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SOCIOLOGIA Apostila: M2 – E. Médio VOL. I Aluno(a): Nº.: Professor: Me. Valdinei Gomes Garcia Data: COLÉGIO INTEGRADO Av. Irmãos Pereira, 670 Campo Mourão/PR – CEP 87301-010 FONE: 0xx 44 3523-1982

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SOCIOLOGIA 2 ANO DO ENSINO MDIO

SOCIOLOGIA

Apostila: M2 E. Mdio

VOL. I

Aluno(a):

N.:

Professor: Me. Valdinei Gomes Garcia

Data:

SOCIOLOGIA 2 ANO DO ENSINO MDIO

1 BIMESTRE Unidade I

A imaginao Sociolgica;

O papel do socilogo;

Grupos sociais e construo de identidades;

Marcadores sociais de diferena: gnero, raa/etnia, sexualidade, gerao e classe;

Identidades nacionais, tnico-raciais e diferenas culturais;

2 BIMESTRE Unidade II

Esteretipos e estigmatizao;

Discriminao e preconceito;

Multiculturalismo e polticas de reconhecimento.

3 BIMESTRE Unidade III

Poder, autoridade e dominao;

Sociedades com Estado e sociedades sem Estado;

Formas de governo, formas de Estado e sistemas de governo;

Diviso dos poderes;

Estado Estado, poder e participao poltica no Brasil.

4 BIMESTRE Unidade IV

O modo de produo capitalista;

Estratificao de classes no capitalismo;

- Capitalismo e modernizao no Brasil;

Fordismo, taylorismo, reestruturao produtiva;

Neoliberalismo e globalizao;

UNIDADE I

Aprender a pensar sociologicamente olhando em outras palavras, de forma mais ampla significa cultivar a imaginao. Estudar Sociologia no pode ser apenas um processo rotineiro de adquirir conhecimento. Um socilogo algum que capaz de se libertar das imediatidades das circunstncias pessoais e apresentar as coisas num contexto mais amplo. O trabalho sociolgico daquilo que o autor norte-americano C. Wright Mills, numa frase famosa chamou de imaginao sociolgica. ( Mills, 1970) (Giddens, A. Sociologia, Porto Alegre: Artmed,2005).

A imaginao sociolgica, acima de tudo, exige de ns que pensemos fora das rotinas familiares de nossas vidas cotidianas a fim de que as observemos de modo renovado, livre dos juzos de valor e da influncia do senso comum.Giddens em seu livro Sociologia, usa o exemplo do caf, mas podemos aqui usar uma srie de outros exemplos para demonstrar como funciona a imaginao sociolgica. Ao usar o caf como exemplo, Giddens ressalta que o caf possu valor simblico como parte de nossas atividades sociais dirias; podemos ento usar a cerveja como exemplo, embora no muito feliz, geralmente ao fim do expediente de trabalho ou aos finais de semana, homens e mulheres se reunem para tomar uma cerveja para relaxar usando a bebida como subterfgio, mas neste ato aparentemente simples, inofensivo, corriqueiro, existe uma srie de questes, como por exemplo o alcoolismo, a lei seca, o no saber parar, a produo desta bebida, o consumo por menores de idade, iniciado geralmente em casa, sua histria, a publicidade etc.

Um outro exemplo o ch, o que poderamos dizer, a partir de uma perspectiva sociolgica acerca do consumo desta bebida, deste ritual associado geralmente a britnicos, a pontualidade e a reunies de mulheres (ch de beb, ch de panela)?

Para comear, muito embora este ritual, esta tradio do consumo de ch esteja associada aos bitnicos, na verdade a histria do ch remonta antiguidade no territrio chins. Entre muitas lendas que narram o surgimento desta bebida, a mais famosa relata que suas razes provm de 5000 anos atrs, ao governo do Imperador Sheng Nong ( Ou Nung, dependendo da fonte), popularmente conhecido como o Curandeiro Divino. Tentando solucionar a constante incidncia de surtos epidmicos em seus domnios, ele criou uma lei que obrigava o povo a ferver a gua antes de ingeri-la.Diz a lenda que repousando sob uma rvore, o soberano deixou sua xcara de gua esfriando, e logo percebeu que algumas folhas haviam cado sobre o lquido, conferindo-lhe um tom castanho. Ao experimentar a bebida, descobriu que ela possua um sabor agradvel, disseminando o consumo desta bebida entre os seus sditos; a China desempenha um papel crucial na disseminao do consumo do ch pelo mundo.

Viu s? Iniciamos uma linha de pensamento acerca do surgimento do ritual de consumo do ch, e descobrimos que esta bebida no proveniente da Inglaterra e nem est associada a sofisticao e a pontualidade britnica..

Em princpios do sculo IX alguns monges provenientes do Japo levaram consigo algumas sementes, iniciando assim o cultivo do hbito que se tornaria tradio neste pas. Tanto na China quanto no Japo, o ch conquistou um desenvolvimento sem igual, em todos os ambientes, at mesmo os artsticos e os religiosos, campo no qual passou a integrar um cerimonial sagrado.O desembarque do ch na Europa se deu gradativamente atravs da sia Central e da Rssia, logo aps dos portugueses, que difundiram o uso do ch por toda a Europa, a partir do fim do sculo XV. Os navios de Portugal transportavam a mercadoria at os portos de Lisboa, sendo da conduzida para a Holanda e a Frana.

O aventureiro Marco Plo, ao registrar suas famosas viagens, teria includo referncias ao ch em suas narrativas; do sculo XIX em diante, o hbito de consumir o ch se disseminou velozmente na Inglaterra, tornando-se tradio. A partir das terras inglesas esta bebida se propagou rapidamente aos Estados Unidos, Austrlia e ao Canad, at se tornar popular em todo o Planeta. Enquanto isso, no Japo, o preparo do ch tornou-se uma arte, bem como o seu consumo.

Dando prosseguimento a nossa anlise acerca do ch, agora partimos para uma perspectiva sociolgica direcionada a questes polticas e econmicas, neste sentido devemos lembrar do ano de 1773, quando uma certa lei foi criada, estudamos isso na disciplina de histria, lembram?

Esta lei aumentou consideravelmente a aquisio de impostos sobre a comercializao do ch, que era muito consumido nas colnias. Tambm foi instituda a exclusividade de sua venda (o monoplio comercial) Companhia das ndias Orientais. Foi uma medida inglesa que impediu os colonos de participar do comrcio de Ch, que era bastante lucrativo, o que favorecia os comerciantes ingleses, dando-lhes o monoplio do mercado desse produto nas treze colnias, seu nome: Lei do ch. A resposta americana teve lugar em Boston, no episdio conhecido como Festa do Ch, quando americanos vestidos como ndios saquearam navios ingleses, jogando ao mar sua carga de ch.

Agora que sabemos um pouco mais sobre a histria do ch podemos concluir que o ch no simplesmente uma bebida que pode ser consumida quente ou gelada, possu sobretudo, valor simblico em muitas culturas como a inglesa, a chinesa e principalmente a japonesa, no Japo, o preparo do ch tornou-se uma arte, bem como o seu consumo, os participantes da cerimnia do ch devem sempre esperar em um recinto, at se desconectarem das preocupaes do dia-a-dia. Se pensarmos bem, em todas as sociedades, em todos os tempos, comer e beber so aes que produzem oportunidades para interao social e para a encenao de rituais, ou seja um timo tema para estudos sociolgicos.

Outro ponto, um indviduo que bebe ch est envolvido em uma complicada rede de relaes sociais, econmicas e culturais que se estendem pelo mundo desde os tempos antigos. O ch um produto que conecta as pessoas, o rico, o pobre, todos e todas podem consumir ch hoje em dia, inclusive tornou-se mais acessvel do que o caf, mas nem sempre foi assim. O entusiasmo dos britnicos pelo ch algo que ainda hoje se mantm, no entanto, nos primeiros anos de consumo, esta bebida no estava ao alcance de todos porque tinha um imposto to alto que, em 1689 as vendas de ch quase pararam, ocasionando contrabando de ch em larga escala que, infelizmente, adulterava muitas vezes as folhas de ch, adicionando-lhes folhas de outras plantas. Este negcio de mercado negro chegou a tal propores que, em 1784, o primeiro-ministro William Pitt colocou um ponto final na situao ao reduzir o imposto de 119% para 12.5%. De um dia para o outro, o ch tornou-se acessvel e o contrabando deixou de ser um negcio lucrativo.

Aqui no Brasil o ch produzido em vrias regies, entre elas So Miguel (Aores) onde os produtores criaram uma associao para certificar o seu ch produzido de forma orgnica; hoje, a produo de ch no mundo calculada por volta de 2,34 bilhes de kg por ano. A ndia, um pas pobre, e repleto de contradies econmicas o numero 1 na produo como a maior nao produtora de ch do mundo, com uma produo anual de aproximadamente 850 milhes kg. A China, onde o ch originou-se, hoje sustenta a segunda posio e contribui com 22% da produo mundial de ch. Outros paises so importantes produtores de ch como a Argentina, Sri Lanka, Turquia, Gergia, Kenya, Indonsia e Japo. A produo, o tranporte, e a distribuio do ch demandam transaes entre pessoas a milhares de quilmetros de distncia do seu consumidor, estudar estas transaes tambm tarefa da sociologia.

Atualmente, o ch continua a ser consumido por diversos povos espalhados pelo mundo, sendo ainda mais popular do que o caf. Ao bebermos ch nos envolvemos em todo um processo passado de desenvolvimento social e econmico, por exemplo, a Stassen Natural Food um dos principais produtores e exportadores de ch de qualidade do Sri Lanka e um antigo parceiro do Comrcio Justo. O Sri Lanka um importante exportador de ch no mundo, a economia do pas depende fortemente da produo de ch, o governo detentor da maioria das fbricas de processamento de ch, e o ch vendido em leiles controlados pelo Estado.

Logo, os pequenos produtores de ch so excludos da produo e comercializao, e isso torna difcil para as organizaes de Comrcio Justo introduzir o Comrcio Justo de fato como uma alternativa produo e exportao de ch neste pas, entretanto esta empresa mostrou um particular interesse no Comrcio Justo e possu aparentemente objetivos partilhados, como a melhoria das condies de trabalho e de vida das pessoas que trabalham nas plantaes de ch, e a promoo da agricultura biolgica. Podemos escolher entre acreditar ou no neste comprometimento.Tambm podemos escolher entre tomarmos ch proveniente de produtores que objetivam o comrcio justo e no fazem uso de fertilizantes, pesticidas e que respeitam os ciclos de vida naturais, ou dos que exploram mo de obra, utilizam fertilizantes comprometendo nossa sade e no respeitam a natureza, claro que a partir de pesquisas acerca dos produtores, obtendo informaes atravs de fontes confiveis etc.

