronco. Sem função específica, elas podem se transformar em qualquer um dos mais de 200 tipos de células diferentes que compõem o corpo humano. Dada essa versatilidade, vêm sendo testadas na regeneração de tecidos e órgãos lesados de pessoas doentes. Entre elas, vítimas de diabetes, mal de Alzheimer, mal de Parkinson, distúrbios cardiovasculares e vários tipos de câncer. Experiências de sucesso já foram feitas com portadores de leucemia e determinados problemas cardíacos. A melhor fonte de células-tronco são os embriões com até uma semana de gestação – quando eles não passam, do ponto de vista da ciência, de um amontoado de células sem função específica. Os estudos com células-tronco começaram em 1998. Desde então, avançaram em ritmo espantoso. Hoje já se sabe que é possível encontrar células-tronco no sangue do cordão umbilical de um bebê recém-nascido e no organismo de um adulto, ainda que em quantidades inferiores e com uma capacidade de multiplicação inferior à das encontradas em embriões. A descoberta resolve dois problemas. O primeiro é técnico: com uma célula-tronco própria, o paciente se livra do risco de rejeição. O segundo, ético-religioso: a Igreja Católica e governos comprometidos com fundamentalistas cristãos, como o dos Estados Unidos, condenam a utilização de embriões humanos para experimentos científicos. O uso das células-tronco em tratamentos médicos é relativamente simples. Em laboratório, os cientistas induzem essas células a se especializar em células do tecido ou órgão a ser regenerado. Em seguida, injetam as células-tronco modificadas no doente e esperam que elas se reproduzam. Atualmente, é possível transformar células-tronco em cerca de 150 tipos de células especializadas.

VEJA ESPECIAL, novembro 2002.

ATIVIDADES DE LEITURA

1. O objetivo do texto lido é:

a) argumentar que o envelhecimento é um produto da civilização.

b) argumentar que as pessoas hoje não querem envelhecer.

c) discutir a importância do mito de Hesíodo.

d) apresentar as possibilidades da pesquisa com células-tronco. (X)

e) argumentar sobre os riscos de se utilizar células-tronco.

D12

2. Qual é o tema do texto lido?

A utilização da pesquisa com célula-tronco no combate às doenças associadas ao envelhecimento.

D6

3. Leia atentamente:

Mito – narrativa na qual aparecem seres e acontecimentos imaginários, que simbolizam forças da natureza, aspectos da vida humana, etc.

Dicionário Aurélio Digital

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3.1. Que “aspectos da vida humana” o mito de Hesíodo discute?

Nosso desejo de viver por muitos anos e o desafio de enfrentar o envelhecimento.

D1

3.2. Qual é a função dessa narrativa no texto?

A narrativa introduz o texto que vai tratar exatamente do tema do envelhecimento, abordando as possibilidades que a ciência nos apresenta hoje para enfrentar essa realidade humana.

D4

4. Releia:

“Desde então, é uma obviedade ululante, vários obstáculos foram superados nos dois aspectos. No entanto, para a realização do sonho de uma juventude que ultrapasse os limites biológicos, a ciência ainda tem de percorrer um árduo caminho.”

O conector grifado no texto estabelece com o período anterior uma relação de:

a) finalidade.

b) consequência.

c) causa.

d) condição.

e) oposição. (X)

D15

5. Releia:

“No livro Como e Por que Envelhecemos, o médico americano Leonard Hayflick (...) observa que o envelhecimento é um produto da civilização.”

5.1. A frase que melhor explica a afirmação do médico americano é:

a) O ser humano desejou envelhecer.

b) O ser humano sempre lutou contra o envelhecimento.

c) O ser humano quer vencer a morte e o envelhecimento.

c) Os avanços da ciência possibilitaram ao ser humano envelhecer. (X)

d) Os avanços da ciência conseguiram vencer o envelhecimento.

D4

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5.2. A afirmação do médico americano é sustentada por um argumento. Reconheça esse argumento no texto.

O médico explica que a degeneração do ser humano começa entre os 25 e 30 anos. Segundo sua teoria, o ser humano está geneticamente programado para morrer antes de envelhecer, logo que cumprir sua função de gerar uma prole. Hoje envelhecemos porque construímos conhecimentos que nos permitem viver por muito mais tempo.

D8

6. O texto fala da “luta contra o envelhecimento”. Temos aqui uma METÁFORA. Grife, no texto, as expressões metafóricas que remetem a essa metáfora.

• “O que está em pesquisa nos laboratórios mais modernos para vencer as doenças associadas ao envelhecimento”.

• “O homem aprendeu a domar as adversidades que encurtavam demais a sua expectativa de vida.”

• “... viu-se obrigado a enfrentar doenças associadas ao envelhecimento.”

• “Veja quais são as armas que a ciência está desenvolvendo para enfrentar essa batalha.”

D18

Na questão 6 chamamos a atenção para uma metáfora do texto: a metáfora da luta, da guerra contra o envelhecimento. Estamos chamando de METÁFORA a essa representação presente no texto: o trabalho da ciência representado como uma luta e o envelhecimento como alguém contra quem lutamos. Por outro lado, estamos chamando de expressões metafóricas às expressões linguísticas que deflagram essa representação, a metáfora da luta, da guerra. Nas oficinas sobre poesia, procuramos exercitar bastante a interpretação de metáforas chamando a atenção para expressões metafóricas inúmeras. É importante observar que as metáforas não estão presentes apenas nos poemas, na literatura. A metáfora, conforme discutimos, é um recurso poderoso de expressão e de representação da experiência.

