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Biblioteca Nacional de Portugal – Catalogação na Publicação FORUM ESTUDANTESomos ensino profissionalISBN 978-972-8743-83-3CDU 373 TítuloSomos Ensino Profissional EdiçãoAgência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional, I.P.Forum Estudante(1.ª edição, janeiro, 2016) AutoriaForum Estudante TextosFábio Rodrigues (Forum Estudante)

FotografiaMarta Ribeiro e Gonçalo Gil (Embaixadores Cláudia Santos, Lília Oliveira e Paulo Correia) Conceção gráfica e paginaçãoMiguel Rocha (Forum Estudante) ImpressãoEditorial do Ministério da Educação e Ciência Tiragem3000 exemplares Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional, I.P. Avenida 24 de Julho, nº 138. 1399-026 LisboaTel 213 943 700 | www.anqep.gov.pt

Forum EstudanteTravessa das Pedras Negras nº 1 - 4º Andar. 1100 - 404 LisboaTel.: 218 854 730 | www.forum.pt

Ficha técnica

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n 005 Prefácio | Gonçalo Xufre Silva

n 009 Nota introdutória | Forum Estudante

n 011 Acácio Martins | Curso de Aprendizagem de Técnico Administrativo

n 017 André Rodrigues | Curso Profissional de Técnico de Gestão Cinegética

n 025 Bruno Vicente Ribeiro | Curso Profissional de Técnico de Eletrónica, Automação e Comando

n 031 Cláudia Santos | Curso Profissional de Técnico de Comércio

n 037 Cláudio Castro | Curso Profissional de Técnico de Design Industrial

n 043 David Matos | Curso Profissional de Técnico de Informática e Gestão

n 051 Elsa Bennett | Curso Profissional de Técnico de Comunicação – Marketing, Relações Públicas

e Publicidade

n 057 Gonçalo Pinheiro | Curso Profissional de Técnico de Manutenção Industrial / Eletromecânica

n 063 Ivo Soares | Curso do Ensino Artístico Especializado de Música

n 069 Lara Justiça | Curso Profissional de Técnico de Eletrónica e Telecomunicações

n 075 Leonor de Jesus | Curso do Ensino Artístico Especializado de Dança

n 083 Lília Oliveira | Curso Profissional de Técnico de Turismo e Informação Turística

n 091 Luís Machado | Curso Profissional de Hotelaria e Restauração

n 099 Miguel van Uden | Curso Profissional de Técnico de Comércio

n 105 Nair Xavier | Curso Profissional de Técnico de Design de Moda

n 111 Nuno Mendonça | Curso Profissional de Técnico de Mecânica e Manutenção Industrial

n 117 Paulo Correia | Curso Profissional de Organização e Gestão de Empresas

n 123 Paulo Teixeira | Curso Profissional de Técnico de Transportes

n 127 Sandra Santos | Curso Profissional de Técnico de Gestão Agrícola

n 133 Susana Monteiro | Curso de Aprendizagem de Técnico de Laboratório

Índice

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Este é um livro de rostos e de histórias de vida, contadas a partir das vivências tidas por quem foi e se assume “ensino profissional”.

A sua leitura torna notório que a passagem pelo ensino profissional (entendido aqui como qualquer modalidade de nível secundário de educação que confere o 12.º ano e competên-cias para o exercício de um determinada profis-são) teve efeitos que se prolongaram no tempo para todos os que o experienciaram. Este facto é revelador de uma das principais características do ensino profissional: potencia atitudes e for-nece conhecimentos e saberes que são deter-minantes para o desenvolvimento de projetos de vida bem-sucedidos, mesmo em contextos, como o atual, de obsolescência muito rápida de competências.

E é esta riqueza que faz com que seja possí-vel identificar uma identidade comum que de-signámos por “ser ensino profissional”.

Obviamente, esta identidade acarreta um simbolismo mas, numa sociedade em que as imagens valem mais do que as palavras e os

Gonçalo Xufre SilvaPresidente do Conselho Diretivo da Agência Nacional para a Qualificaçãoe o Ensino Profissional

Prefácio

Ser Ensino Profissional

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exemplos mais do que as intenções, acrescen-tar simbolismo a qualquer causa é inevitável se a quisermos afirmar socialmente.

Foi precisamente isso que quisemos fazer. Tínhamos uma missão – valorizar socialmen-te o ensino profissional – conferindo-lhe atra-tividade perante os jovens que se encontram a finalizar o 9.º ano de escolaridade, as suas famílias, os empresários e a sociedade em ge-ral. Poderíamos ter seguido muitas estratégias para a realizar mas, neste projeto, em concre-to, prosseguimos apenas uma: identificámos jovens adultos que passaram pelo ensino pro-fissional e que, pelos trajetos seguidos e pelas atitudes evidenciadas, considerámos poderem ser os primeiros rostos do ensino profissional. Empossámo-los “Embaixadores do Ensino Pro-fissional” numa cerimónia, também ela simbó-lica, realizada em julho de 2015, a bordo de um cruzeiro no Tejo – o Cruzeiro do Ensino Profis-sional.

Nesse dia, estes jovens foram os rostos que ajudaram a lançar o primeiro movimento social dinamizado pela ANQEP, denominado “Somos Ensino Profissional”.

Com o lançamento deste movimento, pro-curámos, utilizando as potencialidades do novo mundo da web 2.0 (caracterizado pela criação de redes informais e espontâneas de relacio-namento e de partilha de informação), veicular as mais-valias e a relevância da opção por um curso de nível secundário de dupla certificação.

Muito embora estes cursos tenham atingido, nos últimos anos, uma grande expressão em Por-tugal (correspondendo a cerca de 48% dos alunos matriculados no ensino secundário), ainda são, por muitos, encarados como cursos de segunda opção, o que contrasta com o seu real valor.

Se nos detivermos apenas na certificação que conferem, constata-se que os alunos que os finalizam são posicionados um nível acima (nível 4) ao proporcionado pelos cursos tradicionais, que apenas preparam para o acesso ao ensino superior (nível 3). Além disso, apresentam uma matriz curricular mais completa, que agrega uma componente sociocultural, outra científica e ainda uma técnica, na qual ganha destaque a formação em contexto de trabalho (vulgarmen-te designada por “estágio”). Esta última compo-nente é, muitas vezes, um fator distintivo, pois garante ao jovem um contacto real e antecipa-do com o mercado de trabalho, através do qual este jovem poderá perceber o que é estar numa empresa e responder a desafios concretos e au-tênticos.

Outro fator que faz a diferença reside na ela-boração das provas finais (que na modalidade dos cursos profissionais assumem a designação de “Provas de Aptidão Profissional”). Nestas provas, os alunos são levados a conjugar todos as aprendizagens adquiridas durante o curso na elaboração de um projeto final (muitas vezes inovador) que, para poder ser validado, necessi-ta de ser defendido perante um júri que integra elementos externos à escola.

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Para além de competências e saberes asso-ciados ao perfil profissional do curso correspon-dente, tudo isto confere aos alunos à vontade, confiança, capacidade de resolução de proble-mas, aptidão empreendedora e sentido crítico que, hoje em dia, são encarados como aspetos potenciadores de uma melhor transição da es-cola para o mercado de trabalho, elevando o seu nível de empregabilidade (não só no momento de conclusão do curso, mas também, mais tar-de, nas transições que sucedem na vida profis-sional, ao longo da vida).

São todos estes aspetos, que sobressaem nas histórias de vida que estes jovens embaixa-dores contam e que ajudam a construir narra-tivas carregadas de significado e de realidade, que nos fazem fazer crer nas potencialidades do ensino profissional.

É, portanto, através destas histórias que pro-curamos dar visibilidade ao ensino profissional. Começámos por fazê-lo, nas redes sociais, atra-vés do movimento #somosensinoprofissional, porque é assim que hoje comunicamos nes-ta aldeia global alargada. Pretendemos, desse modo, ganhar escala – ou seja, associar novas relações ao movimento, numa espiral viral típica das redes sociais. Por isso, desafiámos todos a serem ensino profissional, mediante a publica-ção de conteúdos associados à temática, no Facebook ou no Instagram. No entanto, o que queremos é muito mais: é fazer do ensino pro-fissional a primeira opção dos jovens que hoje têm de escolher um curso de nível secundário e

dos empresários o contexto de referência para o recrutamento de novos colaboradores.

Se formos bem-sucedidos não estaremos apenas a acrescentar números, para figurarem nas estatísticas da atratividade do ensino pro-fissional (um dos desafios dos Estados-Mem-bros no que respeita à cooperação europeia em matéria de educação e formação profissional). Isso será pouco relevante quanto comparado com os benefícios que todos poderemos alcan-çar. Um país com melhor ensino profissional é, atualmente, por todos os estudos reconhecido como um país com mais capacidade competiti-va, economicamente mais sustentado, com me-lhores empregos e com níveis mais elevados de inclusão social.

Afinal, vale a pena “ser ensino profissional”.

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Sabíamos à partida que estes 20 entrevistados teriam apenas uma coisa em comum: a passagem pelo ensino profissional. Sabíamos também que eram de áreas e setores muito distintos. Talvez por essa razão, numa primeira impressão, pensámos imediatamente que a eventual riqueza deste con-junto de reportagens estaria na variância, na cons-trução de uma espécie de caleidoscópio laboral do país.

Durante as primeiras entrevistas, confirmámos as nossas expetativas. Num dia, apontávamos no caderno planos para a modernização do tecido in-dustrial de Paços de Ferreira. No seguinte, ouvía-mos juras de amor eterno ao Alentejo. Em breve, faríamos uma entrevista entrecortada pelo som de um corta-relva, nas bancadas do Estádio da Luz. Aí estava a incontornável diversidade.

Seria importante conseguir encontrar o que há de comum dentro desta variedade – o papel do en-sino profissional nestas 20 histórias de vida. Desde logo, contudo, ficavam patentes aquelas que são algumas das principais características desta op-

Nota Introdutória

A diversidade tambémfaz a força

ção educativa e formativa: a flexibilidade da sua oferta e a especificidade dos seus ensinamentos. Aos poucos, essa âncora foi aparecendo. O discur-so dos embaixadores, tão variado quanto seria o discurso de 20 pessoas de áreas e regiões diferen-tes, continha, invariavelmente, as mesmas ideias quanto à importância da sua formação profissional.

Em todas as histórias de vida surgiam traços comuns: a motivação que nasceu da abordagem prática; as competências transversais que foram fomentadas; as oportunidades que foram criadas; a facilidade de adaptação ao ensino superior. São, por isso, as ideias partilhadas, estas e outras, que constituem os alicerces deste projeto.

O exercício que se propõe ao leitor, ao longo das próximas páginas, é precisamente esse. Des-vendar, em cada história, a relação destas 20 pes-soas tão diferentes com a opção que tomaram no seu passado escolar. E descobrir, em cada história, a forma como essa escolha teve impacto nas suas vidas.Forum Estudante

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Acácio MartinsCurso de Aprendizagem de Técnico Administrativo

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À pergunta “quais os primeiros bolos que fez?”, Acácio Martins tem uma reposta pronta. “Lembro-me perfeitamente”, começa por dizer. Tortas de laranja e brigadeiros são os primeiros nomes a sair. “Tinha 12 ou 13 anos”, revela.

Acácio morava na zona da Mouraria, em Lis-boa, e tinha um contacto próximo com um pri-mo mais velho, pasteleiro de profissão. “Lem-bro-me de ele trazer sempre bolos para casa”, recorda. Na altura, ia até casa do primo para ajudar na confeção. Aos 15 anos, contudo, Acá-cio afastou-se dessa área. Desmotivado na es-

O primeiro contacto com o forno chegaria através de um familiar. Al-guns anos depois, Acácio Martins entraria definitivamente na atividade que considera “uma arte”. Depois de concluir o Curso de Aprendizagem – Padaria/Pastelaria, chegaria o convite para ser formador no Centro de Formação Profissional para o Setor Alimentar (CEPFSA) da Pontinha. No ensino, encontrou uma experiência “muito gratificante” que permitiu en-contrar um lado mais “pessoal e humanista” nesta área. Com o objetivo de se tornar um formador mais completo, concluiu também um Curso de Aprendizagem de Técnico Administrativo. Aos 31 anos, Acácio garante que os dois cursos de aprendizagem lhe deram as competências necessá-rias para juntar o saber técnico à capacidade de o transmitir, salientando: “a dupla certificação deve ser, neste momento, uma primeira escolha”.

A arte do fornotambém se ensina

cola, decidiu deixar os estudos e trabalhar com alguns familiares na construção civil. Na altura, realça, queria garantir o seu “dinheiro e inde-pendência”.

Empenhado nesse rumo, decidiu inscrever-se numa formação em metalomecânica e metalúr-gica. Contudo, não se sentia identificado com a área. Perante o impasse, surgiria então uma su-gestão inesperada: “um colega de trabalho da minha mãe falou-nos do curso de aprendizagem de Padaria/Pastelaria no Centro de Formação Profissional para o Setor Alimentar da Pontinha”.

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Acácio aceitou o desafio, recordando o seu gosto de criança. Entrou no curso em 2001, algo que “uns anos antes, não imaginava que fosse acontecer”. O curso de aprendizagem, realça, serviu, desde logo, para “perceber que era aqui-lo que queria”.

Nesta confirmação da vocação, Acácio realça o papel dos estágios. Logo no primeiro ano do curso de aprendizagem, trabalhou na Pastelaria Suíça e no Balcão do Marquês. “Sem estágios, estas formações não fariam sentido”, salienta, acrescentando: “desenvolvemos as bases do que aprendemos no curso em contexto de trabalho”.

A experiência profissional ajudou a perceber que o curso “abriria muitas portas”. No final de cada estágio, perguntavam-lhe quando acabava a formação, tendo em vista a sua contratação. Por essa razão, conclui, percebeu que “o curso de aprendizagem garantia trabalho”. Essa per-ceção seria confirmada no final do curso. Depois de terminar o último estágio do curso, na Con-feitaria Nacional, Acácio recebeu o convite para continuar, iniciando funções a 1 de abril de 2004.

Quando a receita não é o que mais importa

A experiência na Confeitaria Nacional seria relativamente curta. Ao fim de sensivelmente um ano, Acácio recebeu um convite para vol-tar ao Centro de Formação Profissional para o Setor Alimentar da Pontinha, desta vez, como formador. “Só tinha um ano de experiência pro-fissional”, relembra. Um dado que o deixava menos confiante e tornava esta oportunidade “um desafio”. “Mas decidi arriscar”, conta.

Acácio lembra com detalhe a sua primeira turma. Dezasseis formandos, de diversas idades e contextos: trabalhadores da construção civil, engenheiros, economistas. A meio da formação, recorda, um dos alunos – metalúrgico de pro-fissão – ofereceu-lhe uma tenaz para evitar as queimaduras no forno. Segundo Acácio, esta primeira experiência, mostrou que “a formação é mais que formar padeiros e pasteleiros – é for-mar pessoas com emoções e sentimentos”.

De resto, assegura, é este lado “mais huma-no” que torna a formação “mais gratificante”. Sobretudo, tendo em conta a gestão de turma com diversas situações emocionais e motivacio-nais.

Neste momento, exemplifica, trabalha sobre-tudo com desempregados. Algo que obriga a pensar no contexto e na motivação do forman-do: “a receita que coloco no quadro não é o mais importante – o importante é que a pessoa es-teja lá de corpo e alma”. Isto porque aprender, nomeadamente na área de padaria e pastelaria, pode ser “uma terapia”: “é um estímulo que apu-ra sentidos e emoções”.

Na procura de evoluir enquanto formador, decidiu ingressar num novo curso de aprendi-zagem, desta vez de nível 4. A escolha recaiu no curso de aprendizagem de Técnico Administra-tivo, no Instituto do Emprego e Formação Pro-fissional da Amadora (IEFP).

No final dos três anos, garante, sentiu uma evolução “a nível dos métodos de trabalho e do planeamento”. Graças a estas novas com-petências, passou a “ter mais tempo para os formandos”. Por tudo isso, assegura, completar

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um novo curso de aprendizagem “foi uma boa decisão”.

Nas formações que ministra, o objetivo pas-sa por “fazer com as que pessoas percebam do que são capazes”. Para tal, há que quebrar as barreiras que possam existir, para que um for-mando possa superar-se. “Um formando tem de ser o melhor – mas não melhor do que os outros – melhor do que ele próprio”, conclui.

A arte do forno

Acácio assume-se “dividido” entre a padaria e a pastelaria. Em comum, garante, têm o facto

de serem “uma arte”. Como qualquer arte, ex-plica, a padaria e a pastelaria “espelham o ser”. “Fazem perceber o que somos, a partir do tra-balho que fazemos”, esclarece.

Sendo o trabalho nesta área “visível e artísti-co”, um profissional tem de “marcar a diferença” pela positiva. É por isso que, quando questio-nado sobre o que pode fazer a diferença nesta área, o formador responde: “trabalho e dedica-ção”. A expressão é genérica mas Acácio espe-cifica. “Vais a uma pastelaria e vês 500 bolos na montra. Mas notas que há bolos diferentes – essa diferença está no empenho que a pessoa colocou”. n

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André RodriguesCurso Profissional de Técnico de Gestão Cinegética

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Quem subir ao topo da Ermida da Senhora do Monte, na freguesia de Arruda-dos-Vinhos, tem vista privilegiada sobre todo o vale. Era aí que, com 10 anos de idade, André Rodrigues se deslocava quase todos os dias da semana. Porém, o que observava não era a paisagem. “Perdia muitas horas a olhar para ao céu”, con-ta André, explicando: “sempre que lá ia com bi-nóculos, via sempre alguma rapina a voar, fosse mais perto ou mais longe”.

O gosto pelas aves de rapina começou cedo e tem uma explicação. “São predadores, com um feitio especial e são animais solitários, não gos-tam de companhia nem necessitam disso – todas essas diferenças despertaram o meu gosto”, re-vela. Começou por aprender a distinguir as dife-rentes espécies: “via as rapinas no ar e dava-me gozo saber identificá-las no estado selvagem, ver como voavam, como caçavam ou o que caçavam – era quase um trabalho de biologia”.

Na hora da decisão, André Rodrigues seguiu a paixão pelas rapinas. Para trás, ficavam o ensino secundário em artes e a vida em Arruda dos Vinhos. Pela frente, um curso profissional a 200 quilómetros de casa e centrado na Gestão Cinegética – “uma palavra que, se calhar, apenas 10% da popu-lação conhece”. Mais tarde, chegaria o Sport Lisboa e Benfica e o “melhor emprego do mundo”. Por essa razão, aos 26 anos, André Rodrigues en-tende que o ensino profissional foi crucial no seu trajeto: “o curso profis-sional foi a chave mestra para todos os sonhos que realizei até hoje”.

Nas asas de uma paixão

Quando observava os falcões e milhafres no céu da Arruda, ainda não imaginava que era possível ter uma rapina em cativeiro. “Na altu-ra, toda a gente dizia que era proibido”. Apenas alguns anos depois, tudo mudaria, graças a um amigo da família. “Essa pessoa, que ainda hoje é criadora de aves, deu-me a conhecer toda esta arte”, revela.