Politizamos assim o consumo desta bebida, e seguramente contribumos para um anlise sociolgica acerca das questes que envolvem a produo do ch; aps todas estas informaes, mesmo que ainda superficiais iniciamos um processo de anlise contextualizando historicamente seu consumo e produo para compreender uma srie de questes, os socilogos esto interessados em compreender como a globalizao aumenta a conscincia das pessoas acerca de assuntos que vm ocorrendo em locais distantes, como por exemplo na ndia, no Sri Lanka, encorajando-as a produzir novos conhecimentos, a ponderar, e pensar criticamente.

Atividade I

Pesquise:

O que comrcio justo e solidrio? Precisamos disso? fcil realizar? Existe em quais partes do Brasil e do mundo?

A imaginao sociolgica nos permite ver que muitos eventos que parecem dizer respeito somente ao indivduo, na verdade refletem questes muito mais amplas. O divrcio, por exemplo pode ser um processo muito difcil para algum que passa por ele o que Mills chama de problema pessoal mas o divrcio, assinala Mills, tambm um problema pblico, numa sociedade como a atual Gr-Bretanha, onde mais de um tero de todos os casamentos termina dentro de dez anos. O desemprego, para usar outro exemplo, pode ser uma tragdia pessoal, para algum despedido de um emprego e inapto para encontrar outro. Mesmo assim, isso vai bem alm de uma questo geradora de uma aflio pessoal, se considerarmos que milhes de pessoas numa sociedade esto na mesma situao: um assunto pblico expressando amplas tendncias sociais. (Giddens, A. Sociologia, Porto Alegre: Artmed,2005).

Embora sejamos influenciados pelos contextos sociais em que nos encontramos, nenhum de ns tem o comportamento simplesmente modelado por esses contextos, possumos, criamos, construmos nossa prpria individualidade. trabalho da sociologia investigar as conexes entre o que a sociedade faz de ns e o que fazemos de ns mesmos. As nossas atividades tanto estruturam, modelam, como ao mesmo tempo so estruturadas por esse mundo social. O conceito de estrutura social muito importante na Sociologia, ele se refere ao fato de que os contextos sociais de nossas vidas no se consistem apenas em conjuntos espordicos de eventos ou aes, so constitudos ou uniformizados de formas distintas. H regularidades nos modos como nos comportamos e nos relacionamentos que temos uns com os outros. Entretando a estrutura social no como uma estrutura fsica, como um edifcio que existe independentemente das aes humanas. As sociedades humanas esto sempre em processo de estruturao. Elas so reestruturadas a todo momento pelos prprios blocos de construo que as compe, os seres humanos. (Giddens, A. Sociologia, Porto Alegre: Artmed,2005).

A sociologia tem muitas implicaes prticas para nossas vidas, primeiramente a Sociologia nos permite ver o mundo social a partir de outros pontos de vista que no o nosso. Se compreendemos precisamente como os outros vivem, tambm adquirimos melhor entendimento de quais so os seus problemas. Polticas prticas que no so baseadas numa conscincia bem informada dos modos de vida das pessoas afetadas por elas tem poucas chances de sucesso. Por exemplo, uma assistente social branca, operando numa comunidade predominantemente negra, no ganhar a confiana de seus membros sem desenvolver uma sensibilidade s diferenas na experincia social que separam brancos e negros. (Giddens, A. Sociologia, Porto Alegre: Artmed,2005).

A sociologia pode nos fornecer auto-esclarecimento, uma maior autocompreenso. Quanto mais sabemos porque agimos como agimos e como se d o completo funcionamento de nossa sociedade provavelmente seremos mais capazes de influenciar nossos prprios futuros. No deveramos ver a Sociologia como uma cincia que auxilia somente os que fazem polticas, ou seja, grupos poderosos, com o propsito de tomarem decises informadas. No se pode supor que os que esto no poder sempre levaro em considerao, em suas polticas os interesses dos menos poderosos ou menos privilegiados. Grupos de auto-esclarecimento podem frequentemente se beneficiar da pesquisa sociolgica e responder de forma efetiva as polticas governamentais ou formar iniciativas polticas prprias. (Giddens, A. Sociologia, Porto Alegre: Artmed,2005).

Quando comeamos a estudar Sociologia pela primeira vez, alguns e algumas de ns ficam confusos com a diversidade de abordagens que encontramos e muitas vezes questionamos de que nos serviria tais abordagens e conhecimentos. A Sociologia nunca foi uma disciplina em que h um conjunto de idias que todos aceitam como vlidas. Os socilogos frequentemente discutem entre si sobre como abordar o estudo do comportamento humano e sobre como os resultados das pesquisas podem ser melhor interpretados. Por que deveria ser assim? A reposta est ligada a prpria natureza da rea. A Sociologia diz respeito as nossas vidas e ao nosso prprio comportamento, e estudar ns mesmos o mais complexo e rduo trabalho que podemos realizar, afinal somos indviduos, e como indivduos possumos caractersticas individuais, peculiares. (Giddens, A. Sociologia, Porto Alegre: Artmed,2005). Os dedos das mos fazem parte de uma mesma estrutura certo? Mas ele so iguais?

Em uma coisa todos os socilogos concordam, que a Sociologia uma disicplina na qual deixamos de lado nossa viso pessoal do mundo para olhar mais cuidadosamente para as influncias que moldam nossas vidas e as dos outros (as) .A Sociologia no apenas um campo intelectual abstrato, mas tem implicaes prticas mais importantes para as vidas das pessoas. Aprender a tornar-se um socilogo no deveria ser um esforo acadmico maante, a melhor forma de se evitar isso abordar o assunto pesquisado de um modo imaginativo e relacionar idias e achados sociolgicos a situaes de nossas vidas. (Giddens, A. Sociologia, Porto Alegre: Artmed,2005).

Uma forma de fazer isso estar consciente das diferenas entre os modos de vida, que ns, nas sociedades modernas, tomamos por normais e aqueles de outros grupos humanos. Ainda que os seres humanos tenham muito em comum, h muitas variaes entre diferentes sociedades e culturas. A prtica da sociologia envolve a habilidade de pensar imaginativamente e afastar-se de idias preconcebidas sobre a vida social.A Sociologia nos fornece os meios de aumentar nossas sensibilidades culturais, permitindo que as polticas se baseiem em uma conscincia de valores culturais divergentes. (Giddens, A. Sociologia, Porto Alegre: Artmed,2005).

Para compreendermos a sociologia temos de estar conscientes de ns prprios como seres humanos entre outros seres humanos.Ao procurarmos ampliar a nossa compreenso dos processos humanos e sociais e adquirir uma base crescente de conhecimentos mais slidos acerca desses processos, isto j constitui uma das tarefas fundamentais da Sociologia. Tambm neste mbito as pessoas verificam que esto sujeitas a foras que as coagem. Procuram compreend-las para que com a ajuda desse conhecimento, possam adquirir um certo controle sobre o discurso cego dessas foras compulsivas, cujos efeitos so muitas vezes destruidores e destitudos de qualquer significado. O objetivo orientar essas foras de modo a encontrar-lhes siginificados, tornando-as menos destruidoras de vidas e de recursos. Daqui decorre ser fundamental para o ensino da Sociologia e para sua prtica de investigao, a aquisio de uma compreenso geral dessas foras e um aumento de conhecimentos seguros das mesmas, atravs de campos especializados de investigao.

Atividade II

1 Cite um exemplo da vida em sociedade e de como a Sociologia poderia explic-lo:

2 Cite uma das utilidades da Sociologia para a compreenso da vida dos indivduos:

3 Voc a favor de um ensino mdio somente com a aprendizagem de conhecimentos tcnicos ou tambm acha que se devem aprender os conhecimentos das reas humanas? Justifique sua resposta.

4 Procure em jornais e revistas ou na internet notcias que divulgam dados decorrentes de anlises quantitativas e outras que se valem de anlises qualitativas.Escolha uma notcia que lhe parece mais embasada(fundamentada, crvel).

5 Quais so os mtodos de pesquisa utilizados nas pesquisas das cincias sociais? O que decisivo para a garantia do sucesso em uma pesquisa?

Grupos sociais e construo de identidades

Conceituando o termo Identidade

Ao pensarmos Identidade somos remetidos quase que imediatamente ao RG, nosso registro civil, que possu um nmero para nos identificar e uma srie de outras informaes que nos tornam reconhecveis para o sistema, aos olhos da lei, para questes burocrticas etc. Nele constam nossa naturalidade indicando em que estado nascemos, nacionalidade, indicando nosso pas, filiao e data de nascimento; contudo o termo Identidade tem um significado muito mais complexo e abrangente, afinal no podemos ser resumidos apenas em um nmero. Para Jurandir Freire Costa (1989), ()a identidade tudo que se vivencia (sente, enuncia) como sendo eu, por ocasio quilo que se percebe ou anuncia como no-eu (aquilo que meu; aquilo que outro) () a identidade no uma experincia uniforme, pois formulada por sistemas de representaes diversos. Cada um destes sistemas corresponde ao modo como o sujeito se atrela ao universo scio-cultural. Existe assim, uma identidade social, tnica, religiosa, de classe; profissional, etc.

Ns no nascemos j com uma identidade pronta, alis segundo o filsofo Henri Bergson construmos o nosso eu todos os dias, ou seja, desde a mais tenra infncia vamos nos construindo como indivduos nicos, esse processo nunca acaba, iremos construir e reconstruir nossas identidades ao longo da vida. O indivduo nunca a constri sozinho: depende tanto dos julgamentos dos outros como das suas prprias orientaes e autodefinies. A identidade um produto de sucessivas socializaes. (DUBAR, Claude. A Socializao Construo das Identidades Sociais. Porto Editora. Lisboa. Portugal. 1997)

A sociedade humana formada por pessoas que tm necessidade uma das outras para continuarem a espcie, buscarem seus objetivos, e sobreviverem. uma imensa corrente que permite que o ser humano nasa, cresa e viva. O homem um animal social, pois tende a se agrupar atravs de propsitos, gostos, preocupaes e costumes em comum com outros indivduos, e assim formamos os chamados grupos sociais que, para a sociologia, aparecem enquanto um sistema de relaes e de interaes recorrentes entre pessoas.

Uma tendncia natural do ser humano a de procurar uma identificao em algum ou em alguma coisa, ou seja o sentimento de pertencimento ou identificao. Quando uma pessoa se identifica com outra e passa a estabelecer um vnculo social com ela, ocorre uma associao humana. Com o estabelecimento de muitas associaes humanas, o ser humano passou a organizar os grupos sociais.

Grupo social uma forma bsica de associao humana que se considera como um todo, com tradies morais e materiais. Para que exista um grupo social necessrio que haja uma interao entre seus participantes. Os grupos sociais possuem uma forma de organizao, mesmo que subjetiva, se diferem quanto ao grau de contato de seus membros, e pode ser definido como uma reunio de pessoas, interagindo umas com as outras, e por isso capazes de ao conjunta, visando atingir um objetivo comum compartilham os mesmos interesses, portanto partilham idias.