Releia agora a segunda parte do texto, de conteúdo expositivo, que reúne diversas informações sobre “célula-tronco”. Responda:

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7. O que é célula-tronco?

São células que não têm função específica, por isso podem se transformar em qualquer célula do corpo humano.

D1

8. Que doenças estão sendo combatidas com o uso de células-tronco?

Diabetes, Mal de Alzheimer, mal de Parkinson, distúrbios cardiovasculares, câncer, leucemia.

D1

9. O que é célula-tronco embrionária?

Retiradas do embrião, com até uma semana de gestação, são um tipo de célula-tronco que tem um potencial maior de cura.

D1

10. Que polêmica envolve o uso de célula-tronco embrionária?

Uma polêmica ético-religiosa envolvendo ciência e religião. Religiões cristãs e alguns governos condenam a utilização de células de embriões em experimentos científicos.

D1

11. Onde se encontram células-tronco?

No organismo de um adulto e também no cordão umbilical de um bebê.

D1

12. Como as células-tronco são utilizadas em tratamentos médicos?

Os cientistas, em laboratório, “transformam” as células-tronco em células específicas do tecido a ser regenerado. Em seguida, injetam as células modificadas no paciente para que elas se reproduzam.

D1

É importante chamar a atenção dos alunos, ao corrigir as atividades para os tópicos que organizam o texto expositivo (cada questão acima trata de um tópico).

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13. Releia atentamente o trecho abaixo, retirado do texto lido:

“A melhor fonte de células-tronco são os embriões com até uma semana de gestação – quando eles não passam, do ponto de vista da ciência, de um amontoado de células sem função específica.”

Leia, também, o fragmento de uma entrevista concedida por Dom Geraldo Majella, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), à Revista Época, publicada em janeiro de 2005.

ÉPOCA - O senhor acha que está (a utilização de células-tronco) mais para um negócio?

DOM GERALDO - No horizonte da fé cristã, que compreende o ser humano como criatura, imagem e semelhança de Deus criador, há uma dignidade inviolável. Pensar que um embrião possa ser destruído, manipulado, tratado como um objeto para aproveitar o poder especial de suas células não é muito diferente de comercializar crianças com a finalidade de utilizar seus órgãos, transplantando-os em indivíduos doentes. A pesquisa com células-tronco pode perfeitamente progredir usando as de organismos adultos e as de placenta e do cordão umbilical. Não é verdade que a pesquisa científica é impedida quando não se lança mão das células retiradas de embriões humanos.

Compare os textos acima e exponha a diferença entre os posicionamentos manifestados:

O texto da Revista Veja expõe a visão da ciência, que afirma a relevância da utilização da célula embrionária e entende que o embrião, com até uma semana de gestação, é “um amontoado de células sem função específica”. A Revista Época expõe a opinião da igreja, contrária à utilização das células embrionárias pela ciência, sob a alegação de que embrião é vida. O arcebispo compara a manipulação do embrião pela ciência à comercialização de órgãos.

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TEXTO II

Vamos ler agora um texto que aprofunda a discussão anterior, abordando especificamente a utilização de células-tronco embrionárias pela ciência.

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04/03/2008 - 19h20

Entenda o que são células-tronco embrionárias

As células-tronco embrionárias são consideradas esperança de cura para algumas das doenças mais mortais. Elas podem se converter em praticamente todos os tecidos do corpo humano. Entretanto, o método de sua obtenção é polêmico, já que a maioria das técnicas implementadas nessa área exige a destruição do embrião.

A forma mais comum de obtenção destas células ainda é por meio de embriões congelados. Nesta técnica, óvulos fertilizados em clínicas de reprodução assistida se desenvolvem até o estágio conhecido como blastocisto. Após chegar a este estágio, o embrião é destruído e as células-tronco são removidas.

(...)

Alternativas

Uma nova técnica anunciada no ano passado utiliza células humanas adultas da pele para criar células-tronco embrionárias “induzidas”. A técnica, que ainda está em fase experimental, consiste em fazer com que as células da pele “voltem no tempo” e passem a agir como se fossem as versáteis células-tronco embrionárias, conseguindo posteriormente se diferenciar em outros tecidos do corpo.

Uma alternativa à utilização das células embrionárias é a utilização de células-tronco adultas derivadas de tecidos do organismo, como a medula óssea e cordão umbilical. Estas, no entanto, têm capacidade limitada de diferenciação. Células adultas já são usadas em terapia experimental atualmente, no tratamento de algumas doenças como leucemias, mal de Chagas, diabetes e anemia falciforme.

Debate ético

Recentemente, cientistas norte-americanos anunciaram uma descoberta que, caso confirmada, pode pôr fim à polêmica envolvendo a utilização de células de embriões. Os pesquisadores afirmam ter conseguido produzir células-tronco embrionárias sem a necessidade de destruir o embrião.

O novo método consiste em retirar uma única célula do embrião seguindo um procedimento utilizado em clínicas de fertilização in vitro para fazer diagnósticos de defeitos genéticos. A retirada é feita ainda nos estágios iniciais do embrião, quando ele é formado por poucas células. De acordo com os pesquisadores, o método em geral não prejudica o embrião, que é congelado e supostamente pode ser utilizado em um futuro processo de fertilização.

É preciso ressaltar, entretanto, que a mesma empresa havia divulgado o mesmo feito em agosto de 2006, na conceituada revista “Nature”. Porém, no mesmo ano os cientistas publicaram uma “correção” do artigo na revista, afirmando que os embriões utilizados na pesquisa foram, sim, destruídos.

