software livre e as alterações no mercado de software no brasil e no mundo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA Software Livre e as alterações no mercado de software no Brasil e no mundo – elementos para uma política governamental de software Deivi Lopes Kuhn Porto Alegre, dezembro de 2005.

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Monografia: "Software Livre e as alterações no mercado de software no Brasil e no mundo – elementos para uma política governamental de software"Autor: Deivi Lopes Kuhn

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

Software Livre e as alterações no mercado de software no Brasil e

no mundo – elementos para uma política governamental de

software

Deivi Lopes Kuhn

Porto Alegre, dezembro de 2005.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

Software Livre e as alterações no mercado de software no Brasil e

no mundo – elementos para uma política governamental de

software

Deivi Lopes Kuhn

Orientadora: Professora Marcilene Martins

Monografia apresentada como requisito parcial

para obtenção do título de Bacharel em Ciências

Econômicas, na Faculdade de Ciências

Econômicas da Universidade Federal do Rio

Grande do Sul

Porto Alegre, dezembro de 2005.

Agradecimentos

A todos os voluntários que desenvolveram os softwares livres que permitiram a construção

desta monografia, seja por acreditarem na importância da liberdade de acesso a tecnologia, seja

por simples exercício intelectual.

A todos aqueles que acham que o conhecimento deve ser livre e compartilhado de todas as

maneiras, seja através de um código fonte, seja pela educação formal, na qual destaco o esforço

da professora Marcilene Martins pelo tempo dedicado a orientação deste trabalho e pelas

importantes sugestões e correções.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 1

1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS PARA A ANÁLISE DAS FIRMAS E DOS

MERCADOS.................................................................................................................... 4

1.1 Concepções de firma...................................................................................................... 4

1.2 Elementos de Estrutura de Mercados Oligopólico.......................................................... 6

1.2.1 Mercados Atomísticos ou Concentrados.................................................................. 6

1.2.2 Fontes de Barreiras a Entradas................................................................................. 7

1.3 Estratégias competitivas das firmas............................................................................... 9

1.3.1 Estratégias de crescimento....................................................................................... 9

1.3.2 Estratégias de Preços............................................................................................... 13

1.4 Concepções sobre a intervenção do Estado.................................................................... 14

2. CARACTERIZAÇÃO DO MERCADO DE SOFTWARE PROPRIETÁRIO.............. 18

2.1 O Software como um bem não-rival ............................................................................. 18

2.2 Composição de custos e formação de preços no mercado de software proprietário....... 20

2.2.1 Caracterização dos custos........................................................................................ 21

2.2.2 A discriminação de preços como estratégia competitiva.......................................... 22

2.3 Barreiras à entrada e dinâmica da concorrência no setor................................................ 26

2.3.1 Economias de Rede................................................................................................. 27

2.3.2 “Aprisionamento” de clientes.................................................................................. 28

2.3.3 Bens Complementares como fonte de aprisionamento tecnológico......................... 29

2.3.3.1 Hardware.......................................................................................................... 31

2.3.3.2 Software............................................................................................................ 33

2.3.4 Fontes Adicionais de Barreiras à Entrada.............................................................. 38

2.4 Conseqüências do poder de mercado sobre a concorrência........................................... 40

3 - O SOFTWARE LIVRE COMO UM NOVO PARADIGMA TÉCNICO-

ORGANIZACIONAL NO MERCADO DE SOFTWARE................................................. 43

3.1 O surgimento e Evolução do Software Livre................................................................ 43

3.1.1 O surgimento do Software Livre............................................................................. 43

3.1.2 A consolidação do movimento de Software Livre................................................... 46

3.1.3 O Novo modelo de produção de software – A Catedral e o Bazar.......................... 47

3.1.4 A Open Source Initiative e novo foco do movimento de Software Livre................ 49

3.2 Vantagens na adoção de Software Livre por parte das empresas usuárias...................... 50

3.2.1 Vantagens na adoção de Software Livre por empresas............................................ 51

3.2.2. A especificidade do usuário governo...................................................................... 53

3.3 Impacto do Software Livre sobre as dimensões de produção e concorrência no setor de

software......................................................................................................................... 56

3.3.1 Estratégias das empresas fornecedoras de software face ao avanço do Software

Livre no mercado.................................................................................................... 56

3.3.2 Novo modelo de negócios com software livre......................................................... 57

4 - MERCADO BRASILEIRO DE SOFTWARE: SITUAÇÃO ATUAL E

PERSPECTIVAS DE MUDANÇAS COM A DIFUSÃO DO SOFTWARE LIVRE.... 60

4.1. Aspectos da estrutura e do desempenho recente do setor........................................... 60

4.2. Aspectos da dinâmica competitiva do setor................................................................. 62

4.3. Medidas de Política e Perspectivas da Adoção de Software Livre............................... 64

4.3.1 Principais ações do Governo Federal pró-Software Livre....................................... 64

4.3.2 Perspectivas de mudanças na dinâmica do mercado com a difusão do Software

Livre....................................................................................................................... 67

4.3.3 Vantagens e desafios do novo modelo.................................................................... 73

CONCLUSÃO................................................................................................................... 77

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................ 82

REFERÊNCIAS NA INTERNET....................................................................................... 87

GLOSSÁRIO...................................................................................................................... 90

INTRODUÇÃO

A tecnologia da informação tem comprovado a cada dia sua força dentro da economia

global, seja como setor de grande faturamento ou seja como elemento da nova dinâmica

tecnológica do capitalismo. Contudo, neste novo mercado com suas características específicas,

um subsetor em especial se destaca: o mercado de software que possui na sua alta rentabilidade

um aspecto importante se comparado aos demais setores de tecnologia.

O mercado de Software se tornou estratégico dentro das disputas entre as empresas da

área. Porém, mesmo com tanto interesse das empresas em entrar neste setor, ele continua, sendo

um mercado bastante concentrado em grande parte de suas áreas de atuação. onde poucos

conseguem consolidar seus produtos a se estabelecer como alternativa para os consumidores.

Todavia, um novo movimento, denominado predominantemente no Brasil como

Software Livre e nos Estados Unidos como Open Source, vem provocando profundas alterações

na dinâmica do setor e chamando a atenção pela qualidade de seus produtos e pela sua crescente

utilização, sobretudo no mundo empresarial.

Este novo modelo de desenvolvimento de software, o qual passa a ser considerado um

serviço ao invés de um produto, promove uma grande mudança na estrutura, nas estratégias e

nos resultados no setor e mais amplo ainda, em todo o mercado de tecnologia da informação. O

novo e grande concorrente não vem mais de uma pequena empresa que revoluciona com um

produto totalmente novo, como no início do crescimento do setor, nem de grandes empresas que

se articulam para conquistar um novo mercado, mas sim de um novo modelo, surgido de um

movimento social, usando instrumentais totalmente novos e não personificados em nenhuma

empresa específica.

O Software nada mais é que rotinas escritas em uma determinada linguagem que são

convertidas para linguagem de máquina. No modelo tradicional de Software, as empresas

desenvolvem cada rotina necessária para o seu funcionamento, convertem em linguagem de

máquina e distribuem apenas o seu produto através de licenças de uso sobre ele e tratando o

código original como segredo industrial. No modelo de Software Livre, o acesso ao código não

possui restrições, qualquer um pode acessá-lo, alterá-lo e redistribuí-lo a vontade. As empresas

do setor passam a ser remuneradas pelos serviços que prestam para os usuários deste software.

Em todo o mundo este novo modelo se apresenta como uma alternativa de

desenvolvimento tecnológico e de economia para empresas usuárias de tecnologia e para os

governos, ambos muito dependentes e aprisionados a fornecedores de Software. O próprio

Governo Brasileiro, especialmente depois da posse do Presidente Lula, vêm utilizando

softwares livres em praticamente todos os seus setores, e estabaleceu o seu uso como objetivo

estratégico para todo o Governo.

O presente trabalho vai analisar as mudanças ocorridas na indústria de software, bem

como os motivos que levaram o Governo Federal a estabelecer o uso de um modelo específico

do mercado de software como uma decisão estratégica. Para tanto, o primeiro capítulo fará uma

rápida revisão na literatura de análise de modelos de concorrência concentradas, utilizando

referenciais de economia industrial.

Já o segundo capítulo, procura aplicar esses referenciais de análise ao setor de tecnologia

da informação, com ênfase para o mercado de software, abordando temas como economias de

rede, barreiras a entrada, custos de substituição por produtos similares e estrutura de preço. Com

esta caracterização, pretende-se mostrar os fundamentos da excessiva concentração existente no

mercado e da dificuldade de novas tecnologias e produtos se estabelecerem quando originadas e

defendidas fora das empresas líderes do setor.

O terceiro capítulo trata do surgimento do modelo de Software Livre, desde o seu início

como movimento de caráter social, as alterações introduzidas no próprio processo de produção

de conhecimento materializado em software. Também será demonstrado como os movimentos a

favor do Software Livre se colocam em termos de argumentação e suas posturas políticas e

filosóficas nas suas argumentações, correlacionando como tanto a produção de software, quanto

a adoção por parte dos indivíduos e empresas se justificam em cada um dos modelos.

A partir deste diagnóstico e das estratégias usadas nos movimentos socias, serão

abordadas as alterações que a introdução do Software Livre trouxe para a dinâmica

concorrencial do setor e sua relação com uma estrutura de mercado extremamente concentrada,

descrevendo as estratégias das empresas do setor, bem como o novo modelo de negócios que

está se espalhando pelo mercado.

O último capítulo irá analisar a estrutura atual do mercado de software no Brasil e sua

dinâmica competitiva, mostrando como a estratégia de adoção de Software Livre e do novo

modelo de produção de software pode alterar o mercado. A partir deste ponto, será analisado a

política pró-Software Livre do Governo Federal, mostrando algumas ações já realizadas e em

andamento dentro das políticas governamentais, sua influência sobre o mercado privado na

adoção de Software Livre e em que medida isto pode contribuir para o desenvolvimento

nacional. Finalizando o trabalho será demonstrado as perspectivas da difusão do Software Livre

no mercado nacional, vantagens e desafios para do novo modelo e apontando para um possível

reposicionamento do país no mercado mundial de produção de software.

1 - FUNDAMENTOS TEÓRICOS PARA A ANÁLISE DAS FIRMAS E DOS

MERCADOS

O presente capítulo irá fazer uma breve revisão do referencial teórico de economia

industrial, focando em mercados de concorrência oligopolista. Será abordado o debate

econômico em relação às diferentes concepções de firma. A partir disto, analisaremos os

principais elementos de estruturas de mercado, como barreiras à entrada, diferenciação de

produtos e barreiras à saída.

A base desta caracterização de estrutura do setor analisaremos as estratégias de

crescimento e de posicionamento das firmas em mercados concentrados. Por fim faremos uma

breve análise das diferentes concepções sobre a intervenção do estado atividade industrial.

1.1 Concepções de firma

Ao realizarmos a análise sobre um determinado mercado, o primeiro ponto que precisa ser

considerado são os objetivos identificados para as empresas que atuam neste mercado. Esta

questão tem sido objeto de debate, seja pela maneira com que as diferentes concepções teóricas

e suas visões do funcionamento do sistema econômico tratam o assunto, seja pela própria

evolução das firmas caracterizada por profundas mudanças no seu funcionamento e objetivos, ao

longo da história do capitalismo.

Na visão da economia política clássica a empresa não desempenha um papel central.

Dado que ela considera os indivíduos enquanto detentores de capital, os burgueses é que

surgem como sendo o principal elemento de análise. Já a moderna empresa está separada dos

seus proprietários, criando um ente jurídico à parte, bem diferente das empresas típicas do início

do capitalismo, onde a empresa se confundia com a família que a possuía.

Já com a teoria neoclássica, sobretudo a partir de Alfred Marshal, a firma passa à

condição de elemento central na análise, porém, ainda ligada à visão do capitalista que a

controla, e que no decorrer das gerações leva ao declínio da empresa familiar, abrindo caminho

para novos concorrentes. Segundo Marshall, mesmo que os filhos dos empresários, de maneira

geral, consigam manter a empresa funcionando, “(...) depois de passada uma geração, quando

as velhas tradições deixarem de ser um guia seguro, e quando os liames que uniam os antigos

empregados já tiverem se dissolvido, o negócio desmantelará...” (Marshall, 1982. pg 256).

Outros elementos fundamentais nesta concepção neoclássica da firma são as hipóteses

da livre mobilidade de capitais e dos rendimentos decrescentes de escala, os quais, agora

generalizados para toda a economia, e não mais restritos à agricultura, como na visão da teoria

ricardiana. Em relação aos objetivos da firma, tal concepção, porquanto mais interessada na

eficiência alocativa, ressaltará a maximização de lucro como tradução da função-objetivo das

firmas. Assim, as empresas tomariam decisões visando, a curto prazo, maior lucratividade com a

sua base atualmente instalada, ao passo que a longo prazo buscariam a definição de um tamanho

ótimo de sua planta industrial.

A contraposição à abordagem neoclássica da firma e dos mercados ganha força no debate

econômico, a partir do início dos anos 20, com um artigo de Piero Sraffa, onde este autor

criticava vários pressupostos da abordagem tradicional, e concluia que seria necessário retornar

a análise para o monopólio, ao invés da concorrência perfeita. As principais críticas deste autor

eram sobre a lei de rendimentos decrescentes, que teriam sido assim definidas para garantir que

as curvas de oferta tivessem formas geométricas desejadas, e que a teoria do tamanho ótimo das

firmas contraria a realidade.

Entre as visões de firma alternativas a da abordagem neoclássica, temos a gerencialista

que mostra que as empresas atuais são comandadas por gerentes profissionais, e que estes

possuem objetivos, ou ainda, função utilidade, diferentes do que unicamente o lucro. Neste

sentido, um gerente poderia trocar um pouco de lucro por um aumento de vendas, o que elevaria

o seu reconhecimento entre outros gerentes. Neste modelo, o crescimento das vendas da

empresa ocupa papel central.

Para os neoschumpeterianos, destacando as obras de Richard Nelson e Sidney Winter, as

empresas agem de acordo com rotinas cristalizadas através de sua experiência. A empresa não é

um ente que simplesmente possui custos variáveis, mas sim um conjunto de rotinas que incluem

conhecimento, interpretação de informações do ambiente externo e uma sistemática de

produção. Uma parte destes conhecimentos e rotinas são não formalizados, sendo adquiridos na

prática.

A firma também pode ser vista como um arranjo institucional duradouro, de acordo com a

contribuição de Richard Coase, e não mais como simples contratações de fatores no mercado.

Segundo esta teoria, haveria duas formas de alocação de recursos, uma típica de mercado, e

outra hierárquica, interna à empresa. Porém, esta concepção ainda se baseia na eficiência

alocativa, entre contratações de mercado e uso da hierarquia interna, buscando uma boa

utilização dos custos de transação.

1.2 Elementos de Estrutura de Mercados Oligopólicos

1.2.1 Mercados Atomísticos ou Concentrados

Um fator fundamental a ser observado quando analisamos as estruturas de mercado é o

seu grau de concentração, isto é, verificar quantas indústrias estão atuando no mercado e a

participação que elas têm nas quantidades produzidas. Esta medida nos permite, entre outras

coisas, verificar se existe um poder de mercado significativo colocado para as firmas. Uma

empresa líder em um mercado concentrado possui o poder de controlar os seus preços,

estabelecendo uma relação de vantagem em relação aos concorrentes e, principalmente, aos

demais setores da economia.

Na visão neoclássica todos os produtos são idênticos ou homogêneos, não sendo possível

que uma empresa pratique preço diferente das demais. Na prática ocorre justamente o contrário,

a concorrência existe através de produtos similares, mas não idênticos, normalmente com preços

diferentes, o que é chamado de diferenciação de produtos. Esta diferenciação pode levar à

possibilidade de uma empresa fixar o preço de seus produtos num patamar acima das demais,

desde que os seus consumidores estejam dispostos a pagar a mais pelo produto de uma

determinada marca.

A diferenciação de produtos pode ocorrer de muitas maneiras e alguns mercados podem

ser mais propícios à diferenciação que outros. Costuma-se ainda a classificar os produtos sob

diferentes formas de diferenciação, a horizontal, que consiste em alterações do produto que

pode fazer com que alguns consumidores prefiram este produto, mas outros podem não gostar

desta mesma característica. Outra diferenciação possível é a vertical, onde novas características

são adicionadas ao produto, levando a que o comprador prefira este produto por um mesmo

nível de preços. Normalmente este último tipo de diferenciação leva a maiores diferenciais de

preço (George; Joll, 1983: pg 81).

A hipótese, típica de uma análise neoclássica, de que mercados homogêneos sem barreiras

à entrada são concorrenciais, em oposição a mercados oligopolizados, leva a uma concepção

enganosa dos mecanismos de competição. A análise da dinâmica concorrencial a partir da

abordagem de Schumpeter diz que um mercado concentrado pode, sim, ser tão ou mais

concorrencial do que os mercados com grande número de ofertantes.

Conforme Possas,

“Um mercado atomístico, composto de empresas economicamente

insignificantes e desprovidas de qualquer poder de mercado, enquanto

paradigma competitivo, é um lamentável ficção da ortodoxia econômica

que, se verdadeira, debilitaria o ambiente competitivo e o processo de

concorrência ao ponto de tornar este último inoperante, com

conseqüentes prejuízos ao consumidor e ao bem-estar social, quando

visto em perspectiva dinâmica.” (Possas, 2002, pg 419)

1.2.2 Fontes de Barreiras a Entradas

Quando tomamos o grau de concentração dentro de uma determinada indústria, como

indicador do seu poder de mercado estamos esquecendo um aspecto importante, o da inter-

relação entre diferentes empresas de diferentes ramos industriais. Tanto quanto com o número

de firmas atualmente concorrentes, uma empresa estará também constantemente preocupada

com a entrada de novos concorrentes.

A microeconomia tradicional ou neoclássica se baseia no conceito marshalliano de

concorrência determinada pelo número e tamanho dos concorrentes, ignorando assim a

concorrência potencial, isto é, novas empresas interessadas em iniciar operações em uma

determinada indústria.

A economia clássica prevê que existe livre mobilidade de capitais entre indústrias. Assim,

ao existir um setor com lucratividade acima da média, haveria empresas interessadas em iniciar

suas atividades nesta indústria para tentar se apropriar de parte destes lucros extraordinários. Por

outro lado, se a lucratividade for inferior à média, algumas empresas ou mudariam de ramo, ou

encerrariam suas atividades, diminuindo a oferta de produtos, elevando o preço até o padrão

normal de lucratividade. Nesta análise dinâmica, a migração entre diferentes setores industriais

só terminaria quando a lucratividade fosse a mesma para todas as firmas.

Na prática, porém, podemos verificar que inúmeras indústrias mantém lucros acima da

média durante longo tempo, indicando tanto a presença de barreiras à mobilidade de capitais,

quanto a incapacidade destes novos capitais de concorrer em igualdade de condições com os

capitais já estabelecidos. Segundo Kupfer, Joe S. Bain, principal formulador da teoria das

barreiras à entrada de novas firmas na indústria, definiu este conceito da seguinte maneira:

“Barreiras a entrada corresponde a qualquer condição estrutural

que permita que empresas já estabelecidas em uma indústria possam

praticar preços superiores ao competitivo sem atrair novos capitais.”

(Kupfer, 2002. pg 113)

Alguns exemplos de barreiras à entrada são a manutenção de capacidade ociosa planejada,

diferenciação de produtos, registro de marca, patentes, segredo industrial, tecnologia

empregada, controle sobre matérias-primas ou sobre a cadeia de comercialização, volume de

capital mínimo necessário, custos financeiros de entrada, entre outros. (Silva: 1999, pg 120).

Economia de Escala

Quando analisamos os custos de produção de uma determinada firma, podemos identificar

os custos fixos, que são aqueles independentes da quantidade produzida, e os custos variáveis,

que aumentam a cada nova unidade produzida. Quando analisamos uma determinada curva,

temos um grande debate teórico sobre como a estrutura de custos das firmas reage ao aumento

da quantidade produzida. A economia de vertente neoclássica defende que, a partir de certo

ponto, o custo de produzir uma unidade adicional aumenta, levando a deseconomias de escala.

Esta definição de como se comportam os custos de uma empresa é determinante para

definirmos o tamanho que ela terá no mercado. Caso haja deseconomias de escala, podemos

dizer que o mercado terá várias empresas, competindo cada uma no seu ótimo em termos de

custo. Por outro lado, caso haja economias de escala, não haveria limites para o tamanho ótimo

da firma.

Vários fatores sugerem que a segunda alternativa é mais razoável. A argumentação para

existência de deseconomias de escala normalmente está associada à deficiências gerenciais que

ocorreriam dentro da firma devido ao seu tamanho. Esta hipótese poderia fazer sentido no início

do século passado, numa firma familiar, conforme Alfred Marshall havia definido, mas não nas

modernas corporações administradas por gerências profissionais. Além disso, problemas

relacionados, por exemplo, ao fluxo de informações intra ou entre empresas, foram resolvidos

em grande parte pelas modernas tecnologias da informação e comunicação.

Assim, o que se observa, na prática, é que para uma dada escala produtiva relevante, as

empresas tendem a operar sob condição ou de retornos constante ou de retornos crescentes de

escala. Ao considerarmos uma estrutura de custos com retornos de escala constantes ou ainda

crescentes, passamos a não ter um ponto ótimo de produção, mas sim uma quantidade mínima

que precisa ser produzida, o que a literatura chama de “Escala Mínima Eficiente” (Lootty e

Szapiro, 2002. pg 52). Uma firma precisa produzir uma quantidade igual ou superior a esta

quantidade caso queira se manter competitiva.

Diferenciação de Produto

A competição via diferenciação de produtos pode constituir-se em mais uma forma de

barreira à entrada. Os consumidores possuem dificuldades de avaliar e conhecer produtos,

levando à assimetria de informação, e as empresas com boa reputação passam a ter vantagens

sobre outras empresas que não disponham da mesma condição. Uma empresa entrante precisa

manter preços inferiores para incentivar os consumidores a adquirir seus produtos o que, por

outro lado, pode levar a uma guerra de preços perigosa para o entrante, que não tem como

avaliar a capacidade das empresas rivais em tal situação.

Barreiras à Saída

Quando uma empresa abandona um determinado mercado nem sempre ela consegue

recuperar os investimentos que realizou no momento de sua entrada. Os custos de saída têm

grande relação com as barreiras à entrada na medida que pode se constituir num importante fator

de influência para a decisão de entrar ou não em um mercado. A empresa sempre avalia o

cenário de não conseguir obter sucesso. O peso da incerteza e dos riscos ligados a um

investimento aumentam diretamente em relação aos recursos que não podem ser resgatados após

serem investidos, os quais, caracterizariam então o que se denominam custos irrecuperáveis

(Hasenclever e Ferreira, 2002: pg 141). Alguns exemplos desse tipo de custo são os gastos em

publicidade, pesquisa específica para o produto, custos de credibilidade, formação de redes de

fornecimento e comercialização, criação de ativos intelectuais - como software, marca, etc.

Apesar de tais custos representarem, em muitas indústrias, peso significativo em termos de

volume de investimento, dificilmente eles poderão ser recuperados.

1.3 Estratégias competitivas das firmas

1.3.1 Estratégias de crescimento

Como discutimos em relação à natureza e dos objetivos das firmas, o seu crescimento é

um dos objetivos mais presentes no âmbito das estratégias das empresas. Para entendermos

como elas conseguem efetivar este objetivo é fundamental analisarmos as estratégias de

crescimento mais utilizadas.

Diversificação

Uma das estratégias normalmente usadas pelas empresas é a diversificação de produtos e

de área de atuação. As motivações para esta estratégia de expansão estão ligadas a vários

motivos:

• Incerteza

Os administradores das corporações, ao verificarem a incerteza inerente a qualquer

mercado, procuram diversificar a área de atuação da empresa para garantir que, caso ocorra

alguma alteração substancial no seu mercado original, ela tenha condições de manter sua

existência no futuro.