Este conhecimento passou a ser transmitido em visitas frequentes à falcoaria. Aos poucos, ia aprendendo e sabendo cada vez mais. “Tudo isto muito antes do curso”, destaca.

Mudar de rumo para seguir um gosto

Quando fala “do curso”, André refere-se ao Curso Profissional de Técnico de Gestão Cine-gética, completado na Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Alter do Chão. Uma opção formativa que apenas entraria na sua

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vida, a conselho do pai, aos 17 anos, quando fre-quentava o curso de artes no ensino secundário.

“Estava em artes mas sempre tive este gosto pelas aves de rapina e pela caça em si”, relembra André. Depois de investigar o curso e a escola che-gou à conclusão que aglomeravam “todos os gos-tos, muito particulares, que sempre quis seguir”.

Havia módulos de falcoaria, de gestão de re-cursos naturais e aulas de equitação. Tudo numa constante proximidade com os animais e com uma vincada vertente prática. “A partir desse mo-mento, sabia que não queria fazer mais nada que não fosse esse curso”. Disse a si próprio: “vou para Alter, era disto que eu estava à procura”.

“E foi isso que encontrei”, acrescenta. “Saía-mos muito para o campo, púnhamos em prática o que aprendíamos”. De resto, para André, esta vertente prática foi essencial no sucesso dos alunos. “Acumulávamos conhecimento e que-ríamos aprender mais porque víamos que resul-tava, que valia a pena aprender”, sublinha, con-cluindo: “pôr em prática aquilo que se aprende é das maiores motivações”.

A adaptação foi rápida até pela própria vi-vência da escola – “o tipo de professores, a pró-pria proximidade com eles – tudo isso me cati-vou”. Por todas essas razões, a confirmação de que a escolha tinha sido a certa chegou rapida-mente: “percebi que era aquilo que procurava há muito tempo e que não sabia que existia”.

Uma área “desconhecida” mas em crescimento

A cinegética é, etimologicamente, a “arte da caça”. “Ainda é uma área um pouco desconhe-

cida”, explica André Rodrigues. “O significado da palavra é do conhecimento, talvez, de 10% da população”, reforça.

Para André, a ideia central na base da ges-tão cinegética é a sustentabilidade. “A filosofia passa por não explorar em demasia aquilo que nos pode fazer falta e que pode acabar – tem de existir um equilíbrio”. De resto, o crescimento da sociedade, no sentido de uma relação mais equilibrada com a natureza, tem tido, para An-dré, o seu efeito na área. “Tem-se reconhecido o valor e a necessidade de dar o trabalho a quem é qualificado e sabe ter uma intervenção espe-cializada”, considera.

Um exemplo do quotidiano que envolve ges-tão cinegética diz respeito à segurança no tráfe-go aéreo. Nos aeroportos, de forma a afugentar aves como gaivotas ou pombos, empresas da área soltam rapinas no espaço aéreo, dispersan-do as populações dessas espécies. Tudo para evitar o embate das aves no motor ou no vidro de um avião.

Por essa razão, André salienta a forma como o trabalho na gestão cinegética “tem uma im-plicação na vida das pessoas, o que é o mais importante”. “Estamos a falar de vidas, de edifí-cios, de coisas que são resguardadas, no fundo, por nós”, reforça.

Um CET e uma licenciatura

Terminado o curso profissional, André deci-diu especializar-se na vertente ligada à produ-ção animal. Por essa razão, completou um CET em Cuidados Veterinários, na Escola Superior

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Agrária de Santarém: “vi no CET um prolonga-mento do ensino profissional e quis ligar-me profissionalmente à vertente dos animais”.

Lidar com rapinas, por outro lado, é um tra-balho que exige cuidados especiais, em que é muito importante detetar ativamente proble-mas de saúde: “as rapinas não demonstram tanto como outros animais que estão doentes – o CET foi extremamente importante nesse sentido”.

Esta formação de nível 5 foi também, para André, “uma fase de transição para o ensino su-perior”. No ano seguinte, ingressaria na licencia-tura em Produção Animal, novamente na Escola Superior Agrária de Santarém. Contudo, sensi-velmente a meio da licenciatura, tudo mudaria, com o aparecimento de uma “proposta irrecu-sável”.

O Benfica e o “melhor emprego do mundo”

Em 2011, André recebeu um telefonema ines-perado. Do outro lado da linha, um responsável de uma empresa em que tinha estagiado du-rante o curso profissional trazia uma proposta. “Pensei que estava a sonhar ou que tinha ouvido mal”. Contudo, a proposta era real: ser o respon-sável pelas águias do Sport Lisboa e Benfica. Quinze dias depois, André entrava no Estádio da Luz para conhecer as duas águias e “ficar res-ponsável pelo voo que alguns milhões de pes-soas conhecem”.

André nunca tinha trabalhado com a águia--de-cabeça-branca – a espécie que completa o símbolo do Sport Lisboa e Benfica. Seguiu-se

um processo evolutivo. “Foi um trabalho que se fez com calma, com passos firmes, porque era um trabalho de muita responsabilidade. Fui co-nhecendo-as todos os dias um bocadinho mais, até ter confiança total nelas e elas em mim”, conta.

A relação com uma rapina é muito diferente de uma relação com um mamífero. “São quase dois extremos”, segundo o tratador. “Os animais domésticos pedem afeto, interagem connosco, abanam a cauda, vão dando as suas lambide-las, querem companhia”. O que acontece com as rapinas é exatamente o contrário: “odeiam carinho, não pedem festas, até são agressivas quando lhes mexemos porque lhes estamos a estragar as penas”.

Estas foram as características que cativaram André, desde dos tempos das observações em Arruda-dos-Vinhos. Hoje, lida com elas profis-sionalmente todos os dias e não tem dúvidas: “Tenho, basicamente, o melhor emprego do mundo”, garante. “Também tive a sorte de ter herdado o benfiquismo dos meus pais e dos meus avós”, confessa, sorridente, concluindo: “foi o conjugar de duas paixões”.

Recentemente, André tornou-se piloto ofi-cial de rallies do Benfica, “em mais um sonho de criança”. Olhando em retrospetiva para o seu percurso, conclui que tudo isto foi possível gra-ças a uma decisão tomada há nove anos atrás. “Comecei o curso em 2006, hoje estamos em 2015, e olho para os objetivos que fui realizan-do”, começa por dizer, concluindo: “o curso profissional foi a chave-mestra para todos os so-nhos que realizei até hoje”. n

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Bruno Vicente RibeiroCurso Profissional de Técnico de Eletrónica, Automação e Comando

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Acabou por ser uma coincidência a moldar o futuro profissional de Bruno Ribeiro. Na altura que escolhia uma opção de nível secundário, abria o curso profissional de Técnico de Eletrónica, Au-tomação e Comando, na Escola Profissional de Salvaterra de Magos – instituição que, à época, entrava no seu segundo ano de funcionamento.

No Grupo Desportivo “O Coruchense”, onde jogava futebol, Bruno Ribeiro ouvia relatos de colegas mais velhos que, no ano anterior, tinham entrado no curso de Informática. “Ouvi os meus colegas de equipa dizer que ia abrir um curso de Eletrónica e Comando e isso interessou-me”, recorda.

Na altura em que equacionava as suas opções para o ensino secundário, Bruno Vicente Ribeiro tomou conhecimento da abertura de um curso pro-fissional de Técnico de Eletrónica, Automação e Comando próximo da sua terra natal, nos arredores de Coruche. A oferta era diferente daquilo que existia na região, “sobretudo centrada na agropecuária” e já tinha a “curio-sidade e interesse” pela eletrónica de comando. Depois do curso e de uma experiência profissional variada, constituiu a sua primeira empresa, ligada às energias renováveis. Foi aí que contactou pela primeira vez com os dro-nes – para os quais tem vindo a encontrar novas formas de utilização. Essa diversificação é hoje a base da SkyScan – empresa que oferece “soluções de tecnologia aérea cada vez mais diversas”. Olhando a opção tomada à entrada para o secundário, Bruno Vicente Ribeiro é categórico: “nunca tive dúvidas que seria uma boa opção”.

O céu não é o limite

Na altura, salienta, não se tratava propria-mente de uma vocação ou interesse especial pela área. “Era uma curiosidade”, esclarece. Algo que se manifestava no abrir dos carrinhos telecomandados, no desmontar dos motores para ver como tudo funcionava. “Coisas normais em todos os miúdos – não só nos que seguem eletrónica”, ressalva.

Para seguir esta opção, Bruno teria de apa-nhar diariamente um autocarro para Salvaterra. “Uma viagem de 45 minutos a parar nas capeli-nhas todas”, relembra. Contudo, a questão logís-tica nunca foi problema. Mesmo se escolhesse estudar em Coruche, teria de acordar cedo para

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vir da sua terra natal, a cerca de 10 quilómetros. Os colegas de balneário falavam-lhe tam-

bém da “componente prática do curso e da escola que era nova e estava muito bem equi-pada”. Tudo pesado, a decisão estava tomada: “não hesitei e fiz a inscrição de imediato – nunca tive dúvidas que seria uma boa opção”.

Aprender a pensar por si

Chegado à escola, confirmou as boas con-dições existentes – “tínhamos um osciloscópio por carteira”, salienta. Simultaneamente, recor-da ainda a qualidade dos professores. “Eram pessoas com muita experiência no mercado de trabalho e isso faz toda a diferença”, considera.

Uma das funções fundamentais dos profes-sores passava pela orientação, nomeadamente, durante a Prova de Aptidão Profissional (PAP). Todavia, e relativamente a esta prova, Bruno destaca que é um trabalho feito “99% pelo alu-no”. Algo que, assegura, distingue pela positiva o ensino profissional. “Faz toda a diferença por-que obriga-nos a pensar e a fazer por nós”.

A PAP de Bruno Ribeiro dizia respeito a uma linha de enchimento de garrafas. Mas o mais im-portante foi o processo de aprendizagem. “No mundo do trabalho, se surgir um obstáculo, te-mos de nos desviar e não perguntar como nos desviamos”. Por essa razão, a realização da PAP, garante, traz “autonomia, confiança e responsa-bilidade”.

Nesse sentido, considera que a coisa mais importante que o curso lhe ofereceu foi o estí-mulo à capacidade de pensar por si próprio, já

que “somos obrigados a desenvolver o nosso próprio trabalho”.

Depois do curso, teve imediatamente inten-ção de seguir para o ensino superior. Algo que justifica com as características de uma área li-gada às tecnologias, implicando uma constan-te atualização dos conhecimentos. “Parece que fica sempre alguma coisa por saber”, acrescen-ta.

Contudo, nem todos os alunos “podem ou querem seguir para o ensino superior”. Desse ponto de vista, salienta, o ensino profissional também traz vantagens “ao possibilitar a entra-da imediata no mercado de trabalho”.

Na licenciatura em Engenharia Eletrotécnica, no Instituto Politécnico de Leiria, denotou ain-da algumas diferenças. “É sempre difícil fazer uma comparação da minha opção com a via dos científico-humanísticos porque nunca por lá passei”, começa por dizer. Aquilo que se aperce-beu na licenciatura é que “havia colegas que ti-nham dificuldades na questão prática – tudo era novidade para eles”. “Para mim, nada era novo”, salienta.

No mercado de trabalho, há espaço para a formação

Depois da licenciatura, seguiram-se várias experiências profissionais. Começou na Central Termoelétrica do Pego, passou por uma em-presa de instalações elétricas em edifícios e de linhas de média tensão, em Almeirim, e seguiu para a direção de produção de uma outra em-presa da área.

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Ao fim de algum tempo, contudo, decidiu sair. “Deixou de ser novidade”, justifica. Despe-diu-se e ingressou no curso de formação de for-madores, com o objetivo de dar aulas – “algo que sempre despertara curiosidade”. Completado o curso, dirigiu-se à sua antiga escola profissional, dizendo que estava disponível. Acabaria por dar aulas a duas turmas de duas escolas profissio-nais – Salvaterra de Magos e Santarém. “Uma experiência interessante” que, em certa medida, o desiludiu. “Era completamente diferente do que tinha passado alguns anos antes”, justifica, acrescentando: “os alunos não eram tão interes-sados e pareceram-me mais imaturos”.

Ao fim de algum tempo, “começou-se a ouvir falar de renováveis”. Movido por essa nova tendên-cia, decidiu fazer uma pós-graduação em Energias Renováveis no Instituto Politécnico de Setúbal. Foi também nesse momento que pensou: “tenho de criar qualquer coisa minha”. Em 2008, criava a sua primeira empresa – a TEP Energia.

Depois de um período de três anos em que foi diretor de obra e de projeto numa empresa de Lisboa – “uma boa oportunidade para ganhar experiência” – escolheu fixar-se a tempo inteiro na TEP. Entretanto, criou, também, uma empre-sa para prestação de serviços na área das reno-váveis. Uma oferta “complementar” que acaba-ria por ter um papel muito importante no futuro.

Voar de olhos postos na inovação

Foi depois de estar ligado a esta área que começou a interessar-se pela termografia dos parques fotovoltaicos. Rapidamente percebeu

que “existia uma oportunidade de os drones fazerem este trabalho”, conta. E pensou: “vou inovar por aqui”. Em pouco tempo, viajaria até Sevilha para comprar um drone e receber for-mação.

Aos poucos, apercebeu-se das várias utili-zações para esta tecnologia aérea: termogra-fia, fotogrametria e inspeções a edifícios. To-dos estes serviços são hoje incluídos na oferta da SkyScan.

De olhos postos na inovação, Bruno já pen-sa nos próximos passos: “estamos a desenvol-ver um drone para o transporte de mercado-rias que será o futuro muito próximo”. De igual forma, a SkyScan encontra-se a desenvolver o controlo de drones por LTE. “Pela internet”, explica Bruno, exemplificando: “isto é dizer que posso estar em Coruche a comandar um drone na China”.

Para alcançar estes desenvolvimentos, é necessário trabalhar uma tecnologia inovado-ra – o “Sense and Avoid”. Tudo isto, na opinião de Bruno Ribeiro, prende-se com a necessi-dade de estar atualizado “e de se tentar estar na linha da frente”, caso contrário, “ficaremos pelo caminho”.

O crescimento dos sistemas smart e a pro-liferação da tecnologia no quotidiano vão, as-segura, tornar a área da eletrónica e comando ainda mais relevante no futuro. “No nosso dia a dia, tudo é automatizado e eletrónico – esta é uma área que vai precisar de pessoas para trabalhar”. Por essa razão, conclui: “não tenho dúvidas que será uma boa aposta para um jo-vem”. n

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Cláudia SantosCurso Profissional de Técnico de Comércio

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A 8 de setembro de 2014, Cláudia Santos cumpria um sonho antigo. Nessa data – dia do fisioterapeuta – era inaugurada a clínica Feel-Saúde, em Albufeira. “Um sonho concretizado”, garante Cláudia. “Desde criança que queria abrir um negócio meu”, explica. A realização foi dupla: “também tive sempre o desejo de tra-balhar na área da saúde – juntei o útil ao agra-dável”.

De forma a chegar a este destino, desde cedo, Cláudia delineou os passos necessários. Não que todos tenham sido dados sem im-previstos ou mudanças de direção. Começou por se inscrever num curso de nível secundá-rio científico-humanístico. “O meu objetivo era

Desde cedo, Cláudia Santos soube o que queria para o seu futuro: criar uma empresa na área da saúde. Em 2014, cumpriria esse objetivo, com a abertura de uma clínica de fisioterapia. Pelo meio, executou “um plano de 20 anos” que envolveu um curso profissional de Técnico de Comércio e uma licenciatura em Fisioterapia, bem como a experiência profissional adquirida em diversos contextos. Analisando o seu percurso, Cláudia co-loca em evidência a importância da formação profissional neste caminho percorrido: “o curso profissional teve um papel determinante para que conseguisse cumprir o meu objetivo”.

Um plano de 20 anospara um sonho de sempre

essencialmente tirar uma licenciatura na área da saúde e, por isso, fazia sentido essa opção”, conta.

Contudo, chegada ao ensino secundário, de-parou-se com “um desentendimento” com a dis-ciplina de físico-química. Nessa altura, decidiu optar pelo ensino profissional, procurando a pre-paração mais adequada à sua meta final: “como também queria abrir um negócio, o curso profis-sional de Técnico de Comércio pareceu-me uma boa opção”. Era essencial, acrescenta, “o facto de possibilitar a passagem para a universidade”.

No curso de Técnico de Comércio, encon-trou “aquilo que estava à procura” – um curso “bastante prático” com diversos estágios, que

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“promovia o contacto com o mundo do traba-lho”. Através desta experiência, conseguiu “per-ceber a dinâmica da gestão e da organização das empresas”.

Por outro lado, em comparação com a ex-periência anterior, considera que no ensino pro-fissional há vantagens “tanto ao nível do méto-do de trabalho como da proximidade entre os professores e os alunos”. “Aprender através da prática aproxima as pessoas”, sublinha.

Hoje em dia, Cláudia sente que há desenten-dimentos que vêm por bem: “sinto que ganhei com a troca. No final do curso estava melhor pre-parada para abrir um negócio do que se tivesse continuado num curso científico-humanístico. Um exemplo paradigmático, para a fisioterapeu-ta, está na elaboração da Prova de Aptidão Pro-fissional. “Tivemos de construir uma empresa de raiz”, recorda, o que se veio a revelar “muito im-portante para o meu futuro profissional”.

O mundo real e a “maturidade”

Finalizado o curso, Cláudia começou a traba-lhar na área bancária, na entidade onde realizou um dos estágios do curso profissional – “uma prova da boa preparação do curso”, considera. Ao fim de um ano, trocou de área, passando a trabalhar numa empresa de contabilidade.

Mas a saúde nunca saiu dos seus objetivos e seguiu-se a licenciatura em fisioterapia no Insti-tuto Piaget. Um gosto que foi desenvolvido du-rante a sua experiência enquanto atleta.

Numa área totalmente diferente daquela que tinha estudado no ensino secundário, Cláudia

assegura que se sentia melhor preparada que muitos colegas: “ainda que as minhas bases não fossem as mesmas, senti-me muito melhor pre-parada, do ponto de vista do método de estudo e da responsabilidade”. A diferença, explica, po-derá estar na “maturidade que nasce do contac-to com o mundo real” promovido no âmbito do curso profissional. “Faz crescer”, reforça.

Depois de terminado o curso, em 2007, dá--se a entrada na área profissional da saúde. Du-rante três anos, Cláudia trabalhou em clubes de futebol regionais e, depois disso, numa empresa que integrou em sociedade, “numa espécie de preparação até chegar o momento” de se lançar por conta própria.

Fisioterapia mas não só

No dia em que iniciou atividade, a Clínica FeelSaúde teve bastante movimento. “Já tinha uma carteira de clientes considerável, devido aos meus anos de atividade na área”, revela. Esse dado, salienta, é consequência de uma das coisas mais importantes a ter em vista na área da fisioterapia: “é fundamental manter uma pro-ximidade com o paciente para que ele se sinta com outro à-vontade”.