Com Folha de S.Paulo

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ATIVIDADES DE LEITURA

1. O objetivo do texto é:

a) expor informações sobre células-tronco embrionárias. (X)

b) defender a utilização terapêutica de células-tronco embrionárias.

c) polemizar em torno da utilização, em pesquisa, de células-tronco embrionárias.

d) defender alternativas à utilização de células-tronco embrionárias.

e) defender a tese de que o embrião é uma vida.

D12

2. Segundo o texto, por que as células-tronco embrionárias são tão importantes para a ciência?

Porque elas têm maior versatilidade, podem se transformar em praticamente todos os tecidos do corpo humano, ajudando a curar as doenças mais mortais.

D1

3. Por que a utilização de células-tronco embrionárias é polêmica?

As células-tronco embrionárias são retiradas, principalmente, de embriões congelados em clínicas de reprodução assistida. Sua retirada implica a destruição e o descarte do embrião. Essa técnica é condenada por aqueles que argumentam que há vida na fase embrionária.

D4

4. Diante da polêmica que envolve o uso de células-tronco embrionárias, a ciência vem buscando alternativas. Que alternativas o texto apresenta à utilização desse tipo de célula?

• A utilização de células humanas adultas da pele para criar células-tronco embrionárias “induzidas”.

• A utilização de células-tronco adultas derivadas de tecidos do organismo, como a medula óssea e cordão umbilical.

D1

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5. Releia:

Uma alternativa à utilização das células embrionárias é a utilização de células-tronco adultas derivadas de tecidos do organismo, como a medula óssea e cordão umbilical. Estas, no entanto, têm capacidade limitada de diferenciação.

O pronome grifado refere-se, no texto, à expressão:

a) células-tronco;

b) células-tronco embrionárias;

c) tecidos do organismo;

d) células-tronco da medula e do cordão umbilical; (X)

e) doenças.

D2

6. Considere o verbete abaixo:

ética [Do lat. ethica < gr. ethiké.] Substantivo feminino. 1.Filos. Estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto. [Cf. bem (1) e moral (1).]

Dicionário Aurélio – Versão digital

Explique o título da terceira parte do texto, considerando o sentido de “ética”.

O título faz referência à polêmica que envolve o uso de células-tronco retiradas do embrião. Esse seria um debate ético porque envolve um julgamento a respeito do direito à vida, na medida em que muitos argumentam que o embrião é vida.

D3

7. Qual é o tema da terceira parte do texto?

A descoberta mais recente que pode por fim à polêmica em torno da utilização de células-tronco embrionárias no tratamento terapêutico e experimentos científicos.

D6

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8. Releia:

Recentemente, cientistas norte-americanos anunciaram uma descoberta que, caso confirmada, pode pôr fim à polêmica envolvendo a utilização de células de embriões.

O conector grifado expressa ideia de:

a) afirmação;

b) condição; (X)

c) finalidade;

d) consequência;

e) oposição.

D15

9. Releia atentamente o último parágrafo do texto:

É preciso ressaltar, entretanto, que a mesma empresa havia divulgado o mesmo feito em agosto de 2006, na conceituada revista “Nature”. Porém, no mesmo ano os cientistas publicaram uma “correção” do artigo na revista, afirmando que os embriões utilizados na pesquisa foram, sim, destruídos.

9.1. Qual é o conector responsável por articular esse parágrafo com o anterior?

A conjunção “entretanto”.

D15

9.2. Considerando o valor semântico desse conector, explique a relação de sentido presente entre os dois parágrafos.

A conjunção “entretanto” tem valor semântico de oposição, ressalva, contraposição. O último parágrafo se “opõe” ao anterior na medida em que apresenta uma informação que pode contradizer a afirmação feita no parágrafo anterior.

D15

10. Considere ainda a seguinte afirmação:

De acordo com os pesquisadores, o método em geral não prejudica o embrião, que é congelado e supostamente pode ser utilizado em um futuro processo de fertilização.

O que a palavra grifada poderia nos dizer a respeito do posicionamento do autor do texto?

Que ele tem dúvidas a respeito da afirmação feita pelos pesquisadores.

D18

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VAMOS ESCREVER

Você leu dois textos sobre o potencial das células-tronco de curar doenças para as quais a ciência ainda não via solução definitiva. No Brasil, houve muita polêmica até que se aprovasse a lei regulamentando a utilização dessas células pela ciência, particularmente a utilização das células-tronco embrionárias. Depois de muita discussão, veja como ficou a lei brasileira a respeito desse tópico:

Leis nacionais

O que dizem as leis de alguns países sobre a clonagem de células tronco.

Brasil – permite a utilização de células-tronco produzidas a partir de embriões humanos para fins de pesquisa e terapia, desde que sejam embriões inviáveis ou estejam congelados há mais de três anos. Em todos os casos, é necessário o consentimento dos pais. A comercialização do material biológico é crime. Em 29 de maio de 2008 o Supremo Tribunal Federal confirmou que a lei em questão é constitucional, ratificando assim o posicionamento normativo dessa nação.

Fonte: http://pt.wikipedia.org

Você vai agora escrever um texto expositivo-argumentativo sobre o tema. Sugerimos que você organize seu texto seguindo o esquema abaixo:

• Parágrafo 1 – contrua um parágrafo introdutório de conteúdo expositivo, oferecendo informações gerais ao leitor sobre “células-tronco”: I) o que são células-tronco?; II) que doenças poderiam ser combatidas com sua utilização? III) onde podem ser encontradas?; IV) como são utilizadas em tratamentos médicos?

