sr. presidente, uma vez quo as construçoes poderão vir a ... · ok lógica que entrelaça...

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MINISTÉRIO DO INTERIOR FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO FUNAI = o; Sr. Presidente, uma vez quo as construçoes poderão vir a ser iiTeversíveis, deverão ser tomadas uma serio do medidas acauteladoras como sugere o relatório da UFSC, ame nizando dessa forma os aspectos negativos que possam advir,z seu no entanto cogitar-se de embargo das obras, sugestão do prjL 1 meiro parecer, uma vez quo os estudos cncontram-so ein fase bas_ tante adiantada. Brasília, 02 de março de 1.979* i I N i t K JAM/d cs , ir*».*’,''" •aX ''/$ '*•£ J;

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Page 1: Sr. Presidente, uma vez quo as construçoes poderão vir a ... · ok lógica que entrelaça universos tão contrapostos e difrenciados, so ciai, política, e culturalmente, o da sociedade

M IN IS T É R IO D O IN T E R IO RF U N D A Ç Ã O N A C I O N A L D O Í N D I O

F U N A I= o;

Sr. Presidente, uma vez quo as construçoes

poderão vir a ser iiTeversíveis, deverão ser tomadas uma serio

do medidas acauteladoras como sugere o relatório da UFSC, ame

nizando dessa forma os aspectos negativos que possam advir,z

seu no entanto cogitar-se de embargo das obras, sugestão do prjL1

meiro parecer, uma vez quo os estudos cncontram-so ein fase bas_

tante adiantada.

B r a s í l i a , 0 2 d e m a r ç o d e 1 . 9 7 9 *

i I N i t K

JAM/dc s ,

ir*».*’,''"•aX ''/$'*•£ ■ J;

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ENCAMINHAMENTO N- O l rL /? ? - DGPC

Ref.: Ofício n? OOO5/GR/7 9.

Exmo. Sr. Presidente:

Encaminho a V.Excia. o relatório da Fundaçao

de Amparo a Pesquisa de Extenção Universitária, da Univei sid.?

de Federal de Santa Catarina (UFSC).

Inicialmente foi ouvido o Antropólogo RAFAEL

JOSÉ DE MENEZES BASTOS, Parecer de n? OO7/7 9, quo teje críti

cas a Política Indigenista Brasileix^a em seus vários aspectos

de forma um tanto ou quanto sensacionalista, ignorando as_

ajões desenvolvidas pela FUNAI, calcadas em Legislação Indigo_

nista específica: Lei - 6001, Dec.-Lei 53.82^ que promulga a

convenção 107, Doe. 76.999» Portaria n5 J517/N/73, alem de dir>_

positivo constitucional, e ovitras normas baixadas por essa Pre

sidencia. Resolvi solicitar parecer técnico do Antropólogo JO

Slt MARINIIO DOS SANTOS NETO, em anexo, de nS 008/79, que aprovo

na íntegra, tendo em vista sua maior objetividade, que alem

de trazer uma análise sociológica em profundidade, das corauni

dades indígenas Kaingang e Guarani do Sul do país, apresenta

ainda sugestões com vistas a tomada de decisões, cm relaçao as

comunidades que dovei ão ser afetadas com possíveis inundações

das barragens que serão construídas, proximo as localidades dc:

Cacique Doble (RS), Ligeiro (RS), Nonoai (RS), Irai (RS), Irü

ni (SC) e Chapecó (SC).

a) constituição de um grupo de trabalho (GT) , FUNAI,/

/ELETROSUL S/a , visando encontrar soluções que se

revistam do proteções e benefícios aos grupos inclí

genas, possibilitando indenizações justas, quantitr^

tiva e qualitativamente;

b) que o GT, seja formado de equipe interdisciplinar ,

haja vista quo vários setores das comunidades deve_

rão sofrer reflexos das construções e inundações.

