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// Revista da Faculdade de Direito // edição 5 // número 5 // 1º semestre de 2018 116 SOCIEDADE EM REDE: UM ESTUDO DE ACEP- ÇÕES TRADICIONAIS ANALISADAS A PARTIR DO CONTEXTO DAS REDES VIRTUAIS DA IN- TERNET E DO CIBERATIVISMO Bárbara De Cezaro 1 Resumo O Estado traz consigo a garantia à democracia e a cidadania como seus elementos estruturantes. Porém, desde o seu surgimento emergiram diversas novas situações, dentre elas o surgimento da internet e o fato incon- testável que, no decorrer dos tempos, esta passou por densas transformações que se evidenciam de acordo com a evolução e as exigências vivenciadas, a exemplo, a criação de uma verdadeira sociedade estruturada em uma rede virtual. Diante desta realidade, a principal finalidade do estudo é analisar a realização da democracia e cidada- nia, tendo como base suas configurações tradicionais frente às redes virtuais on-line por meio dos cidadãos ativis- tas. É possível, efetivamente, a concretização da democracia e da cidadania por meio da plataforma da internet? Utilizou-se como método de abordagem o dedutivo e como método de procedimento o estruturalista. Dividiu-se o artigo em três capítulos. No primeiro, analisa-se o ativismo digital nas relações conectadas. Após, verifica-se a concretização de diálogos fortalecedores da cidadania por meio das redes virtuais. No último capítulo se analisa a democracia e sua efetividade na esfera da internet. A conclusão enseja a reflexão e consolidação de uma internet que garanta participação democrática e cidadã visando o fortalecimento de direitos estabelecidos a seus usuários. Palavras-chave:Estado; Ativismo Digital; Democracia e Cidadania; Rede Virtual; Internet. Abstract The State carries the guarantee to democracy and citizenship as its structuring elements. However, since its emergence several new situations have emerged, among which the emergence of the internet and the indisput- able fact that, in the course of time, it has undergone dense transformations that are evidenced according to the evolution and the requirements experienced by human beings, for example, the creation of a true society structured in a virtual network. Faced with this reality, the purpose of the study is to analyze the dimension of the achieve- ment of democracy and citizenship, based on its traditional configurations, in front of the virtual networks provided by the online environment through activist citizens. In order to respond to the established purpose, the deductive method and method of procedure were used as a structuralist method. In addition, the article was divided into two chapters. In the first one, the digital activism present in the connected relations is analyzed. In the second chapter, it is verified the concretization of dialogues that strengthen democracy and citizenship through virtual networks made possible by the Internet. The conclusion of this essay provokes the reflection in the search of the consolida- tion of an internet that guarantees democratic participation in search of the strengthening of rights and guarantees established to all its users. Key-words: State; Digital Activism; Democracy and Citizenship; Virtual Network; Internet. 1. Doutoranda em Direito Público (Her- menêutica, Constituição e concretização de Direitos) na Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos. Bolsista CAPES PROEX. Professora da Faculdade São Ju- das Tadeu (Porto Alegre/RS). Mestre em Direito. Advogada com especialização em Administração Pública. E-mail: barbarade- [email protected].

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// Revista da Faculdade de Direito // edição 5 // número 5 // 1º semestre de 2018

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SOCIEDADE EM REDE: UM ESTUDO DE ACEP-ÇÕES TRADICIONAIS ANALISADAS A PARTIR DO CONTEXTO DAS REDES VIRTUAIS DA IN-TERNET E DO CIBERATIVISMOBárbara De Cezaro1

Resumo O Estado traz consigo a garantia à democracia e a cidadania como seus elementos estruturantes. Porém, desde o seu surgimento emergiram diversas novas situações, dentre elas o surgimento da internet e o fato incon-testável que, no decorrer dos tempos, esta passou por densas transformações que se evidenciam de acordo com a evolução e as exigências vivenciadas, a exemplo, a criação de uma verdadeira sociedade estruturada em uma rede virtual. Diante desta realidade, a principal finalidade do estudo é analisar a realização da democracia e cidada-nia, tendo como base suas configurações tradicionais frente às redes virtuais on-line por meio dos cidadãos ativis-tas. É possível, efetivamente, a concretização da democracia e da cidadania por meio da plataforma da internet? Utilizou-se como método de abordagem o dedutivo e como método de procedimento o estruturalista. Dividiu-se o artigo em três capítulos. No primeiro, analisa-se o ativismo digital nas relações conectadas. Após, verifica-se a concretização de diálogos fortalecedores da cidadania por meio das redes virtuais. No último capítulo se analisa a democracia e sua efetividade na esfera da internet. A conclusão enseja a reflexão e consolidação de uma internet que garanta participação democrática e cidadã visando o fortalecimento de direitos estabelecidos a seus usuários.Palavras-chave:Estado; Ativismo Digital; Democracia e Cidadania; Rede Virtual; Internet.Abstract The State carries the guarantee to democracy and citizenship as its structuring elements. However, since its emergence several new situations have emerged, among which the emergence of the internet and the indisput-able fact that, in the course of time, it has undergone dense transformations that are evidenced according to the evolution and the requirements experienced by human beings, for example, the creation of a true society structured in a virtual network. Faced with this reality, the purpose of the study is to analyze the dimension of the achieve-ment of democracy and citizenship, based on its traditional configurations, in front of the virtual networks provided by the online environment through activist citizens. In order to respond to the established purpose, the deductive method and method of procedure were used as a structuralist method. In addition, the article was divided into two chapters. In the first one, the digital activism present in the connected relations is analyzed. In the second chapter, it is verified the concretization of dialogues that strengthen democracy and citizenship through virtual networks made possible by the Internet. The conclusion of this essay provokes the reflection in the search of the consolida-tion of an internet that guarantees democratic participation in search of the strengthening of rights and guarantees established to all its users.Key-words: State; Digital Activism; Democracy and Citizenship; Virtual Network; Internet.

1. Doutoranda em Direito Público (Her-menêutica, Constituição e concretização de Direitos) na Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos. Bolsista CAPES PROEX. Professora da Faculdade São Ju-das Tadeu (Porto Alegre/RS). Mestre em Direito. Advogada com especialização em Administração Pública. E-mail: [email protected].

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INTRODUÇÃO

D o seu surgimento embrionário por meio da Arpanet

em 1969, a priori, para atender anseios da seguran-

ça nacional dos Estados Unidos, até o surgimento

do primeiro ponto de conexão que interligou uma rede neste

mesmo ano, da criação do protocolo TCP/IP em 1978, da

sua abertura comercial em 1990 e em 1995 no Brasil, da cria-

ção da www – Word Wide Web em 1990, e com a parte mais

atual desta história, a web 2.0 - uma segunda geração de

uma plataforma de serviços da web que interconecta pes-

soas em todo o mundo além das fronteiras territoriais, a inter-

net abre portas para a comunicação, de modo a influenciar e

fomentar as potencialidades humanas em diversos aspectos.

De tais interações humanas, novos modos de ver e realizar o

futuro fazem com que a rede conecte, repense e reconfigure

uma série de questões, a exemplo da democracia, da cida-

dania e do ativismo social.

As céleres transformações sociais impactadas pelo efeito da

internet refletem-se em diferentes ramos, como educação,

comunicação, cultura, economia, lazer no mundo e em nos-

so país e, consequentemente, refletem na transformação e

evolução do Estado e do Direito.

Por toda a relevância e contribuição científica, cultural e so-

cial que a internet representa e, como forma de contribuir

com os atores sociais é que esta pesquisa se volta para a

construção de um aparato doutrinário que possibilita o estu-

do de acepções clássicas pensadas na perspectiva dos no-

vos espaços públicos em rede que se localizam entre o es-

paço físicos e os espaços digitais, privilegiando a plataforma

da internet para a construção social de autonomia, elemento

motriz das sociedades contemporâneas híbridas que estão

baseadas em uma conexão digital.