Na área do comércio é essencial estar “atua-lizado quanto às questões do mercado”, já que esse conhecimento “ajuda a ter margem de ma-nobra para ajustar o trajeto, quando necessário”. Uma adaptação que fica patente no conceito da FeelSaúde. Os seus serviços não se resumem à fisioterapia, agregando psicologia, fisioterapia, terapia da fala e acupuntura.

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Nesse sentido, para além “de capacidade de adaptação” é necessário ser “dinâmico mas or-ganizado” e ter método de trabalho. Para con-quistar o mercado, salienta, “é preciso dar a co-nhecer o trabalho”. No seu caso, antes de abrir o negócio, quis “aperfeiçoar as competências” com que se formou.

Para Cláudia, o seu caso é um exemplo de uma abordagem correta. “Temos de estabelecer

um objetivo e delinear o nosso caminho”, des-taca. Na área do comércio, o timing é tudo: “o truque é saber esperar pelo momento certo e deixar amadurecer as ideias”.

A concretização do seu objetivo, por exemplo, demorou o seu tempo. Contudo, no dia da inaugu-ração da clínica, chegaria a recompensa. “Quando abri a clínica senti que consegui”, salienta, con-cluindo: “e pude dizer ‘missão cumprida’”. n

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Cláudio CastroCurso Profissional de Técnico de Design Industrial

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Escondido no coração da Trofa, o atelier de Cláudio Castro é um espaço onde o design está em destaque. Logo à entrada, do lado esquerdo, uma máquina semelhante a um multibanco cha-ma à atenção. A seu lado uma cadeira de linhas inovadoras. Mais ao fundo diversos suportes para tablets. Porém, o realce vai para uma mesa que ocupa o centro desta zona de exposição.

Todas as peças têm em comum o facto de te-rem sido desenhadas no atelier de Cláudio Cas-tro. “Tento guardar os protótipos dos objetos que vou desenhando”, revela o designer. A mesa em questão – uma mesa interativa de ecrã tátil – foi a primeira peça que criou depois de abrir a sua empresa, em 2011. Por essa razão, é eleita como a peça mais marcante. “Foi o primeiro passo e

Desenhando o quotidianoQuando, em 1995, Cláudio Castro escolheu o Curso Profissional de De-sign Industrial, “ainda não se falava muito de design em Portugal”. Porém, Cláudio escolheu integrar a primeira turma deste curso na Escola Profis-sional FORAVE, tanto pelo gosto pelo desenho como por ver “um poten-cial de crescimento” na área de design industrial ou de produto. De resto, assegura, a formação dar-lhe-ia “tudo o que precisava para ter sucesso”. Depois de 11 anos a trabalhar por conta de outrem, decidiu, em 2011, abrir a sua própria empresa, em busca de novos projetos e desafios. Hoje em dia, considera que a sua profissão “é a melhor do mundo”, sobretudo pelo impacto que tem no quotidiano das pessoas. “Desenhamos tudo o que o ser humano utiliza”, salienta.

trouxe-me imensos contactos”, acrescenta. Re-centemente, uma versão melhorada deste protó-tipo seguiu para um museu na Malásia, para ser utilizada por milhares de pessoas.

É, de resto, essa utilização que ancora o gos-to de Cláudio pela área do design industrial ou de produto. “Temos o prazer de desenvolver ob-jetos utilizados por milhares”, destaca, comple-tando: “é a melhor profissão do mundo porque desenhamos tudo o que o ser humano utiliza – objetos que estão presentes no dia a dia das pessoas e que fazem a diferença”. Aponta para a esferográfica e o papel onde vão sendo toma-das notas – “como essa caneta e esse caderno”.

Nessa medida, ser designer é conviver, de al-guma forma, com o anonimato. “O consumidor

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preocupa-se mais com o produto: com a fun-cionalidade, a estética e a ergonomia”, relembra Cláudio Castro. Uma preocupação que diz ser natural. Já quem desenha interessa-se também pelo processo e “esse processo começa e termi-na em quem ‘criou’ o objeto”.

O interesse de Cláudio por esse lado da cria-ção começou cedo. Ainda antes da escolha do curso profissional acompanhava as tendências, muito por culpa de Philippe Starck – um criador que “estava muito em voga na altura” e que clas-sifica como a sua primeira influência. Fala de um espremedor de citrinos “muito conhecido” em forma de aranha: “conhece? É do Starck”.

O trabalho de Starck é sobretudo centrado no design industrial: mobiliário, automóvel ou naútico são alguns dos exemplos. Cláudio esco-lheria também seguir este caminho. Hoje em dia, Starck já não é um dos seus criadores favoritos. Contudo, assegura que continua a “dar-lhe muita importância”, pelo seu papel no cultivo do gosto por esta área em específico.

Um curso “à frente do seu tempo”

A ligação ao desenho começou muito cedo: “sempre foi uma das minhas paixões”, realça. Inicialmente, o gosto era por desenho de for-ma mais genérica. Mais tarde, pelo que lia e via noutros países (sobretudo Alemanha e Itália), começou a perceber que a vertente industrial ou de produto “podia ser uma boa opção”. “Via algum potencial de crescimento na área, sem-pre senti que algo que se fazia lá fora acabaria por entrar no nosso país – era uma questão de

tempo”, acrescenta. Por outro lado, Cláudio sen-te que teve “a sorte” de ver abrir um curso pro-fissional de design industrial “mesmo ao pé de casa”. Já existiam cursos superiores centrados nesta área, porém, ao nível do ensino secundário “não havia nada idêntico no país”. Por essa ra-zão, era um curso muito à frente do seu tempo”, considera. Cláudio integraria a primeira turma desta formação.

Segundo o designer, o fato de o curso ser inovador trouxe mesmo alguns problemas. Des-de logo, não existiam posições específicas para designers industriais nas empresas. “O mercado não estava preparado para absorver os diploma-dos”, esclarece. Por essa razão, tiveram necessi-dade “de se adaptar a novos empregos”.

Cláudio recebeu diversas ofertas de empre-go, tendo escolhido trabalhar num atelier de arquitetura – uma arte que sempre o tinha cati-vado. A sua adaptação, tal como a dos colegas de curso, garante, fez-se “em poucas semanas”. Algo que acredita ter sido possibilitado pelo fac-to de o curso ter sido “diversificado, abrangente e completo”.

No curso, encontrou disciplinas “muito varia-das”, ainda que sempre ligadas ao projeto, “den-tro de duas vertentes – artística e de experimen-tação”. Uma abordagem prática que acredita ser especialmente importante no campo do design: “esta é uma área muito ligada ao pragmatismo, àquilo que o objeto tem de ser”. Nesse sentido, assegura, é muito importante uma formação ligada à parte prática e funcional “porque o de-sign não pode ficar preso apenas a uma parte conceptual e artística”.

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Esta componente prática faz ainda a diferen-ça, segundo Cláudio Castro, ao nível da motiva-ção dos alunos. Sentiu isso durante o tempo na escola profissional FORAVE. “Havia cursos de gestão, contabilidade, entre outros, e eu notava que todos os alunos gostavam de ir à escola”. “Isso não acontece muitas vezes no ensino tradi-cional”, realça.

A cabine telefónica

Durante uma das aulas do curso profissional, um professor abordou Cláudio, dizendo-lhe: “te-nho uma coisa para te mostrar”. Na mão trazia uma revista em que surgia o anúncio de uma nova cabine telefónica da Portugal Telecom. “Por mera coincidência”, revela Cláudio, o modelo apresen-tado era “muito semelhante ao que desenvolvi durante a Prova de Aptidão Profissional (PAP)”. Por essa razão, sentiu-se “empolgado, porque estive perto de fazer um produto que o mercado aceitava. Isso, naquela idade, já era interessante”.

Ainda que tenha desenhado “um objeto que hoje em dia já quase ninguém usa”, relembra Cláudio, a PAP ajudou a “compreender todo o processo de um projeto, como hoje em dia tenho de fazer”.

O primeiro emprego, no atelier de arquitetura de Graça Mendes, durou três anos. No final des-se período, decidiu voltar-se para metalurgia, na tentativa de se aproximar profissionalmente da área do design de produto. Uma fábrica fez-lhe o convite para integrar um departamento novo. Cláudio aceitou e começou uma ligação que du-raria oito anos.

Empreender para chegar “à luta diária”

Foi em 2011 que tomou uma decisão: dei-xar o trabalho de oito anos para abrir a própria empresa. A explicação é simples: “queria fazer mais”. “Estava estagnado e queria ter liberda-de”, esclarece. Uma opção que encontrou algum ceticismo: “estávamos em 2011, o desemprego estava a crescer e eu estava a abandonar um emprego estável e um ordenado simpático – mas estava confiante que ia conseguir”.

Hoje, sente que o objetivo foi cumprido. “Sin-to-me livre”, garante. Ainda que os desafios se-jam enormes: “há uma luta diária por clientes e projetos – mas eu gosto dessa luta – foi a luta que procurei”. Porém, a vida de empreendedor não é feita sem dúvidas ou receios. Portugal é um país com “um mercado pequeno” e “a con-corrência é global”, relembra. Por essa razão, realça a importância de procurar clientes inter-nacionais.

Foi precisamente um desses clientes que en-comendou o projeto que classifica como “o mais mediático” do seu portfólio: a primeira máquina de vending digital a ser desenvolvida em todo o mundo, requisitada por um cliente norte-ame-ricano. De momento, existem 250 máquinas no mercado, com uma implementação de cerca de 60%, sendo que a segunda versão está ser de-senvolvida.

Todos estes são elementos que levam Cláudio a ter a certeza que “deu o passo correto” num trajeto onde, realça, o ensino profissional desem-penhou um papel fundamental: “o curso deu-me tudo o que precisava para ter sucesso”. n

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David MatosCurso Profissional de Técnico de Informática e Gestão

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As primeiras recordações de David Matos já têm informática à mistura. No caso, o ZX Spec-trum lá de casa – microcomputador com o qual se lembra de “brincar e achar imensa piada”. A sua interação com a informática, nessa época, era simples, recorda. “Bastava correr um coman-do para iniciar os jogos”.

Vinte anos passados, a relação de David com a informática seguiu a tendência da tecno-logia que lhe serve de base – evoluiu, tornando--se mais complexa. Aos 26 anos, David Matos é hoje investigador e estudante de doutora-mento do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores – Investigação e Desenvolvi-mento (INESC-ID), especializado em segurança e redes de computadores – uma área, assegura, “cada vez mais relevante”.

O fascínio pela informática sempre esteve presente. Ainda em criança, David Matos já brincava com o ZX Spectrum da família. Mais tarde, com 12 anos, seria autodidata nas lides da programação. Chegado ao ensino secundário procurou uma formação “mais específica” que lhe deixasse “opções em aberto”. Seguindo o seu gosto de criança, escolheu o Curso Profissional de Técnico de Informática e Gestão, no Instituto de Gouveia - Escola Profissional. Este seria o passo inicial numa relação com o estudo da Informática que continua até aos dias de hoje, aos 26 anos, enquanto doutorando e investigador especializado em segurança e redes. Quanto ao passo inicial, não tem dúvidas: “No curso, encontrei exatamente o que estava à procura”.

Do Spectrum à segurança na web

“Cada vez colocamos mais informação sen-sível e pessoal na internet”, sublinha. Um con-texto que coloca em evidência a necessidade de segurança. Porém, tudo começou quando leu alguns artigos “sobre vários tipos de ataques in-formáticos que são feitos. Muitos deles são crí-ticos e podem por em causa o funcionamento de uma organização ou de um Estado”. Por essa razão, encontrar novas formas de impedir estas invasões “é uma área muito interessante para se fazer investigação”.

O interesse foi surgindo “de forma gradual”, ao longo do percurso académico. Ao curso pro-fissional seguiram-se a licenciatura, o mestrado e, agora, o doutoramento. “Com o passar do tempo, surgiu a vontade de me especializar”, realça.

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Para o investigador, esta vontade de prosse-guir estudos pode ter nascido das próprias ca-racterísticas do mundo da informática. “Há uma constante necessidade de atualização – novas tecnologias, paradigmas, metodologias”. Por essa razão, é importante para um informático “estar a par das inovações e manter-se atualiza-do, com uma formação ao longo da vida”.

Os pais sempre fizeram questão que fosse para a universidade – “isso era uma coisa certa”. O plano passava por completar uma licenciatura e ingressar de seguida o mercado de trabalho. “Mas eu gostava de ter outras opções em aber-to”, revela David Mantos, acrescentando: “para o caso de mudar de ideias entretanto e até para estar preparado para trabalhar enquanto estu-dava”. É aqui que surge o curso profissional de Técnico de Informática e Gestão, no Instituto de Gouveia – cidade onde residiu dos 5 aos 18 anos.

Um curso para dois cursos

“No curso”, começa por responder David Matos, “encontrei exatamente o que estava à procura”. “Encontrei uma formação muito mais prática, onde podíamos pôr as mãos na massa”, esclarece. Ao início, confessa que até estava “algo chateado” por o curso ter a vertente de gestão: “eu queria mesmo era de informática”.

Contudo, o gosto pela gestão havia de sur-gir ao longo dos três anos. “Foi uma surpresa”, sublinha. Ao ponto de, já no ensino superior, na passagem para o último ano da licenciatura em engenharia informática, ter congelado a matrí-cula para “experimentar um curso de gestão”.

Ao fim de um ano, porém, voltaria à sua primeira opção. “Na altura, estava a trabalhar em enge-nharia informática e pensei que seria útil con-cluir a licenciatura nessa área”, explica.

Tendo em conta a experiência em duas li-cenciaturas diferentes, David Matos coloca em evidência um fator comum: “é curioso como um curso profissional de ensino secundário pode ser tão útil na faculdade, em dois cursos dife-rentes”. Tanto em informática como em gestão, assegura, a preparação do curso profissional ajudou à adaptação ao ensino superior. Mais do que apenas desenvolver competências técnicas, “houve muitas softskills adquiridas”, sublinha o investigador. David vai enumerando: comuni-cação, organização pessoal, gestão de tempo… Isto para além da componente prática que, re-lembra, “permitiu ficar mais à vontade com as ferramentas e tecnologias”. Nesse sentido, des-taca sobretudo a sua Prova de Aptidão Profis-sional (PAP) – a prova que o ajudaria a entrar no mercado de trabalho.

Uma prova de competências

Depois de resumir o seu percurso académico, David solta um “agora as coisas ficam algo confu-sas”. Depois de pedidas as explicações, esclarece: “é que durante tudo isto, fartei-me de trabalhar”.

A entrada no mercado de trabalho deu-se aos 18 anos, ainda durante o primeiro ano de faculda-de, numa empresa de software de gestão para a administração pública. David recorda ainda o momento, durante a entrevista, em que lhe disse-ram: “tu tens 18 anos, não tens nada para oferecer

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a esta empresa”. Como resposta, David Matos re-correu ao computador portátil para apresentar a sua Prova de Aptidão Profissional – um software para a venda de bilhetes num cinema. Acabaria mesmo por garantir a posição e trabalhar na em-presa durante cerca de três anos, até 2011.

Em 2011, surge a primeira bolsa de investiga-ção, com duração de seis meses. Ao enunciar o âmbito, o investigador avisa: “é um bocadinho específico”. Depois surge a explicação. “É uma investigação relacionada com uma ferramenta que permite executar processos que correm em vários sistemas em simultâneo”, explica, sorrindo.

Seguiu-se o mestrado com nova bolsa de in-vestigação, já centrado na área de segurança e redes, e uma experiência de um ano na Portu-gal Telecom, antes de regressar à universidade para ingressar no doutoramento, em setembro de 2015.

O objetivo a curto prazo é terminar o douto-ramento. Mas, para o futuro, “ficou sempre uma ideia”, começa por explicar: “criar uma empre-sa minha”. O fascínio pelo empreendedorismo “também nasceu no curso profissional”, asse-gura. Numa das ações de formação promovidas pela escola, um dos formadores desafiou os alu-nos a criarem a própria empresa. “A minha ideia era pobrezinha – só queria fazer uma pequena loja de informática”, recorda. Mas o “bichinho” ficou.

TIC: “aliciante” mas não “sexy”

A informática é uma área “com muita oferta de emprego”, relembra David Matos. Isso torna-

-a uma opção “aliciante” para um jovem, tendo em conta que um informático “pode escolher o sítio onde quer trabalhar – algo que não aconte-ce na maioria das áreas profissionais”.

Procurando explicar o desencontro entre os jovens e os cursos das Tecnologias de Informa-ção e Comunicação, David Matos relembra uma frase do seu passado profissional. “Ouvi o pre-sidente da PT dizer que a área das engenharias não é sexy”. Possivelmente, devido às disciplinas de matemática e física que “afastam os alunos destas áreas”, completa.

Para o investigador, a informação aos alunos na altura da candidatura também pode não ser a melhor. Isto tendo em conta que se trata de uma área “com saídas profissionais muito ver-sáteis”. Um técnico não se limita a lidar com engenharia informática, realça: “pode trabalhar em gestão ou outras áreas transversais – é útil e abre mais portas”.

A questão também se pode prender, relem-bra, com uma perceção errada do que é traba-lhar nas TIC. Algo que, no seu caso, o ensino profissional evitou, ao fomentar o contacto com o mundo do trabalho. “Os meus colegas que entraram na faculdade e vinham de um curso científico-natural tinham uma noção completa-mente errada do curso”, sublinha.

Esta é uma realidade que pode mudar em breve. “Em alguns países, já se fala em incluir cadeiras de programação no percurso dito re-gular”. Isso tem trazido algumas vantagens, assegura. “Através do contacto com a prática, muitos alunos ganham gosto pela área e aca-bam por seguir essa opção”, conclui. n

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Elsa BennettCurso Profissional de Técnico de Comunicação – Marketing, Relações Públicas e Publicidade

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Quando recorda a sua passagem pela Esco-la Profissional Bento de Jesus Caraça, no Porto, Elsa Bennett tem presente os nomes de muitos dos seus professores. O curso profissional foi completado há cerca de 15 anos. Mas o contacto com a escola mantém-se até aos dias de hoje. Elsa Bennett explica a sua preocupação em fo-mentar esta relação: “foi a escola que me fez atingir o que atingi hoje – dou muito valor aos

“A paixão pelo Marketing começou aos 15 anos”, garante Elsa Bennett. Por querer uma formação mais especializada durante o ensino secundário, es-colheu o Curso Profissional de Técnico de Comunicação - Marketing, Rela-ções Públicas e Publicidade, na Escola Profissional Bento de Jesus Caraça, no Porto. No curso, encontrou cerca de 20 alunos que se tornariam muito unidos – “como uma família”, revela. Depois, passou pela Carglass e por uma empresa de eventos antes de abrir a sua própria empresa que incluía o agenciamento de celebridades. Mais tarde, foi a situação económica do país que a levou a apostar numa aventura em Londres. Hoje, é gestora de marketing da Homeserve – empresa que se insere no mercado dos segu-ros e da assistência doméstica. Na construção do seu percurso, salienta o “foco”, a “confiança” e a “capacidade de luta”. De igual forma, destaca o papel da sua formação: “sem o curso profissional, o meu rumo de vida provavelmente teria sido outro”.

