somnium: a utopia da cidade ideal

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  • 8/16/2019 Somnium: a utopia da cidade ideal

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    SOMNIUM: A UTÓPICA CIDADE IDEAL

    Pedro Henrique Ferreira de Melo1

    “Maldito o homem que confia em outro homem” (Jr.17,5)2

    Imaginemos uma cidade ideal, vamos cham!la de Somnium. "es#a cidade #odas as $essoas

     %uscam viver %em. "&o e'is#e maldade, ainal #odos s&o educados $ara uma cidadania

     $erei#a, vol#ada $ara o im l#imo do homem, que * a elicidade. "&o se #em no#+cias de

    assal#os, n&o * necessrio ora $olicial e mui#o menos $res+dio ainal n&o e'is#e $o$ula&o

    carcerria. - religi&o * algo ine'is#en#e, $ois n&o se $recisa de algo que $renda o homem em

    mero ri#ualismo que o dei'a amor#iado com uma u#o$ia. "essa cidade n&o #emos lugar $ara

    indierenas, somos #odos iguais, e a religi&o #em o $oder de se$arar o homem, logo ela n&o *

     %em vinda na linda Somnium. /ada cidad&o * governan#e de si, n&o $recisamos de um

    so%erano que nos a$on#e quais leis #emos que seguir, $ois cada $essoa #em seu $r0$rio modo

    de viver, a nica e'igncia * que se %usque a elicidade, um governan#e n&o $ode #raer a

    elicidade, ainal ele es# in#imamen#e ligado a um $oder de comandar os cidad&os, e em

    Somnium cada $essoa * livre e res$onsvel $or #odos os seus a#os. "a ques#&o da educa&o,

    #odos rece%em 0#ima orma&o $ara a$render a se $or#ar em sociedade, a$rendendo $r#icas

    vir#uosas e #am%*m s0lida orma&o in#elec#ual $ara $oder desem$enhar, de$ois de ormado,

    um %om #ra%alho $ara a sociedade.

    m Somnium n&o al#a #ra%alho, #odos #m seu meio de $rover sus#en#o, e ao

    con#rrio de mui#as cidades de que se #em conhecimen#o aqui em nosso modelo de cidade n&o

    #emos salrios, ainal o dinheiro * causa de %rigas e se$ara3es, logo n&o $recisamos dele, n&o

    com$ramos mercadorias, mas #rocamo!las uns com os ou#ros4 os homens do cam$o oerecem

    suas lindas alaces, os donos de $os#os de com%us#+veis $egam a alace e em #roca d&o li#ros

    de com%us#+vel $ara que o #ra#or no cam$o $ossa colher a cana de acar $ara adoar o ca*

    resquinho da senhora umercinda, que $or sua ve oerece diariamen#e sua ora de #ra%alho,

    que * de ensinar aos incau#os a ar#e do a$rendiado. Somnium * a cidade mais %ela, $erei#a e

    ideal. 6uando um ovem quer se casar com uma %ela moa, es#e sa%e que seu casamen#o

    1 raduando do segundo ano em ilosoia $elo Ins#i#u#o -gos#iniano de Filosoia8Franca!9P.

    2 :;:

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    ser duradouro, ainal #odos oram educados $ara a elicidade, e nenhum dos neo!c?nuges

    ar o ou#ro n&o encon#rar a elicidade.

    Somnium * a cidade dos sonhos. Por*m es# si#uada somen#e no sonho e em

    nenhum ou#ro lugar. la * irreal. @ma cidade * undada %asicamen#e so%re #rs as$ec#os4

    religi&o, am+lia e $ol+#ica, e es#es consequen#emen#e s&o causa de %rigas e desconor#os. A

    homem %usca na religi&o algo a%solu#o que o #ranscenda, * necessrio que se e'is#am as

    religi3es, sea no Bm%i#o es$iri#ual ou a#* mesmo $sicol0gico, a im de que o homem, que *

    e'#remamen#e religioso em sen#ido es#ri#o, $ossa manies#ar sua *, sea em Ceus, em :uda ou

    na cincia. -s religi3es s&o necessrias e n&o a$enas uma e sim vrias $ara n&o a$risionar o

    homem em sua moral religiosa, o homem $recisa escolher a que melhor lhe a$ra, ou n&o

    escolher nenhuma, mas #endo sem$re em vis#a o $rinc+$io de que ele * livre $ara a escolha.Por*m, com vrias, em um con#e'#o mul#irreligioso se d o $ro%lema das convers3es, ainal

    cada igrea $recisa arre%anhar um grande nmero de i*is $ara que $ossa so%reviver, logo

    #emos uma a+sca que $ode gerar uma grande %riga em #orno da religiosidade, o que em uma

    cidade ideal n&o e'is#iria, $ois as %rigas v&o con#ra o concei#o de $erei&o que es#a cidade

    ideal deve #er.