Assim, a partir dessa realidade cabe perquirir em que dimen-

são pode-se visualizar a realização da democracia e cida-

dania, tendo como base suas configurações tradicionais,

frente às redes virtuais proporcionadas pelo ambiente on-line

da internet por meio dos cidadãos ativistas? Partindo des-

se questionamento, se busca verificar, a estrutura das redes

virtuais possibilitadas no ambiente da internet, capazes ana-

lisar o ativismo digital presente cada vez mais nas relações

conectadas e a possibilidade de se concretizar diálogos for-

talecedores da democracia e a cidadania por meio das redes

virtuais possibilitados pela internet.

I. CONSIDERAÇÕES DO ATIVISMO SOCIAL NAS RELA-

ÇÕES CONECTADAS

A vida estruturada em rede transcende a esfera digital, refle-

tindo no campo da educação, da cultura, da economia, da

política, da cidadania, da democracia e, inevitavelmente, em

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// Sociedade em rede: um estudo de acepções tradicionais analisadas a partir do contexto das redes virtuais da internet e do ciberativismo // Bárbara De Cezaro

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todos os setores sociais, transformando o modo como os

seres humanos se relacionam, organizam-se e vivem, tanto

individualmente quanto em sociedade.

Inegável é que todos os seres humanos vivem e conduzem

seu tempo de maneira não padronizada, tempo este que é

influenciado por cada estrutura de vida, porém, cada uma

destas estruturas formam sociedades que têm suas práticas

inegavelmente influenciadas pela rede.

A internet, ocupando esfera de revolução na forma de a

humanidade se comunicar na história, prosseguida pela

banda larga e após pela web 2.0, demonstra uma grande

transformação, a qual, em sua atual dimensão, faz crer que

nada, em nenhuma esfera social, se apresentará como foi

no cenário anterior, numa uma complexa e irreversível mu-

tação da sociedade.

Frente a uma era cada vez mais estruturada no “midiático” e

onde a comunicação prefere a esfera de comunicações mais

instantâneas do que o texto, como por exemplo, os vídeos

e as fotos, tais transformações demonstram mudanças fre-

quentes de mídias e, consequentemente, levam a mudanças

sociais de vida, como ponderou McLuhan, transformando e

desafiando a comunidade humana de modo global.

A atual conjuntura social em que vivemos nos faz crer que

um dos mais importantes momentos desta época fora o

surgimento da comunicação digital, da tecnologia e da in-

ternet neste processo.

Nesta contextualização, utiliza-se o pensamento de Virilio,

quando refere que, depois de motorizar carros hipomóveis

com a energia de síntese do motor, a explosão revoluciona a

forma de vermos os transportes, a transmissão da realidade

pelo motor do computador revoluciona as formas de trans-

missão pelo gerador de virtualidade (VIRILIO, 1996, p.130).

Vivenciamos diariamente as efetivas mudanças que a inter-

net é capaz de produzir e potencializar nas vivências huma-

nas, entre elas, uma das mais importantes é a modificação

que as práticas democráticas da humanidade têm ganhado

e exercido com este instrumento digital. Por meio deste, os

movimentos sociais e políticos, às gestões das administra-

ções públicas, o conhecimento e todos outros setores so-

ciais veem se remodelando, se repensando perante os novos

ambientes digitais.

Neste segmento, os cidadãos interagem de maneira voz

cada vez mais ativa. Desta interação resulta o que chama-

mos net-ativismo, definido como:

O conjunto de ações colaborativas que resultam da siner-

gia entre atores de diversas naturezas – pessoas, circuitos

informativos, dispositivos, redes sociais digitais, territoriali-

dade informativas, apresentando, segundo esta perspecti-

va, como a constituição de um novo tipo de ecologia (eko-

-logos) não mais opositiva e separatista, mas expandindo

às demais entidades técnicas, informativas, territoriais, de

forma reticula e conectiva (DI FELICE, 2013, p. 267).

O termo ciberativismo, consoante Di Felice, tem origem es-

tadunidense no ano de 1990 e representa uma forma de

organização e ação política direta que conta com a difusão

de informações na internet para servir de boicote ao con-

sumo de certos produtos, de luta por direitos ambientais,

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humanos e civis (2013, p. 53-54).

Desse modo, nasce uma nova forma de participação e ativis-

mo social que tem na rede o trilho que conduz a participação

e colaboração na web. O ativismo social nas redes digitais

ocorre em todas as dimensões de temas e se dá em forma

de troca colaborativa para todo o mundo, atendendo, por-

tanto, a troca necessária para manifestações democráticas,

trocas e fomentos de ações cidadãs.

Para melhor conduzir o tema desta nova forma de manifesta-

ção política, imprescindível a definição de ciberespaço como

sendo ações deliberadas de coletividades que:

[...] visam a transformação de valores e instituições as so-

ciedade, que manifestam-se na e pela internet. O mesmo

pode ser dito do movimento ambiental, o movimento das

mulheres, vários movimentos pelos direitos humanos, mo-

vimentos de identidade étnica, movimentos religiosos, mo-

vimentos nacionalistas e dos defensores/proponentes de

uma lista infindável de projetos culturais e causas políticas.

O ciberespaço tornou-se uma ágora eletrônica global em

que a diversidade da divergência humana explode numa

cacofonia de sotaques (CASTELLS , 2003, p. 115).

Ao refletir a problemática estabelecida no presente estudo,

importante destacar que nas últimas décadas as interações

humanas ligadas a interações eletrônicas se multiplicam nos

ciberespaços e no cenário das redes mundiais, reconstruin-

do e repaginando as teorias que envolvem a ação social.

Ademais, por ciberespaço, o entendimento e a contribuição

que se extrai dos ensinamentos de Pierre Lévy é que este

representa um espaço de redes digitais onde fronteiras mun-

diais, conflitos, cultura, igualdades e diferenças convivem

em constante encontro de aventuras. A cibercultura ecoa e

levanta bandeiras de diversificados setores sociais de forma

aberta e vasta seguindo sua vocação de conectar e interco-

nectar dispositivos que criam, comunicam e simulam vivên-

cias mundiais (LÉVY, 2014, p. 106).

A informação e o posicionamento de diversos emissores co-

nectados de forma livre proporcionam ao leitor a liberdade de

debater, comunicar, estabelecer uma livre navegação entre

sites, redes sociais, blogs e outros meios, e também propor-

cionam ao ciberator a liberdade de compreender e formular

sua livre convicção acerca do tema que lhe interessa e está

disposto no espaço virtual.

Nesse contexto, o mundo vivencia uma nova forma de comu-

nicar-se socialmente, um novo ativismo social vem brotando

das raízes solidificadas na internet. Os fenômenos de diversi-

ficadas mobilizações envolvendo coletividades impulsionam

novos ativistas no mundo todo que, assim como aqueles,

encaram as redes digitais como aliadas necessárias para que

seus anseios sejam ouvidos.

Assim, novos episódios vão ocorrendo de acordo com os pe-

culiares anseios sociais e por meio da internet, reforçam-se

ações que fortalecem ainda mais os protagonistas enquanto

ativistas. A cultura colaborativa é característica inerente à in-

ternet produz, reproduz e conhecimento que se transforma

em arma revolucionária na sociedade ativista. A internet usa

tais armas revolucionárias de maneira mais aberta, com me-

nos controle ou censura e de forma acessível na atual reali-

dade global a quase todos.