Conjugar o futurosem usar o condicional

três anos que passei aqui”. Olhando a constru-ção do seu trajeto profissional, Elsa destaca uma palavra como essencial: “foco”. Aos 15 anos, de-cidiu que queria trabalhar na área do marketing. E hoje é gestora de Marketing da Homeserve – empresa britânica da área dos seguros e da as-sistência doméstica. “Não gosto que me digam que não consigo – se o dizem, consigo mesmo”, acrescenta.

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Esta determinação, explica, prende-se com “um início de vida algo complicado”, a nível eco-nómico e familiar. Condicionantes que, segundo Elsa, moldaram uma personalidade ambiciosa e um lema de vida: “não é de onde vens que faz aquilo que és hoje em dia – o que interessa é o que se quer atingir no futuro”.

Na altura da escolha de uma opção de ensino secundário, todos os testes vocacionais “mos-travam a mesma orientação” – comunicação. A escolha recaiu sobre uma escola profissional já que “queria uma escola que tivesse alunos com um pouco mais de maturidade”. Isto porque, ex-plica, “à partida, quem segue o ensino profissio-nal sabe o quer fazer no futuro”.

À época, a escola era privada e pressupunha o pagamento de uma propina mensal. Com 16 anos, Elsa decidiu “garantir a sua independência” e ir trabalhar para um hipermercado, ao fim de semana. Durante a semana, estava oito horas por dia na escola. No ano seguinte, começou a trabalhar também em horário pós-laboral, numa escola de cursos desportivos.

O mercado de trabalho e a escola formavam então uma simbiose: “a escola facilitava a inte-gração no emprego e o emprego facilitava a aprendizagem na escola”.

No final do curso, entrou para o departamen-to de marketing da Carglass, onde complemen-tou os conhecimentos adquiridos no curso. Ao final de quatro anos, uma nova direção: “deci-di concorrer ao posto de diretora geral de uma empresa de eventos sediada em Salamanca”.

À partida, este era um mercado desconhecido. “Até aí eu trabalhava com vidros”, relembra. A

adaptação foi-se cumprindo, iniciando o seu contacto com celebridades. Após algum tempo, decidiu apostar nessa vertente, abrindo a sua própria empresa. Aos poucos, o seu trabalho es-pecializou-se em eventos em discotecas.

Esta mudança revelaria algumas dificulda-des. “Trabalhar com celebridades e eventos é muito complicado – acaba por te obrigar a mu-dar a personalidade – vi coisas que, se não fo-res forte de espírito podes acabar por te deixar levar”.

Por outro lado, revela, a economia portugue-sa não ajudava. Por essas razões, decidiu alterar o seu trajeto profissional, rumando a Londres. “Fui sem nada”, relembra. Antes da viagem, ga-rantiu apenas um quarto onde ficar.

De Shoreditch à Homeserve

O primeiro dia em Londres serviu para tratar da documentação que permitisse trabalhar. No segundo, começou a procura, “entregando cur-rículos”. Elsa residia na zona este de Londres e encontrou o seu primeiro trabalho como empre-gada de mesa, em Shoreditch – zona no centro da cidade.

A sua meta estava definida já antes da parti-da de Portugal. “O objetivo foi sempre voltar à comunicação e ao marketing”, sublinha. Ao fi-nal de três meses, decidiu procurar um trabalho mais administrativo, de forma a “aprender como os ingleses fazem negócios”.

Encontrou esse trabalho numa empresa de reciclagem de metais – a mesma onde conheceu o marido. Tendo em vista o regresso ao marke-

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ting, recomeçou a enviar currículos e a realizar entrevistas, “num mercado muito competitivo”.

A oportunidade surgiria na Homeserve, de-pois de responder a um anúncio que divulga-va uma oferta de emprego para um gestor de marketing “business to business”. Para garantir este emprego, acredita, foi a tenacidade a fazer a diferença: “fui insistente – mandava e-mails e telefonava”. No final, assegura, a sua postu-ra marcou posição: “concluíram que eu era a pessoa certa porque ia fazer com que as coisas acontecessem”.

Um livro aberto nas primeiras páginas

Esta postura de “fazer acontecer” é uma nota dominante no discurso de Elsa Bennett. “A vida é feita de escolhas”, começa por dizer, sen-do importante “não ter vergonha de onde vie-mos, das dificuldades que passámos – é isso que faz de ti o que és hoje”. Por tudo isto, garante: “a minha vida é um livro aberto”.

De resto, para Elsa, “tudo é uma aprendi-zagem”. O seu passado, realça, tornou-a “mais forte para enfrentar o que pudesse vir no futu-ro”. De igual forma, no caminho percorrido, re-conhece muita importância à sua formação: “o curso profissional contribuiu muito para aquilo que sou hoje”.

“Fez a diferença”, reforça, assegurando que tudo o que aprendeu em termos de marketing e publicidade foi aplicado. Contudo, muita coisa mudou, sobretudo a nível do marketing digital. “Quando acabei o curso nem existiam redes so-ciais”, relembra. Ainda que esta atualização se

tenha dado no mercado de trabalho, “a base foi na escola profissional”.

Nesta área, revela, é fundamental confian-ça e capacidade de luta. Como exemplo, rela-ta a ocasião em que telefonou à cabeleireira de Beyoncé Knowles, para saber mais sobre o look da artista. “A maioria das pessoas podia achar que era impossível – mas o importante é olhar ao que se quer e lutar”, destaca.

Quando fala no futuro, Elsa Bennett não usa o condicional. “Vou enveredar pela área da consultadoria de marketing”, explica, revelando planos para a construção de uma equipa de tra-balho. Para o final, guarda mais uma frase ca-tegórica. “Tenho a certeza que é isso que vou fazer”, conclui. n

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Gonçalo PinheiroCurso Profissional de Técnico de Manutenção Industrial / Eletromecânica

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“Estamos em cima de uma das maiores ba-cias da península ibérica de sílica”. A frase é de Gonçalo Pinheiro, um dos administradores do grupo Parapedra – empresa que, há mais de 40 anos, explora os recursos naturais da Bacia Hidrográfica de Rio Maior. Diariamente, ali são extraídas e transformadas 3 mil toneladas de ro-chas, entre as quais, calcários e derivados.

A ligação deste ramo de atividade com a re-gião assenta em séculos de história. Daqui saía a primeira matéria-prima para as fábricas de vidro da Marinha Grande. De igual forma, a relação de

A indústria da extração de calcário e derivados era já um negócio de família. Desde de criança que Gonçalo Pinheiro acompanhava o pai em visitas aos locais de extração. “Sempre soube que era isto que queria”, assegura. Por essa razão, chegado ao secundário, procurou uma opção que garantisse conhecimentos relevantes para esta área. Acabaria por escolher o Curso Profissional de Técnico de Manutenção In-dustrial / Eletromecânica, tendo em conta que “na área da extração, há a necessidade de lidar permanentemente com a inovação tecnológica”, esclarece. Durante o curso, acrescenta, adquiriu “o rigor e o planeamento eficaz” que lhe permitiram “um desenvolvimento rápido dentro da empre-sa”. Hoje, é um dos administradores do grupo Parapedra, o que, salienta, “é reflexo da boa preparação que o curso profissional proporcionou”.

Um curso para extrair um objetivo

Gonçalo Pinheiro com a indústria extrativa tem uma carga histórica. Neste caso, familiar.

“A ligação já é de família: este é um grupo empresarial familiar”, esclarece. Aos 5 anos de idade, já Gonçalo e o irmão acompanhavam o pai nas suas tarefas, “fosse fim de semana ou férias”. Passados alguns anos, faziam as visitas ao terreno e iam mesmo ao local da extração. Na inauguração da unidade onde nos recebe – cuja construção começou em 2001 – Gonçalo, então com 17 anos, integrou a equipa que projetou e elaborou o trabalho.

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Gonçalo Pinheiro nunca teve dúvidas: “des-de pequeno soube que era isto que queria”. Se-guir o ramo de atividade da família sempre foi o objetivo. Por essa razão, chegado à escolha de uma opção para o ensino secundário, procurou “algo que trouxesse conhecimentos interessan-tes para aplicar nesta empresa”.

Das várias possibilidades a escolher (entre as quais gestão ou logística de transportes) o gosto pela eletromecânica falou mais alto. Escolheria o Curso Profissional de Técnico de

Manutenção Industrial / Eletromecânica, na Escola Profissional de Rio Maior, “porque que-ria trabalhar com nova tecnologia”. De resto, para Gonçalo Pinheiro, na indústria da extra-ção, a ligação à tecnologia e à inovação é es-pecialmente importante.

Começa por explicar que “o processo de extração é muito complexo”, ou seja, qualquer inovação que se faça tem resultados muito rá-pidos. Por isso, há a preocupação de “moder-nizar constantemente o equipamento”. O curso

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profissional garantia-lhe um contacto com esta vertente que, acredita, já trouxe frutos à empre-sa: “posso dizer que o grupo está adaptado às tecnologias mais recentes - por exemplo, temos linhas 100% automatizadas – sinto que o curso ajudou bastante a que esta inovação aconteces-se”.

“Nós fazemos um milagre – nós exportamos terra”, destaca. As extrações da Parapedra são todas destinadas a clientes estrangeiros sedia-dos na Europa, Estados Unidos e África. Pelo facto de este ser um mercado global, sublinha, “só se consegue aceitação com produtos de ex-celente qualidade”.

O curso acabaria por ser importante tam-bém nesta vertente internacional. No âmbito do programa Leonardo da Vinci, Gonçalo teve oportunidade de estagiar em Leipzig, na Ale-manha – uma experiência que proporcionou “o contacto com uma cultura diferente de trabalho nesta área”. “Os alemães não são melhores nem piores, é uma diferença cultural. Há certas regras que aprendi lá e que nunca vi cá”, ressalva.

O que encontrou no curso correspondeu a estas expectativas. “Tanto correspondeu que hoje sou um dos responsáveis pela administra-ção – penso que é um reflexo da boa preparação do curso”, acrescenta.

Sem o curso, garante, não teria um desen-volvimento tão rápido dentro da empresa. Por outro lado, o seu desempenho seria inferior. Algo que se prende com algumas competências desenvolvidas durantes aqueles três anos. “Hoje em dia sou mais rigoroso e faço um melhor pla-neamento do trabalho – diria que o curso me

deu as bases principais que a experiência com-pletou ao longo do tempo”, conclui.

Duas palestras, uma década, o mesmo lema

À pergunta “o que pensa que pode fazer a diferença para um jovem que queira ingressar profissionalmente nesta área”, Gonçalo Pinheiro responde com uma história. Há 12 anos atrás, numa palestra na Escola Profissional, um orador salientava a importância de trabalhar e estudar para alcançar o sucesso profissional. “Eu recebi a mensagem”, assegura Gonçalo.

Dez anos depois, já enquanto administrador do grupo Parapedra, Gonçalo Pinheiro voltaria à escola profissional, desta vez como orador, a convite da instituição: “na altura, passei a mesma mensagem aos presentes”. Hoje, alguns dos jo-vens que estavam na plateia são já empresários.

Ainda relativamente aos jovens que preten-dam seguir a área de manutenção industrial, Gonçalo acredita que esta terá cada vez mais necessidade de trabalhadores. Isto porque “a in-dústria portuguesa só vai conseguir sobreviver com mão de obra qualificada”. É aqui que entra o curso profissional de manutenção industrial e eletrónica.

“Vai ser um curso com muito sucesso no fu-turo”, assegura. A razão está nas características da força de trabalho, já que “não existe neste momento uma mão de obra adequada para laboração específica”. Por essa razão, não tem dúvidas: “o ensino profissional está, neste mo-mento, muito mais preparado para trazer suces-so profissional aos seus alunos”. n

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Ivo SoaresCurso do Ensino Artístico Especializado de Música

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Desde que se lembra, Ivo Soares sempre pi-sou os palcos. O pai – Zé Soares, guitarrista de jazz – cedo promoveu a presença do filho nos seus concertos, em duetos ocasionais de voz e guitarra. Há mesmo músicas que nunca aban-donaram o reportório. “Temos cantado algumas músicas ao longo dos anos”, revela Ivo Soares, destacando o tema “Killing Me Softly”, de Ro-berta Flack.

Hoje em dia, Ivo Soares tem 20 anos e a parceria continua, até com maior regularidade, visitando bares e clubes de jazz, cerca de duas vezes por mês. “Ao início, o meu contributo era mais básico”, relembra Ivo, “mas agora estou mais à vontade e faço coisas muito melhores”. Sobre a Killing Me Softly não tem dúvidas: “a nossa versão atual é muito superior”.

A diferença entre as performances de Ivo é explicada pela sua aposta na formação musi-cal. Aos 10 anos, integrou o conservatório, para estudar piano. Aos 15, à entrada no secundário,

“Ninguém nasce um bom músico – nasce-se com talento e é preciso tra-balhá-lo”. É graças a esta postura que Ivo Soares desde cedo apostou na sua formação musical. Depois de entrar no conservatório aos 10 anos, viu--se, à entrada para o secundário, confrontado com uma escolha. “Seguir o curso do ensino artístico especializado de música foi a decisão mais lógi-ca”, conta, assegurando que a escolha era inevitável: “para mim, a música nunca poderia ser apenas um hobby”.

Porque não se nasce músico

viu-se confrontado com a necessidade de fazer uma escolha. “Ou ia para artes ou para um curso profissional de música – as ciências e as humani-dades não me cativavam”, relembra.

Na decisão, muita coisa haveria de pesar. Des-de logo, as vozes que diziam que a escolha pelo curso secundário de ensino artístico traria pro-blemas no futuro, ao nível da empregabilidade. “As pessoas dizem isso mas é tudo menos verda-de”, considera Ivo Soares. Para o jovem músico, na sociedade da informação, “as artes até já são uma melhor opção do que outras áreas”.

A explicação de Ivo para esta mudança resi-de no facto de, hoje em dia, “ser mais fácil che-gar às pessoas e a um público”. Porém, “isso não quer dizer que seja fácil”. O artista está obrigado a ter uma determinada postura para alcançar o sucesso: “tens de ser bom e trazer uma coisa nova, original. Depois, com um bocadinho de sorte e muito trabalho, pode ser que consigas a sustentabilidade nesta área”.

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Por outro lado, destaca Ivo, “se não fizeres o que gostas, dificilmente serás bom no que fa-zes”. A questão, explica, está na motivação. Foi também por essa razão que, no momento da decisão, levou em conta a componente prática do ensino profissional. “Não sou de ficar numa sala de aula durante horas e horas”, garante.

A escolha de Ivo recaiu sobre o Curso de En-sino Artístico Especializado de Música. Durante três anos, a sua vida dividiu-se entre as aulas nas disciplinas gerais, na Escola Secundária de Pal-mela – uma a duas vezes por semana – e a com-ponente prática, lecionada no Conservatório de Música de Palmela, quase todos os dias.

O passado como base para o futuro

“Ninguém nasce um bom músico”, assegura Ivo Soares, colocando em evidência a importân-cia da sua formação: “os três anos no curso do Ensino Artístico Especializado deram-me bases muito sólidas para que possa fazer boa música”.

Todos os dias, Ivo encontra exemplos que colocam em evidência a importância do que aprendeu no curso. “Há muitos artistas que se querem lançar mas nos quais se denota a fal-ta de cultura musical que a formação nos dá”, considera.

A importância das bases, de resto, fica pa-tente nas mais pequenas coisas: “é, por exem-plo, muito importante saber ler música porque permite-nos ter outra autonomia”. No seu caso, como pretende seguir uma carreira como artis-ta independente, esse é um fator especialmente relevante.

A formação do curso foi sobretudo clássi-ca, próxima da música erudita. Por pretender centrar a sua carreira no soul e no jazz, Ivo sub-linha a necessidade de ter cuidados adicionais durante a formação, “procurando outras in-fluências”. Contudo, durante o curso, teve uma disciplina de jazz que “foi uma boa experiência para abrir os horizontes e depois completar, por mim, essa vertente”.

O contacto com as influências e pontos de vista de colegas e professores foi, precisamen-te, uma das grandes mais-valias que retirou do curso que completou. “Conhecer outras pes-soas durante o curso abre-te os horizontes e completa-te enquanto músico – cada pessoa vê a música de forma diferente e esse contacto é muito importante”, assegura.

Mente aberta e novos papéis

Assim que acabou o secundário, Ivo Soares ingressou na licenciatura de Jazz e Música Mo-derna, na Universidade Lusíada. O objetivo foi o de “diversificar as bases musicais” e o resul-tado foi encontrar “um mundo novo, tudo me-nos clássico – estou a gostar por ser uma coisa completamente diferente”.

Ivo destaca a relevância de uma relação sau-dável com esses diferentes mundos musicais. “É muito importante ter a mente aberta, estar disponível para aprender tudo e tocar tudo. Mesmo coisas que à partida não gostamos tan-to. Temos de tentar percebê-las e, quem sabe, até podemos vir a gostar”. Num país relativa-mente pequeno como Portugal, relembra, “a

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flexibilidade e versatilidade” podem vir a “fazer a diferença profissionalmente”.

Para além dos vídeos e músicas que vai di-vulgando através do Youtube e das redes so-ciais, Ivo entrou recentemente no campo do ensino. Há cerca de um ano, começou a dar aulas de canto, na escola de artes que a famí-lia dinamiza. A experiência, assegura, “tem sido muito interessante, por poder ver a música do prisma de quem ensina”.

Ivo Soares considera que teve “a sorte de, ao terminar a formação, ter já um estúdio e uma escola de artes fundados pela família”. “Nem toda a gente tem essa felicidade”, relem-bra. Mas, imaginando o caso de um jovem que tenha dúvidas se esta área é uma opção ade-quada para o seu futuro, não tem dúvidas: “as pessoas, por vezes, escolhem uma opção mais segura, devido ao medo. Eu acho que, hoje em dia, já nada é seguro. Mais vale fazermos o que gostamos”.

Uma das suas primeiras alunas de canto chegou com “muitos vícios e falhas na voz”. Ao fim de um ano, conta Ivo Soares, a voz deno-tava claras melhorias. A evolução, assegura o músico, “é uma coisa boa de se ver”: “é muito gratificante – sentes que estás a receber de vol-ta tudo o que estás a dar”. n

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Lara JustiçaCurso Profissional de Técnico de Eletrónicae Telecomunicações

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Quando chegou a altura de escolher uma op-ção para o ensino secundário, Lara Justiça sabia apenas o que não queria. “Já sabia que não queria seguir o ensino científico-humanístico”, assegura. Como tal, procurou na internet a palavra “cursos profissionais”. A resposta – que traçaria o futuro profissional – acabaria por estar ligada com o seu próprio método de pesquisa.

Nos resultados, surgiu o curso profissional de Técnico de Eletrónica e Telecomunicações, na Escola Profissional de Eletrónica e Telecomu-nicações (EPET), em Telheiras. “Foi o primeiro

Quando, em 2007, entrou no curso profissional de Técnico de Eletrónica e Telecomunicações, Lara Justiça nada sabia sobre esta área. “Queria um curso sobre o qual não tivesse quaisquer conhecimentos – no fundo, um desafio”, adianta, explicando a razão para ingressar na Escola Profissio-nal de Eletrónica e Telecomunicações (EPET). Rapidamente, descobriu o complexo mundo das telecomunicações e a forma como é “desconhecido pela maioria da população”. No final, assegura, o curso garantiu-lhe um estágio e a consequente entrada na Portugal Telecom, empresa onde tra-balhou durante 5 anos e que lhe “garantiu a estabilidade, a independência e a autonomia” que sempre desejou. Hoje na NOS, aos 23 anos, Lara sa-lienta que o curso foi uma importante parte deste processo ao “oferecer todas as condições para entrar no mercado de trabalho”.