Principais grupos sociais:

Grupo familiar famlia;

Grupo vicinal vizinhana;

Grupo educativo escola, universidade, curso etc.;

Grupo religioso igreja;

Grupo de lazer clube,etc;

Grupo profissional empresa, etc;

Grupo poltico Estado, partidos polticos;

Caractersticas de um grupo social:

Pluralidade de indivduos h sempre mais de um indivduo no grupo; Interao social os indivduos comunicam-se uns com os outros; Organizao todo grupo, para funcionar bem precisa de uma ordem interna; Objetividade e exterioridade quando uma pessoa entra no grupo ele j existe, quando sai ele permanece existindo; Objetivo comum unio do grupo para atingir os mesmos objetivos; Conscincia de grupo ou pertencimento (sentimento de ns) compartilham modos de agir, pensamentos, idias, etc. Continuidade necessrio ter uma certa durao. No pode aparecer e desaparecer com facilidade.

Classificao dos grupos sociais:

Grupos primrios predominam os contatos primrios, mais pessoais e diretos, como a famlia, os vizinhos, etc.

Grupos secundrios so mais complexos, como as igrejas e o estado, em que predominam os contatos secundrios, neste caso, realizam-se de forma pessoal e direta, mas sem intimidade ou de maneira indireta como emails, telegramas, telefonemas, etc.

Grupos intermedirios so aqueles que se alternam e se complementam as duas formas de contatos sociais (primrios e secundrios). Ex: escola.

Outras formas de agrupamentos sociais so:

Agregados sociais: uma reunio de pessoas que mantm entre si o mnimo de comunicao e de relaes sociais. Podemos destacar a multido, o pblico, e a massa.

Caractersticas da multido:

FALTA DE ORGANIZAO: no possui um conjunto de normas.

ANONIMATO: no importa quem faz parte da multido, a identidade.

OBJETIVOS COMUNS: os interesses, as emoes, e os atos tm o mesmo sentido.

INDIFERENCIAO: todos so iguais perante a multido, no h espao para manifestar as diferenas individuais.

PROXIMIDADE FSICA: os componentes da multido ficam em contato direto e temporrio uns dos outros.

Pblico: um agrupamento de indivduos que seguem os mesmos estmulos. No se baseia no contato fsico, mas na comunicao recebida atravs dos diversos meios de comunicao. Ex: indivduos assistindo a um jogo todos que esto juntos recebem o mesmo estmulo - a reunio ocasional.

Opinio pblica: modo de pensar, agir, e sentir de um pblico.

Massa: formada por indivduos que recebem opinies formadas atravs dos meios de comunicao de massa.

Diferena entre pblico e massa: Pblico recebe a opinio e pode opinar.

Massa predomina a comunicao transmitida pelos meios de comunicao de massa.

Toda a sociedade tem uma srie de foras que mantm os grupos sociais. As principais so a liderana, as normas e sanes sociais, os valores sociais e os smbolos sociais.

Liderana: a ao exercida por um lder, aquele que dirige o grupo. A dois tipos: Liderana institucional - autoridade varia de acordo com a posio social ou do cargo que o indivduo ocupa no grupo. Ex: Diretor de uma fabrica. Liderana pessoal autoridade varia das qualidades pessoais do lder (inteligncia, poder de comunicao, carisma, atitudes). Ex: Getulio Vargas, Adolf Hitler, etc.

Normas sociais: regras de conduta de uma sociedade, que controlam e orientam o comportamento das pessoas. Indica o que permitido e o que proibido.

Sano social: uma recompensa ou uma punio que o grupo determina para os indivduos de acordo com o seu comportamento social. aprovativa quando vem sob a forma de aceitao, aplausos, honras, promoes. reprovativa quando vem sob a forma de punio imposta ao indivduo que desobedece a alguma norma social. Ex: insulto, zombaria, priso, pena de morte.

Valores sociais: variam no espao e no tempo, em funo de cada poca, gerao e cada sociedade, ou seja so temporais, podemos dizer que valores sociais podem ser anlogos a moral, por exemplo, cada perodo da histria tem um conjunto de valores sociais que formam a moral vigente da poca. Ex: o que bonito para os jovens nem sempre aceito pelos mais velhos. As roupas, os cabelos, modo de danar, as idias, o comportamento, enfim, entram em choque com os valores sociais j estabelecidos e cultivados por seus pais, criando uma certa tenso entre jovens e adultos.

Smbolos: algo cujo valor e significado lhe atribudo pelas pessoas que o utilizam. Ex: a aliana que simboliza a unio de casais.A linguagem um conjunto de smbolos. Podemos dizer que todo o comportamento humano simblico e todo o comportamento simblico humano, j que a utilizao de smbolos exclusiva do homem.

Sistema de status e papis: A posio ocupada por um indivduo no grupo social denomina-se status social.

Status social: implica direitos, deveres, prestgio, e at privilgios, conforme o valor social conferido a cada posio. Dependendo de como o indivduo obtm seu status pode ser classificado como:

Status atribudo: no escolhido pelo indivduo, e no depende de si prprio. Ex; irmo caula, filho de operrio, irm mais velha.

Status adquirido: depende das qualidades pessoais do indivduo, de sua capacidade, e habilidade. So status adquiridos atravs de anos de luta e competio, supe a vitria sobre os rivais. A pessoa demonstra superioridade. Ex: classe alta.

Papel social: so comportamentos que o grupo social espera de qualquer pessoa que ocupe determinado status social.Corresponde s tarefas e obrigaes atribudas de acordo com o status do indivduo.

Estrutura e organizao social

Estrutura social: a totalidade dos status existentes num determinado grupo social ou numa sociedade.

Organizao social: o conjunto de todas as aes que so realizadas quando os membros de um grupo desempenham seus papeis sociais.

Assim, enquanto a estrutura social da a idia de algo esttico, que simplesmente existe, a organizao social d a idia de uma coisa que acontece.A estrutura social se refere a um grupo de partes ex: reunio de indivduos enquanto a organizao social se refere s relaes que se estabelecem entre essas partes.Quanto mais complexa a sociedade, mais complexa e maior ser a sua estrutura e organizao social.Tanto a estrutura quanto a organizao social no permanecem sempre iguais. Elas podem passar, e passam com freqncia, por um processo de mudana social.

Atividade I

1- Disserte acerca dos grupos sociais que voc conhece e faz parte e faa uma autodefinio.

2- Pesquise: Quais so os Valores, normas e sanes sociais vigentes em nossa sociedade.

3- Pesquise: O que moral.

Identidades nacionais - tnico-raciais e diferenas culturais

Quando falamos em identidade ou identidades devemos sempre estar bastante atentos (as), pois trata-se de um tema que envolve comportamentos, sentimentos, o modo de ser, de viver e de amar de cada um, e tudo isso carregado de uma histria de vida, ocorrida dentro de um determinado contexto social, com laos familiares e afetivos especficos, recheada de crenas e valores peculiares.

A identidade de um indivduo nica, identidade designa algo como uma compreenso de quem somos, nossas caractersticas definitrias fundamentais como seres humanos. TAYLOR, Charles. A poltica do reconhecimento. In. Argumentos filosficos. So Paulo: Loyola, 2000, p. 241.

Aprenderemos aqui um pouco mais sobre essas caractersticas que nos definem, em primeiro lugar vamos falar sobre identidade nacional. A caracterizao da identidade nacional uni-se, primeiramente existncia da identidade cultural, bem, j sabemos o que cultura, mas vale lembrar que a cultura nossa herana social, nesse sentido, como brasileiros e brasileiras que somos, sofremos influncias dos portugueses, negros, ndios e imigrantes de vrios pases como os italianos. Temosuma identidade cultural forte, baseada em uma lngua comum, na miscigenao, comidas tpicas, a arte barroca, a natureza exuberante, nossa msica etc.

Para que exista uma identidade nacional necessrio que opovo possua a conscincia de nao, a nao uma construo coletiva a partir de uma identidade nacional. Desta forma, imperioso que, alm da identidade cultural, exista um projeto nacional de desenvolvimento, a compreenso de identidade nacional tambm envolve aspectos geogrficos, jurdicos ou diplomticos. Temos exemplos de pases que possuem uma forte identidade cultural, como o Brasil, e outros detentores de uma elevada conscincia de nao, apesar de no ter um grau elevado de identidade cultural.

Assim, podemos definir identidade nacional como o somatrio de valores culturais resultante da vivncia, que, apesar de incluir as diferenas regionais e peculiaridades grupais, passvel de caracterizao por um trao que permita a definio de um perfil diversificado, contudo hegemnico baseado em habitante (homem), territrio, instituies, lngua, costumes, religies e histria comuns.

Atividade II

Pesquise e reflita: O que nos define como brasileiros?

A identidade brasileira proveniente do nascimento da nao, representado pelo idioma, etnias, bem como atravs do solo, clima, vegetao e relevo. Nossa base cultural foi constituda pelo amlgama do processo de integrao de portugueses, negros, ndios e imigrantes de vrios pases do mundo.

Umaetnia ou um grupo tnico uma comunidade humana definida por afinidades lingusticas e culturais. Estas comunidades geralmente reivindicam para si umaestrutura social,polticae umterritrio.A palavra etnia usada muitas vezes de forma equivocada como um sinnimoparagrupo minoritrio ou como umeufemismopara raa, embora no possam ser considerados como iguais.A diferena reside no fato de que etnia tambm compreende os fatores culturais, como a nacionalidade, aafiliao tribal, aReligio, a lngua e as tradies, enquanto raa compreende apenas osfatores morfolgicos, como cor depele, constituio fsica, estatura, trao facial, etc.(Fonte: Wikipdia)

Segundo o antroplogo noruegus Fredrik Barth (1984), a identidade tnica se expressa pelo ato de um grupo poder contar "com membros que se identificam a si mesmos e so identificados pelos outros". Desse modo a construo da identidade tnica tem na auto-afirmao sua grande base fundadora. Ainda que as anlises culturais sejam essenciais, a etnicidade no pode ser genelarizada por aes da cultura. Barth acentua que o fato de compartilhar cultura comum pode ser visto como conseqncia no como fato causa dos grupos tnicos e suas identidades.

A reao diante da alteridade faz parte da natureza das sociedades. Em todas as pocas, sociedades reagiram de forma especfica diante do contato com uma cultura diversa sua, ou seja com pessoas com costumes, crenas, valores, vestimentas , enfim com o modo de ser, de viver, de sentir distinto ao seu. Um fenmeno comum, porm, caracteriza todas as sociedades humanas: o estranhamento, a que chamamos etnocentrismo. Diante de costumes de outros povos, a avaliao de formas de vida distintas se deu a partir dos elementos das suas prprias culturas.(Curso de especializao em gnero e sexualidade/Organizadores: Carrara,Srgio[et al]. Rio de Janeiro: CEPESC;Braslia, DF : Secretaria especial de polticas pblicas para as mulheres, 2010.)

Todas as culturas definem o que as pessoas devem usar como vestimenta e adorno. Muitas vezes, a nossa, cultura ocidental, se negou a ver nas pinturas corporais ou em adornos e adereos dos grupos indgenas sul-americanos os correspondentes s roupas impostas por ela, e criou a idia de que o ndio/a andaria pelado/a, avaliando tal comportamento como errado. (Curso de especializao em gnero e sexualidade/Organizadores: Carrara,Srgio[et al]. Rio de Janeiro: CEPESC;Braslia, DF : Secretaria especial de polticas pblicas para as mulheres, 2010.)

