software livre na saÚde - avm.edu.br roberto valerio da silva.pdf · cada pc que vendia com o...
TRANSCRIPT
Autor - Paulo Roberto Valério da Silva
Orientador – Clóvis Ricardo Montenegro Lima
SOFTWARE LIVRE NA SAÚDE
Rio de Janeiro 2004
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO VEZ DO MESTRE
SOFTWARE LIVRE NA SAÚDE
OBJETIVOS: Informar parâmetros sobre software livre e em saúde, para uma melhor conceituação e utilização das técnicas/custos, disponíveis hoje. De forma a se utilizar as melhores performances para os negócios e serviços de saúde.
3
AGRADECIMENTOS
A todos os instrutores do corpo docente do projeto “A Vez do Mestre”, a meus queridos filhos e a todos os colegas de caminhada que tanto acrescentaram no
decorrer do curso e na confecção desse trabalho acadêmico.
4
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho acadêmico principalmente a: Giselle; Bruno; Bárbara; Israel e Ariel. Que sem murmurar, deixaram-me à vontade para que pudesse executar esse
trabalho, apesar de querer estar junto comigo.
5
RESUMO
Um grande número de clínicas e laboratórios que supera os 45 mil
estabelecimentos no país; sete mil hospitais; perto de 1.800 empresas operadoras de
planos de saúde; números expressivos de médicos, veterinários e profissionais da
saúde e organismos governamentais em suas diferentes esferas administrativas
(federal, estadual e municipal) formam o conjunto de agentes que atuam no setor de
saúde no Brasil. Os produtos de software que atendem especificamente à demanda
originada por esses agentes ajudam na gestão administrativa e financeira; na gestão
da saúde pública; nos diferentes processos de prestação do atendimento clínico; bem
como na educação profissional e em diversas atividades de pesquisa.
Esse trabalho oferece um panorama do setor de software para saúde,
enfocando as iniciativas que os setores público e privado têm tomado nos últimos
anos. Para isso, inicialmente, faz-se um resumo do que é software livre e um
histórico da informática na saúde. Posteriormente, mencionam-se alguns exemplos
dos principais sub-segmentos do mercado e, finalmente, apresentam-se estatísticas
geradas a partir de informações disponíveis nos bancos de dados do Instituto de
Estudos Econômicos em Software (IEES).
Apesar de que a prática governamental no uso de software livre anda a um
ritmo mais lento do esperado ou desejado, medidas como estas podem potencializar
os serviços prestados pelas pessoas vinculadas aos departamentos específicos de
muitos hospitais que, em geral, desenvolvem soluções ‘proprietárias’ para corrigir ou
melhorar deficiências do software em uso em suas unidades, gerando novos
produtos.
6
METODOLOGIA
A metodologia aplicada a esse trabalho baseou-se na realidade histórica do
software na saúde, dando uma ampla visão de como esse produto está situado no
Brasil, bem como a nossa capacidade no contexto nacional.
Essa realidade aliada a nossa demanda e a capacidade para o quadro atual e
futuro traz uma clara visão do caminho a se trilhar.
Quem de alguma forma for utilizar esse trabalho, terá uma proposta concreta
da razão da utilização do software livre no Brasil. Essa utilização não é um modismo
ou tendência, mas sim uma questão de oportunidades e razão.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
HISTÓRICO DA INFORMÁTICA EM SAÚDE 13
INOVAÇÕES 15
TELEMEDICINA 16
TENDÊNCIA E PERSPECTIVAS 18
SOFTWARE LIVRE: INOVAÇÃO E DIFUSÃO 19
MIGRAÇÃO PARA SOFTWARE LIVRE NO GOVERNO FEDERAL 23
QUADROS INFORMATIVOS 28
CONCLUSÃO 36
BIBLIOGRAFIA 37
8
INTRODUÇÃO
Sim, porque usar software livre? Pela simples razão de que nos dias de hoje o
computador representa um papel importante, equivalente ao que o lápis e papel
desempenhavam alguns anos atrás, para o desempenho da maior parte das profissões.
Grande número de empresas fornece computadores a seus funcionários para realizar
suas tarefas diárias. A nossa sociedade é extremamente dependente de computadores
para seu funcionamento. A enorme fortuna gasta para corrigir os computadores para
a virada do milênio é um claro indicador desta dependência.
Pois então, é inconcebível que num mundo tão dependente destas máquinas
para seu funcionamento, a maior parte dos programas que regem o seu
funcionamento sejam fornecidas por um único fabricante e a preços cada vez
maiores. Estima-se hoje que mais de 90% dos computadores pessoais sejam baseados
nos sistemas operacionais da Microsoft e em seus aplicativos de produtividade como
o conjunto de programas Office. Há alguns anos atrás a IBM pagava U$ 9,00 por
cada PC que vendia com o sistema operacional Windows 3.1 instalado. O preço pago
nos dias de hoje situa-se por volta de U$ 100,00 por cada PC vendido com Windows
XP instalado (o preço real é U$ 130,00 porém é possível se obter alguns descontos
caso o fabricante assine um contrato com a Microsoft concordando com algumas
exigências da empresa). Além do alto custo dos programas, muitos fabricantes de
computadores temem retaliações por parte da Microsoft caso vendam seus PCs com
outros sistemas operacionais pré-instalados. A Compaq, em audiência no processo
movido pela empresa Netscape contra a Microsoft alegando práticas monopolistas,
revelou documentos internos, datados de 1993, onde admitia estes temores. Imagine
os preços que teremos que pagar caso este monopólio cada vez maior realmente se
consolide eliminando todas as alternativas hoje existentes?
Como se tudo isto já não bastasse, existem rumores de que os termos de
licenciamento de produtos Microsoft irão mudar. Nas bases atuais o usuário ao
comprar seu computador adquire o direito de uso por tempo indeterminado. Na nova
9
versão o software não será mais adquirido e sim licenciado em bases anuais,
exigindo o pagamento de uma nova licença para o uso continuado. Interessante, não?