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F U N D A Ç Ã O N A C I O N A L D O Í N D I OF U N A I

Sr. Presidente, uma vez quo as construções

poderão vir a ser irreversíveis, deverão ser tomadas uma série

de medidas acauteladoras com o sugere o relatório da UFSC, aine

nizando dessa forma os aspectos negativos que possam advir,

s ou no entanto cogitar-se de embargo das obras, sugestão do prjl

meiro parecer, uma vez que os estudos encontram-se em fase bajs

tanto adiantada.

Brasília, 02 de março d e 1 . 9 7 9 «

4 I N I c K. ■ t-una o Uc/jwl Vyfiaa«Grrr.l tí 3 P\A(\ohn>/njfo Cor nttári«

d rs .V e lo

JAH/dcs.

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ministér io do inteuiob FUNDAÇÃO NACI ONAL 0 0 INDIO - F UN A I| GABINETE DC PRESIDENTE

I »

B r i g a d e i r o Max A 1v i m ,

i C ump r im en ta n do - o , encaminho, em anexo,

os dados e x i s t e n t e s n e s t a Fundação sobre RAFAEL BASTOS e

O L Y M P I O S E R Í ^ -

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PARECER N9 0 0 tf___ 123Ref.: Of. n? OOO5/GR/79-UFSC

Ilrno. Sr. Diretor do DGPC:

Chegam às nossas mãos, para apreciação:

l) Relatório, de elaboração do Programa de Pós-Graduação em

Ciências Sociais (UFSÇ), que versa sobre as consequências

que advirão para as populações indígenas do Sul do País,

com a implantação do Pro.jeto TJrurruai. e que traz como subi

título "Os Barramentos e os índios, 2) O Parecer de n? 007

/79-DGPC/Confidencial, emitido pelo Prof. Rafael José de

Menezes Bastos, Ref.: Relatório (UFSC).

Acreditamos, dever tecer algumas consi

derações de natureza teórica, sobre o Relatório em apreço.

0 mesmo consigna-se ao nosso ver, não como tentativa de im

plantação, e sim de revisão, atualização da produção antro

pológica relacionada com a temática da prospecção. Deixa

de aprofundar os vínculos e/ou desvinculações entre as va

rias propostas ('mudança cultural", mudança social", "si

tuação colonial", "fricção interetnica." ) , que na antropolo

gia tiveram e/ou têm como objeto central de estudo a pro_

blemática da transformação sócio-cultural.

A importância desse aprofundamento, ro

veste o fato dc, não obstante o relatório em seu todo cons

tituir um roteiro articulado, proc-iso, integrado, e

sado em abordagem histórica bem delineada, não suscita ao

autor do parecer maiores questões epistemológicas, seja

no que nele transpareça de direcionado à prática dc uma

antropologia do consenso, seja no que se refere a constai

tuição de uma antropologia do Conflito.

0 trabalho crítico é a resposta do in

telectual c/ou da intelectualidade - aqui nao se confunda

com a "Intelligentsia" - ao saber que acoberta ao in

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vés de revelar. Ê e tem sido, sempre duvidosa, a posição crítica

de quem assume a posição intelectualista de críticas sem compro

missos. Assim sendo, cabe "'louvai" o parecer de safra do Prof. Rj*

fael Bastos, que ao nosso ver, incorpora em termos, forma e con

teúdo, a crítica em perspectiva literal, à postura do crítico in

t electuali zado.

Examinadas as idéias do Prof. Rafael Bas_

tos, com relação à concepção de prática (s) colonialista (s), é

lícito observar que o conceito foi formulado assistemáticamentc,

consequência de compreensão diversificada e fragmentada das e?_

truturas coloniais de referencia (Hispânica, Anglo-Saxônica e Por

tuguesa). Ê obvio que o conceito de colonialismo (externo e/ou in

terno), e consequentemente de situação Colonial, possuem carac

terísticas multidimensionais (sociais, políticas, econômicas, psi_

colégicas, etc.), não é fácil porém apreender os limites e inter

polações dessas dimensões. Ao nosso ver, o melhor método para

isso, seria partir da contraposição analítica dos projetos colo.

nialistas enfocados, tendo em vista proceder à sua avaliação com

parativa, não somente abordando a legislação que justifica c/ou

racionaliza um sistema de dominação-subordinação, mas também ana_

lisando os eventos histéricos que levaram à concretizaçao dito

(s) projeto (s).