Marcadores sociais de diferena

Quando examinamos, fazemos uma anlise das sociedades, identificamos imediatamente a existncia de diversidades e desigualdades sociais.Muitas das diferenas entre os indivduos so de natureza humana como por exemplo, gnero, cor da pele, idade, altura etc. Contudo as desigualdades sociais so produto das relaes estabelecidas entre os indivduos, como vimos anteriormente ao estudarmos classes sociais e o sistema capitalista, estas refletem os conflitos de interesses de grupos ou indivduos em relao aos outros grupos ou indivduos que, geralmente, colocam todos na condio de opressores e oprimidos.

Historicamente vimos que o capitalismo apresenta um grande conflito: a luta entre burgueses e proletrios.No entanto, a histria do sculo XX apresenta outros conflitos de interesses que vo muito alm da diviso da sociedade em classes: conflitos entre os gneros (homens e mulheres), adultos e jovens, brancos e no-brancos, minorias tnicas, heterossexuais e homossexuais.

As mulheres a partir do sculo XIX, e os jovens e as minorias sexuais, a partir dos anos de 1960, passaram a demonstrar sua revolta de forma coletiva.No sculo XX os negros e outras etnias demonstraram sua fora, nas lutas pelos direitos civis nos EUA, pelo fim do apatheid na frica do Sul e pelo fim do racismo, no renascimento do movimento negro no Brasil e na luta dos palestinos.

Apesar da fora social dos movimentos construdos pelos oprimidos, dos milhes de vidas sacrificadas em nome da igualdade de direitos e da liberdade, a histria desses grupos no animadora.Sabemos que as condies de trabalho melhoraram, mas as melhorias foram limitadas aos pases imperialistas centrais, e a grande maioria dos trabalhadores ainda explorada, de forma semelhante ao sculo XIX.A cada dia morre mais seres humanos de fome que no tempo da escravido.Os oprimidos ajudaram a fundar partidos, sindicatos e associaes, mas a maioria destas entidades ainda no conseguiu reverter as condies subhumanas dos subjugados da histria.

Muitos indivduos so submetidos a uma srie de discriminaes e preconceitos s pelo fato de pertencerem a uma determinada categoria de pessoas.A opresso, para se justificar, faz uso de um sistema de idias a que chamamos de ideologia.

Existem ao menos cinco situaes de desigualdade e opresso: de classe, de gnero, de gerao, de raa/etnia e de orientao sexual.

As desigualdades de classe Como aprendemos, as desigualdes sociais se formaram em consequncia da distribuio desigual de renda, do excedente de riqueza produzido pelas sociedades. As sociedades agrcolas antigas eram capazes de produzir uma quantidade de alimentos superior as necessidades, isso proporcionou a uma pequena camada da populao o privilgio de deixar de trabalhar e viver do trabalho alheio.

As vrias classes sociais dominantes se caracterizaram por apropriarem-se, em modo e em tempos diversos, do excedente de riqueza produzida pelas classes subalternas.O sistema econmico dominante em cada poca se esfora em manter separadas as classes sociais e reduzir ao mnimo as possibilidades de ascenso social.Isso ocorre atravs do sistema escolar, separao territorial de classes sociais: Rio de janeiro Zona Oeste, favelas, subrbios, zona norte e zona sul, ideologia etc.

Contudo o sistema capitalista fez da iluso da asceno social ou da mobilidade social um dos pilares de sua ideologia. Hoje, haveriam trs classes fundamentais nos pases imperialistas e no Brasil se seguirmos as teorias de Marx: o proletariado, a burguesia e a pequena burguesia. Mas com a realidade imposta pelo neoliberalismo, encontramos tambm milhes de indivduos totalmente excludos de qualquer relao social, poltica e econmica.

As desigualdades de gnero Desde a antiguidade vrias sociedades mantiveram a supremacia masculina, esta dominao provocou a escluso sistemtica das mulheres da poltica, do governo, da literatura, da arte, com exceo de raros e relevantes momentos. Esta a excluso mais sistemtica j praticada na histria da humanidade.A herana desta histria de dominao masculina se expressa hoje de diversas formas, entre elas: o uso da violncia institucionalizada e domstica, a legislao discriminante, dependncia econmica ao marido e ao pai, alm claro da coisificao da mulher etc.

Chamamos machismo ideologia que, atravs de diversas formas, os homens justificam a opresso que exercem. Entretanto as caractersticas do sistema capitalista favorecem a insero da mulher no mercado de trabalho e isso fez com que elas pudessem sair em parte claro, do prprio isolamento.

As primeiras revoltas contra a opresso feminina ocorreram no final do sculo XIX, a partir dos movimentos pelo voto universal (sufragistas) e daqueles ligados ao movimento operrio.No podemos esquecer que durante a Revoluo francesa as mulheres foram de extrema importnca para o movimento, inclusive foram as peixeiras de Paris, em marcha para Versalhes que retiraram rei e rainha do palcio a fora, e tambm foram as mulheres que foram as ruas reclamando do preo do po e muitas outras atrocidades cometidas pelos monarcas deste perodo Luis XVI e Maria Antonieta.

Essas lutas ganharam maior impulso nos anos de 1960, quando os espaos conquistados pelas mulheres representaram uma transformao sem precedentes na prpria condio feminina. Mas infelizmente a discriminao persiste e se manifesta desde piadas at mesmo na legislao contrria ao divrcio que ainda sobrevive em muitos pases, na violncia domstica, na discriminao no local de trabalho etc.Mas as mulheres aqui no Brasil tiveram uma conquista recente e muito importante: a Lei Maria da Penha - aleinmero 11.340 decretada peloCongresso Nacionale sancionada pelo ento presidente doBrasilLuiz Incio Lula da Silvaem7 de agostode2006; dentre as vrias mudanas promovidas pela lei est o aumento no rigor das punies das agresses contra amulherquando ocorridas no mbito domstico ou familiar. A leientrou em vigorno dia22 de setembrode2006, e j no dia seguinte o primeiro agressor foi preso, noRio de Janeiro, aps tentar estrangular a ex-esposa.

As desigualdades de gerao A especificidade da opresso sobre os jovens sua transitoriedade.Uma vez adulto, o jovem poder se transformar em opressor, esquecendo as prprias condies nas quais viveu como oprimido.Apesar disso os jovens sempre se rebelaram diante das regras sociais impostas.A sua luta, contudo, foi, at pouco tempo, escondida e isolada no espao domstico. O advento do sistema escolar de massa fez com que eles se encontrassem, criando espaos coletivos como manifestaes, ocupaes, contestaes,greves, expresses culturais alternativas.

Habitualmente, os jovens se organizam em associaes bem estruturadas, como grmios escolares, DCEs, DCAs, centros sociais etc. caracterizadas por um baixo grau de formalismo ( larga participao etc.). A opresso contra jovens se manifesta hoje na sociedade atravs da discriminao no trabalho ( baixos salrios, desemprego, explorao), na limitao dos direitos civis (violncia domstica, etc.). Felizmente este quadro j vem se modificando a bastante tempo, embora ainda existam algumas questes a serem examinadas amplamente, como o primeiro emprego, a situao dos estagirios etc.

A desigualdade racial Esse tipo de opresso bem antigo, quando haviam diversas etnias que guerreavam entre si.Entretanto estes conflitos no ocasionavam grandes tragdias, como as que ocorreram e ocorrem ainda hoje.Alm disso no tinham como consequncia a dominao de uma etnia pela outra.Com a diviso da sociedade em classes, verificou-se o estabelecimento da condio de escravos para os derrotados. A palavra escravo tem origem no nome do povo Eslavo, entre o qual na antiguidade se recrutava o maior nmero de escravos. Aps os grandes imprios submeteram povos inteiros escravido ou ao pagamento de tributos para sustentar os governos dominadores.

A luta dos povos e etnias oprimidas em determinadas sociedades marcou pocas e no h perspectivas de sua eliminao no atual sistema capitalista.Em pocas passadas eram naes dominadas pelo centro econmico europeu ( chineses, indianos, africanos).

Esta opresso consiste frequentemente em sufocar costumes, hbitos sociais e, por conseguinte, a lngua, a religio, a cultura e a histria. Em determinadas situaes, a explorao econmica de uma etnia sobre outra se expressa atravs de discriminaes no mercado de trabalho. Esta opresso sempre provocou reaes, como lutas por um autogoverno ou pela autodeterminao dos povos.Naes e etnias oprimidas como os palestinos e os negros no Brasil,tm obviamente culturas prprias,elaborando,assim, suas prprias idias.

O nacionalismo dos povos oprimidos e a auto-estima dos negros brasileiros no podem ser confundidos com aquele nacionalismo que oprime ou com o racismo s avessas, pois estes so tambm opressores,j que significam, no fundo, a dominao de um grupo, ou nao sobre os outros.

A desigualdade de orientao sexual - A opresso contra gays e lsbicas se expressa sob todas as formas socioeconmicas, em todas as sociedades,atravs da obrigao de seus membros de aderir a heterossexualidade. Quem se ope ao padro de normalidade estabelecido, ou seja, a heterossexualidade sempre punido ou considerado portador de uma doena, vtima de discriminao.

Esta discriminao variou de intensidade nas diferentes pocas, mantendo porm, uma absoluta continuidade, o famoso escritor Oscar Wilde sofreu com a codenao a partir do pargrafo 175 foi julgado culpado de "prticas estranhas natureza" e condenado a dois anos de trabalhos forados pelo tribunal de Old Baley.A condio de gay ou lsbica atacada de forma sistemtica pela sociedade. S o fato de haver grupos sociais que colocam em discusso a heterossexualidade visto por muitos como um atentado.

A discriminao no obviamente operativa se gays e lsbicas mantiverem na clandestinidade a prpria orientao sexual. no momento em que se assumem publicamente que comea a guerra contra eles.Essa discriminao atua em todos os setores: no local de trabalho, onde, alm de correrem o risco de demisso, so molestados pelos outros trabalhadores (as); na sociedade, que os impede de ter qualquer posto de comando; na famlia, em que a declarao de homossexualidade chega a gerar crises e chantagens de vrias naturezas.

A discriminao opera com tal violncia, fsica e psicolgica, que o indivduo no tem coragem de reconhecer nele mesmo a prpria essncia de sua orientao sexual. Porm, se h oprimidos, existem tambm os opressores.Estes se encontram geralmente nos heterossexuais,eles encontram uma srie de falsas vantagens de natureza quase exclusivamente psicolgica para contribuir com a opresso.

Tornar os homossexuais alvo de chacota e mostrar, em pblico, o desprezo para com eles, assegura a prpria identidade heterossexual para si mesmo e para os outros, mantendo assim a participao na normalidade sexual dominante.