Quando o desafiotraz estabilidade

que me chamou a atenção”, revela Lara. O seu conhecimento da área era nulo. “Escolhi proposi-tadamente uma área em que não tinha conheci-mentos porque queria mesmo um desafio: queria algo diferente – uma aventura”.

Com esta escolha surgiram algumas dúvidas. Afinal de contas, “era um curso que não domi-nava”. Contudo, seguiu uma máxima: “quem não arrisca, não petisca”. Na base da decisão, asse-gura, está a sua personalidade. “Sou uma pessoa positiva e isso é meio caminho andado para con-seguir alcançar os objetivos”. “E consegui”, acres-

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centa, concluindo: “foi uma aventura que valeu a pena”.

As certezas chegariam durante o curso. Mais especificamente, durante a elaboração da Prova de Aptidão Profissional (PAP), relacionada com o estágio na Portugal Telecom (PT). Ao contactar com aquela realidade, revela, apercebeu-se da di-mensão “escondida” do mundo das telecomuni-cações. “As pessoas não têm noção do que está na base das telecomunicações” – de satélites, a antenas, passando por cabos submarinos. “Foi aí que percebi: é isto que gosto e é isto que me in-teressa”, revela.

O que a fascinou, revela, foi a complexidade deste mundo “invisível”. Para exemplificar, apon-ta: “daqui para aquela antena acontecem muitas coisas”. Por outro lado, esta é uma área com uma presença intensa no quotidiano. “Tem muita apli-cação na vida das pessoas – estamos constante-mente ao telemóvel, na internet, a ver sites…”. A informação surge no browser mas pouca gente sabe como ela chegou lá. “Esse é o meu traba-lho”, sublinha.

O risco e a convicção

Se a escolha pela área da eletrónica e teleco-municações foi assumir um risco, o mesmo não se pode dizer da escolha pelo ensino profissional. Nesse ponto, Lara Justiça é convicta: “queria aca-bar o ensino secundário já preparada para uma profissão”.

De outra forma, explica, teria de estudar três anos adicionais no ensino superior. “Queria ajudar a minha mãe, ajudar a minha família”, sublinha.

Por outro lado, queria ter a sua independência muito cedo. Essa procura é uma nota dominante no discurso de Lara. “Queria ter o meu trabalho e criar a minha família”.

Nesse aspeto, realça, “o curso foi essencial”. Aos 23 anos, Lara acredita que, sem o curso pro-fissional de Técnico de Eletrónica e Telecomuni-cações “estaria agora a acabar a faculdade” ou talvez “no desemprego, como tantos outros”. O curso, por sua vez, ofereceu-lhe “todas as condi-ções para entrar no mercado de trabalho”.

Por outro lado, realça Lara, o curso abriu ain-da, literalmente, outros caminhos já que, “caso pretenda emigrar, com um curso de nível 4 te-nho uma formação valorizada no estrangeiro”. Também porque o saber inerente às telecomu-nicações e eletrónica se aplica a todas as partes do globo. Para exemplificar, vai enumerando: “os equipamentos são os mesmos, a linguagem de programação é a mesma, as configurações são as mesmas”. “Este é um saber universal”, con-clui.

Não foi esta, contudo, a opção tomada por Lara. De resto, nas suas decisões, denota-se a preocupação em garantir cedo a estabilidade. Vai contando, dedo por dedo: “Tirei o curso, estive cinco anos na PT, casei no ano passado, já com-prei casa”. Algo que, reforça, o curso lhe possibi-litou. “Com outra opção, se calhar estaria agora a viver com a minha mãe”, acredita.

Terminado o curso, ficaria mesmo na empre-sa onde estagiou, trabalhando cinco anos na PT. Cinco anos que a fizeram “crescer também a ní-vel pessoal – sobretudo a nível das relações pro-fissionais e do trabalhar sobre pressão”. A nível

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técnico, fazia a gestão da rede interna e trabalha-va na parte internacional.

Depois do interregno que sucedeu à saída da PT, surgiu a NOS. Recentemente, Lara integrou esta empresa de telecomunicações, desempe-nhando funções similares às que tinha anterior-mente. Contudo, em vez de lidar com a rede in-terna, a sua responsabilidade recai agora sobre a ligação da central para o cliente. Um trabalho que, assegura, é melhor “para ‘mexer’ o cérebro – é mais criativo”.

Um mundo (cada vez menos) de homens Na primeira aula do curso, recorda, encontrou uma turma só de rapazes. “Eram três turmas e havia uma rapariga em cada uma”. Este foi um desafio que teve de enfrentar. Lembra-se que fui a casa almoçar e pensou “já não vou voltar”.

A área em si, contudo, “não tem nada que afaste uma mulher”, sublinha – é um trabalho que tanto homens como mulheres podem fazer de igual para igual.

Embora denote uma mudança gradual nas mentalidades, Lara considera que ainda existe esse preconceito no setor. Na PT, por exemplo, recorda, falava com técnicos que “achavam que eu não sabia o que estava a fazer”. Mais tarde, contudo, foram percebendo que esta era uma forma errada de pensar. “No final, eu já os ajuda-va e eles já acreditavam no meu valor”.

“As pessoas vão aprendendo”, salienta. Para Lara, uma maior presença feminina na força de trabalho deste setor “também educa”. As pes-soas, realça, “só precisam de conhecer mulheres que trabalhem nesta área” para que esta possa passar a ser “uma área igualitária”. n

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Leonor de JesusCurso do Ensino Artístico Especializado de Dança

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“Realmente, parece um filme”, concorda Leo-nor de Jesus. A conversa dá-se na sala de ensaios da Companhia Nacional de Bailado (CNB) – o seu local de trabalho. Já o “filme” diz respeito à for-ma como pisaria o palco do Teatro Camões pela primeira vez, para dançar “O Lago dos Cisnes”.

“Foi coisa do destino”, salienta, a certa altura, colocando em evidência o conjunto de circuns-tâncias que a levaram até esse dia 13 de feve-reiro de 2013. Ensaios, lesões e até o facto de estar no lado certo da fila de cisnes fizeram a diferença. Mas, curiosamente, tudo começaria com um “não”.

Leonor de Jesus dedicou oito anos ao estudo e à prática da dança, do clássico ao contemporâneo. Durante os últimos três anos, no Curso Se-cundário do Ensino Artístico Especializado de Dança, revela ter encontra-do uma preparação técnica intensa e o contacto com várias culturas. Foi ainda durante este curso que surgiu a possibilidade de pisar o palco pela Companhia Nacional de Bailado (CNB), devido à lesão de uma das baila-rinas da companhia. Leonor agarrou a oportunidade e integrou o corpo de baile do “Lago dos Cisnes”. No final do curso, entraria mesmo na CNB, cumprindo um sonho antigo: “conseguir ser bailarina profissional, sem sair do país”. Uma meta para a qual o ensino artístico foi muito importante, garante, “ao fornecer todas as ferramentas para cumprir este objetivo”.

Na margem certado Lago dos Cisnes

Enquanto estudante finalista do curso, candi-datou-se ao Prix de Lausanne. “É um evento bas-tante conhecido”, explica Leonor, “transmitido on-line e com grande exposição”. Para se candidatar, enviou um vídeo de um ensaio e de um solo.

A resposta chegou por e-mail: “Não”. “Cus-tou um bocadinho”, recorda a bailarina: “fiquei triste mas são obstáculos que temos de saber ultrapassar”. Nesse sentido, assegura, a vertente prática do curso “também ajuda a lidar com os nervos e com as desilusões”.

Algumas semanas depois, a CNB fazia uma proposta inesperada. A companhia necessita-

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va de duas dançarinas finalistas que aprendes-sem o corpo de baile do Lago dos Cisnes. A medida era de prevenção. “Havia muitas baila-rinas lesionadas, entre outras complicações”, explica Leonor.

As duas estudantes tiveram de aprender todas as danças de grupo do Lago dos Cis-nes o que, realça, “só por si, foi uma excelente experiência”. Aprendendo os movimentos dos atos II e IV– os chamados “atos brancos” do ballet clássico – Leonor e a sua colega foram colocadas lado a lado nas duas filas de cisnes que caracterizam a obra-prima de Piotr Tchai-kovsky. Leonor de Jesus foi o “cisne” do lado direito.

Como habitualmente, a temporada da CNB começou com um Ensaio Geral Solidário. Um ensaio com público que o torna, na prática, “um espetáculo com outro nome”. Durante a tarde, uma das bailarinas lesionou-se. Todas as bailarinas foram chamadas a palco. “Ou tira-vam alguém ou colocavam uma de nós – tinha de ser um número par de cisnes”, recorda.

As bailarinas foram colocadas em fila. A certa altura, alguém disse: “quem é que apren-deu o lado direito?”. Leonor levantou o braço. Era o “cisne” do lado certo. Faltavam cinco horas para o espetáculo. Tempo para rever a coreografia rapidamente. Depois, só restava pisar o palco. Estava “nervosa mas confian-te”, assegura. Lembra-se da ajuda das outras bailarinas: os sinais, os toques. “Correu bem”. Depois deste, faria todos os espetáculos da tournée. Na sala de ensaios, Leonor sorri. “Tive sorte”.

Tutus e pontas

A sua ligação com a dança começou tão cedo que as primeiras recordações são difusas. Aos 9 anos, a conselho da mãe, entrou nas au-las de ballet do Ginásio Clube Português. Até aí, Leonor dançava, sim, mas “á malucada”. Do bal-let, apenas “ouvia falar de tutus e pontas”.

“Simpatizei imediatamente com a dança”, assegura. Gostava dos movimentos e da músi-ca clássica. “E achava que tinha jeito”, relembra, acrescentando, num riso divertido: “se bem que as crianças acham sempre que estão a fazer tudo bem”.

A primeira pressão chegou ainda nessa fase, com os exames da Royal Academy of Dance. Recorda-se perfeitamente dos nervos, a colocar a laca e o gel. “Quando punha o gel e a laca já sabia que era exame ou sarau”, relembra.

Foi a conselho da professora Anabela Vieira que entrou no conservatório, aos 10 anos. Dizia--lhe que que tinha “corpo, talento e vontade”. Ainda hoje estão em contacto. Recentemente, numa entrevista, Leonor referiu o nome da sua primeira professora. Ela enviou uma mensagem de agradecimento a que Leonor respondeu.

No conservatório, Leonor descobriu um es-paço “mais rigoroso com regras acentuadas”. “Mas eu gostava dessa disciplina”, garante. No seu primeiro contacto com o conservató-rio, quando foi fazer as audições, passou por um grupo de meninas a chorar. “Tinham feito o exame do 5.º ano de dança”, explica Leonor. Foi aí que soube que “era a sério”. “Mas não tive medo”, realça, “percebi que era exigente”.

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Seguiram-se cinco anos conciliando a ver-tente académica com a dança. Pelo meio, um primeiro choque com a dança contemporânea – “não percebia muito bem o sentido de se an-dar a rebolar pelo chão” – rapidamente resolvi-do depois dos professores “explicarem o porquê dos movimentos”. Hoje em dia, gosta das duas vertentes – clássica e contemporânea – ao pon-to de não conseguir escolher uma das duas. “Fe-lizmente, aqui na CNB, tenho oportunidade de dançar os dois estilos”, sublinha.

De igual forma, na Companhia Nacional de Bailado, tem a possibilidade de conhecer profis-sionais oriundos de diversos países e culturas. “Na dança, é muito interessante este contacto”, realça, acrescentando: “foi uma das coisas de que gostei no curso e que ainda hoje se repete”.

As ferramentas da dança

Para além das oportunidades para crescer profissionalmente, Leonor de Jesus garante que o curso lhe trouxe um crescimento técnico e pessoal. “Deu-me todas as ferramentas para me tornar a bailarina que sou hoje – mostrou-me tudo o que é relacionado com a dança”, garante a bailarina.

“Deu-me tudo”, reforça. A ligação com o conservatório é longa. “Estive 8 anos no conser-vatório para me poder tornar bailarina profissio-nal, o curso apoiou-me e encaminhou-me para cumprir esse objetivo”, sublinha.

Foi por volta do 9.º ano de escolaridade que teve a certeza que queria continuar ligada a esta área. “Podia ter ido para outro curso mas, na al-

tura, não pus outra hipótese”, acrescenta. Uma decisão importante, tendo em conta que, du-rante o ensino secundário, “a vertente artística aumenta – tens de ter mesmo a certeza de que é o que queres”.

De resto, este aumento tem as suas conse-quências. Leonor vai enumerando as lesões: lu-xação no braço, edema no tornozelo, tendinite no pé esquerdo. “Exige muito do nosso corpo”, garante, revelando: “todos os dias tenho dores musculares”. Mas as dores são, assegura, um bom sinal. “São sinal de crescimento – sinal de que nos estamos a ultrapassar”.

Crescer plié a plié

À saída do Teatro Camões, Leonor aponta o alinhamento para o próximo bailado – “A Bela Adormecida”, outra das obras de Pyotr Tchai-kovsky. Entre os solistas, há espaço para perso-nagens como Pássaro Azul ou Princesa Florine.

Um ano depois da entrada na Companhia Nacional de Bailado, aos 19 anos, Leonor pas-sou de estagiária para membro permanente do corpo de baile. Na carreira de uma bailarina, se-guem-se outras posições como corifeu ou solis-ta. Mas o objetivo é “ir subindo gradualmente”. Antes da despedida, ainda há tempo para um sorriso final e uma garantia: “tenho tempo para crescer”. n

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Lília OliveiraCurso Profissional de Técnico de Turismo e Informação Turística

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Na noite em que o complexo turístico do Monte Giestal foi inaugurado, Margarida Silva fez um breve discurso. No pátio de entrada, rodeados pela planície alentejana, mais de 100 convidados ouviram as palavras da proprietária. Incluída na plateia estava Lília Oliveira, a técnica de turismo recém-contratada para este projeto. “Fiquei muito emocionada quando a Guida fez o discurso”, relembra Lília. “Ela agradeceu à famí-lia e eu senti uma ligação à terra que não tinha sentido em nenhum trabalho até aí – senti-me em casa”.

Até essa noite, a vida de Lília incluíra diferen-tes experiências profissionais: das Pousadas de Portugal a hotéis de cinco estrelas. Porém, tudo começou em 2006, à entrada para o secundário, quando escolheu o curso profissional de Técni-

Lília Oliveira escolheu o ensino profissional por querer “algo mais prático” e “com resultados imediatos”. Depois de terminar o curso profissional, trabalhou em hotéis e pousadas um pouco por todo o Alentejo e até no Algarve. Mas 2011 seria “o ano da mudança”. Lília tornava-se a técnica de turismo responsável pela Herdade do Monte do Giestal, em Santiago do Cacém, a sua terra natal. Um regresso que foi adiado e ansiado durante alguns anos: “eu nasci no monte – vivo na cidade mas nasci no monte – e agora tomo conta de um”.

A mulher que tomaconta do monte

co de Turismo e Informação Turística, na Escola Profissional de Grândola.

O caminho até ao curso teve os seus obstá-culos. No final do 9.º ano de escolaridade, Lília inscreveu-se no Exército e na Marinha. Contudo, desistiria ainda antes do final do verão. A partir daí, sabia apenas que queria algo que “tivesse resultados imediatos” e que envolvesse comuni-cação. “Sempre gostei de falar com as pessoas”, explica.

Para Lília, “a vocação nasce connosco mas temos primeiro de a encontrar”. Por essa ra-zão, inscreveu-se em três escolas profissionais – Odemira, Évora e Grândola – e esperou uma resposta. Quinze dias “de grande tensão” passa-ram, já com as aulas a decorrer. Por fim, Évora e Odemira disseram que não. Grândola abriu uma

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vaga no curso de Técnico de Turismo e Informa-ção Turística.

“Fui ver o perfil e as saídas profissionais e percebi que ia ao encontro do que procurava: conhecer e falar com pessoas novas, bem como viajar por vários locais”, conta Lília. Ao outro dia de manhã, foi à escola fazer a matrícula e come-çou as aulas imediatamente.

Se tivesse escolhido um curso científico-hu-manístico, assegura, “apenas teria emprego daí a uns sete anos”, ou seja, “aos 19 anos, estaria a entrar na universidade e não tinha nada”. A hoje técnica de turismo queria uma opção “que permitisse uma entrada mais rápida no mercado trabalho” e que “desse frutos”. “E deu”, conclui.

Dois estágios e um desejo

O curso profissional deu-lhe as ferramentas que permitiram começar a vida profissional: “o que aprendi ajudou-me a enfrentar as primeiras barreiras”. Os três anos do curso, sublinha Lília, foram “extremamente positivos”, destacando, sobretudo, a componente prática – “a parte mais importante, até para se perceber se real-mente se gosta daquela área e profissão”.

Nesse sentido, os dois estágios incluídos no curso profissional foram essenciais. Lília esta-giou em dois hotéis de características bastante diferentes, sem nunca perder de vista o desejo final. “Sempre disse que queria ir para o turismo rural”, revela.

Terminado o curso e defendida a Prova de Aptidão Profissional (PAP), Lília enviou o seu CV para um dos hotéis em que estagiou. A

resposta veio na forma de uma proposta ines-perada: “ofereceram-me a possibilidade de to-mar conta de uma unidade de turismo rural em Monte do Carmo”.

“Ainda agora acabei o curso e já me está a oferecer uma responsabilidade dessas?”, per-guntou Lília. A resposta foi positiva. Lília, con-tudo, não aceitou. “Recusei a proposta porque queria começar no terreno, por baixo, para que depois uma oportunidade dessas surgisse natu-ralmente”, explica, concluindo: “quando se co-meça por cima a base não está construída”.

A filosofia da humildade

A PAP de Lília Oliveira intitula-se “A Receção como base da unidade hoteleira” e, segundo a própria, relaciona-se com uma noção de humil-dade. “No terreno é que percebemos como as coisas funcionam”, assegura, lembrando que os pormenores podem fazer a diferença quanto à satisfação do cliente.

De forma a ter esta experiência no terreno, Lília passou então por diversas Pousadas de Portugal no Alentejo. “Uma grande escola”, as-segura. Até que o “contexto dentro das Pousa-das mudou” e sentiu vontade de sair.

“Agora vem a parte da loucura”, começa por contar, entre sorrisos. Chegámos a 2011 ou “ao ano da mudança”, como lhe apelida. O ano começa com Lília a despedir-se e a abdicar do seu lugar de efetiva para ir trabalhar para o Al-garve, num hotel de cinco de estrelas, “numa experiência totalmente diferente”.

Ainda que tenha encontrado coisas “muito

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interessantes” nessa experiência, para Lília, “não era a mesma coisa”. Por exemplo, não podia ter a mesma relação próxima e afável com um cliente. “Eu tinha escolhido esta profissão pelo contacto com as pessoas”, relembra, “e estava a ter tudo menos isso”.