Esta dominância quase que absoluta, representa perigos reais. A
impossibilidade do acesso a computadores irá representar em futuro muito próximo a
marginalização das populações ou países que não tenham os recursos necessários
para investimento nesta área. Precisamos garantir a qualquer preço o direito ao
acesso à computação e à informação cada vez mais essencial para o desempenho de
nossas profissões; empresas; setores públicos; hospitais e à nossa vida. Sem esta
garantia, sem dúvida alguma, nos tornaremos no futuro próximo, cidadãos ou países
de quinta categoria. Não é sem razão que diversos países no mundo, notadamente na
Europa, têm apoiado incondicionalmente o movimento de uso de software livre.
Estrategicamente não é recomendável que a situação atual de monopólio evolua para
um mundo com ainda menos alternativas.
O governo brasileiro já compreendeu a importância da disseminação da
cultura em informática para sua população. O governo mexicano lançou um
programa nacional de informatização baseado exclusivamente no Linux e em
software livre. Este programa objetiva equipar entre 20.000 a 35.000 pontos
anualmente durante os próximos cinco anos. O preço para equipar estes pontos com
software Microsoft seria de U$ 124 milhões/ano. Com Linux basta comprar um CD
de distribuição, vendido por aproximadamente U$ 50,00. E mesmo este CD pode ser
duplicado infinitamente sem quaisquer implicações legais, pois o software é
totalmente livre
Além desta iniciativa pioneira do governo mexicano, pode-se encontrar na
Internet inúmeros relatos de iniciativas isoladas. Ao passo que os ambientes
proprietários requerem computadores cada vez mais poderosos, os softwares de
código aberto funcionam de maneira bastante satisfatória em computadores com
processador Intel 486 e até mesmo 386.
O preço educacional do pacote Office no Brasil é de aproximadamente R$
300,00, ou U$ 125,00, o que é uma quantia significativa levando-se em consideração
a condição financeira da maioria das escolas e universidades nacionais. Nos EUA,
através de acordos celebrados com algumas universidades, o mesmo software é
vendido por U$ 5,00, praticamente o custo de criação do CD. A Microsoft porém
10
exige como contrapartida, em muitos casos, uma exclusividade do uso de seus
softwares tanto na administração quanto na área acadêmica, o que pode ser
desastroso a longo prazo.
O movimento pelo software livre teve um impulso sem precedentes nos dois
últimos anos. Temos hoje uma batalha, cada vez mais feroz, entre dois campos. De
um lado, empresas poderosas criando software proprietário e dispendioso e de outro
um grupo enorme de programadores espalhados pelo mundo inteiro, cada um deles
dedicando-se a criar e desenvolver software livre. A ponta mais visível deste
movimento singular é o sistema operacional Linux, que veio ao mundo por meio das
mãos de Linus Torvalds. Em 1991, Linus, então um estudante de ciência da
computação na Finlândia, criou um clone do sistema Minux. O primeiro anúncio do
Linux apareceu no forum comp.os.minix, dedicado à discussão do sistema
operacional Minix, também semelhante ao Unix, criado por Andrew Tannenbaun,
um respeitável professor de ciência da computação. Desde seu aparecimento em
1991, o uso do Linux não para de crescer. Nos dois últimos anos, sua popularidade
atingiu níveis nunca esperados. Estima-se que sua base de usuários se situe hoje por
volta de 15 milhões. Diversas empresas respeitadas e famosas do mundo da
computação como IBM, Dell, Compaq, Oracle, já anunciaram seu suporte e respeito
elogioso ao Linux. A despeito do sucesso estrondoso do Linux, o criador deste
movimento foi Richard Stallman. Richard começou o movimento pelo software
aberto e livre em 1984, nos primeiros momentos da indústria de computadores,
quando começaram a aparecer os primeiros softwares comerciais. Richard era então
um pesquisador no MIT e trabalhava na área de inteligência artificial. A tradição dos
hackers de então era compartilhar mutuamente seu conhecimento, num ambiente de
intensa colaboração. Em determinada ocasião Richard precisou corrigir o driver de
uma impressora que não estava funcionando corretamente. Solicitou então, ao
fabricante do driver, o código fonte do programa para que pudesse realizar as
correções necessárias. Para sua surpresa e indignação, seu pedido foi negado. O
fabricante alegou que o código fonte era segredo comercial e não podia ser cedido a
terceiros. Richard iniciou então seu esforço gigantesco de criar versões abertas para
todas as categorias de software existentes, comercializadas sem acesso ao código
fonte. Criou então um compilador C, um editor de textos extremamente poderoso e
popular chamado emacs e fundou a Free Software Foundation (FSF). Nos anos que
11
se seguiram a FSF criou os aplicativos utilizados por todos os sistemas semelhantes
ao Unix, como Linux e FreeBSD, hoje tão populares.
A maior façanha de Richard Stallman não foi a criação de vários programas
poderosos e bem escritos. Escrever programas e disponibilizar o código fonte para
quem quer que seja poderia resultar justamente no contrário do que pretendia, a
liberdade no uso do software. Afinal de contas, se o código é aberto, o que impede
que alguém se utilize deste mesmo código, faça algumas modificações, declare que o
programa é proprietário e restrinja o acesso ao código modificado? Para impedir que
isto acontecesse, Richard escreveu um documento que estabelece a forma sob a qual
programas de código fonte aberto podem ser distribuído. O documento especifica
que o programa pode ser usado e modificado por quem quer que seja, desde que as
modificações efetuadas sejam também disponibilizadas em código fonte. Ou seja,
estes softwares têm um carácter viral, no sentido de que o que quer que seja
acrescentado ou modificado, também deve ser aberto e distribuído livremente. Este
documento chama-se "Gnu Public License" ou GPL como é mais conhecido.
O Linux somente possui toda esta força e penetração atual devido ao enorme
trabalho desenvolvido por Richard Stallman e por um batalhão de outras pessoas.
Estas pessoas dedicaram muito de seu tempo criando programas excepcionalmente
bons, que junto com o kernel do Linux, propiciaram a milhões de pessoas um
ambiente computacional de trabalho excepcionalmente bom e que melhora a cada
dia.
O Linux entretanto, na pessoa de seu criador e coordenador, soube melhor
aglutinar o imenso potencial de colaboração da Internet em torno de seu projeto.
Contribuições são aceitas, testadas e incorporadas ao sistema operacional a uma
velocidade nunca vista.