• Interesse dos administradores

Os administradores de uma empresa, interessados em sua reputação perante o mercado

não atuam apenas no interesse de aumentar a lucratividade da empresa. Um dos principais

fatores de valorização de um administrador é o tamanho da empresa gerida por ele, sendo esta a

sua principal motivação nas decisões por ele tomadas.

• Recursos ociosos

A existência de recursos ociosos dentro da empresa, levam a estratégias de crescimento

para propiciar melhor aproveitamento. Além deste aspecto de eficiência, é normal que as

próprias pessoas envolvidas em atividades com relativo grau de ociosidade procurem novas

atividades.

• Poder de mercado

Uma firma pode traçar uma estratégia de diversificação a fim de aumentar o seu poder de

mercado, expandindo o número de produtos a fim de alcançar novos mercados correlatos ou

substitutos.

• Fontes de matéria prima

A fabricação de produtos que dependam dos mesmos fatores de produção acabam sendo

incentivadas. Uma firma que necessita de uma determinada matéria-prima, e tenha

conhecimento pleno sobre seu mercado passa a ter uma vantagem para iniciar a produção de um

outro produto que use a mesma matéria-prima.

• Redes de distribuição

A montagem de uma rede de distribuição é um dos aspectos mais importantes para a

capacidade de escoamento de uma produção. Uma empresa que promova a entrada de um

produto similar terá grande facilidade de usar a mesma rede de distribuição para seu novo

produto.

• Aproveitar Imagem

Uma empresa que possua boa imagem em seus produtos, conseguindo ligar o seu nome à

qualidade, passa a ter uma vantagem para conquistar os consumidores para seu novo produto.

Os consumidores esperam que este novo produto tenha a mesma qualidade dos produtos já em

comercialização.

Integração Vertical

As firmas podem ainda adotar a estratégia de expandir sua área de atuação para outras

partes da cadeia produtiva de seu produto, englobando tanto a etapa de fornecimento de

insumos como etapas posteriores de produção. Este tipo de ação, denominada integração

vertical, comumente está ligada à segurança de uma firma que pode temer que um elemento da

sua cadeia produtiva possa ter problemas de qualidade ou capacidade para expansão, ou ainda

que ela possa se destacar no controle da cadeia produtiva.

A integração vertical também pode ser motivada unicamente pelo desejo de crescimento e

expansão a firma, que vê numa área correlata, um setor de fácil investimento. Além disso,

controlar um elo a mais da cadeia produtiva pode ser importante na estratégia de competição

com os concorrentes, além de levantar mais uma barreira à entrada de concorrentes.

A Teoria dos Custos de Transação, por sua vez, nos diz que na negociação de uma firma

com um fornecedor existem custos adicionais, os custos de transação, que podem levar a

incorporação da atividade para buscar maior eficiência. Estes custos são influenciados por vários

fatores, como: quantidade de vezes que ocorre a transação, complexidade da relação entre os

agentes econômicos, racionalidade limitada, incertezas, oportunismo, etc.

Aquisições e Fusões

Dentre as estratégias de crescimento das firmas a de aquisições e fusões tende a ser de

grande relevância. Os motivos da tomada de decisão deste tipo de estratégia são variados e

normalmente complexos.

Do lado da empresa a ser adquirida podemos ter:

– A firma, ou o mercado em que ela atua, está passando por um período desfavorável, e

esta pode ser uma maneira de manter o capital investido;

– O dono da firma é obrigado a vendê-la para pagar obrigações tributárias;

– A firma pode ter alcançado um determinado estágio de crescimento que se tornou

muito grande para uma gerência não profissional;

(George, Joll; 1983: pg 121)

A Firma que está adquirindo ou as que estão em fase de fusão podem ser motivadas por:

– Economia de escala: aumentando a especialização nas atividades em cada fábrica,

melhorando a escala ótima de cada fábrica ou ainda levando a economia de custos

não produtivos, como o de marketing;

– Complementaridades: uma firma pode ser melhor do que a outra em uma

determinada atividade, de maneira que a fusão ou aquisição pode melhorar a

eficiência de ambas;

– Velocidade e segurança: as fusões e aquisições são uma maneira mais rápida de se

obter o crescimento de uma firma. É uma estratégia muito utilizada em caso de

crescimento horizontal;

– Monopólio e poder de mercado: pode ser a maneira mais fácil de eliminar a

concorrência ou de aumentar o poder sobre o mercado.

– Fatores financeiros e promocionais: o valor das ações das firmas pode influenciar

positivamente a estratégia de fusão, pois os investidores podem ter diferentes

percepções, vendo em uma firma melhores perspectivas do que em outra.

Conforme George e Joll, as estratégias de aquisições e fusões são normais quando uma

grande empresa se sente ameaçada por uma empresa menor e inovadora, já que:

“O lucro auferido pela pequena empresa firma em sua escala

de produção será muito menor que os prejuízos potenciais da grande

firma se esta não conseguir responder com seu próprio produto ou

processo melhorado. Nessas circunstâncias, a grande firma pode estar

preparada para pagar mais pela firma inovadora do que o valor desta

para seus atuais proprietários (isto é, mais do que o valor atual do

fluxo futuro de lucros que eles podem esperar).” (George, Joll e

Lynk, 1983: pg. 96)

1.3.2 Estratégias de Preços

Dentro da análise da dinâmica concorrencial em mercados concentrados e com barreiras à

entrada, a teoria do preço limite pretende explicar as estratégias de preços das empresas a fim de

evitar que novas empresas venham a ter incentivos à entrada em seus setores. Esta análise parte

da hipótese de que uma empresa que esteja auferindo lucros extraordinários avalie que novas

empresas terão interesse de entrar neste mercado a fim de compartilhar parte desta renda. Entre

as estratégias possíveis de manutenção de sua posição, a empresa estabelecida pode adotar o

preço competitivo, que, por definição, não atrairia a entrada de novas empresas. Outra

possibilidade seria definir o preço correspondente ao nível de lucro máximo, atraindo

definitivamente a empresa entrante e determinando que no futuro possa haver queda de

lucratividade. Contudo, como há barreiras à entrada e/ou vantagens competitivas para a empresa

estabelecida e formadora de preço, ela poderia fixá-lo ao nível de um “preço limite”, o qual, ao

mesmo tempo em que permite auferir um pouco de lucro extraordinário, consegue impedir a

entrada de novas empresas no mercado.

Uma outra estratégia de preços compatível com estruturas de mercados oligopólicas,

desde que atendida a condição de segmentação do mercado consumidor, é a política de

discriminação de preços. Esta é uma estratégia normalmente adotada em mercados concentrados

visando aumentar o lucro e o volume de produtos comercializados, segmentando os

compradores conforme os diferentes valores que cada um atribui ao produto, isto é, conforme a

elasticidade de demanda de cada um. Esta estratégia pode ocorrer de diferentes maneiras, como

segmentar a demanda em diferentes mercados, cobrando, por exemplo, um preço maior em

países com renda mais alta, ou ainda, separando o público de um mesmo mercado, dando

descontos à parcela mais sensível a preço, como normalmente ocorre para estudantes.

1.4 Concepções sobre a intervenção do Estado

Enfoque das falhas de mercado

Na teoria econômica há um debate intenso sobre o papel do Estado na economia. Porém,

existe um certo consenso de que a participação do Estado se justifica em certas situações onde o

mercado não consegue por si só determinar a melhor situação para a sociedade, seria o que os

economistas neoclássicos chamam de “falhas de mercado” (Ferraz; et alli, 1999: pg 549). Os

cinco principais tipos de falha mercado são:

• Estruturas de mercado ou condutas não competitivas

Em mercados onde existem fortes economias de escala, quanto menos empresas

participarem deles menores serão os custos de produção, o que leva a uma estrutura

oligopolista. Nestes casos é necessário evitar que estas empresas adotem condutas

anticompetitivas, limitando, para tanto, o seu poder de mercado.

• Externalidades

Conforme o modelo tradicional de concorrência todos os custos da produção de um bem é

apropriado pelo produtor, bem como todos os benefícios do bem são apropriados pelo

consumidor. Porém na prática este pressuposto muitas vezes não ocorre, causando com que

custos ou benefícios extras não sejam capturados pelas transações de mercado, causando o que

chamamos de externalidades.

As externalidades ocorrem quando a atividade de uma empresa gera impactos

prejudiciais ou positivos, normalmente de maneira indireta, em outras empresas, ou em

particulares, causando custos e prejuízos ou benefícios para estes. No primeiro caso denomina-

se de externalidade negativa, o segundo de externalidade positiva. A poluição é um exemplo

típico de externalidade negativa, enquanto investimentos em pesquisa pura a positiva.

Uma externalidade negativa está relacionada com um custo que existe ao produzir um

produto, mas que não se estabelece como um custo direto do produtor. Um caso comum disto é

a poluição, que não é um custo direto para a produtor, mas sim um custo para a sociedade

afetada por ela. Na prática, esta característica faz com que o bem seja ofertado em excesso no

mercado.

Já a externalidade positiva pode ser definida quando um bem produzir benefícios extras

para outras pessoas além do comprador. As atividades de pesquisa e desenvolvimento, ou ainda

a produção de bens com características próximas a de bens públicos exemplificam este caso.

Conforme Stiglitz & Walsh (2003: 351) , “Bens que geram externalidades positiva – como

pesquisa e desenvolvimento – terão oferta subótima no mercado.” Um outro tipo de

externalidade positiva é o que se denomina externalidade de rede, que ocorre quando um

consumidor é beneficiado a cada novo consumidor existente. O exemplo clássico é quando dois

sistemas de telefonia que não estão interligados concorrem entre si. O consumidor tenderá a

entrar na rede do fornecedor com a maior base de usuários instalada. Quanto maior a vantagem,

maior será a dificuldade para o concorrente em desvantagem de competir, e maior será o lucro

extraordinário que a maior rede terá. (Stiglitz e Walsh, 2003. pg 207)

• Bens Públicos

Os bens públicos são aqueles que possuem duas características particulares, a não-

exclusividade, que significa que não é possível atribuir o preço do bem a um agente econômico

em específico não sendo possível portanto a sua comercialização, e a não-rivalidade, que diz

que o aumento de unidades consumidas não afeta os custos de produção.

A classificação de um bem como rival é quando o consumo de uma unidade interfere no

consumo de outros. Uma pessoa que esteja passando em uma calçada, por exemplo, não impede

que outras pessoas possam usá-la, ao contrário do que ocorre com o consumo de uma barra de

chocolate. A informação é um caso típico de bem não-rival; uma pessoa que esteja usando uma

idéia não impede que outra a utilize ao mesmo tempo.

Um bem excludente é aquele em que é possível controlar o consumo, ou ainda que se

possa excluir pessoas de seu consumo. Ele é não excludente quando os custos de se controlar o

consumo é muito alto, ou ainda quando este controle não é possível. A segurança pública,

apesar de ser percebida como um bem com diferentes valores pelas pessoas, possui uma

característica de bem não-excludente, pois os benefícios gerados por ela não podem ser

separados.

• Direito de propriedade comuns

Bens que são de propriedade pública normalmente necessitam de proteção por parte do

Estado, pois os agentes tendem a não ter motivações para a sua conservação.

• Diferenças entre as taxas de preferências intertemporais sociais e privadas

As empresas tendem a não investir em atividades com retorno muito demorado e incerto,

mesmo que seja de alto interesse social. Pesquisas científicas apresentam estas características.

O enfoque da regulação do mercado – Teoria dos Custos de Transação (TCT)

A TCT surgiu com um artigo de Ronald Coase, denominado “The Nature of the Firm”,

em que ele defende que as empresas existem principalmente porque podem decidir

hierarquicamente a alocação de fatores de produção, ao contrário do que ocorre no mecanismo

de mercado, indicando a existência de um custos implícitos ao se atuar no mercado, o Custo de

Transação. Este artigo iniciou o estudo da TCT, que seriam as condições nas “quais os custos

de transação deixam de ser desprezíveis e passam a ser um elemento importante nas decisões

dos agentes econômicos, contribuindo para determinar a forma pela qual são alocados os

recursos da economia”. (Fiani, 2002: 267)

A TCT tem tido grande aplicação em áreas como a análise da concorrência e a regulação

econômica.

No enfoque da defesa da concorrência ocorre uma mudança de postura em relação à

integração vertical de grandes empresas, vista até este momento apenas como uma tentativa de

diminuir a concorrência, passa também a ser considerada como uma tentativa de aumento de

eficiência econômica ao eliminar estes custos de transação.

Já sobre a regulação econômica, a TCT levou a uma reavaliação das vantagens do

modelo de concessão de serviços públicos, demonstrando a necessidade de regulação direta

nestes setores. O modelo de concessão para serviços públicos não garante, conforme esta teoria,

que a empresa concessionária não tenha excesso de poder de mercado, justamente por

desconsiderar os custos de transação envolvidos, principalmente porque os serviços de

concessão necessitam ser de longo prazo para garantir investimentos, dificultando a previsão de

alterações no setor. Mesmo que seja atribuído a exploração de um serviço público, é

fundamental a existência de regulação para controlar preços, custos e investimentos. (Fiani,

2002: 285-286)

O enfoque neo-schumpeteriano da política industrial

Os neo-schumpeterianos rejeitam o enfoque de falhas de mercado, refutando pressupostos

como equilíbrio, informação perfeita e racionalidade dos agentes. A concorrência neste

paradigma é um processo dinâmico, de rivalidade entre as empresas que procuram se diferenciar

para ganhar posições no mercado justamente através das fontes de assimetria competitiva.

(Ferraz, et alli, 2002: 557)

A competição para esta corrente está relacionada principalmente com o surgimento da

estratégia das firmas de buscarem inovações a fim de obter vantagens em relação aos seus

competidores, focando a capacitação da empresa como elemento central. Assim, os monopólios

temporários não seriam entraves para o desenvolvimento, mas sim um motivo para a busca de

inovações, fundamental para o crescimento e desenvolvimento.

A política industrial neste contexto passa a ser um elemento importante para fortalecer o

ambiente competitivo ao criar incentivos de coorperação entre as empresas, manter um ambiente

institucional que favoreça investimentos em P&D a fim de gerar mais inovações de empresas

interessadas em conquistar parcelas maiores do mercado. É importante ressaltar que neste

contexto política industrial pode se confundir com regulação econômica, pois o fomento a

inovação e a ampliação das capacitações das empresas deve ser dosada com a garantia de um

ambiente competitivo que exerça uma pressão contínua das empresas concorrentes. (Fagundes,

2005)

2. CARACTERIZAÇÃO DO MERCADO DE SOFTWARE

PROPRIETÁRIO

Por software proprietário entende-se qualquer software que possui restrições, no seu

licenciamento, ao uso, alteração, estudo do seu funcionamento ou impossibilidade de

redistribuição. As empresas que trabalham neste modelo normalmente só disponibilizam o

programa já em sua forma executável (linguagem de máquina) que, em conjunto com as

restrições pela licença, lhe garante total controle sobre o software desenvolvido.

É importante ressaltar que a cobrança pela distribuição de software pode ocorrer tanto no

mundo proprietário como no livre, confusão comum na imprensa mundial.1 O acesso ao código,

por outro lado, não garante que o software seja livre, já que outras restrições podem se criadas

no seu licenciamento.

A análise da evolução das novas tecnologias, tem sido acompanhada de um amplo debate

sobre como as modernas tecnologias de informação e comunicação têm influenciado a dinâmica

econômica. O avanço da informática e das telecomunicações tem diminuído os custos de

comunicação e integração dentro das empresas, além de aparecer como elemento fundamental

para a comercialização e distribuição dos bens produzidos na economia mundial.

Este papel central que as inovações tecnológicas trazidas pela informática têm

apresentado em relação a economia vêm garantindo a atenção dos investidores privados e

autoridades governamentais, neste último caso, devido a sua importância estratégica na

dinâmica econômica. Neste capítulo pretendemos caracterizar o chamado mercado da tecnologia

da informação2, com ênfase no mercado de software. Para tanto, analisaremos as

especificidades que este mercado apresenta, começando com a que se refere à natureza do

produto software como um bem não-rival.

2.1 O Software como um bem não-rival

O software é que um conjunto de rotinas escritas numa linguagem que permite a

conversão futura para linguagem de máquina. Em essência, o software nada mais é do que

conhecimento em sua forma pura. Justamente por este motivo ele é tratado na maioria das

legislações como objeto de Direito Autoral, da mesma maneira que um livro.

1 Consulte: http://www.gnu.org/philosophy/selling.pt.html2 Shapiro & Varian, assim como outros autores usam o termo “Economia da Informação”.

O conhecimento é classificado tradicionalmente na economia como um bem não rival,

isto é, o consumo de uma unidade não interfere no consumo das outras pessoas. Uma

característica clássica de bens públicos. O consumo de uma unidade adicional de um bem como

este é zero, já que depois de ter sido construída não custa nada distribuí-la.

“Produzir uma nova idéia pode ser muito caro, mas a idéia só precisaser produzida uma vez. Seu computador pessoal corporifica milhares de novasidéias, mas essas não precisam ser reproduzidas cada vez que se fabrica maisum computador. (...) o desenho de um computador portátil só teve que serproduzido uma vez. Bens cujo consumo ou uso por uma pessoa não excluemo consumo por outra pessoa são bens não-rivais (não há rivalidade noconsumo)” (Stiglitz; Walsh, 2003: pg 339)

Além de ser um bem não rival o software também possui a característica de ser de difícil

exclusão, conforme Silveira3:

“Uma invenção transformada em um bem que gere muitos benefícios aquem não está disposto a pagar por ele, desestimula enormemente aqueles queestariam interessados em comprá-lo. As externalidades benéficas de uma idéiasão constatáveis pela observação daqueles que não a criaram, nem gastaramtempo em sua pesquisa e produção. Pessoas que não tiveram nenhum custopara produzir uma determinada solução podem reproduzí-la ao custo marginaligual a zero.”

A exclusão, neste caso, depende unicamente de uma legislação que crie mecanismos

para isto. É extremamente difícil controlar quem está usando ou não um software, bem como o

que alguém que compra uma licença de uso vai fazer em relação ao software. Ele pode

simplesmente “emprestar” as mídias de instalação para algum parente ou amigo.

As empresas de software através de campanhas tentam fazer com que as pessoas

cumpram os termos das licenças de uso dos softwares. Porém, isto ocorre de maneira desigual

entre países, e, de modo geral, nas economias em desenvolvimento, grande parte dos softwares

usados não são legalmente licenciados.

As empresas de software proprietário têm adotado um esforço de marketing importante

no convencimento do não uso de software ilegais, tentando evitar que as pessoas compartilhem

software umas com as outras. A Free Software Foundation, importante organização social de

apoio ao Software Livre defende a substituição do termo pirataria, implantado para caracterizar

o uso de software ilegal:

3 Disponível em: http://twiki.softwarelivre.org/bin/view/TeseSA/TeseCapituloVI

“PiracyPublishers often refer to prohibited copying as "piracy." In this way,

they imply that illegal copying is ethically equivalent to attacking ships on thehigh seas, kidnapping and murdering the people on them.

If you don't believe that illegal copying is just like kidnapping andmurder, you might prefer not to use the word "piracy" to describe it. Neutralterms such as "prohibited copying" or "unauthorized copying" are availablefor use instead. Some of us might even prefer to use a positive term such as"sharing information with your neighbor."4

Podemos dizer, portanto, que o software possui características de bem público, ainda que

não na forma pura, apresentando aspecto de bens não rivais, de maneira pura, e uma certa

dificuldade de exclusão de consumidores.

2.2 Composição de custos e formação de preços no mercado de software

proprietário

É fundamental o entendimento que o software, por ser um bem da mesma natureza que a

informação, não é nada mais do que conhecimento convertido em linguagem de máquina e deve

ser estudado da mesma maneira como qualquer outra forma de informação, como as publicações

eletrônicas. A maioria das legislações em vários países do mundo, considera o software sujeito

às mesmas leis de Direito Autorais que as obras artísticas estão submetidas5, à exceção de

alguns países como os Estados Unidos que estabeleceram a possibilidade de patentes para o

software e vêm pressionando a União Européia a fazer o mesmo6.

A difusão de informação, antes efetuada principalmente pelo meio impresso, sofre uma

forte revolução com o surgimento da internet. Ao produzirmos um determinado conteúdo

precisávamos, no passado, nos preocupar com os meios de distribuição a ser utilizado para

torná-lo acessível a quem pudesse ter interesse. Com a internet, o custo de reprodução da

informação foi levado a zero. Qualquer um pode disponibilizar uma determinada informação e

fora algum eventual custo fixo não existe nenhum custo marginal envolvido, isto é, custo

adicional por mais uma unidade comercializada. Esta estrutura de custo particular faz com que a

quantidade de informações existentes na internet seja muito grande e de acesso público, já que

4 Disponível em http://www.gnu.org/philosophy/words-to-avoid.html5 Com referência ao Brasil, o Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio define software como:“Programa de computador é uma criação intelectual que possui a expressão de um conjunto organizado deinstruções em linguagem natural ou codificada, contida em suporte físico de qualquer natureza, suscetível de sergravado em meios corpóreos e de emprego necessário em máquinas automáticas de tratamento da informação. Oregime de proteção aos programas de computador é o conferido às obras literárias pela legislação de direitosautorais e conexos vigentes no País, no que couber”. Consulte: http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/sti/proAcao/proIntelectual/proInt_proComputador.php#cont6 Consulte: http://swpat.ffii.org/index.pt.html

ela não está sendo vendida justamente ao seu custo marginal. (Shapiro; Varian, 1999: pg 40)

2.2.1 Caracterização dos custos

A composição de custos da informação é bem diferente da tradicionalmente verificada na

economia. Ela está baseada principalmente no chamado “custo da primeira cópia”. O software,

tal como um livro ou um filme, tem seus custos de produção praticamente concentrados antes da

produção da primeira cópia.

Para produzirmos um software é necessário um projeto amplo das funcionalidades

exigidas pelos diferentes componentes que o constituirão, bem como a elaboração do conjunto

de rotinas para o seu funcionamento. A partir daí tem início a parte de codificação propriamente

dita. Na conclusão do produto, praticamente todos os custos de produção já ocorreram. Os

demais custos, como os de reprodução ou de correção de erros (Bug) são marginais, à exceção

do custo de suporte que tem alguma relevância.

Este baixo custo de reprodução aliado a não existência de restrição de capacidade

produtiva faz com que a empresa produtora possa tanto produzir algumas cópias como milhões

de cópias sem o mínimo esforço. Conforme Shapiro, “É essa combinação de baixos custos

incrementais e operação em larga escala que leva a margens de lucro bruto de 92% desfrutadas

pela Microsoft”. (Shapiro; Varian, 1999: pg 37)

A conseqüência do custo marginal próximo a zero e da inexistência de limite de

capacidade instalada faz com que esta estrutura de custos fique diferente e principalmente

incompatível com a análise marginalista tradicional. Nesse sentido, Sylos-Labini, ao falar sobre

a estrutura de custo das empresas, defende que: “Ao contrário do que afirma a doutrina

tradicional, a qual assume que o custo marginal de curto prazo tenha forma de U, existem boas

razões (...), para supor que este seja constante, pelo menos no período relevante para o

empresário.” (Sylos-Labini, 1984: pg 68). Com efeito, a análise econômica neoclássica

tradicional, que se baseia na hipótese do equilíbrio entre custos de produção e demanda, o qual,

determinado em termos de quantidade produzida e preços, perde efetivamente aplicação para

este tipo de mercado. A busca pelo equilíbrio entre custo marginal e receita marginal perde o

sentido, já que passa a existir uma indeterminação. (Sylos-Labini, 1984: pg 155)

Outro ponto fundamental é que os investimentos realizados para a produção de um

software não podem ser recuperados, nem mesmo de forma parcial, no momento de desistência

do projeto. Isto é, ao contrário do que ocorre em qualquer atividade industrial tradicional, onde

no caso de se decidir encerrar o projeto no meio do processo produtivo. Pode-se vender

máquinas, estoque de matéria-prima e produtos não acabados, no caso do software, todo o

trabalho produzido não tem qualquer valor se não houver a conclusão do produto. É o que se

chama de “custos amortizados” (Shapiro; Varian, 1999: pg 36).