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Diferente de outros movimentos revolucionários, a livre difu-

são de conteúdo por meio de plataformas digitais através de

canais como YouTube e blogs, convertem tais espaços para

canais de oferecimento de denúncia a injustiças, de busca

e denúncia dos responsáveis de forma imediata (TASCÓN;

QUINTANA, 2012, p. 64).

A construção de tais espaços públicos fomentados pela so-

ciedade em rede ganha novos adeptos a cada dia, principal-

mente pelo fato de o usuário ter maior autonomia na busca

da informação que quer colher. No que diz respeito à intensi-

dade de uso desta tecnologia, a “Secretaria de Comunicação

Social da Presidência da República, revela que quase meta-

de da população tem acesso à internet, e desse total 37%

a utilizam todos os dias, com uma intensidade de quase 5

horas por dia” (COSTA, 2014).

Nesse contexto, a arquitetura da rede fortalece laços colaborati-

vos permitindo que todos os integrantes destes espaços sejam

cidadãos que elaboram, colaboram e difundem ideias acessí-

veis em qualquer canto do planeta de forma autônoma, ou seja,

sem prévia censura por qualquer órgão governamental.

Segundo a informação colhida da obra Ciberactivismo Las

Nuevas Revoluciones de Las Multitudes Conectadas, estima-

-se que, em um cenário onde usuário é o próprio produtor,

editor e divulgador de um roteiro, “a cada 24 horas, se escre-

ve 1,6 milhões de entradas de blogs, se sobe 2,6 milhões de

vídeos no YouTube, [...] se publicam 140 milhões de tuits no

Twitter (TASCÓN; QUINTANA, 2012, p. 82, tradução nossa).

Esta rede de indivíduos conectados permite que os mesmos

se informem, informem e propaguem suas ações sem sair

de casa. É pois, um novo trilho sendo criado pela passagem

humana e, por ser este um novo caminho, com ele se abrem

novas possibilidades.

Este meio de comunicação de massa dá ao seu usuário au-

tonomia para escolha tanto em qualquer tempo e lugar para

escolher o conteúdo que deseja acessar e esta dinâmica dá

liberdades para que o ativismo on-line vá se construindo. Tal

autonomia dos usuários pode ser vista como alicerce que apoia

a construção cidadã de um ativismo on-line que vem causando

impactos na realidade social cotidiana e se comunicando com

espectadores do. Novos caminhos, valores e dinâmicas vão se

firmando nas mobilizações sociais conectadas trazem consigo

legiões de ativistas através da tecnologia da internet.

O poder desta legião de ativistas vem questionando os mo-

delos políticos, a falta de transparência e corrupção por parte

das democracias representativas, assim como questiona os

modelos econômicos, os tradicionais meios de comunicação

pelas deturpadas e manipuladoras informações que perdem

a credibilidade quando sites e redes sociais denunciam a in-

formação não divulgada.

O medo solitário ganha coragem e força junto à multidão en-

gajada que se auto afirma nos espaços digitais de interação

entre todos os usuários. Desta interação horizontal de igual

para igual, há um livre intercâmbio de informações que for-

talece os movimentos sociais organizados em redes. Assim,

os movimentos sociais cibernéticos se espalham de forma

contagiosa e difundem-se rapidamente em meio a imagens,

sons e palavras, de sorte que as mobilizações populares

ocorridas nos ecossistemas contemporâneos marcam as

fortes organizações do ativismo digital.

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Ondas de manifestações populares que tomam as ruas das

cidades entram em cena e surpreendem os governos e as

sociedades em seu modo de se organizar e mobilizar por

meio da internet e das redes sociais. Das iniciais manifes-

tações conectadas em rede a exemplo da primavera árabe

no Oriente Médio até as manifestações mais atuais, como as

ocorridas no Brasil, a bandeira de luta por igualdade e voz

ativa da sociedade governada está hasteada.

Tomando como exemplo os movimentos sociais ocorridos no

Brasil que se organizaram por meio da internet de forma au-

tônoma no ano de 2013, Castells reserva no prefácio à edição

brasileira de seu livro “Redes de Indignação e Esperança”,

ponderações específicas aos brasileiros em relação ao mo-

vimento passe livre de 2013 (CASTELLS, 2013, p. 178 e 179).

Os milhares de brasileiros conectados percebem nas orga-

nizações formadas por meio da internet um novo e potente

meio de organizarem-se e mobilizarem-se em movimentos

que buscavam muito mais que luta por cobrança justa da

tarifa dos transportes públicos.

Perante a sociedade em rede, a utilização da internet vem ser-

vindo de palco para sustentar movimentos em escalas glo-

bais, pela facilidade de difusão de informações e discussões

que a rede propicia na criação e proliferação de canais de par-

ticipação de todas as pessoas em um espaço democrático.

Abre-se espaço para um novo ativismo digital em uma rede

que se estrutura de maneira colaborativa, dando espaço à ci-

berdemocracia e à cibercidadania aos cidadãos net- ativistas.

Nesse sentido, o ator-rede, enquanto um conjunto de iden-

tidades, vem constantemente pensando a “ecologia digital”

que reúne banco de dados, conexões, mídias, imprensa, in-

formações, redes, ser para cada vez mais “empoderar” cida-

dãos a escreverem e compartilharem um futuro democrático

e cidadão na história da experiência humana, fazendo que

assumamos cada vez mais que “os riscos gerados pela tec-

nologia que não podem ser evitados são limitados com mais

tecnologia [...]” (BAUMAN, 1999, p. 293).

De acordo com Antoun (2004, p. 71), outras questões mere-

cem destaque, como a mediação centralizada nas instituições

por meio de processos hierárquicos, necessários para que a

ordem social possa ser aprimorada por meio de uma partici-

pação que se integra, com isso, movimentos sociais ganham

força de vetores de dissolução como também de desintegra-

ção, neste sentido questiona, ao final de sua fala se a socie-

dade teria força para a construção de sua ordem através da

liderança organizacional de movimentos que se dão no coleti-

vo que tem como sede às redes comunicacionais.

As tradicionais formas em que se apresentam os valores e

interesses das instituições públicas e dos representantes do

povo modelam as formas sociais em que o poder se apre-

senta frente aos governados, assim, as redes, neste ponto, se

apresentam como fonte comunicativa de contrapoder na for-

ma de reivindicar estes valores e interesses de forma a se pen-

sar o que cada governado pensa ser melhor para seu meio.

As novas tecnologias movimentam o modo de vida dos cida-

dãos, os sistemas financeiros, informacionais, educacionais,

culturais, políticos e todos os setores de forma instantânea e

sem fronteiras, fatores que trazem consigo e com a ideia de

sociedade em rede impactos nos mais diversificados seg-

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mentos e que vem cada vez mais desafiando Estado e atores

sociais a apresentarem respostas apropriadas a modernida-

de vivida. Assim, “[...] já somos uma outra espécie, não so-

mos mais Homo Sapiens, tendo em vista as diferenças entre

a nossa espécie hoje e as anteriores. Por que tudo que o

humano faz, desenvolve e produz, atualmente, ele faz com a

tecnologia” (DI FELICE; LEMOS, 2014, p. 18).

Os novos movimentos de empoderamento formados nas

plataformas interativas da internet refletem as questões vi-

venciadas pela sociedade em geral. Diferente de outras for-

mas de organização social, os movimentos dos ciberespa-

ços, enquanto realizados na internet caracterizam-se pela

descentralização de suas participações que não são conferi-

das por líderes intitulados, mas por participantes globais sem

o estabelecimento de barreiras se comunicam com comuni-

dades locais.