E é justamente este movimento, cada vez mais poderoso, que dá grandes
esperanças de tornar a computação disponível a um grande universo de pessoas, por
inúmeras razões. Em primeiro lugar vem a questão de custo. Por custo entenda-se
tanto a questão do software em si quanto a possibilidade de reutilizar computadores
já fora de uso. O software é totalmente gratuito e o hardware pode ser obtido a um
custo baixo ou nulo, no caso de doações. Além disto podemos contar com a boa
vontade e disposição de ajudar de um número incontável de pessoas. O caráter quase
12
que religioso dos adeptos do movimento de software livre garante um excelente
suporte para quem precisa de ajuda. Existem espalhados por todo o mundo os
chamados LUG, ou Linux User Groups. Em Phoenix, nos EUA, o grupo de usuários
Linux promove reuniões mensais para ensinar os conceitos do Linux aos novos
usuários. Nestas reuniões mensais os interessados em aprender mais sobre Linux
podem trazer seus computadores para serem configurados gratuitamente. Onde já se
viu?
O mais difícil entretanto, é vencer hábitos profundamente arraigados. Todos
nós criamos, com o passar do tempo, uma profunda resistência a mudarmos os
nossos hábitos. A argumentação geralmente segue a linha de que se foi tão difícil
aprender a usar os programas de computador que possuímos por que deveríamos
mudar tudo de uma hora para outra? Novamente, lembre-se de que um mundo sem
opções, em qualquer área que seja, em última instância será prejudicial a todos nós.
Você se lembra ou já ouviu falar da crise do petróleo? Pois então, o risco que hoje
corremos com os programas de computador é semelhante. À medida que o preço dos
programas de computadores sobe os reflexos se manifestam em praticamente todos
os aspectos de nossa vida. Lembre-se que todos os custos envolvidos no
desenvolvimento dos serviços por nós utilizados em nosso dia a dia são pagos por
nós. O dentista que usa um computador para manter sua lista de clientes, a empresa
que fabrica a televisão que adquirimos, a alimentação que consumimos. Como a
nossa sociedade é extremamente informatizada qualquer aumento no custo de
manutenção de sistemas informatizado representa um acréscimo na conta que todos
nós, de uma forma ou de outra, temos que pagar.
É proibido então ganhar dinheiro vendendo software? De forma alguma, o
que a FSF afirma é que o software deve ser livre. Sistemas computadorizados são
indispensáveis ao funcionamento de diversas empresas. O que ocorre em caso de
problemas? A empresa tem que recorrer a quem lhe vendeu o software. Esta empresa
pode ou não ter os recursos humanos e a vontade para corrigir o problema
imediatamente. O preço cobrado pela manutenção pode ser exorbitante, fora do
alcance da empresa. Se o código fosse livre qualquer pessoa capacitada tecnicamente
poderia corrigir o problema.
13
Além do mais, mesmo com software livre é possível se ganhar dinheiro. Apenas para
citar o exemplo mais marcante, a empresa RedHat, que comercializa uma das versões
mais difundidas do Linux obteve uma valorização fantástica no primeiro dia em que
teve suas ações comercializadas na bolsa de valores. Dois de seus proprietários são
hoje bilionários (em dólares) devido a esta valorização fantástica. Existem também
várias outras empresas e profissionais estabelecidos no mercado que derivam ganhos
significativos trabalhando ou fornecendo suporte a software livre.
HISTÓRICO DA INFORMÁTICA EM SAÚDE
Comparada com outras áreas da medicina a informática em saúde é uma
ciência relativamente jovem. A primeira aplicação de computadores na área da saúde
ocorreu nos EUA na década de 60, e era restrita apenas a instituições acadêmicas,
centralizada no aspecto epidemiológico das doenças, informações hospitalares e
registros ambulatoriais. Existia nessa época muita dificuldade decorrente da
limitação tecnológica, pois o hardware era muito caro e delicado e os softwares
disponíveis eram de difícil manipulação, e quem os manipulavam não eram da área
de saúde.
Com o aparecimento dos microcomputadores na década de 70 houve
importante avanço na tecnologia da comunicação, e com isso ficou bem mais fácil
sua implementação em sistemas departamentais em laboratórios e farmácias. Com o
avanço da tecnologia foram unidos os sistemas, que até então trabalhavam isolados e
inseridos novas modalidades. Assim já na década de 80 foram desenvolvidos
programas integrados tanto para aplicações hospitalares, quanto para aplicações
acadêmicas no treinamento de estudantes de graduação e pós-graduação. Nessa
década a maioria dos hospitais nos EUA, já possuía um programa comercial
hospitalar instalado. Isso se deve muito aos primeiros simpósios sobre computadores
em cuidados médicos que ocorreram na década de 70, e que foram abrindo a mente
do setor, sobre essa importante ferramenta de trabalho.
14
Em 1990, greenes e shortliffe definiram informática médica como “o campo
que concentra meios de entendimento, informação, processamento e comunicação
na prática médica, educação e pesquisa incluindo a ciência e tecnologia da
informação no seu suporte”.
Esses anos trouxeram um crescimento explosivo na tecnologia disponível
para a necessidade de informações médicas, e com isso ferramentas essenciais para
uma melhor administração e planejamento no setor. Os dados agora estavam bem
disponibilizados e podendo cruzar informações que inclusive podiam ser agrupadas
em agendas ou planilhas. As informações estavam guardadas em repositórios que
poderiam ser acessadas por vários usuários ao mesmo tempo e as ferramentas de
data-mine, cruzavam as informações na procura de soluções e estatísticas.
Apesar de todo o desenvolvimento adquirido durante essas décadas,
infelizmente no Brasil essa realidade não está viabilizada. Apesar de vivermos em
uma sociedade em que se fala de informática de forma comum e corriqueira, é difícil
de acreditar que dentro de universidades ainda existam alunos e ate profissionais
formados sem o devido conhecimento para usufruir a informática e tudo o que ela
pode oferecer. Nos hospitais públicos ainda presenciamos todos os procedimentos
feitos ainda no papel e no setor privado a grande maioria com softwares da década de
80 e hardwares ultrapassados.
Dificuldade maior encontra-se em uma das ciências mais antigas da
humanidade: a linguagem. A variabilidade de códigos e símbolos, mesmo dentro de
comunidades próximas torna-se praticamente inviável a uniformização das
informações, condição essencial para o sucesso da informatização.