2.2.2 A discriminação de preços como estratégia competitiva

Uma estratégia comum em mercados oligopolistas é a chamada discriminação de preços.

Por meio deste expediente os produtores tentam se apropriar do máximo possível que os

consumidores estariam dispostos a pagar, praticando preços diferenciados conforme o perfil dos

consumidores.

No mercado de tecnologia é comum a utilização do mecanismo de discriminação

intertemporal de preços. Quando ocorre o lançamento de uma nova tecnologia ela é fixada com

um preço inicialmente alto para que as pessoas interessadas em novidades tecnológicas e com

poder de compra suficiente as adquiram a um valor mais alto. (Shapiro; Varian, 1999: pg 57)

Este mesmo mecanismo é normalmente aplicado também no mercado de softwares,

principalmente naqueles que possuem um alto grau de inovação, como no caso dos jogos

eletrônicos. Os lançamentos sempre possuem um valor superior a jogos mais antigos,

independente da complexidade.

Uma estratégia comum é a de oferecer preços diferenciados para estudantes e

professores. Além destes serem mais sensíveis a preço, há também a necessidade de cativá-los a

fim de expandir a influência que um software tem no mercado. Do ponto de vista da empresa de

software, fazer com que estudantes utilizem o seu produto sempre é uma vantagem competitiva

importante caso estes se tornem agentes decisores em empresas.

Outra forma de segmentar o público é separar os usuários que têm maior necessidade de

adquirir um determinado produto. Ao se lançar uma nova versão de um software, os

consumidores que já adquiriram uma versão anterior, têm poucas motivações para realizar o

“upgrade” de seu software. A Microsoft tem usado o expediente de fornecer atualizações de

seus produtos a preços diferenciados, já que é necessário um esforço muito maior para

convencer um usuário a atualizar seu sistema a partir de versões anteriores.

A fim de melhor ilustrarmos essa dinâmica de discriminação de preços, podemos analisar

o mercado de sistemas operacionais, mais propriamente o Microsoft Windows. Atualmente ele é

vendido nas seguintes versões.7

– Windows Starter Edition

Versão do Windows com limitações de funcionalidades artificialmente implantadas,7 As informações nesta análise partiram de várias fontes como Chagas ( 2003), da descrição dos produtos pela

Microsoft e da observação direta do autor.

como a capacidade de executar apenas três aplicativos simultaneamente, abrir no máximo três

janelas por aplicativo, e outras limitações em relação às versões tradicionais. Esta versão é

distribuída unicamente em países em desenvolvimento. O público-alvo é o mercado mais

sensível a preço, só é fornecido em contratos OEM8, isto é, acompanhando os computadores.

– Windows XP Home Edition

Voltado para usuário doméstico normal que possui sensibilidade a preço superior à

identificada para o meio empresarial. Ele é mais adequado a usos mais complexos do que o

Starter Edition, mas possui limitações em termos de funções, número de conexões remotas e

principalmente softwares para administração remota, elemento fundamental para grandes

corporações.

– Windows XP Professional

Voltado para o mercado empresarial, que é menos sensível a preços. A Microsoft define

a versão como “a edição com mais recursos, oferece os níveis mais altos de performance,

produtividade e segurança. É a melhor escolha para usuários empresariais e para usuários

caseiros que exigem o máximo de seu sistema.”9

– Windows 2003 Standart Edition

Voltado para o mercado de servidores10 básicos.

– Windows 2003 Enterprise Edition

Uso em servidores avançados, com vários processadores.

– Windows 2003 Datacenter Edition

Para ambiente de missão crítica, permitindo características como uso em cluster.

– Windows 2003 Web Edition

Versão especial para o ambiente World Wide Web.

8 Original Equipament Manufacturer. É uma modalidade diferenciada de distribuição de softwares, onde eles nãosão comercializados aos consumidores finais, mas unicamente aos fabricantes de computadores. Neste tipo decontrato, o software é normalmente associado à máquina com a qual foi distribuída, a qual, não pode serrevendida ou instalada em outro computador pelo próprio usuário. A Microsoft pratica ainda uma políticadiferenciada de suporte para esta modalidade de venda, repassando totalmente a responsabilidade ao Fabricantede computador, e se livrando de um importante custo variável, o suporte .

9 Consulte http://www.microsoft.com/brasil/windowsxp/pro/comprar/escolhendo.asp10 Servidores são equipamentos dedicados a determinadas funções que estão disponíveis aos computadores via

rede de comunicação.

Tabela 1 - Microsoft Windows – Versões e Preços

Versão Preço

Windows XP Home Edition – Atualização R$ 399,00

Windows XP Home Edition – Completo R$ 499,00

Windows XP Professional – Atualização R$ 699,00

Windows XP Professional – Completo R$ 799,00

Windows 2003 Server Edition US$ 999,00

Windows 2003 Enterprise Edition US$ 3.999,00

Windows 2003 Datacenter Preço não disponível

Windows 2003 Web Edition US$ 399,00

Fontes: Microsoft11 e Kalunga12 em novembro de 2005

Outra estratégia de discriminação de preços utilizada pela Microsoft está relacionada ao

idioma do sistema operacional de Desktop. Como é muito difícil que um usuário final utilize um

produto desenvolvido para um idioma diferente do seu, a Microsoft consegue produzir uma

segmentação especial de preços, criando políticas de preços diferentes para cada idioma. Esta é

inclusive uma das estratégias em relação ao starter edition, que está disponível em poucos

idiomas. Conforme declara a própria Microsoft:

“Windows XP Starter Edition Geographic and Language

Availability

Starting in October 2004, Windows XP Starter Edition will ship on

new, low-cost PCs available through PC original equipment manufacturers

(OEMs) and Microsoft OEM distributors. The offer is currently available in

Thailand, Indonesia, Malaysia, India and throughout Latin America.”13

É também interessante observar o comportamento da política de preços da Microsoft em

relação ao Microsoft Windows 2003 Web Edition, uma versão feita especificamente para

hospedar páginas da World Wide Web através da internet. Este novo produto, lançado em abril

de 2003, é uma resposta às dificuldades da Microsoft em conseguir avançar no mercado de

servidores WEB, dominado pelo software livre Apache. A participação máxima da Microsoft

com o seu servidor Internet Information Server – IIS, chegou a menos que 35%, e atualmente11 Disponível em http://www.microsoft.com/windowsserver2003/howtobuy/licensing/pricing.mspx12 Disponível em http://www.kalunga.com.br/search.asp?keyword=microsoft&keywordType=1&cookie%

5Ftest=113 Disponível em http://www.microsoft.com/presspass/press/2004/aug04/08-11WinXPStarterPilotPR.mspx

está estabilizada em torno de 20%, enquanto o Apache está próximo a 70% do mercado14.

No passado, a Microsoft comercializava seu servidor web incluído nos demais produtos e

pelo mesmo preço do Server Edition ou Enterprise Edition (antes chamado de Advanced

Server). Porém, a criação deste novo produto foi necessária para permitir a adoção de uma

política de preço diferenciada, a fim de tentar atrair mais consumidores e tentar ao menos

diminuir o ritmo do avanço do Apache. O gráfico abaixo mostra que a estratégia conseguiu ao

menos interromper a tendência de queda acentuada do uso do IIS na internet.

Figura 1 – Participação dos principais servidores web na internet

Fonte: Netcraft – http://news.netcraft.com/archives/web_server_survey.html

A capacidade de segmentação de mercados nem sempre ocorre de maneira considerada

legal. A Microsoft estabeleceu que as vendas de produtos Microsoft em contratos corporativos

de alto volume, no Distrito Federal, onde são normalmente realizadas as compras do Governo,

só poderiam ser feitas por uma de suas revendedoras, a TBA15. Com isto, ela monopolizou o

mercado de compras governamentais, menos sensível a preço e bastante aprisionada a seus

produtos. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE considerou esta prática

ilegal e a Microsoft foi obrigada a não mais estabelecer restrições a vendas de produtos baseadas

em representantes exclusivos por região. Em seu parecer de condenação, o CADE afirma:

14 Disponível em http://news.netcraft.com/archives/web_server_survey.html15 Consulte: http://www.tba.com.br

“(...) observa-se claramente que as relações concorrenciais,notadamente se analisadas em cotejo com as peculiaridades do mercado emquestão, foram lesadas pela forma como foram estabelecidos os critérios decredenciamento quantitativos e qualitativos, claramente utilizados pelaMicrosoft de forma a discriminar potenciais revendedores, limitando efalseando a concorrência.”16

Com a condenação por concorrência desleal a Microsoft foi penalizada com uma multa

equivalente 10% do seu faturamento, excluídos impostos, sobre suas vendas para o Governo

Federal no ano de 1998, e a TBA, sua associada, condenada a pagar o equivalente a 7% do

faturamento do mesmo ano. O parecer do CADE faz clara referência à situação de

aprisionamento e à presença de grandes barreiras a entradas no setor, que, em conjunto com a

prática de exclusividade, concedida, no caso, à TBA, criaram uma situação de restrição

deliberada de concorrência.

2.3 Barreiras à entrada e dinâmica da concorrência no setor

Conforme visto no capítulo anterior, as barreiras à entrada impedem o ingresso de novos

capitais em uma determinada indústria, eliminando um dos conceitos-chave para a dinâmica

concorrencial neoclássica.

O mercado de Tecnologia da Informação possui características diferentes das demais

indústrias, sendo afetada por barreiras específicas e bastante significativas, conforme o setor a

ser analisado. Ao mesmo tempo que possui um mercado dinâmico aonde pequenas empresas

surgem a todo o momento com novidades tecnológicas, isto é, com pequenas barreiras à entrada,

possui, por outro lado, um mercado consolidado de softwares, principalmente de aplicativos e

sistemas operacionais, com grandes barreiras à entrada, e que representam a parte mais

significativa em termos de faturamento no mercado. Este tipo de mercado será o foco da análise

durante praticamente todo o trabalho.

2.3.1 Economias de Rede

O mercado de Tecnologia da informação de modo geral é muito suscetível a economias

de rede. Um mercado com externalidades de rede é aquele em que os consumidores se

beneficiam com o aumento do número de pessoas que fazem parte desta rede. O exemplo

clássico é o mercado de telefonia. Quanto maior o número de pessoas conectadas a um

determinado sistema, maior será o valor que cada usuário atribui ao sistema. No caso do

16 Parecer do Cade sobre o Processo Administrativo nº08012.008024/1998-49

Software temos um exemplo extremo em que as exterioridades de rede chegam a ser mais

importantes que a qualidade do software em si. Mercados com este tipo de funcionamento

fortalecem os fortes e enfraquecem os fracos. (Shapiro; Varian, 1999)

No mercado de computadores um software aplicativo, como um editor de texto, por

exemplo, terá tanto mais força quanto maior o número de usuários, principalmente pelo próprio

valor que os consumidores atribuem ao produto. Podemos dizer que o preço que um consumidor

estaria disposto a pagar por um software aumenta em relação ao número de usuários.

A percepção de maior valor atribuído pode ser explicada pelos seguintes fatores

(Shapiro; Varian, 1999: pg 204):

• Usuários Treinados

O número de usuários que conhecem uma tecnologia pode representar economias de

treinamento para uma empresa. Além disso, os funcionários não gostam de ser treinados em

tecnologias que não lhe trarão benefícios no futuro.

• Continuidade do produto

No mercado de tecnologia existe a tendência, quando ocorre uma disputa entre

empresas, que apenas a vencedora tenha sucesso, se tornando ainda mais forte. Apostar numa

tecnologia que pode fracassar pode levar a um custo desnecessário. Os consumidores tendem

a apostar em tecnologias mais fortes, com maior tendência de se consolidar.

• Aplicações complementares

A existência de aplicações compatíveis e complementares aumenta a utilidade de um

software. Quanto maior o sucesso de um software, maior a probabilidade da existência de

softwares desenvolvidos para ele.

• Custos de troca coletivos

Além dos custos de troca individuais, existem os coletivos, que só podem existir se

forem realizados pela maioria dos usuários. Normalmente romper com um padrão que já é

utilizado pela maioria não é tarefa trivial.17 No mercado de Tecnologia da Informação, a

consideração deste aspecto merece especial atenção. O melhor exemplo de como este tipo de

custo pode afetar negativamente a escolha das melhores soluções é a definição do layout de

teclado. O atual baseado no padrão “qwerty” foi definido no final do século XIX para máquinas

de escrever. A disposição de teclas foi feita no sentido de diminuir a velocidade dos datilógrafos

já que os equipamentos da época tinham sérios problemas de travamento de teclas. Em 1932, foi

desenvolvido um formato de teclado com disposição de teclas mais intuitiva e ergonômica, o

17 Um bom exemplo, na economia tradicional, é o tamanho da bitola das estradas de ferros existentes nos dias dehoje. Elas foram definidas, no passado, com base no tamanho das carroças, as mesmas usadas desde a época doImpério Romano. Apesar de disputas por diferentes bitolas que ocorreram em certas regiões da Europa e nosEstados Unidos até hoje a bitola padrão “carroça romana” prevalece. (Shapiro; Varian, 1999: 243)

formato Dvorak. Porém, ele jamais se consolidou no mercado.18

Podemos explicar a dificuldade de troca para um novo padrão pelo alto custo de troca

coletivo envolvido. Quando se procura substituir um padrão com fortes características de rede,

faz-se necessário uma coordenação coletiva para efetuá-la, já que individualmente o custo de

cada um fazer a substituição é muito grande. Caso uma empresa decidisse adotar o novo teclado

teria que treinar os seus funcionários, poderia não conseguir profissionais no mercado que

conhecesse este layout de teclado e não conseguiria influenciar individualmente o mercado para

adotar o novo padrão. O resultado é que todos seguem usando um padrão de baixa qualidade,

extremamente ineficiente, o que é um fenômeno bastante comum nos mercados de tecnologia.

2.3.2 “Aprisionamento” de clientes

Pelo que discutimos até aqui, fica claro que a estratégia de competição entre as empresas

dos ramos de tecnologia da informação, principalmente no setor de software, visa atingir o

predomínio em termos de participação no mercado, criando sempre que possível situações de

aprisionamento de seus clientes a uma determinada ferramenta. Este objetivo passa a ser o real

foco de ação das empresas, contrariando o conceito neoclássico de maximização de lucros.

Mesmo sem atingir a liderança no mercado, um bom número de clientes aprisionados

pode representar, para as empresas fornecedoras de software, um bom lucro no futuro, na

medida que as empresas usuárias deste produto passam a ter um custo de troca muito

significativo. A empresa fornecedora pode fazer uma estratégia de discriminação de preços, e

aumentar os preços para quem já é usuário. Porém, a situação mais comum é quando um

determinado produto de uma empresa perde sua possibilidade de crescimento no mercado, mas

ainda possui um público segmentado cativo. Um exemplo deste problema é o que vem

ocorrendo no mercado de computadores de grande porte, sobretudo quando utilizados pelos

governos.

Este tipo de plataforma computacional envolve sistemas que possuem um volume de

transações muito grande, que precisa, portanto, de um sistema dedicado e com capacidade de

“throughput”19. Governos, Bancos e Universidades normalmente são os clientes preferenciais

deste segmento. Nos últimos anos os produtores destes sistemas não têm conseguido aumentar

seu mercado, principalmente pelo avanço da microinformática que esta fazendo com que

servidores baseados em plataformas semelhantes aos microcomputadores pessoais tenham um

18 Disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/Dvorak_Simplified_Keyboard19 “In computer technology, throughput is the amount of work that a computer can do in a given time period

Historically, throughput has been a measure of the comparative effectiveness of large commercial computersthat run many programs concurrently.” Disponível emhttp://whatis.techtarget.com/definition/0,,sid9_gci213140,00.html

aumento considerável de performance. Em vários casos ligam-se vários destes computadores em

“clusters” com capacidade de processamento equivalente aos computadores de grande porte.

Porém, quem já trabalha com estes ambientes de grande porte, possuei um nível de

aprisionamento que dificilmente é rompido. Este problema se torna ainda mais complicado em

entes estatais, pois uma estratégia de troca deste tipo tem que ser avaliada levando em

consideração um período de planejamento muito longo, muitas vezes de quase uma década, o

que é especialmente difícil para o Estado.

2.3.3 Bens Complementares como fonte de aprisionamento tecnológico

Quando um usuário ou uma empresa precisa escolher uma determinada arquitetura de

hardware, depara-se uma série de elementos envolvidos nesta tomada de decisão. Se, por

exemplo, um usuário de Macintosh resolve trocar o seu computador, muito provavelmente ele

irá comprar outro computador da mesma marca. O motivo para isto é a série de equipamentos

adicionais, software, etc, que normalmente o usuário já possui e que não poderia aproveitar em

caso de substituição de plataforma. Uma plataforma computacional normalmente não possui

bens substitutos na mesma proporção que um bem tradicional, como um automóvel, por

exemplo.

Para um software ter sucesso no mercado ele precisa de aplicativos complementares,

normalmente desenvolvidos por outras empresas. Esta sistemática, por um lado, benéfica para

ambas as empresas desenvolvedoras representa, contudo, um complicador a mais na relação

entre os concorrentes, pois passa a existir uma estreita relação entre os elos de uma cadeia de

software.

Não necessariamente a empresa que inicialmente desenvolveu um software tem absoluto

controle sobre um mercado onde há necessidade de software complementar. A economia

tradicional analisa este caso como mercado com Bens Complementares, onde o preço de oferta

em relação a uma demanda potencial é determinado em conjunto pelas duas firmas. Isto pode

levar a uma disputa pelo controle desta cadeia de valor.

Conforme Shapiro & Varian:

“Este aprisionamento bilateral pode conduzir a um certo equilíbrio deterror, sem falar em algumas negociações que envolvam altos interesses. Ocaso clássico é o de uma ferrovia que construiu um ramal para servir a umcliente individual (...). Uma vez construída a linha tem pouco ou nenhumvalor além de servir ao cliente único, de modo que a ferrovia está retida poreste cliente. Ao mesmo tempo o cliente acharia muito caro financiar a

construção de um novo ramal, de modo que o cliente fica retido pela ferrovia,levando ao que os economistas chamam de monopólio bilateral.” (Shapiro;Varian, 1999: pg 156-157)

A existência de aprisionamento bilateral entre duas aplicações, uma dependente da outra

para se sobrepor no mercado, pode levar rapidamente a uma disputa pelo controle da cadeia de

valor. (Porter, 1992: pg 385) A empresa que obtém este controle pode assim “drenar”

lucratividade da outra, porém, não pode entrar em disputa direta, sob o risco de perder o seu

mercado. Em situações como esta, a empresa que desenvolveu o software que serve de infra-

estrutura básica passa a ter uma vantagem na medida que mudanças de especificação e

implementação serão inicialmente conhecidas apenas por ela.

Um caso interessante é a relação entre a Microsoft e a Nestcape na disputa pelo mercado

de navegadores para internet. O surgimento da internet, levou sem dúvida, a um aumento de

importância dos sistemas computacionais, que se reproduz no valor que o mercado atribui aos

produtos. Neste sentido, a existência de um navegador de qualidade como o Netscape,

distribuído de maneira gratuita, foi importante para determinar inclusive o preço de sistemas da

Microsoft. Porém, esta última empresa, vendo o sucesso que o navegador estava obtendo, e

avaliando possíveis riscos futuros, resolveu entrar na disputa para conquistar este segmento de

mercado.

Com a vantagem de produzir o sistema operacional mais importante sobre o qual era

executado o Netscape, ela resolveu entrar no mercado com o seu Internet Explorer. Ela passou a

fornecer seu navegador gratuitamente, mas com a vantagem de já distribuí-lo em conjunto com

o seu sistema operacional, o que lhe dava, logo de início, uma grande base de usuários com o

software instalado. Como segundo passo ela deu sua cartada final, integrando o navegador ao

sistema operacional, de forma que nenhuma máquina com Windows funcionasse sem o seu

navegador, consolidando de vez a sua vantagem no setor.20 Este fato gerou inclusive uma ação

nos Estados Unidos sobre abuso de poder pela Microsoft.21

As Barreiras à entrada, ou ainda os custos de troca envolvem praticamente todos os

aspectos de uma ambiente computacional, incluindo o Hardware, Software, Treinamento, etc...

(Shapiro; Varian, 1999). Uma estratégia de aumento de barreiras a entrada, com ênfase em bens

complementares que levam a aprisionamento tem sido a tônica deste mercado. Nos próximos

ítens vamos analisar como este mecanismo funciona.

2.3.3.1 Hardware20 Ao lançar o Windows 98 a Microsoft optou por realizar a integração com o Navegador Internet Explorer com o

sistema operacional. 21 Disponível em http://www.usdoj.gov/atr/cases/ms_index.htm

Durante as décadas de 70 e 80, a produção de computadores, mesmo os de uso pessoal,

consistia em computadores desenvolvidos sem um padrão definido, com quase total

incompatibilidade entre eles. Assim, cada componente usado era específico para o computador

em questão. O final da década de 80 representou o avanço de uma arquitetura em específico, a

IBM – PC, que se propagou a partir de uma especificação de equipamento desenvolvida pela

IBM e licenciada por um custo muito baixo e para qualquer fabricante que tivesse interesse em

produzi-lo, prática que revolucionou o mercado. A intenção da IBM de tentar criar um padrão

para o segmento de computadores pessoais acabou tendo sucesso, mesmo que esse não fosse o

seu segmento de mercado preferencial22.

Um dos motivos para este sucesso foi a crescente percepção das dificuldades envolvidas

em intoreperar diferentes plataformas computacionais construídas para serem incompatíveis23,

bem como da possibilidade de aumento de escala trazida pela padronização. Antigamente, um

determinado fabricante que produzisse uma placa de vídeo, por exemplo, teria que construí-la

unicamente para um determinado padrão definido pela empresa que comercializava este

computador. A partir do momento em que vários fabricantes começaram a produzir

computadores com um mesmo padrão, esta mesma fábrica poderia se especializar na produção

de uma determinada placa, que teria um universo de compradores muito maior, levando a um

crescimento significativo da escala produtiva.

Passamos então a ter o domínio dos computadores IBM - PC compatíveis. Porém,

mesmo com a consolidação desta plataforma como a dominante no mercado, existem várias

plataformas diferentes que conseguiram resistir no tempo, sobretudo aquelas de uso

extremamente especializado. É o caso de plataformas corporativas baseadas em sistemas

operacionais Unix e processador RISC, ou ainda computadores pessoais como o Macintosh.

É importante ressaltar que, neste caso, não foi a melhor tecnologia que se consolidou,

mas sim a melhor estratégia de comercialização. A IBM, desenvolvedora do novo padrão de

mercado, apesar de ter adotado a estratégia vencedora, não obteve o mesmo sucesso em manter

o controle sobre sua criação, principalmente por errar na aposta de qual seriam os setores-chave

no mercado de computadores pessoais24.

A substituição de um determinado hardware envolve vários custos de troca. O primeiro

destes relaciona-se aos periféricos e equipamentos adquiridos para trabalhar em conjunto uma

dada plataforma. Por exemplo, podemos comprar uma impressora, um scanner, ou um

22 O foco de atuação da IBM era o fornecimento de computadores de grande porte e os softwares necessários paraseu funcionamento.

23 Como não existia uma plataforma com posição dominante no mercado, os fabricantes dificultavam que seuscomputadores conseguissem trocar informações com os concorrentes.

