sociedade contemporanea e alienação

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SOCIOLOGIA AULA 12 Sociedade contemporânea e

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Page 1: Sociedade contemporanea e alienação

SOCIOLOGIA

AULA 12

Sociedade contemporânea e alienação

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Pensar é algo que certamente não se aprende; é a coisa mais compartilhada do mundo, a mais espontânea, a mais orgânica. Mas aquela também da qual se é mais afastado. Pode-se desaprender a pensar. Tudo concorre para isso. Entregar-se ao pensamento demanda até mesmo audácia quando tudo se opõe, e, em primeiro lugar, com muita freqüência, a própria pessoa! Engajar-se no pensamento reclama algum exercício, como esquecer os adjetivos que o apresentam como austero, árduo, repugnante, inerte, elitista, paralisante e de um tédio sem limites. Frustrar as artimanhas que fazem crer na separação entre o intelectual e o visceral, entre o pensamento e a emoção. Quando se consegue isso, é como se fosse a eterna salvação!

(Viviane Forrester, O Horror Econômico.)

Você concorda que vivemos numa sociedade em que “tudo concorre”

para que desaprendamos a pensar?

Quais seriam as evidências disso?

Quais asconseqüências?

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Alienação e reificaçãoJá tratamos, em aulas anteriores, do conceito sociológico de fato social.

Dissemos então que, quando o indivíduo se entrega às pressões sociais, sem perceber que a consciência coletiva acaba por delimitar suas visões de mundo, estamos diante de um caso de alienação. Agora, vamos analisar mais profundamente esse conceito, tão importante para a Sociologia moderna.

Podemos chamar de alienado o elemento afastado do grupo, e de alienação, a transferência de propriedade de um bem (como automóveis e jóias), ou até mesmo a insanidade mental. Mas há outros sentidos para a palavra: no século XVIII, Jean-Jacques Rousseau definiu alienação como o fenômeno por meio do qual os indivíduos perdem sua consciência da vida concreta, deixando-se influenciar por terceiros e a eles transferindo seus direitos. Já para Norberto Bobbio, ela seria a aculturação dos colonizados pelos colonizadores e a manipulação de massas pela mídia. Por isso, de maneira geral, a idéia dealienação ficou relacionada à perda de identidade, a uma situação de dependência, como se se tratasse de uma característica exclusiva das classes subalternas. Isso é um erro: são passíveis de se alienar tanto dominados como dominantes. A alienação, na acepção marxista, é:

o estado no qual um indivíduo, grupo, instituição ou sociedade se tornam ou permanecem estranhos aos resultados ou produtos de sua própria atividade, à natureza, a outros seres humanos e, por tudo isso, também a si mesmos.

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É certo que mecanismos de manipulação já existiam nas primeiras comunidades, quando as pessoas seguiam um líder,

com o compromisso de garantir a organização do grupo. Mas não se pode negar que a divisão do trabalho – que transformou o artesão em operário, ou seja, num produtor que não precisa

conhecer todo o processo produtivo, nem utilizar sua capacidade criativa – acentuou esse processo. Despersonalizado, o operário

tornou-se uma máquina ou uma coisa.

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Daí se origina o conceito de reificação, que seria o ato (ou resultado) de transformação das propriedades, relações e ações produzidas pelo homem em propriedades, relações e ações de coisas que passam a ser vistas como independentes dele. Trata-se de um processo em que os seres humanos são transformados em objetos fixos, automatizados e passivos, como se fossem coisas. Este é um tipo especial de alienação, característico da sociedade capitalista. É uma verdadeira “coisificação”: Marx a chamou de fetichismo; o filósofo Georg Lukács usa o termo reificação.

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Em qualquer estágio social o produto do trabalho é valor de uso ou objeto de utilidade, mas há uma época determinada, no desenvolvimento histórico da sociedade, que geralmente transforma o produto do trabalho em mercadoria: é aquela em que o trabalho despendido na produção dos objetos úteis toma o caráter de uma qualidade inerente a estas coisas, de valor delas.

E o que seria a reificação das relações sociais?No Tomo I de O Capital, Marx afirma:

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Isso não quer dizer que o valor se torna uma qualidade da coisa, como sua cor ou seu cheiro. O valor se apresenta à consciência dos homens como se fosse uma qualidade objetiva da mercadoria. Isso não acontece nas trocas diretas entre os clãs da comunidade tribal ou com o trabalho do servo na corvéia do senhor, em que a produção não era mercantilizada e o trabalho não era comprado como coisa. Vejamos um exemplo: “um par de sapatos custa cinco mil reais”. Eis a expressão de uma relação social reificada. A maioria ignora a relação mútua entre o criador de gado, o curtidor de couro, seus empregados, seus operários, o revendedor, o comerciante de calçados e, enfim, o consumidor. Nada disso é visível.Tudo se resume a um só fato: “um par de sapatos custa cinco mil reais”. O preço parece exprimir uma qualidade natural da coisa. E este não é um fato isolado. A alienação ocorre em todas as demais esferas da consciência.