• Parágrafo 2 – no segundo parágrafo apresente a polêmica envolvendo as células-tronco embrionárias: I) o que são as células-tronco embrionárias?; II) por que elas são tão importantes para a ciência?; III) por que sua utilização é polêmica?

• Parágrafo 3 – no terceiro parágrafo, posicione-se a respeito da utilização das células embrionárias, concluindo seu texto. Você pode citar a lei brasileira. Pode também valer-se de alguns dos argumentos expostos no quadro abaixo.

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VALE USAR EMBRIÕES?

Sou a favor. O embrião é uma vida em potencial e sua utilização fará parte de um projeto maior, que é o de salvar vidas.

Enquanto a ciência não avançar na discussão do que seja a vida, a ciência deveria investir no emprego das células-tronco adultas, deixando para mais tarde o uso das embrionárias, quando a nossa visão do embrião for mais abrangente.

Acho legítimo usar embriões de clínicas de fertilização para curar pessoas com doenças letais. Melhor do que jogar no lixo os embriões não utilizados é aproveitar suas células para curar doenças graves.”

Considero que usar células-tronco embrionárias é um atentado contra a vida. Quem defende isso argumenta que vão usar um embrião que iria para o lixo. Mas jogar vidas no lixo é antiético e criminoso.

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A CRÔNICA um olhar sobre o cotidiano

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Lúcia Helena Furtado Moura

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1. OBJETIVOS

1. Conhecer as características de uma crônica.

2. Refletir sobre as estratégias empregadas para a produção de uma crônica.

3. Analisar a linguagem característica de uma crônica.

4. Comparar crônicas brasileiras de autores distintos, com estilos diferentes, para refletir sobre a estruturação das diferentes crônicas.

2. TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA

TEXTO I – A última crônica – Fernando Sabino

Fernando Sabino, além de cronista de jornal, foi um dos prosadores melhor dotados do Neomodernismo, com destaques artísticos na ficção, tanto de romance como novela e conto. Ele lançou um novo estilo de fazer crônicas. Todos conhecem e distinguem seu modo de escrever baseado quase sempre no conflito das situações, no desencontro dos mundos. Sua imaginação tem sempre recursos para dividir as situações em planos e dar-lhes novas significações. Os fatos lhe servem para uma atividade visivelmente lúdica: o velho jogo de armar e desarmar. O que um menino faz com seus brinquedos, Fernando Sabino realiza com os valores do cotidiano.

Em 1965, ele escreveu a crônica que gostaria que fosse a sua última e a denominou “A Última Crônica”. O texto apresenta uma verdadeira compilação teórica dos elementos constitutivos do gênero crônica. Ele se utiliza, no primeiro parágrafo, da metalinguagem, ao mencionar que está adiando o momento da escrita. A seguir enumera algumas características da crônica, tais como: busca do pitoresco, do irrisório no cotidiano de cada um, captação de aspecto humano na vida diária; vislumbre do circunstancial, do episódico, do acidental; o escritor como espectador, captando a essência de um fato, com um olhar fora de si.

Na Última Crônica o autor está na Gávea e, percorrendo as ruas a caminho de casa, busca fatos irrisórios, pitorescos, enfim, o assunto para sua “Última Crônica”. Não sabia ainda o que buscava, sabia apenas que a inspiração faltava, quando, lançando o último olhar para fora de si, presencia fato merecedor para seu texto: a comemoração singela do aniversário de uma criança.

Os pais, um casal simples, que tem “a compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras”, não se abala pela dificuldade financeira e sem perder a estima comemora de maneira simples o aniversário da filha. As velas tiradas do bolso e a fatia de bolo trazida pelo garçom transformam-se na trilha sonora de um tímido e discreto entoar de “Parabéns a você”.

O que mais impressionou o autor foi a reação do homem ao sentir-se observado, pois assim quereria que fosse sua Última Crônica, pura como aquele sorriso.

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TEXTO II – Ser cronista – Clarice Lispector

Clarice Lispector, ao escrever em uma coluna no Jornal do Brasil, entre os anos de 1967 e 1973, fazia constantemente indagações sobre o que seria escrever crônica: “Crônica é um relato? É uma conversa? É um estado de espírito”?

Será que Clarice, como escritora e jornalista, não sabia mesmo nada sobre esse gênero textual? Em “Ser Cronista” (1968), como em outras crônicas, Clarice faz, na própria crônica, elucubrações sobre o que seria escrever esse gênero textual. No texto ela se questiona por várias vezes se está cumprindo bem o seu ofício. Poderíamos assim chamar esses textos de metacrônica, posto que a autora refletia e meditava sobre o ato de escrever crônica nas próprias crônicas.

Então, através da exposição de fragmentos de alguns textos publicados por ela em uma coluna semanal do Jornal do Brasil e dos textos reunidos no livro “Descoberta do Mundo”, Clarice Lispector nos mostra que, apesar de não possuir um desejo de revelar sua intimidade para os leitores do jornal, ela não conseguiu deixar de fazê-lo.

A partir desta ambiguidade, comprendeu-se que Clarice Lispector escreveu em suas crônicas aquilo que se pode considerar como autobiografia, deixando clara a sua intenção de se revelar, mas, ao mesmo tempo, não permitindo que assim o compreendessem. E para amenizar seu medo, ela se consola com Fernando Pessoa: “Falar é o modo mais simples de nos tornarmos desconhecidos”.