“Por outro lado”, diz, enquanto aponta a pla-nície envolvente: “eu gosto muito do meu Alen-tejo”. Quando ia de carro para o Algarve “e via aquela placa grande a dizer Algarve, sentia uma tristeza no coração”.

A ligação à terra seria restabelecida no final de 2011. A 29 de outubro, Lília é entrevistada para o posto de técnica de turismo do investi-mento de turismo rural que abriria dentro em breve – o Monte Giestal. Ficaria com o posto, naquele que foi “um sonho tornado realidade”. “No dia em que abriram as instalações para uma visita da população, mostrei os diferentes espa-ços e estava em casa, estava perfeitamente à vontade”, sublinha.

Mais do que uma segunda opção

Hoje em dia, olhando para o seu percurso, Lília não tem dúvidas: “o Ensino Profissional não deve ser visto apenas como uma segunda opção – para mim foi a primeira desde cedo”. Para a técnica de turismo, quando falamos de um curso profissional, “estamos a falar concre-tamente de um trabalho ou profissão”.

Segundo Lília, há ainda uma característica que pode fazer a diferença nesta área: a espon-taneidade. “Eu não tenho uma barreira para o cliente, mostro-lhe o que sou e isso cria uma

relação de confiança. É sempre melhor do que mentir. A mentira tem perna curta”, reforça.

Para trabalhar na área do turismo, ressalva, é preciso “muito trabalho, atitude positiva, capa-cidade de comunicação e disponibilidade”. Mas há algo que deve ser valorizado acima de tudo, no dia a dia: “Eu digo aos meus colegas, não me preocupo com o patrão, preocupo-me com o cliente”. “Só quero que eles passem aquele por-tão e digam ‘gostámos tanto’ ou ‘sentimo-nos tão bem’ e ‘vamos voltar’”. n

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Luís MachadoCurso Profissional de Hotelaria e Restauração

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O primeiro prémio culinário de Luís Machado chegou aos 10 anos de idade – “O Melhor Baca-lhau à Brás”. O prato foi cozinhado em lume de lenha, por uma simples razão: a competição de-correu num acampamento de escuteiros perto de Salvaterra de Magos, vila de onde é natural. As primeiras experiências culinárias de Luís Ma-chado decorreram, por isso, fora da cozinha e ao ar livre. “O primeiro contacto com este mundo foi nos escuteiros”, revela. Quanto ao prémio, re-corda-se de sentir “orgulho por conquistar um prémio para o agrupamento”.

Passadas quase três décadas, Luís Machado recebeu-nos no seu local de trabalho enquanto

Na altura da escolha de um curso profissional, até foi a vertente do tra-balho de bar que mais cativou Luís Machado. Porém, depois de entrar no Curso Profissional de Hotelaria e Restauração, na Escola Profissional de Salvaterra de Magos, rapidamente descobriu a sua vocação: “comecei a ganhar uma paixão pelo mundo da cozinha e passou a ser a vertente em que quis apostar mais”. Ainda durante o curso, começou a sua vida profissional, fundando, juntamente com alguns colegas, uma empresa de catering que servia ao fim de semana. Mais tarde, chegariam os convites para integrar a Teleculinária – revista que lhe “abriu as portas de Portu-gal inteiro” – e para ser professor do Instituto Politécnico de Leiria (IPL). Olhando o seu percurso, assegura que uma carreira de sucesso nesta área é “como uma flor”: “tens de semear, regar e cuidar – e a semente surgiu na Escola Profissional”.

A flor semeada em Salvaterra

professor: uma sala de aulas práticas de cozinha, na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar, em Peniche. A aula que está a decorrer é de Gastronomia Internacional e o ambiente é efer-vescente. Há uma baklava no forno, uma pael-la a apurar, uma pizza acabada de sair. Mais ao fundo, alguns alunos debruçam-se sobre quatro tartes de chocolate e framboesa. Durante a nos-sa conversa, Luís Machado é frequentemente requisitado por diversos alunos e ele próprio desloca-se até às diferentes bancadas, esclare-cendo dúvidas e fornecendo sugestões.

Este ambiente dinâmico e agitado de uma cozinha foi, precisamente, uma das coisas que

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o atraiu para consolidar uma vida profissional nesta área: “o trabalho numa cozinha não é re-petitivo, todos os dias há uma coisa nova, coisas a melhorar e a testar”. Contudo, depois da ex-periência nos escuteiros enquanto criança, esta vocação ficaria adormecida, até ao momento da escolha de um percurso de ensino secundário.

“Até ao 9.º ano não tinha nenhuma relação em especial com a cozinha”, relembra Luís Ma-chado. À época, já trabalhava em alguns bares ao fim de semana. Na mesma altura, surgia em Salvaterra de Magos o curso profissional de Hotelaria e Restauração que agregava as áreas de cozinha, restaurante e bar. “Até foi a verten-te formativa para bar que mais me interessou quando escolhi o curso”, revela. Porém, o con-tacto com o mundo da culinária “rapidamente fez surgir a paixão pela cozinha”.

A paixão era alimentada em casa, pelo tra-balho conjunto com a mãe e a avó. “O inte-resse foi crescendo e apercebi-me da minha vocação pela cozinha – passou a ser a vertente em que quis apostar mais”. No segundo ano do curso, já trabalhava ao fim de semana e, pouco tempo depois, abriu um serviço de ca-tering, em conjunto com um grupo de colegas da escola. Estava restabelecida uma relação que dura até aos dias de hoje.

Das Lezírias à cantina

Depois de terminado o curso – que in-cluiu dois estágios na zona de Lisboa – Luís Machado recebeu o convite para trabalhar na Coudelaria da Companhia das Lezírias, um

restaurante que descreve como sendo “de um segmento alto”. A adaptação ao mercado de trabalho, garante, “foi fácil”: “durante o curso, já trabalhava de quinta a domingo – o ritmo foi quase o mesmo quando passei para o merca-do de trabalho”.

Por outro lado, destaca, o curso ajudou a essa adaptação. De resto, para o chef de co-zinha, a mais-valia da formação profissional é, precisamente, “considerar que deve haver conteúdos escolares mas também uma outra vertente, próxima do mercado de trabalho”.

Uma proximidade que “faz todo o sentido”, realça, sendo esta uma área “onde é necessário colocar as mãos na massa”. Para quem queira tirar uma licenciatura, por exemplo, é impor-tante, segundo Luís Machado, a passagem pelo Ensino Profissional: “já levas o saber-fa-zer do curso profissional, depois é só desen-volver outros conhecimentos mais específicos, como a nível nutricional ou toxicológico”.

Para o chef, os portugueses em geral aper-ceberam-se deste potencial das opções pro-fissionalizantes. “As pessoas perceberam que o Ensino Profissional não é uma segunda esco-lha”, realça, acrescentando: “neste momento, é mesmo a primeira”. Em termos de formação, quem vem do Ensino Profissional, sublinha, encontra “algo mais específico direcionado para o que pretende alcançar”.

Foi exatamente essa a opção que Luís Ma-chado tomou. Um ano depois de completar o curso, decidu ingressar no ensino superior, mais concretamente, na licenciatura em Cozi-nha e Produção Alimentar, na Escola Superior

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de Hotelaria do Estoril. Luís Machado desta-ca as experiências muito diversificadas – com estágios numa empresa de desenvolvimento alimentar e numa empresa de alimentação co-letiva – como forma de se completar enquanto profissional. Numa cantina, por exemplo, che-gam a servir-se 20 mil refeições diárias. Uma realidade bastante distinta dos restaurantes de gourmet. “Costuma dizer-se que quem conse-guir entrar nesse ritmo, trabalha em qualquer lado do mundo”, acrescenta.

Como para os amigos só que para milhares

Em junho de 2005, surge um novo desafio: um convite para integrar a revista Teleculiná-ria, revista que lhe “abria as portas a Portugal inteiro”. “Mais um crescimento”, resume Luís Machado. Mas, no fundo, há coisas que não mudam. “Era como cozinhar para os amigos, só que, desta vez, para publicar e ser visto por milhares de pessoas”, destaca.

Por essa razão, essa exigência tornou-se diferente. Por receita, poderia ter “duas mil ou três mil pessoas a dar sugestões”. Certa vez, teve até um leitor que lhe ligou para dizer que o pudim que fez em casa não tinha a mesma cor que na fotografia. “Foi um novo desafio e eu gosto de desafios”, resume.

A partir daí, considera que “houve uma projeção diferente”. Passou a aparecer em programas de televisão, a ter acordos com marcas, a ver aumentar o número de seguido-res na página de Facebook. Tudo coisas “mui-to importantes nesta área”.

Por volta da mesma altura, surge o convite do Instituto Politécnico de Leiria (IPL). Para trás fica-va o trabalho em restaurantes e a formação em hóteis. Pela frente, a revista Teleculinária e as au-las no IPL. “Trabalhos diferentes mas igualmente importantes”, sublinha.

No geral, considera, houve “um crescimento, uma moldagem”. Uma carreira ligada à cozinha, destaca, “é como uma flor: tens de semear, regar, cuidar”. “O semear foi na Escola Profissional por-que ainda hoje sinto que há conhecimentos im-portantes que lá aprendi: foi o começo de tudo, foi a base de tudo”.

Contudo, a base não chega. Enquanto os seus alunos se revezam nos balcões e terminam o em-pratamento, Luís Machado realça que um jovem que queira ter sucesso nesta área tem de ter al-gumas características essenciais. Por um lado, ser dinâmico, de forma a acompanhar o ambien-te acelerado da cozinha. Por outro, é necessário ter abertura para uma aprendizagem contínua, já que “há sempre uma evolução na cozinha, nada é estanque”. Ainda recentemente, exemplifica, partiu de mota em direção a Marrocos, fazendo 4000 quilómetros em 12 dias, “à procura de no-vas especiarias e sabores”.

Um dos alunos passa rapidamente, procuran-do o mel, provavelmente para dar o toque final à baklava. Luís Machado dá algumas indicações, antes de voltar à conversa. “Ainda hoje aprendo com os meus alunos”, realça, concluindo: “tento passar todos os meus conhecimentos e isso é muito gratificante”. n

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Miguel van UdenCurso Profissional de Técnico de Comércio

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O dia é fácil de relembrar e Miguel van Uden tem a data na ponta da língua: “7 do 7 de 2007”. Foi o dia em que o primeiro restau-rante H3 abriu portas, no Centro Comercial Monumental, na Praça Duque de Saldanha, em Lisboa. O conceito era inovador e seguia ten-dências ainda pouco exploradas em Portugal, como o Hambúrguer Gourmet ou a Not So Fast Food. Por essa razão, relembra o sócio funda-dor, houve espaço para as dúvidas normais de quem faz uma nova aposta. Oito anos depois, no interior do seu gabinete decorado com di-

Miguel van Uden integrou a primeira turma da Escola de Comércio de Lisboa (ECL), em 1989. Para tal, desistiu de um curso de desporto de nível secun-dário, entrando numa opção que considerou “mais adequada” ao seu perfil. Depois de completar o curso, e após 10 anos a trabalhar por con-ta de outrem, chegaria a ânsia pela liberdade de “fazer outras coisas”. Essa autonomia surgiria através de um projeto a três, nascido e criado na Avenida da Liberdade: o Café 3. Um espaço que foi a “antecâmara” dos hambúrgueres H3, fundados em 2007 e estreados no Centro Comercial Monumental, na Praça Duque de Saldanha. Avaliando a escolha pelo Ensi-no Profissional, mais de 20 anos passados, o empresário assegura não ter dúvidas: “sinto que foi uma boa decisão”.

A liberdade subiu a Avenidae chegou ao Saldanha

versos momentos da história do H3, recorda, entre sorrisos: “Chegámos a pensar – ‘hambúr-gueres? Mas será que as pessoas vão comer hambúrgueres?’”.

Ao almoço, foram vendidos 80 hambúrgue-res – um número que, “na altura, foi óptimo”. “Hoje em dia vender 80 almoços é quase um de-sastre”, realça. À noite, um cliente fez um pedido “muito específico”. O visitante acabaria por con-fessar que conhecia o menu: “já vim cá almoçar. E agora trouxe a minha mulher e a minha sogra”, explicou. “Na altura, entendemos isto como um

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sinal de que havia qualquer coisa de especial no nosso conceito”, recorda o empresário.

Oito anos mais tarde, o H3 conta com 47 lo-jas em Portugal, 17 no Brasil e cerca de 700 co-laboradores. Hoje, assegura Miguel van Uden, “é uma marca estável com uma equipa muito sólida”. Um processo de maturação que se de-veu, em parte, a uma experiência anterior na área da restauração que envolveu os mesmos três sócios. “O H3 não teria corrido tão bem, se não tivesse existido a antecâmara do Café 3 – costumo dizer que, para mim, foi uma uni-versidade no mundo da restauração”, garante.

O Café 3 foi a primeira experiência empreen-dedora. Surgiu em 2004, numa fase em que, ao fim de 10 anos a trabalhar por conta de outrem, Miguel mas não se sentia “realizado profissio-nalmente”. A ideia de abrir um restaurante já tinha sido falada com o primo, Albano Homem de Melo, publicitário de carreira com um gosto especial pela cozinha – “o melhor restaurante de Lisboa é a casa dele”, garante van Uden.

“Quando erámos miúdos dizíamos que um dia íamos abrir um restaurante”, revela. Porém, não se tratava de uma promessa ou compro-misso: “não era nada de muito sério, era daque-las coisas que se diz”. “Até que um dia fomos almoçar à Avenida da Liberdade”, começa por contar.

Homem de Melo estava sob stress no tra-balho. van Uden sentia-se bem na empresa em que trabalhava mas queria ter a liberdade de “fazer coisas diferentes” e perguntava-se: “o que é que vou fazer a seguir?”. A certa altura concordaram. “É agora, temos de descobrir um

espaço”. Como trabalhava no ramo imobiliário, Miguel conhecia um local apropriado no Tivoli Forum. Decidiram convidar um terceiro sócio – António Araújo, amigo de infância e advogado, que aceitou.

A partir daí, foi tudo “relativamente rápido”, considera. Em menos de um ano, o Café 3 abria portas – um “restaurante tradicional” com 170 lugares que se destacaria pelos almoços e por alguns pratos em específico. Um deles viria a ter especial relevância: um hambúrguer artesa-nal de 200 gramas que era conhecido por al-guns como “o melhor hambúrguer de Lisboa”.

Miguel van Uden foi o único dos fundado-res que deixou definitivamente a sua atividade profissional para se dedicar ao Café 3. E, na altura de fazer o estudo de mercado, garante, teve a ajuda de “uma muleta”: “fui ao fundo da gaveta buscar a minha Prova de Aptidão Pro-fissional (PAP)”.

O “Mister” van Uden

Numa das paredes do escritório, destaca-se um quadro com uma caricatura de Miguel van Uden. No topo da ilustração, chama à atenção um boné desportivo. No fundo, duas simples palavras: “O Mister”.

Numa outra parede, uma planta de um res-taurante H3 faz lembrar um quadro tático com instruções pré-jogo. “São brincadeiras do Alba-no”, explica o empresário. Tudo está ligado às suas tarefas como responsável de operações. Por vezes, dizia nos restaurantes: “vamos jo-gar em 1-2-1: quero um na grelha, 1 nas batatas,

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etc…”. “Também é porque gosto muito de des-porto”, acrescenta.

Foi precisamente o gosto pelo desporto que o levou a escolher essa via no ensino secundário. Contudo, tudo mudaria quando o pai sugeriu o Curso Profissional de Técnico de Comércio, na Escola de Comércio de Lisboa. Na altura, a en-trada funcionava mediante entrevista. “Eu gostei da escola e eles gostaram de mim”, resume.

Captaram-lhe a atenção, recorda, o projeto da escola e o facto de encontrar algumas disci-plinas “diferentes do ensino tradicional”. Havia disciplinas como “Empreender” ou “Vendas”. “Tudo isso me cativou – via-se imediatamente que se tratava uma formação mais específica”, salienta, concluindo: “eu não era mau aluno mas o Ensino Profissional adequava-se mais ao meu perfil”.

Por outro lado, os estágios também foram um dos atrativos do curso profissional. Fez três estágios diferentes – tanto em ambiente de es-critório como no terreno – numa experiência diversificada que “ajuda a perceber o que é o mundo do trabalho, nas suas variações”. “Para um miúdo de 17 anos ter essa experiência é po-sitivo”, reforça.

Um Ensino (mais) Profissional

Olhando a decisão tomada há mais de 20 anos atrás, Miguel van Uden diz-se “sem dúvi-das”: “foi uma boa decisão”. Por um lado, garan-te, a proximidade ao mercado de trabalho “traz mais bagagem”, por outro, “permite o prosse-guimento de estudos”. Numa frase, “dá-nos

mais opções”. “Hoje em dia, só vejo vantagens em optar pelo Ensino Profissional”, acrescenta.

A área do comércio, em específico, está “em franca expansão”, acredita, o que torna esta saí-da profissional uma boa opção. “O comércio de rua está a crescer rapidamente, por exemplo – é uma área interessante que pode ter alguma saí-da no futuro”.

Miguel ingressou no Ensino Profissional em 1989. Muito mudou desde então. “Pelos eventos em que sou convidado pela ECL, percebo que o Ensino Profissional está mais… profissionali-zado”, refere. A Escola de Comércio de Lisboa, que nesse ano iniciava a sua atividade, não foi exceção: “vejo uma escola ativa, dinâmica que cria condições para a formação de bons técni-cos profissionais”.

Segundo o empresário, tem sido precisa-mente o trabalho desenvolvido no terreno que permitiu uma mudança na forma como a socie-dade se relaciona com este tipo de ensino. “A imagem do Ensino Profissional é cada vez mais positiva – e isso resulta do que as escolas profis-sionais têm feito”, conclui. n

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Nair XavierCurso Profissional de Técnico de Design de Moda

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Em março de 2014, na Praça do Município, em Lisboa, Nair Xavier cruzou a passerelle pela primeira vez enquanto criadora. À sua volta, uma amálgama de fotógrafos, luzes, gritos de apoio, tudo com direito à família na plateia. Quando saiu do palco, Nair escondeu-se e cho-rou durante meia hora. “Chorei de alegria”, re-corda. Já tinha estado no ModaLisboa, enquanto espetadora e assistente. Nunca como criadora. “Tive a certeza que estava a fazer a coisa certa”, assevera, acrescentando: “sinto que foi aí que começou a minha carreira”.

Hoje com 25 anos, Nair recebeu-nos no seu espaço de trabalho: um atelier amplo e lumino-so, com vista privilegiada para uma das colinas lisboetas. Situado no LX Factory – um antigo edifício fabril do século XIX que hoje alberga di-versas indústrias criativas – o atelier representa uma ligação com a escola profissional que se mantém até aos dias de hoje.