    Dam%*m * im$or#an#e ressal#ar que cada cidad&o n&o $ode ser seu $r0$rio

    governan#e, $ois cair+amos no $rinc+$io de anarquismoE

    * necessrio um governo nico a#odo o $ovo que $romova o %em!es#ar social, o que $ode agradar a mui#os e desagradar a

    ou#ros. Mesmo que cada $essoa #enha seu modo de viver * necessrio es#a%elecer $rinc+$ios

     $ara a %oa convivncia e que sea a$licvel a #odos e n&o somen#e a alguns. como

    escolheremos o governan#eG 9e o$#armos $or um regime democr#ico * o $ovo que escolhe

    seus re$resen#an#es, mas ser que o $ovo es# a$#o $ara escolher o melhorG Au ser que a

    massa vai escolher somen#e aquele que mais a$resen#a %ene+cios a elaG 9e o cri#*rio de

    escolhas or o in#eresse $essoal mais uma ve vemos que a cidade ideal n&o e'is#e, ainal oque * %om $ara um necessi#a ser %om $ara #odos, n&o $osso escolher um governan#e somen#e

     $elos avores que ele me oerece de modo $essoal, a un&o des#e * governar #oda a $o$ula&o

    que o elegeu e n&o avorecer somen#e a um.

    3 -narquismo $ode ser deinido como uma dou#rina (conun#o de $rinc+$ios $ol+#icos, sociais ecul#urais) que deende o im de qualquer orma de au#oridade e domina&o ($ol+#ica, econ?mica, social

    e religiosa). m resumo, os anarquis#as deendem uma sociedade %aseada na li%erdade #o#al, $or*mres$onsvel. Cis$on+vel em4 h##$488KKK.sua$esquisa.com8oLqueLe8anarquismo.h#m. -cesso em4>1 de ou#. de 2>15.

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    Mas $odemos escolher um regime di#a#orial, em que o governan#e ir assumir o $oder e aer 

    o que melhor lhe a$e#ece. Ara, $ara $oder %em governar, necessariamen#e ele ir desagradar a

    ou#ras $essoas que ver&o suas necessidades n&o a#endidas em $rol de um %em maior, que * o

     %em da sociedade ou o con#rrio #am%*m * verdadeiro4 o $ovo ir ver que suas necessidades

    n&o s&o a#endidas, ao $asso que os deseos dos amigos do governo s&o $ron#amen#e a#endidos,

    o que ir gerar uma revol#a. 6ual o modelo ideal de governoG Im$oss+vel dier. 90 $odemos

     %al%uciar $oss+veis modos governamen#ais olhando $ara a his#0ria e reconhecendo erros e

    acer#os de modelos que vigoraram mas em #odos os modelos #ivemos $essoas insa#isei#as

    com o governan#e, o que nos leva a crer, a#rav*s dos a#os, que n&o e'is#e um molde

    a%ricado de governo. Podemos a#* lem%rar MaquiavelN ao indicar o %om governan#e, re$are

     %em que disse %om governan#e e n&o governan#e ideal. 9egundo o il0soo, o %omgovernan#e * aquele que #endo virtú  sa%e conduir seu $a+s em qualquer si#ua&o que a

     fortuna lhe a$resen#e5, mas es#e modelo de $r+nci$e ir ser ques#ionado $ela religi&o, vis#o que

    * necessrio que o governan#e ascenda ao $oder, e es#ando nele o man#enha e o aumen#e,

    cus#e o que cus#ar, ainal o %em comum es# acima do %em $essoal, e a religi&o ir mos#rar 

    que mui#as a#i#udes s&o $ecaminosas, logo es# em desacordo com a *, iniciando uma %riga

    en#re s#ado e Igrea, que em uma cidade ideal nunca acon#eceria.