3. ROTEIRO PARA O TRABALHO NAS OFICINAS

1- Leitura do texto “A Última Crônica”, de Fernando Sabino – silenciosa ou em voz alta pelo tutor.

2- Breve discussão da crônica com o grupo – antes de iniciar as atividades de leitura, o tutor pode motivar uma conversa sobre a crônica lida: os alunos gostaram do texto?; o que têm a dizer sobre ele?; como avaliam a linguagem utilizada?; conhecem outros cronistas? etc.

3- Resolução das atividades de leitura propostas, individualmente ou em duplas e sob a orientação do tutor.

4- Correção/comentários das atividades de leitura - é importante que, nesta etapa do trabalho, o tutor retome os objetivos da oficina, relacionados ao gênero crônica: o que é, as características, linguagem, estratégias de redação.

5- Leitura do texto “Ser Cronista”, de Clarice Lispector, resolução e correção das atividades de leitura.

6- Comparação entre textos – tendo em vista o objetivo de conhecer o gênero textual crônica, o tutor deve conduzir a atividade de modo que os alunos observem os recursos utilizados pelos seus escritores para redigir uma crônica.

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4. TEXTOS E ATIVIDADES DE LEITURA

Os dois textos que você vai ler são de escritores brasileiros que se destacaram como cronistas. São ambos modernistas e se tornaram especialistas na redação de crônica de jornal. São escritores que colaboraram para elevação da crônica a gênero literário, ao lado de outros nomes como Paulo Mendes Campos, Rachel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade. São eles: Fernando Sabino e Clarice Lispector.

TEXTO I

A Última Crônica Fernando Sabino

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num incidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “Assim eu quereria o meu último poema”. Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar para fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, torna-se mais evidente pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção de bolo com a mão, larga-o no pratinho – um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.

A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

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São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia de bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “Parabéns pra você, parabéns pra você...” Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai no colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.

Assim eu quereria a minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.

ATIVIDADES DE LEITURA

Agora que você leu a crônica de Fernando Sabino, procure responder as questões abaixo:

1. Leia com atenção a informação abaixo:

A crônica não é um gênero maior, já escreveu Antônio Cândido. Graças a Deus, completa o crítico, porque sendo assim ela fica perto de nós (...) Na sua despretensão, ela humaniza, e esta humanização lhe permite, como compensação sorrateira, recuperar com a outra mão uma certa profundidade de significado e um certo acabamento de forma, que de repente podem fazer dela uma inesperada embora discreta candidata à perfeição.

Responda:

1.1. Relacione o conteúdo da frase: “... na sua despretensão, a crônica humaniza”, com o assunto da “Última Crônica”, de Fernando Sabino.

O cronista valoriza o sentimento, a pureza do ser humano, enfatizados na simplicidade da cena do aniversário da menina no botequim, em detrimento da sofisticação material das coisas. No final, o que há de bom no ser humano surge, representado pela pureza do sorriso do pai.

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1.2. Discuta a forma empregada pelo cronista para redigir a “Última Crônica”.

Para estruturar a crônica, Fernando Sabino, no primeiro parágrafo, se coloca como cronista falando sobre o que ele está sentindo diante da necessidade de escrever, ou seja ele dirige-se a si mesmo, na sua introspecção. Nos parágrafos seguintes ele sai de si mesmo e busca uma cena externa que poderá inspirá-lo.

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2. Leia com atenção as informações contidas no quadro abaixo:

ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA CRÔNICA

Temas ligados ao cotidiano

Linguagem despojada e coloquial

Conteúdo subjetivo e pessoal

Extensão limitada

Identifique essas características no texto de Fernando Sabino, exemplificando-as.

• Crônica de extensão limitada – por ser escrita de forma resumida, usando não muitas palavras, mas aquelas que são significativas e expressam a simplicidade que o cronista quer.

• O autor aborda conteúdo subjetivo e pessoal, à medida que explica as sensações que lhe provocam uma cena de aniversário atípica (no 4º parágrafo: “Ninguém mais os observa além de mim”.)

• O cronista observa, em um bar, uma família de negros – um casal e sua filhinha – a comemorar o aniversário da menina. Assim, é uma cena do cotidiano que lhe dá inspiração.

• A linguagem pode ser caracterizada como formal, mas relaxada, pois o vocabulário é simples, as informações são claras e o cronista expressa também com muita clareza as suas impressões sobre aquela cena.

3. Leia atentamente as palavras grifadas:

“...uma negrinha de seus três anos...” “... toda arrumadinha no vestido pobre, mal ousa balançar as perninhas”. “... a menininha repousa o queixo no mármore” “A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo”.

Qual é o recurso linguístico empregado pelo autor no fragmento acima? Com que intenção ele o utiliza?

Em todo o texto são usadas palavras com o sufixo –inho, indicador de grau diminutivo, quase todos para caracterizar a menina. Neste caso, indicam a intenção do autor de expressar a afetividade, característica da pureza dos sentimentos da menininha e daquelas pessoas ao se colocarem na cena e no mundo, como seres humanos.

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4. O autor afirma: “Ninguém mais os observa além de mim” (4º parágrafo). Explicite a razão (motivo) que levaria o cronista a fazer este comentário.

O autor afirma não haver ninguém, além dele, a observar o trio. Esse comentário é uma indicação do olhar diferenciado do cronista, sujeito capaz de observar detidamente uma cena cotidiana e retirar dela algo geral, profundo e belo.

