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ENSINO DE LNGUA INGLESA: ANTECIPANDO

UMA PEDAGOGIA PS-MODERNA1

Vera Lcia Menezes de Oliveira e Paiva2

A produo didtica de Solange Ribeiro se deu em uma poca emque no havia computador, internet e nem carto de crdito internacionalpara importao de livros e assinatura de livros e peridicos. As bibliotecas,geralmente, no dispunham de jornais e revistas em lnguas estrangeirase rara era a livraria ou distribuidora de jornais e revistas que ofereciapublicaes em lngua inglesa. Alm disso, o Brasil vivia uma ditaduracruel que afetava o ambiente universitrio com incertezas, muita

instabilidade e insegurana. Colegas e alunos eram detidos, interrogadose at presos. Alguns foram exilados, outros desapareceram.Ao rememorar o percurso de sua produo de material didtico,

optei por trazer pequenas vinhetas sobre o contexto poltico da poca.Essa deciso foi tomada ao encontrar, em um de seus livros, A Tour ofBrazil(1980) o seguinte trecho em uma carta escrita por uma personagemamericana sobre o Brasil, depois de visitar o Vale do Ao,

Well, I like to get articles made in Brazil. They are of course firstclass, specially when they are FOR EXPORT. Some of theproducts are impressive. Imagine modern steel bridges, made inBrazil, over the big Brazilian rivers! Theyre really wonderful.

1Para reunir os dados para este captulo, recorri minha prpria biblioteca, biblioteca

da FALE, da FAE, da UFOP e a sebos de vrias partes do pas. Comprei livros no Riode Janeiro, em So Paulo, e no interior de Minas. Infelizmente, o sistema de bibliotecas

da UFMG, no possui toda a coleo das obras didticas de sua professora emrita, oque demonstra a menos valia desse gnero. As bibliotecas, geralmente, descartam essetipo de material, inviabilizando o registro histrico da evoluo do gnero.2

UFMG/CNPq/FAPEMIG.

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Itinerrios: homenagem a Solange Ribeiro de Oliveira

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Well, with industry, bad things always come. I dont see anythingwonderful about the exploitation of workers by the big companies,for example. Or about pollution, or the devastation of forests.3

Nesse trecho, fica evidente a conscincia poltica da autora sobre aimagem falsa que o Brasil vendia nos jornais controlados pela ditaduraenquanto o trabalhador era espoliado pelas fbricas controladas pelocapital estrangeiro. Provavelmente, foi, tambm, o primeiro livro didticode lngua inglesa a falar do problema da poluio. Vivamos em uma pocade censura, mas mesmo assim, Solange registrava sua posio ideolgica.

Em homenagem sua lucidez poltica, em vez de nomear apenas

as datas de suas publicaes, optei por utilizar vinhetas histricas de formaa relembrar alguns acontecimentos em nosso pas nos anos da ditadura.Fiz isso no apenas para contextualizar e relembrar, mas para manterviva na memria de nossos jovens o terror que vivemos naquela poca.

1970: Solange Ribeiro assume a chefia do Departamento de LetrasGermnicas4 e d incio a uma frtil produo de livros didticos com apublicao da Coleo Structural English with Audio-visual Aids, em uma

longa parceria com a Editora Viglia.5

Inicialmente publica os dois primeirosvolumes da srie e os respectivos livros do professor.

O Brasil tricampeo mundial no futebol. Na presidncia do pas, o ditadorEmlio Garrastazu Mdici impe ao Brasil o perodo de maior represso emnossa histria, tendo ficado conhecido como os anos negros da ditadura ouanos de chumbo. Um ano antes, o Ato Institucional nmero 5 retira a nossaliberdade e legitima as atrocidades da ditadura: luta armada; resistncia;

sequestro de avio da Vasp; tortura, milagre econmico, Brasil, ame-o oudeixe-o.6 sequestrado o embaixador alemo Ehrenfried von Holleben, no

3OLIVEIRA,A Tour of Brazil, p.97

4O nome do departamento foi mudado para Departamento de Letras Anglo-Germnicas

na dcada de 90 e extinto em 2000 quando a Faculdade de Letras optou por umaadministrao sem departamentos.5

A Editora Viglia foi uma editora de grande sucesso em Belo Horizonte, publicando

material didtico para lngua portuguesa e lnguas estrangeiras nas dcadas de 70 e 80.6Todas as informaes histricas, alm de minhas memrias, foram retiradas dos sites

http://elogica.br.inter.net/crdubeux/historia.html e http://almanaque.folha.uol.com.br/brasil70.htm

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PAIVA. Ensino de lngua inglesa: antecipando... - p. 325-351

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Rio. Holleben trocado por 40 presos polticos que seguem para a Arglia. NoChile, Salvador Allende chega ao poder em setembro de 1970 e vriosbrasileiros se refugiam naquele pas. O embaixador suo Giovanni Enrico

Bucher sequestrado, no Rio. O seu sequestro rende a libertao de 70 presospolticos que vo para o Chile.

No incio dos anos 70, apesar da notoriedade da metodologia udio-oral, ou udio-lingual, nos Estados Unidos, ainda conviviam, no Brasil, oensino de gramtica e traduo e o mtodo direto que almejava odesenvolvimento da fala. Os estudos sobre o audiolingualismo tiveramorigem, segundo Richards e Rogers (1993),7 em um programa detreinamento no exrcito americano em 1942 com o envolvimento, em1943, de cinquenta e cinco universidades americanas. A metodologiatinha como suporte terico a lingustica estrutural e o behaviorismo.