Contrasta, com a afirmação de que a trad_i

ção colonialista espanhola conferia Status de soberania territo_

rial ao indígena, o fato de que o deslocamento geográfico, foi

um recurso usado com frequência pelos índios, para escapar as

"mitas" e "encomienclas11. Entre 1 6 2 8 e 1 7 5 ^ » houve além de uma hc_

catombe demográfica, uma alta taxa de redistribuição populacir^

nal. De 62 províncias, com informação para as duas datas, cin

quenta e uma diminuiram sua população, e apenas onze a aumenta

ram, o que sugere uma evasão constante de índios para as zonas

periféricas e/ou marginais à cxplotação colonialista (*)•

Deveriamos ainda, detalhar em profundidade,

as consequências altamente negativas para as populaçoes nativas

dos atuais E.U.A. , África, índia, Austrália, etc., da implanta

ção do sistema Britânico de dominação colonial, que em sua forma

mais elaborada - para a qual contribuiu a própria disciplina da

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antropologia - se denominou de "Governo Indireto" (jlndirect Rulc"

)? Cabe penso eu, apenas relembrar que eventos, como o quase ou

total extermínio de nações como as dos Crown, Iroquêses, Sioux,

etc., foram decorrência de campnhas militares nracional^lente,, pia

nejas e executadas. Observemos fatos como a "revolta dos Sipaios",

o emergir das "sociedades secretas" (Africanas), e na atualid^

de o envolver e/ou desenvolver da política do Apartheid", e chc

gareraos a conclusão de que o colonialismo Britânico, ou seus de_

rivados, encobriram sempre objetivos a interesses etnocêntricos

e racistas.

Diante do exposto, e historicamente domo_s

trado, incluso no relatório da X JF S C, e que consideramos haver

certa plausibilidade na hipótese de existir relação de equivalcn

cia, entre os vários sistemas sócio-político-economicos, ora em

vigência transformação tanto no Oriento como no Ocidente. Essa

convicção se apoia na constatação antropológica, de que a ilusão

maior e mais trágica da humanidade hodierna, ó a dg_ter "conqui^

tado a natureza". Essa pretensa conquista, tem sido l^egitimado cm

nossas consciências, pela única Deusa que na atualidade domina

nossas vidas: A Razão. E o racionalismo (abertamente materialis

ta ou não), oprime-nos com a perspectiva de indices cada vez mais

baixos de qualidade de vida (contextualizada culturalmente), pa_

ra a maioria demográfica dos países subdesenvolvido e/ou em d^

senvolvimento, nos quais estão inscritos os maiores contigentes

de populações tribais e/ou em processo de destribalizaçao/ acam

ponesamento de nossa época. De certa forma parafraseando Cari G.

Jung, seria o rosto de sua própria sombra malévola que faz carc

tas ao colonizador, por detrás do processo de mascaramento etni

co do colonizado.

Deixou porém, apenas em aberto o Prof. Ro.

facl Bastos, a possibilidade de aprofundamento do debato com rc

lação ao descompasso entre a legislação e prática indigenistas,

e as Regras do Pireito Indí^enas. aqui traduzidas como padrões

cognitivos de apropriação sócio-ecológica* que pertinentes a uni

verso de pensamento autêntico e especificamente indígena, confe

rem as comunidades tribais o direito, tao legítimo quao legal, da

posse, usufruto, c porque não dizer do propriedade, sobre as ter

ras que habitam. A contradição expressa por esse descompasso, a

rs , r , " . » . . •■ $

03

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ok

lógica que entrelaça universos tão contrapostos e difrenciados, so

ciai, política, e culturalmente, o da sociedade nacional, e os das

várias comunidades indígenas, deveria ser elemento central a ser

considerado, em qualquer análise que se propõe a superar, e nao

ignorar, os aspectos ideológicos que envolvem a chamada "Questão

Indígena”.