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Hoje vivemos numa sociedade caracterizada pela globalização produtiva, que é, para alguns, também cultural. Com a internacionalização da produção, as multinacionais instaladas nos países periféricos e a expansão do capital financeiro, entramos numa Terceira Revolução Industrial. Novos ramos da técnica se desenvolvem hoje, como a informática, a microeletrônica, a robótica e a biotecnologia. Nesse processo, desenvolvem-se duas contradições:

• Enquanto avançam a ciência e a tecnologia, as possibilidades de criação de empregos esgotam-se. Com o desemprego, cai a renda dos consumidores.

• A reorganização das formas de gerenciamento quebra a solidariedade “no chão da fábrica”, pois acirra o individualismo e a desagregação dos trabalhadores, que passam a ser responsáveis pelo controle de qualidade do grupo e são remunerados em função das metas de produção a serem atingidas.

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Após o colapso da URSS, o filósofo norte-americano Francis Fukuyama proclamou o “fim da História”. Encerrada a Guerra Fria, a vitória do capitalismo sobre o socialismo instaurava a ordem final e definitiva de organização da sociedade. Uma sociedade de classes médias inchadas, em que a luta de classes daria lugar a lutas pela inclusão social e pela ampliação da cidadania, contra o desemprego e a fome. Uma vez resolvidos esses problemas, à humanidade só restaria gozar o eterno presente da civilização sem ideologias políticas. Nada mais adequado para iniciar um próspero milênio com o século XXI.

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De repente, na manhã de 11 de

setembro de 2001, dois jatos lotados de

passageiros se chocam contra as torres do World

Trade Center, em Nova Iorque. O

símbolo do poder financeiro norte-

americano desaba, matando milhares

de pessoas no maior atentado terrorista

da história. E a maior potência

militar do planeta reage apontando

suas armas contra os fundamentalistas.

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O mundo vê novas contradições aflorando. Ou não seriam tão novas assim? O aparente choque entre Ocidente e Oriente não opõe mais visões antagônicas de mundo, como na época da Guerra Fria, mas se dá no interior do mundo capitalista. Contrapõe, no entanto, divergentes concepções políticas de organização da cultura, além de interesses econômicos definidos por classes sociais. Os fundamentalismos religiosos servem de munição explosiva para os confrontos não apenas internacionais, mas agora interinstitucionais. O que é a organização al-Qaeda? A Autoridade Nacional Palestina seria um Estado? Uma verdade salta aos olhos: a violência não é fruto da simples falta de educação. Ao contrário, pessoas bastante cultas podem ser extremamente violentas. Assim como também nem sempre a pobreza é fonte de violência ou a riqueza o berço da civilidade e harmonia. Se assim fosse, cidades como São Paulo e Rio de Janeiro seriam recantos de paz e alguns municípios do Piauí estariam no ventre da violência.

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Não podemos nos deixar manipular.É preciso pensar de

forma crítica e romper com a

alienação e a manipulação.

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Movimentos sociais contemporâneosO meio ambiente precisa ser defendido da agressão humana. Para tanto, líderes de todo o mundo assinaram, em 1997, o Protocolo de Kyoto. Seu objetivo fundamental é fazer com que os governos das nações mais poluidoras adotem medidas para a diminuição gradativa das práticas que ameaçam o meio ambiente e a própria sobrevivência da vida na Terra.

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Minimizar os efeitos de um progresso desordenado é apenas um dos muitos desafios que se colocam ao homem do século XXI, que precisou encontrar novas formas de atuação social. Dentre elas, destacam-se as Organizações Não-Governamentais (ONGs). Elas surgiram nos anos 1970 como “assessorias” aos movimentos populares e se perpetuaram como “grupos que dão às pessoas uma forma de reconquistar um direito que lhes foi omitido”. Ocuparam o vazio deixado pelo enfraquecimento dos partidos políticos e dos sindicatos. Acompanharam a ascensão de movimentos sociais apartidários, que retomaram problemas adormecidos, como a questão étnica na Bolívia ou o desrespeito aos direitos das minorias.

Apresentam-se como organizações “puras” e íntegras, como legítimos representantes dos descontentes e destituídas de vícios como a corrupção. Propõem-se a “mudar o mundo sem tomar o Poder”.

Participam, normalmente, de mobilizações que podem ser classificadas em dois blocos:

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A “multidão” com gestão própria, que se

propõe asubstituir o

proletariado ou o campesinato, nocombate a um só

“Império”, e não a Estados imperialistas

diversos.

Movimentos sociais orgânicos, como os

indígenasna Bolívia e no Equador ou o

Movimento dosTrabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no

Brasil.

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As ONGs absorveram os conceitos de democracia e de cidadania. Tornaram-se funcionais para o capitalismo. Diante do

Estado aparentemente inerte,assumiram um papel de neoassistencialismo.