Aprender uma lngua era sinnimo de adquirir hbitos automticos nouso de um conjunto de estruturas lingusticas.

A metodologia udio-visual, na Europa e nos Estados Unidos,comeou a ser ameaada por uma viso mais cognitiva da linguagem

influenciada pela lingustica chomskiana no final dos anos 60. Noentanto, no Brasil, os livros do mtodo direto8Spoken English9 e NewSpoken English10 assim como a coleo inglesaEssentialEnglish11da editoraLongman, ainda faziam sucesso e continuaram a ser usados durantemuitos anos. A abordagem direta tinha como princpios a excluso dalngua materna; o ensino de vocabulrio mediado por mmicas, figurase objetos da prpria sala de aula; e a aprendizagem indutiva da gramtica,ou seja, a no explicitao de regras gramaticais.

A abordagem udio-lingual s chegou ao Brasil no final dos anos60 e incio de 70 com materiais importados, especialmente, as coleesamericanas English 900da editora Collier-Macmillan, produzida pela

7RICHARDS and RODGERS, Approaches and Methods in Language Teaching: a

Description and Analysis8

O fato de os livros serem escritos segundo o mtodo direto no impedia que os

professores continuassem trabalhando apenas a gramtica e a traduo.9 FONSECA, 1955.10

FONSECA, 1967.11

ECKERSLEY, 1938, 1942.

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editora English Language Services (1964), sua verso inglesaEnglish 901,e a coleo inglesaNew Concept English12editada pela editora Longman.Paralelamente, uma coleo de livros13 para o ensino de diversas lnguas

da editora Didier disseminava no Brasil e no mundo a abordagem udio-visual. O material era composto pelo livro do aluno, livro do professor,fitas em udio e diapositivos (film strips).

Em 1970, inspirada pelos livros de ensino de lnguas estrangeirasda editora Didier, Solange Ribeiro de Oliveira inicia a publicao de suacoleo de livros didticos, Structural English with Audio-visual Aids(Fig. 1),pela editora Viglia, em Belo Horizonte. A srie era composta por novevolumes divididos em trs livros do aluno, trs livros de exerccios, e trslivros com sugestes para o professor, em um total de 450 pginas. Omaterial era acompanhado por slides, cartazes e udio gravado em discospor americanos nativos.

12ALEXANDER, 1967.

13FILIPOVIC; FILIPOVIC; WEBSTER, 1969.

Figura 1. Capas dos livros do aluno da Coleo Structural English with Audio-visual Aids.

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Em agosto de 1970, aos 20 anos de idade, ainda estudante de Letras,iniciei minha carreira de professora de ingls no colgio Lcio dos Santosem Belo Horizonte. Foi l meu primeiro contato com o material didtico

produzido por Solange Ribeiro de Oliveira. Enquanto eu lecionava como livro de Joo Fonseca, New Spoken English, uma colega, tambmestudante, pilotava um livro didtico reproduzido em mimegrafo a tinta,cuja autora era sua professora no curso de Letras da UFMG. Eu no tinhaa menor ideia de que, naquele momento, atravs de seus livros, eu comeavaa conhecer, ainda que metonimicamente, a professora Solange.14

Segundo relato da autora, na introduo da primeira edio dovolume 1 de Structural English,15 o material havia sido pilotado em vriosestabelecimentos de ensino oficial e particular, em Minas Gerais e noEsprito Santo em uma edio experimental. Solange relata ter reduzidoas unidades de 12 para 10 de forma a possibilitar uma sequncia melhorno tratamento das estruturas gramaticais e a torn-lo mais exeqveldentro dos limites do calendrio escolar brasileiro. Ainda na introduo,o leitor informado que o segundo volume j estava publicado e que oterceiro se encontrava em processo de preparao.

A srie Structural English with Audio-visual Aids, de orientaoestrutural, tendo a lngua falada como foco principal, foi adotada emtodo o pas e recebeu a aprovao de profissionais destacados no pas.Nas orelhas do volume I, em sua quinta edio Abgar Renault diz: queroque meus netos estudem neste livro.16 Nora Thielen, da UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul, tambm elogia o material e reporta osucesso da anlise que fizera do livro com seus alunos da Faculdade deLetras durante nove aulas consecutivas. Outros testemunhos sobre a

qualidade do livro somavam-se a esses depoimentos nas vozes de colegasde Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Bahia, Rio de Janeiro, EspritoSanto, So Paulo, Paran e Santa Catarina.

14A aposentadoria da Professora Solange, na UFMG, coincidiu com minha contratao

em 1985 e seu ttulo de professora emrita foi outorgado por proposta minha

congregao durante gesto como chefe do extinto Departamento de Letras Anglo-Germnicas naquela instituio.15

OLIVEIRA, 1970.16

OLIVEIRA, Structural English with Audio-visual Aids, 1973.

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A coleo de Solange ignorava a rigidez metodolgica e introduziaa leitura j na segunda unidade do livro 1. Ela reconhecia, no livro doprofessor, a importncia da oralidade, mas argumentava que para o contexto

brasileiro a leitura era a atividade mais til. Isso, no entanto, no a feztrilhar pelos caminhos do extremismo como aconteceu com outrosprofessores renomados que pregavam o foco exclusivo na leitura e o fazemat hoje. Solange deu destaque merecido oralidade, sugerindo, no entanto,cautela, como podemos ler na sua afirmao [O]f course you must notfall into exaggeration of talking as a standard, a slangy, or extremely familiarvariety, which can have embarrassing consequences for a foreigner.17 Ostextos para leitura reuniam as estruturas e o vocabulrio estudados na lio,

pois o foco era basicamente o treino de estruturas em textos descritivos,caracterstica daquela abordagem. No livro do professor, ela enumeravaos objetivos que incluam as quatro habilidades: compreenso da lnguafalada, capacidade de falar, habilidade de leitura e habilidade de escrita.