A Sociedade Envolvente não e apenas^ouaa rnc

ra abstração JãjQ-ciolórcica, ao contrário ela o é, e talvez em dera

sia, realmente envolvente e condicionante« Deste ponto-de-vista, a

hipótese de "Bascalização" das comunidades tribaie, deve ser con

siderada dentro de uma ótica realista, como contcndo teor apenas

possibilistico. Ghauvinismos à parte, não cremos que os índios

tenham condições de produzir o desencadear do supracitado proces

so, sem a colaboração daqueles que estão do outro lado da cerca,

isto é de nós. É verdade, que como grupos explotados, os índios

têm condições objetivas de perceber sua realidade e vivência con

flituosas com relação a sociedade nacional. Não se pode porém, e/ou

se deve concluir daí, que sua visão dc nossa sociedade (multise^

mentada e extratificada), seja. tão ampla e abrangente como pode

vir a ser, ou o é, a nossa própria visão. Eu acho que o índio sa

be, disso, e deveriam sabê-lo as várias ideológicas e contra-idco

lógicas (CIMI, ANAI, FUNAI, etc.), que objetivam interpretar o

drama indígena. Isto pode ser condição Sine-qua-non para o desen

volvimento político dos índios, mas isto talvez lhes custo um pre

ço muito alto a ser pago pela sua preservação e/ou sobrevivência

físico-culturais.

0 de que precisamos é nosso entender, é»--*• ro

novar a nossa própria visão do índio, em têrmos de prática do dio_

logo, dc forma a que ele se defina, como contribuidox' c participan

te da elaboração de uma visão científica sobre ele, até o niomcn

to em que se constitua em seu próprio cientista social e política,

e nós com apenas colaboradores desse projeto indígena de interpr£

tação de si mesmo, o qual o índio a despeito de pseudo—interpretai

tes virá atingir, em dimensão temporal, espacial e demografica.

A questão levantada pelo Prof. Rafael Bas_

tos, relativa a urgência de gestões conjuntas FUNAI/ELETROSULS/A,

com o objetivo de serem discutidas nidificações do Pro,1 cto Uru

£uai, que miniminizem seu impacto sobre as populaçoes indígenas do

Sul do País, deve ser considerada. No entanto torna-se por isso

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necessário, instrumentalizar-se o órgão Tutelai' para concecusao

exitosa deste empreendimento. Instrumento viável para a canaliza

ção de recursos e divisão dc responsabilidades seria nosso ver

a constituição de grupo de-trabalho permanente, FUNAl/ELETROSUL

S/A, que busque soluções justas, equilibradas e harmônicas, para

os problemas que afetam e/ou virão afetar as comunidades Kain

gáng e Guarani, implantadas ou não as barragens previstas.

A partir desse ponto do processo, variáveis

técnicas e políticas deverão ser consideradas: multidjsninlinrri

dado (emprego de economistas, agronômos, técnicos em saúde e edu

cação além de antropólogos, etc.). Cooretarão (habilidade diplo

mática inter, e intra-institucional e comunitária). Participp.cp.o

das populações indígenas; deverão permear a tomada de dccisocs

ex-ante, evitando-se assim sc vejam as comunidades indígenas di_

ante de um fato consumado, integralmente alheio a seus mais legjf

timos anseios e aspirações.