Concluindo, alguns indivduos recebem salrios menores que outros mesmo tendo a mesma qualificao profissional, pois os fatores que determinam essa situao esto nas diversidades de etnia, gnero, orientao sexual e de gerao.Ou seja, essas diferenas entre os indivduos so transformadas, nas relaes sociais, em desigualdades. Portanto, quando ouvimos piadas, frases discriminatrias sobre mulheres, judeus, adolescentes, jovens, homossexuais e negros, elas reforam e refletem as desigualdades sociais.

Negros e negras no so incapazes, ignorantes, primitivos, bandidos, etc., e que por isso recebem menores salrios que os brancos. o modelo capitalista que se aproveita da ideologia da inferioridade racial para explorar ainda mais os trabalhadores e trabalhadoras e extrair mais-valia maior.As mulheres no so inferiores intelctualmente aos homens, no so apenas objetos, nem todas so fteis e desatentas, afinal existem homens com as mesmas caractersticas, portanto essas no so caractersticas exclusivas das mulheres e no so gerais, as mulheres possuem raciocnio lgico, senso de direo, essas afirmaes infundadas s servem para reforar a dominao masculina.Enfim, no mundo do trabalho, em qualquer profisso, alm das desigualdades de classe, certos indivduos podem sofrer duas, trs, quatro ou cinco vezes mais explorao e as desigualdades sociais.

Atividade I

Leia o poema abaixo:

O bicho

Vi ontem um bicho

Na imundcie do ptio

Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,

No examinava nem cheirava:

Engolia com voracidade.

O bicho no era um co,

No era um gato,

No era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

(Manoel Bandeira)

Reflita acerca do poema e relacione com o que aprendemos at aqui.

Atividade II

1 Caracterize, compare e d exemplos de diversidades humanas e desigualdades sociais

2 - Quais as principais caractersticas das cinco desigualdades apresentadas em nosso texto?

3 Cite pelo menos trs caractersticas comuns s cinco desigualdades.

ATIVIDADE III

1 Voc se encaixa em algum tipo de opresso/desigualdade relatada no texto?

2 Na sua opinio, como possvel a tomada de conscincia das opresses da parte de um indivduo se este sofre o peso da persuaso ideolgica e algumas vezes at com certa violncia?

3 Quais poderiam ser os mecanismos de luta contra as ideologias machistas, racistas e homfobas? E contra o preconceito e a discriminao contra jovens e contra a luta pela melhoria das condies de vida dos trabalhadores?

UNIDADE II

Esteretipos e estigmatizao, Discriminao e preconceito;

Multiculturalismo e polticas de reconhecimento

O etnocentrismo consiste em julgar, a partir de padres culturais prprios, como certo ou errado, feio ou bonito, normal ou anormal, os comportamentos e as formas de ver o mundo dos outros povos, desqualificando suas prticas e at negando sua humanidade. Assim, percebemos como o etnocentrismo se relaciona com o conceito de esteretipo, que consiste na generalizao e atribuio de valor (na maioria das vezes, negativo) a algumas caractersticas de um grupo, reduzindo-o a essas caractersticas e definindo os lugares de poder a serem ocupados. uma generalizao de julgamentos subjetivos, feitos em relao a um determinado grupo, impondo-lhe o lugar de inferior e de incapaz, no caso dos esteretipos negativos. No cotidiano, temos expresses que reforam os esteretipos: tudo farinha do mesmo saco; tal pai, tal filho; s podia ser mulher; nordestino preguioso; servio de negro; e uma srie de outras expresses e ditados populares especficos de cada regio do pas.(Curso de especializao em gnero e sexualidade/Organizadores: Carrara,Srgio[et al]. Rio de Janeiro: CEPESC;Braslia, DF : Secretaria especial de polticas pblicas para as mulheres, 2010.)

Os esteretipos so tambm uma maneira de biologizar as caractersticas de um grupo, isto , consider-las como fruto exclusivo da biologia, da anatomia. O processo de naturalizao ou biologizao das diferenas tnico-raciais, de gnero ou de orientao sexual, que marcou os sculos XIX e XX, vinculou-se restrio da cidadania a negros, mulheres e homossexuais. (Curso de especializao em gnero e sexualidade/Organizadores: Carrara,Srgio[et al]. Rio de Janeiro: CEPESC;Braslia, DF : Secretaria especial de polticas pblicas para as mulheres, 2010.)

Uma das justificativas, at o incio do sculo XX, para a no extenso s mulheres do direito de voto, baseava-se na idia de que elas possuam um crebro menor e menos desenvolvido do que o dos homens.A homossexualidade, por sua vez, era tida como uma espcie de anomalia da natureza, ou seja, uma doena. Nas democracias modernas, desigualdades naturais podiam justificar o no acesso pleno cidadania. No interior de nossa sociedade, encontramos ainda uma srie de atitudes etnocntricas. Muitos acreditaram que havia vrias raas e sub-raas, que determinariam, geneticamente, as capacidades das pessoas, hoje sabemos que isso no verdade. (Curso de especializao em gnero e sexualidade/Organizadores: Carrara,Srgio[et al]. Rio de Janeiro: CEPESC;Braslia, DF : Secretaria especial de polticas pblicas para as mulheres, 2010.)

Em se tratando de Brasil, no podemos deixar de falar nas religies de matriz africana, como o candombl e umbanda, resultado do sincretismo religioso. O sacrifcio animal em algumas crenas afro-brasileiras tem sido considerado sinnimo de barbrie, por praticantes de outros credos. Trata-se, contudo, simplesmente de uma forma especfica para que homens/mulheres entrem em contato com o divino, com os deuses, nesses casos, os orixs, cada qual com sua preferncia, no que diz respeito ao ritual de oferenda. Outras religies pregam formas diversificadas de contato com o divino, classificando e condenando as prticas do candombl, como erradas e brbaras, ou como feitiaria. (Curso de especializao em gnero e sexualidade/Organizadores: Carrara,Srgio[et al]. Rio de Janeiro: CEPESC;Braslia, DF : Secretaria especial de polticas pblicas para as mulheres, 2010.)

O preconceito de alguns segmentos religiosos tem levado seus seguidores a atacar e desrespeitar os chamados terreiros. O espiritismo kardecista, hoje praticado nas mais distintas partes do Brasil, foi durante muito tempo perseguido por aqueles que, adotando um ponto de vista catlico ou mdico, afirmavam serem as prticas espritas prprias de charlates. Se boa parte dos/as brasileiros/as se define como catlica, a verdade que somos um pas cruzado por mltiplas crenas, havendo divergncias at mesmo no interior do prprio catolicismo: somos um pas plural. A Constituio Brasileira garante a liberdade religiosa e de crena, e as instituies devem promover o respeito entre os/as praticantes de diferentes religies, alm de preservar o direito daqueles/as que no adotam qualquer prtica religiosa. No entanto, bastante comum encontrarmos crianas e adolescentes que exibem, com orgulho, para seus/suas educadores/as, os smbolos de sua primeira comunho, enquanto famlias que cultuam religies de matriz africana so pejorativamente chamadas de macumbeiras, sendo discriminadas por suas identidades religiosas. (Curso de especializao em gnero e sexualidade/Organizadores: Carrara,Srgio[et al]. Rio de Janeiro: CEPESC; Braslia, DF : Secretaria especial de polticas pblicas para as mulheres, 2010.)

O preconceito relativo s prticas religiosas afro-brasileiras est profundamente arraigado na sociedade brasileira, por essas prticas estarem associadas a negros e negras, grupo historicamente estigmatizado e excludo, e cujos cultos seriam contrrios ao cristianismo europeu. Vale lembrar que expresses culturais de matriz afro-brasileira como o samba, a capoeira e o candombl foram, durante dcadas, proibidos e perseguidos pela polcia. Isso mostra que essas prticas foram incorporadas aos smbolos nacionais no interior de processos extremamente complexos. O caso mais evidente o samba, que de msica de negros/as passou a ser caracterizado como msica nacional. As religies afro-brasileiras, no entanto, ainda enfrentam um profundo preconceito por parte de amplos setores da sociedade: h quem considere o candombl como dana folclrica, negando seu contedo religioso; h tambm quem o caracterize como prtica atrasada. Em ambos os casos, seu carter de religiosidade negado e no tomado no mesmo padro de igualdade de outras prticas e crenas. (Curso de especializao em gnero e sexualidade/Organizadores: Carrara,Srgio[et al]. Rio de Janeiro: CEPESC;Braslia, DF : Secretaria especial de polticas pblicas para as mulheres, 2010.)

Questes de gnero, religio, raa/etnia ou orientao sexual e sua combinao direcionam prticas preconceituosas e discriminatrias da sociedade contempornea. Se o esteretipo e o preconceito esto no campo das idias, a discriminao est no campo da ao, ou seja, uma atitude. a atitude de discriminar, de negar oportunidades, de negar acesso, de negar humanidade. Nessa perspectiva, a omisso e a invisibilidade tambm so consideradas atitudes, tambm se constituem em discriminao. (Curso de especializao em gnero e sexualidade/Organizadores: Carrara,Srgio[et al]. Rio de Janeiro: CEPESC;Braslia, DF : Secretaria especial de polticas pblicas para as mulheres, 2010.)

Atividade II

1 - Reflita: Por que ainda existe tanto preconceito e vises etnocentristas ainda so comuns mesmo em pleno sculo XXI?

2 O que so minorias?

3 Pesquise e disserte acerca das sufragistas, ou seja, das mulheres que lutaram pelo direito ao voto universal.

Cada grupo social tende a adotar determinada postura frente ao outro, essa seria justamente sua forma de representao. A afirmao social de uma representao tem como base fundamental a ao e a comunicao. Ela encadeia pensamento e linguagem o que permite a compreenso do mundo e assimilao das relaes que nele se estabelecem.

Para compreendermos quem somos em grupo, como coletividade, ou quem somos individualmente, como indivduos, dependemos da interpretao e do reconhecimento que nos dado pelos outros. Ningum pode edificar a sua prpria identidade independentemente das identificaes que os outros fazem dele Habermas (1983).

O reconhecimento pelos outros uma necessidade humana, j que o ser humano um ser que s existe atravs da vida social . De acordo com Taylor (1994), um indivduo ou um grupo de pessoas podem sofrer um verdadeiro dano, uma autntica deformao se a gente ou a sociedade que os rodeiam lhes mostram como reflexo, uma imagem limitada, degradante, depreciada sobre ele.

Um falso reconhecimento uma forma de opresso. A imagem que construmos muitas vezes sobre os portadores de deficincias, prostitutas, homossexuais, etc. deprimente e humilhante e causa-lhes sofrimento e humilhao, ainda mais por que tais representaes depreciativas so construdas quase sempre para a legitimao da excluso social e poltica dos grupos discriminados.Segundo Taylor (1994), a projeo sobre o outro de uma imagem inferior ou humilhante pode deformar e oprimir at o ponto em que essa imagem seja internalizada.

O preconceito seja ele do tipo que for, um atestado de insegurana, de autoritarismo, de absolutismo intelectual, enquadrando automaticamente em categorias classificatrias e pejorativas tudo aquilo que represente diferena. No fundo, viver em democracia est na proporo direta do quanto somos pessoal e coletivamente capazes de superar os nossos medos.