Uma lio clssica, segundo a metodologia udio-visual, deveria seguirquatro passos: apresentao, repetio, explorao e fixao. Solange acrescentoumais um passo a expanso com o acrscimo da leitura. Veja seuargumento:

Here students will have the chance to escape the parrot-likerepetition always likely to occur when the memorization ofdialogues is the only teaching process used. They will be forcedto recognize familiar material in new surroundings. Words alreadyknown will re-appear. Reading will thus be presented as aculmination activity the end to which the average Brazilian studenttends, even though it must stand on a firm oral foundation.18

Percebe-se nessa srie didtica um minucioso planejamento combase nas teorias da poca. A autora informa na introduo, que se baseouno livro de Hornby,19The Teaching of Sructural Words,20 para fazer a seleoe gradao das estruturas. A lingustica contrastiva evidenciada na gradao

17OLIVEIRA, Structural English with audio-visual aids, 1970b, p. 10.

18

OLIVEIRA, Structural English with Audio-visual Aids,1970, p. 19.19A autora no insere as referncias bibliogrficas completas, e as datas inseridas neste captulo

se referem a exemplares do acervo da biblioteca da Faculdade de Letras da UFMG.20

HORNBY, 1959, 1961, 1962.

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fonolgica e nos exerccios que enfatizam os fonemas que podem oferecerdificuldade aos aprendizes brasileiros. A psicologia behaviorista estsubjacente aos exerccios de repetio de forma a produzir automatismos;

e a seleo de itens lexicais se baseava, segundo a autora, naGeneralList ofEnglish Wordsde Michael West.21 A lista de West continha cerca de 2000palavras selecionadas segundo os seguintes critrios:

(a) frequncia das palavras,(b) valor estrutural,(c) universalidade em relao rea geogrfica,(d) amplitude do assunto,(e) valor do propsito ou da definio,(f) valores da formao de palavra,(g) funo estilstica de uma palavra.

Os dilogos e drillseram contextualizados com recursos visuais e asistematizao da gramtica Grammar in Pictures s acontecia depoisque o aluno havia fixado as estruturas com a repetio dos dilogos e dosexerccios. A autora afirma no ter feito opo pela variedade britnicaou americana, concentrando-se nos pontos comuns entre as duasvariedades. O livro de exerccios, sem ilustraes, apresentadrills; frasespara serem colocadas em ordem, formando um dilogo; frases sobre asgravuras para serem classificadas com YES ou NO; perguntas sobre oprprio aluno e sobre as personagens; frases para completar, etc.

Existe uma sequncia temtica nos 3 livros. No primeiro, os integrantesda famlia Brown se apresentam, falam de seu trabalho, de sua famlia, de

sua casa, de seus lazeres, festas e passeios. A famlia composta por umcasal de avs, um casal de pais e cinco filhos: Judy, Kate, Tom, Paul eJimmy. Ao contrrio das famlias habituais nos livros didticos daquelapoca, a me da famlia Brown, Nancy Brown, tambm trabalha e nofica em casa cuidando da famlia. Ela enfermeira e o marido, JohnBrown, mdico. No livro 2, surge uma outra famlia, composta porMr. e Mrs Black e seus filhos que so colegas de escola de Kate e PaulBrown. Vrias situaes conversa telefnica, fim de semana no clube e

na praia, jogo de futebol, festa na escola, postagem de carta, atropelamento,

21WEST, 1953.

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um jantar danante e uma viagem so usadas tanto para rever estruturasdo livro 1 como para introduzir novas estruturas. No livro 3, inspiradaem sua prpria experincia, segundo depoimento pessoal, Solange descreve

uma viagem do professor Tom Brown a Londres para fazer um curso.O livro do professor que acompanha cada livro tem o sugestivo

nome de Suggestions for the Use of Structural English with Audio-visualAids. A autora deixa claro, no livro 1, que so sugestes, grafando apalavrasuggestions em negrito. Vejam como ela respeita e incentiva aautonomia do professor:

This is only a practical booklet, with no more than its title

announces: suggestions, lesson by lesson, on how to introducethe material to be taught in an initial English course for Brazilianschools. It is not claimed that the suggestions are complete: orthat they are the best for their specific purposes. There is a lot leftto the teachers imagination, to his capacity of adapting techniquesto specific classrooms situations, of completing information justhinted at, etc..But this is as it should be. No book, no mechanic device, will

ever replace the creative and personal role of the teacher. Even ifhis professional and academic qualifications are impeccable, it ison this attitude and personality the success in teaching largelydepends. Enthusiasms, kindness, humour, a sense of disciplinesoftened by personal warmth, an attitude of confidence in hiscapacity to teach and in the students ability to learn these arequalities that no technical resources will ever replace22

Solange enfatizava que era importante que o professor conhecesse alingustica moderna, especialmente a lingustica aplicada e d suacontribuio, ao listar ao final dos livros do professor, uma srie de livrosimportantes: dicionrios, livros, peridicos, e gramticas, incluindo livrossobre pronncia acompanhados de gravaes. Os livros incluam teoriaslingusticas, reflexes sobre ensino e aprendizagem e metodologia deensino, especialmente a udio-visual. Os planos de aula apresentavamsugestes detalhadas; os procedimentos iniciais a cada aula, a manipulao

das gravuras, as tcnicas de repetio, a chamada dos alunos pelos nmeros

22OLIVEIRA, Structural English with Audio-visual Aids, 1970b, p. 9.