D4

5. Leia: “Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome...” (2º parágrafo). Explique o significado do algo mais a que se refere o cronista.

Os pais consideram aquele momento extremamente importante, a despeito da simplicidade da cerimônia. Assim, não é a abundância material que se destaca no trio, mas a grandeza de seus sentimentos: a mãe acaricia a filha e o pai observa o ambiente que os circunda, orgulhoso por poder proporcionar este momento de felicidade à menina. Tudo culmina com o sorriso do pai diante da celebração: “...ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso”.

D4

6. O autor presencia fato merecedor para sua última crônica e comenta: “lanço então um último olhar para fora de mim onde vivem os assuntos que merecem uma crônica”. (1º parágrafo). Resuma, em poucas palavras, o fato que originou a crônica.

O cronista observa, em um bar, uma família de negros – um casal e sua filhinha – a comemorar o aniversário da menina. A estranheza começa pelo local incomum. Um botequim não é o ambiente tradicional para este tipo de festa, que comumente acontece nas casas das pessoas ou em locais alugados com essa finalidade. Há sempre muita comida, bebida, brincadeiras, presente e algazarra. No caso deste texto, pelo contrário, os três estão sozinhos – apenas o núcleo da família -, meio deslocados e constrangidos. Devido a seus parcos recursos, podem apenas comprar um pequeno pedaço de bolo e um refrigerante, as velas foram trazidas na bolsa da mãe. O cronista observa a cena e tenta retirar dela algo diferenciado, profundo e humano.

7 – Leia com atenção a informação abaixo:

O texto metalinguístico é o que trata da própria linguagem. Quando consultamos um dicionário ou uma gramática temos o uso da linguagem para explicar o significado das palavras ou fornecer conceitos linguísticos.

Podemos considerar “A Última Crônica” um texto metalinguístico? Justifique sua resposta empregando passagens da crônica.

Já no início do texto, o cronista fala que está adiando o momento de escrever e a perspectiva o assusta. Em todo o primeiro parágrafo ele continua argumentando sobre o ato de escrever uma crônica, quais são os assuntos de uma crônica e como ele gostaria que fosse a sua última. Ou seja, ele está escrevendo sobre o que representa o ato de escrever, está fazendo metalinguagem.

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QUESTÕES OBJETIVAS

Resolva agora as questões objetivas abaixo:

1. “Lanço então um último olhar para fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica” (1º parágrafo).

A afirmação acima indica que o autor:

a) busca inspiração no seu cotidiano. (X)

b) escreve somente sobre fatos incomuns.

c) escreve apenas sobre grandes temas.

d) pretende detalhar as cenas que observa.

D4

2. “A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta pra atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença”.

Os pronomes em negrito referem-se respectivamente a:

a) garçom – homem – mãe – mulher

b) mãe – garçom – homem – mulher (X)

c) mulher – homem – garçom – mãe

d) mãe – homem – garçom – mulher

D2

3. Releia:

“Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito, mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório, no cotidiano de cada um...”

A alternativa em que há, respectivamente, o sinônimo das palavras em negrito:

a) original – irrelevante (X)

b) divertido – especial

c) diferente – grandioso

d) dinâmico – exuberante

D3

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Agora você vai ler a crônica de Clarice Lispector

TEXTO II

Ser cronista

Sei que não sou, mas tenho meditado ligeiramente no assunto. Na verdade, eu deveria conversar a respeito com Rubem Braga, que foi o inventor da crônica. Mas quero ver se consigo tatear sozinha no assunto e ver se chego a entender.

Crônica é um relato? É uma conversa? É o resumo de um estado de espírito? Não sei, pois antes de começar a escrever para o Jornal do Brasil, eu só tinha escrito romances e contos. Quando combinei com o jornal escrever aqui aos sábados, logo em seguida morri de medo. Um amigo que tem voz forte, convincente e carinhosa, praticamente intimou-me a não ter medo. Disse: escreva qualquer coisa que lhe passe pela cabeça, mesmo tolice, porque coisas sérias você já escreveu, e todos os seus leitores hão de entender que sua crônica semanal é um modo honesto de ganhar dinheiro. No entanto, por uma questão de honestidade para com o jornal, que é bom, eu não quis escrever tolices. As que escrevi, e imagino quantas, foi sem perceber.

E também sem perceber, à medida que escrevia para aqui, ia me tornando pessoal demais, correndo o risco daqui em breve de publicar minha vida passada e presente, o que não pretendo. Outra coisa notei: basta eu saber que estou escrevendo para jornal, isto é, para algo aberto facilmente por todo o mundo, e não para um livro, que só é aberto por quem realmente quer, para que, sem mesmo sentir, o modo de escrever se transforme. Não é que me desagrade mudar, pelo contrário. Mas queria que fossem mudanças mais profundas e interiores que então viessem a se refletir no escrever. Mas mudar só porque isto é uma coluna ou uma crônica? Ser mais leve só porque o leitor assim o quer? Divertir? Fazer passar uns minutos de leitura? E outra coisa: nos meus livros quero profundamente a comunicação profunda comigo e com o leitor. Aqui no jornal apenas falo com o leitor e agrada-me que ele fique agradado. Vou dizer a verdade: não estou contente. E acho mesmo que vou ter uma conversa com Rubem Braga porque sozinha não consegui entender.

ATIVIDADES DE LEITURA

Agora que você leu “Ser Cronista”, de Clarice Lispector, responda as questões que se seguem:

Releia a definição abaixo:

O texto metalinguístico é o que trata da própria linguagem. Quando consultamos um dicionário ou uma gramática temos o uso da linguagem para explicar o significado das palavras ou fornecer conceitos linguísticos.