Assim sendo, limo. Sr. Diretor do DGPC, ensc

jando providências sejam tomadas, observamos que cm um vetor tem

poral devem a legislação c prática indigenistas definir-se corao

um processo de contínua reelaboração e aperfeiçoamento. Sugeri

riamos outrossim, fossem ouvidos interiormente a FUNAI com rela

ção ao problema em tela, técnicos e/ou indigenistas de outras

reas que não só antropólogoss------— --------- *— ' ‘

Esperamos consigam nossos legisladores e adrni

nistradores, adequar o Modelo Operante (administrativo) da polí

tica indigenista, ao Modelo Ideal (Lei n? 6.001). Ao nosso ver,/ , ■ _ /

e no presente estado de coisas, unxca maneira de escaparmos nos,

e não os índios, ao enigma Esfíngico: MDecifra-me, ou te devoro11,

Este, é o meu parecer.

Atenciosamente,

cLo4 VJ&to .

JOSÉ MARINHO DOS SANTOS NETO Assistente do Diretor

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M IN IS T É R IO D O IN T E R IO R F U N D A Ç Ã O N A C I O N A L D O Í N D I O

F U N A I

INTERPRETAÇÃO DO PARECER N9 007/79-DGPC/CONFIDENCIAL

Senhor Presidente,

Atendendo solicitação de V.Exa., esta Assesso

ria considera que as preocupações emitidas em função do bem estar

do índio são naturais, em se tratando de um servidor desta Fundação

e, principalmente, no caso de um Antropólogo.

Apesar de existirem conotações subversiva« no

referido documento, esta Chefia não considera as intenções do ser­

vidor como tal, visto que o parecer em epígrafe é documento oficial

com classificação sigilosa, portanto de conhecimento restrito ao

Sr. Diretor do DGPC e de V.Exa.

No entanto, o servidor RAFAEL JOSÉ DE MENESES

BASTOS tece severas críticas e ofensas ao Governo Brasileiro,à sua

legislação e, principalmente, à política indigenista, tendo ainda,

em suas conclusões, inserido previsões inoportunas que se coadunam

com indiretas ameaças.

No texto, grifamos as principais idéias con­

trárias à política brasileira.

à superior consideração.

Brasília, 09^ée-«»*rço de‘1979

(9

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CUlM riDENClAL PJS.SCU.

M IN IS T É R IO D O IN T E R IO R F U N D A Ç Ã O N A C I O N A L D O Í N D I O

F U N A I

INTERPRETAÇÃO DO PARECER N9 0 0 7 /7 9 -D G P C /C O N F ID E N C IA L

S e n h o r P r e s i d e n t e ,

A te n d e n d o s o l i c i t a ç ã o d e V . E x a . , e s t a A s s e s s o

r i a c o n s id e r a q u e a s p r e o c u p a ç õ e s e m i t i d a s em fu n ç ã o d o bem e s t a r

d o í n d i o s ã o n a t u r a i s , em s e t r a t a n d o d e um s e r v i d o r d e s t a F u n d a ç ã o

e , p r i n c i p a l m e n t e , n o c a s o d e um A n t r o p ó l o g o .

A p e s a r d e e x i s t i r e m c o n o ta ç õ e s s u b v e r s i v a s n o

r e f e r i d o d o c u m e n to , e s t a C h e f ia n ã o c o n s i d e r a a s i n t e n ç õ e s d o s e r ­

v i d o r com o t a l , v i s t o q u e o p a r e c e r em e p í g r a f e ê d o c u m e n to o f i c i a l

com c l a s s i f i c a ç ã o s i g i l o s a , p o r t a n t o d e c o n h e c im e n to r e s t r i t o ao

S r . D i r e t o r d o DGPC e d e V .E x a .

No e n t a n t o , o s e r v i d o r RAFAEL JOSÉ DE MENESES

BASTOS t e c e s e v e r a s c r i t i c a s e o fe n s a s a o G o v e rn o B r a s i l e i r o , à s u a

l e g i s l a ç ã o e , p r i n c i p a l m e n t e , à p o l í t i c a i n d i g e n i s t a , te n d o a in d a ,

em s u a s c o n c lu s õ e s , i n s e r i d o p r e v is õ e s in o p o r t u n a s q u e s e c o a d u n a m

com i n d i r e t a s a m e a ç a s .