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em ingls, a identificao do dia da semana e do ms em ingls para cadaaula, etc. Cada livro do professor trazia ainda pequenos textos paraexerccio de ditado associados s lies.

1971 Sai a edio do volume 3 da coleo English by the Audio-visualMethod. Em junho, Solange oferece um mini-curso intitulado RecursosAudio-Visuais e o Ensino de Ingls uma promoo do Departamentode Lnguas Estrangeiras do Colgio Estadual de Minas Gerais. Oauditrio do Colgio Estadual, em Belo Horizonte, estava repleto de

jovens professores, todos ns vidos para aprendermos a usar a novametodologia.

O Brasil se retira da OEA (Organizao dos Estados Americanos) por noconseguir um plano conjunto de ao contra o terrorismo. A resistncia ditadura sofre fortes golpes. Iara Iavelberg, companheira de Carlos Lamarca,morre cercada pela polcia em Salvador. Stuart Angel, filho da estilista Zuzu

Angel morto aps tortura na base do Galeo. O capito Carlos Lamarca morto no municpio baiano de Ipupiara.

O livro trs mostra a sequncia da viagem de Tom: fazendo asmalas na unidade 1, depois chegando a Cambridge, conhecendo acomida, conhecendo Cambridge, passando um fim de semana emLondres, indo corrida de cavalos, fazendo compras, conhecendo acultura, etc. Esse ltimo volume revisa o contedo dos dois livrosanteriores em novas situaes e introduz novas estruturas.

Oito anos depois do lanamento de Structural English, segundoinformao da prpria autora,23 a srie j estava na dcima primeira edio,

o que comprova o seu grande sucesso.

1973 Sai a segunda edio deA Trip to the Moon,24 destinado a crianas.

Portaria da Polcia Federal probe 46 revistas estrangeiras e 14 nacionais. Aofinal do governo do ditador Mdici, o MDB (Movimento DemocrticoBrasileiro) decide apresentar uma anticandidatura Presidncia, com UlyssesGuimares para presidente e Barbosa Lima Sobrinho para vice. Luta armada,

23OLIVEIRA, Structural English with audio-visual aids1978, p. VII.

24OLIVEIRA,A Trip to the Moon, 1973.

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crise do petrleo. Ratificao do tratado de Itaipu para a construo de umahidreltrica. No Chile, cai o governo Allende e assume o ditador Pinochet.Vrios intelectuais brasileiros ali asilados fogem para a Europa.

A Trip to the Moon (Fig. 2), com vinte lies, um material muitocriativo assim como sua sequncia, The Blue Earth.25 O livro acompanhado por um livro de exerccios, uma coleo de slides ecorrespondente coleo de figuras em tamanho maior para serem usadasem flanelgrafo. Acompanha, ainda, fitas gravadas em duas verses: umacom vozes americanas e outra com vozes inglesas. Chama a ateno ofato de a editora gravar todo o livro para o professor, gratuitamente,mediante o envio de uma fita virgem que o professor depois poderiausar em sala de aula e, ainda, reproduzir para seus alunos ouvirem emcasa. O aluno podia, tambm, adquirir o material em um disco.

25OLIVEIRA, The Blue Earth, 1979.

Figura 2. Capa do livroA Trip to the Moon.

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No livro do professor, a autora ensina como confeccionar umflanelgrafo e prope tcnicas para seu uso. Ela advoga a superioridade doflanelgrafo sobre o pster, pois, no primeiro, as figuras no ficam estticas

e podem ser usadas de vrias formas, sugerindo vrios tipos de situaes.26As estruturas verbais so ensinadas de forma progressiva atravs da

histria de duas crianas visitando a lua. Veja como a prpria autoradescreve a histria no livro do professor:

A histria repete, na forma atual de uma viagem lua, o mitoeterno da busca da felicidade: nunca est onde ns a pomos, oununca a pomos onde ela est. A terra azul, linda quando vista

do espao, tal como a descreveu o astronauta Neil Armstrong oprimeiro homem na lua revela a esperana de um mundo melhorpara as crianas do futuro. E Rex, o robot que se converte emhomem, quando ama e se solidariza com o sofrimento alheio,expressa a f nos valores humanos, capazes de utilizar a tecnologia,sem se deixar esmagar por ela.27

A gramtica ensinada atravs de textos interessantes e algumas

vezes at poticos, como, por exemplo, A robot cannot breathe. A robotcannot eat. A robot cannot drink. A robot cannot dream. /Men andwomen can breathe. Men and women can eat. Men and women candrink. Men and women can dream. /A robot can only be a robot28. Ouainda, a humanizao do robot atravs do sentimento que gera o choronos dois quadrinhos finais da lio 19, reproduzidos na figura 3.

26OLIVEIRA, 1974, p. 9.

27OLIVEIRA, 1974, pgina anterior numerada como 1.

28OLIVEIRA,A Trip to the Moon, 1979, p. 31.