II. CIDADANIA: UMA ANÁLISE DA ACEPÇÃO CLÁSSICA

E SUAS TRANSFORMAÇÕES NA ESFERA DA INTERNET

Apriori, importante pontuar que cidadania e democracia não

podem ser pensadas separadamente, pois se complemen-

tam, de sorte que a segunda exige a participação e a vivência

da primeira. Para tanto, novos locais de realização da cida-

dania e democracia estão em constante aprimoramento e

ressignificação e, para compreensão e maior aderência ao

estudo com afinco do tema cibercidadania, é imperioso to-

mar algumas considerações que abordem a cidadania como

ponto de partida.

Etimologicamente, a palavra cidadão advém da ideia de ci-

dade, aquele que vive na cidade. O homem livre que interagia

na cidade era reconhecido ser cidadão portador de direitos e

obrigações (CRUANHES, 2000, p. 25). Da Grécia Antiga até

os dias hodiernos, o conceito de cidadania transcorre barrei-

ras e lapidações.

Oliveira Junior (1997, p. 192), sob a égide de Norberto Bob-

bio, qualifica e define o conceito de cidadania com um laço

diretamente ligado a construção e (re) adequação histórica.

Pode-se extrair de suas construções intelectuais que, levan-

do em conta a relação indivíduo e Estado, o status cidadão

pode ser adquirido quando uma moral social e impositiva do

Estado cede espaço e atua concomitantemente com uma

moral individual. Além de direitos, na sua concepção, os su-

jeitos passam a também possuir deveres.

Da concepção extraída de Oliveira, tem-se que a concepção

histórica de cidadania mantém suas raízes, porém, por ter

sua nascente no berço social, inegável é que o contexto da

evolução social pelo homem fez do termo variável ao longo

de transformações civilizatórias. No termo transformação so-

cial, a cidadania hoje está correlacionada diretamente com

inclusão, ao desenvolvimento social e ao exercício da cida-

dania junto também aos meios tecnológicos e não mais ape-

nas os meios físicos.

Para Bedin (2002, p. 170), a luta pela cidadania tem seu nas-

cimento pontuado na ruptura com o estado moderno e sua

arbitrariedade, chamada de primeira geração de direitos de-

nominada como liberdades clássicas ou direitos civis (séc.

XVIII) que abarcam os direitos que vão contra o Estado, clas-

sificados como direitos negativos. A incorporação de direitos

a todos os sujeitos da comunidade conferindo a eles liberda-

de e status de cidadão marcam este primeiro momento.

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A segunda geração da luta pela cidadania configura-se no

século XIX com lutas para formação de um poder político

e participação nele, bem como pela liberdade positiva re-

presentada pela autonomia, pela liberdade negativa como o

não-impedimento e por ideais democráticos.

A cidadania se manifesta no direito à vida, liberdade, proprie-

dade, igualdade como também a forma política de um (con)

viver solidário no campo dos direitos civis, a participação na

política através dos direitos políticos, a saúde, educação en-

quanto direitos sociais e entre tantos outros são representa-

ções vivas e em movimento da cidadania que, ao acompa-

nhar as mudanças e transformações sociais, se manifesta e

também precisa ser defendida com humanidade, dignidade

e igualdade na esfera da internet onde se apresenta com um

caráter local/global aderindo o conhecer e reconhecer do ou-

tro em uma escala global (CARVALHO, 2013, p. 10).

Na era da informação e das sociedades em rede, a cidadania

não se identifica apenas com uma identidade cultural única,

mas plural, e atua como meio de realização de igualdade e

participação dos atores sociais nos processos de cultura, polí-

tica e social para adentrarmos no tema enquanto esfera digital.

Ainda, uma atual ideia de cidadania se formula na doutrina do

tema, mencionando-o sob um viés de uma construção con-

junta no exercício de direito e de participação ativa na política

para que de fato, a democracia representativa se realize.

Nessa senda, Luño (2007, p. 264) menciona três princípios

que norteiam a construção da cidadania, sendo estes: ci-

dadania é condição de uma vivência livre em sociedade,

o segundo princípio diz respeito à cidadania exercida sem

coerção e sim de maneira voluntária, o último princípio diz

respeito ao rol de deveres e deveres que devem ser cumpri-

dos por uma pessoa perante seu Estado.

Ainda, necessário pontuar que as mudanças sociais construí-

das e vivenciadas entre os séculos XX e XXI no que se referem

às tecnologias tornam necessária uma pauta para que se re-

flitam alguns temas estruturais de uma sociedade, como é o

caso da noção e aprimoramento a respeito do modo de viven-

ciar a cidadania nos dias de hoje nos ciberespaços. Inserida

amplamente na temática, a globalização traz consigo novos

olhares para os problemas que afetam a vida planetária, cada

vez mais interligados e globais, e traz consigo novas técnicas

de informação planetária que a tornam referência no processo

de internacionalização do mundo (SANTOS, 2000, p. 24).

Seguindo este delinear, em toda ideia fixada no livro ¿Ciber-

ciudadaní@ o ciudadaní@.com?, Perez Luño defende que os

tempos vivenciados hoje são mencionados com a presença

constante de novas tecnologias, seja em qualquer setor da

vida, tanto na da coletividade ou individualmente, é fato que

estas veem com maior pujança interferindo nas experiências

vivenciadas pela política, pelo judiciário e demais setores so-

ciais. É, pois, conforme mencionado no tópico anterior deste

estudo, o ativismo social por meio da tecnologia da internet

se apresentando em todas as esferas da vida social.

Lunõ ainda afirma que as novas tecnologias dão força para

que aconteça a realização da cidadania. Urge a reflexão

das influências que a internet provoca no atual cenário de

manifestação de cidadania que, nesta ceara ganha status

de cibercidadania, mudando a forma de relacionamento

com o outro, com si próprio e com o mundo em um pano-

rama globalizado.

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// Revista da Faculdade de Direito // edição 5 // número 5 // 1º semestre de 2018

Importante, mencionar que na conceituação clássica, que

aqui se apresenta de maneira resumida, cidadania represen-

ta os direitos inerentes aos sujeitos para que participe das

decisões que envolvem a vida social de um povo e de um

governo. Logo, no palco da internet a cidadania se manifesta

como a cibercidadania.

O “desenho” dos comportamentos humanos nas ciberso-

ciedades esboçam “um conjunto de técnicas, de práticas,

de atitudes, de modos de pensar e valores no ciberespaço”

(LÉVY, 1999, p. 128) que influenciam pilares para que a cida-

dania clássica aconteça no âmbito on-line da cibercidadania.

Identidades que convivem on-line se completam para que

cidadãos do mundo construam uma cidadania solidária e até

mesmo interplanetária.

As comunidades cibernéticas criam novas barreiras, pos-

sibilidades e demarcações nos territórios on-lines que

influenciam as margens geográficas até então bem tra-

çadas pelo homem, recriam e reformulam seu espaço e

seu tempo o tornando cada vez mais complexo pela hi-

bridização de um “novo mundo” interlocal, transcultural,

real e virtual.

Assim, a problemática que aqui impera é a necessidade de

repensar cidadania frente à internet, compreendendo as re-

voluções das demandas históricas que o tema enfrentou

agregando direitos humanos, reconhecimento enquanto

sujeito de direito, realização, troca, solidariedade coletiva e

reconhecimento da dignidade de forma nacional e interna-

cional para a plena realização do homem enquanto cidadão

que se reconhece na própria identidade que partilha com o

mundo através da internet.

O não reconhecer ou o errôneo reconhecer como também o

não garantir o outro enquanto cidadão no ciberespaço é uma

cruel forma de desrespeito a sua dignidade e a sua participa-

ção isonômica enquanto cidadão, logo, respeitar e reconhe-

cer o outro dentro de sua alteridade também neste campo se

faz matéria de ordem e respeito a uma necessidade vital do

homem (TAYLOR,1994, p. 46).

