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SOMOS O MUNDO REGENERE-SE

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SOMOS O MUNDO REGENERE-SE

O PROJETO

A Fazenda Cura (FC) é uma fazenda comunal que tem o fim de promover um estilo de vida regenerativo baseado nos princípios da permacultura. Neste sentido, a FC é um proejto permanente e visa desenvolver tanto atividades internas quanto externas, integrando-se às comunidades vizinhas. A Fazenda tem três pilares complementares e interdependentes:

Com este enfoque, a FC busca superar a perspectiva de preservação ambiental e adota a regeneração como propósito e identidade. Assiim, a regeneração é o objetivo central do projeto, mas também a prática diária que guia todas as suas ações e todas as dimensões da vida da coletividade que lhe constrói.

Por um lado, a regeneração da natureza é reconhecidamente urgente e necessária, mas pouco praticada pela humanidade. A FC dá um passo além e escolhe tratar da Mãe Terra, e não apenas da natureza, reconhecendo-nos como parte do todo, e a todos os seres e elementos deste planeta como um só, contrariando o sentido de que ser humano e natureza são distintos. É consciente também a escolha por uma expressão que assume uma dimensão espiritual, resgatando as origens da humanidade e as religiões primevas que tratam a Terra como a Mãe Maior.

A regeneração do indivíduo perpassa pelo estímulo ao desenvolvimento pessoal em todas as suas dimensões, física, mental, espiritual e emocional. Esta busca dá-se especialmente através do reconhecimento da (re)conexão de toda pessoa com a natureza e com os seus pares. Acreditamos no amor como fonte de toda cura e todas as atividades que perpassem este pilar serão meios para chegar ao fim último de acolher com afetividade a todo indivíduo, despertando nele a autocura e o amor incondicional.

Regenerar o

indivíduo

Regenerar a comunidade

Regenerar a Mãe Terra

A regeneração das comunidades, através de trabalhos que reconstroem o tecido social e resgatam sabedorias e tradições locais, é parte fundamental para a concretização dos dois pilares anteriores. Do contrário, o cuidado da terra e de si mesmo transforma-se numa utopia que não transcende o ego e fica limitado às poucas pessoas que têm condições materiais e subjetivas de executar essa transição.

A permacultura, ciência para planejamento de assentamentos humanos sustentáveis, foi escolhida meio para implementar os três pilares da FC. Serão desenvolvidas propostas para cada uma das sete pétalas da permacultura, com o objetivo de atender de manera integral os propósitos da FC. A seguir, apresentamos cada uma das pétalas e as respectivas propostas para colocá-las em prática.

1. Manejo da Terra e dos Recursos Naturais Sistemas Agroflorestais (SAF). Toda a área plantada da fazenda será feita por SAFs, incluindo hortas, pomares, jardins e áreas de reflorestamento ativo.

Manejo consciente de água. Além da abertura de um poço para abastecer a casa, também será feita captação da água de chuva por meio de cisternas, recuperação de nascentes próximas e intervenções no solo para aumentar a absorção de água.

Catalogação de PANCs. As plantas da região serão catalogadas para identificar plantas alimentícias não convencionais (PANCs), com as quais serão desenvolvidas receitas para consumo e divulgação.

Extrativismo consciente. Os recursos para as construções serão prioritariamente retirados da própria área da Fazenda de maneira estratégica para seu melhor aproveitamento, uso da área e recuperação da vegetação. Por exemplo, a retirada de madeira para construção abrirá clareiras onde serão feitos SAFs; a retirada de terra para o hiperadobe dará lugar a uma piscina ecológica que também servirá para aumentar a umidade local e melhorar o microclima da casa e áreas vizinhas; as árvores caídas serão usadas para a construção de móveis, etc.

Banco de sementes. Faremos um banco de sementes crioulas tanto a partir de nossa própria produção como por meio de trocas, doações e compras com redes de permacultura e agroflorestas.

Hortas agroflorestais compartilhadas. Com o fim de aumentar os SAFs e fortalecer as redes com famílias vizinhas, faremos “meias”, ou seja, plantaremos em conjunto com essas famílias e dividiremos os produtos finais. Esta proposta também busca compartilhar o conhecimento sobre SAFs, impulsionando o reflorestamento não só na FC, mas em toda vizinhança.

2. Espaço Construído Bioconstruções. Todas as construções serão feitas prioritariamente com materiais obtidos na própria FC, reduzindo o impacto ambiental das mesmas. As fundações usarão pedras locais, as paredes serão feitas com hiperadobe (técnica de terra ensacada) e ecoblocos (garrafas PET cheias de resíduos compactados), entre outras técnicas de bioconstrução. Para estimular a reciclagem nas comunidades vizinhas, também compraremos ecoblocos cheios por valores simbólicos.

Mutirões e autoconstrução. Serão escolhidas técnicas de construção que possam ser feitas pelas próprias pessoas residentes na FC. Da mesma forma, e com o fim de fortalecer a comunidade, serão feitos mutirões tanto para a construção e a implementação de SAFs na FC, como em propriedades vizinhas.