Tudo porque o espaço, denominado EML

A avó foi a primeira formadora de Nair Xavier. Começou pela técnica de cozer à mão: a roupa para as bonecas, o lenço do avô. “Sempre mexi na caixa das agulhas”, conta. Aos 14 anos, Nair escolheu o curso profissional de Técnico de Design de Moda, na Escola de Moda de Lisboa (EML). Des-de então, sucederam-se novas etapas e desafios: Londres, ModaLisboa, coleções apresentadas, desfiles de nervosismo e ainda a sua própria mar-ca que, espera, cresça durante os próximos anos. Na raiz, um elemento em comum, assegura: “tudo começou no curso – foi a base para tudo isto”.

Das bonecas à passerelle

Factory, é dinamizado pela Escola de Moda de Lisboa, servindo de apoio a novos criadores, em regime de co-working. “Pagamos uma renda simbólica e temos acesso a tudo, só precisamos de trazer as nossas coisas – para quem está a começar, faz muita diferença”, sublinha.

“Começar” diz respeito à marca “Nair Xa-vier”. A relação com a moda, essa, garante, che-gou quase à nascença: “desde criança que me lembro de querer ser designer de moda”.

A avó, com quem morou durante a infância, foi especialmente importante no cultivo deste gosto. Nair mexia na caixa de agulhas da avó e queria imitar tudo o que ela fazia. “Ela ensinou--me a cozer à mão – a primeira formação foi da avó”, relembra, concluindo: “sempre tive esta vocação, esta paixão, que acabei por seguir”.

O primeiro passo foi dado aos 14 anos. “Deci-di inscrever-me num curso profissional na Esco-la Profissional Magestil”, conta. À época, teve de enfrentar alguma resistência por parte dos pais,

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devido ao receio da empregabilidade: “estive quase a ir para um curso de hotelaria até que decidi – ‘é isto que eu quero, é o que vou fazer’ – e fui em frente”.

Uma criança com responsabilidade

Cedo, o curso cativou Nair “pela sua verten-te técnica”. “Aprendi todo o processo de fazer roupa, do desenho à montagem final – tudo isso me conquistou”, sublinha. Para Nair, tratou-se de um curso “bastante completo” que permitia ter-minar o secundário e “trabalhar logo a seguir na área que queria”.

Tão importante como o crescimento técnico, destaca, foi o crescimento pessoal: “durante o curso, era-nos conferida responsabilidade e isso levava a uma postura profissional”. A maturida-de foi uma consequência natural. “Acabei o cur-so com 17 anos, era uma criança: sinto que se tivesse terminado outro tipo de ensino não teria a postura para começar logo a desempenhar a profissão e a trabalhar com pessoas com mais anos de experiência”.

Neste processo de crescimento, realça, a Pro-va de Aptidão Profissional (PAP) desempenhou um papel especial, no sentido de uma formação abrangente. “Durante a PAP passámos por todo o processo de produção – foi bastante profun-do, desde os pormenores mais artesanais aos que apenas se utilizam em fábricas de topo”.

O desfile de apresentação das PAP dos alu-nos da EML (dos cursos de Design de Moda e de Coordenação), no Centro Cultural de Belém, tornou-se, por isso, um momento marcante. O

átrio principal do CCB estava cheio e havia “mui-to nervosismo”, segundo Nair.

Esta era a primeira que os alunos viam uma coleção da sua autoria apresentada ao públi-co. “Senti que as roupas eram os meus bebés – depois de tantos meses a trabalhar, eram qua-se como filhos”, salienta Nair. Durante o desfile olhava para a cara das pessoas, tentando adi-vinhar o que viam ou sentiam. Em retrospetiva, Nair considera que “a experiência não podia ter corrido melhor: as pessoas bateram palmas e a família apoiou”.

No final do desfile, de resto, Nair notou que, ao ver o resultado do seu trabalho, os pais ti-nham mudado de opinião. “Ficaram muitos feli-zes, deram-me os parabéns e disseram-me que agora era mais fácil acreditar num futuro nesta área”, recorda, sorridente.

Londres, Portugal e o Sangue Novo

Terminado o curso, em 2007, Nair trabalhou como assistente numa marca de designers. À época o seu objetivo não passava por ingressar no ensino superior. Contudo, em conversa, os designers – formados em Londres – sublinharam as vantagens da faculdade. Nomeadamente, do London College of Fashion. Nair decidiu ir à en-trevista de acesso.

No ano seguinte, entrava na licenciatura em Design de Moda, na universidade britânica. “Na moda, as influências são tudo”, explica, “não po-demos fechar horizontes – em Londres, encon-trei um mundo completamente diferente que influenciou as minhas criações”.

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No curso superior, denotou uma diferença curiosa face aos seus colegas. “Quando cheguei à faculdade, apercebi-me que tinha aprendido muita coisa: durante o primeiro ano, pratica-mente só coloquei em prática o que já tinha aprendido no Ensino Profissional”.

Essa preparação fazia com que ocupasse pa-péis inesperados: “muitas vezes ficava nas aulas a ajudar os meus colegas, os professores sabiam que eu já sabia fazer”. “Penso que é uma boa prova da boa preparação que tive durante o cur-so profissional”, salienta.

Depois do curso, montou um pequeno ate-lier em casa, durante dois anos, até que surgiu a oportunidade de se inscrever no Sangue Novo do ModaLisboa – o projeto que procura novos criadores. Nair elaborou uma proposta que foi aceite. Executou a coleção para apresentar na ModaLisboa.

Participou em duas edições, até que, no período de preparação da terceira, chegou o convite para integrar a plataforma intermédia da ModaLisboa – o LAB. “Requer o dobro do trabalho, salienta Nair que esclarece: “o LAB é para marcas que se iniciam e não para jovens designers”.

A marca Nair Xavier dá assim os primeiros passos. Uma marca centrada na roupa de homem – paixão descoberta durante a Prova de Aptidão Profissional e que perdura até aos dias de hoje – por serem peças “feitas para durarem anos e anos e, por isso, com uma técnica mais exigente do que a da roupa de mulher”.

Para o futuro próximo, espera ter um espa-ço próprio e uma equipa integrada que permita

“consolidar a marca”. “Ter áreas de criação, mar-keting, contabilidade – uma estrutura” que per-mita, nomeadamente, internacionalizar a marca. “O mercado em Portugal é pequeno mas, lá fora, as exigências são outras – ainda não tenho ca-pacidade para chegar lá”.

No mundo da moda, salienta, “cria-se uma barreira entre o criador e o cliente”. A produção por si tem um custo elevado e um casaco pode custar 300 euros. As lojas, muitas em consigna-ção, duplicam o preço. “Quem é que vai com-prar um casaco por 600 euros?”, interroga Nair. Para quebrar essa barreira, realça, é preciso in-ternacionalizar: “Quantos e quantos designers portugueses apresentam aqui e depois expor-tam para os seus clientes estrangeiros”.

Olhando para a sua situação profissional, Nair garante que tem “conseguido realizar os so-nhos”. Contudo, não esperava que tudo aconte-cesse tão rápido: “quem vê de fora pode pensar que não é muito mas, para um designer jovem, hoje em dia, ter um espaço para trabalhar e uma plataforma onde apresentar é muito”, realça.

E qual o papel do curso em todo este pro-cesso? “Se não fosse o curso profissional não teria chegado onde cheguei. O curso foi a base para tudo isto. Tanto que ainda hoje estou liga-da à escola profissional. Ainda hoje aplico o que aprendi no curso. Não seria feliz como sou e não me sentiria realizada ou, pelo menos, a realizar um sonho. O curso ainda hoje é uma parte im-portante deste processo”, conclui. n

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Nuno MendonçaCurso Profissional de Técnico de Mecânica e Manutenção Industrial

Embaixadordo Ensino

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“O meu irmão também podia ser embaixador do ensino profissional”, sublinha, a certa altu-ra, Nuno Mendonça. O irmão, Guido Mendonça, também está no gabinete que dividem: duas se-cretárias amplas colocadas lado a lado, com vista para o armazém e para a linha de inspeções da SQC, no Parque Industrial Autoeuropa, em Setú-bal.

Os percursos dos dois irmãos, esclarece Nuno Mendonça, é “95% semelhante”. Os 5% de dife-rença dizem respeito ao tempo em que, depois de se candidatarem ao mesmo posto de traba-

Nuno Mendonça frequentava já o 12.º ano de escolaridade quando decidiu optar pelo Ensino Profissional, a conselho do irmão, Guido Mendonça. Jun-tos, entrariam no curso profissional de Técnico de Mecânica e Manutenção Industrial, na Escola Profissional de Setúbal. Os seus percursos seriam, a partir daí, “95% semelhantes”. Com o curso, garante, “tiveram uma rápida entrada no mercado de trabalho e as bases para o desenvolvimento pes-soal”. Ao fim de um ano, deixavam a linha de produção para entrarem no departamento da qualidade. Em 2001, surgia a oportunidade para cumprir um objetivo antigo: fundar uma empresa na área da Qualidade e Con-sultadoria – a SQC, que hoje dirigem. Com 420 trabalhadores e 15 sedes espalhadas por Portugal, Espanha, Alemanha, Polónia e Marrocos, a SQC foi também ela crescendo, sob a direção dos irmãos Mendonça. Por tudo isto, Nuno vê no curso uma “grande importância, tanto a nível pessoal e profissional”. Olhando para a escolha que fez há mais de 20 anos atrás, não tem dúvidas: “sinto que foi a melhor decisão”.

O plano dos irmãos Mendonça

lho, Guido ficou como diretor da qualidade de uma empresa de logística.

Nessa entrevista de emprego, Nuno Mendon-ça recorda que as semelhanças dos dois percur-sos levaram mesmo a “uma situação curiosa”. Depois de chegarem ao local da entrevista, foram chamados para entrar em conjunto. “Foi aí que começámos a achar estranho”, refere Nuno.

A entrevistadora – “uma senhora alemã” – perguntou aos irmãos se tinham copiado os currículos. Entre sorrisos, Nuno Mendonça recor-da: “depois de nos explicarmos, ela achou inte-

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ressante esta semelhança e perguntou-nos qual de nós deveria ficar com o trabalho”. A decisão, tomada em conjunto, foi indicar Guido como o candidato mais adequado.

Durante este período, Nuno Mendonça tratou do processo de criação da empresa que hoje di-rigem. O plano passava por dotar a empresa de uma estrutura que permitisse a integração de Guido, no futuro. “Até que fosse me possível reti-rar um salário da SQC”, revela Nuno, Guido divi-diu o ordenado com o seu irmão.

Esta ligação com o irmão, explica Nuno, “foi um apoio importante e que se nota até aos dias de hoje”. Uma boa relação que já existia e que, acrescenta, “ficou mais sólida durante o curso”.

Vantagens únicas, decisões conjuntas

Nuno Mendonça já estava no 12.º ano quando o irmão lhe falou do curso profissional. “Na altura, achei interessante poder optar pelo mercado de trabalho ou pelo ensino superior, no final dos três anos”, recorda.

Os dois irmãos entraram em conjunto no curso profissional de Técnico de Mecânica e Manuten-ção Industrial. Esta mudança no trajeto escolar “foi a melhor decisão”, considera Nuno Mendonça, que explica: “as componentes prática e teórica do curso permitem-nos desenvolver o nosso trabalho de forma mais rápida e eficaz – isso acaba por nos fazer ganhar destaque dentro da empresa”.

Esta “vantagem” seria comprovada durante a primeira experiência no mercado de trabalho. Após o curso, Nuno e Guido Mendonça come-çaram a trabalhar, no mesmo dia, numa empresa

que produz assentos na Autoeuropa. “O nosso primeiro trabalho foi na linha de produção – es-távamos a apertar uns parafusos e a fazer uns furos”, recorda Nuno. Graças ao curso, contudo, “já tínhamos formação suficiente para apresen-tar uma proposta de melhoria, por exemplo”. Ao final de um ano, seriam integrados no departa-mento da qualidade.

Já depois de efetivos nesse primeiro empre-go, receberam uma proposta de uma outra em-presa para se tornarem supervisores da qualida-de. Aceitaram e, novamente, iniciaram funções no mesmo dia. “Acabámos por tomar todas as decisões em conjunto”, realça Nuno Mendonça.

Quando a empresa em que faziam supervisão lhes colocou o cenário de “apenas poder ficar com um”, a resposta dos irmãos Mendonça foi elucidativa: “em vez de ficarem com um, ficaram sem nenhum e saímos completamente”. Seria en-tão que os currículos se alterariam. Guido entra-va para diretor da qualidade na empresa alemã. Nuno preparava a criação da SQC.

Uma oferta diferente e diferenciada

Durante os primeiros tempos, a SQC vivia da “mão de obra de amigos”, refere Nuno Mendon-ça. No final de 2002, começaram a entrar os pri-meiros funcionários. Hoje, a SQC conta com 420 trabalhadores e 15 sedes espalhadas por Portu-gal, Espanha, Alemanha, Polónia e Marrocos.

A adaptação ao mercado de trabalho, escla-rece Nuno Mendonça, “deveu-se à diferença que proporcionámos”. Para o diretor, a SQC “não é melhor, nem pior, é diferente”. De alguma forma,

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adianta, “os clientes estavam saturados das em-presas que existiam na área”.

Com a preocupação de “não ser limitada a um serviço ou cliente”, ao longo do tempo, a empre-sa foi evoluindo, alargando o leque de serviços. Desta forma, hoje em dia, aposta na formação, na engenharia da qualidade e nos serviços logís-ticos e de transporte. A preocupação passa por ser “diferente”, tanto a nível dos métodos como da abrangência de serviços.

Perante esta variedade, de que forma o cur-so é ainda importante? A resposta de Nuno Mendonça é clara. “Cerca de 90% do nosso tra-balho relaciona-se com o ramo automóvel”, co-meça por explicar, acrescentando: “os conhe-cimentos que adquiri nessa área ajudam-me a resolver os problemas e a criar alternativas aos clientes”.

Contudo, para Nuno, o curso é apenas o início. “O curso prepara-nos para o mercado de trabalho e temos de ser nós a aprender depois de entrar”. O curso profissional, acima de tudo, permitiu-lhe uma rápida entrada no mercado de trabalho e de-pois a respetiva evolução: “entrámos no primeiro trabalho para a linha de produção”. Devido à sua formação, realça, “a empresa viu que estávamos bem preparados e que dávamos resposta a solici-tações diferentes”.

Esta é, de resto, uma componente essencial que um jovem deve ter em conta. Para Nuno Men-donça é fundamental aplicar todos os conheci-mentos técnicos, fugindo ao mero standart. “Um jovem deve mostrar que sabe fazer e que tem ideias de melhoria, sejam elas boas ou más – quem está deste lado, vê que o jovem tem interesse em evoluir e aprender”, conclui. n

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Paulo CorreiaCurso Profissional de Organização e Gestão de Empresas

Embaixadordo Ensino

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Para fundar a sua primeira empresa, ainda como estudante no último ano da faculdade, Paulo Correia voltou às imediações da escola onde completou o curso profissional de Orga-nização e Gestão de Empresas. “Curiosamente, fiz a escritura numa conservatória localizada à frente da Escola Profitecla, no Porto”, relembra.

À pergunta “o que sentiu quando saiu do re-gisto?”, Paulo dá uma resposta curta. “Medo”. A explicação está, segundo o próprio, na inexpe-riência. “Depois de fazer a escritura senti bor-boletas no estômago, aquele friozinho na barri-ga – tinha criado uma empresa sozinho e, no dia seguinte, tinha impostos e segurança social para pagar”.

Hoje em dia, independentemente do suces-so financeiro do projeto, voltaria a dar o mes-mo passo. “No final, não me arrependo porque

Depois de terminar o curso profissional de Organização e Gestão de Em-presas, Paulo Correia não demorou a fundar o seu próprio negócio. Co-meçou pelas importações do oriente mas acabaria por se centrar no tu-rismo – o seu “gosto especial”. Aos 34 anos, está envolvido diretamente na gestão de sete empresas e não tem dúvidas: “todas as aulas, todos os módulos e todos os professores do meu curso profissional foram muito importantes no meu percurso”.

De borboletas no estômago à procura das certezas

aprendi muito: se calhar, deu mais prejuízo do que lucro mas também paguei para estudar”, sublinha o gestor de 34 anos.

Assim nascia a Raizdata, empresa que, numa primeira fase, se centrou na importação de pro-dutos fabricados na China que eram depois vendidos em vários pontos espalhados pela cidade. “Com essa empresa cheguei a montar cinco postos de venda”, conta Paulo Correia, ex-plicando que, com o boom das “lojas chinesas” em Portugal, “as margens de lucro passaram a não ser tão grandes como isso”.

Por essa razão, voltou-se para a área do turis-mo e para a sua terra natal, Freamunde, aí crian-do a agência de viagens “Viagens360”. O “gos-to especial” pelo turismo tinha estado sempre presente, essencialmente porque “o ambiente é muito mais descontraído e positivo” do que nos

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seguros e ou na contabilidade – áreas em que, ainda assim, continua a trabalhar.

A Viagens360 evoluiu, em regime de franchi-sing, e chegou aos 10 balcões abertos por todo o país. Simultaneamente, Paulo Correia foi criando novas empresas no setor do turismo, com dife-rentes ramos de ação, tendo sempre em vista uma sinergia de esforços que leva a que “o maior beneficiado seja o cliente”. “Hoje em dia, um bom negócio está na compra do produto que vamos vender, não está na venda do que comprámos anteriormente”, explica. Graças a esta ação em várias frentes, a Viagens360 marca presença um pouco por todo o globo: de um cruzeiro no Nilo, a um passeio a pé pelas ruas de Paris, passando pelo aluguer de uma bicicleta em Xangai.

Para o futuro, Paulo Correia coloca a hipótese de uma primeira investida numa área que é ca-racterística da região – a indústria do mobiliário: “gostava de pegar nas fábricas mais obsoletas de Paços de Ferreira e de tentar modernizá-las, juntamente com o próprio mobiliário”.

Perceber o porquê de aprender

Olhando o seu trajeto profissional, Paulo Correia não tem dúvidas quanto à relevância do curso profissional que completou. “Tudo foi importante: todas as aulas, todos os módulos, todos os professores”, ao ponto de, hoje em dia, ainda se recordar dos ensinamentos específicos de alguns dos professores, “mais até do que dos do Ensino Superior”. “Penso que o facto de eles estarem ainda tão presentes na minha memória ilustra a importância que o curso teve”, sublinha.

Para o gestor, a grande vantagem de fre-quentar um curso profissional é ter a certeza de que tudo o que é lecionado tem “uma aplicação no mundo do trabalho”. Uma característica que fez com que, na sua experiência, estivesse mais motivado. “Se conseguimos perceber o porquê do que estamos a aprender, vamos achar mais interessante e ficar mais atentos – isso acaba por ser o mais importante”. Por essa razão, é muito importante, acredita, que os alunos fa-çam um esforço para compreender a utilização de tudo o que estão a aprender. “Se um aluno não perceber a importância da matéria, tem de questionar o professor, tem de perceber o por-quê e ter sempre os objetivos presentes”.

Sem “medicamentos” nem “bolas de cristal”

Quais as características que podem fazer a diferença, para um jovem que queira ter sucesso como empresário? A primeira reação de Paulo é afirmar que “não há medicamentos nem es-tas características se aprendem: o dinamismo, a força de vontade o acreditar – tudo isso já nasce muito com a pessoa”.