As informações médicas, de forma grosseira, podem ser colocadas em dois
grupos: administrativas e clínica. A administrativa foi a que mais evoluiu, pois a sua
utilização fez com que se barateassem os custos e com isso foram reinvestidos. Já os
clínicos não trouxeram um barateamento expressivo. Pois não chegaram a um
consenso sobre o que deve constar em um arquivo médico informatizado, além disso,
os programas são softwares dedicados e que só se “conversam” com similares.
15
INOVAÇÕES
Estamos na era da informação, e isso é um fator primordial para qualquer
negócio, pois dá assistência de valor nos empreendimentos. A saúde não fica fora
disso.
Como os negócios de assistência em saúde continuam a suportar
tremendas mudanças, faz sentido haverem também mudanças no sistema de
informática em saúde. As inovações estão nos sistemas de informação, na
disponibilidade e administração dessas informações, com as mais modernas
tecnologias aplicadas, com fluxo de mudanças no trabalho, uma nova aceitação dos
usuários e, é claro, no que rege política e dinheiro.
De acordo com Melville Hodge, que gastou sua carreira desenvolvendo,
vendendo e compreendendo sistemas de informação hospitalares, estamos em uma
nova era onde o paciente se tornou uma responsabilidade, e em uma era de contenção
de custos, necessitando, portando, de uma refocalização dramática do sistema de
informação e do investimento neste.
No passado, os sistemas de informática em saúde eram basicamente focados
em hospitais centrais do mundo, sendo este centralizado. Atualmente não é surpresa
saber que os hospitais têm um foco financial do seu investimento nos sistemas de
informação.
Após 1996 os sistemas estão permitindo uma melhor administração e
captação em assistência, tendo essa integração o intuito de minimizar os custos
hospitalares com qualidade.
Atualmente executivos do setor de saúde, só conseguem tomar boas decisões
quando possuem um bom sistema de informática para maximizar os negócios. Agora
o negócio é: Fazer a coisa certa na hora certa para atingir o melhor resultado clínico,
enquanto se administra bem os gastos da assistência em saúde.
Informações que previsivelmente eram apenas sabidas por poucos, agora são
disponíveis de imediato para o médico, sendo um novo recurso para o clínico. Como
os Clínicos são extremamente ocupados e têm responsabilidades críticas, essas
16
informações ajudam a facilitar o seu trabalho, gerando uma melhora de desempenho.
.
Agora se visa encontrar um novo modelo de Informática em Saúde
que mantenha a qualidade da assistência e uma contenção de custos.
TELEMEDICINA
A telemedicina pode ser entendida, de modo amplo, como a prática médica à
distância por meio eletrônico em geral, através do uso da infra-estrutura
convencional de telefonia. Entram nessa categoria serviços diversos que vão desde o
esclarecimento de dúvidas sobre medicamentos por telefone até as tentativas de
aplicações mais recentes em laboratórios através da Internet. Com o advento de
novas tecnologias, a telemedicina ampliou seu campo de abrangência para incluir
atividades como “o desenvolvimento de simuladores de realidade virtual para
práticas cirúrgicas e o uso de telerobótica para a realização de cirurgias à distância. O
Quadro abaixo mostra as principais aplicações atuais da telemedicina.
17
APLICAÇÕES DA TELEMEDICINA
Aplicação Descrição
TELECONSULTA Armazena as informações sobre o paciente e proporciona
seu acesso de qualquer parte do mundo.
TELEDIAGNÓSTICO Consultas para fins de diagnóstico, geralmente ocorrem
por meio de intercâmbio de textos, imagens estáticas de
RX, ECG, áudio, vídeo, etc.
TELEMONITORAÇÃO Registros de dados vitais de pacientes, por meio de
equipamentos especiais, para serem enviados
continuamente a um centro de análise, interpretação e
alerta (monitoração cardíaca transtelefônica; monitoração
de pacientes com gravidez de risco, deficientes ou
imobilizados em casa).
TELECIRURGIA Procedimentos cirúrgicos à distância por meio de médicos
guiados e conectados através de sinais visuais, auditivos,
com cirurgiões especializados em centros de referência.
TELEDIDÁTICA O ensino a distância poderia também ser considerado um
caso especial de telemedicina quando aplicado ao
treinamento e ao ensino médico.
A telemedicina facilita também a interação de profissionais situados em
locais separados no que se denomina Serviços de Segunda Opinião. Com o objetivo
de oferecer este serviço, o Hospital Sírio Libanês de São Paulo está desenvolvendo
um projeto em parceria com especialistas localizados em grandes centros médicos
norte-americanos. Uma iniciativa semelhante levou ao desenvolvimento, em 2001,
do HealthNet, aplicação que dá suporte ao telediagnóstico e à segunda opinião
médica. O HealthNet é parte do projeto denominado Recife ATM, apoiado pela Rede
Nacional de Pesquisa (RNP), que visa a instalação, manutenção e estudo de uma rede
de alta velocidade ATM no Recife. Com a instalação da rede, objetivam-se o
desenvolvimento e o estudo de aplicativos para educação à distância, sistemas de
18
geoprocessamento e sistemas de telemedicina (“HealthNet: é um sistema integrado
de telediagnóstico e segunda opinião médica”.
Em Ondina, Município de Salvador (BA), encontra-se outro exemplo de uso
da telemedicina. Nessa localidade, a Clínica Cenprecor implantou uma Central de
Telemedicina voltada para a realização de ECG a distância com transmissão
transtelefônica (ou transmissão, pelo telefone, de informações dos batimentos
cardíacos, colhidas pelo técnico ou pelo próprio paciente, usando um cardiobip).
TENDÊNCIAS E PERSPECTIVAS
O mercado de saúde no Brasil está caracterizado por um baixo uso de
Tecnologia da Informação. Algumas estimativas de agentes locais afirmam que 75%
dos agentes do setor não usam intensivamente os recursos de informática, enquanto a
Organização Pan-americana da Saúde calcula que somente 5% deles usam
satisfatoriamente estes recursos. Embora esses números forneçam uma primeira idéia
do tamanho do mercado a ser explorado pelas software houses, é importante salientar
que elas deverão buscar soluções cujo custo seja compatível com o perfil econômico-
financeiro das unidades assistenciais que, via de regra, é caracterizado por sérias
limitações.