Nestas “condições cibernéticas”, possibilitadas pela inter-

net, o território da cidadania ganha aspectos cada vez mais

plurais uma vez que as práticas sociais se dão de muitos

com muitos nesta atual forma de sociedade.

Os grupos sociais, culturais, étnicos, religiosos, e todos ou-

tros passam a exercer cidadania de modo internacionalizado,

sem para isso sair do lugar onde estão. A cidadania vem se

transformando com a ação local de efeito global do homem

por meio da internet e, consequentemente, vem conferindo

novos significados à concepção e aplicação da cidadania

neste meio. Em meio à modernização e mutação dos pro-

cessos sociais em que a cidadania se insere, o homem é o

autor de mais este ensaio social.

Não diferente do local, no espaço digital os atores sociais

cidadãos protagonizam práticas sociais modernizadas, mas

que se fundamentam nos Estados, a exemplo da cidadania.

Nesse contexto, Touraine afirma que “a modernidade não

existe sem referência ao sujeito, e este não pode existir sem

a modernidade, isto é, fora da associação da razão com os

direitos” (TOURAINE, 2009).

O acesso à internet abarcou a vida cotidiana do mundo de tal

modo que, sem o poder de acesso, o cidadão tem tolhido de

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// Revista da Faculdade de Direito // edição 5 // número 5 // 1º semestre de 2018

si o exercício pleno de direitos como conhecimento, cultura,

tecnologia, acesso aos mais diversificados meios de educa-

ção, de realização da democracia e da cidadania.

No cenário da internet, na reflexão da realização da cidadania

ganha força e impulso para atuar como atriz aproximadora,

solidária, intercultural, de reconhecimento do outro e fortale-

cedora dos laços que envolvem os direitos humanos em toda

a comunidade cultural mundial que almeja inclusão global.

As demandas sociais, cada vez mais diversificadas e dinâmi-

cas, acreditam no poder de acesso à internet uma influência

para o novo modo de ver e fazer cidadania nos mais diver-

sificados contextos sociais. Assim, ter a possibilidade de ter

pleno acesso à internet hoje significa inclusão plena para o

exercício da cidadania. É uma nova modalidade de exercício,

distribuição e miscigenação da cidadania com um poder de

alcance além fronteiras territoriais.

Inegável que, de modo global a tecnologia, em especial a

da internet, tem impactado de modo crescente a forma de

representação cidadã e democrática em todo o mundo, fa-

zendo emergir novas formas de manifestações sociais. O

que, porém, se faz necessário cada vez mais potencializar e

expandir é o acesso a esta tecnologia, para que de fato, a so-

ciedade em sua totalidade tenha a possibilidade de participar

de forma democrática nos processos sociais que também se

apresentam neste cenário conectado.

Neste sentido, e, pensando esta problemática em dados

concretos, o CETIC - Centro Regional de Estudos para o De-

senvolvimento da Sociedade da Informação, atuando sob o

apoio da UNESCO, publicou estudo denominado TIC domi-

cílios, demonstrando que, entre os anos de 2016 e 2017 a

internet está presente em 54% dos domicílios brasileiros.

Merece destaque neste atual estudo, o fato de a desigualdade

de acesso restar comprovada quando consideradas na pes-

quisa às rendas e às localizações das residências pesquisa-

das, sendo que, nos domicílios de classe “a” e “b” conside-

rados pela pesquisa, a inclusão digital registrada é de 98% e

91%, respectivamente, enquanto que nos domicílios de clas-

se “d” e “e” o índice de conexão à tecnologia da internet é de

23%. Ainda, os domicílios localizados no meio urbano, repre-

sentam 59% dos que estão conectados, enquanto os domicí-

lios localizados na área rural, apenas 26% (CETIC, 2018).

Da interação entre tecnologias digitais, indivíduos, redes

e territórios, se detecta uma atuação com uma frequência

cada vez maior e direta nas redes de participação cidadã,

porém, as políticas públicas de acesso a tecnologia da in-

ternet ainda precisam de aprimoramento e fomento, assim

como, a quantidade e a qualidade das informações públicas

inseridas nas plataformas digitais.

Ademais, como bem destaca Canclini (2007, p. 238):

Quem não está conectado está excluído de maneira cada

vez mais intensa e variada. A brecha acirra os contrastes

entre regiões, países, grupos sociais. Países menos globali-

zados vão sendo confinados ao quintal da globalização em

termos de intercâmbio comercial, cultural, protagonismo po-

lítico [...] e em consequência a isto, bem –estar social. [...]

quanto mais se reduz a brecha, mais se avança na interação

social , comunicacional, igualdade de oportunidades [...].

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// Revista da Faculdade de Direito // edição 5 // número 5 // 1º semestre de 2018

A atual estrutura das sociedades faz com que a tecnologia

da informação aproxime os mais diversos povo e culturas

fomentando a sensibilidade ao exercício da cidadania. Deste

modo, diferentes formas de moral, identidades, culturas, re-

ligiões, políticas, comunidades e educação convivem juntas

e buscam a garantia de seu exercício junto às ações cidadãs

no ciberespaço.

O ciberespaço e a possibilidade de acesso à internet, en-

quanto lugares de inclusão, propiciam ao sujeito nos dias

atuais o poder para a prática concreta de novas e diferentes

formas e modelos de realização de cidadania, logo, a disse-

minação da internet significa atualmente garantia de acesso

à fonte de concretização ativa da cidadania.

Esta tese de troca da vida social perante organização das so-

ciedades em rede, por meio da internet vislumbra a ideia de

Boff (2011, p. 26) quando trata da existência de uma tecnolo-

gia social, sendo esta capaz de servir de ponte aproximadora

do desenvolver coletivo para a democracia, desenvolvimen-

to humano, participação social ativa e cidadão que fazem

da tecnologia fator de afirmação de sua dignidade enquanto

ser/ator dos processos se sua reinvenção.

Sem sombra de dúvida, a internet é um instrumento que,

desde o século XX, alterou o modo de comunicação e de

luta por direitos entre os atores sociais, tornando-se meio

ativo para a realização destes e da nova forma de afirma-

ção das pessoas e seus conhecimentos e debates ligados

à democracia, à igualdade e à liberdade de expressão, a

exemplo do que se pode acompanhar pela potência das

demandas organizações pela sociedade virtual por meio de

redes sociais.2

A cultura e o modo de vida no espaço da internet e das tec-

nologias mudaram e continuam mudando a cada dia, e a

abordagem do direito sobre os temas que ali estão inseridos

muitas vezes não acompanha o mesmo compasso (CUNHA,

2011, p. 61). Ao pensar a cidadania na pós- modernidade,

percebe-se que a tecnologia mudou e incorporou este ele-

mento jurídico a sua realidade, como é o exemplo do Marco

Civil da Internet, o qual abarcou a cidadania como uma de

suas garantias disciplinadoras.3

No Brasil ainda a grande questão que paira sobre o tema é

pensar os reflexos deste direito assegurado ao cidadão. Nes-

te sentido, políticas públicas para modificar essa realidade

garantindo à internet se constitui essência para cidadania.

Os ciberespaços criados pela internet são palcos que facili-

tam e favorecem a realização da cidadania na busca de uma

sociedade mais igual, para que se faça uma (re)leitura e (re)

criação de relações até então estabelecidas entre a huma-

nidade e, pela forma globalizada em que acontecem, são

potentes instrumentos para manifestações sociais democrá-

ticas que precisam contar com uma participação cidadã efe-

tivamente assegurada.