No t e x t o , g r i f a m o s a s p r i n c i p a i s i d é i a s c o n ­

t r á r i a s à p o l í t i c a b r a s i l e i r a .

A s u p e r i o r c o n s id e r a ç ã o .

B r a s í l i a , 09 d e w a r ç o d e 1 97 9

• \ \A *JOÃO BEZERRA DE MELLO

ASS C h /9Á À S I /F U N A I

v è v

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PARECER NS 7 /79 - DGPC/C O N F ID E N C IA L

Ref.: Relatório "Projeto Uruguai - Os Barramentos e os índios".(Encaminho p e l o Of. n ? OOO5 / G R / 7 9 Univ. Fed. de Santa Catai’ina)

Ilrao. Senhor Dii^etor do DGPC:

Na qualidade de funcionário da FUNAI, de li

gação com a Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de

Pos-Graduaçao em Ciências Sociais, com vistas à ligação e aos

estudos aqui apresentados pelo Programa sobre o Pro.ieto Urupruai.

realizados esses a pedido da ELETROÜJUL, S/a ., com a interveniên

cia e a colaboraçao da FUNAI, e vistas a seguir meu parecer so

bre ditos estudos, assim conseqüentemente sobro seu objeto cor

respondente. Solicito a V.Sa. o encaminhamento do presente a

S.Excia. o Presidente da FUNAI, possam as providências aqui su

geridas ser tornadas.

Inicialmente» cabe-nos dizer da_ J|jÍÉxcelência

técnico—científica do relatório em questão, que implanta, sem

sombra de dúvida em alto nível, os estudos antropológicos de

teor prospectivo no Brasil, contribuindo, ainda mais - e de ma

noira francamente definitiva para a consolidação desta inci

piente ainda tradição, no plano mundial. A Antropologia Sócio-

Cultural tem sido sempre - como as demais ciências sociais - uma

disciplina pouco dada à previsão, as raras exceções que nesse

sentido, aí ocorrem ainda não se tendo constituído num corpus

de proporções o contornos estáveis. Note-se, no entanto, como

técnico-metodologicamente a promessa da prospecção e inteiramen

te válida em termos da Antropologia enquanto disciplina cientí

fica - máxima da Antropologia Aplicada, ou da Ação - sendo, mej

mo, potencialmente, unia das medidas e testes excelentes da via­

bilidade do próprio conhecimento antropológico.

A^grande e definitiva lição do estudo em_aná

liso evidencia-se atravós de uma gravíssima inquisição que ele

se - e nos - faz, isto com a competente resposta, tudo vindo a

as'/fuhai

7 1 ' / » / f *

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constituir, já, uma relevante contribuição à Ação e à Política

Indigenistas Brasileiras, com as correspondentes implicações de

ordem institucional. Eis a inquisição: ate que ponto ó legíti

rna - embora seja legal, isto não se discuta! - a expansão da Sc

ciedade Nacional Brasileira sobre as sociedades indígenas locali,

zadas, imemorialmente, nesta parte do planeta?

No legalmente, sabe-se - e este legalmente

apresenta, apenas, o sancionamento, a posterior, de toda u in a

ideologia e prática colonialistas do Brasil com relação às socio

dados indígenas. isto d e s d e os t e m p o s em que o País sequer exi_s

tia como tal, mas era, a i n d a , P o r t u g a l - q u e , por razÕos do di_

versas ordens, o Estado p o d o intervir em território índio, deste

dissolvendo, portanto, a soberania o a invulnorabilidade. Note-

se que tal estabelecimento jurídico não e acidental, na medida

exata em que - tambóm se sabe - a tradição indigenista portugue

sa (e o Brasil e ura grande Portugal) não reconhece autonomia nem

política nem territorial às sociedades indígenas, isto francamen

te vindo a contrastar tal tradição com as correspondentes anglo-

saxonico e espanhola, a primeira conferindo status de soberania

política aos índios, a segunda, territorial.