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1. Em sua crônica Clarice Lispector faz uma discussão metalinguística. Retire do texto fragmentos que demonstram isso. Justifique sua resposta.

A metalinguagem está presente em: “Crônica é um relato? É uma conversa? É o resumo de um estado de espírito?”; “ Ser cronista sei que não sou, mas tenho meditado ligeiramente no assunto”. Ela exercita a metalinguagem como meio de expressar suas inquietações, questionamentos e dúvidas sobre a sua função de cronista e sobre suas crônicas.

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2. Qual seria o objetivo de Clarice ao escrever sua crônica?

Assim como Fernando Sabino, Clarice Lispector fala sobre o ato de escrever. E se questiona sobre o que significa escrever uma crônica ou ser uma cronista.

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3. Em “Ser Cronista”, Clarice Lispector fala do sentimento de medo.

3.1. Qual era o seu medo?

A autora teve medo de não saber cumprir a tarefa para a qual foi contratada, afinal ela revela no início de seu texto que não se sentia uma cronista: “Sei que não sou...”

D1

3.2. Considerando as pistas textuais, construa uma hipótese sobre a causa do medo que a autora sentiu.

Escrever crônicas era uma experiência nova para a autora, que não se sentia uma cronista e tinha dúvidas sobre seu novo ofício. A cronista diz que antes de começar a escrever para o Jornal do Brasil, só tinha escrito romances e contos e que, quando combinou com o jornal de escrever crônicas, sentiu muito medo (“morri de medo”).

D1

3.3. De que modo a autor vivencia seu medo na crônica?

Ela procura um amigo para pedir ajuda. O amigo lhe diz para “escrever o que lhe viesse à cabeça, mesmo que fossem tolices”, ao que ela respondeu: “... por uma questão de honestidade para com o jornal, que é bom, eu não quis escrever tolices. As que escrevi, e imagino quantas, foi sem perceber”.

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4. Ao escrever crônicas, Clarice revela algumas descobertas que faz a respeito de si mesma como escritora.

4.1. O que ela descobre?

Ela descobre que escrever crônicas fazia com que se tornasse muito pessoal. Descobre também que seu modo de escrever estava se alterando.

D1

4.2. O que a autora revela sentir diante dessas descobertas?

Clarice parece sentir-se incomodada, pois fala do risco de, ao ser muito pessoal nas crônicas, tornar pública sua vida particular. Ela também sinaliza seu incômodo com as mudanças que observa em seu modo de escrever, na medida em que essas mudanças não acontecem internamente, mas apenas porque ela considera que está escrevendo em um jornal, para um público mais “aberto”.

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4.3. Segundo a autora, o que determina as alterações no seu modo de escrever?

O fato de estar escrevendo em um jornal para um público mais aberto e não em um livro, para um público específico que o compra livro porque quer lê-lo.

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5. No final a cronista afirma: “Vou dizer a verdade: não estou contente”. Quais as razões (motivos) que a levavam ao descontentamento? Explique com suas palavras.

Ela disse não estar contente por não ter conseguido ainda saber se ela era cronista. Embora tivesse tentado, via ainda necessidade de procurar o inventor da crônica, Rubem Braga, pois não conseguira descobrir sozinha.

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6. Releia o trecho abaixo:

“... nos meus livros quero profundamente a comunicação profunda comigo e com o leitor. Aqui no jornal apenas falo com o leitor e agrada-me que ele fique agradado. Vou dizer a verdade: não estou contente. E acho mesmo que vou ter uma conversa com Rubem Braga”.

6.1. Qual é o tempo verbal que predomina nesse trecho? Dê exemplos e comente o uso desse tempo verbal nesta crônica.

A autora usa preferencialmente o tempo presente: quero, falo, acho. Nesse caso, ela pretende apresentar uma argumentação sobre sua posição como cronista e escritora.

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6.2. Que diferenças a autora reconhece, no texto, entre escrever livros e escrever crônicas para jornais?

Para a autora, ao escrever livros, ela se comunica de forma mais “profunda”, consigo e com os leitores. A comunicação com os leitores via crônica é mais “leve”; nas crônicas importa a ela apenas “agradar” seus leitores.

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7. Compare as duas crônicas lidas tendo em vista os seguintes elementos:

I – Linguagem

Em “A Última Crônica”, Fernando Sabino usa uma linguagem pouco formal, com a utilização de termos comuns, simples, principalmente para narrar a cena do aniversário da menina, pois quer transmitir ao leitor o ambiente discreto em que pai, mãe e filha estavam envolvidos e as sensações que provoca. A linguagem de Clarice Lispector é mais formal e exige um pouco mais do leitor para a interpretação do texto. A crônica é mais curta, com poucos detalhes (texto mais resumido), no entanto o leitor irá processá-la de modo mais lento, devido à introspecção da cronista.

II – Assunto

Em ambas as crônicas, os autores discutem sobre o ato de escrever, meditam sobre o seu ofício e o seu objeto de trabalho, a crônica. Fernando Sabino, além de argumentar (principalmente no primeiro parágrafo), faz uso da narrativa para falar da cena de aniversário, empregando um episódio comum da vida cotidiana, de modo claro e descrevendo detalhes simples, saindo de si mesmo para buscar o assunto da crônica (“Lanço então um último olhar para fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica”). Clarice Lispector usa a linguagem para argumentar sobre o “ser cronista” e seus argumentos são seguidos de relatos pessoais (conversa com o amigo), ou seja, “ficando em si mesma”, ela busca justificar sua dificuldade para escrever crônicas.