A ampliação do mercado envolve a busca de mercados externos, que adquiriu
novas formas em 2004. Em abril, constituiu-se um consórcio de empresas de
software e TI da região de Campinas (SP), denominado ActMinds, com o objetivo de
exportar soluções de software, hardware e serviços em diversas áreas, entre as quais
se encontra a de saúde. Conforme divulgado pelo Núcleo Softex de Campinas,
parceiro da iniciativa, da qual participam também o CNPq, a Unicamp e a Apex, as
empresas envolvidas no consórcio são: Ci&T, GrupoNet, HST, IPS, Prógonos,
Programmer’s, SER, Software Design e Tele Design.
Entre as principais tendências tecnológicas para o software voltado à área de
saúde encontram-se o desenvolvimento de software livre e a certificação dos
produtos. No que diz respeito aos mercados, as tendências são a reedição de grandes
projetos por parte do setor público e a busca, por parte de empresas privadas, de
19
soluções que possibilitam o gerenciamento da informação e a elaboração de
prontuários médicos.
SOFTWARE LIVRE: INOVAÇÃO E DIFUSÃO
O uso de Software Livre em governos tem crescido rapidamente em todo o
mundo. A racionalidade por trás dessa opção é a mesma que orienta o crescimento da
adoção de Software Livre em organizações privadas: redução de custos,
independência de fornecedores e razões técnicas (estabilidade, segurança etc).
No caso brasileiro, a opção pelo Software Livre como programa oficial para o
governo foi um pioneirismo do PT, principalmente do governo do RS, e tudo indica
que o governo Lula irá dar continuidade ao projeto de adoção e incentivo ao
Software Livre.
"O governo de Luiz Inácio Lula da Silva manterá a base de programas de informática
sob licença, mas apostará fortemente no software de livre circulação (gratuito)",
afirmou o principal assessor do presidente brasileiro para a área de tecnologia, Sérgio
Rosa (presidente do Serpro).
"(Sobre o E-gov.) inclui várias alternativas sejam normativas ou até passando por
uma política mais agressiva em termos de software livre e de experiências que
valorizem esse tipo de software mais aberto e mais capaz de ser gerenciado por todo
o Estado", destacou Rogério Santanna dos Santos, Secretário de Logística e
Tecnologia da Informação.
Evidentemente, a opção pelo Software Livre não significa que, a partir de
agora, todos os softwares proprietários vão ser retirados dos computadores do
governo. Serão necessários estudos de viabilidade e políticas de migração para os
casos em que Software Livre forem a melhor opção.
Vale destacar também que optar pelo Software Livre não significa apenas
usar Software Livre, mas também incentivar o desenvolvimento de Software Livre.
Nesse sentido, seria muito salutar a criação de uma espécie de Projeto Software Livre
Brasil com o objetivo de centralizar iniciativas globais e auxiliarem os diversos
orgãos de TI do governo em questões relacionadas como propõe Marcelo Branco.
20
Quem convive com alguém da área da saúde que trabalhe ou com saúde
pública ou em algum serviço público de saúde sabe o quanto o setor está atrasado na
informatização. Isso agrava ainda mais os problemas já tão conhecidos da saúde no
Brasil. A tecnologia precisa está presente no hospital moderno, como destaca o prof.
Renato Sabbatini.
Muitos hospitais públicos utilizam o Hospub, sistema desenvolvido pelo
Datasus e distribuído gratuitamente para estes. Porém alguns usuários destacam
algumas dificuldades em relação ao acesso ao programa:
"Trata-se do mecanismo e das regras de liberação dos softwares públicos produzidos
pelo Datasus. Os sistemas do Datasus são de uso gratuito pelas instituições públicas
de saúde, no entanto a liberação para o uso não é automática nem simples. Há uma
burocracia envolvida que pode demorar meses (às vezes muitos meses). Além disso,
há uma diferença importante: o software em si é gratuito, mas não é livre, e às vezes
os custos associados às regras de distribuição (em termos de tempo, dinheiro e
esforço) terminam sendo significativos a ponto de dificultar a disseminação dos
programas."
(Esse depoimento foi enviando para a lista da Sociedade Brasileira da
Informática e Saúde - SBIS. Tentei contatar sem sucesso o autor da mensagem para
solicitar autorização para essa citação dado que a mensagem não tinha caráter
público, por isso preferi não citar o nome do autor da mensagem).
A mesma pessoa solicitou, em nome do hospital usuário do Hospub, acesso
ao código fonte do programa e autorização para implementar melhorias que por sua
vez também seria disponibilizadas para outros usuários que necessitassem. Em
resumo, o autor solicitou ao Datasus que o Hospub foi licenciado com uma licença
compatível com a GNU GPL.
O pedido foi negado sob alegação que isso levaria ao surgimento de versões
incompatíveis e também pelo receio da pirataria ou plágio que poderia ocorrer.
Entraves como esse não são compatíveis com as carências dos hospitais públicos no
Brasil. A utilização de software livre nos hospitais públicos é um exemplo, mas o
software livre também pode ser utilizado em outras áreas igualmente importantes da
saúde pública. Vejamos alguns exemplos:
21
1. Sistema estatístico - uma das principais ferramentas do profissional de
epidemiologia são softwares estatísticos. O principal software proprietário
utilizado chama-se SPSS, mas poucos profissionais sabem que existe um
software mantido pela Fundação do Software Livre com a mesma finalidade,
o PSPP (o bom humor de sempre!). Também existem outros softwares, que
apesar de não-livres são gratuitos como o Epiinfo e podem ser uma opção.
2. Geoprocessamento - O Geolivre é um projeto da PROCERGS que se iniciou
em julho/2000 e visa prover informações básicas, confiáveis e permanentes
sobre o espaço geográfico do Estado do Rio Grande do Sul, além de
disseminar a tecnologia de Geoprocessamento nos diversos órgãos da
administração direta e indireta daquele estado. Essa experiência poderia
contribuir às iniciativas de controle de epidemias como a dengue.