De qualquer forma, a área da gestão de em-presas, relembra, não pressupõe necessariamen-te uma atitude empreendedora. “Nem todos nós temos de criar, nem somos só bons se criarmos, algumas pessoas são muito boas a executar: cada um com as suas valências”, realça.

Ser criativo é importante, destaca. Mas, mais importante, é ser um “criativo pragmático”, ou seja, ver de que forma essa criatividade pode ser aplicada. “Idealizar, todos idealizamos, mas

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temos de ver o que é possível ou não – há espa-ço para a impulsividade mas tem de ser medi-da”, destaca o gestor.

“Eu costumo dar um conselho: no momento da decisão, não consultem muita gente”, revela Paulo Correia. “Um otimista dirá para não inves-tir 100 e para investir 1000, enquanto um pessi-mista dirá que é melhor não ir. É sempre melhor decidir pela própria cabeça”.

Relativamente aos timings, a decisão toma--se entre a incerteza e o sentimento, segundo o

gestor. “Não temos uma bola de cristal”, respon-de Paulo, “podemos não saber quando é o mo-mento ideal – temos apenas feelings. Quando os sinto, agarro”.

Mas, no momento das decisões empresariais, as dúvidas nunca desaparecem. “Eu tenho mui-tas dúvidas, pergunto muitas vezes a mim mes-mo se estou a tomar a decisão correta”, revela Paulo Correia, concluindo: “mas se alguém está numa situação em que tem dúvidas, tem de pro-curar as certezas”. n

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Foi a conselho dos pais que Paulo Teixeira escolheu o à época recém-criado Curso Profis-sional de Técnico de Transportes, no Instituto Profissional de Transportes. O facto de esta ser uma nova oferta formativa foi mesmo uma mais--valia para os alunos. “Como primeiros alunos a sair do curso, tivemos uma vantagem muito grande, ao não existir ‘concorrência’”, assegura.

Para Paulo Teixeira, o curso “facilitou a pas-sagem para o mercado de trabalho”. Ainda hoje, refere, a Arnauld Logis “vai ficando com pessoas do curso”. Uma das grandes vantagens está “nas aulas muito práticas” e nas “experiências nas empresas” que oferecem uma ideia muito diversificada do mercado. “Quando fiz os meus estágios, passei por trabalhos muito diferentes”, revela. Entre eles contam-se a Luis Simões, a Ro-

Ainda antes de terminar o curso profissional de Técnico de Transportes, Paulo Teixeira já tinha uma oferta de emprego da transportadora Arnaud Logis – empresa em que trabalha há 19 anos. Tendo em conta a sua expe-riência pessoal e a realidade que encontra na empresa, o técnico salienta que existem benefícios na escolha pelo ensino profissional: “a vantagem dos cursos profissionais, seja nos transportes, na mecânica, onde for, é que as pessoas têm uma formação mais próxima das necessidades do mercado de trabalho”.

A vantagem que se transporta para o emprego

doviária de Lisboa ou a Logimaris. A sua Prova de Aptidão Profissional (PAP), por exemplo, foi ligada às funções que desempenha hoje em dia, ao ser “relacionada com a parte marítima”. Com a PAP, acredita, “os alunos assimilam muito, tam-bém no sentido de completar a aprendizagem”.

O mundo dos transportes é “algo frenético” e “fechado”, já que existem questões como “o sigilo de valores”. É fundamental que as empre-sas estejam “abertas a receber” e que não se li-mitem a entregar ao estagiário o trabalho “que os outros não querem fazer”.

No geral, Paulo Teixeira vê vantagens na es-colha de uma opção profissionalizante. “Inclusi-ve, penso que a formação escolar dita regular deveria conter mais formação”, acrescenta. A vantagem dos cursos profissionais, conclui, “é

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Sandra SantosCurso Profissional de Técnico de Gestão Agrícola

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Situado na Gafanha da Nazaré, o escritório de Sandra Santos é rodeado pela planície. O ho-rizonte alarga-se pela península, antecedido por pequenas moradias e alguns terrenos amplos. Segundo Sandra, foram mesmo as característi-cas da região que a levaram a escolher o curso profissional de Técnico de Gestão Agrícola.

“É um curso que encaixa nesta localização geográfica, ao ser focado no setor primário”, realça. Para além da produção agrícola e do setor das pescas – onde os pais sempre traba-lharam – a região de Aveiro tinha, à época, uma

No momento da escolha de um curso, a decisão de Sandra Santos foi motivada pela proximidade do curso profissional de Técnico de Gestão Agrícola à região de Aveiro. De resto, garante, os três anos no curso pro-fissional seriam “enriquecedores”. A formação foi tão completa, acrescen-ta, que depois de entrar na licenciatura de Engenharia Agrária, em Castelo Branco, denotou muitas semelhanças com o curso da Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Vagos.Depois da passagem por diversas empresas, Sandra Santos trabalha hoje numa multinacional presente em 27 países, naquela que descreve como a sua “melhor experiência profissional”. E Sandra não esquece o papel do ensino profissional no cumprimento dos seus objetivos: “o curso profissio-nal foi o trampolim para tudo isto”.

Um trampolim no setor primário

característica adicional: “na altura, esta era a ‘ba-cia leiteira’ do país – havia muitos produtores de leite”.

Um cenário entretanto alterado. O número de produtores reduziu e apenas existem, segun-do Sandra Santos, “meia dúzia de explorações muito boas”. A bacia, essa, “deslocou-se para norte”. Hoje em dia, grande parte da produção de leite provém – para além dos “inevitáveis” Açores – da região entre o Douro e o Minho. “É nessa zona que se foca grande parte do meu trabalho”, explica.

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Desde 2009, Sandra é representante de ven-das de uma empresa internacional especializada em farmacêutica veterinária, sendo responsável pela ligação aos profissionais de veterinária e, ultimamente, aos produtores de ruminantes da região Norte. “Esta é a melhor experiência pro-fissional que tive na minha carreira”, revela, enu-merando as razões: “do salário às condições de trabalho, para além da indústria farmacêutica ser o topo da inovação e do desenvolvimento”.

No caminho até esta posição, sublinha, “o curso profissional foi o trampolim para tudo isto”. Depois de resumir o seu percurso, é já no final da conversa que explica a comparação – “um trampolim tem as bases assentes, é sólido, tem estabilidade e permite-te saltar para onde quiseres”.

O trampolim: de Vagos a Castelo Branco

Quando, em 1993, Sandra visitou a Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Vagos, a decisão já estava tomada. “O curso era aquilo que eu queria e já antes dessa visita eu via o seu potencial”, revela.

Durante os três anos do curso, Sandra San-tos encontrou o que procurava: “aulas das 9h às 18h, todos os dias, com muitas aulas práticas”. A grande quantidade de alunos, por outro lado, permitia partilhar experiências. Por tudo isso, não tem dúvidas: “as expectativas foram supe-radas – foi muito enriquecedor poder focar-me na parte profissional”.

Um dos momentos que mantém mais pre-sente foi a realização da Prova de Aptidão Pro-

fissional. O tema foi “Turismo em Espaço Rural” – “uma novidade, em 1995”, destaca Sandra. A sua vida profissional acabaria por se afastar des-se ramo. Contudo, assegura, terá sempre “um espaço guardado para essa área”, não colocan-do de parte um projeto no futuro.

Acabado o curso, seguiu imediatamente para o ensino superior – ingressando em Enge-nharia de Ciências Agrárias, na Escola Superior Agrária de Castelo Branco. Durante a licencia-tura, deparou-se com uma situação inesperada. “Os primeiros três anos foram exatamente iguais aos do curso profissional. Só mudaram mesmo os professores”, explica.

A diferença chegaria nos últimos dois anos, “subindo as expectativas e alargando os hori-zontes”. Uma das novidade foi o contacto com os pequenos ruminantes, por exemplo, algo que o curso profissional, centrado na região de Avei-ro, não incluía.

O salto: a “grande oportunidade”

Na sua primeira experiência profissional, no Sistema Nacional de Informação e Registo de Bovinos, sentiu-se “preparada e perfeitamente à vontade”. Ao fim de seis meses, chegaria a opor-tunidade de seguir para Oliveira de Azeméis, in-tegrando uma empresa de produção de frango industrial, onde esteve durante sete anos, ligada à parte da produção e fazendo o contacto com os criadores.

Seguiu-se a primeira aproximação às fun-ções que desempenha atualmente. Depois de aceitar um convite de um grupo de distribuição

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veterinária de medicamentos, Sandra começou a trabalhar a sua “vertente comercial”. O seu próprio estilo de vida também mudaria, aproxi-mando-se então daquele que apelida atualmen-te como “o seu principal local de trabalho”: o automóvel. “Comecei a passar muito tempo na estrada”, acrescenta.

Ao fim de pouco mais de um ano, surge o convite de um dos laboratórios fornecedores – a Hipra – para o seu posto de trabalho atual. “Na altura, hesitei um pouco”, revela: “custou-me deixar o trabalho anterior mas sabia que tinha de o fazer – era uma grande oportunidade”.

A receção: uma área rejuvenescida

O screensaver do tablet de Sandra Santos mostra um pequeno rebanho que atravessa um trilho de terra batida. Do lado esquerdo, ergue--se um edifício que parece ser recente. “É uma biblioteca”, explica. A foto parece indicar paisa-gens distantes. “Não tenho a certeza de onde foi tirada”.

A imagem em questão provém do Burundi, no coração da África Central, e pretende eviden-ciar a arquitetura do edifício – uma biblioteca comunitária. Contudo, o que captou a atenção de Sandra não foi a construção. “Lembro-me que estava num congresso sobre pequenos ru-minantes, quando vi esta imagem”, explica. Des-de aí, adotou-a como fundo de ecrã, devido “à ligação com os pequenos ruminantes”.

Atualmente, o seu trabalho envolve todo o tipo de ruminantes, independentemente do por-te. Descrevendo as suas funções, Sandra explica

que “faz a ponte entre os agricultores que estão no terreno e as novas práticas”.

O objetivo é o lucro, ressalva. Mas há espaço para uma perspetiva pedagógica que, de algu-ma forma, se relaciona com o seu antigo objeti-vo de fazer extensão rural, prestando apoio aos produtores no terreno: “nas minhas visitas, ten-to sensibilizar um pouco para as boas práticas e para a importância da qualidade”.

Nas suas visitas a produções, assegura, tem encontrado “muita gente jovem”. Em vários lo-cais do país, vê sinais de uma reaproximação à terra, sobretudo na produção agrícola: “gostava que estas apostas tivessem continuidade – te-mos um clima adequado e até incentivos do Estado – há todas as condições para criar um projeto sustentável”.

Contudo, um jovem interessado por esse tra-jeto terá de ter em conta algumas coisas. Desde logo, terá de colocar as mãos na terra, de for-ma a saber se “é mesmo daquilo que gosta”. De igual forma, será importante “ter dinamismo, para andar no exterior todo o dia” e ainda “sen-tido de gestão, para estar focado na rentabili-dade”.

A enumeração parece ter chegado ao fim mas Sandra faz ainda uma ressalva. “E disponi-bilidade”, acrescenta, concluindo: “Neste setor não se pica o cartão”. n

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Susana MonteiroCurso de Aprendizagem de Técnico de Laboratório

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As primeiras investigações científicas de Susana Monteiro ocorreram na Praia da Conso-lação, Peniche. Na casa onde a família passava férias, escolheu um armário como primeiro equi-pamento laboratorial. Era lá que guardava os insetos que colecionava. O gosto pela ciência, assegura, sempre esteve presente. “Lembro-me que sempre gostei de tentar perceber o sentido das coisas”, acrescenta.

Foi na procura de dar continuidade a esse gosto que começou por escolher a área de ciên-cias, no ensino secundário. Estava já a iniciar o 12.º ano quando a mãe lhe falou de um curso de aprendizagem nas Caldas da Rainha, na Asso-ciação para a Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica (AESBUC). “O panfle-to apresentava muitas aulas práticas e com es-

A ciência sempre foi a “área de eleição” de Susana Monteiro. Foi esse gosto, bem como a vontade de integrar rapidamente o mercado de traba-lho, que a levaram a ingressar no curso de aprendizagem de Técnico de Laboratório. Depois de uma primeira experiência profissional nos labora-tórios da Universidade Católica, em 2006, tomou a decisão de emigrar. Atualmente, lidera duas equipas: uma de cientistas instrumentais e outra centrada na investigação de novos métodos para a medição de metais pesados. Esta aproximação recente à investigação implicou um contacto com o que mais a cativou na ciência – “perceber o sentido das coisas”. De igual forma, significou que o curso de aprendizagem, ao fim de dez anos, teria ainda um papel ativo a cumprir na sua vida.

Não há ciência sem experiência

tágio profissional”, recorda, acrescentando: “saí do 12.º ano e disse ‘é mesmo isto que eu quero’”.

O estágio era um dos aliciantes, numa pers-petiva de ingressar mais rapidamente no mer-cado de trabalho. Isto porque sabia que a mãe “não tinha possibilidades de pagar a faculda-de”. A ideia passava por, mesmo que decidis-se “estudar no ensino superior, à noite”, estar imediatamente preparada para o mundo do emprego.

“Foi uma ótima decisão”, considera. No cur-so de aprendizagem garantiu “um melhor apro-veitamento em todos os anos”. Algo que explica com o facto de ter disciplinas mais vocaciona-das para a área e que a motivavam mais: “é mui-to mais fácil perceber a matéria quando se tem a parte prática”.

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No final do curso, o objetivo era cumprido. “Senti-me totalmente preparada”, assegura, acrescentando: “preparada para começar a tra-balhar em qualquer laboratório e com qualquer tipo de equipamento”. O tempo acabaria por lhe dar razão.

A viagem, o medo e a confiança

Depois do curso, teve um período de procura de emprego, “indo às empresas entregar o cur-rículo e tentando arranjar reuniões”. Algum tem-po depois, surgia uma oportunidade. A AESBUC abria um polo da Escola de Tecnologia e Gestão Industrial e procurava alguém para ser respon-sável pelo laboratório. Susana candidatou-se e ficaria com o cargo, corria o ano de 2004.

“Foi uma experiência diferente”, recorda. O laboratório, integrado numa instituição de ensi-no, tinha as suas características especiais. Con-tudo, ao fim de algum tempo, “chegou a um ponto que se resumia à mesma rotina”. Ao fim de dois anos, decidiu emigrar, “à procura de es-tabilidade, progressão na carreira e melhor re-numeração”.

A família do namorado vivia na Irlanda do Norte. “Decidimos experimentar”, conta. Duran-te os seis meses anteriores à partida, fez a sua preparação: marcou entrevistas, fez um curso de inglês. Uma das entrevistas, “curiosamente, era no Instituto do Ambiente da Irlanda do Nor-te”.

A entrevista para este posto de trabalho foi no seu primeiro dia em solo britânico. “Estava nervosíssima”, recorda. Um cenário que não me-

lhoraria durante a entrevista. “Era uma sala com uma mesa enorme e três pessoas lá ao fundo, tudo em inglês, com um sotaque em que eu não percebia praticamente nada”. De certa forma, essa experiência assustou-a. Mas acalmou-se a si própria: “já sabia que não ia ser fácil”.

Três meses depois, surgiam três ofertas de emprego. Aceitou um deles num laboratório de microbiologia de uma empresa alimentar – a Moy Park. “Estava nervosa”, é certo, mas apenas como quem inicia um qualquer novo trabalho. “Em termos de trabalho sentia-me confiante”, garante.

Crescer à beira do lago

O Complexo Industrial de Seagoe, no Norte da Irlanda, situa-se à margem do maior lago das Ilhas Britânicas – o Lough Neagh. O complexo é dividido pela rua de Seagoe. De um lado da es-trada, com o número 39, situa-se a Moy Park. Do outro lado, com o número 20, ergue-se a sede da Almac Sciences – empresa de fabrico e inves-tigação de medicamentos.

Na Moy Park, Susana dizia a colegas e cola-boradores: “quero ir para o outro lado da estra-da”. O seu objetivo passava por deixar a micro-biologia e aproximar-se da área da química. Por essa razão, ia acompanhando as novas ofertas na Almac.

Ao fim de seis meses, surgiu uma vaga para um dos laboratórios. “Concorri e ofereceram--me o trabalho”, relembra. Ficaria na Almac sete anos, passando por diferentes posições e assu-mindo várias responsabilidades.

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Uma delas surgiu em 2010, ano em que a Al-mac abriu um laboratório na Pensilvânia, nos Es-tados Unidos da América. A proposta feita a Su-sana passava por montar os laboratórios e fazer a certificação dos equipamentos. “Mudei-me para os EUA e vivi lá cinco meses”, recorda, acrescen-tando: “foi uma coisa que me deu gosto – estava o edifício vazio e eu tive de o preencher”.

O trabalho na área da metrologia, relacionado com a verificação e calibração, é feito “um pou-co nas sombras”, concorda Susana. “As pessoas não estão cientes do trabalho envolvido – não se pode confiar nos resultados científicos se o equi-pamento não for testado e aprovado”, relembra.

O trabalho na Almac envolvia muitas viagens, sobretudo à Escócia e aos Estados Unidos. “Em 2011, tive um filho”, salienta Susana. Começou a procurar um emprego em que pudesse viajar menos.

A oportunidade surgiria na Actavis – uma multinacional farmacêutica com mais de 2700 colaboradores em todo o mundo. Começou como cientista instrumental, em julho de 2013, num projeto “de maior responsabilidade e, por isso, mais desafiante”.

O caminho dos metais pesados

Os últimos desenvolvimentos na carreira profissional de Susana relacionam-se com le-gislação recente. Em 2014, foi aprovada nova legislação que prevê o controlo da quantidade de metais pesados nos produtos oriundos do espaço europeu. Desta forma, a Actavis olhou para os seus recursos, procurando dotar um dos

seus laboratórios com a tecnologia necessária. Uma das formas mais populares de deteção

de metais pesados é a tecnologia ICP (Inducti-vely Coupled Plasma). Um dado que se revelaria muito importante na carreira de Susana Montei-ro. A direção da Actavis questionou-a se já tinha trabalhado com esta tecnologia. A resposta foi rápida: “sim, durante o estágio do meu curso de aprendizagem”.

Foi esta experiência anterior que lhe permitiu formar e liderar uma equipa neste novo projeto que investiga os métodos e formas mais efica-zes para a deteção de metais pesados. “Ao fim de dez anos, a experiência obtida no curso de aprendizagem ainda era importante”, realça. Si-multaneamente, lidera também a equipa instru-mental com que vinha a trabalhar desde 2013.

O regresso à paixão

Olhando para o seu percurso profissional, Susana garante que sente “um crescimento”. Aquilo que a apaixonou na ciência foi o desven-dar do desconhecido. As suas funções, hoje em dia, “vão ao encontro desse gosto pela investi-gação e por descobrir coisas novas”.

“Nunca pensei chegar onde estou”, começa por dizer. Neste trajeto, considera que a escolha pela emigração pode ter sido essencial: “não sei se teria as possibilidades que tive, em Portugal”. Na cultura britânica, destaca, “olha-se primeiro à experiência”. “Desse ponto de vista, o curso tem uma importância especial – a experiência que me ofereceu foi muito importante para o que al-cancei”, conclui. n

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