III – Estilo

O texto escrito por Fernando Sabino é curto, leve, de agradável leitura. O autor, embora faça reflexões sobre o ato de escrever, consegue produzir uma crônica, com as características que lhe são peculiares, abordagens de cenas do cotidiano, que instigam a reflexão do leitor para a valorização do ser humano.

A crônica de Clarice Lispector embora mais curta, com emprego de poucas palavras, parece revelar mais o caráter “introspectivo” da autora. Torna-se mais difícil para o leitor acompanhar as suas indagações porque seu texto é mais fechado, exigindo maiores inferências do leitor. Há também valorização do humano, porém os caminhos para se chegar a este objetivo são mais difíceis, mais profundos.

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Em relação ao estilo, pode-se discutir a questão se Fernando Sabino teria maior destaque como cronista, devido às características apresentadas.

QUESTÕES OBJETIVAS

Resolva agora as questões objetivas abaixo:

SER CRONISTA

Sei que não sou, mas tenho meditado ligeiramente no assunto. Na verdade eu deveria conversar a respeito com Rubem Braga, que foi o inventor da crônica. Mas quero ver se consigo tatear sozinha no assunto e ver se chego a entender.

1. A palavra “tatear” no fragmento acima, significa:

a) apalpar

b) pesquisar

c) sondar (X)

d) guiar

D3

2. Marque a alternativa que indica o tema da crônica “Ser Cronista”:

a) A comunicação profunda da cronista consigo mesma e com o leitor.

b) A transformação do modo de escrever.

c) A arte de ser cronista.

d) O embate entre Clarice Lispector cronista e Clarice Lispector ficcionista (X)

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Releia atentamente:

“[...] No entanto, por uma questão de honestidade para com o jornal, que é bom, eu não quis escrever tolices. As que escrevi, e imagino quantas, foi sem perceber.

3. Em relação ao termo negritado acima é correto afirmar:

a) é um artigo e se refere a “crônicas”.

b) é um pronome pessoal e se refere a “tolices”.

c) é um pronome possessivo e se refere a “crônicas”.

d) é um pronome demonstrativo e se refere a “tolices”. (X)

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ATIVIDADE ESCRITA

1. Leia com atenção as frases abaixo:

I – Clarice Lispector pensa em conversar sobre crônicas com Rubem Braga.

II – Clarice Lispector quer ver se consegue entender sozinha o que é crônica.

III – Clarice Lispector acha que é mesmo necessário uma conversa com Rubem Braga.

Faça a ligação dessas frases em um único período. Para escrevê-lo empregue os recursos linguísticos que forem necessários, como pontuação, conectores e pronomes.

Clarice Lispector pensa em conversar sobre crônicas com Rubem Braga, mas quer ver se consegue entender sozinha esse assunto, e depois acha que é mesmo necessário uma conversa com o cronista.

2. No primeiro parágrafo de seu texto, o cronista, em busca de um assunto para sua crônica, afirma que “pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano...”.

Escreva um pequeno texto comentando o que a cena descrita pelo cronista possui de “conteúdo humano”. Antes de fazer esse comentário, resuma a cena narrada na crônica. Organiza seu texto em dois parágrafos.

3. De qual das duas crônicas você mais gostou? Escreva um pequeno texto justificando sua escolha.

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MATRIZ DE REFERÊNCIA DE

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LÍNGUA PORTUGUESA DO SAEB

MATRIZ DE REFERÊNCIA DE

PARA A 3ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO

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Matriz de Referência – SaebLÍNGUA PORTUGUESA – 3ª série do Ensino Médio

I. Procedimentos de LeituraD1 Localizar informações explícitas em um texto.D3 Inferir o sentido de uma palavra ou expressão.D4 Inferir uma informação implícita em um texto.D6 Identificar o tema de um texto.

D14 Distinguir um fato da opinião relativa a esse fato.II. Implicações do Suporte, do Gênero e/ou do Enunciador na Compreensão do Texto

D5Interpretar texto com auxílio de material gráfico diverso (propagandas, quadrinhos, foto, etc.).

D12 Identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros.III. Relação entre Textos

D20Reconhecer diferentes formas de tratar uma informação na comparação de textos que tratam do mesmo tema, em função das condições em que ele foi produzido e daquelas em que será recebido.

D21Reconhecer posições distintas entre duas ou mais opiniões relativas ao mesmo fato ou ao mesmo tema.

IV. Coerência e Coesão no Processamento do Texto

D2Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições que contribuem para a continuidade de um texto.

D7 Identificar a tese de um texto.D8 Estabelecer relação entre a tese e os argumentos oferecidos para sustentá-la.D9 Diferenciar as partes principais das secundárias em um texto.

D10 Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa.D11 Estabelecer relação causa/consequência entre partes e elementos do texto.

D15Estabelecer relações lógico-discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios, etc.

V. Relações entre Recursos Expressivos e Efeitos de SentidoD16 Identificar efeitos de ironia ou humor em textos variados.D17 Reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação e de outras notações.

D18Reconhecer o efeito de sentido decorrente da escolha de uma determinada palavra ou expressão.

D19Reconhecer o efeito de sentido decorrente da exploração de recursos ortográficos e/ou morfossintáticos.

VI. Variação Linguística.

D13Identificar as marcas linguísticas que evidenciam o locutor e o interlocutor de um texto.

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