3. Processamento digital de imagens - Uma das contribuições mais inovadoras
da tecnologia para a saúde é o processamento digital de imagens. Ela pode
tanto reduzir custos com armazenamento e distribuição de exames dentro de
um hospital como também pode ser utilizado integrado com sistemas de
telemedicina. Nesse caso, existem padrões abertos (exemplo, DICOM) para
processamento digital de imagens.
+Telemedicina - Grande parte da infra-estrutura necessária para projetos de
telemedicina podem ser montados utilizando software livre. Num país
continental e com grandes desigualdades regionais como o Brasil, recursos
como esse são essenciais.
Esses são alguns exemplos de como o software livre pode ser aproveitado
para a melhoria da saúde no Brasil. Já existe inclusive inúmeros projetos mundiais
com a finalidade específica de desenvolver softwares livres para a saúde. Um bom
exemplo é o OSHCA - Open Source Health Care Alliance que há anos organiza
encontros anuais para debater soluções baseadas em software livre para a saúde. O
último aconteceu em novembro / 2003 na Universidade da Califórnia em Los
Angeles. No programa do encontro não tinha nenhum trabalho brasileiro, quem sabe
isso muda já esse ano!
Outro ótimo exemplo de esforço para disponibilizar software livres para a
saúde é o Projeto Debian-med, uma idéia integrante do projeto Debian que pretende
22
disponibilizar programas abertos integrados com a sua distribuição GNU/LINUX.
Existem inclusive desenvolvedores brasileiros.
O próprio Ministério da Saúde disponibilizou em 2001 um documento
elaborado pelo Departamento de Ciência e Tecnologia em Saúde (Decit), setor
integrante da Secretaria de Políticas de Saúde, onde são sugeridas mudanças na
política de C&T / S visando a ampliação e intensificação das políticas para a área.
Uma das sugestões é a criação da "Agenda Nacional de Prioridades em Pesquisa e
Desenvolvimento Tecnológico em Saúde" no âmbito do SUS.
Os princípios norteadores do desenvolvimento de uma metodologia para
orientar a elaboração da Agenda de Prioridades em Pesquisa e Desenvolvimento
Tecnológico em Saúde são: integração com o SUS; ampla participação e
representatividade dos atores envolvidos na formulação de políticas, principalmente
gestores e comunidade científica; garantia da sua replicabilidade e continuidade em
todas as instâncias de governo; incorporação de todas as dimensões que cotejam os
problemas de saúde; identificação da Agenda Nacional de Saúde e das informações
oriundas dos sistemas de informações em saúde como instrumentos de orientação; e
estabelecimento de uma sistemática permanente de avaliação para redefinição de
rumos e de prioridades.
Seria importantes que, no tocante a Tecnologia da Informação, fosse incluído
na agenda de prioridades a disseminação do uso e o incentivo ao desenvolvimento de
software livre para ser utilizado pelas diversas instituições responsáveis pela saúde
pública no Brasil.
Uma comparação de custo entre softwares mostra uma economia de 97%
quando é utilizado software livre em relação a softwares similares de propriedade
privada. O dado está na pesquisa do Instituto Nacional de Tecnologia da
Informação (ITI), que analisou 88 órgãos públicos que estão com seus sistemas em
processo de migração de softwares privados para softwares livres. ““.
23
MIGRAÇÃO PARA SOFTWARE LIVRE NO GOVERNO
FEDERAL
Representantes de 91 órgãos do Governo Federal se reuniram, durante o 2º
Planejamento Estratégico de Implementação do Software Livre. O objetivo é fazer
um balanço deste ano e definir as ações prioritárias para implementação do software
livre na administração federal em 2005. O primeiro planejamento foi feito em
outubro de 2004 e reuniu 55 órgãos.
Na avaliação do presidente do ITI, órgão coordenador do Comitê de
Implementação de Software Livre, Sérgio Amadeu, a evolução está acontecendo
conforme o planejado. O crescimento de mais de 60% de órgãos participantes no
próprio planejamento comprova que a fase de sensibilização dos servidores técnicos
ligados à área de TI da administração foi realizada com sucesso.Agora o momento e
de migração dos servidores e das estações de trabalho. No próximo ano o governo irá
iniciar a migração dos sistemas estruturadores que estejam impedindo a migração
total dos ministérios para a plataforma aberta ou novos desenvolvimentos em
software livre.
DADOS
Para dar subsídios às decisões a serem tomadas durante o planejamento deste
ano foi solicitado que os membros do CISL respondessem a um levantamento sobre
o processo de implementação de Software Livre em seus órgãos, com foco em seis
pontos principais: sensibilização, capacitação, interoperabilidade, aspectos
econômicos, fomento e informações técnicas. A análise das respostas dos 88
questionários recebidos deixa claro que avanços significativos foram alcançados.
Segundo as informações o governo saiu de um total aprisionamento aos softwares
proprietários para uma situação em que as áreas de TI perceberam que o uso do
software livre pode ser uma alternativa real para solucionar seus problemas.
24
A pesquisa identificou que 46 sistemas ou serviços foram migrados, 63
sistemas ou serviços novos foram implantados em SL, 37 órgãos desenvolverão
algum sistema em SL para 2005 e 54 sistemas estão em pleno desenvolvimento.
Além disso, a pesquisa aponta que, quanto à etapa de sensibilização, 68% dos
órgãos que responderam a sondagem mobilizaram sua equipe técnica para conhecer o
software livre, sendo que 38% desses treinaram suas equipes para adotar a nova
solução.
Em relação à capacitação, em torno de 52% dos órgãos afirmam que seus
técnicos têm conhecimento do básico ao avançado em administração de redes, cerca
de 60% das equipes têm conhecimento em suporte a ferramentas de escritório livres e
instalação de sistemas operacionais. No desenvolvimento de sistemas o percentual
atinge 52%.
Sobre a economia que a adoção do SL gerou até o momento nos órgãos, a
pesquisa constatou que os recursos públicos estão sendo aplicados já resultando em
redução de custos para o Governo Federal. Dos 15 órgãos que responderam este item
do questionário, constatou-se a economia de R$ 28.534.457,00 em licenças desde
que o SL foi implantado. Em uma comparação de custo entre as soluções livres e
similares proprietárias, os seguintes números foram obtidos: Livres R$ 768.050,00
Proprietários R$ 24.814.395,00
Na questão da interoperabilidade, 27% construíram portais acessíveis a todos
os navegadores de web. Do total dos pesquisados, apenas 8% efetivaram norma
interna definindo padrões de interoperabilidade para troca de documentos. Parte
desse problema deverá ter solução com a adoção do e-PING.