24 Considera-se setores-chave: processador e sistema operacional

dispositivo de armazenamento, como uma unidade de fita para backup. Estes equipamentos

muito provavelmente serão de uso específico para a arquitetura de hardware que já exista. No

momento de fim de ciclo de vida do computador existente, o comprador certamente terá que

pesar se mantém seu investimento em periféricos já realizados, os quais, na maioria das vezes,

ainda não encerraram seu ciclo de vida, ou se compra todos os componentes necessários para a

nova plataforma.

Outro fator relevante é o conhecimento já existente dentro da empresa e a relação de

confiança que pode ter sido construída com um determinado fornecedor. Vamos dizer que um

determinado servidor de rede que realize tarefas consideradas críticas em uma determinada

empresa necessite ser substituído. A equipe responsável pela sua manutenção certamente já

possui conhecimento sobre o hardware atualmente instalado. Este conhecimento foi obtido,

como normalmente ocorre em setores com constante inovação, pela dedicação de horas de

estudo da equipe. Alterar a plataforma pode implicar na necessidade de investimento em

treinamento ou recontratação, além do risco de custos de paradas não programadas. Além disso,

o normal é que se crie, com o tempo, uma relação de confiança entre a equipe interna e a

empresa fornecedora, reduzindo as incertezas de sucesso no novo investimento, o que pode ser

fundamental no momento de se optar por um fornecedor25.

As empresas que produzem computadores e periféricos, conhecedoras desta sistemática,

montam suas estratégias com o objetivo de criar o aprisionamento dos seus consumidores à sua

tecnologia, ou para tentar conquistar um novo mercado. É comum que fabricantes criem um

determinado padrão proprietário26, prevendo impedir, no futuro, que seus clientes migrem para

outra plataforma e que algum outro fornecedor, ao verificar uma determinada situação de

aprisionamento, tente licenciar – obter autorização para uso - este padrão para diminuir custos

de troca de seus possíveis novos clientes. É importante ressaltar que para difundir um

determinado padrão de hardware é comum que os fornecedores façam alianças estratégias com

outros.

2.3.3.2 Software

O mercado de Software, por sua vez, possui um custo de aprisionamento ainda maior

que o do mercado de Hardware. No software a criação de padrões proprietários é bem mais

25 Como existe um grande número de fornecedores de hardware, e os mais importantes costumam ter um preçomuito elevado, justamente pelos problemas de assimetria de informação, tornando-se um aspecto importanteneste contexto.

26 Apesar de parecer contraditório, o termo padrão proprietário é muito utilizado na área de informática e dizrespeito a um conjunto de regras para uma determinada situação, normalmente envolvendo comunicação efuncionamento de componentes, nem sempre de acesso público.

comum e eficiente, já que as dificuldades de conseguir interoperar com um hardware, por se

tratar de um meio físico, são bem menores do que com o software, que é um bem intangível.

A primeira decisão a ser tomada para montar uma estrutura de informática é a escolha do

Sistema Operacional de estações de trabalho e de servidores de rede. Atualmente existem várias

opções, tais como: Microsoft Windows (estações e servidores), várias versões de sistemas Unix

e derivados próximos (servidores), Gnu/Linux (estações de trabalho e servidores) e Macintosh

(estações de trabalho). Existem ainda outras alternativas para computadores de grande porte, de

uso especializado.

Uma escolha como esta envolve muitos aspectos, já que o custo de aprisionamento de

software possui, além das características já listadas para o Hardware, como a padronização e

outros softwares complementares, outras que ainda precisamos analisar:

Software Aplicativos

Um sistema operacional, não agrega, por si só, nenhum valor para um usuário. O que de

fato é utilizado são os aplicativos que são executados a partir de um determinado sistema. Cada

sistema possui uma plataforma de desenvolvimento própria e incompatível com os demais.

Desta forma, ao se optar por um ambiente de informática é necessário adquirir aplicativos para

funções específicas, como processadores de texto, planilhas eletrônicas, software para

compressão de dados, ferramentas gráficas, etc...

Estes softwares adicionais possuem um custo muito superior ao do sistema operacional

em si. Por exemplo, se uma empresa adquirir o sistema operacional Microsoft Windows, e

quiser instalar o editor de textos e a planilha eletrônica da Microsoft, ela terá que desembolsar

mais R$ 1399,00 por uma licença desta “suíte de escritório”. A partir deste momento já estará

ocorrendo um custo de aprisionamento, já que esta “suíte” funciona unicamente neste sistema

operacional. Se esta empresa resolver substituir o sistema operacional, ela também terá que

realizar novamente o investimento nestes aplicativos.

A própria Microsoft, atenta a este mecanismo, produz aplicativos unicamente para o seu

sistema operacional, e também faz alianças estratégicas para que outros fornecedores de

aplicativos não produzam para outras plataformas. Um caso famoso é o da empresa Corel que

produz um aplicativo líder na área de construção de imagens vetoriais, o Corel Draw, além de

uma série de outros aplicativos, como editores de textos e de imagens. Em 1999 a Corel, lançou

o Corel Linux, uma distribuição Gnu/Linux voltada para estações de trabalho e portou27 ou

emulou28 alguns de seus aplicativos para este novo sistema operacional. A Corel não estava

numa situação financeira tranqüila e traçou uma estratégia para que seus clientes não tivessem

custos adicionais ao adquirir seus aplicativos. Desta forma ela resolveu investir no projeto de

uma versão de sistema operacional, aproveitando, contudo, o trabalho que a comunidade

mundial de Software Livre já havia realizado, e lançou o seu “Corel Linux”, uma distribuição

Gnu/Linux que era fornecida gratuitamente na compra de um produto da Corel. Em 2000 a

Microsoft fez um investimento de 135 milhões de dólares em ações sem direito a voto e ambas

as empresas anunciaram um “acordo estratégico” para adoção da tecnologia de desenvolvimento

“.NET” da Microsoft29. A partir deste momento a Corel parou de investir na sua divisão de

Software Livre e a vendeu menos de um ano depois.

Periféricos e drivers

Quando um produtor de periféricos lança um determinado produto, por exemplo, uma

impressora, ele deve decidir para que arquitetura de hardware ela será construída, bem como os

sistemas operacionais que serão instalados nestes computadores. Para cada sistema operacional

o fabricante terá que desenvolver um “driver”, software responsável pela comunicação física do

equipamento com o sistema operacional.

Os sistemas líderes de mercado sempre serão contemplados com o fornecimento de

driver para o dispositivo, mas novos produtos de empresas entrantes, ou mesmo produtos já

consolidados, mas com participação pequena no mercado30, dificilmente terão a atenção destes

fornecedores. Desta forma, temos uma preocupação extra para quem decide trocar o sistema

operacional. É necessário verificar o suporte aos periféricos já existentes. Este fator,

principalmente numa grande empresa, é um aspecto relevante e em algumas vezes, de grande

complexidade.

Comunicação

Hoje não podemos pensar em computadores sem pensar na comunicação entre eles. As

redes de computadores, tanto empresariais (conhecidas como intranet) como a rede mundial, a

27 Re-desenvolvimento de um software para uma nova plataforma.28 No caso, emular significa utilizar uma aplicação intermediária para permitir que um aplicativo desenvolvido

para um sistema operacional/plataforma seja executada em outra.29 Disponível em http://www.microsoft.com/presspass/press/2000/Oct00/CorelPR.mspx30 É importante destacar que em informática sempre se trabalha com o mercado mundial, e que mesmo uma

pequena participação, digamos de 1%, representa um enorme número de máquinas.

internet, agregam grande parte do valor que atribuímos às soluções de informática.

Uma das estratégias de concorrência mais utilizadas é tentar criar protocolos de

comunicação proprietários e incompatíveis entre diferentes sistemas. Um caso famoso é a

disputa por servidores de autenticação corporativos entre a Microsoft e a Novell. Quando a

Microsoft lançou sua plataforma Windows NT de servidores de rede, a Novell era líder do

mercado e utilizava um protocolo de comunicação próprio o que dificultava a sua

interoperabilidade31. O principal esforço da Microsoft foi construir ferramentas de migração de

dados entre as plataformas Novell e Windows NT, além de procurar interoperar com os sistemas

de sua concorrente. Em paralelo a Microsoft construiu seu próprio protocolo de rede e

autenticação. Quando ocorreu o lançamento da versão 2000 do Windows NT foi removida a

maior parte das funcionalidades de interoperabilidade com a Novell, já que agora ela era a líder

de mercado e não mais a Novell.

Dominar os meios e protocolos de comunicação é uma vantagem enorme para uma

empresa. De maneira geral, a medida tomada para minimizar este problema é a normatização

através de organismos independentes. A Internet se baseia em um protocolo aberto, plenamente

definido e padronizado de maneira independente. Sem dúvida, este foi um dos fatores

fundamentais para o seu sucesso, pois manteve sua independência em relação aos diferentes

fornecedores.

Formato de Armazenamento

O armazenamento de dados é outro ponto comum de disputa entre as empresas de um

determinado setor do mercado de tecnologia da informação. As empresas líderes procuram criar

mecanismos de armazenamento próprios através de formatos secretos de armazenamento como

estratégia para aumentar o custo de troca de seus clientes.

O valor para qualquer um que utilize sistemas de informática está nos dados que estão

armazenados e foram processados pela solução atual. Em praticamente todas as áreas de

aplicação da informática existe uma disputa importante sobre formato de armazenamento de

arquivos. Na área de automação de escritório, que envolve Editor de Textos e Planilha

Eletrônica, o produto líder é o Microsoft Office, que utiliza formatos proprietários e secretos.

Estes formatos não são fornecidos para nenhuma outra empresa, o que torna o custo de

substituição extremamente elevado, já que seria necessário converter os documentos um a um.

Como alternativa, houve um trabalho de engenharia reversa32, que demandou um esforço

31 A Novell usava um sistema de comunicação proprietário usando o protocolo IPX/SPX que ela mesma haviadesenvolvido.

32 É o processo de análise de um artefato (um aparelho, um componente elétrico, um programa de computador,

muito grande, para que outros aplicativos conseguissem ler e escrever neste formato. Porém a

Microsoft, ao realizar lançamento de novas versões, foi alterando as características dos seus

formatos de arquivo, introduzindo complicadores para a plena compatibilidade. Hoje, porém, já

existe uma série de software que conseguem fazer conversão de maneira satisfatória, porém

ainda com erros quando são utilizados recursos muito novos do MS Office.

Mesmo superada esta barreira em termos de conversão, muitas empresas, pessoas,

órgãos públicos e instituições de ensino, ainda exigem o formato proprietário da Microsoft para

troca de documentos, o que praticamente impede que novos concorrentes se consolidem no

mercado. Em vários momentos outras suítes de escritório equivalentes apresentaram esta

compatibilidade de arquivos, um número maior de funcionalidades no produto e preços

significativamente menores, mesmo assim, não conseguiram avançar na sua participação no

mercado, como ocorreu com a suíte da Corel em 200233.

Treinamento

Um dos custos envolvendo o uso de Software é o treinamento para os usuários e a equipe

de suporte. Este custo está sempre vinculado à implantação de um novo software, porém a

transição entre diferentes versões de um mesmo software ocorre de maneira mais ou menos

transparente e dificilmente requer um novo treinamento. Ao se pensar em realizar uma migração

para um novo software as empresas medem também custos como o de treinamento e o da

necessidade de parada dos novos funcionários neste período.

Porém, um desafio maior do que a necessidade de treinamento em si é a construção de

uma rede de empresas que forneçam este tipo de treinamento. Empresas especializadas em

treinamento normalmente focalizam nos cursos de maior procura, isto é, procuram fornecer

cursos apenas para empresas líderes em determinados setores.

Outro complicador é a possibilidade de que os funcionários já existentes ou ainda

disponíveis no mercado já conheçam este ou aquele software. É bastante usual as empresas

líderes fazerem uma estratégia de cooptação, principalmente dos estudantes de informática

através de acordos com universidades e escolas ou ainda com vantagens especiais diretamente

para estudantes e professores. Trata-se aqui, conforme Shapiro & Varian (1999, pg 65), da

estratégia de “pegue-os enquanto são jovens”:

“Se você vende um bem com grande custo de troca (...) então

etc.) e dos detalhes de seu funcionamento, geralmente com a intenção de construir um novo aparelho ouprograma que faça a mesma coisa, sem realmente copiar alguma coisa do original.

33 Disponível em: http://www.newsfactor.com/perl/story/19693.html

compensará oferecer grandes descontos para “viciar” os consumidores em seproduto. Embora os produtores de software não estejam nas portas dasescolas impingindo seus produtos (ainda), as motivação é, em grande parte, amesma.”

De certa maneira este tipo de motivação faz com que seja tolerado um certo nível de uso

de Software ilegal em meios acadêmicos e por usuários individuais, pois eles podem representar

uma futura renda ao se tornarem decisores em empresas e possibilitam ampliação de mercado e,

principalmente, a formação de uma massa crítica de usuários .34

Desenvolvimento interno à empresa

Outro problema comum de aprisionamento a uma determinada solução são os

desenvolvimentos de sistemas de uso interno à empresa que dependem de um determinado

aplicativo ou utilizem como base algum banco de dados ou servidor proprietário.

A indústria de Banco de Dados possui uma interface de comunicação com aplicações

padronizadas, chamada SQL ANSI que é utilizada para comunicação entre aplicações e os

bancos de dados. Porém, para obter ganhos de performance, os bancos de dados implementam a

possibilidade de programação de ações no próprio banco, as chamadas “stored procedures”35. A

linguagem usada neste tipo de programação é sempre proprietária e não pode ser simplesmente

migrada de um banco para outro. A falta de esforço de padronização neste caso faz parte da

disputa atualmente existente no mercado de banco de dados, e a quantidade de desenvolvimento

completamente vinculado a um determinado banco aumenta os custos de troca por um outro

produto, já que estas rotinas terão que ser reimplementadas na linguagem específica do novo

banco de dados.

2.3.4 Fontes Adicionais de Barreira à Entrada

Além dos custos de aprisionamento, que influenciam de maneira significativa as escolhas

futuras dos consumidores-usuários, existem outros fatores significativos como barreiras à34 O termo normalmente usado pelo senso comum para software ilegal é pirataria. Existe um forte movimento

dentro da comunidade de Software Livre contra o uso deste termo, já que compartilhar um bem não-rival nãosignifica economicamente algo comparável com a pilhagem, conforme já falamos nos capítulo anterior.

35 “ A stored procedure is a program (or procedure) which is physically stored within a database. They are usuallywritten in a proprietary database language like Transact-SQL for Microsoft SQL Server, PL/SQL for Oracledatabase, or PL/pgSQL for PostgreSQL. The advantage of a stored procedure is that when it is run, in responseto a user request, it is run directly by the database engine, which usually runs on a separate database server andis generally faster at processing database requests. The database server has direct access to the data it needs tomanipulate and only needs to send the final results back to the user, doing away with the overhead ofcommunicating potentially large amounts of interim data back and forth”. Disponível emhttp://en.wikipedia.org/wikipedia.org/wiki/Stored_procedures.

entrada para as empresas entrantes.

Investimento inicial

Para se iniciar a produção de um software exige-se um grande investimento das

empresas. Um programa como o sistema operacional Linux tinha 5,7 milhões de linhas de

código no final do ano de 2004, para se ter exemplo do esforço envolvido na criação inicial de

um software complexo. Este investimento possui a característica especial de não poder ser

recuperado, uma vez que, ao contrário do que ocorre em outras formas de investimento, a

criação de um software é basicamente uma produção intelectual e não baseada em ativos

tangíveis. Quando se investe, por exemplo, em uma fábrica, caso a produção fracasse pode-se

vender as máquinas e a infra-estrutura dela para recuperar parte do dinheiro investido. Isto não é

possível com o software.

Este aspecto se torna ainda mais crítico pela estrutura globalizada do mercado de

softwares básico e de uso genérico, o investimento em software deve ser necessariamente feito

em escala mundial, o que requer normalmente investimentos ainda maiores já no início do

projeto. Além disso, será necessário uma grande cadeia de distribuição, o que dificulta muito a

entrada de novas empresas.

O ciclo de vida curto

O mercado de tecnologia da informação é bastante dinâmico. Gordon Moore, um dos

fundadores da Intel afirmou que o número de transistores, indicador de capacidade de

processadores, duplicaria a cada 18 meses.36 Isto é, a capacidade de processamento aumenta em

um ritmo muito grande, fenômeno que é acompanhado pelos softwares, que precisam estar em

constante atualização. Desta forma um software recém desenvolvido tem pouco tempo de

maturação entre seu lançamento e o fim de seu ciclo de vida.

Dificuldade de previsão de mudanças no mercado

Entre o início da criação de um software e seu lançamento podem ocorrer grandes

alterações na conjuntura de mercado, e, principalmente nos seus concorrentes. Além da

dinâmica de inovação, outro fator determinante é que o mercado de informática é um dos mais

globalizados, funcionando da mesma maneira em todos os países e com rápida difusão

36 Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Moore's_law

tecnológica.

Além disso, o avanço da informatização causada pelo barateamento de equipamentos faz

com que novos nichos de mercados surjam a todo o momento, criando novas oportunidades para

as empresas, criando um ambiente competitivo bastante dinâmico, sem empresas com posições

consolidadas em todos os mercados.

Custos de Troca

Ao se lançar um novo produto é fundamental levar em consideração o custo de troca dos

softwares já em operação a fim de atrair o mercado já existente. Isto normalmente exige

esforços, como o investimento em funcionalidade de integração, desenvolvimento e automação

de atividades de migração, interfaces que apresentem vantagens e características próprias, mas

que ao mesmo tempo sejam de fácil aprendizado para quem utiliza outro software similar, a fim

de atrair a migração de clientes importantes para demonstrar confiabilidade para possíveis novos

clientes.

Nesse sentido, quando computamos os custos de implantação de uma estrutura de

Tecnologia da Informação devemos considerar os seguintes aspectos, conforme Fink (2003):

– Hardware– Sistema Operacional– Infraestrutura de Rede– Ferramentas e utilitários de Administração– Desenvolvimento– Atualização das soluções em uso– Gerenciamento e Administração do ambiente– Ambiente físico (energia, ar condicionado, espaço físico, etc)– Licenças– Custo do suporte a todo o ambiente– Indisponibilidade do ambiente (downtime)– Garantias– Treinamento– Desastres e outros riscos

Como atrativo para troca, algumas empresas acabam tendo que utilizar padrões reais, o

que pode impedí-las de aprisionar sua base de cliente no futuro. Há normalmente um equilíbrio

tênue entre tentar prender o cliente, reforçando o aprisionamento, e adotar uma estratégia de uso

de padrões que garante uma maior aceitação no mercado, justamente pela percepção por parte

dos consumidores da importância de eliminar custos de troca.

Outro item fundamental é a formação da sua base de técnicos treinados e a rede de

treinamento e suporte ao produto, que podem ser decisivos na escolha de substituição.

2.4 Conseqüências do poder de mercado sobre a concorrência

Em perspectiva histórica, o mercado de software evoluiu de forma extremamente

concentrada, indicando, desde o seu início, a dificuldade de concorrência no setor. O exemplo

típico e mais notório é o quase monopólio que a Microsoft possui no mercado de sistemas

operacionais. Todavia, muitos outros setores estão também bastante concentrados.

As barreiras à entrada a novos concorrentes podem ser intransponíveis, como ocorreu na

tentativa da IBM, uma das maiores corporações de hardware e software do mundo, de

conquistar o mercado de sistema operacional com o seu OS/2.

A IBM havia criado o projeto da plataforma computacional dominante nos dias de hoje,

a IBM-PC. Num momento de indefinição completa do mercado, onde existiam várias opções

praticamente equivalentes de vários fornecedores, ela teve a percepção de que existia a

possibilidade e necessidade de padronização nos componentes de hardware das plataformas

computacionais, e que uma empresa isolada dificilmente teria condições de se impor perante o

mercado como alternativa dominante. Apesar da estratégia de dominação ter sido correta, a IBM

não percebeu que os mercados de sistemas operacionais e, em menor nível, o de processadores,

seriam as posições-chave na nova estrutura de mercado.

A Microsoft, contratada pela IBM para produzir a primeira versão de sistema operacional

para o seu IBM-PC, surge neste momento como principal competidor da IBM, conseguindo

conquistar o domínio praticamente completo do mercado de sistemas operacionais para esta

plataforma. Graças à estrutura de mercado já detalhada, especialmente no que se refere às fortes

barreiras à entrada e às economias de rede, ela manteve uma situação de monopólio estável, com

pouco risco de competição. Conforme Stiglitz & Walsh (2003: pg 207): “De fato, o Windows

tornou-se o sistema operacional dominante, usado em mais de 90% de todos os computadores

pessoais”. A IBM tentando retomar o controle do mercado desenvolveu um sistema operacional

de 32 bits chamado OS/2, de qualidade muito superior ao conjunto MS-DOS e Windows 3.0

que funcionavam a 16 bits, dominante na época. Ela que licenciava o seu sistema operacional a

um preço inferior aos da Microsoft, promoveu vários mecanismos para tentar minimizar os

custos de troca de seus clientes, como executar aplicações desenvolvidas para MS-Windows,

além de um grande esforço de marketing. Porém o seu produto não conseguiu avançar no

mercado e acabou sendo abandonado.

Este episódio demonstra como são significativos os riscos de entrar no mercado de

software quando já existe um competidor com grande poder de mercado. Esta tem sido a tônica

dentro do mercado de software, levando inclusive a situações onde as melhores opções

tecnológicas não conseguem se consolidar no mercado. (Silveira, 2005)

A estratégia de manter o controle sobre seus consumidores também tem sido constante

entre as empresas dominantes. Além da já citada disputa entre a Microsoft e a Netscape, outras

empresas já foram acionadas na justiça dos Estados Unidos por tentar limitar a concorrência,

como a própria IBM, em relação aos seus computadores de grande porte.

3. O SOFTWARE LIVRE COMO UM NOVO PARADIGMA

TÉCNICO-ORGANIZACIONAL NO MERCADO DE SOFTWARE

O presente capítulo analisa a emergência de um novo paradigma técnico-organizacional

que está tendo forte impacto no mercado de software, o Software Livre. Analisaremos o

surgimento deste software como movimento social, sua evolução e seu modelo de

desenvolvimento, distribuído e aberto, realizado em torno de comunidades que incluem

desenvolvedores, usuários, tradutores, empresas e universidades, e que têm apresentado um

modelo de desenvolvimento mais produtivo que o tradicional.

Ressaltaremos as especificidades deste modelo em relação às formas tradicionais de

análise de setores industriais, bem como, suas significativas diferenças com o desenvolvimento

de software baseado no conjunto código fechado e licenciamento de uso. Com a consolidação

deste movimento, buscamos verificar as alterações ocorridas no mercado por parte dos

produtores de software e a ampliação do poder dos consumidores. Estas mudanças têm levado a

uma clara alteração na conduta das empresas dominantes do setor.

3.1 Surgimento e evolução do Software Livre

3.1.1 O surgimento do Software Livre

Com a produção comercial dos primeiros computadores, o desenvolvimento de software

era feito especificamente para cada atividade e empresa. Os softwares básicos, como sistema

operacional e processadores de texto, não eram considerados produtos à parte e eram

comercializados em conjunto com o hardware. Os códigos fontes dos programas não eram

considerados como “segredo industrial” e eram seguidamente compartilhados com os

proprietários de equipamentos. Este modelo de funcionamento permaneceu de meados de 1960

até o início da década de 80. Era uma época de acesso restrito a computadores. Apenas grandes

empresas, instituições de governo e de pesquisa possuíam acesso a este equipamento. Mesmo

com estas dificuldades surgiu uma rede de hackers37, cujos membros compartilhavam códigos

de programas entre si e com as empresas que forneciam estes equipamentos.37 “o termo "hacker" (lenhador) foi inicialmente usado para designar quem possui habilidades técnicas para

explorar meandros e nuances em programas de computador, e utiliza essa habilidade para resolver problemas”(Rezende, 2000)

No início da década de 80 o mercado de software passou por profundas mudanças. O

software tornou-se um produto distinto e cobrado à parte. Os equipamentos vendidos eram

fornecidos apenas com os binários38 e incluíam um contrato de uso que limitava a sua

distribuição e estudo. Esta nova realidade conflitou principalmente com os centros acadêmicos

dos Estados Unidos.