III. DEMOCRACIA: UMA ANÁLISE DA ACEPÇÃO CLÁSSICA

E SUAS TRANSFORMAÇÕES NA ESFERA DA INTERNET

No que se refere a democracia, buscando-se a origem da pa-

lavra, verifica-se que democracia provem da união de duas

palavras que formam o termo grego demokratía onde os sig-

nificados podem ser pontuados como, “demos (“povo”) e

kratía (“força, poder”). Antes de desembarcar no português

fez uma escala no latim tardio democratia e, provavelmente,

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// Revista da Faculdade de Direito // edição 5 // número 5 // 1º semestre de 2018

também no francês démocratie, palavra existente desde o

século XIV (o primeiro registro da nossa data de 1671)” (RO-

DRIGUES, 2015). Arraigada à história grega, a democracia

paira sobre a ideia de poder e governo que emanam do povo.

A democracia na Grécia antiga ocorria na forma direta, ou

seja, nas ágoras públicas, as assembleias formadas pelos

cidadãos denominados à época (homens maiores de dezoito

anos), definiam e decidiam as decisões políticas da época.

De maneira clara, o processo democrático se fazia na exclu-

são de mulheres e pessoas jovens.

Durante toda idade média a democracia não aparece no ce-

nário político vindo a ressurgir no constitucionalismo moderno,

pelos federalistas, quase dois mil anos depois do século XV

apresentando - se em contraposição a democracia direta, de-

fendiam a democracia representativa como única forma possí-

vel e viável para os Estados modernos. Mister, porém; sinalizar

que o que potencializou o pensamento democrático foram as

revoluções francesas dos séculos XVII e XVIII na Europa.

Portanto, antiga, mas sempre atual e necessária, a demo-

cracia é matéria que precisa constantemente estudo por ser

apresentar de diferentes maneiras (independente de ideolo-

gia ou visão política), nos mais variados tipos de socieda-

des. No entender de Jorge Miranda, a democracia pode ser

conceituada como “a forma de fazer política em que o poder

é atribuído ao povo e em que é exercido de harmonia com

a vontade expressa pelo conjunto dos cidadãos titulares de

direitos políticos” (MIRANDA, 1996, p. 143).

Conceitualmente democracia é um modelo de política ado-

tado, em que a expressão do povo e sua vontade, atribuem

poder a alguém para representar a vontade do povo. Em

conjunto com os governantes que representam a vontade do

povo em uma democracia representativa, o poder deve ser

traduzido em vontade política da maioria. As ações políticas,

as legislações se justificam quando atuam em consonância

com a democracia estabelecida em uma sociedade.

Esta compreensão de democracia representativa não permi-

te que cada cidadão participe ativamente de realização da

vida política, mas através de seus representantes eleitos.

Nesta concepção, a ideia de cidadão que coopera perante a

sociedade na qual está inserido fica prejudicada.

Extrai-se do conhecimento de Miranda (1996) a compreen-

são de uma democracia representativa que tem na vontade

do povo o critério que decide a ação dos governantes. Po-

rém, se analisadas as manifestações que vêm se alinhando

frente aos ciberespaços, percebe-se que há uma crise e um

descrédito muito grande nesta forma de exercício de demo-

cracia representada na classe política.

Zygmunt Bauman, ao responder o Jornal El País (QUEROL,

2016) se a democracia está em perigo, afirma que este tra-

dicional modelo democrático está em crise. Para o sociólo-

go, a crise instaurada na democracia decorre de um colapso

existente na confiança e na certeza de que os líderes políti-

cos além de estúpidos e corruptos, são incapazes. Bauman

também afirma que a ligação entre poder e política nas mãos

do Estado teve fim com a globalização do poder e as po-

líticas já não se apresentam de forma local como antes. O

sistema democrático não cumpre suas promessas.

A ideia de representação pelo exercício do voto se mostra

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// Revista da Faculdade de Direito // edição 5 // número 5 // 1º semestre de 2018

falha quando se deflagra uma mercantilização de voto estéril

enquanto prática do exercício da cidadania e construção da

democracia. Os movimentos sociais formados nos novos es-

paços digitais apresentam descrédito aos tradicionais meios

de participação, militam através de sua participação enquan-

to fator de fortalecimento da democracia.

Cabe, portanto, a indagação: como então a democracia em

seu sentido clássico pode conviver com as novas formas de

manifestações democráticas que se articulam em rede?

Neste sentido, as novas tecnologias de informação, em es-

pecial para o nosso estudo, a internet vem aproximando ci-

dadãos que se manifestam, participam, indagam e provocam

diferentes manifestações nas sociedades democráticas. A

tecnologia da internet representa nova fonte conhecimento,

debates públicos on-lines, enfim, um novo modo de comu-

nicar, interagir e promover a que se chama ciberdemocracia.

Novos processos democráticos da contemporaneidade vêm

ascendendo uma democracia que não se constrói apenas

pela representatividade, mas pela ativa participação do ci-

dadão. Um cidadão ativo cibernauta vem habitando o futu-

ro/presente da democracia representativa que não encontra

mais no voto sua representação.

As novas tecnologias servem como plataformas de aproxi-

mação entre o governo e os cidadãos tanto por meio de dis-

seminação de informação pública como também enquanto

ambientes de debates e deliberações cidadãs.

Neste aspecto, a realização da democracia nas plataformas

digitais, de acordo com Limberger (2016, p. 90), consiste em

uma tríade entre a busca da informação pública disponível

em rede, os debates potencializados por meio de fóruns vir-

tuais e o retorno em forma de deliberação parlamentar ou no

espaço de tomada de decisões referente à implementação

das políticas públicas em comento.

Há, portanto, a necessidade de uma aproximação entre os

espaços democráticos tradicionais com a democracia par-

ticipativa potencializadas pela internet para efetivação dos

novos meios de realização da atividade democrática.

Em tempos paradoxais para as culturas democráticas em

que a desconfiança política neste regime e suas instituições

se dão de forma generalizada por cidadãos que visam adotar

novos modos de participação e reformulação de um sistema

representativo, buscando até mesmo alternativas em mode-

los de democracia que negam partidos políticos e parlamen-

tos pela forte desconfiança dos atuais modelos, a internet

surge como mediadora dos cibercidadãos que buscam uma

nova dinâmica de representatividade que visa maior envolvi-

mento dos atores – rede (MOISÉS, 2010, p. 45- 55).

As sociedades atuais vivenciam as novas tecnologias de in-

formação na política, na comunidade social, na economia e

tal vivência, ao seu modo de ver, afetam de maneira densa os

valores basilares como a democracia e a liberdade, a forma

de organização e as relações comunitárias de uma socieda-

de moderna.

Nesse ínterim, o espaço democrático e acessível que ocorre

no território da internet, diferentemente das mídias já exis-

tentes, possibilita que internautas expressem seu pensar en-

quanto cidadão. Cabe, portanto, neste momento pensarmos

¯

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// Revista da Faculdade de Direito // edição 5 // número 5 // 1º semestre de 2018

se o exercício efetivo da democracia pode-se dar na atmos-

fera dos ciberespaços.

Os processos de luta por democracia necessitam da participa-

ção popular para se realizarem, consoante os autores, o ato de

participar ativamente dá ao cidadão poder de influir e controlar

diretamente as decisões tomadas em prol da sociedade. As

pessoas precisam participar de uma nova fase que se vivencia

no Brasil e o mundo que, pela intervenção comunitária conse-

gue apresentar propostas, discuti-las conjuntamente com os

seus representantes em um debate público on-line.

Para tanto, o primeiro passo para que esta discussão se rea-

lize de forma on-line é a disponibilização concreta e eficaz

de dados públicos e informações públicas por meio dos sí-

tios eletrônicos. Neste sentido, a pesquisa desenvolvida pela

ONG contas abertas avaliou 124 municípios de São Paulo no

ano de 2013, comprovando que os portais/sites municipais

não disponibilizam com clareza as informações públicas dis-

poníveis aos cidadãos (CONTASABERTAS, 2018).

