sociologia da arte efolio ii

5
Sociologia da Arte – E-Fólio B 2010 /2011 Theodor W. Adorno (1903-1969) nascido em Frankfurt, Alemanha, recebeu reconhecimento como filósofo dentro de uma linha de reflexão crítica, confrontando a filosofia, a história e a sociologia e recolhendo também ensinamentos do marxismo e da psicologia. Segundo ele, a arte moderna perde a sua liberdade quando se converte numa mercadoria, ficando desta forma sujeita às relações da indústria cultural. O desenvolvimento humano fez desencadear forças que promoveram a criação de riqueza e a produção de tecnologia, processo este que Adorno denominou de indústria cultural. Neste, com a finalidade de satisfazer as necessidades que são produzidas através da estrutura de trabalho, desenvolve-se a produção em série dos bens culturais. E não só. Desenvolve-se também a necessidade por novos produtos, manipulando-se assim a concepção da arte; transformando-a numa maneira de obter mais riqueza. Para Adorno, esta é uma forma de manipular a consciência das massas, criando um estereótipo e fazendo crescer no nosso interior a necessidade de algo que nós não nos apercebemos do porquê, toldando os nossos sentidos. É neste processo que nasce a arte que não é autêntica pois ela 1 Carla Maria Vendeirinho Gonçalves, turma 2, nº 800029

Upload: carlamvgoncalves7066

Post on 24-Jul-2015

283 views

Category:

Documents


5 download

DESCRIPTION

sociologia da arte

TRANSCRIPT

Page 1: Sociologia Da Arte Efolio II

Sociologia da Arte – E-Fólio B

2010 /2011

Theodor W. Adorno (1903-1969) nascido em Frankfurt, Alemanha, recebeu

reconhecimento como filósofo dentro de uma linha de reflexão crítica, confrontando a

filosofia, a história e a sociologia e recolhendo também ensinamentos do marxismo e da

psicologia.

Segundo ele, a arte moderna perde a sua liberdade quando se converte numa

mercadoria, ficando desta forma sujeita às relações da indústria cultural. O

desenvolvimento humano fez desencadear forças que promoveram a criação de riqueza

e a produção de tecnologia, processo este que Adorno denominou de indústria cultural.

Neste, com a finalidade de satisfazer as necessidades que são produzidas através da

estrutura de trabalho, desenvolve-se a produção em série dos bens culturais. E não só.

Desenvolve-se também a necessidade por novos produtos, manipulando-se assim a

concepção da arte; transformando-a numa maneira de obter mais riqueza.

Para Adorno, esta é uma forma de manipular a consciência das massas, criando um

estereótipo e fazendo crescer no nosso interior a necessidade de algo que nós não nos

apercebemos do porquê, toldando os nossos sentidos. É neste processo que nasce a arte

que não é autêntica pois ela favorece, serve e promove toda esta “máquina” de espírito

capitalista, limitando a capacidade de expressão e, aos poucos, desenvolvendo uma

atrofia da imaginação e da capacidade criativa do pensamento.

Não sendo uma obra autêntica, o que nasce da indústria cultural somente procura

satisfazer o que é imediato e efémero e, no constante movimento de insatisfação que daí

resulta, novos produtos vão surgindo (melhores que os anteriores) que nunca saciam

plenamente as pessoas.

Pelo contrário, a arte autêntica é isenta de qualquer parâmetro que seja imposto ou

determinado socialmente pois é pelo meio da arte que o artista assume a sua crítica.

Adorno define a arte autêntica como sendo a “antítese social da sociedade”. Logo,

aquela não representa a realidade que se “vê a olho nu”; é, ao invés, a sua negatividade,

donde que ela não é imediata com o que é empírico (realidade empírica).