Bioclimatização. Os edifícios da FC serão construídos de maneira a aproveitar a máxima iluminação natural e para manter o conforto climático durante todo o dia. Igualmente, o zoneamento de todo o espaço da FC levará em consideração aspectos como topografia, microclima, direção dos ventos e sistemas vegetais, para que cada espaço alcance seu objetivo com a máxima eficiência possível.

3. Tecnologias e Ferramentas Captação e reuso da água. Além dos aspectos indicados no ponto anterior, a FC terá somente banheiros secos e fossas de evapotranspiração, evitando a formação de qualquer “água negra” (água contaminada com fezes). Toda água cinza (derivada do uso de pias e chuveiros) será reaproveitada para irrigação das hortas e jardins depois da respectiva filtragem.

Reuso e reciclagem. A FC terá como objetivo gerar zero lixo, reduzindo a produção de resíduos, reutilizando-os e reciclando-os sempre que for possível. O composto gerado pelos banheiros secos será usado nos jardins e áreas de reflorestamento; haverá composteiras para os resíduos orgânicos, reciclagem de papel, reuso e reciclagem de vidro, plástico e metal. O preenchimento de ecoblocos será ostensivo.

Energias renováveis. Ainda que inicialmente a FC use energia elétrica da rede pública de distribuição, o objetivo, no longo prazo, é ser completamente autônoma em relação à produção de energia, usando placas solares e biocombustível.

Tecnologias adaptadas. Sempre que possível, as máquinas e aparelhos usarão tecnologias que reduzam o impacto ambiental e promovam os princípios da FC. Não serão usados animais para quaisquer trabalhos, incluindo transporte.

4. Educação e Cultura Oficinas e visitações gratuitas para as comunidades vizinhas. Usando a barraca da feira como ponto de divulgação e referência, convidaremos as pessoas a conhecerem as técnicas de permacultura usadas na FC e a visitarem pessoalmente a Fazenda para conhecer e aprender na prática os benefícios das mesmas.

Demonstrações nas feiras. A própria barraca da feira apresentará receitas veganas simples, como produzir cosméticos e produtos de limpeza naturais, como fazer ecoblocos, como reciclar e compostar, as razões para adotar/resgatar a economia solidária, entre outras práticas da FC.

Visitas escolares. Com o fim de divulgar a permacultura e capacitar crianças e jovens para aplicar seus princípios e técnicas, faremos projetos em conjunto com escolas para realizar visitações gratuitas à FC, programas de estágio e voluntariado para jovens, e, no futuro, incorporar práticas permaculturais ao currículo escolar.

Arte-educação e educação em casa. Para facilitar a permanência de famílias residentes, desenvolveremos atividades de arte-educação e apoiaremos as famílias na educação em casa.

Permacultura na escola rural. Desenvolveremos projetos com a escola rural para que as práticas permaculturais, especialmente a agricultura sintrópica, seja adotada pela mesma.

Resgate de manifestações culturais tradicionais. Reconhecendo a importância dessas expressões culturais para a história, a cultura e para o fortalecimento do tecido social, buscaremos parcerias para promover eventos como o tradicional São João na roça, reizado, trezena de Santo Antônio, langa, samba de umbigada, entre outros.

5. Bem-estar e Saúde Espiritual Aulas abertas de yoga, comida vegana e outras disciplinas. Sempre que possível, compartilharemos com a comunidade todas as nossas práticas cotidianas que fizerem bem ao nosso corpo, mente e espírito.

Fitoterapia e aromaterapia. Adotaremos tanto quanto possível o uso de produtos naturais. As plantas e seus óleos essenciais serão a base da nossa medicina, da alimentação, dos cosméticos e dos produtos para limpeza.

Resgate de práticas curativas tradicionais. Faremos projetos para promover o conhecimento de rezadeiras, parteiras e curandeiras, resgatando o uso dessas práticas entre as comunidades locais.

Medicina holística. Além da aromaterapia, fitoterapia, rezaderia e curandeiria, usaremos outras práticas curativas holísticas como o reiki, theta healing, uso de cristais, entre outras.

Afetividade. A nossa medicina maior, capaz de curar indivíduos, comunidades e a própria Mãe Terra, será a expressão do afeto em todos os momentos com todos os seres.

Espaço das artes. Estimularemos em residentes e visitantes a expressão artística em todas as suas formas, considerando todos os benefícios derivados da mesma para a nossa saúde mental, emocional e espiritual.

6. Economia e Finanças Comércio justo e economia solidária. A regeneração da comunidade e do indivíduo passa necessariamente pela mudança na forma como fazemos nossas trocas. Acreditamos que o dinheiro, como equivalente universal, não pode ser um fim em si mesmo, mas apenas um dos vários meios existentes para acessar bens materiais. Considerando os princípios da FC, priorizaremos sempre o pagamento justo dos serviços e produto consumidos, ofereceremos produtos e atividades com preços voluntários (indicando valor justo sugerido), valorizaremos a autogestão comunitária da poupança e do crédito, e valorizaremos a distribuição da riqueza com enfoque na igualdade.

Compras coletivas. Sempre que possível, as compras serão feitas coletivamente, seja para residentes ou mesmo para a vizinhança e comunidades vizinhas, com o fim de reduzir custos e fomentar o consumo planejado.