O esteretipo simplesmente o "rtulo" com que costumamos classificar certos grupos de pessoas, e muito mais comum do que possa parecer. introduzido no seio da sociedade e se agrega a psique das pessoas por meio de anedotas, frases feitas, contos populares etc, pois, desde a mais tenra idade, as pessoas so condicionadas a acreditar que certos grupos de pessoas esto ligados a determinados atributos ou caractersticas. (Otvio B. Lopes)

As sociedades contemporneas so heterogneas, ou seja, compostas por diferentes grupos humanos, classes e identidades culturais em conflito. Vivemos em sociedades nas quais os diferentes esto constantemente em contato.

O autor Stuart Hall (2003) identifica pelo menos seis concepes diferentes de multiculturalismo na atualidade, e sendo assim devemos falar em multiculturalismos.

Podemos definir multiculturalismo como uma srie de aes institucionais desenvolvidas na sociedade civil (a populao organizada em associaes, sindicatos, centros comunitrios etc.) e nos diversos nveis de poder da Repblica, aes voltadas para a compreenso do problema das diferenas e para a elaborao de projetos capazes de fazer frente aos mecanismos que permitem a reproduo das desigualdades, por isso mesmo Hall identificou seis concepes diferentes. A palavra multiculturalismo um termo tpico do contexto do mundo globalizado e constitui um dos mecanismos para lutar contra toda forma de intolerncia e em favor de polticas pblicas capazes de garantir os direitos civis e bsicos a todos (Mortari, 2002).

Os multiculturalismos nos ensinam que reconhecer a diferena reconhecer que existem indivduos e grupos que so diferentes entre si, mas que possuem direitos correlatos, e que a convivncia em uma sociedade democrtica depende da aceitao da idia de compormos uma totalidade social heterognea na qual:

a) no poder ocorrer a excluso de nenhum elemento da totalidade;

b) os conflitos de interesse e de valores devero ser negociados pacificamente;

c) a diferena dever ser respeitada.

A poltica do reconhecimento e as vrias concepes de multiculturalismo nos ensinam, enfim, que necessrio que seja admitida a diferena na relao com o outro, tolerar e conviver com a diversidade em harmonia, respeitando as diferenas.

O Brasil um pas plural e este o carter da sociedade e da cultura brasileira. Assim, quando se pensa uma cultura peculiar como a nossa, a existncia de diversas formas culturais expressa realidades diferentes, ligadas intensa diversidade interna do pas. Essa diversidade de cultura interna da sociedade brasileira envolve modos diversos de viver que devem ser estudados sem etnocentrismos, o que auxiliar a compreenso das diversas culturas e o conseqente respeito a elas, superando os preconceitos.

Fala-se sobre o respeito s diferenas, a diversidade e o direito de todos cidadania, o que aparenta, de fato, que qualquer um pode apossar-se desse discurso, que no s aprazvel, humanitrio, solidrio como tambm muito fcil de casar com o discurso neoliberal da atual sociedade, na qual h um mercado para tudo, e, portanto, um espao para todos.

Atividade III

1 Pesquise: O que estigmatizao

2 Pesquise, reflita e responda: O que so polticas de reconhecimento?

3 Caracterize, compare e d exemplos de diversidades humanas e desigualdades sociais.

4 Quais poderiam ser os mecanismos de luta contra as ideologias machistas, racistas e homfobas? E contra o preconceito e a discriminao contra os jovens?

UNIDADE III

Poder, autoridade e dominao

Quando falamos em poder logo nos vem a cabea : dinheiro, status social, poltica, monoplio, dominao etc. Da mesma forma, poder, dominao e autoridade esto em nosso imaginrio como coisas muito parecidas, at mesmo anlogas, no estamos totalmente errados quando pensamos assim, contudo precisamos esclarecer muitas coisas.

O poder pode ser tratado em relao a:

indivduos e grupos/classes sociais

objetos

fenmenos naturais

O Poder entre indivduos ou classes sociais tambm chamado de poder social. Quanto aos indivduos h o poder de um homem sobre outro homem, auto poder ou autocontrole. uma relao de comando-obedincia. Quanto aos grupos/classes sociais, estes dependem de dois fatores fundamentais para sua existncia: fora (que pode ser proveniente de prestgio, influncia ou mesmo do poder econmico) autoridade (pode ser de trs tipos, e estes so: autoridade hierrquica, paradigmtica e do saber manipulado)

Para o filsofo Aristteles h trs tipos de poder:

- desptico: regido pelo castigo por um delito cometido, poder do senhor sobre os escravos, exercido pelos interesses dos primeiros;

- paterno: natural, poder dos pais sobre os filhos;

- poltico: regido pelo consenso, poder do governador sobre os governados, exercido - teoricamente - pelos interesses dos ltimos.

Dois socilogos em especial precisam ser lembrados neste momento em que estamos aprendendo sobre o conceito de poder, Pierre Bourdieu e Max Weber. Segundo Pierre Bourdieu, os atores sociais interagem por meio de jogos, sem normas explcitas, nos quais as pessoas fazem suas escolhas de vida influenciadas pelo seu habitus, ou seja, no caminho percorrido para o alcance de seus objetivos o indivduo dominado pela situao econmica, poltica, cultural e social onde atua. Nem sempre a escolha a mais adequada do ponto de vista individual, porm, se analisada no mbito do seguimento social de onde se origina, essa lhe trar maior proveito dentro do grupo.

Bourdieu, por ter concebido uma das teses de maior importncia em se tratando de poder e dominao para a Sociologia, a do poder simblico, merece ser lembrado neste momento, para ele aparentemente o ator social pode escolher livremente a ao a ser tomada, porm, ele tende a optar por aquilo que ser mais apreciado do ponto de vista do contexto onde se situa o processo de sua existncia.

Para Bourdieu, o sistema educacional contribui para a existncia das desigualdades quando, no processo de seleo escolar, marginaliza aqueles pertencentes as classes populares e, ainda, refora as desigualdades entre os gneros quando conduz as aes e os comportamentos mais adequados ao ser feminino e o ser masculino.

Segundo ele, o poder exercido no Sistema de Ensino o poder simblico.

()O poder simblico, como poder de constituir o , dado pela enunciao, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a viso do mundo, e, deste modo a ao sobre o mundo, portanto o mundo; poder quase mgico que permite obter o equivalente daquilo que obtido pela fora( fsica ou econmica), graas ao efeito especfico de mobilizao, s se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignorado como arbitrrio.Isso significa que o poder simblico no reside nos sistemas simblicos () mas que se define numa relao determinada e - por meio desta entre os que exercem o poder e os que lhe esto sujeitos, quer dizer, isto , na prpria estrutura do campo em que se produz e se reproduz a crena. O que faz o poder das palavras e das palavras de ordem, o poder de manter a ordem ou de subverter, a crena na legitimidade das palavras e daquele que as pronuncia, crena cuja produo no da competncia das palavras()

(...) poder invisvel que s pode se exercer com a cumplicidade daqueles que no querem saber que a ele se submetem ou mesmo que o exercem.(Bourdieu, 1977, p.31)

O Socilogo fala de algo que est em toda parte e ignorado: o poder simblico. o poder simblico , com efeito, esse poder invisvel o qual s pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que no querem saber que lhe esto sujeitos ou mesmo o exercem. ( p. 8 )

Para ele, este poder quase mgico, na medida em que permite obter o equivalente ao que obtido pela fora, graas ao efeito especfico de mobilizao. Todo poder simblico um poder capaz de se impor como legtimo, dissimulando a fora que h em seu fundamento e s se exerce se for reconhecido, todo poder verdadeiro age enquanto poder simblico. O poder simblico , para Bourdieu, uma forma transformada, irreconhecvel, transfigurada e legitimada das outras formas de poder. (Bourdieu, 1977, p.408-11).

As teses desenvolvidas por Pierre Bourdieu, remetem reflexo sobre a ordem constituda e aceita por todos como legtima e convoca os grupos sociais mobilizao no sentido de buscarem o reconhecimento dos mecanismos que levam a aceitao do domnio do outro sobre o outro e, assim promover a ruptura do crculo vicioso.

Poder significa a probabilidade de impor a prpria vontade, dentro de uma relao social, ainda que contra toda resistncia e qualquer que seja o fundamento dessa probabilidadeEconomia e Sociedade Max Weber.Para Weber, o conceito de poder sociologicamente amorfo (sem forma definida), havendo uma srie de circunstncias que colocam uma pessoa na posio de impor sua vontade devendo, portanto, o conceito de dominao ser mais preciso: dominao a probabilidade de que um mandado seja obedecido, lembram dos trs tipos de dominao segundo Weber aprendidos no primeiro ano?. Segundo Weber o poder :

(...) a possibilidade de que um homem, ou um grupo de homens, realize sua vontade prpria numa ao comunitria, at mesmo contra a resistncia de outros que participam da ao.(Weber, 1982, p.211)

Ao analisar o poder nas estruturas polticas, Weber enfatiza o uso da fora, comum a todas elas, diferindo apenas a forma e a extenso como a empregam contra outras organizaes polticas. Analisa o clientelismo, o nepotismo e a influncia social, poltica ou ideolgica exercida pelos detentores do poder econmico e poltico. O poder na sociedade de classes analisado a partir da concepo de ordem jurdica, cuja estrutura influi, diretamente, na distribuio do poder econmico, ou de qualquer outro, dentro de uma comunidade. O poder econmico distingue-se do poder como tal, podendo ser conseqncia ou causa do poder existente por outros motivos. Para Weber (1982, p.268), as classes tm sua oportunidade determinada pela existncia ou no de maior ou menor poder para dispor de bens ou habilidades em seu prprio benefcio.

Outra pensadora de suma importncia em se tratando de conceituar o poder a filsofa Hannah Arendt, conhecida terica do inconformismo, pensadora da liberdade, para Hannah Arendt, o poder se constitui na unio dos homens, ou seja, ele no pode ser considerado posse de ningum, pois se encontra disperso e apenas nasce quando os homens se agrupam publicamente a fim de exercer suas liberdades de comunicao. A partir do momento que os homens se desligam uns dos outros, o poder desaparece. (HABERMAS, 2003, p. 186).

Desde Maquiavel, tem-se construdo uma perspectiva que leva-nos a entendermos o Poder como sinnimo de violncia e, por esse motivo, surgiuaidia no senso comum de que ao se afastar do Poder, afasta-se tambm da violncia. No entanto,HannahArendt coloca que, ao se afastar do poder, h o esvaziamento do espao pblico, espao esse que deve ser preenchido pelos homens em coletividade.