1 Carla Maria Vendeirinho Gonçalves, turma 2, nº 800029

Page 2: Sociologia Da Arte Efolio II

É nesta negação que se reflectem as acções históricas do homem, exigindo uma crítica

e, por conseguinte, uma outra forma de reflexão. Daí Adorno aliar a crítica e a filosofia,

para que a obra seja resgatada pelo sujeito, garantindo à arte a sua autonomia e a sua

prática em total liberdade.

Para que seja apreendida, a arte autêntica estabelece uma relação de reciprocidade entre

o objecto (arte) e o sujeito. É neste processo de interpretação que a obra revela todo o

seu simbolismo do mundo. Esta compreensão vai contra com o que é imediato, exigindo

do sujeito uma reflexão, ampliando-lhe os horizontes sobre o que é na realidade o real.

Ao contrário da realidade da indústria cultural, a arte autêntica tem que ferir e expressar

o sofrimento humano no seu quotidiano, uma vez que nessa outra realidade (empírica)

as pessoas são induzidas a reprimir os seus desejos, ambições, sonhos, etc. Desta forma,

a arte autêntica torna-se um veículo privilegiado de cognição do real sendo nesta

estética de negação e de irracionalidade que ela acaba por orientar o nosso olhar para a

verdadeira realidade, podendo “nós” compreende-la nas suas outras camadas, isto é,

para além da superficialidade do imediato e do visível.

Portanto, a dimensão estética de uma obra de arte não só nos proporciona prazer, como

também faz parte de uma reflexão que não é de fácil leitura, porque é-lhe atribuída uma

“linguagem” muito própria.

Assim, para Adorno, a arte é distinta da realidade empírica. Na arte autêntica o seu

conteúdo verdadeiro está precisamente naquilo que nega e na relação que estabelece

com outros factores, como por exemplo a afectividade, a criatividade, a subjectividade,

a técnica, o empírico, a mimese, etc…

A verdadeira arte é uma resposta crítica por excelência, possibilitando ao homem uma

experiência diferente daquela que lhe é imposta (realidade empírica). É este, para

Adorno, o verdadeiro sentido da arte. Aquele onde cada obra é uma experiência

diferente, contendo diferentes verdades que promovem o acto reflexivo no homem,

ampliando a capacidade de conhecimento da realidade-outra, isto é, aquela que se

encontra para além da vivência humana na sua rotina diária e que lhe proporciona uma

experiência única.

2 Carla Maria Vendeirinho Gonçalves, turma 2, nº 800029

Page 3: Sociologia Da Arte Efolio II

Bibliografia:

Fabiano, Luiz Hermenegildo (2003). Adorno, arte e educação: negócio da arte como

negação. Educ. Soc., vol. 24, n. 83, 495-505 p. Acedido a 23 de Maio 2011, em:

http://www.scielo.br/pdf/es/v24n83/a10v2483.pdf

Passos, Jorge Roberto C. (2001). O conteúdo de verdade das obras de arte na teoria

estética de Theodor Adorno. Augustos, vol. 06, n. 12. Acedido a 23 de Maio 2011, em:

http://www.unisuam.edu.br/augustus/index.php?

option=com_content&view=article&id=179:o-conteudo-de-verdade-das-obras-de-arte-

na-teoria-estetica-de-theodor-adorno&catid=56:edicao-12-artigos&Itemid=80

Aguiar, Wisley Francisco (2007). Adorno e a dimensão social da arte. Revista

Urutágua, n. 15. Acedido a 22 de Maio 2011, em:

http://www.urutagua.uem.br/015/15aguiar.htm

Danner, Fernando. A dimensão estética em Theodor Adorno. Acedido a 23 de Maio

2011, em: http://www.unifra.br/thaumazein/edicao3/artigos/A_dimens%C3%86o_est

%E2%80%9Atica_em_Theodor_W._Adorno_revisado.pdf

GONÇALVES, Carla Alexandra (2010). Para uma introdução à Sociologia da Arte.

Bubok Publishing. Madrid.

3 Carla Maria Vendeirinho Gonçalves, turma 2, nº 800029