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No livro do professor, Suggestions for the Use of A trip to the Moon(fig. 4), com 180 pginas, a autora oferece sugestes detalhadas ao professore se insurge contra o excesso de nfase no automatismo, objetivo dametodologia udio-oral. Diz ela:

The use of drills does not mean that the acquisition ofautomatisms is the only aspect of learning to be considered.Language must never be used mechanically, without thespeakers realizing the meaning of what he says. That is whydrills, as you will see below, are done always in relation topictures or real situation in the class. The students do notoften even realize that they are doing exercises. They have theimpression of real communication, if only within the smallrange of the material they know. In this book drills never ceaseto be contextualized.29

29OLIVEIRA, 1974, p. 11.

Figura 3. Cenas finais da lio 19 deA Trip to the Moon.

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O professor encontra planos de aula detalhados com descrio domaterial para cada aula, descrio de contedo lexical, gramatical efonolgico, e todos os procedimentos a serem seguidos na sala de aula,alm das instrues para o dever de casa. Os planos so feitos para 62 perodosde aula e h sugestes de vrios jogos e brincadeiras infantis, algumas,provavelmente j conhecidas das crianas por terem correspondentes nacultura brasileira, como, por exemplo, Seu lobo chegou (What Timeis it, Mr. Wolf) e Cabra Cega (Blind Mans Buff).

A criatividade da autora no a deixa prisioneira da metodologiaudio-visual e em algumas atividades, encontramos uma metodologia maiscentrada no aprendiz como nas abordagens comunicativas. H, tambm,

atividades ldicas que poderiam ser classificadas como originadas de umametodologia TPR (Total Physical Response) que prope a associao deaes para facilitar a aprendizagem da lngua. Veja por exemplo a atividadeilustrada na figura 5 no WorkbookdeA Trip to the Moon.

Figura 4. Capa do livro do professor deA Trip to the Moon.

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Os alunos colorem, recortam e montam uma nave espacial, colando

o desenho em um papel mais grosso. Com um suporte na parte de trs,a nave pode ficar pousada na carteira do aluno ou voar pelas mos dacriana, enquanto treinam as estruturas como Is your space-ship flyingnow? O uso das gravuras, segundo depoimento pessoal da autora era aforma que ela encontrava para tornar os drillsmenos mecnicos.

1975: Solange publica o livro didtico Texts and Tests

Incio do Programa Nuclear Brasileiro e consequente reao americana comameaas de corte de crdito. Geisel rompe o acordo militar com os EstadosUnidos. Construo de Tucuru e Itaipu. Morte do jornalista WladimirHersog, torturado pelos militares em 25 de outubro. O boletim da polcia

Figura 5. Desenho de nave espacial para ser recortada.

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apresenta a verso de que Herzog se suicidou por enforcamento. Mais de 10mil pessoas participam de um ato ecumnico na Catedral da S em memriade Herzog no dia 31 de outubro.

O livro Texts and Tests foi escrito para vestibulandos e alunosiniciantes em Cursos de Letras e, segundo a autora, poderia ser usadoaps a srie Structural English with Audio-visual Aids, ou outra similar.

30OLIVEIRA, Texts and Tests, 1975, p. 8.

Todos os textos eram autnticos e eram seguidos por exerccios de mltipla

escolha e drillspara aprendizagem da estrutura em foco. Na sequncia, oaluno sempre encontrava uma piada, retirada de revistas estrangeiras, como objetivo de ilustrar vividamente o uso das estruturas automatizadasnos drills.30 O aluno poderia, ainda, treinar a estrutura em exercciossob a forma de instruo programada.

A parte gramatical tinha por suporte o trabalho de estudiosos comoJerspersen e a gramtica gerativa-transformacional, recm-introduzida noBrasil. Solange introduzia os elementos do sintagma verbal seguindo afrmula Aux >{be/verbal} tense + (M) + (have+part) + (be+ing).

Figura 6. Capa do livro Texts and Tests.

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Segundo ela, essa ordem adequada descrio lingustica extremamentefuncional na aplicao pedaggica. Trabalhei com esse material na PUC-Minas e devo concordar que a frmula era bastante eficaz para o

entendimento do sistema verbal da lngua inglesa.Aps a consolidao do estudo gramatical, o livro apresentava canes

que, como as piadas, ajudavam a ilustrar e reforar as estruturas gramaticaisfocalizadas na unidade.31 Havia ainda exerccios variados: mltipla escolha,transformaes, combinar colunas, preencher lacunas, etc. Ao final dolivro, um apndice reunia uma coleo de textos tcnicos das reas decincias exatas, biolgicas e sociais, e exerccios de mltipla escolha. Oaluno poderia adquirir fitas gravadas com todos os textos e exerccios e a

editora providenciava a gravao gratuita para o professor. Desfilam pelolivro contos de autores ingleses e americanos, canes inglesas tradicionais,piadas ilustradas e textos humorsticos da revistaMad. As canes soacompanhadas das partituras, cuidado indito em livro didtico. Os textostcnicos apresentam temas variados, como por exemplo, o pensamentode Einstein, opinies sobre drogas, transplante, poltica internacional, etc.

1978 Publicao do livro The EPT course

Em outubro, o ltimo ditador, General Joo Baptista de Figueiredo escolhidopresidente pelo Conselho Eleitoral. No mesmo ms, a Unio responsabilizadapela morte do jornalista Vladimir Hersog. Em 27 de dezembro, entra emvigor a nova lei de segurana nacional e, em 31 de dezembro, o ditadorErnesto Geisel revoga o AI-5.