A licença fornecida com o Windows XP, por exemplo, impede o estudo de como o

software funciona. Cada instalação obriga que o usuário concorde com os termos da licença que

exige: “You may not reverse engineer, decompile, or disassemble the Software, except and only

to the extent that such activity is expressly permitted by applicable law notwithstanding this

limitation.”39

No Massachusetts Institute of Technology (MIT), um hacker chamado Richard Stallman,

contrariado com este modelo de distribuição de software, iniciou um movimento para o retorno

do acesso ao código e ao compartilhamento do conhecimento na área. Isto culminou com o seu

pedido de demissão do MIT para que se dedicasse a desenvolver um sistema operacional

completamente livre, que se chamaria GNU40, e que seria desenvolvido de acordo com o padrão

Unix, dominante na época. Surgiu com isto o movimento de Software Livre (Stallman, 2002: pg

15)

A primeira ação de Richard Stallman foi criar, conceituar e propagar o conceito deSoftware Livre, que passou a ser definido pelo projeto como o seguinte conjunto de liberdades:

– “A liberdade de executar o programa para qualquer propósito(liberdade no. 0)”

– “A liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo paraas suas necessidades (liberdade no. 1). Acesso ao código-fonte é umpré-requisito para esta liberdade.”

– “A liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa ajudarao seu próximo (liberdade no. 2).”

– “A liberdade de aperfeiçoar o programa e liberar os seusaperfeiçoamentos de modo que toda a comunidade se beneficie(liberdade no. 3). Acesso ao código-fonte é um pré-requisito paraesta liberdade. “ 41

Como decorrência do projeto GNU, ocorreu a criação da Free Software Foundation,

instituição que daria suporte ao projeto de construção deste novo sistema. Ela passou a receber

doações e comercializar programas e documentação de Softwares Livres. Uma das primeiras

ações realizadas foi criar um marco legal para o desenvolvimento do Software Livre. 38 Binários é como são comumente denominados os programas de computador após serem convertidos para

linguagem de máquina.39 Disponível em http://www.microsoft.com/windowsxp/home/eula.mspx40 Acrônimo recursivo de “Gnu is not Unix”41 Disponível em: www.gnu.org

Em 1985, a Free Software Foundation lançou a primeira versão da sua licença, a

General Public License (GNU). A GPL logo se tornou a referência para licenciamento para

Software Livre, sendo ainda hoje a principal licença utilizada em programas livres. Ela utiliza o

Copyright para garantir a liberdade dos desenvolvedores, um mecanismo que a comunidade de

Software Livre costuma chamar de Copyleft. Esta licença, além de garantir as quatro liberdades

fundamentais descritas pela Free Software Foundation, garante que este software permanecerá

com estas liberdades no futuro e também para trabalhos derivados.

Um software licenciado sob GPL pode ser redistribuído, estudado, alterado com a

garantia de que ninguém possa se apropriar deste código ou ainda adicioná-lo em um produto

que não tenha o mesmo tipo de licenciamento, garantindo, assim, que qualquer trabalho

derivado retorne para a comunidade de desenvolvimento. Este caráter de proteção da GPL tenta

resolver um problema central que havia nas formas de licenciamento anteriores, notadamente

com a licença BSD42, de apropriação por empresas de Software Proprietário de código livre sem

retorno algum para a comunidade que o criou. Várias empresas usaram este artifício em seus

produtos, inclusive a Microsoft43.

Com a GPL, o movimento de Software Livre teve um marco institucional/jurídico que

foi fundamental para o seu desenvolvimento. Porém, por possuir um caráter muito restritivo

houve uma propagação de licenças mais ou menos permissivas, o que acabou levando a Free

Software Foundantion a manter uma lista de licenças de Software Livre com o seu grau de

compatibilidade com a GPL. A própria FSF lançou uma licença menos restritiva, a Lesser

General Public License (GNU), que possuía efeito semelhante a GPL, mas permitia que

Software Proprietário se conectasse44 a um software com este tipo de licenciamento sem

necessariamente ser um Software Livre, o que acaba muitas vezes sendo necessário ao se

construir bibliotecas.

Um aspecto importante do trabalho da FSF é que a fundação trabalha essencialmente em

duas vertentes. A primeira, apoiando o desenvolvimento de Software Livre, seja contratando

desenvolvedores, seja fornecendo infra-estrutura para o desenvolvimento. Outra é a

“evangelização”, isto é, campanhas para o convencimento sobre as vantagens do uso de

Software Livre. O foco do discurso usado é o convencimento dos desenvolvedores e usuários

sobre a liberdade. As pessoas devem ter consciência que a escolha do software que ela irá

utilizar influencia a liberdade do conhecimento tecnológico embutido.

Em outras palavras podemos dizer que o discurso de convencimento utiliza

principalmente aspectos ideológicos, focados no convencimento individual, tanto de

42 http://www.xfree86.org/3.3.6/COPYRIGHT2.html#543 http://www.infomediatv.com.br/visualiza_video.php?id_video=11144 Formalmente, realizasse chamadas de sistema.

programadores, como de usuários. Este tipo de discurso fez com que a aceitação da Free

Software Foundantion encontrasse grande resistência dentro dos Estados Unidos, onde o próprio

termo “Free Software” é muito pouco utilizado. Notadamente na América Latina este discurso

teve maior penetração e praticamente não se usa outro termo que não “Software Livre”.

3.1.2 A consolidação do movimento de Software Livre

A partir do início do trabalho da Free Software Foundation e do espírito de

compartilhamento que já existia nas universidades, o conceito de Software Livre começou a se

expandir. Contudo, ainda existiam grandes dificuldades para mobilizar desenvolvedores para

trabalhar nos projetos, sobretudo pelas dificuldades de comunicação e coordenação deste tipo de

projeto. O desenvolvimento era lento e poucos softwares já estavam totalmente prontos para

uso. Os principais eram mantidos por desenvolvedores contratados pela FSF a partir de doações,

venda de documentação e de mídias com os softwares por parte da Free Software Foundation. O

mais notável desta época era o GNU Compiler Collection - GCC, primeiro conjunto de

programas que permitia que todo o desenvolvimento de um software fosse realizado em

Software Livre.

Com a popularização da internet foi vencida a principal dificuldade para o

desenvolvimento compartilhado. Ela criou um novo ambiente onde o custo de comunicação

entre pessoas dos mais diferentes países poderia ser reduzido significativamente. A escala

mundial da rede de computadores permitiu que pessoas em todo o mundo interessadas em um

determinado software pudessem ajudar no desenvolvimento, documentação e correção de bugs

de programas livres, de maneira praticamente voluntária.

Em 1992, um estudante finlandês chamado Linus Torvalds publica na internet o primeiro

esboço de um sistema operacional que ele estava desenvolvendo e pediu que quem estivesse

interessado no referido sistema respondesse que tipo de característica gostaria que este software

tivesse. Ele começou a atrair um grande número de pessoas em todo o mundo, que passaram a

contribuir no seu projeto. Nascia assim o mais notável projeto em Software Livre, o sistema

operacional Linux. (Torvalds; Diamond, 2001: pg 112).

A partir de então, mais e mais projetos nasceram na internet e permitiram que

desenvolvedores em todo o mundo pudessem compartilhar suas necessidades e interesses

pessoais na produção da mais variada gama de softwares. Esta diversidade de tipos de software

em desenvolvimento pode ser explicada pelas motivações que levam os desenvolvedores a

participarem de projetos. A principal motivação parece ser algum interesse pessoal, justamente

por precisar de algum software em especial, ou ainda pela necessidade de uma funcionalidade

ainda não implementada. (Reis, 2003: pg 104)

A organização de cada comunidade envolvida com um determinado software difere

bastante de uma para outra, porém, de maneira geral podemos dizer que a estrutura de decisão

das comunidades de software livre está baseada numa estrutura meritocrática, onde os

elementos que mais contribuíram para o projeto e com maior reconhecimento dos demais

desenvolvedores passam a ter peso maior sobre as decisões.

Em termos de infra-estrutura para o trabalho cooperativo, foram desenvolvidos vários

softwares que auxiliam na organização da comunidade envolvida. Existem vários sites

especializados em fornecer estas ferramentas para comunidades de desenvolvedores. O mais

famoso, o Source Forge, possui mais de 140.000 projetos e mais de um milhão de usuários

registrados45. Existem ainda sites de hospedagem de projetos no Brasil, como o Código Livre46 e

o Colaborar47.

3.1.3 O Novo modelo de produção de software – A Catedral e o Bazar

No ano de 2000, Eric Raymond, famoso desenvolvedor e membro da comunidade de

Software Livre, lança um texto chamado de “The Catedral and the Bazaar”, onde analisa

comparativamente a forma como os softwares tradicionais e Livres são desenvolvidos

(Raymond, 1998).

Eric Raymond inicia sua análise discorrendo sobre a consolidação do kernel Linux48, que

surgiu de uma maneira surpreendente, já que ele considerava que sistemas grandes, com este

grau de complexidade, só poderiam “ser construídos como as catedrais, habilmente criados

com cuidado por mágicos ou pequenos grupos de magos trabalhando em esplêndido

isolamento com nenhum beta para ser liberado antes de seu tempo”49.

O autor verifica que o estilo de trabalho de Linus Torvalds, criador do Linux, de gerir o

projeto de maneira quase anárquica e liberando rapidamente versões criou um ambiente propício

para o desenvolvimento de Software Livre. E ele próprio passou a utilizar esta sistemática de

gerenciamento em um projeto no qual ele contribuía, e que em 1996 passara a liderar, o

popclient. Neste projeto ele aplicou as seguintes ações:

“1. Eu liberei cedo e freqüentemente (quase nunca menos que uma veza cada dez dias; durante períodos de desenvolvimento intenso, uma vezpor dia).

45 Confira em: www.sourceforge.net46 Disponível em: http://codigolivre.org.br/47 Disponível em: colaborar.softwarelivre.gov.br48 Kernel é o núcleo de um sistema operacional, a parte considerada mais complexa e importante de um sistema.49 Confira em: http://www.geocities.com/CollegePark/Union/3590/pt-cathedral-bazaar-1.html

2. Eu aumentei minha lista de beta testers adicionando a ela todo mundoque me contatava sobre o fetchmail.3. Eu mandei extensos anúncios à lista de beta testers toda vez que euliberava, encorajando as pessoas a participar.4. E eu ouvia meus beta testers, questionando-os sobre decisões dedesenvolvimento e incitando-os toda vez que eles mandavam consertose respostas.”50

Eric Raymond detectou durante a evolução do seu projeto que a intensa colaboração

tanto de programadores, ajudando no desenvolvimento, quanto de usuários, ajudando na

detecção de erros, foram fundamentais para o sucesso. O autor comenta que:

“Aqui, eu penso, é o centro da diferença fundamental entre osestilos bazar e catedral. Na visão catedral de programação, erros eproblemas de desenvolvimento são difíceis, insidiosos, um fenômenoprofundo. Leva meses de exame minucioso por poucas pessoasdedicadas para desenvolver confiança de que você se livrou de todoseles. Por conseguinte, os longos intervalos de liberação e o inevitáveldesapontamento quando as liberações por tanto tempo esperadas não sãoperfeitas.”51

Na visão bazar, por outro lado, se assume que erros são geralmente um fenômeno trivial

ou se tornam triviais muito rapidamente quando expostos a centenas de ávidos co-

desenvolvedores triturando cada nova liberação. Conseqüentemente, liberar os novos códigos

freqüentemente leva a ter mais correções e, como um benéfico efeito colateral, se tem menos a

perder se um erro ocasional aparece.

Teríamos então, com o trabalho de Linus Torvalds52, potencializado pela ampliação da

internet, um novo modelo de desenvolvimento, que possuiria grande vantagem em relação ao

modelo de desenvolvimento tradicional, executado tanto na produção de software proprietário,

como pelo próprio desenvolvimento de Software Livre em vários projetos, como os geridos pela

Free Software Foundation.

Os projetos gerenciados desta maneira teriam como vantagem um maior número de

pessoas ajudando no desenvolvimento e principalmente na procura e correção de erros dos

programas. Haveria também um maior retorno por parte dos usuários de novos caminhos e

funcionalidades com que os desenvolvedores deveriam se preocupar. Concluindo, este modelo

seria bem mais eficiente do que o modelo catedral e iria naturalmente sobrepor-se a ele. 50 Disponível em: http://www.geocities.com/CollegePark/Union/3590/pt-cathedral-bazaar-6.html51 Disponível em: http://www.geocities.com/CollegePark/Union/3590/pt-cathedral-bazaar-4.html52 Em seu livro “Só por Prazer”, onde descreve a história do Linux, Linus argumenta que seu trabalho no sistema

operacional iniciou apenas como interesse intelectual, mas resolveu compartilhar com algumas pessoas. Logo,começou a ter bons retornos de problemas e sugestões. Então tornou o sistema público. Desde o início dodesenvolvimento ele nunca pensou em cobrar licença pelo software, sempre o tomou como um hobby.

3.1.4 A Open Source Initiative e novo foco do movimento de Software Livre

Em 1998, Eric Raymond e mais algumas figuras destacadas da comunidade de Software

Livre resolveram iniciar um movimento para alterar como se denominava e tratava o conceito de

Software Livre. Eles construíram uma alternativa ao termo “free software” e passaram a utilizar

“open source”. Em conjunto, criaram uma organização, chamada Open Source Initiative53 (OSI),

com o objetivo de propagar e divulgar as liberdades e vantagens deste novo modelo de produção

de software, sobretudo para o meio corporativo.

Um dos motivos levantados foi a tradicional confusão a que se induz com a palavra

“free”, por significar tanto a liberdade (free speach) como a gratuidade (free bear). Eles

defendiam que o uso deste termo trazia uma complicação desnecessária para o entendimento do

conceito pelas pessoas comuns. Facilmente, produtores de software proprietário poderiam

colocar seu software grátis na internet e chamá-lo de “Free Software”. A utilização do termo

“open-source software” seria mais precisa e exata, dizendo exatamente o que é a parte

fundamental da questão, o acesso ao código fonte.

Na definição que a nova entidade formulou para o termo Código Aberto eles utilizaram

como referência uma formulação de outra comunidade, a Debian, uma das maiores

distribuições54 Gnu/Linux. É importante notar que o projeto Debian foi um dos que não

adotaram o novo termo e continuam a denominar seu trabalho como “free software”. A

“Definição do Código Aberto”55 é muito semelhante utilizada pela “Free Software Foundation”,

porém mais focada em aspectos práticos.

Apesar desta diferença terminológica, a grande alteração na ação da nova entidade está

na argumentação para o incentivo de uso. A principal intenção de Eric Raymond era alterar o

discurso do foco ético usado pela FSF. Ele considerava necessário usar um discurso que fosse

adequado para as empresas, até porque sendo o modelo bazar de desenvolvimento mais

eficiente, haveria interesses econômicos nesta adoção, e isto seria suficiente para que os

executivos passassem a adotá-la em suas empresas. Sobre a ideologia empregada sob o termo

“free software”, Eric Raymond afirma:

“the term makes a lot of corporate types nervous. While thisdoes not intrinsically bother me in the least, we now have a pragmaticinterest in converting these people rather than thumbing our noses at

53 Disponível em: http://www.opensource.org54 Distribuição é um conjunto de aplicativos livres fornecidos em conjunto para facilitar o processo de instalação

de um computador. Inclui, normalmente, o sistema operacional Gnu/Linux e mais uma série de aplicativos paraos mais diferentes usos.

55 Disponível em: http://www.opensource.org/docs/definition_plain.php

them. There's now a chance we can make serious gains in themainstream business world without compromising our ideals andcommitment to technical excellence -- so it's time to reposition. Weneed a new and better label.”56

Percebe-se claramente uma mudança de postura em relação ao fenômeno. Numa

vertente, a da FSF, utiliza-se o termo Software Livre, o discurso apela mais para aspectos éticos

e morais da liberdade de conhecimento. Já a OSI, que defende o termo Código Aberto, mostra

as vantagens práticas de seu uso e é voltada para o mercado corporativo. Conforme Stallman:

“The fundamental difference between the two movements is intheir values, their ways of looking at the world. For the Open Sourcemovement, the issue of whether software should be open source is apractical question, not an ethical one. As one person put it, ``Opensource is a development methodology; free software is a socialmovement.'' For the Open Source movement, non-free software is asuboptimal solution. For the Free Software movement, non-freesoftware is a social problem and free software is the solution.”57

3.2 Vantagens na adoção de Software Livre por parte dos usuários

Para um melhor entendimento dos fatores que levam as empresas e os governos a

adotarem o software livre como alternativa ao software proprietário, precisamos analisar, no

âmbito das estratégias dos consumidores, quais são as motivações e vantagens envolvidas com

esta opção, que é também uma alternativa à estrutura de mercado anterior, excessivamente

concentrada e com grande poder sobre o mercado por parte do fornecedor. (Shapiro; Varian,

1999)

3.2.1 Vantagens na adoção de Software Livre por empresas

Bens substitutos e poder de mercado do fornecedor

Quando uma empresa passa a utilizar um determinado produto ou insumo no seu

processo produtivo, ela tem vantagens ao utilizar um produto que possua um maior número de

fornecedores alternativos, evitando assim excesso de poder de mercado das empresas

fornecedores. Ao existir uma boa possibilidade de troca por parte do consumidor, maior poder

ele terá em negociações, estabelecendo limites para o preço estabelecido pelo produtor.

56 Disponível em: http://www.catb.org/~esr/open-source.html57 Disponível em: http://www.gnu.org/philosophy/free-software-for-freedom.html

Se pensarmos no mercado de software livre, e na decorrência do código ser aberto e

acessível, percebemos como é mais fácil criar um novo produto neste segmento, já que o

reaproveitamento de código do software já existente permite uma rápida evolução de novos

projetos, bastante diferente do desenvolvimento de software tradicional, em que a evolução de

um software ou tecnologia está vinculado a decisão de apenas uma empresa.

Este aspecto garante que um projeto que esteja sendo mal conduzido, digamos, no

sentido de redirecionar sua estratégia para controlar o consumidor através, por exemplo, de

alteração nos termos de licenciamento, possa ser objeto de rápida substituição. Na comunidade

de software livre existem vários exemplos de empresas e indivíduos que, vendo seu avanço de

mercado, resolvem mudar de estratégia, dirigindo-se para o modelo proprietário. Dado que com

o Software Livre existe a liberdade de derivação do código, é facilitado o surgimento de uma

comunidade ou mesmo de empresas, que resolvam dar continuidade ao seu desenvolvimento.

No caso de um projeto mal gerido, ou que esteja tomando caminhos tecnológicos errados que

possam levar a problemas no futuro do software, o mais comum é que parte da comunidade

participante do seu desenvolvimento crie um projeto à parte58.

Flexibilidade na escolha de fornecedores

Uma empresa que tenha o código fechado terá pleno controle sobre seus consumidores,

uma vez que possuirá grande controle sobre os serviços que podem ser prestados para este

software. Isto ocorre porque nenhuma outra empresa tem a possibilidade de dar um suporte

pleno ao produto, pois não pode nem determinar erros, nem providenciar sua solução,

garantindo contratos de serviços enquanto houver clientes utilizando o software. Quanto mais

crítico para os consumidores for o aplicativo, maior será a necessidade de se possuir uma boa

manutenção no software.

Como qualquer empresa pode acessar e alterar o código de um programa livre, várias

empresas podem entrar no setor e conseguir dar um suporte satisfatório, garantindo um limite

menor para os preços praticados e o poder de escolha dos consumidores.

É importante ressaltar que uma empresa que lança um software livre continua tendo

vantagem no suporte a este software. Normalmente as empresas que desenvolvem inicialmente

um projeto livre continuam sendo ao longo do tempo a principal mantenedora dele, possuindo

vantagens em relação às demais, na medida que o seu conhecimento normalmente está um passo

à frente das outras empresas que prestam serviços relativos a este software. Para algumas

empresas, este têm sido inclusive um incentivo à abertura de código a fim de ganhar

58“fork” na denominação do setor.

reconhecimento do mercado e obter bons contratos de suporte.

Uso de padrões abertos

Um padrão é um conjunto de características e rotinas de funcionamento que caracterizam

um determinado objeto. Em relação a software, podemos dizer que são normatizações, públicas

ou não, que estabelecem as características e a comunicação dos softwares. Um padrão de

mercado é quando um determinado software com suas rotinas e protocolos específicos de

comunicação passa a ser dominante no mercado, o que praticamente obriga a sua utilização aos

concorrentes, o que nem sempre é permitido por restrições de licenciamento.

Um padrão aberto é aquele que possui um documento que define sua especificação, bem

como permite a sua ampla utilização. Estas normas “expandem as exterioridades de rede,

reduzem a incerteza e reduzem o aprisionamento do consumidor (Shapiro; Varian, 1999: pg

297).

Para as comunidades de desenvolvimento de Software Livre a estratégia mais usada é

optar por padrões abertos, que podem ser facilmente seguidos por qualquer empresa, já que não

há motivos para criar aprisionamento, pois temos o código aberto.

Absorção tecnológica

Quando uma empresa possui uma equipe interna de manutenção do ambiente de

tecnologia da informação, ou é uma empresa em que tecnologia é a área fim, o uso de Software

Livre permite ampliar o conhecimento da equipe, já que existe a possibilidade de conhecer cada

detalhe do software que está sendo utilizado. No software proprietário, os fornecedores

disponibilizam informações conforme seus interesses comerciais e normalmente as controlam

como segredo industrial estratégico.

Custo de atualização

Uma das estratégias fundamentais das empresas produtoras de Software Proprietário é

promover a atualização de seus produtos adicionando novas funcionalidades ao software.

Porém, a motivação para atualização por parte das empresas é pequena, já que dificilmente uma

nova versão deve agregar funcionalidades que realmente representem benefícios para ela. Para

incentivar a aquisição de novas versões, as empresas têm estabelecido ciclos de manutenção dos

softwares variáveis, na medida que elas verificam que existe pouca possibilidade de substituição

do produto. Com o fim da manutenção de um software ele passa a ser um risco para a empresa,

pois qualquer novo Bug ou falha de segurança pode tornar todo o ambiente vulnerável a ataques

por Crackers.

Com o software livre inexiste esta situação de necessidade incondicional de atualização

de versão. Já que o acesso ao código garante que qualquer empresa faça a manutenção dele,

permitindo que o software continue a ser utilizado por mais tempo. De qualquer forma,

enquanto houver interesse pela manutenção de um software, existirão pessoas com motivação

para a sua manutenção.

3.2.2. A especificidade do usuário governo

Os Governos, além de grandes consumidores de tecnologia da informação e

comunicação, possuem especificidades na sua escolha tecnológica que influenciam de modo

decisivo as estratégias das empresas fornecedoras de tecnologia. Entre estas diferenças podemos

citar:

Escolha intertemporal

As escolhas dos decisores políticos não estão regidas exatamente pela mesma lógica das

empresas privadas. O universo de planejamento das empresas privadas normalmente é de longo

prazo. Investimentos realizados neste momento que possam trazer maiores liberdades de escolha

no futuro e, conseqüentemente, menores custos, são realizados com maior intensidade. Os

governantes, por possuírem um horizonte de planejamento determinado pelos mandatos, no

Brasil de 4 ou 8 anos, tendem a preferir investimentos que tenham retornos no curto prazo.