No que se refere ao acesso à informação pública, a Lei fede-

ral de acesso à informação n. 12.527/11, que regula o acesso

a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5o, no inciso

II do § 3o do artigo 37 e no § 2o do artigo 216 da Constitui-

ção Federal dispõe, em seu artigo 8º o “dever dos órgãos e

entidades públicas promover, independentemente de reque-

rimentos, a divulgação em local de fácil acesso, no âmbito de

suas competências, de informações de interesse coletivo ou

geral por eles produzidas ou custodiadas.”(BRASIL, 2011).

Pontua-se que as demonstrações de democracia e do cibe-

rativismo representam um movimento ativista midiático com

apoio das novas tecnologias de comunicações, transformando

a plataforma da internet em um importantíssimo espaço demo-

crático de participação coletiva. As redes on-line demonstram

um processo célere de mudanças nesta contemporânea trans-

formação social aproximando a internet, a rede, as tecnologias

instrumentais, o ser, sua identidade e a globalização.

Tecno-atores reinventam essas novas formas de interações

e participações na rede desafiando Estado, Poder Judiciário,

Legislativo e Executivo a compreender e oferecer respostas

eficientes a estas práticas tecnológicas de sociabilidade, di-

ferentes das respostas que serviam as práticas sociais tradi-

cionais. Os fluxos de troca de informações atuam em velo-

cidade constante em plataformas colaborativas, e a rede se

torna um campo híbrido de todos para todos.

Consoante Dworkin (2007, p. 227e 228), a consolidação de

uma forma integrativa baseada na integridade entre a socie-

dade representada pelos cidadãos, às instituições dos regi-

mes democráticos e a política precisa ser pensada para que

assim seja valorizada pelo cidadão.

As ágoras digitais se mostram essenciais enquanto meca-

nismo de realização e efetivação ativa na atual política, na

integração entre sociedade, cidadão, instituições e política,

na organização de mobilizações não mais presenciais, mas

através de compartilhamentos, comentários, curtidas, trocas

informacionais colaborativas e outras formas on-lines que vi-

sam integridade neste regime.

Segundo Perez Luño, o cidadão nesta atual abordagem ga-

nha representatividade e torna-se protagonista social quan-

do, de maneira direta e célere, atua politicamente por meio

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de canais da internet apresentando sua opinião, propondo

mudanças e propostas e até mesmo criticando a forma ins-

titucional tradicional ou o que está em desacordo com seu

modo de pensar. Nesta mesma linha de pensamento, Luño

afirma a necessidade de se (re)pensar a democracia parla-

mente representativa por uma democracia que aconteça di-

retamente por meio da participação mais efetiva do cidadão

(PEREZ LUÑO, 2004, p. 67 e 68).

Este tipo de ativismo utilizando a internet e sua arquitetura

de rede interconectada serve de base fortalecedora para or-

ganizações se articularem tanto no espaço local quanto no

global, importando e exportando discussões de coletivida-

des de ideias e articulações de ações que encontram aqui

diversificadas fontes de informação que se propagam de for-

ma colaborativa.

Votações, colaborações, consultas de enfoque públicos nes-

te meio digital manifestam os anseios e a vontade do povo

governado e mostram os caminhos de uma democracia que

precisa ser construída cada vez mais de forma colaborati-

va com o Estado para que alcance o bem comum (PEREZ

LUÑO, 2004, p. 67-69).

O cibernauta assume no atual ciberespaço uma identidade

de cidadania não apenas local, mas global, o cidadão que

povoa este espaço é habitante de dois mundos: o “real”, fí-

sico e das redes entrelaçadoras da internet que vê na alte-

ridade do outro uma possibilidade de troca, luta e impactos

que advém das redes digitais. Assim, os atores sociais que

interagem por meio das novas tecnologias da informação,

não mais face a face, mas tela a tela, organizam-se em co-

munidades virtuais que interligam ser, identidade, rede, cola-

boração e transformação de estruturas sociais.

Dessa forma, “as redes permitem reduzir os empecilhos do

número e da distância, aumentar indefinidamente o volume e

a transparência da informação pública, promover o livre inter-

câmbio de opiniões, favorecer a democracia direta por limitar

desvios ou falhas da democracia representativa” (GUILLAU-

ME, 1996, p. 151).

A multiplicação de espaços democráticos pela rede poten-

cializa o exercício de cidadania e democracia a partir do

computador e amplia as tradicionais formas de em que es-

tes espaços se davam. Apontando uma “civilização da tele

presença generalizada. Para além de uma física da comuni-

cação, a interconexão constitui a uma humanidade em um

contínuo sem-fronteiras” (LEVÝ, 1999, p.127).

As decisões democráticas ganharam maior transparência

e poder de fiscalização por meio do acesso instantâneo de

bancos de dados, perfazendo um novo tempo em que a de-

mocracia se manifesta nas redes interativas da internet. A re-

programação das sociedades em rede exerce diversificados

mecanismos que produzem poder capaz de influenciar os

poderes que estão historicamente constituídos.

Segundo Lévy, a internet mundanizou a política fortalecen-

do as organizações ativistas e também os movimentos de

oposição de forma que, seus processos de organização já

não precisam mais se apresentar de maneira hierárquica e

burocrática (2003, p. 137). Uma condição ativista se torna

essencial para que os cidadãos estabeleçam uma postura ci-

berdemocrática que instiga as pessoas que também habitam

estes espaços, as provocam no estabelecimento de deba-

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tes públicos com exposição e reformulação de opiniões, os

encorajam para defenderem seus pensamentos, lutarem por

direitos através de movimentos políticos e sociais.

Os debates públicos fomentados pela participação e provo-

cação do cidadão de muitos por muitos que se dão na rede,

na contextualização de Rodrigues (2012, p. 29) reafirma, o

que já se verificou neste estudo no que se refere às novas

contextualizações de ágoras públicas.

Para Rodrigues (2012, p. 29), as praças públicas/ágoras eram

locais públicos de realização de assembleias para debates com

livre exercício de manifestação de ideias e expressão que envol-

viam as mais diversificadas questões sociais. Hoje, no contexto

digital da internet estas delimitadas praças públicas transfor-

mam-se em espaços virtuais ilimitados – como por exemplo os

blogs - como sendo um lugar em que, qualquer pessoa com

acesso a internet pode manifestar seu pensamento estabele-

cendo-se ali o compartilhamento de conhecimento.

Assim, o novo espaço geográfico formado pela internet, cha-

mado espaço virtual, cede lugar para a formulação se denomina

ciberdemocracia, que nada mais é a manifestação de assuntos

democráticos e políticos neste novo ecossistema político social.

Ao servir de subsídio para incrementar práticas de democracia

cotidianamente, Pozobon (2011, p. 182) apresenta o que es-

tabelece os graus de uma democracia digital. Em uma escala

de um a cinco, a autora reflete os graus da democracia digi-

tal como sendo o primeiro, considerado elementar, é o aces-

so dos cidadãos aos serviços públicos através da rede para

acompanhamento em tempo real das informações dos seus

representantes políticos em todas as esferas de poderes.

O segundo grau se dá por meio de consultas interativas por

meio da rede entre cidadão, em terceiro grau está a busca

pela efetiva transparência dos atos públicos praticados pe-

las esferas dos poderes por meio de fornecimento de infor-

mações e prestação de contas a todo o cidadão, em quarto

grau o Estado dá lugar a participação popular por meio de

informações de seu funcionamento, intervindo de maneira

deliberada no que tange às decisões públicas tomadas em

proveito do bem comum (POZOBON, 2011, p. 182).