The EPT Course, The English Possible to Teach, foi escrito para o

Ensino Mdio, naquela poca, denominado de Segundo Grau. Solangemais uma vez manifesta sua preocupao com os aprendizes de ingls naescola brasileira e afirma

A precariedade dessas condies , infelizmente, demasiadoconhecida. Entre outras causas, o nmero reduzido de aulas e asclasses numerosas demais no permitem ao aluno chegar aosegundo grau com os conhecimentos desejveis. Ele , na melhordas hipteses, um false beginner, com noes vagas da matria.32

31OLIVEIRA, Texts and Tests, 1975, p. 8.

32OLIVEIRA, The EPT course, The English Possible to Teach, vii.

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33IATEFL a Associao Internacional de Professores de Ingls como Lngua Estrangeira,

com sede na Inglaterra.34

HORNBY, The Teaching of Structural Words and Sentence Patterns, 1959, 1960, 1961.

A autora ainda revela ter sido influenciada por palestrantes de um congressodo IATEFL,33 do qual participara. Esses pesquisadores insistiam nanecessidade de reduzir os currculos a um mnimo til e funcional emsituaes desfavorveis de ensino. Solange acrescenta que [E]sse mnimodeve ser exeqvel dentro do pequeno tempo disponvel. Ao mesmo tempodever ser organizado de tal forma que, introduzindo as estruturas evocabulrio de uso mais freqente possa, no futuro, ser expandido peloprprio aluno. Estava a lanada a ideia da autonomia que s ganhoucorpo no Brasil a partir de 1993, com o XII ENPULI (Encontro Nacionalde Professores de Lngua Inglesa), em Porto Alegre cujo tema era autonomia.

The EPT Course, como as outras obras, tambm seguia a sequnciade estruturas proposta por Hornby34 e abrangia um vocabulrio de 500palavras. Como nos livros anteriores, os dilogos eram ilustrados e a leituraestava presente desde o incio. O livro se dividia em 20% de contedo e

Figura 7. Capa do livro The EPT Course.

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80% de exerccios e era complementado por cartazes e fitas gravadasgratuitamente para os professores.

1979: Publicao do livro didtico The Blue Earth.

O ltimo ditador, Joo Baptista de Figueiredo assume o governo. Em agostode 1979, o presidente Figueiredo sanciona a Lei de Anistia e os presos polticoscomeam a ser libertados. No ms seguinte, o ex-governador Leonel Brizolaretorna de um exlio de 15 anos e, em seguida, Miguel Arraes, o ex-deputado

Mrcio Moreira Aves e o secretrio-geral do PCB, Luiz Carlos Prestes, sendoo ltimo recebido por cerca de 10 mil pessoas no aeroporto do Galeo. Os dois

partidos da poca, Arena e MDB, so extintos.

The Blue Earth, assim como A Trip to the Moon, mantm aabordagem estrutural com recursos audiovisuais. So introduzidas 350palavras objetivando o alcance do nvel pr-intermedirio. Na apresentaoao professor, a autora afirma que o tema: a histria da viagem de Pam eKeith lua complementada: as aventuras, na terra, de seu amigo, o

Moon-Man, ecoam para o mundo infantil, o tema das visitas extraterrestres

ao planeta azul.35

35OLIVEIRA, The Blue Earth,1979, pgina no numerada, anterior ao sumrio.

Figura 8. Capa do livro The Blue Earth.

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perceptvel a preocupao da autora com o foco no sentido,mesmo usando uma metodologia que privilegiava a estrutura gramatical.Sua inteno era fazer com que o aluno tivesse a impresso de estar

trabalhando com assuntos de seu universo e no de estar fazendo repetiese exerccios mecnicos.

O material discutia questes sociais, mostrando a diferena entrecrianas privilegiadas e as que pertenciam classe dos miserveis e, ainda,a penria do homem do campo. Aps ver o contraste entre crianas ricase pobres na praia, o homem da lua, o personagem que encarna a conscinciacrtica no livro, diz: All children must be happy. All children must playtogether. Every child must have something to eat when he is hungry.Every child must have something to drink when he is thirsty. Every childmust have a good bed to sleep on when he is sleepy.36 A ilustrao queacompanha o texto mostra crianas bem nutridas se esbaldando na praia,sendo observadas por uma famlia muito pobre. Outro exemplo pode servisto na figura 9, retirada da penltima unidade do livro. A imagem fala porsi. O texto mostra o desapontamento do homem da lua ao ver que ostrabalhadores rurais trabalham muito, mas comem mal e so mal remunerados.

36OLIVEIRA, The Blue Earth, 1979, p. 47.

Figura 9. Reproduo da ilustrao da lio 14 do livro The Blue Earth(Oliveira, 1979, p. 54).

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O livro se encerra com uma extensa carta para leitura silenciosaescrita pelo homem da lua. Nessa carta, o personagem reconhece que ascrianas no so culpadas pelas coisas ruins do planeta terra e deposita

nelas sua esperana por um dia melhor:

You children will change the world. Youre the onlypeople who can do this.

Youll give the hungry people food. Youll give thethirsty people drink. Youll give poor children houses, clothes,and books, and toys and love. Youll give yourselves something,too. Youll give yourselves the world of the future.

One day, Ill come back to see this beautiful world.Good-blue, and till that day, then.Your loving Friend,

The Moon-Man37

1980: Solange inicia seu ps-doutorado na Universidade da Carolina doNorte, nos Estados Unidos, como bolsista da Comisso Fulbright.

publicado o livroA Tour of Brazil.