Quanto menor o nível de profissionalização do órgão público, menor o horizonte de escolhas.

Vários países tentaram profissionalizar suas estruturas de informática, parte criando empresas

estatais, como o Brasil, com o Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO), a

Empresa de Processamento da Dados da Previdência Social (Dataprev) e a Datamec S.A. -

Sistema e Processamento de Dados.

Sistemas de alta tecnologia

As necessidades do governo em termos de base tecnológica normalmente são bem

maiores que as das empresas privadas. No caso dos Governos de países grandes, as

necessidades em termos de tamanhos das bases de dados e de poder de processamento são

enormes, exigindo, na maioria das vezes, sistemas dedicados e de alta tecnologia. O uso de

tecnologias de ponta, que ainda não se consolidaram no mercado aumenta o risco dos projetos,

pois envolvem tecnologias que podem morrer em pouco tempo.

Equipamentos especializados

O uso de equipamentos e softwares extremamente especializados possui um custo alto se

comparado com softwares e equipamentos de uso geral, que se beneficiam de maiores

economias de escala. Alguns exemplos notórios de sistemas dedicados são os de

reconhecimento biométrico, usado para verificação de digitais de passaporte, e sistemas de

acesso intenso como os usados no Brasil para declaração de imposto de renda via internet e para

as eleições informatizadas.

Estrutura estatal

Com o avanço da política neo-liberal sobre os países em desenvolvimento, houve uma

grande redução da estrutura de pessoal dos diferentes governos. Isto impactou em maior ou

menor grau os países. Durante a década de 90 o Governo Federal do Brasil teve uma

significativa redução de pessoal, muito significativa nas áreas vinculadas com tecnologia.

Dentre as empresas de informática governamentais promoveram muitas ações no sentido de

diminuir a participação estatal no desenvolvimento de soluções, através de sucessivos planos de

demissões voluntárias, diminuição de investimentos e privatização da DATAMEC.

As conseqüências deste tipo de política foi, em praticamente todo o mundo, o repasse de

atividades de desenvolvimento críticas para o seu funcionamento ao setor privado, aumentando

o aprisionamento a fornecedores e diminuindo o profissionalismo no setor.59

Segurança

Um dos aspectos mais críticos para qualquer nação é a certeza de que os dados dos

cidadãos estejam armazenados de maneira segura e confiável. O Governo tem a

responsabilidade perante a lei de manter sigilo sobre os dados que estão sob a sua

responsabilidade, o que aumenta muito os requisitos de segurança para um sistema.

Há uma profunda diferença entre as estratégias de segurança entre as empresas de

software proprietário e das comunidades e empresas de Software Livre.

59 Consulte: http://www.terra.com.br/istoe/1611/brasil/1611voo.htm

No modelo de software proprietário, quando ocorre um erro de segurança com um

determinado aplicativo, a única empresa capaz de corrigir os erros é a empresa que o

desenvolveu. Quando trabalhamos com Software Livre qualquer pessoa tem acesso ao código e,

caso tenha interesse em efetuar a correção, poderá fazê-lo.

Além disso, as motivações para difusão da informação de que um erro foi encontrado são

bem diferentes. Uma empresa de Software Proprietário tende a divulgar o mínimo de

informações possível sobre o problema, enquanto as comunidades de software livre não têm

interesse em ocultar o problema, visto que este é uma forma de conseguir colaboração para o

seu projeto.

Porém, o maior problema quando comparamos a possibilidade de acesso irrestrito ao

código é o auditabilidade do software. No modelo proprietário é impossível realizar uma

auditoria plena do software, que pode ocultar problemas de segurança. O Software livre e o

acesso irrestrito ao código permite que cada funcionalidade dele seja verificada.

Algumas empresas de software proprietário têm cedido a governos os seus códigos para

auditoria, o que não resolve plenamente o problema, pois o governo teria que ter uma grande

estrutura para revisar todos os códigos. O fato de qualquer pessoa poder revisar o código faz

com que as revisões sejam mais intensas, aumentando a qualidade do desenvolvimento e

diminuindo a possibilidade de algum erro.

3.3 Impacto do Software Livre sobre as dimensões de produção e concorrência no

setor de software

Nos estágios iniciais de sua difusão, o Software Livre foi mais utilizado em meios

acadêmicos e por profissionais e especialistas da área, pois as vantagens de se trabalhar com

acesso irrestrito ao código ampliava a possibilidade de aprendizado, incentivando o seu uso.

Porém, alguns softwares logo se destacaram e obtiveram uma consolidação rápida no mercado,

o que exigiu que empresas se especializassem no mundo livre. Entre estes podemos citar o

Apache, servidor de páginas WEB, o Bind, servidor para resolução de nomes de internet, o

postfix e sendmail, software para comunicação via e-mail.

O sucesso destes softwares e a consolidação desta nova forma de produção de software

levaram à ampliação do número de empresas focadas em aplicativos em Software Livre, assim

como seu uso no meio empresarial. As novas empresas basicamente reuniam pacotes de

Software Livre e comercializavam alguma maneira de instalação automatizada, em conjunto

com o suporte.

A ampliação do uso pelo meio empresarial começou a mudar a maneira como os

softwares eram desenvolvidos. Ao invés de trabalhar apenas com voluntários, a grande maioria,

como um hobby, passou a ter também apoio significativo de empresas que estavam interessadas

na evolução de algum software. Além disso, grandes empresas que poderiam se beneficiar com

a complementaridade com algum software, passaram a investir diretamente no

desenvolvimento. Entre estas podemos citar as gigantes IBM, Sun e Intel.

3.3.1 Estratégias das empresas fornecedoras de software face ao avanço do

Software Livre no mercado

A análise das vantagens trazidas pelo modelo de produção de Software Livre evidencia

que há um grande aumento do poder do consumidor em relação ao existente no mercado de

Software Tradicional, que se traduz em custos potencialmente mais baixos para os

consumidores. Além disto, a maior quantidade de empresas no setor, característica típica nos

setores de serviços, reforça a concorrência garantindo uma melhor qualidade da sua oferta.

As estratégias das empresas baseadas em software proprietário já sofreram importantes

adaptações para se adequarem à nova realidade de mercado. Grandes empresas procuraram abrir

seus códigos em mercados onde não tinham como concorrer diretamente com as empresas

dominantes. A Sun microsystems promoveu a abertura do código de seu sistema operacional

Solaris60, a Novell, que vinha perdendo mercado para Microsoft no ramo de servidores, seguiu o

mesmo caminho com vários softwares e bibliotecas de comunicação61. Este movimento em

direção ao Software Livre pode representar uma melhora das expectativas dos consumidores

sobre o futuro da tecnologia, incentivando sua adoção pelos consumidores.

Por outro lado, atrair uma comunidade que ajude no desenvolvimento do Software pode

ser um elemento estratégico na diminuição dos custos de desenvolvimento. Algumas empresas

têm atuado no sentido de manter duas versões de seus sistemas, uma livre, para a qual qualquer

um pode contribuir, e uma versão fechada, que inclui os componentes proprietários.

Outra forma de enfrentar esta nova modalidade de concorrência é demonstrar aos seus

consumidores que a empresa abdica de controlar sozinha um determinado segmento, criando e

utilizando padrões abertos para seus produtos. A Microsoft, após pressão de vários governos,

anunciou que a nova versão do seu pacote de escritório MS Office usará um formato de

arquivos com um padrão aberto62 , o que irá diminuir muito o seu poder sobre este mercado,

pois permitirá que outros pacotes possam ler e gravar no seu formato.

Outra estratégia importante das empresas que defendem irremediavelmente o conceito

60 Consulte: http://www.opensolaris.org/os/61 Consulte: http://forge.novell.com/modules/news/62 Consulte: http://idgnow.uol.com.br/AdPortalv5/ComputacaoPessoalInterna2_211105.html

do Software Proprietário é criar propagandas tentando mostrar que seus produtos são mais

baratos que as alternativas em Software Livre, como a campanha denominada “Get the Facts”63

na qual defende que o uso de Windows é mais barato que o do sistema operacional Linux.

Observa-se, assim, que o novo ambiente de concorrência criado com o avanço do

Software Livre mudou significativamente as condutas das empresas de Software Proprietário

conforme listado nos exemplos acima, na tentativa de manterem suas posições no mercado, com

o resultado de aumentarem as opções e vantagens para os consumidores.

3.3.2 Novo modelo de negócios com software livre

A implantação do modelo de negócios para o software tradicional, chamado de

proprietário, se baseia, em relação à produção, no desenvolvimento fechado ao estilo Catedral

descrito por Eric Raymond. Neste modelo, as empresas reúnem fisicamente um conjunto de

programadores que passam a trabalhar de maneira dedicada ao desenvolvimento de um

determinado software através de atividades centralizadamente coordenadas. Para realizar este

desenvolvimento é usado um conjunto de outros softwares proprietários que servem como infra-

estrutura de desenvolvimento, o que eleva o custo de investimento inicial necessário.

Nos últimos anos, este modelo catedral gerou um processo de desenvolvimento que se

assemelha ao de uma linha industrial e que se denomina, genericamente, como “Fábricas de

Software”. A Índia, por exemplo, se especializou em empresas que recebem pequenos

fragmentos de softwares que precisam ser desenvolvidos nos países centrais, contratam mão-de-

obra e fornecem este pequeno fragmento.

A comercialização do software desenvolvido no modelo tradicional ocorre através da

atribuição de licenças de uso que estabelece permissão do seu uso. Estas licenças variam

bastante em termos de funcionamento, mas de maneira geral são intransferíveis, não permitem

revenda nem que se estude o software. Esta tem sido a estratégia dominante das empresas do

setor na medida que permite a ampliação do poder das empresas sobre os seus consumidores no

futuro.

Existem ainda outros serviços associados ao software, como treinamento, suporte

documentação e consultoria. A tendência geral das firmas de software proprietário é credenciar

empresas parceiras para prestar estes serviços, pois eles demandam uma estrutura grande e

distribuída, além de serem negócios menos estratégicos para o sucesso do empreendimento. O

suporte nem sempre pode ser repassado para outra empresa, já que para que ele seja realizado

de maneira adequada normalmente é necessário acesso ao código do software, o que não é

63 Consulte: http://www.microsoft.com/brasil/fatos/default.mspx

repassado para outras empresas. A estratégia adotada é criar níveis de suporte diferenciados,

onde os primeiros níveis, de solução mais simples, sejam fornecidos por outras empresas, e os

que requerem acesso ao código sejam realizados diretamente pela empresa desenvolvedora.

Ao verificarem o crescimento e o potencial do Software Livre, as empresas passaram a

incorporar distribuição e suporte a estes softwares. De maneira mais significativa o mesmo

mercado que prestava serviços ao software proprietário começaram a adotar esta nova

modalidade de software sem grandes alterações na maneira como trabalhavam, porém com a

vantagem de acesso ao código, o que lhes permitia prestar qualquer nível de suporte.

Outras empresas viram que a grande dificuldade dos usuários era organizar o grande

número de softwares existentes, de forma a criar um ambiente completo para determinada

tarefa. Elas passaram então a reunir vários softwares em um pacote, chamado de distribuição.

Estas empresas começaram a dominar o mercado, pois passaram a oferecer a consistência

adequada para ambientes críticos, como empresas e governos. Entre as distribuições mais

conhecidas estão a Red Hat, Suse, Mandriva e Ubuntu. Existem ainda distribuições organizadas

em comunidades que, com o tempo, também passaram a ter uma boa participação no mercado,

como a Debian, a Slackware e a brasileira Kurumin. (Ferraz, 2002: 15)

Verifica-se uma grande penetração de Software Livre em empresas que desenvolvem

softwares personalizados, mercado dominado por médias e pequenas empresas. Quando

desenvolvem aplicativos com software proprietário, as empresas arcam com um aumento dos

seus custos fixos, na medida que precisam adquirir pacotes de desenvolvimento proprietários,

servidores de rede e de Banco de Dados. Ao passo que adotando software livre elas conseguem

eliminar estes custos, facilitando inclusive atualizações tecnológicas. Assim, elas passam a ter

uma grande vantagem competitiva em relação às demais empresas, já que seus clientes também

terão seus custos reduzidos, pois não precisarão adquirir a infra-estrutura proprietária para

implantação deste software. Além disso, como o código dos softwares de infra-estrutura são

abertos existe a possibilidade de se melhorar a interação com o programa em desenvolvimento,

quando comparado com o uso de software proprietário.

Atualmente as grandes empresas do setor de Tecnologia da Informação, inclusive

fornecedores de software, estão excluídas de grande parte do mercado de software já que

ocorreu uma grande concentração no setor, exatamente como no mercado de sistemas

operacionais com a Microsoft. Como as chances de concorrência são pequenas, elas passaram a

adotar a estratégia de apoiar e incentivar a adoção de software livre, adequando seus produtos

para plataformas livres, especialmente ao sistema operacional Gnu/Linux, e a prestar suporte e

serviços para a implantação de Software Livre para grandes empresas e governos.

Esta ampla aceitação do Software Livre por parte das empresas consolidou um ambiente

completo, pré-condição necessária para o sucesso de uma adoção mais generalizada de

alternativas livres. Hoje, em praticamente todas as áreas existem empresas habilitadas a prestar

serviços e consultoria para área de Software Livre. Mesmo as empresas extremamente ligadas

ao Software Proprietário passaram de alguma forma a incorporar esta alternativa de negócio nos

seus portifólios de negócios.

Do ponto de vista do desenvolvimento de Software Livre, a ampliação da base

empresarial aumentou consideravelmente os investimentos e a participação na construção e

evolução destes softwares, já que ao necessitarem dar suporte a uma determinada solução, por

ter acesso ao seu código fonte, qualquer empresa pode alterar e corrigir problemas que estes

softwares livres possam ter. Além disto, quando algum cliente precisa de uma determinada

evolução neste software, estas empresas acabam fazendo investimentos ou ainda contribuindo

com novos códigos.

4. MERCADO BRASILEIRO DE SOFTWARE: SITUAÇÃO ATUAL E

PERSPECTIVAS DE MUDANÇAS COM A DIFUSÃO DO SOFTWARE

LIVRE

O presente capítulo inicia com uma caracterização de como o setor de software

brasileiro se insere no mercado mundial, analisando algumas principais variáveis da estrutura e

das estratégias competitivas adotadas no setor . A partir deste diagnóstico procuramos avaliar

como a difusão do Software Livre pode vir a impactar a estrutura produtiva e, principalmente,

as estratégias das empresas que operam neste setor, no Brasil.

Em um segundo momento, enfocamos a orientação de política do governo brasileiro para

o setor, analisando a opção de políticas ativas em favor de software livre, suas implicações em

relação ao consumidor governo e seus reflexos na velocidade de incorporação desta nova

alternativa no país, apontando suas possíveis conseqüências no futuro.

4.1. Aspectos da estrutura e do desempenho recente do setor

O Brasil é reconhecido internacionalmente por ter uma boa estrutura na área de

Tecnologia da Informação, em parte creditadas às políticas ativas que foram realizadas em

vários momentos da história do país, como a reserva de mercado durante a década de 70, e o

desenvolvimento de sistemas de automação bancários na década de 80. (Pires, 1995)

O mercado mundial de software é dominado pelos países desenvolvidos, principalmente

os Estados Unidos, a Alemanha e o Japão. A participação do mercado de software fica em torno

de 1% e 2% das economias da grande maioria dos países, sendo que os países desenvolvidos

alcançam os índices mais elevados. Já a estratégia de inserção dos países nos mercados

globalizados varia bastante entre as economias. (Veloso, et alli. 2003).

A tabela abaixo procura comparar vários países em termos de representatividade da

indústria de software no PIB nacional, bem como a quantidade de exportações de cada um.

Tabela 2 - Mercado de Software de países selecionados em 2001

País Vendas

(em milhões deUS$)

Exportações

(em milhões deUS$)

Empregos Tamanho emrelação ao PIB

Estados Unidos 200.000 Não disponível 1.042.000 2.0%

Japão 85.000 73 534.000 2.0%

Índia 8.200 6.220 350.000 1,7%

Brasil 7.700 100 158.000 1,5%

Coréia do Sul 7.694 35 Não disponível 1,1%

China 7.400 400 186.000 0,6%

Espanha 4.330 Não disponível 20.000 0,7%

Israel 3.700 2.600 15.000 3,4%

Argentina 1.340 35 15.000 0,4%

Fonte: MIT - Slicing the Knowledge-Based Economy in Brazil, China and India: a tale of 3 software

industries. Disponível em: http://www.softex.br/media/MIT_final_ing.pdf

Ao compararmos as estratégias de mercado adotadas pelos países listados na tabela

acima, percebemos, no que tange aos países em desenvolvimento dois tipos de estratégias. A

Índia e Israel estão voltados para a exportação, principalmente de software para os países

desenvolvidos, possuindo um mercado interno com pouca participação relativa no PIB. Já o

Brasil, China e Coréia do Sul possuem um mercado interno muito forte e desenvolvido

indicando que o uso das ferramentas de informática nos processos produtivos é bastante

significativo. (Veloso, et alli. 2003)

Em termos de balança de pagamentos, o Brasil possui uma grande desproporção nas suas

contas, apresentando um déficit de um bilhão de dólares64. Para tentar melhorar este indicador o

Governo Brasileiro passou a investir em iniciativas como o Programa SOFTEX, coordenado por

uma OSCIP, chamada de Sociedade Softex, que tem como objetivo “Situar o Brasil entre os 5

maiores produtores e exportadores de software do mundo”65.

Verificamos que a participação relativa do mercado de software no PIB brasileiro que

atinge a participação de 1,5%, que é bastante superior a da maioria dos países em

desenvolvimento, e aproximando-se inclusive da participação do mercado nos Estados Unidos

de 2%. Mesmo alguns países desenvolvidos possuem índice inferior de importância do software

na economia do que o Brasil, como por exemplo a Espanha.

64 Disponível em: http://www.softex.br/media/psi.ppt65 Consulte: http://www.softex.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=165

Em relação à geração de empregos, possuímos um número de 158.000 empregos

gerados, o que é bastante significativo em relação ao mercado mundial. As atividades

relacionadas ao mercado de software são mão-de-obra intensivas, favorecendo o mercado

brasileiro, aonde a mão-de-obra é relativamente barata e com qualificação. Fora os países que já

se orientaram para o desenvolvimento de software para o mercado externo, o Brasil aparece em

situação extremamente privilegiada em número de trabalhadores.

A concentração no mercado de software no Brasil é extremamente baixa, 76% das

empresas possuem até 50 empregados e as 15 maiores representam apenas 30% do mercado.

Estas firmas estão focadas em desenvolvimento para pequenos nichos de mercado, já que este

mercado não apresenta elevadas barreiras à entrada. Em relação aos segmentos de

especialização, o Brasil possui uma posição relevante em softwares embarcados, componentes

de software e aplicativos personalizados. (Veloso, et alli, 2003).

4.2. Aspectos da dinâmica competitiva do setor

A indústria brasileira de software passou por profundas modificações a partir do fim da

reserva de mercado para o setor de informática, a qual vigorou de 1972 até 1990. Existe um

grande debate sobre os benefícios e problemas decorrentes da adoção dessa política de reserva

de mercado, já que ao mesmo tempo em que levou a um encarecimento excessivo do hardware,

inviabilizando uma informatização mais ampla, que já estava em curso em todo o mundo,

também permitiu o desenvolvimento de pesquisas avançadas, principalmente na área de

software. O mercado brasileiro de software possui uma estrutura produtiva bastante diversa , o

que pode representar ou um benefício decorrente da reserva de mercado, ou simplesmente

empresas com estratégias voltadas primordialmente para o mercado interno, que, por seu

tamanho, pode gerar esta diversidade.

Por seu grande mercado interno, o Brasil possui um grande número de pequenas

empresas, voltadas para nichos específicos de mercado, sobretudo softwares especializados,

serviços de adequação, treinamento e suporte a ambiente de TI.

Em sua grande maioria, as pequenas empresas que operam neste segmento de mercado

especializado, operam com foco em desenvolvimento e procuram desenvolver softwares para

atividades específicas, normalmente com especialização em uma área de atuação, como

educação, saúde, etc. Para as empresas desenvolvedoras, um objetivo importante é conseguir

reduzir os custos de produção - parte composto por gastos com licenciamento de software - a

fim de ampliar o mercado consumidor, já que seu mercado é menos concentrado fortalecendo

estratégias de concorrência por preço. Neste contexto, o Software Livre aparece como elemento

importante para a redução desses custos de produção, bem como para diminuir os custos de

softwares complementares de seus clientes. Conforme pesquisa da Softex, estas empresas

normalmente já existiam antes do “boom” do uso de software livre, e possuem um modelo

misto, parte com software proprietário, parte com software livre. (Softex, 2005: pg 33)

As empresas prestadoras de suporte, treinamento e consultoria para TI possuem uma

dedicação maior ao modelo de Software Livre. Além disso, tais empresas normalmente possuem

menos tempo de mercado, indicando já a grande influência das oportunidades criadas com o

avanço do Software Livre, bem como um mercado com menores barreiras à entrada, justamente

pelo seu trabalho menos dependente de conhecimentos específicos66.

Já as empresas de maior porte do setor de software, atuam principalmente no ramo de

softwares embarcados, suporte, consultoria e desenvolvimento para grandes empresas e

governo. Neste segmento de mercado, verifica-se uma grande participação de firmas

estrangeiras, indicando um mercado mais competitivo se comparado com os de alguns

principais países em desenvolvimento, como é o caso da Índia, por exemplo.

Nas grandes empresas, o uso de Software Livre tem sido uma constante, porém, com

intensidade bem variada, sobretudo como infraestrutura para seu desenvolvimento, como banco

de dados, servidores de aplicação e sistema operacionais. Outro aspecto fundamental para estas

empresas é o acesso a novas tecnologias que o modelo de Software Livre permite, criando um

ambiente mais atualizado tecnologicamente do que o anterior.

Já para os softwares embarcados, que representa um mercado com grande crescimento

no país, o uso de Software Livre representa vantagens ainda mais nítidas que nos demais

segmentos de mercado, já que o software é apenas um elemento na composição do produto

principal, o que facilita a decisão das empresas de criar e usar Software Livre neste novo

paradigma. Grandes empresas nacionais, como a Cyclades, ou mesmo internacionais, como a

IBM, Nokia e Siemens, têm realizado grandes investimentos no país para desenvolvimento

deste tipo de software, e utilizando intensamente Software Livre.

4.3. Medidas de Política e Perspectivas da Adoção de Software Livre

4.3.1 Principais ações do Governo Federal pró-Software Livre

Já no início da campanha presidencial de 2002 havia a expectativa da adoção, caso se66 O desenvolvimento de software personalizado requer um grande conhecimento na área de atuação para a qual o

software foi desenvolvido, bem como das tecnologias empregadas.

confirmasse a eleição de Luís Inácio Lula da Silva, de uma política de incentivo ao Software

Livre67, como ocorreu em vários outros Governos do Partido dos Trabalhadores, como o do

Estado do Rio Grande do Sul, com o Governador Olívio Dutra68. De fato, logo no início do

mandato se iniciaram várias ações voltadas para o objetivo de adotar Software Livre para uso do

Governo, bem como medidas de apoio e de incentivo à sua adoção no mercado.

Todavia, em que pese o fato de o Governo Brasileiro, ao lançar seu plano de Política

Industrial, ter incluído nele o Software Livre, através de um “Programa de Incentivo ao

Desenvolvimento de Software Livre”, com o objetivo de estimular o mercado deste tipo de

solução no país, verifica-se que as ações decorrentes dessa política industrial ainda não foram

implementadas pelos Ministérios responsáveis, sendo no momento apenas uma expectativa.