    A concei#o de am+lia * ou#ro $on#o de %as#an#e relevBncia, um dos #rs as$ec#os undan#es dassociedades. 6ual o melhor modo de se en#ender uma am+liaG /omo vimos no in+cio des#e

     %reve #e'#o, em Somnium, se um ovem se enamorar de ou#ra uma ovem, qual ser a garan#ia

    4  "icolau Maquiavel (Florena 1NO Q 1527) oi um im$or#an#e his#oriador, il0soo, es#adis#a e $ol+#icoi#aliano da *$oca do Renascimen#o. m 151E, escreveu sua o%ra mais im$or#an#e e amosa A Pr+nci$e. "es#ao%ra, Maquiavel aconselha os governan#es como governar e man#er o $oder a%solu#o, mesmo que #enha que usar a ora mili#ar e aer inimigos. s#a o%ra, que #en#ava resga#ar o sen#imen#o c+vico do $ovo i#aliano, si#uava!seden#ro do con#e'#o do ideal de uniica&o i#aliana. m un&o das ideias deendidas no livro A Pr+nci$e, o#ermo maquiav*lico $assou a ser usado $ara aquelas $essoas que $ra#icam a#os desleais (a#* mesmo violen#os)

     $ara o%#er van#agens, mani$ulando as $essoas. s#e #ermo * inus#amen#e a#ri%u+do a Maquiavel, $ois es#e

    sem$re deendeu a *#ica na $ol+#ica. Cis$on+vel em4 h##$488KKK.sua$esquisa.com8%iograias8maquiavel.h#m.-cesso em4 >1 de ou#. de 2>15.

    5  Virtù, #ermo a$resen#ado $or "icolau Maquivel em sua o%ra A Princ+$e. Dra#a!se da ca$acidade do $r+nci$e em con#rolar as ocasi3es e acon#ecimen#o do seu governo, das ques#3es do $rinci$ado. A governan#ecom grande Virtù cons#r0i uma es#ra#*gia eica de governo ca$a de so%res#ar as diiculdades im$os#as $elaim$revisi%ilidade da his#0ria.  Fortuna, #ermo #am%*m em$regado $or Maquivel, di res$ei#o Sscircuns#Bncias, ao #em$o $resen#e e Ss necessidades do mesmo4 a sor#e individual. T, $ara o il0soo, a ordem dascoisas em #odas as dimens3es da realidade que inluenciam a $ol+#ica. A%serva!se que a Fortuna n&o $ode ser vis#a como um o%s#culo ao governan#e, mas um desaio $ol+#ico que deve ser conquis#ado e a#ra+do. Cis$on+velem4 h##$488us.com.%r8ar#igos82>5>8vir#u!e!or#una!em!maquiavel!a!$ar#ir!da!o%ra!o!$rinci$e. -cesso em4 >1

    de ou#. de 2>15.

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    de um relacionamen#o eliG m uma cidade ideal * necessrio que o homem %usque sua

    inalidade que * a elicidade, logo ele n&o $ode errar ao $rocur!la, e se os dois ovens

    enamorados ao casarem $erce%em que n&o s&o elies, $oder se$arar!seG seus ilhosG 9uas

    am+liasG /omo ser es#e novo modelo de am+lia onde os $ais es#&o se$aradosG :rigar&o $ela

    #u#ela dos ilhosG Isso nunca $oderia ocorrer em uma cidade ideal, ainal #odos s&o educados

     $ara o im l#imo da elicidade, e as %rigas $odem ser um caminho $er#o da elicidade, se eu

    en#endo que as %rigas e crises servem $ara $uriicar meu es#ado de es$+ri#o, $ode ser um

    caminho $r0'imo, mas n&o * a elicidade, n&o im$or#a o qu&o $er#o ou longe es#ea, a

    elicidade n&o se a $resen#e nesse con#e'#o de %rigas amiliares, $ol+#icas e religiosas.

    Podemos dier que e'is#e cidade idealG "&oU A que e'is#e s&o as #en#a#ivas de

    uma cidade ideal. T necessrio que o homem en#enda que $or mais que %uscamos a $erei&o,e nunca devemos $arar de %usc!la, ela nunca se a$resen#ar a n0s, $ois a#* mesmo nas coisas

    criadas e'is#em graus de $erei&o, mos#rando, assim, que e'is#em coisas mais $erei#as que

    as ou#ras. Mas $odemos nos indagar, ser que o homem consegue ser a #odo o momen#o o

    Homem IdealG 'em$lo de vir#ude e de coragemG -#* que $on#o o homem consegue ser %omG

    Podemos coniar uns nos ou#rosG - #odo momen#o $osso colocar credi%ilidade nos a#os de

    ou#ras $essoasG Para uma sociedade ideal * necessrio a e'is#ncia de homens ideais. /omo

     $odemos conce%er #al homemG -os cris#&os * di#o que es#e Homem * Jesus /ris#o, sendoassim ser+amos ca$aes de a#ingir #odas as vir#udes $ra#icadas e ensinadas $or /ris#o a #odo o

    momen#oG A%viamen#e n&o, $ois es#e T o Filho de Ceus, o /ris#o, e n0s somos seres

    con#ingen#es e im$erei#os, inca$aes de criar uma cidade ideal e, se $orven#ura a criar, somos

    inca$aes de viver nes#a cidade.