So apreendidos em todo pas os exemplares do Pasquim. Aps um ano degoverno, o ditador Joo Batista Figueiredo d incio ao processo de aberturapoltica. Em 1980, restabelecida a eleio direta para governadores e soextintos os cargos de senadores binicos. Inflao chega a 110%. Recesso,desemprego. Registro do Partido dos Trabalhadores liderado pelo ldermetalrgico Luiz Incio Lula da Silva, reunindo trabalhadores das fbricas,intelectuais religiosos, e quadros da esquerda do Movimento DemocrticoBrasileiro (MDB). Fundao do PTB por Leonel Brizola. Morre Vincius de

Moraes. Trs bombas explodem em um nico dia no Rio de Janeiro. Na OAB(Ordem dos advogados do Brasil) uma bomba explode e mata a secretriaLida Monteiro da Silva. No gabinete do vereador Antnio Carlos de Carvalho,a exploso fere seis pessoas e na Tribuna Operria danifica instalaes.

A Tour of Brazil uma srie, em dois volumes, destinada a adolescentesbrasileiros e, segundo o texto de apresentao do material, uma realizao

37OLIVEIRA, The Blue Earth, 1979, p. 63.

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pioneira por utilizar a cultura brasileira para a aprendizagem da lngua inglesa;por propor uma integrao com outras disciplinas; pelo desenvolvimentoda leitura silenciosa e da interpretao de texto desde o incio; pela conciliao

da gradao gramatical aliada a abordagem nocional-funcional; pela adoode uma abordagem centrada no aluno; e, finalmente, pelo mnimo dematerial introduzido em aula e o mximo de trabalhos em casa.

Solange j advogava posturas metodolgicas que s hoje comeama fazer sentido para produtores de material didtico brasileiro. Ela propunha,por exemplo, que expresses como Would you like a... fosse estudadacomo uma frmula sem nenhuma explicao sobre o modal would.

Uma preocupao constante da professora era tornar o estudo doingls menos alienado, sempre preocupada com a funo educacionaldo ensino de lnguas. Em vez de colocar seus personagens em um pas delngua inglesa, desloca a periferia para o centro e cria personagens ingleses,

um antroplogo, Professor Heath e sua esposa, visitando o Brasil. Olivro ilustrado com muitas fotos e desenhos de festas brasileiras e dosprincipais pontos tursticos de nosso pas. Pelas pginas deA Tour of Brazil,o casal Heath tem contato com o carnaval, a festa de congado, o barroco,

Figura 10. Capa do livroA Tour of Brazil.

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o Vale do Ao, a metalurgia e a indstria em Minas. Eles passeiam porBraslia, Rio de Janeiro, Mato Grosso, So Paulo, etc. Vejam como aprpria autora descreve essa coleo

[...] inverti a frmula convencional de descrever uma viagemao pas estrangeiro. Em vez disso, descrevo a vinda ao Brasil deum antroplogo ingls, acompanhado por um guia brasileiro.Este d ao visitante uma viso turstica bastante festiva do Brasil.Contudo, as notas no dirio do antroplogo, e as cartas quesua mulher envia ao exterior, tambm contidos em A Tour ofBrazil, apresentam um quadro diferente. O esplendor da

arquitetura de Braslia, por exemplo, contrastado com amisria das cidades satlites, onde moram os candangos,construtores da capital. Pelo contraste de pontos de vistadiferentes, nesse e em outros trechos dos dois volumes de A Tourof Brazil, espera-se levar o jovem aluno a desenvolver uma atitudecada vez mais crtica do texto escrito.38

Os textos trazem um olhar corajosamente crtico sobre a realidadebrasileira. Veja, por exemplo, um trecho do texto Metallurgy and Industryin Minas:

When minerals go outside the country, they never come back.When they are used by industr ies outs ide Brazil, theseindustries grow, but Brazilian industry does not. And then ithas to compete with products from the other countries products made with our own materials This is in fact, anold story the story of other Brazilian minerals at present.39

Segundo a autora, o livro no foi bem sucedido, ao contrrio desuas outras publicaes. Ela acredita que [O]s professores brasileiros aindaparecem preferir, mesmo para os principiantes, o manual que descreve osencantos das cidades europias.... Encontro trs explicaes para o insucessodessa obra. Primeiro porque o livro foi publicado em uma poca de baixaauto-estima dos brasileiros submetidos ditadura militar e a repressopoltica. Isso levava os professores e alunos a sonhar com outros pases. A

38OLIVEIRA,A Tour of Brazil, 1996, p. 51.

39OLIVEIRA,A Tour of Brazil, 1996, p. 98.

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outra explicao est associada ao fato de o livro ser muito inovador, oque deixava o professor inseguro. Afinal, sempre que aparece uma inovaona educao, a primeira reao a resistncia. Finalmente, o material foi

escrito para alunos do ensino mdio (segundo grau) que representava umaparcela bastante inferior ao segmento do ensino fundamental (primeiro grau)a que se destinava a srie Structural English. A expanso do ensino mdio sveio a acontecer na dcada de 90.

1984: Solange se aposenta na UFMG e inicia nova carreira na UFOP.Publica o artigo Ideology, Education and the English Teacher na revistaEstudos Germnicos.