Feita esta observação, apresenta-se a seguir as principais ações de política do Governo

Federal tanto para incentivo ao uso pelos órgãos federais, como para fomentar esta alternativa

nos mercados nacional e internacional, bem como os seus possíveis impactos na estrutura do

mercado de software nacional.

Adoção de software livre como alternativa preferencial

A adoção de Software Livre por órgãos governamentais já ocorria há vários anos em

praticamente todos os setores, porém de maneira marginal. Empresas como o SERPRO e a

DATAPREV possuíam alguma experiência já realizada na adoção de Software Livre para

alguma atividade específica, como servidores de DNS69, por parte de SERPRO, e CVS70 , no

caso da DATAPREV.

Logo no início do Governo Lula, a expectativa de ampliação do uso de Software Livre se

confirmou, e vários órgãos, sobretudo aqueles mais ligados ao setor de tecnologia, passaram a

ampliar seu uso. Notadamente o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação iniciou um

processo completo de migração de praticamente todo o seu parque computacional para Software

Livre, incluindo estações de trabalho. Outros órgãos seguiram esta iniciativa, promovendo o uso

interno de Software Livre.

Porém, as ações em favor do uso de Software Livre dentro do governo só se estruturam a

partir de outubro de 2003, data em que o Presidente da República, através de decreto, altera a

estrutura do programa Governo Eletrônico, remodelando os comitês que constituem o programa.

O primeiro comitê instituído foi o “Comitê Técnico de Implementação de Software Livre”,

67 Consulte: http://jbonline.terra.com.br/destaques/eleicoes2002/mat1609inclusao.html68 Consulte: http://www.ulbra.tche.br/~danielnm/bytche/nro1/swlivre/entrevista_olivio.htm69 DNS: Serviço para resolução de nomes de endereços de internet.70 CVS: Ferramenta para apoio ao desenvolvimento

coordenado pelo ITI.71

No primeiro planejamento deste comitê foram elencados os seguintes objetivos:

“A) Ampliar a capacitação dos técnicos e servidores públicos para autilização de software livreB) Ampliar significativamente a adesão e o comprometimento dosservidores públicos com o software livreC) Desenvolver um ambiente colaborativo para permitir a expansão dosoftware livreD) Definir e implantar padrões de interoperabilidadeE) Efetivar o software livre como ferramenta corporativa padrão dogoverno federalF) Conter o crescimento do legadoG) Disseminar a cultura de software livre nas escolas e universidadesH) Elaborar e por em vigência a regulamentação técnico-legal dosoftware livreI) Promover migração e adaptação do máximo de aplicativos e serviçospara plataforma aberta e software livreJ) Elaborar e iniciar implantação de política nacional de software livreK) Articular a política de software livre a uma política de fomento àindústriaL) Ampliar significativamente a oferta de serviços aos cidadãos emplataforma abertaM) Envolver a alta hierarquia do governo na adoção do software livre”72

A partir da institucionalização do objetivo de implementar Software Livre, podemos

destacar várias outras ações amplamente divulgadas pela mídia, por parte de diferentes

Ministérios, Empresas Públicas e Autarquias para implantar Software Livre como opção

preferencial nas suas infra-estruturas.

O projeto do Governo Brasileiro teve ampla repercussão e apoio no mundo. Uma simples

pesquisa no Google73 pelos termos “brazil open source government” retorna 9,9 milhões de

registros, indicando uma ampla cobertura da opção governo brasileiro sobre o software livre74. O

projeto do Governo Brasileiro motivou inclusive menções e cartas de apoio, como as publicadas

este ano pelo presidente da Sun Microsystems, uma das maiores empresas de software do

mundo75, e de pesquisadores do MIT76.

Apesar do claro posicionamento dos orgãos governametais em favor da adoção de

software livre, destaca-se a dificuldade de coordenação e lentidão no processo de adoção desde

71 Consulte: http://www.softwarelivre.gov.br/documentos/DecretoComite/view72 Disponível em: http://www.softwarelivre.gov.br/documentos/73 No meio de informática é comum vermos o número de páginas sobre um assunto em ferramentas de busca a fim

de saber a relevância do tema.74 O resultado é surpreendente, já que “Brazil soccer” retorna “apenas” 3,5 milhões de registros.75 Consulte: http://br.sun.com/sunnews/press/2005/20050531.html76 Consulte: http://info.abril.com.br/aberto/infonews/032005/21032005-2.shl

o início do mandato, o que levou a críticas da imprensa77. A adoção de Software Livre pelos

diferentes órgãos de governo é extremamente desigual até o presente momento.

A lentidão no processo de migração do governo brasileiro para o software livre pode ser

atribuída principalmente às seguintes dificuldades:

1. Não há coordenação centralizada de Tecnologia da Informação e Comunicação dentro do

Governo. Cada órgão tem autonomia nas suas escolhas, havendo, no máximo, a indicação de

uso preferencial78.

2. Desafios inerentes da substituição de plataformas. Como vimos no decorrer deste trabalho,

um dos grandes objetivos das empresas que trabalham com software proprietário é criar

mecanismos de aprisionamento, isto é, dificultar a migração para outra plataforma.

3. Há uma difícil escolha de prioridades entre as áreas. Um ministério voltado para áreas

diversas acaba não priorizando em suas atividades a migração para Software Livre.

Desenvolvimento do mercado privado de software livre

Além do uso interno de Software Livre ao nível das instituições governamentais,

e o conseqüente aumento do mercado para o setor, outras ações de política foram

implementadas para incentivar a adoção desta alternativa pelo mercado como um todo. Entre

elas:

1. Lançamento de um edital de seleção para financiamento de pesquisa e desenvolvimento

tecnológico com Software Livre79.

2. Melhora da base jurídica das licenças de software livre, em conjunto com a Creative

Commons80, organização não governamental dos Estados Unidos, através da publicação da

versão brasileira da Gnu General Public License – GPL81, a licença mais usada por softwares

livres.

3. Patrocínio de eventos de Software Livre através de várias instituições82.

4. Desenvolvimentos específicos com Software Livre, como o concurso para jogos em software

livre83.

5. Adaptação de aplicativos para rodarem sobre Software Livre, como o imposto de renda.

77 Constulte: http://www.correiodopovo.com.br/jornal/A108/N293/HTML/Elio.HTM78 No anexo 1, em cópia de ofício da Casa Civil se torna claro esta limitação ao dizer “avaliar a conveniência da

utilização preferencial do software livre nas futuras aquisições de hardware.”79 Disponível em: http://www.mct.gov.br/Temas/info/Dsi/CATI/Programas/EDITAL_CNPq_01_SWlivrehtm.htm80 Consulte: http://creativecommons.org/license/cc-gpl81 A Free Software Foundation jamais havia permitido tradução da licença, essencial para sua validade jurídica no

país.82 Consulte: http://chopin.softwarelivre.org/6.0/83 Consulte: http://www.jogosbr.org.br/

6. Criação de Softwares Livres para situações especiais, como de segurança84 ou ainda o projeto

Agrolivre da Embrapa85.

4.3.3 Perspectivas de mudanças na dinâmica do mercado com a difusão do

Software Livre

Desenvolvimento tecnológico

Como vimos no capítulo 2, no antigo modelo, baseado unicamente em código fechado

existiam barreiras à entrada para a competição no mercado de software. Quando analisamos este

aspecto sob a ótica da capacidade de inovação de cada país, aquele quadro se repete. A

possibilidade de inserção em mercados em que já existe uma empresa líder consolidada é

praticamente nula, mesmo para países com grande capacidade de investimento. O caso da

competição pelo mercado de sistemas operacionais entre a IBM e a Microsoft demonstra com

exatidão como a maior empresa do setor nos Estados Unidos não foi capaz de disputar a

liderança pelo mercado.

Pensando neste contexto da concorrência entre empresas, percebe-se que uma única

empresa teria a atribuição de determinar como se daria o ritmo de inovações dentro do mercado

de sistemas operacionais, e isto sem grandes preocupações com a concorrência. Apesar deste ser

um exemplo extremo, a impossibilidade de concorrência é bastante comum em vários setores do

mercado de software.

Analisando agora pela ótica da capacidade de desenvolvimento tecnológico dos países, é

intuitivo que ocorrerá grande dificuldade de participar do desenvolvimento de software caso não

haja acesso ao código, e conseqüentemente, à tecnologia envolvida, o que pode levar, inclusive,

a uma situação de falta de incentivos para pesquisas acadêmicas quando estas ocorrerem

dissociadas das empresas detentoras das tecnologias.

No caso de países em desenvolvimento, como o Brasil, o quadro se torna ainda mais

complicado. Com o passar do tempo, e o decorrente aumento de complexidade dos sistemas

computacionais, mais difícil se tornará a possibilidade de um desenvolvimento tecnológico

dissociado das empresas dominantes, até porque todos os componentes precisam ser refeitos, o

que é uma tarefa extremamente trabalhosa.

Ao introduzirmos o modelo de Software Livre, e o conseqüente acesso à tecnologia,

decorrente da possibilidade de uso dos códigos fontes, passamos a ter uma situação84 Consulte: http://www.iti.br/twiki/bin/view/Main/PressRelease2005Jun28A85 Consulte: http://www.agrolivre.gov.br/

completamente diferente, em que os pesquisadores e as empresas podem aproveitar todo o

conhecimento já existente e consolidado e trabalhar no seu desenvolvimento. O software, como

qualquer outro conhecimento, não pode se desenvolver sem o acúmulo já construído pela

humanidade.

O Brasil, como os demais países, especialmente em desenvolvimento, passam a ter uma

nova realidade competitiva, com acesso irrestrito a tecnologias de ponta e podendo utilizá-las

como ponto de partida para o desenvolvimento da produção de novas tecnologias, pois elimina

as grandes diferenças existentes em relação aos países centrais. Ocorre uma alteração completa

na lógica de desenvolvimento tecnológico, passando, de país consumidor, para desenvolvedor

ativo. O sistema operacional Linux na sua versão 2.4, por exemplo, possui um mantenedor86

brasileiro87, algo impensável na estrutura anterior.

Inclusão digital

O acesso a novas tecnologias, especialmente a internet, é uma questão estratégica

considerada por todos os decisores públicos interessados tanto na melhor difusão de informação

como na competititividade do país.

Quando comparamos o acesso à internet entre os diferentes países do mundo

encontramos uma desproporção significativa entre os países desenvolvidos e as economias

periféricas. A penetração média da internet na população dos países mais desenvolvidos alcança

mais da metade da população . O Brasil é o 10º país em número de usuários na internet, mas o

índice de acesso da população é de apenas 12,2%, bem inferior aos países desenvolvidos, como

os Estados Unidos (62,3%), Alemanha (50%) e mesmo a Coréia (65,7%), porém ainda com um

índice superior a de países como Índia (3,2%) e China (7,2%)88.

O Software Livre aparece neste contexto, como facilitador do acesso à internet ao reduzir

parte dos custos associados, eliminando a necessidade de licenciamento de software para a

plataforma computacional necessária para realizar este acesso.

No Brasil a discussão sobre a importância da inclusão tem sido amplamente debatida

pela sociedade. O Governo Federal tem procurado atuar nesse sentido, por meio de vários

projetos como o Computador para Todos (antigo PC Conectado), que promoveu a redução na

alíquota de impostos para computadores até dois mil e quinhentos reais, e liberando linhas de

financiamento específicas para computadores de baixo custo que utilizem Software Livre.

86 Mantenedor é o desenvolvedor mais alto na cadeia de decisão de um projeto, sendo responsável pela inserçãode novos códigos, correções de bugs e caminhos futuros de desenvolvimento.

87 Marcelo Tosatti88 Disponível em: http://www.teleco.com.br/internet.asp

Além do acesso individual, que está limitado a uma parte da população que teria renda

suficiente para comprometer neste intuito, iniciativas que permitem acesso coletivo, com

público alvo muito mais amplo, surgiram no Brasil. A maioria destas iniciativas foram de

natureza estatal e adotaram a estratégia de uso de Software Livre como estratégia de redução de

custos, melhora no serviço prestado e qualificação dos usuários. Iniciativas como os telecentros,

da prefeitura de São Paulo, do projeto Casa Brasil, entre tantas outras, utilizam na sua infra-

estrutura exclusivamente Software Livre.

Outro projeto recente que está em fase inicial é a participação no projeto “One Laptop

per Child” desenvolvido pelo laboratório do Media Lab89, pertencente ao MIT - Massachusetts

Institute of Technology. O Brasil irá ajudar no desenvolvimento da solução, principalmente do

software que será usado, e irá adquirir inicialmente um milhão de unidades para distribuição a

professores e alunos da rede pública de ensino.

Mercado de serviços

Ao analisarmos, no início deste capítulo, a estrutura do mercado nacional de software,

verificamos que ele é composto predominantemente por pequenas empresas produtoras de

softwares personalizados ou prestadoras de serviços. A relação básica destas empresas com o

software proprietário é na condição de prestadoras de serviços relacionados com pacotes de

software proprietário ou utilizá-los como infraestrutura para o desenvolvimento de aplicativos

personalizados. O pagamento de licença passa a ser um custo tanto para a produção, como para

os clientes, que também precisarão destes pacotes para colocar o software em produção. O

desenvolvimento de pacotes de software, sob o modelo baseado em licenciamento de uso é

marginal para as empresas brasileiras.

O modelo de negócios criado pelo Software Livre é mais adequado para a realidade das

empresas nacionais. A prestação de serviço leva a mercados mais fragmentados e com maior

intensidade de uso de mão-de-obra. Conforme vimos no capítulo 3, existem diferenças

significativas entre o suporte prestado no modelo proprietário, em que apenas pode ocorrer

suporte a funções básicas, e ao software livre, que, conforme as capacitações da empresa, pode

ser realizado de maneira completa e autônoma.

Se analisarmos a ótica dos custos envolvidos, o uso de Software Livre permite que as

empresas desenvolvedoras de software proprietário passem a ter um custo menor no seu

processo de desenvolvimento, pois diminuem os custos associados a, pelo menos, licenças de

sistema operacionais para estações de trabalho, servidores de rede, banco de dados e ambientes

89 Consulte: http://www.media.mit.edu/

de desenvolvimento. Por outro lado, seus clientes não tendo os custos do ambiente necessários

para a produção da aplicação podem pagar um preço maior pelo software e serviços adquiridos.

Balança de pagamentos

Como vimos na análise do mercado de software nacional, o Brasil possui um déficit em

balança de pagamentos de um bilhão de dólares neste setor. A eliminação do pagamento de

licenças de uso para as empresas estrangeiras produtoras de software proprietário pode levar a

um melhor equilíbrio.

Relação capital trabalho

Mesmo se considerarmos que a migração e a implantação de sistemas baseados em

Software Livre90 sejam mais intensiva em mão-de-obra, por necessitarem de mais serviços na

personalização do que a alternativa do modelo proprietário, tal não significa um efeito negativo

em termos de produtividade. No Brasil, a relação entre capital e trabalho é bastante diferente da

vigente nos países desenvolvidos, o que leva a uma relação custo-benefício diversa.

É importante ressaltar que mesmo o maior uso de mão-de-obra não representa

necessariamente, neste caso, uma menor produtividade. Existem importantes diferenças nos

níveis de capacitação nos trabalhos realizados, já que o grau de conhecimento aplicado e

adquirido tende a ser superior com o uso de Software Livre. Além disso, o resultado do trabalho

pode ter profundas diferenças. Ao usar pacotes fechados o grau de personalização do produto

pode não ser adequado para a empresa em questão, o que não ocorre com o uso de Software

Livre, onde existe maior autonomia para adequações de ambiente, e conseqüentemente uso mais

intensivo dos recursos disponíveis. Na prática, muitos equipamentos considerados obsoletos têm

sido recolocados em atividade através do uso de software livre.91

Capacitação

O uso e desenvolvimento com Software Livre ampliam as possibilidades de absorção de

conhecimentos, quando comparado ao Software Proprietário, conforme discutido no capítulo

anterior. No caso do Brasil, isto pode determinar uma ampliação do desenvolvimento de capital

90 Estudos financiados pela Microsoft tentam demonstrar que o custo em mão-de-obra é mais caro na adoção desistemas proprietários. Estes estudos são mais peças de marketing e possuem pouco ou nenhum rigormetodológico. Consulte: http://www.microsoft.com/brasil/fatos/casestudies/default.mspx

91 Existem vários projetos em software livre voltados exclusivamente para o melhor aproveitamento e ampliaçãoda vida útil de equipamentos.

humano no setor de software, considerado ponto estratégico na atual diretriz de política

industrial para o país.

A motivação dos desenvolvedores que contribuem no desenvolvimento de Software

Livre evidencia claramente este vínculo, conforme mostra o estudo sobre “ O impacto do

Software Livre e de Código Aberto na indústria de Software do Brasil”, o qual conclui que “A

grande maioria dos respondentes destacou opções relacionadas à capacitação, como

'desenvolver novas habilidades' e 'compartilhar conhecimento'. ” (Softex, 2005: 51)

Economia de rede

Como exploramos no capítulo 2, o mercado de tecnologia da informação é basicamente

comandado pelas economias de redes, em que o valor de um determinado produto é dado pela

quantidade de pessoas que utilizam um determinado software. Desta forma, adotar um produto

que ainda não tenha conquistado massa crítica de utilização pode ser uma estratégia de risco.

Neste tipo de mercado as escolhas individuais definitivamente não resultam em um

resultado socialmente mais produtivo, a dita “mão invisível” leva a escolhas individuais não

apenas ineficientes, com ainda prejudiciais para todo o sistema, principalmente porque o

mecanismo de concorrência assume significado totalmente distinto.92. Mesmo se considerarmos

o nível microeconômico, a eficiência alocativa, até hoje a grande vantagem do sistema

capitalista de produção, não se aplica ao mercado de tecnologia da informação, já que passa a

não existir qualquer correlação entre preços e custos de produção bem como da demanda, que

passa a ser comandada principalmente pelo efeito de rede.

Neste caso, como vimos no capítulo 1, a teoria econômica, em todas as visões analisadas,

trabalha com a lógica de que estes tipos de mercados necessitam de alguma forma de regulação

governamental, ou melhor, de uma diferente estrutura institucional que permita um ambiente de

maior competitividade e desenvolvimento.

Outra hipótese de atuação por parte do Estado é usar o seu peso perante o mercado,

como principal comprador, para acelerar a adoção de alguma tecnologia estratégica para o país.

Como a atração de uma tecnologia para seus consumidores é tanto maior quanto mais usuários

existirem, o Estado pode criar, por si só, a massa crítica de usuários para a consolidação de uma

alternativa tecnológica superior.

No caso da competição entre modelos produtivos entre Softwares Proprietários e Livres,

levantamos até aqui todas as vantagens que o segundo modelo pode trazer para a inserção

92 Para uma análise crítica dos pressupostos pouco realistas da teoria neoclássica no estudo econômico veja, porexemplo, o artigo de Joseph Stiglitz “There is no Invisible Hand”, disponível em:http://www2.gsb.columbia.edu/faculty/jstiglitz/download/opeds/There_Is_No_Invisible_Hand.htm

nacional no mercado competitivo de desenvolvimento de software, justificando desta forma os

incentivos por parte do Estado. Nesta perspectiva romper a barreira criada pelas economias de

rede pode ser crucial para que o país possa consolidar uma posição de vanguarda neste setor.

Indução da escolha dos agentes privados

Um outro aspecto fundamental das vantagens da adoção de Software Livre pelo governo

é a sua influência sobre as escolhas das empresas privadas. Conforme pesquisa divulgada pelo

Ministério da Ciência e Tecnologia sobre a adoção de Software Livre no Brasil93, foi constatado

uma grande participação do Estado do Rio Grande do Sul, com 25% das empresas que adotam

Software Livre, ou ainda, que são especializadas em serviços para este mercado. Em termos

absolutos este estado é o segundo no país, pouco abaixo de São Paulo (43%), em número de

empresas usuárias de Software Livre, e muito acima dos demais estados (o terceiro colocado,

Santa Catarina, tem 7%). O referido trabalho atribui o motivo desta posição de destaque do

RGS ao grande incentivo dado ao Software Livre pelo Governo do Estado, durante a gestão do

Governador Olívio Dutra.

Este exemplo mostra como os estados podem, ao estabelecer uma meta de apoio ao

Software Livre, influenciar o mercado, seja em termos das expectativas das empresas

fornecedoras, que esperam manter seus contratos, seja pelas empresas que não possuem

qualquer relação com o governo, apenas pela expectativa decorrente de consolidação deste novo

modelo de mercado.

Se expandirmos a análise para os consumidores individuais, podemos claramente

perceber que o estado passa a ser também um elemento educador, ao mostrar a existência de

alternativas bem como a viabilidade de sua implantação, ressaltando uma importante função

para o estado como referência para a decisão dos demais agentes econômicos.

Também podemos verificar que a adoção de novas tecnologias está bastante relacionada

ao elemento de incerteza nas escolhas, principalmente pela importância de que a tecnologia se

consolide no futuro, garantindo sucesso ao investimento. O uso de uma opção pelo estado pode

mostrar, em caso de ampla adoção, que a alternativa tecnológica terá futuro mercadológico,

melhorando as expectativas do mercado. No caso específico do Software Livre, outro aspecto

relevante é a melhora da confiança de que esta alternativa pode ser usada com segurança e

confiabilidade, inclusive para grandes aplicações, rompendo desta forma com campanhas de

desinformação vinculadas pelas empresas dependentes do modelo de licenciamento de software.

93 Disponível em: http://observatorio.softex.br/components/com_observatorio/arquivos/pesquisa_swl.pdf

4.3.3 Vantagens e desafios do novo modelo

Como vimos ao longo do trabalho o novo paradigma de produção de software,

denominado de Software Livre, implicou em profundas alterações na dinâmica dos mercados de

software, nas escolhas dos consumidores e no acesso a tecnologias em todo o mundo.

Vamos agora discutir quais as vantagens que o Software Livre traz para a estrutura de

mercado de software, especialmente para o Brasil, bem como as implicações da velocidade de

adoção deste novo paradigma como vantagem competitiva para as empresas do país.

Difusão da informática

Um aspecto importante para o entendimento da cadeia produtiva de informática é a

necessidade constante de bens complementares para qualquer solução, o que já discutimos no

capítulo 2. Hoje, o componente software possui a maior participação na construção de qualquer

infraestrutura computacional, mais pelos aspectos de poder de mercado do que pela importância

tecnológica em si. Este aspecto eleva bastante o custo de qualquer solução, limitando a sua

aquisição e atualização por parte das empresas e dos usuários privados.

A difusão da informática nos diferentes âmbitos produtivos do sistema é um elemento

fundamental na produtividade das empresas e na ampliação das capacitações da população. O

uso da informática como ferramenta de apoio é um elemento estratégico no posicionamento das

empresas no mercado competitivo, bem como para a competitividade das indústrias nacionais no

mercado internacional, aspecto este que não pode ser desconsiderado pelos formuladores de

políticas dos diferentes níveis de governo.

Aumento da produtividade global na construção de softwares

O desenvolvimento de software nada mais é do que conhecimento e regras descritas em

um determinado idioma que permitem a sua conversão para linguagem de máquina e sua

posterior execução pelos computadores. Por isto seu funcionamento é praticamente o mesmo

que encontramos na produção técnico-científica ao escrevermos artigos e livros. Sua

especificidade é justamente a possibilidade de distribuir apenas o resultado deste conhecimento,

isto é, apenas o software já em linguagem de máquina, o que corresponderia, em analogia com

a produção de livros, a apenas divulgar as conclusões da pesquisa, sem a descrição do processo

que a construiu94.