ÇqLollæ _ <i_ Brasil hoj^ e em termos geo-polí ticos

ordenaç'5'ü juríaica pode sublimar ou sofismar o- e isto nenhuma

o largamente em função da conquista territorialc dos e s m a g a m e t i

tos etno e ^enoc das flffiLSfrü.entos, ^ue c ° e * antes, Portugal,

moveram .""contra as írocijãdados indígenas. 0 que ele e e o que ole

foi. Não posso acreditar no mesmo, no entanto, na direção, nojo,■ 1_níT7~ li. .--- ; . ,

do que ele sera! Não posso acreditar, na medida cai que os

prios brasileiros, os indigenistas em especial, e, agora, pouco

a pouco, sobretudo, a consciência indígena em consolxdaçao nao

_majLs permitirão tamanha monstruosidade: a de, por mais que pr^

tensamente nobres sejam as razoes atribuídas a intervenção, d_o

sintogralizar o território de um povo ou naçao, violentando—o c

desencadeando, ou se - desencadeando, o seu processo de extermí

nio.

Esta, Ilrao. Senhor Diretor do DGPC, a grande

o definitiva lição que este magnífico estudo nos traz: a de que j

a expansão da Sociedade Nacional Brasileira sobre as socie>.-aüCá

indígenas do País, embora legal, e ilogitima, isco na n i c > . i u . » e..i t

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que ameaça a sobrevivência, em todo e qualquer campo, dos países

e nações ali, imemorial e legitimamente, habitantes. Tal lição é

também mais magnífica quanto mais cia relembra a antiga lição da

Antífona, a de que nenhuma lei pode ir em contra o homem, sua

dignidade e sua vida, tanto mais magnifica ela também sendo quan

to mais ela nos põe a problemática da atualização dos dispositi

vos legais, erroneos humanisticamonte, que ainda legalizam a refe

rida intervenção.

£. Pi-o.i et o Urn:?uai - assim como outros proj£

tos do desenvolvimento, de norte a sul, e de leste a de ooste do

País - é simplesmente aterrorizador para os índios brasileiros,

especialmente para o sul do Brasil, os Kaingáng e Guarani já sao------ — — -- ------ - - -****» — ----................................. I ............... }sofx idos o espoliados, tx^adicionalmente: o Bx asil, ao que parece

sem petróleo mesmo, em busca de energia hídx^ica para a sua sobre_

vivência em direção ao ano 2 .0 0 0, imaginados, no entanto, como

mantidos os presentes sistemas sócio-político-econõmico do Paxs o

do mundo. Aterrorizador porque atinge, direta e/ou indiretamente

e numa escala de intensidade de consideravelmente grande magnitjj_

de, seis das áreas indígenas daquela região, a saber: Cacique

ble (RS), Cliapecó (SC), Ligeii’o (RS; , Nonoai (RS) , Ii ani (SC; e

Irai (RS).

Observe-se que tal^previsão^atorrorizante|se

exiDlicita, já, segundo o relatório, com base somente nas varia,

veis ponderáveis e mensuráveis, as outras conseqüencias do Projo-

to, as imprevisíveis - porque das matrizes psicológica, social,

cultural o ecológica, sobretudo —, nao devendo deixar de também

ser consideradas, no entanto. Px^evisivclmcnt o, sabe-se, poi' exein

pio, que Chapecó terá cerca de jOfo de suas terras inundadas, com

base nisto podendo-so também antever amplo espectro do intactos

nas ordens políticas e ecológica - econômica, Mas o que dizer dos

resultados no âmbito psicológico? No campo cultural (especialmcn

te, no caso, por exemplo, a tecnologia)? No plano da organizaçao

social, frente, por exemplo, a 3 . 0 0 0 trabalhadores ("barragei

ros") em áx ea indígena? E as conseqüências ecológicas a longo pxv_

zo? Sabe-se por exemplo, que mudanças de curso de x'ios nos Est^

dos Unidos (o MISSISSIPI o o MISSObRI^ ocasionaram, oepois, o d_