Campanha Diretas J com milhes de pessoas querendo votar para presidentenas ruas em todo pas. Comcio pelas Diretas-J rene 1,3 milho de pessoasem So Paulo. Derrota da emenda Dante de Oliveira que propunha aseleies diretas, no dia 25 de abril. 298 deputados votaram a favor, 65contra e trs se abstiveram. 112 parlamentares no compareceram para votar,com medo de decepcionar os eleitores se votassem contra a Emenda. Seriamnecessrios apenas mais 22 votos para sua aprovao.

Doze anos depois, Solange, a meu pedido, traduz o artigo40 e meautoriza a reproduzi-lo no primeiro livro que organizei.41 O temacontinuava atual. Nesse texto, Solange reafirma seu compromisso com aeducao e faz uma lcida avaliao poltica, criticando o extremismo dealguns representantes da esquerda que usavam argumentos do tipo o inglsnada far pelas crianas da rua, ou pelas populaes carentes.42 A autora,

lucidamente se posiciona contra o isolacionismo poltico e cultural quelevaria ao isolamento dentro de nossas fronteiras e defende o ensino dalngua inglesa no Brasil de forma democrtica. Diz ela:

Os professores que tiveram contato direto com crianasdesprivilegiadas no podem negar que a grande maioria dosestudantes jamais usar a lngua inglesa para objetivos imediatos

40OLIVEIRA, Ideology, Education and the English Teacher, 1984.

41PAIVA, Ensino de lngua inglesa: reflexes e experincias, 1996.

42OLIVEIRA, Ideologia e ensino de lnguas e literaturas estrangeiras, 1996, p. 44.

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de viagem ao exterior, por exemplo, ou mesmo para leitura deoutras disciplinas na Universidade. Mas permanece um fatocrucial: atravs da ascenso social, ALGUMAS dessas crianas

podem vir a ter acesso a tais privilgios. Conseguiremos preverquais alunos atingiro esse ponto e quais deixaro de alcan-lo? Teremos o direito de fazer de antemo uma escolha baseadaem fatos totalmente imprevisveis?Diante da resposta obviamente negativa h dois pontosimportantes a considerar: ensinar lnguas estrangeiras a umacriana carente pode contribuir para torn-la menos carente. Poroutro lado, a deciso contrria equivale a dizer-lhe que devercontinuar carente, e que no merece outro destino.43

Antecipando uma pedagogia crtica, ela sugere que o ensino de inglsdesempenhe seu papel educacional com atividades de leitura na perspectivade uma leitura ideolgica, contribuindo assim para o entendimento deque no existe texto neutro.

Concluso

A releitura da obra didtica de Solange conecta-me com as reflexesdos indianos Canagarajah (2005)44 e Kuramavadivelu (2003, 2006).45

Canagarajah (2005) denuncia a imposio unilateral de discursoshomogneos e tradies intelectuais de poucas comunidades dominantes.Ressalta tambm a falta de processos globais e de condies locais quepoderiam nos levar a uma poltica pedaggica mais contextualizada.

Kuramavadivelu (2003),46 partindo do pressuposto de que no existeum mtodo melhor e, influenciado pelo pensador brasileiro, Paulo Freire,defende a ideia do professor como um intelectual transformador. Ele propeque este, dentre outras coisas, maximize as oportunidades de aprendizagemde seus alunos, promova a autonomia do aprendiz, contextualize o input

43OLIVEIRA, Ideologia e ensino de lnguas e literaturas estrangeira, 1996, p. 44.

44

CANAGARAJAH, S. (Ed.). Reclaiming the Local in Language Policy and Practice, 2005.45KURAMAVADIVELU, Beyond Methods: Macrostrategies, 2003; KURAMAVADIVELU,

Understanding Language Teaching: from Method to Postmethod, 2006.46

KURAMAVADIVELU, Beyond Methods: Macrostrategies, 2003.

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lingustico e desperte a conscincia cultural. Kuramavadivelu (2006)47

prope uma pedagogia ps-mtodo que siga trs parmetros:particularidade, praticalidade, e possibilidade.

Uma pedagogia ps-metodo deve, portanto, ser sensvel a contextosparticulares e enfatizar as exigncias locais; os professores devem estarpreparados para teorizar sobre sua prtica e praticar o que teorizam,deixando de ser meros aplicadores de teorias e passarem a atuar comoprofissionais que agem e refletem sobre sua prtica. Uma pedagogia dapossibilidade reconhece a identidade individual do professor e de seusalunos e trabalha com as experincias que as pessoas trazem para seucontexto pedaggico, como pregava Paulo Freire (1975).48

possvel ver na obra de Solange Ribeiro de Oliveira as sementesde uma pedagogia ps-moderna, uma pedagogia ps-mtodo,principalmente pelo fato de ela no ter se curvado superioridade dametodologia importada sem, contudo, desprez-la. Da mesma formaque os tropicalistas adotaram a guitarra eltrica sem abandonar oberimbau, Solange adotou a metodologia udio-visual, fazendo as devidasadaptaes temticas e metodolgicas de forma a torn-la adequada cultura

brasileira. A leitura crtica, a interdisciplinaridade com as cincias sociaisesto l na obraA Tour of Brazil, antecipando teorias, desconstruindo asimposies e, principalmente, oferecendo uma outra possibilidade de ensinode ingls que valorizava o local, o nacional, ao mesmo tempo que educavae despertava a conscincia dos nossos jovens para as desigualdades sociais.

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47KURAMAVADIVELU,Understanding Language Teaching: from Method to Postmethod,2006.

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