Em pensando a possibilidade da concretização destes cin-

co graus de democracia digital, certo é que a ciberdemo-

cracia vem tomando forma e servindo de ferramenta para a

participação mais ativa do cidadão nas atividades políticas,

assim como, vem apoiando as responsabilidades e direitos

dos cidadãos enquanto atores da democracia e da voz das

maiorias representando as decisões a serem tomadas como

legítimas por advirem dos atores em sociedade.

Com efeito, as participações democráticas via internet ainda

precisam, além da ampla divulgação de informações, aper-

feiçoar virtudes que dizem respeito aos debates enquanto

aperfeiçoadores das participações digitais, operando em ní-

vel local e global as atividades que acontecem na arquitetura

desta tecnologia on-line e refletem também socialmente de

maneira off – line.

O amadurecimento de um processo ciberdemocrático se

faz necessário para consolidação da interatividade digital e

a apreciação das manifestações apresentadas pelos ciber-

cidadãos, bem como a consolidação e destas construções

colaborativas junto aos órgãos públicos. A informação, para

tanto, é a peça de maior preciosidade para que este quebra-

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// Revista da Faculdade de Direito // edição 5 // número 5 // 1º semestre de 2018

-cabeça se encaixe no modelo de sociedade.

O Estado contemporâneo assiste uma onda de participação

cidadã na política e passa a vivenciar na internet, um instru-

mento para que a democracia seja fortalecida na estrutura do

Estado Democrático de Direito. Aliado a este pensamento,

já no ano de 2011, a ONU - Organização das Nações Uni-

das - alçou o acesso à internet ao parâmetro de direito hu-

mano fundamental por ser esta instrumento que possibilita a

participação dos cidadãos na consolidação da democracia,

mencionando ainda que o fato de desconectar as pessoas

ligadas nesta plataforma de informação é violar a política dos

direitos humanos (G1, 2011).

As garantias estabelecidas no nosso modelo de Estado De-

mocrático visam dar ao cidadão a capacidade de exercer a

democracia aqui estabelecida ao povo por meio de sua livre

participação. Introduz-se, assim, através do Estado Demo-

crático de Direito uma política que visa o equilíbrio na esfera

político-social, o equilíbrio do bem comum e a ojeriza ao mo-

delo de autocracia absolutista de poder, que busca através

de normas democráticas e eleições populares o respeito e a

garantia dos direitos fundamentais do povo.

Ao observar os movimentos das sociedades no espaço da

internet já mencionados no presente estudo, é possível con-

siderar que esta vem mudando o modo como o cidadão vem

exercendo seu direito à democracia no Estado Democrático

de Direito, por interagir com o órgão legislativo de qualquer

escala de maneira on-line.

É por isso que o grande desafio dos ciberespaços enquanto

fonte para realização da cibercidadania e da ciberdemocra-

cia é transformar a participação de todos os cibercidadãos

em vozes de efetiva representatividade para que a participa-

ção cidadã fortaleça a democracia nestes palcos.

Na concepção de Luño (2014, p. 14), a ciberdemocracia cha-

mada por ele neste momento de teledemocracia pode ser o

principal canal para a que se promova democracias mais au-

tênticas, efetivas e plenas na participação política do século

XXI, em termos de cibercidadania.

Para tanto, se faz necessário que não apenas a dissemina-

ção do acesso à internet se faça no Brasil e no mundo, mas

também é ordem do dia, para que estes espaços se realizem

enquanto transformadores do conceito e da realização da

democracia e da cidadania a “alfabetização crítica digital” do

usuário por meio da pulverização da informação para servir

de apoio a fiscalizações, críticas e sugestões aos órgãos de

representatividade social.

Nesse seguimento, as diferenças de acesso precisam ainda

a nível mundial ser diminuídas para que o ciberativismo, a ci-

bercidadania e ciberdemocracia aconteçam de forma iguali-

tária e eficaz. Portanto, necessário que os países se engajem

nesta luta para que, além do acesso, se eduque a “formação

de hábitos de conhecimento e processamento crítico dos

dados necessários. Na falta destas condições contextuais,

a conexão a redes informáticas oferece saberes de baixa ou

nenhuma utilização” (CANCLINI, 2009, p. 236).

Ainda, em matéria de novos modos de realização da demo-

cracia, são oportunos os ensinamentos de Boaventura de

Souza Santos quando esclarece o núcleo da questão tanto

nas antigas quanto nas novas formas de reescrever demo-

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cracia nas plataformas digitais: “Democracia é todo o pro-

cesso social, político e cultural por via do qual relações desi-

guais de poder são gradualmente substituídas por relações

de autoridade partilhada. [...] Democratizar é um processo

sem fim” (PÚBLICO, 2016).

Por fim, importante o registro de que há muito que se apri-

morar e amadurecer nestes novos meios de representação

democrática, porém, o caminho que até aqui se trilhou já de-

monstrou que a internet escreve seu legado como um meio

capaz de fomentar, discutir e produzir democracia frente às

manifestações e anseios populares.

CONCLUSÃO

O estudo proposto buscou analisar a vivência de uma das

mais importantes revoluções da atualidade, a internet po-

tencializa novos espaços de interação social entre os atores

sociais que se conectam por meio da rede e conquistam um

novo modo de comunicação global, fazendo com que des-

tas novas interações criem-se novos modos de apresentar a

cidadania e a democracia no cenário de empoderamento da

internet ao cidadão, de maneira a repensar as novas formas

de inteligência coletivas citada por Pierre Lévy.

As novas tecnologias movimentam o modo de vida dos cida-

dãos, os sistemas financeiros, informacionais, educacionais,

culturais, políticos, etc, de forma instantânea e sem frontei-

ras. Tais fatores trazem consigo e com a ideia de socieda-

de em rede, impactos nos mais diversificados segmentos e

vem cada vez mais desafiando o Estado e os atores sociais a

apresentarem respostas apropriadas às questões postas nos

ambientes virtuais.

Por fim, o estudo apresentado visa contribuir para a reflexão

e concretização da democracia e cidadania frente às redes

virtuais proporcionadas pelo ambiente on-line da internet por

meio dos cidadãos ativistas. A problemática enfrentada neste

estudo buscou demonstrar a importância que a tecnologia da

internet representa atualmente na sociedade estruturada em

uma rede digital e as manifestações sociais que nela se dão.

Se verifica que, a estrutura das redes virtuais possibilitadas

no ambiente da internet, são capazes de estabelecer e con-

cretizar diálogos fortalecedores da democracia e a cidadania

por meio das redes virtuais garantindo a participação demo-

crática em busca do fortalecimento de direitos e garantias

estabelecidos a todos os seus usuários.

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Notas

1. Doutoranda em Direito Público (Hermenêutica, Constituição e concretização de Direitos) na Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos. Bolsista CA-PES PROEX. Professora da Faculdade São Judas Tadeu (Porto Alegre/RS). Mestre em Direito. Advogada com especialização em Administração Pública. E-mail: [email protected].

2. Talvez o mais simbólico movimento a utilizar as novas tecnologias da informação seja o denominado Indignados, ocorrido na Espanha. Denunciando o financiamento internacional em decorrência da globalização, Hessel convida a todos que indignem-se frente às frequentes violações dos Direitos reconhece as importantes conquistas da segunda metade do século XX no que se refere aos Direitos Humanos, as alcançados pelo Estado de bem estar e, ao mesmo tempo, não deixa de reconhecer, assinalando os atuais e significativos retrocessos vivenciados quanto a temática (HESSEL, 2010). 3. Esta proteção pode ser verificada ao longo de quatro artigos da Lei nº 12. 965/14: Artigo 2o; Artigo 7o; Artigo 24; Artigo 26 (BRASIL, 2014).

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