A pesquisa apurou, ainda, a existência de 46% de serviços em servidores
migrados para plataforma livre, principalmente DNS, Correio Eletrônico, Proxy,
Firewall, Groupware e WebMail. Do total informado, 322 serviços são processados
em plataforma livre e 370 em plataforma proprietária.
Embora tenha se observados avanços, o item capacitação foi considerado
ainda o maior entrave ao processo de migração por 74% dos órgãos. O segundo
entrave citado por 69% dos órgãos é a existência do grande legado, que atrasa o
avanço da migração.
25
OS AVANÇOS
Um dos processos de migração quase finalizados é o do Ministério das
Cidades Segundo o Coordenador-Geral de Modernização e Informática, Gustavo
Noronha, o maior esforço empregado está nas áreas de suporte e infra-estrutura, o
que acarreta a elevação inicial dos custos nesses quesitos e causa alguns transtornos
temporários. O resultado final, no entanto, é um serviço melhor. Além disso, a
economia no desktop foi significativa. Segundo Noronha, foram adquiridas no início
deste ano 150 máquinas novas sem software instalado. Se considerarmos apenas o
pacote de escritório proprietário, essa medida representou uma economia de
aproximadamente R$ 225.000,00, sem computar a inclusão de antivírus e outras
ferramentas necessárias. No campo dos servidores, o Ministério abriu mão de um
firewall que custava algumas centenas de milhares de reais e adotou uma solução
livre, informou Noronha.
Outro exemplo de iniciativa de migração que caminha a passos largos é o da
Dataprev, que já tem quase 500 servidores utilizando programas de código livre. Nos
últimos meses, foi feita a substituição por servidores de arquivo livre na rede da
Previdência. O gerenciador de fontes e objetos, além do gerenciamento da própria
rede, foram trocados por programas livres adaptados às necessidades da empresa.
A Previdência teve o cuidado de adotar um programa de treinamento
denominado “Programa de Software Livre” para formar quadro de instrutores para
atuar no auxílio aos usuários.
SISTEMAS ESTRUTURADORES
Enquanto a implantação de software livre avança no ambiente de servidores
de serviços e nas estações de trabalho, reduzindo os custos com licenças em pelo
26
menos R$ 1.100 por computador, este avanço tem sido bem mais lento nos sistemas
estruturadores. O governo concentra seus sistemas, principalmente nas empresas
públicas que prestam esses serviços como Serpro e Dataprev.
A própria Previdência é um exemplo claro da maior dificuldade para que a
adoção do paradigma do software livre ocorra plenamente, em função do volume de
dados que armazena. Para se ter uma idéia, a Dataprev processa, mensalmente, a
folha de pagamento de cerca de 22,5 milhões de beneficiários, com a média de cinco
milhões de impressões. Recebe dois milhões de acessos à internet por mês e
administra o fluxo de 16 milhões de mensagens mensais de correio eletrônico.
Atualmente, 89 serviços estão disponíveis na internet, enquanto 120 são acessados
pela intranet da Dataprev.
O ambiente mainframe armazena 2,2 Tb de dados, utilizando banco de dados SQL
Server e Oracle. Existem 40.200 estações de trabalho ligadas em rede e 49 mil
usuários cadastrados.
Os números falam por si. O Diretor do Serpro, Ségio Rosa, observa que a migração
de sistemas deste porte não é simples. O governo desenvolveu ao longo das últimas
décadas sistemas que processam em computadores de grande porte e, em alguns
casos, reescrever todos esses códigos seria muito complexo.
Na avaliação de Sérgio Rosa, o próximo passo é começar a identificar os
sistemas que podem ser redesenhados, de forma a deter o crescimento do legado e
permitir a migração total. Além disso, já há uma diretriz no Serpro para que todas as
interfaces dos sistemas estruturadores permitam que o usuário utilize qualquer
navegador de internet. Até o início deste ano, era necessário possuir um navegador
específico para conseguir acessar os dados contidos nos sistemas.
Segundo o coordenador do Comitê de Implementação de Software Livre,
Sérgio Amadeu, está ocorrendo o esperado. “Optamos pelo caminho inverso ao que
se faz normalmente em uma migração, porque sabemos do imenso universo de dados
e informações que o governo federal armazena em seus sistemas e da dificuldade que
é romper com o aprisionamento a sistemas proprietários cultivados por tanto tempo”.
Para ele, o fundamental é que haverá uma paulatina redução desses custos na medida
em que se liberte o governo das soluções proprietárias.
27
AÇÕES DO COMITÊ
Ao longo do último ano, além da migração propriamente dita, outras
atividades foram desenvolvidas para dar suporte ao processo. Pode-se destacar a 1ª
Semana de Capacitação e Treinamento em Software Livre que, no mês de abril,
treinou mais de 2.500 servidores públicos distribuídos entre 150 cursos oferecidos.
Ao longo deste ano também foi colocado à disposição da sociedade o site
relacionado ao software livre. Esse site reúne informações, documentos e notícias
sobre softwares não-proprietários e migrações no Governo. Ao site principal foram
associadas duas ferramentas, uma para dar suporte a fóruns virtuais, que permite o
debate via rede de forma segura com a utilização de certificados digitais. A outra, um
source-fourge, para tornar disponíveis códigos fontes que poderão ser baixados,
utilizados e melhorados por interessados.
Em dezembro de 2003, o Comitê lançou a licença CC/Gnu/GPL, que reúne as
características de duas entidades distintas. A primeira é uma das mais populares
licenças para software livre, a GPL (General Public License) da free Software
Foundation, caracterizada por assegurar as quatro liberdades básicas (usar, estudar,
melhorar e redistribuir o código). Essa licença alinhou-se às premissas da creative
commons, entidade sem fins lucrativos que defende o equilíbrio entre a propriedade
intelectual e a garantia de que essa prerrogativa não se transforme em inibidor para a
criatividade e a inovação. A união das duas entidades permitiu que fosse anexada à
licença GPL uma cartilha em linguagem menos técnica e uma versão portuguesa
adequada às normas brasileiras. Essa iniciativa deu aos softwares brasileiros
desenvolvidos pelo governo federal a oportunidade de adotar esse modelo de
licenciamento.