Os grandes males da humanidade e as maiores atrocidades foram causados justamente por esse esvaziamento do espao pblico, o espao que a coletividade deveria ocupar, em que deveria exercer o poder. Quando no ocupa este espao, participa negativamente (omisso).EmHannahArendt h uma predominncia da coletividade, justamente porque ela coloca o homem como um ser coletivo.A filsofa no parte de uma conscincia e responsabilidade individual, mas sim coletiva, onde os cidados devem ocupar o espao pblico, como seres coletivos e polticos que so.Aquele que no ocupa o espao, aquele que diz no gostar de poltica, deixa seu espao aberto para que outro o ocupe, visto que este no pode ficar vazio e nunca fica vazio. Assim, no deve afastar-se do poder, mas ocupar o correspondente espao de forma consciente.

Tipos de poder

- PODER FORMAL

Tipo de poder que est ligado ao Direito, representado pelo governo smbolo de ordem, ordem esta que no est na figura do presidente, mas nos grupos que o sustentam.Constitui os poderes Executivo, Legislativo e Judicirio.

- PODER REAL (CONCRETO)

Exige certas condutas para sua existncia, afinal, elas organizam e ajudam no exerccio da sua ideologia. Essas condutas so a utilizao de meios para manter a estabilidade no poder:

dinheiro

igreja

meios de comunicao

So os chamados sustentadores de poder

Efetivamente exercem o mando

Traduzem, nas leis, seus interesses e suas esperanas

So aqueles que (aparecendo ou no) comandam a infra e a superestrutura de um dado Estado.

- PODERES FORMAL E REAL

Devem concordar com a sociedade que, por sua vez, dinmica;

Ambos devem estar bem interligados para impedir que grupos de menor poder consigam ascender;

A preocupao maior deve estar com o poder formal, j que, por fato (previsto ou criado) pode vir a perder suas funes;

O poder real se constitui num ser, ou seja, num fenmeno observvel, discutvel;

O poder formal, embora empiricamente observvel enquanto fenmeno, constitui-se num dever-ser;

Ambos devem ser polticos, pois todo homem poltico, a prpria opo apoltica uma opo poltica.

- PODER LEGTIMO (E ILEGTIMO)

muito ligado com a autoridade, pois a aceitao por suas qualidades pessoais ou ideolgicas caracteriza a legitimidade;

Todo poder deve ser legtimo porque todos eles necessitam de um mnimo de aceitao;

Direito legtimo aquele que demonstra a composio e tenses dos grupos sociais que determinam a sociedade:

- Quanto legitimidade: substitui a fora fsica que todo Estado legal possui; um objetivo constante tanto dos governos democrticos quanto dos ditatoriais; primeiramente h uma fase constitutiva ou gentica e aps h a fase da manuteno.

A maioria da populao que produz a legitimidade, assim sendo, deveria estar com o monoplio do poder.O direito legtimo deveria ser plural, formado pelo senso comum, tornando a sociedade consensual, harmnica.

PODER DISCIPLINAR

A disciplina de extrema importncia para exercer o poder;

A mesma - a disciplina - est intimamente ligada s normas jurdicas e tem nela um dos agentes mais eficazes;

Com a sua aplicao, todos os contrrios que insurgirem so automaticamente excludos da vida em sociedade;

Muitas vezes a excluso vem mascarada de boa ao, quando um louco internado, um menor vai para uma instituio;

Tudo segue a uma ideologia do poder, na defesa dos interesses dos poderosos;

O Direito ordem e disciplina e o poder disciplinador no pode nem poder viver sem ele;

- PODER CONTROLADOR

O poder, para o seu pleno exerccio, necessita do monoplio do controle de seus destinatrios;

O controle realizado atravs das normas, sano, fora, organizao, distanciamento;

Deve ser o tutor dos interesses coletivos;

O interesse privado nunca poder prevalecer sobre o interesse pblico;

O poder exerce o controle atravs de trs pontos principais;

conceituao da publicidade;

atravs do primeiro na conceituao de privacidade;

organizao burocrtica;

A burocracia age para dar eficcia no empreendimento da administrao do interesse pblico;

O mundo fica governado em duas partes;

pblico (quando ser o objeto da administrao do poderio);

privado (quando ser objeto da administrao dos particulares);

- MACROPODER

um conjunto de faculdades de controle exercidas por um rgo de dominao;

Este controle sobre a totalidade de indivduos de um dado universo estatstico;

Quase sempre se expressa atravs da violncia, porque evoca para si a violncia legtima atravs das sanes legais;

geral, abrangente, sendo conhecido tanto como Estado como quanto entidades transestatais: Igreja, imprensa, multinacionais;

fonte formal das normas jurdicas;

H dois tipos de macropoder:

- explcito (representado pela Igreja, Estado, imprensa, porque aparecem em nossos sentidos e so empiricamente observveis)

- implcito (setores da vida social que no aparecem enquanto poder, autorizando outras pessoas fsicas ou jurdicas que o represente: banqueiros, multinacionais, enfim, detentores de poder em geral.

- MICROPODER

Consiste no controle das mentes, o sutil e eficaz controle dos limites da conscincia e das dimenses da alienao

preciso que cada ente desta sociedade saiba seu papel de obediente, aceite os comandos que lhe determinado

Se a sociedade seguir este padro, poder haver o pleno exerccio do poder, e este ser legtimo

Os pequenos setores da sociedade so manipulados para viverem e zelarem por esta forma de dominao

Isto por acreditarem ser este o verdadeiro convvio em sociedade

- REQUISITOS DO MICROPODER

preciso que:

pai obediente fornea sociedade filhos obedientes

funcionrios passivos e pacficos repitam a cada minuto os rituais da burocracia e o discurso ideolgico que os fundam

assistente social mitigue, anestesie os conflitos

Tambm faz-se necessrio que

psiclogo ajuste os indivduos aos padres corretos

professor ensine as verses oficiais

polcia zele pelos bons costumes

estranho, mas este tipo de poder defende que a escola forme exrcito de reserva.

Dominao

A maioria dos alunos e alunas que j estudaram Sociologia no primeiro ano do ensino mdio e, consequentemente j esto familiarizados com este conceito, dominao, entretando alguns no tiveram oportunidade, sendo assim voltaremos um pouco atrs para estudarmos os tipos de dominao existentes segundo o Socilogo alemo Max Weber.

Max Weber percebe de fato a dominao, dominao esta, assentada em uma verdadeira constelao de interesses, monoplios econmicos, dominao estabelecida na autoridade, ou seja o poder de dar ordens, por isso ele acrescenta a cada tipo de atividade tradicional, afetiva ou racional (como vimos no primiero ano, tipos de ao segundo este Weber) um tipo de dominao particular.Weber definiu as dominaes como a oportunidade de encontrar uma pessoa determinada pronta a obedecer a uma ordem de contedo determinado.E estabeleceu trs tipos de dominao:

Dominao Legal (onde qualquer direito pode ser criado e modificado atravs de um estatuto sancionado corretamente), tendo a burocracia como sendo o tipo mais puro desta dominao. Os princpios fundamentais da burocracia, segundo o autor so a Hierarquia Funcional, a Administrao baseada em Documentos, a Demanda pela Aprendizagem Profissional, as Atribuies so oficializadas e h uma Exigncia de todo o Rendimento do Profissional. A obedincia se presta no pessoa, em virtude de direito prprio, mas regra, que se conhece competente para designar a quem e em que extenso se h de obedecer. Weber classifica este tipo de dominao como sendo estvel, uma vez que baseada em normas que, como foi dito anteriormente, so criadas e modificadas atravs de um estatuto sancionado corretamente. Ou seja, o poder de autoridade legalmente assegurado.

Dominao Tradicional (onde a autoridade , pura e simplesmente, suportada pela existncia de uma fidelidade tradicional); o governante o patriarca ou senhor, os dominados so os sditos e o funcionrio o servidor. O patriarcalismo o tipo mais puro desta dominao. Presta-se obedincia pessoa por respeito, em virtude da tradio de uma dignidade pessoal que se julga sagrada. Todo o comando se prende intrinsecamente a normas tradicionais (no legais) ao meu ver seria um tipo de lei moral. A criao de um novo direito , em princpio, impossvel, em virtude das normas oriundas da tradio. Tambm classificado, por Weber, como sendo uma dominao estvel, devido solidez e estabilidade do meio social, que se acha sob a dependncia direta e imediata do aprofundamento da tradio na conscincia coletiva.

Dominao Carismtica (onde a autoridade suportada, graas a uma devoo afetiva por parte dos dominados). Ela assenta sobre as crenas transmitidas por profetas, sobre o reconhecimento que pessoalmente alcanam os heris e os demagogos, durante as guerras e revolues, nas ruas e nas tribunas, convertendo a f e o reconhecimento em deveres inviolveis que lhes so devidos pelos governados. A obedincia a uma pessoa se d devido s suas qualidades pessoais. No apresenta nenhum procedimento ordenado para a nomeao e substituio. No h carreiras e no requerida formao profissional por parte do portador do carisma e de seus ajudantes. Weber coloca que a forma mais pura de dominao carismtica o carter autoritrio e imperativo. Contudo, Weber classifica a Dominao Carismtica como sendo instvel, pois nada h que assegure a perpetuidade da devoo afetiva ao dominador, por parte dos dominados.

Max Weber notou que o poder racional ou legal cria em suas manifestaes de legitimidade a noo de competncia, o poder tradicional a de privilgio e o carismtico dilata a legitimao at onde alcance a misso do chefe, na medida de seus atributos carismticos pessoais.

Atividade I

1 - O socilogo alemo Max Weber (1864-1920) definiu dominao como a possibilidade de encontrar obedincia para ordens especficas (ou todas) dentro de determinado grupo de pessoas(WEBER, M. Economia e sociedade. Braslia: UnB, 1991. p. 139).

Em Weber este conceito est relacionado idia de autoridade e a partir dele possvel analisar a estrutura das organizaes e instituies como empresas, igrejas e governos. Na sociedade capitalista, dentre os vrios tipos de dominao existentes, predomina a dominao burocrtica ou racional. Assinale a alternativa que indica corretamente a quem se deve obedincia nesse tipo de dominao.

a) ordem impessoal, objetiva e legalmente estatuda e aos superiores por ela determinados, em virtude da legalidade formal de suas disposies.

b) Aos mais velhos, pois so eles os melhores conhecedores da tradio sagrada.c) Ao lder carismaticamente qualificado como tal, em virtude de confiana pessoal na sua capacidade de revelao, herosmo ou exemplaridade.

d) pessoa do senhor nomeada pela tradio e vinculada a esta, em virtude de devoo aos hbitos costumeiros.e) Ao senhor, mas no a normas positivas estabelecidas. E isto unicamente segundo a tradio.

2 - Sobre os conceitos de poder e dominao, tal como elaborados por Max Weber, correto afirmar que

a) a dominao prescinde do poder, uma vez que os indivduos que se submetem a uma ordem de dominaono levam em conta os recursos que possuem aqueles que exercem a dominao.

b) so equivalentes, pois tanto um quanto outro so relaes sociais s quais os indivduos atribuem sentido,compartilhando, portanto, motivaes.

c) toda relao de poder implica uma relao de dominao, j que a fora sem uma base de legitimao nopode ser exercida.

d) no so equivalentes, pois a dominao supe a presena do consentimento na relao entre X e Y, oque, necessariamente, no se d com o poder.