O conhecimento é um acúmulo coletivo da humanidade, aonde os trabalhos e conclusões

já realizadas, servem de ponto de partida para o avanço da ciência. Este trabalho, por exemplo,

só pode ser construído com as contribuições de inúmeros autores citados. O modelo de Software

Livre permite uma melhor estrutura para a construção de novos conhecimentos, ao permitir que

o trabalho já realizado possa ser reaproveitado na construção de novos trabalhos. No software

proprietário a construção de um software envolve a codificação de todas as suas funcionalidades

ou a aquisição de componentes proprietários95, que provavelmente nunca terão seu código

conhecido ou reaproveitado. Com Software Livre é permitida a construção de trabalhos

derivados, permitindo aos desenvolvedores se focarem na solução do problema que estão se

propondo a resolver.

Esta vantagem de reaproveitamento do trabalho já realizado amplia significativamente a

capacidade de desenvolvimento da humanidade, trazendo benefícios na eficiência do sistema

produtivo e principalmente acelerando a produção de inovações tecnológicas no setor.

Diminuição das diferenças tecnológicas do Brasil com os países desenvolvidos

O acesso à tecnologia é um ponto chave para a competitividade de um a país em relação

ao restante do mundo e determina o padrão de desenvolvimento de cada país na dinâmica global

do capitalismo. Conforme vimos o Software Livre leva a queda das barreiras de acesso a

tecnologias permitindo que os países, sobretudo aqueles que estavam a margem do

desenvolvimento de inovações tecnológicas, passem a ter um novo padrão de inserção na

divisão internacional do trabalho.

No caso do Brasil, o avanço do modelo de desenvolvimento de Software Livre permite

que as empresas nacionais possam competir em condições de igualdade com as dos países

desenvolvidos, o que antes ocorria apenas como exceção.

Estrutura produtiva Brasileira e Software Livre

Conforme vimos no início do capítulo, a estrutura das empresas de desenvolvimento de

software no Brasil possui como características a alta fragmentação, o desenvolvimento de

apliações especializadas e a criação de softwares para sistemas embarcados.

94 Richard Stallman no texto “The Right to Read”, faz esta analogia no sentido inverso, ao descrever como seria omundo se as mesmas regras aplicadas ao Software no modelo proprietário fossem transpostas para produção delivros e textos. (Stallman, 1997)

95 A aquisição de componentes não é pratica comum, principalmente pela possibilidade de aprisionamentodescrita no capítulo anterior.

Ao considerarmos as empresas que se baseiam na prestação de serviços notamos este

novo modelo de desenvolvimento de software favorece justamente a prestação serviços, sendo

esse o foco de rentabilidade do modelo de Software Livre, diferente o papel acessório que estas

empresas possuíam no modelo de software proprietário. Os benefícios para este tipo de empresa

ocorre de maneira direta, ao eliminar seus custos, permitir novas possibilidades de trabalho na

adequação de sistemas livres e suporte as soluções.

Para o desenvolvimento de aplicações no Brasil, temos como principal característica o

desenvolvimento de aplicações específicas, que sempre demandarão desenvolvimento

específico para cada empresa. Estas empresas passam a ter uma grande vantagem ao eliminar os

custos complementares de licenciamento que seus consumidores terão ao implantar seus

softwares, permitindo uma ampliação de seu mercado e um aumento de suas receitas.

Já para as empresas de software embarcado, o segmento mais moderno da estrutura

industrial brasileira, o Software Livre já vem sendo utilizado a vários anos, pois permite que o

desenvolvimento de softwares integrados a equipamentos fique restrito apenas à nova

necessidade, sem necessidade de construção de todos os componentes necessários, ao promover

o reaproveitamento. Várias empresas vêm noticiando que passarão a usar esta estratégia,

principalmente as que produzem celulares inteligentes. Nokia, Siemens, Motorola, Palm, já

estão executando projetos neste sentido.

As empresas ameaçadas em seu modelo de negócios pelo surgimento de Software Livre

são as que produzem pacotes de software de uso genérico, o que inclui algumas das principais

empresas nacionais em termos de faturamento, como a Microsiga e a Datasul. A consolidação

deste novo modelo vai exigir destas empresas um esforço para se readequar a nova realidade do

mercado, tanto ao migrar seus sistemas para Software Livre, como para a nova realidade de

concorrência.

Liderança na adoção de um novo paradigma

Toda vez que ocorre uma mudança de paradigma surge oportunidades para novas

empresas se destacarem no mercado e as empresas brasileiras podem aproveitar o avanço do

Software Livre pode se aumentar sua participação no mercado.

A liderança na adoção de uma nova tecnologia normalmente é uma vantagem estratégica

importante para qualquer empresa. O país pode, com o incentivo a adoção ao Software Livre,

se reposicionar no mercado internacional de software, deixando de ser apenas um grande

mercado consumidor de softwares proprietários para se tornar um dos centros mundiais de

desenvolvimento tecnológico nesta área. Esta possibilidade certamente não pode ser

desconsiderada, já que o país possui alguns requisitos importantes, como mão-de-obra barata e

especializada, grande mercado nacional e políticas ativas por parte do governo.

CONCLUSÃO

Ao longo deste trabalho analisamos o mercado de software, destacando várias

características específicas que tornam o funcionamento deste mercado bastante diferente das

demais indústrias. Características como economias de rede, altas barreiras a entradas para boa

parte do mercado, estrutura de custo médio declinante e grande possibilidade de aprisionamento,

tornaram o mercado excessivamente concentrado, aonde o poder dos grandes oligopólios

permite uma posição apenas de defesa de sua posição via estratégias de aprisionamento.

Identificamos que o setor de software tem sua organização e dinâmica baseadas na

existência de dois distintos modelos de produção e distribuição de softwares, os quais se

definem segundo o critério adotado quanto à forma de licença de uso: os modelos de Software

Proprietário e Software Livre.

As conseqüências da consolidação do modelo de Software Proprietário foi a formação de

um mercado excludente, tanto no sentido de participação de novas empresas, como do ponto de

vista dos consumidores para os quais o custo de aquisição de software passou a representar

grande parte dos seus dispêndios na montagem e manutenção dos seus ambientes de

informática. Este aspecto se torna ainda mais crítico ao pensarmos que o uso destes

componentes tecnológicos é de importância fundamental para a produtividade das empresas.

O acesso à tecnologia, por outro lado, se torna ainda mais difícil tanto entre diferentes

países quanto entre grandes e pequenas e média empresas, já que o modelo proprietário trata o

código fonte como segredo industrial estratégico para a manutenção de sua posição de mercado.

As demais empresas são usadas apenas em atividades acessórias, como as de suporte e

treinamento. Dentre os grandes softwares aplicativos proprietários, como sistemas operacionais,

pacotes de escritório, editores gráficos, e muito outros, não existe nenhum deles, com grande

participação de mercado, desenvolvido fora do eixo Estados Unidos/Europa.

A consolidação do modelo proprietário ocasionou a impossibilidade de acesso ao código

fonte, que implica, sob a ótica dos desenvolvedores, uma alteração na forma como adquirem

novos conhecimentos e na sua capacidade de desenvolvimento de novos softwares em relação

ao que ocorria quando o software era apenas um componente acessório na venda de hardware. A

reação de grande parte dos desenvolvedores foi passiva, mas um grupo preocupado com o novo

ambiente criado com este modelo, formulou uma forma alternativa de desenvolvimento, aonde o

acesso ao código fonte era considerado como elemento fundamental da liberdade de acesso

tecnológico.

Este movimento não conseguiu, no primeiro momento, grande expressão no mercado, e o

modelo proprietário conquistou praticamente todos os segmentos da indústria de software.

Contudo, a popularização do acesso a internet levou a uma profunda mudança em todo o

mercado de tecnologia, ampliando rapidamente o alcance do discurso do Software Livre, ao

mesmo tempo em que permitia a criação de ambientes colaborativos que ampliaram

significativamente a capacidade e coordenação dos desenvolvedores de Software Livre. O

desenvolvimento de software através deste novo modelo se mostrou comparativamente mais

eficiente e com maior qualidade que o desenvolvido sob o sistema proprietário.

A produção de alternativas em Software Livre para vários softwares, permitiu o

surgimento de empresas voltadas para o fornecimento dos serviços envolvidos no

desenvolvimento destes softwares. Parte do próprio movimento de Software Livre passou a

alterar seu discurso, focando a maior produtividade e melhor qualidade da produção de

software, a fim de convencer mais empresas a adotarem o novo modelo.

O desenvolvimento e uso de Software Livre crescem de maneira significativa, já

dominando vários nichos de mercado de software e se consolidando como alternativa em

praticamente todos os segmentos. Mesmo no mercado mais concentrado e com maior poder de

aprisionamento, o de sistema operacional de estações de trabalho, o Software Livre Linux vem

ampliando de maneira consistente sua participação, e breve deve reverter a vantagem em

economia de rede que o Microsoft Windows detém.

As vantagens de utilização do novo modelo estão se tornando cada vez mais claras tanto

para os consumidores quanto para as empresas que se adaptaram à nova possibilidade de

negócios, assim como para os governos e as grandes empresas; sendo que estes últimos são os

alvos preferenciais das estratégias de aprisionamento das empresas de software proprietário.

Tudo indica que o novo modelo de Software Livre continuará com grande crescimento, podendo

em breve se consolidar como predominante no mercado de software, ainda que convivendo com

o modelo proprietário.

No Brasil houve um nível de aceitação do Software Livre aparentemente superior ao de

outros países em desenvolvimento. Hoje o país tem grande destaque na comunidade de software

livre, principalmente como grande usuário, mas também como participante do esforço mundial

de desenvolvimento cooperado. Foi também no Brasil onde surgiram as primeiras leis que

estabeleciam uso preferencial pela administração pública de Software Livre que tiveram grande

repercussão mundial.

Ao considerarmos a estrutura do mercado de software no Brasil, com bastante

fragmentação, voltada principalmente para o mercado de serviços, desenvolvimento de software

personalizados e de sistemas embarcados, podemos verificar uma grande adequação do

posicionamento das empresas nacionais com os setores que mais utilizam e produzem Software

Livre no mundo, o que ressalta a importância desta alternativa para o mercado nacional.

O Governo Brasileiro, a partir do mandato do Presidente Lula, vem criando políticas de

incentivo ao uso interno de Software Livre, de apoio ao desenvolvimento, e para sua adoção

pelo mercado privado. Esta opção do governo brasileiro, apesar dos constantes questionamentos

quanto à capacidade do Estado de realizar uma mudança efetiva na sua infraestrutura de

informática, demonstra a importância dada tanto para o setor de software como para o novo

paradigma produtivo. A produção de software é uma das prioridades da política industrial do

governo e o Software Livre teve tratamento específico na sua formulação. José Dirceu, então

Ministro Chefe da Casa Civil chegou a declarar que o “O Software Livre faz parte das políticas

estruturantes do Governo Lula”

Do ponto de vista das vantagens internas ao governo, avalia-se que o uso de Software

Livre melhorará as condições de negociação para o Estado, reduzindo o seu nível de

aprisionamento, ampliará a quantidade de empresas nacionais prestadoras de serviços ao

governo, além da possibilidade de ampliar ainda mais o uso da informática como instrumento

relevante para a eficiência dos controles estatais, tão importantes para nosso país.

A implantação de uma política pró-Software Livre, pelo Brasil, poderia também

contribuir para acelerar a capacidade do país de responder à mudança que está ocorrendo no

mercado mundial no que se refere à difusão desse modelo de software. O uso de Software Livre

na estrutura estatal tem o poder de incentivar que empresas privadas se especializem neste tipo

de solução, bem como de ampliar o número de usuários conhecedores deste software, o que

pode ser um elemento fundamental para reverter a grande vantagem de economias de rede que

os Softwares Proprietários, especialmente a empresa Microsoft, possui no mercado nacional.

Esta capacidade de realizar mudanças no mercado foi apontada pela Softex, como vimos

no capítulo 4, e ressalta a importância e capacidade de uma política estatal pró-Software Livre

de promover mudanças na sua estrutura e conduta, inclusive de maneira significativa.

É importante notar que para mercados como o de software proprietário, com tantas

características que levam a uma excessiva concentração de fornecedores, conforme discutimos

no capítulo 2, é fundamental alguma ação do Estado no sentido de regulação econômica. No

caso do Brasil, a adoção, por parte do Governo Federal, do Software Livre, pode induzir a

mudanças na conduta das empresas e na estrutura do mercado, o que pode contribuir para evitar

a necessidade de ações para a regulação e defesa da concorrência.

Mesmo com o ritmo de adoção lento de Software Livre pelo governo brasileiro, já se

torna perceptível a mudança no mercado. Praticamente todas as empresas prestadoras de

serviços e de treinamento já incluem alguma estratégia de incorporação de Software Livre ao

seu portifólio de serviços oferecidos. Mesmo no caso de empresas nacionais que fazem uso do

modelo proprietário, observa-se que elas estão procurando alternativas mistas de negócio e

produção, como a Microsiga.

Do ponto de vista do sistema econômico nacional, o Software Livre pode ser um

diferencial competitivo para as empresas nacionais, permitindo um nível maior de

informatização em comparação aos demais países do mundo, já que esta alternativa permitiria

uma menor quantidade de gastos com licenças, uma ampliação da quantidade de softwares

utilizados e uma melhor adequação dos softwares usados na estratégia tecnológica das firmas.

Além disso, o Software Livre pode contribuir para uma maior inclusão digital,

principalmente pela redução de custos, o que pode significar uma ampliação das alternativas de

acesso público à informática. Atualmente seu uso tem sido a alternativa preferencial para

solução tecnológica deste tipo de estabelecimento. Deve promover também um maior nível de

legalização dos softwares utilizados no país, melhorando o acesso para aqueles que mantém

seus softwares regularizados.

Em suma, avaliamos como sendo inquestionável a vantagem deste novo modelo de

software para a ampliação do conhecimento tecnológico em nível das firmas, das instituições

governamentais e não-governamentais e para o público em geral, uma vez que o conhecimento

integrado ao software deixa de ser um segredo industrial e passa a ser compartilhado entre todos

os usuários que tiverem interesse. No caso específico do Brasil, representa o fim da diferença

tecnológica entre os países centrais, estabelecendo condições mais igualitárias para o

desenvolvimento tecnológico.

Contudo qualquer mudança tecnológica sempre traz desafios. Em primeiro lugar temos

as empresas que estão numa posição cômoda no mercado de software proprietário que se sentem

ameaçadas pela possível alteração de paradigma. Do ponto de vista dos consumidores temos

grande dificuldades de substituição, graças ao aprisionamento tecnológico que torna, algumas

vezes, pouco trivial a implantação de Software Livre. Um risco para o futuro deste modelo é a

pressão que os Estados Unidos está fazendo em relação ao restante do mundo para que a

comunidade internacional, especialmente União Européia, aprovem patentes de software, o que

significaria o início da patente de algoritmos, isto é, de idéias e conhecimento, ao contrário da

legislação atual da maioria dos países que limita as patentes para produtos.

O movimento de Software Livre, nascido como uma reação autônoma dos

desenvolvedores de softwares ao poder das empresas, criou condições para que o Brasil possa se

inserir no mercado internacional de forma destacada, não mais como simples receptor de

tecnologias de informática, mas como agente ativo no desenvolvimento tecnológico do setor. O

apoio que diferentes instâncias governamentais têm dado ao Software Livre, aliado às condições

favoráveis já existentes no Brasil, como um mercado interno forte e estruturado, boas

instituições de ensino e pesquisa, e empresas com boa competitividade, poderá levar o país à

condição de um dos líderes deste novo mercado, podendo inclusive se aproximar dos principais

países desenvolvidos do mundo neste segmento de mercado.

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GLOSSÁRIO

.NET

Microsoft .NET é um framework desenvolvido pela Microsoft para rodar aplicações

escritas em diferentes linguagens. Este framework permite que qualquer aplicação seja

executada de qualquer lugar do mundo, em qualquer dispositivo sem a necessidade de

instalação de novos componentes nas estações de trabalho.

Apache

O servidor Apache é o mais bem sucedido servidor web livre. Foi criado em 1995 por

Rob McCool, então funcionário do NCSA (National Center for Supercomputing Applications),

Universidade de Illinois. Faz parte como tecnologia principal da Apache Software Foundation,

responsável por mais de uma dezena de projetos envolvendo tecnologias de transmissão via

web, processamento de dados e execução de aplicativos distribuídos.

Backup

Em informática, backup refere-se à cópia de dados de um dispositivo para o outro com o

objetivo de posteriormente recuperar os dados, caso haja algum problema.

Bug

Um bug é qualquer falha em um programa de computador que o impede de funcionar

como esperado

Cluster

Um cluster é formado por um conjunto de computadores, que utiliza-se de um tipo

especial de sistema operacional classificado como sistema distribuído. É construído muitas

vezes a partir de computadores convencionais (desktops), sendo que estes vários computadores

são ligados em rede e comunicam-se através do sistema de forma que trabalham como se fosse

uma única máquina de grande porte.

Código Fonte

Conjunto de palavras escritas de forma ordenada, contendo instruções em alguma

linguagens de programação, de maneira lógica. Após compilado, transforma-se em software, ou

seja, programas executáveis.

Corel Draw

O CorelDRAW é um programa de design gráfico pertencente à Corel. O CorelDRAW é

um aplicativo de ilustração vetorial e layout de página que possiblita a criação e a manipulação

de vários produtos, como por exemplo: desenhos artísticos, publicitários; logótipos; capas de

revistas, livros, CDs; imagens de objectos para aplicação nas páginas de Internet) botões, ícones,

animações gráficas, etc) confecção de cartazes, etc.

Crackers

Usuário que acessa informações restritas, reservadas ou conficenciais, invade

computadores, sem autorização, com objetivos ilegais, descobrindo senhas ou empregando

meios irregulares, em regra causando prejuízos e/ou visando o proveito econômico.

Dvorak

O Teclado Simplificado Dvorak, desenvolvido pelos desingners August Dvorak e

William Dealey em 1920s e 1930s como uma alternativa para o mais eficiente ao QWERTY.

Ele é o mais recomendado por ergonomistas, pois, uma pessoa digitando no DVORAK em

inglês se esforça 20 vezes menos do que se estivesse digitando num teclado QWERTY.

Engenharia reversa

É o processo de análise de um artefato (um aparelho, um componente elétrico, um

programa de computador, etc.) e dos detalhes de seu funcionamento, geralmente com a intenção

de construir um novo aparelho ou programa que faça a mesma coisa, sem realmente copiar

alguma coisa do original.

Fork

Em engenharia de software, um fork acontece quando um desenvolvedor (ou um grupo

de desenvolvedores) pega o código de um projeto e decide começar outro independente do

anterior.

Gnu/Linux

Linux é um núcleo (ou "cerne"; em Inglês ‘kernel’), o que propriamente se refere ao

sistema de software que oferece uma camada de abstração referente a equipamentos como

discos, controle de sistema de arquivos, multi-tarefa, balanceamento de carga, rede e segurança.

Um núcleo não é um sistema operacional completo. Sistemas completos construídos em torno

do kernel do Linux usam o sistema GNU que oferece um interpretador de comandos, utilitários,

bibliotecas, compiladores e ferramentas, bem como outros programas como o editor Emacs. Por

essa razão, Richard M. Stallman, criador e líder do projeto GNU, pede aos usuários que se

refiram ao sistema completo como GNU/Linux.

Hacker

Entre programadores, o termo refere-se a pessoas habilidosas em programação,

adminstração e segurança. Originalmente o termo indica um especialista em qualquer área.

IIS

O IIS (Internet Information Services) é um servidor de páginas web criado pela

Microsoft para seus sistemas operacionais para servidores. Sua primeira versão foi introduzida

com o Windows NT Server versão 4, e passou por várias atualizações.

Intranet

Intranet é uma rede de computadores privativa que utiliza as mesmas tecnologias que são

utilizadas na Internet. Uma Intranet pode ou não estar conectada a Internet ou a outras redes.

Interoperabilidade

É a capacidade de softwares e equipamentos computacionais de se comunicar uns com

os outros conforme regras pré-estabelecidas.

Kernel

Kernel é o núcleo de um sistema operacional, a parte considerada mais complexa e

importante de um sistema.

Macintosh

Macintosh, ou Mac, é o nome dos computadores pessoais fabricados e comercializados

pela Apple Computer desde janeiro de 1984. O nome deriva de McIntosh, um tipo de maçã

apreciado por Jef Raskin. O Macintosh foi o primeiro computador pessoal a popularizar a

interface gráfica (GUI), na época um desenvolvimento revolucionário. Ele é muito utilizado

para o tratamento de vídeo, imagem e som.

OEM

Sigla para o termo em inglês Original Equipment Manufacturer. É uma modalidade

diferenciada de distribuição de softwares, onde eles não são comercializados aos consumidores

finais, mas unicamente aos fabricantes de computadores. Neste tipo de contrato, o software é

normalmente associado à máquina com a qual foi distribuída, a qual, não pode ser revendida ou

instalada em outro computador pelo próprio usuário.

Processador

Processadores são circuitos digitais que realizam operações como: cópia de dados,

acesso a memórias e operações lógicas e matemáticas, sendo o principal componente de um

computador. Os processadores comuns trabalham apenas com lógica digital binária.

Qwerty

QWERTY é o layout de teclados actualmente mais utilizado em computadores e

máquinas de escrever. O nome vem das primeiras 6 letras "QWERTY".

RISC

Reduced Instruction Set Computer ou Conjunto reduzido de instruções computacionais

(RISC), é uma linha de arquitetura de computadores que favorece um conjunto simples e

pequeno de instruções que levam aproximadamente a mesma quantidade de tempo para serem

executadas. A maioria dos microprocessadores modernos são RISCs, por exemplo DEC Alpha,

SPARC, MIPS, e PowerPC. O tipo de microprocessador mais largamente usado em desktops, o

x86, é mais CISC do que RISC, embora chips mais novos traduzam instruções x86 baseadas em

arquitetura CISC em formas baseadas em arquitetura RISC mais simples prioridade de

execução.

Scanner

O Digitalizador ou Scanner é um equipamento eletrônico responsável por digitalizar

imagens, fotos e textos para o computador.

Servidores

Em informática, um servidor é um computador que fornece serviços a uma rede de

computadores. Esses serviços podem ser de diversa natureza, por exemplo, servidor de

arquivos, servidor de correio eletrônico ou servidor de web. Os computadores que acedem aos

serviços de um servidor são chamados clientes.

Software

Conjunto de instruções passadas para um computador para que ele execute um

determinada tarefa. Essas instruções são criadas a partir de linguagens de programação

apropriadas.

Software Livre

O termo Software Livre se refere aos softwares que são fornecidos aos seus usuários

com a liberdade de executar, estudar, modificar e repassar (com ou sem alterações) sem que,

para isso, os usuários tenham que pedir permissão ao autor do programa.

SQL ANSI

Structured Query Language, ou Linguagem de Questões Estruturadas ou SQL, é uma

linguagem de pesquisa declarativa para banco de dados relacional, normatizada pela American

National Standarts Institute – ANSI.

Stored procedure

Stored Procedure é uma coleção de comandos executados em Banco de dados,

normalmente usados para acelerar procedimentos repetitivos

UNIX

UNIX é um Sistema Operativo (ou sistema operacional) portável, multitarefa e

multiusuário originalmente criado por um grupo de programadores da AT&T e dos Bell Labs

Upgrade

Atualizar, modernizar; tornar (um sistema, software ou hardware) mais poderoso ou mais

atualizado adicionando novo equipamento ou atualizando o software com sua última versão.

World Wide Web

A World Wide Web -- "a Web" ou "WWW" para encurtar -- ("teia do tamanho do

mundo", traduzindo literalmente) é uma rede de computadores na Internet que fornece

informação em forma de hipertexto. Para ver a informação, pode-se usar um software chamado

navegador (browser) para descarregar informações (chamadas "documentos" ou "páginas") de

servidores de internet (ou "sites") e mostrá-los na tela do usuário. O usuário pode então seguir

os links na página para outros documentos ou mesmo enviar informações de volta para o

servidor para interagir com ele. O ato de seguir links é comumente chamado de "surfar" na

Web.