Uma das ações prioritárias do Governo para orientar a migração para
Software Livre nos órgãos públicos foi o desenvolvimento do Guia de Referências
para Migração, o Guia Livre, que teve a versão Ipiranga, lançada no dia sete de
setembro de 2004 pelo grupo de trabalho Migração para Software Livre do Governo
28
Federal. Nessa versão estão várias contribuições feitas pela comunidade SL do Brasil
e técnicos do setor público durante as sessões de Audiência Pública realizadas em
Salvador (08/08), Brasília (12/08), Belo Horizonte (16/08), Curitiba (27/08), Recife
(30/08) e Rio de Janeiro (02/09.
Na área de certificação digital o ITI, em parceria com o CASNAV, está
trabalhando no desenvolvimento do Projeto João-de-Barro, que visa criar um módulo
criptográfico, software e hardware, para a emissão das chaves públicas e privadas da
Autoridade Certificadora-Raiz. Por ser a AC Raiz, o ITI está na base da ICP-Brasil
(Infra-estrutura de Chaves Públicas brasileira). Atualmente, a plataforma que produz
e viabiliza toda a cadeia de certificação brasileira pertence a uma empresa
multinacional, com software proprietário o que inviabiliza sua auditoria plena.
QUADROS INFORMATIVOS
29
30
31
32
33
34
35
36
CONCLUSÃO
Grandes projetos governamentais no setor de saúde encontram-se suspensos, mas
a expectativa é de que sejam retomados, gerando um mercado importante para os
fornecedores de tecnologia. Um desses projetos, o Cartão Nacional de Saúde, já
completou sua primeira fase experimental e, apesar de ainda enfrentar problemas, são
evidentes os benefícios que serão obtidos, como melhora nos processos de avaliação,
controle, vigilância à saúde e prevenção de doenças. O outro projeto (software para
gestão de hospitais públicos da rede do SUS), sinaliza a simpatia do governo com o
uso de software livre, dando perspectiva de ampliação do mercado para as empresas
que optaram por essa tecnologia.
As empresas brasileiras têm vantagens sobre as estrangeiras no mercado de
software, devido às particularidades da regulamentação do setor. Um segmento onde
as vantagens são claras é o de gestão de planos de saúde, que apresenta
peculiaridades devido às exigências do ente regulador e das normas dos demais
organismos governamentais.
Em outras áreas, como telemedicina, gestão hospitalar, CRM e BI, empresas
estrangeiras disputam o mercado com as nacionais. Para enfrentar uma concorrência
cada vez mais acirrada e um mercado pouco desenvolvido, as empresas brasileiras
buscam fazer parcerias com outras software houses e até com seus próprios clientes.
As principais tendências para o software na área de saúde são o uso de
tecnologias de padrões abertos e a procura por qualidade (certificação). Os
37
investimentos do setor público e a evolução da automação das atividades médicas do
setor privado deverão produzir a ampliação do mercado. As fornecedoras brasileiras
encontram-se preparadas para atender às novas demandas, tendo antecipado os
investimentos em novos produtos à espera do despertar de um mercado nacional que
ainda resiste a acompanhar os avanços no exterior...
BIBLIOGRAFIA
(01)BARROS, ROBERTO S. M., SIBELE M. G. FERREIRA E ROBERTO A.
HEXSEL. 2002. “Desenvolvimento de Solução Única de Software para o Sistema
Cartão Nacional de Saúde”. Artigo apresentado no CBIS'2002 – VIII Congresso
Brasileiro de Informática em Saúde – Natal/RN.
(02)CASTRO, MARIA HELENA LEAL. 2003. A utilização de novas tecnologias e
o aumento de custos com a atenção a saúde: uma análise dos países desenvolvidos.
Universidade Federal de Juiz de Fora/ IMS-UERJ.
IMIA-INTERNATIONAL MEDICAL INFORMATIC ASSOCIATION – Código de
Ética da IMIA para Profissionais de Informática em Saúde.
(03)FERRATO DOS SANTOS, GABRIEL. 2003 - Economia e Gestão da Política de
Saúde no Período 1995/2002.
Unicamp, Novembro 2002.
(04)REDE NACIONAL DE PESQUISA. 2004. “HealthNet: um sistema integrado de
telediagnóstico e segunda opinião médica
(05)HEXSEL, ROBERTO A., ANTONIO E URBAN EROBERTO S M BARROS.
2002. “Arquitetura do Sistema Cartão Nacional de Saúde”. Artigo apresentado no
CBIS'2002 – VIII Congresso Brasileiro de Informática em Saúde –, Natal/RN.
38
(06)NOVAS TECNOLOGIAS. 2004.
Carlos E. Morimoto – 3ª Ed
(07)CAMINHO DAS PEDRAS PARA O LINUX BRASIL. 1999
book Express – César A.K. Grossmann
(08)CURSANDO GNU/LINUX. 2004
Brasport – Nelson Mendonça
(09)Making Money in the Next Free Economy
http://linuxworld.com/linuxworld/lw-1999-06/lw-06-penguin_2.html
(10) COMPAQ e o monopólio Microsoft
Even Compaq feared Microsoft
http://www.zdnet.com/zdnn/stories/news/0,4586,2212322,00.html
Compaq feared Microsoft
http://abcnews.go.com/sections/tech/DailyNews/msdoj_compaq990218.html
Compaq feared Microsoft retaliation
http://news.cnet.com/news/0-1003-200-338898.html
(11) Governo Mexicano adota Linux nas Escolas
Mexican Schools Embrace Linux
http://www.wired.com/news/news/technology/story/16107.html
Mexican project plans to deploy 140,000 Linux labs in schools
http://linuxtoday.com/stories/462.html
(12) Universities and Linux
http://207.178.22.52/articles/currents/007.html
(13) Free Software Foundation
http://www.gnu.org
(14) Gnu Public License
http://www.gnu.org/copyleft/gpl.html
(15) Phoenix Linux User Group Let Us Plug You In
http://plug.phoenix.az.us/plug_form.html