3 Como voc entende o poder?

Sociedades com Estado e sociedades sem Estado; Formas de governo, formas de Estado e sistemas de governo;

Voc sabe o que um Estado?

Estado corresponde a uma comunidade humana, fixada em um territrio exercendo poder poltico, cujos principais fins so segurana, justia e bem-estar econmico e social e suas principais funes resumem-se em elaborar leis (legislativa), executar as leis e satisfazer as necessidades coletivas (executiva) e a resoluo de conflitos e punio da violao das leis (judiciria). Aleimxima em um Estado uma Constituio escrita, e dirigida por umgovernoque possui soberaniareconhecida tanto interna como externamente.

A palavra Estadosegundo oDicionrio Houaiss datada dosculo XIIIe designa"conjunto das instituies (governo, foras armadas, funcionalismo pblico etc.) que controlam e administram uma nao"; "pas soberano, com estrutura prpria e politicamente organizado", segundo o dicionrio Aurlio o conjunto dos poderes polticos de uma nao; governo, Nao politicamente organizada.

O Estado responsvel pela organizao e pelocontrole social, pois detm, segundoMax Weber, o monoplio da violncia legtima (coero, especialmente a legal). O Estado consiste em uma relao de dominao do homem pelo homem, com base no instrumento da violncia legtima ou seja, da violncia tida como legitimaPoltica como Vocao- Max Weber

O Estado pode tambm ser definido em termos de condies internas, especificamente (conforme descreveuMax Weber, entre outros) no que diz respeito instituio domonopliodo uso da violncia.

O conceito parece ter origem nas antigascidades-estadosque se desenvolveram naantiguidade, em vrias regies do mundo, O estado como unidade poltica bsica no mundo tem, em parte, vindo a evoluir no sentido de um supranacionalismo, na forma de organizaes regionais, como o caso daUnio Europeia.O Estado representa a forma mxima de organizao humana, somente transcendendo a ele a concepo deComunidade Internacional.

Um Estado exerce a soberania sobre um territrio delimitado por fronteiras, guardadas pelas Foras Armadas e com limites precisos; tem uma burocracia administrativa e organizado em trs esferas de poder. No Brasil, denominamos essas trs esferas Unio, estados e municpios ou esfera federal, estadual e municipal.

Ainda que comumente pas seja usado como sinnimo de Estado, essas duas palavras no significam a mesma coisa. O primeiro termo tem uma conotao fsica; o segundo, poltica. O pas a terra, uma poro da superfcie terrestre, quando essa, no decorrer da histria, passou a ser controlada por um Estado, que exerce a soberania sobre ela, ento se transformou em territrio. esse territrio que chamamos de pas, ou seja, aquilo que ns vemos, o conjunto formado pelas paisagens naturais e culturais sob o controle do Estado.

A palavra nao, em sentido antropolgico, sinnimo de povo ou etnia. Em sua significao poltica, com a constituio do Estado-nao a partir da independncia dos Estados Unidos e da Revoluo Francesa, passou a ser usada como sinnimo de Estado. Nao um processo de criao de uma identidade comum dos grupos tnicos, lingsticos,religiosos e regionais, ou seja indivduos que tm uma histria, valores, hbitos e arte comuns.

Vejamos alguns exemplos:a entidade que rene a quase totalidade dos Estados do mundo chama-se Organizao das Naes Unidas (ONU);a contabilidade de um Estado, em sua relao econmica com o mundo, denomina-se Produto Nacional Bruto (PNB); as relaes internacionais do-se entre os Estados que compem o sistema estatal mundial; o hino e a bandeira so smbolos nacionais, etc.

A palavra povo, no sentido jurdico-poltico, sinnimo de conjunto de cidados e refere-se populao que habita o territrio sob jurisdio de um Estado e tem diversos direitos e deveres civis, polticos, sociais, econmicos e culturais (chamados cidadania), o que exclui, por exemplo, os estrangeiros no-naturalizados.

Agora que j sabemos o que um Estado podemos partir para outra questo a ser discutida nesta unidade:

SOCIEDADES SEM ESTADO

Agora, depois de saber o que um Estado, o que uma nao e o que um povo, voc naturalmente j deve ter previsto quais so as sociedades sem estado, e se voc pensou em sociedades primitivas voc acertou, a chamada comunidade primitiva foi a primeira forma de organizao social dos seres humanos quando deixaram de ser nmades e se tornaram sedentrios, ou seja, quando fixaram-se em um local para cultivar a terra e praticar o pastoreio.Como sabemos, no existia Estado nessas sociedades, e elas eram dividas em classes sociais, mas nessas comunidades tem origem a especializao de funes: uns caavam, outros fabricavam utenslios, outros cuidavam dos rituais religiosos, outros plantavam.

Sabendo disso devemos ressaltar algumas questes:

- No devemos consider-las atrasadas em relao a outras formas de organizao social.Essa idia conduziria adoo de uma teoria evolucionista de acordo com Pierre Clastres, antroplogo e etngrafo francs, e at mesmo etnocntrica, como se um certo tipo de sociedade pudesse suceder a outro tipo atravs da histria em um processo evolutivo, o que no corresponde realidade, uma vez que hoje ainda existem alguns povos, tribos, que possuem uma organizao social parecida com a destas sociedades.

As sociedades primitivas so sociedades sem Estado: esse julgamento de fato, em si mesmo correto, na verdade dissimula uma opinio, um juzo de valor () O fato que se enuncia que as sociedades primitivas esto privadas de alguma coisa o Estado que lhes , tal como a qualquer outra sociedade - a nossa, por exemplo - necessria. Essas sociedades so, portanto, incompletas. No so exatamente verdadeiras sociedades - no so policiadas -, e subsistem na experincia talvez dolorosa de uma falta - falta do Estado - que elas tentariam, sempre em vo, suprir. De um modo mais ou menos confuso, isso mesmo o que dizem as crnicas dos viajantes ou os trabalhos dos pesquisadores: no se pode imaginar a sociedade sem o Estado, o Estado o destino de toda sociedade.() Descobre-se nessa abordagem uma fixao etnocentrista tanto mais slida quanto ela, o mais das vezes, inconsciente() Cada um de ns traz efetivamente em si, interiorizada como a f do crente, essa certeza de que a sociedade existe para o Estado. Como conceber ento a prpria existncia das sociedades primitivas, a no ser como espcies margem da histria universal, sobrevivncias anacrnicas de uma fase distante e, em todos os lugares h muito ultrapassada?

Reconhece-se aqui a outra face do etnocentrismo, a convico complementar de que a histria tem um sentido nico, de que toda sociedade est condenada a inscrever-se nessa histria e a percorrer as suas etapas que, a partir da selvageria, conduzem civilizao () Mas o registro de uma evoluo evidente de forma alguma fundamenta uma doutrina que, relacionando arbitrariamente o estado de civilizao com a civilizao do Estado, designa este ltimo como termo necessrio atribudo a toda sociedade.

() J se percebeu que, quase sempre, as sociedades arcaicas so determinadas de maneira negativa, sob o critrio da falta: sociedades sem Estado, sociedades sem escrita, sociedades sem histria. Mostra-se como sendo da mesma ordem a determinao dessas Sociedades no plano econmico: sociedades de economia de subsistncia. Se, com isso, quisermos significar que as sociedades primitivas desconhecem a economia de mercado onde so escoados os excedentes da produo, nada afirmamos de modo estrito, e contentamo-nos em destacar mais uma falta, sempre com referncia ao nosso prprio mundo: essas sociedades que no possuem Estado, escrita, histria, tambm no dispem de mercado. Todavia, pode objetar o bom senso, para que serve um mercado, se no h excedentes? Ora a idia de economia de subsistncia contm em si mesma a afirmao de que, se as sociedades primitivas no produzem excedentes, porque so incapazes de faz-lo, inteiramente ocupadas que estariam em produzir o mnimo necessrio sobrevivncia, subsistncia. Imagem antiga, sempre eficaz, da misria dos selvagens. E, a fim de explicar essa incapacidade das sociedades primitivas de sair da estagnao de viver o dia-a-dia, dessa alienao permanente na busca de alimentos, invocam-se o subequipamento tcnico, a inferioridade tecnolgica.(Clastres,Pierre. A sociedade contra o Estado, ttulo original: L Societ contre IEtat.Traduo: Theo Santiago.Digitalizao:2004. Publicao:1974. disponvel em:www.sabotagem.revolt.br).

Atividade II

Aps a leitura do trecho do artigo de Pierre Clastres A sociedade contra o Estado voc com certeza fez suas ponderaes acerca das questes que envolvem a viso etnocentrista vigente em nossa sociedade a respeito das ditas sociedades primitivas. Agora pesquise sobre sociedades sem estado, grupos sociais e comunidades com organizao social parecida ainda existentes nos dias atuais e discorra acerca das relaes desta concepo que temos hoje de sociedades sem Estados e/ou primitivas e o capitalismo.

Continuando

- Trata-se, na verdade, de sociedades extremamente complexas, principalmente do ponto de vista da sua cultura, o que foi demonstrado em diversas pesquisas por antroplogos e etnogrfos, pois possuam rituais, hbitos e cotumes peculiares.

Revolucionrios tm sonhado em escapar do Estado; alguns quiseram fazer isso refugiando-se em terras onde pudessem viver isolados em pequenas comunidades mantidas juntas pelo princpio da associao voluntria e do auxlio mtuo, assim como nas sociedades ditas primitivas.

Leitura complementar

Texto de Vitor Hugo, publicado em 20/08/07 em

()Historicamente, os Estados no se desmantelam por vontade prpria ou facilmente. Embora eles possam se desintegrar em impressionante velocidade, como na Rssia em 1917 ou na Frana em 1968, quase sempre novos Estados surgem para tomar seus lugares. O motivo disso, que os homens no conseguem acreditar na viabilidade de uma sociedade na qual uma perfeita liberdade, segurana de vida e propriedade, e lei e justia pode ser conseguida sem a violncia coercitiva do Estado. Os homens estiveram por tanto tempo escravizados pelo Estado que no conseguem se livrar da mentalidade estatista. ()

Muitas sociedades funcionaram com sucesso sem a existncia do Estado, de seu aparato coercitivo e monoplio da violncia organizada, uma delas existiu por mais de mil anos de histria documentada, e que terminou somente por conta de macios esforos militares de um Estado vizinho mais populoso, rico e agressivo - Irlanda celta destruda depois de uma batalha de seis sculos contra o Estado ingls no curso das vitrias militares, dos confiscos e das polticas genocidas de sucessivos governos ingleses no sculo XVII.()

Os historiadores ingleses normalmente justificaram o destino da Irlanda caracterizando sua populao como incivilizada e brbara, e sua sociedade como anrquica. Christopher Dawson bastante claro neste ponto: "A essncia da sociedade brbara que ela depende do princpio do parentesco em vez do princpio da cidadania ou do da absoluta autoridade do Estado". A Irlanda certamente dependia de relacionamentos de parentesco em sua coeso social e tambm