Voluntariado. Além dos residentes fixos, a FC terá um programa de voluntariado para as mais diversas áreas de atividade que exijam atenção. O objetivo é permutar trabalho pela oportunidade de vivenciar o estilo de vida proposto pela FC, incluindo alimentação e hospedagem. Avaliaremos a filiação a redes nacionais e mundiais de voluntariado, como o WWOOF e NuMundo, assim como a necessidade de fixar taxas de contribuição para o voluntariado, reconhecendo, também, a importância de receber voluntários que não possam contribuir financeiramente.

Redes de trocas. Recuperando práticas tradicionais de economia, a FC dará preferência, sempre que justo, sustentável e possível, à troca de produtos e serviços em lugar de compra e venda. Para isso, estabeleceremos redes de troca tanto com quem produz como com quem comercializa. Por exemplo, poderemos fornecer verduras para mercadinhos em troca de outros produtos, como arroz e óleos, que, a priori, não serão produzidos. Ou poderemos oferecer uma oficina para uma comunidade em troca de produtos ou serviços, como sacos de feijão ou mutirões.

Sustentabilidade econômica. A principal fonte de sustento da FC será a autoprodução de tudo quanto for viável, incluindo alimentos (plantio e meliponicultura), produtos de consumo (cosmética e limpeza naturais) e bens duráveis (marcenaria e costura, por exemplo). O excedente será estocado e usado para trocas e venda.

As vendas (majoritariamente de verduras e legumes, mel de melíponas, mudas, sementes, cosméticos naturais e receitas veganas) serão feitas de duas formas: nas feiras das cidades próximas e no método “colha e pague”. Neste segundo caso, as pessoas que visitem a FC poderão colher diretamente os produtos disponíveis e pagar um preço mais baixo por eles, já que serão eliminados os custos de colheita e transporte.

Por fim, e com enfoque em fazer e fortalecer as reservas financeiras, assim como para cobrir o custo de projetos específicos, também serão oferecidos os serviços de hospedagem e produção de eventos na FC.

7. Posse da Terra e Governo Comunitário Sociocracia 3.0 (S3). Acreditamos na igualdade e na liderança compartilhada. Por essa razão, a gestão da FC, dos seus projetos e a ideação dos mesmos serão feitos através do método S31. Trata-se de “uma estrutura de padrões para colaboração em organizações que desejam crescer e manter a eficácia, agilidade e resiliência”.2 A sociocracia é construída sobre sete princípios: consentimento, equivalência, responsabilidade, empirismo, melhoramento contínuo, transparência e eficácia. Para conhecer melhor este método, que também é um movimento social, recomendamos consultar a página institucional www.sociocracia.org.br .

Casa comunal e agroflorestas comunais. Na FC, a experiência coletiva não é apenas um momento, mas um modo de vida. Curando a relação do indivíduo com o coletivo, resgataremos práticas tradicionais como propriedade e posse coletivos, assim como a convivência cotidiana em grupo nas mais diversas atividades, como cozinhar, fazer refeições, trabalhar, fazer práticas espirituais e exercitar-se em grupo. Não haverá propriedade particular de terra ou construção, tanto para resgatar nossas tradições comunitárias originárias, como para curar nossa relação com a vida em coletividade, e, finalmente, para evitar conflitos legais dentro do grupo.

Planejamento orçamentário coletivo. A transparência será um dos valores da FC, assim como a valorização da inteligência coletiva na gestão da Fazenda. Por esse motivo, toda a contabilidade será aberta, inclusive para o público, e o planejamento orçamentário será coletivo.

Resolução pacífica de conflitos. A convivência terá como base os quatro acordos de Miguel Ruiz: 1) ser impecável com a palavra; 2) não levar nada para o lado pessoal; 3) não fazer pressuposições; 4) sempre fazer nosso melhor. No entanto, se ainda assim houver conflito, sempre prezaremos pelo diálogo afetivo, se necessário, com a mediação de membros imparciais e, inclusive de pessoas externas.

Incubação de projetos sociais. Além dos diversos projetos sociais que são parte dos objetivos da FC, também apoiaremos membros das comunidades vizinhas para que desenvolvam seus próprios projetos sociais, facilitando a formação de redes e o acesso a todos os recursos (inclusive sociais) que a FC tem para desenvolver seus próprios projetos.

Colaboração com organizações de permacultura. Reconhecemos que a permacultura tem uma sólida história de mais de 20 anos no Brasil e que a Bahia é pioneira neste sentido. Por esta razão, buscaremos a colaboração constante com organizações como o Instituto de Permacultura da Bahia, Epicentro Marizá (Marsha Hanzi), Ipeterras - Instituto de

1 Sociocracia deriva do grego “governo pelos pares”. 2 Thrive-in Collaboration (2016). Sociocracia 3.0. Uma linguagem de padrões baseada em princípios para a colaboração consciente. Disponível em: www.sociocracia.org.br

Permacultura de Terras Secas, Nucleo de Permacultura Rio de Contas, Núcleo de Permacultura do Bem (Vitória da Conquista), entre outros.