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SOBRE SISTEMAS DE MEDIÇÃO DE VOLUME DE MADEIRA BASEADOS EM MAPEAMENTO DE SUPERFÍCIE Raphael Carlos Santos Machado (Inmetro) [email protected] luiz fernando rust da costa carmo (Inmetro) [email protected] Boris Gabina Dias (Inmetro) [email protected] Renato Ferreira Lazari (Inmetro) [email protected] A comercialização de madeira roliça é feita, tradicionalmente, utilizando medidas de volume derivadas da superfície “externa” da pilha de madeira, ou seja, um volume que compreende madeira e matéria residual (ar e outros resíduos). A tradiçção consolidou o uso da unidade “estéreo” para a referência ao volume, em metros cúbicos, de uma “pilha” de madeira roliça, compreendendo madeira e matéria residual. Neste trabalho, discutimos a validade do uso de medidas de volume derivadas da superfície externa de pilhas de madeira em transações comerciais aderentes às unidades do Sistema Internacional. Adicionalmente, apresentamos uma proposta de definição de “volume de uma pilha” adequada às modernas técnicas de medição automatizada de madeira empilhada baseadas em mapeamento de superfície. Finalmente, descrevemos requisitos de segurança da informação e apresentamos um protocolo para o acompanhamento de erros em sistemas automatizados de medição de volume de madeira roliça a partir de mapeamento de superfície de pilhas. Palavras-chaves: sistemas de medição, volume sólido, estéreo XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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SOBRE SISTEMAS DE MEDIÇÃO DE

VOLUME DE MADEIRA BASEADOS EM

MAPEAMENTO DE SUPERFÍCIE

Raphael Carlos Santos Machado (Inmetro)

[email protected]

luiz fernando rust da costa carmo (Inmetro)

[email protected]

Boris Gabina Dias (Inmetro)

[email protected]

Renato Ferreira Lazari (Inmetro)

[email protected]

A comercialização de madeira roliça é feita, tradicionalmente,

utilizando medidas de volume derivadas da superfície “externa” da

pilha de madeira, ou seja, um volume que compreende madeira e

matéria residual (ar e outros resíduos). A tradiçção consolidou o uso

da unidade “estéreo” para a referência ao volume, em metros cúbicos,

de uma “pilha” de madeira roliça, compreendendo madeira e matéria

residual. Neste trabalho, discutimos a validade do uso de medidas de

volume derivadas da superfície externa de pilhas de madeira em

transações comerciais aderentes às unidades do Sistema Internacional.

Adicionalmente, apresentamos uma proposta de definição de “volume

de uma pilha” adequada às modernas técnicas de medição

automatizada de madeira empilhada baseadas em mapeamento de

superfície. Finalmente, descrevemos requisitos de segurança da

informação e apresentamos um protocolo para o acompanhamento de

erros em sistemas automatizados de medição de volume de madeira

roliça a partir de mapeamento de superfície de pilhas.

Palavras-chaves: sistemas de medição, volume sólido, estéreo

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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1. Introdução

A comercialização de madeira roliça é feita, tradicionalmente, utilizando medidas de volume

derivadas da superfície “externa” da pilha de madeira, ou seja, volume que compreende

madeira e matéria residual (ar e outros resíduos). A tradição consolidou o uso da unidade

estéreo para a referência ao volume, em metros cúbicos, de uma “pilha” de madeira roliça,

compreendendo madeira e matéria residual. De fato, a grande maioria das técnicas de

medição de madeira baseia-se em medidas feitas na “superfície” de pilha de toras de madeira

e em estimativas estatísticas do fator de empilhamento, que é arelação entre o volume da pilha

(madeira sólida mais volume residual) e o volume de madeira. Recentes sistemas automáticos

de medição de baseados em mapeamento a laser de superfície de pilhas de madeira de

reforçaram ainda mais a importância da informação do “volume de superfície” no comércio

de madeira.

Organismos de Metrologia Legal (INMETRO,1999;OIML,2007), por outro lado, já há

algumas décadas sinalizavam a intenção de descontinuar o uso da unidade estéreo no

comércio de madeira. Em 1999, a Portaria Inmetro nº 130 determina a extinção, a partir de 1º

de janeiro de 2010, do uso da unidade “estéreo” nas operações envolvendo produção, colheita,

baldeio, transporte e comercialização da madeira roliça, prestando-se como combustível ou

como matéria prima industrial. Mais precisamente, a Portaria 130 de 1999 determina que, a

partir de 2010, apenas unidades do Sistema Internacional sejam aceitas para as operações com

madeira anteriormente citadas. A proibição do uso da unidade “estéreo” pela Portaria 130 de

1999 determina a necessidade de se adaptar a comercialização de madeira ao novo

regulamento.

Tal cenário coloca em cheque toda a cadeia produtiva associada ao comércio de madeira. Por

um lado, tais cadeias encontram-se fortemente dependentes da eficiência dos processos

automatizados de medição de madeira, que por sua vez são baseados sobre sensores de

superfície. Por outro lado, recomendações nacionais (INMETRO,1999) e internacionais

(BIPM,2006;OIML,2007) apontam para a impossibilidade do uso de medidas de volume de

superfície – e, portanto, de sistemas automatizados de medição – no comércio de madeira.

O presente trabalho apresenta contribuições e esclarecimentos que visam à viabilidade da

comercialização de madeira roliça em um cenário que conjuga a extinção da unidade

“estéreo” e o advento de sistemas automatizados de medição de volume de madeira roliça

baseados no mapeamento da superfície exterior de tais pilhas. Tais contribuições e

esclarecimentos são enumerados a seguir:

a) Consolidação da equivalência entre “metro cúbico” e “estéreo”, a partir da observância a

documentos fundamentais da metrologia, tais como a lei francesa (FRANÇA,1795)

“Décret relatif aux poids et aux measures, 18 germinal an 3”, o documento (OIML,2007)

“D 2 Consolidated Edition 2007 (E)”, e o “Sistema Internacional de Unidades, oitava

edição”(BIPM,2006), dando base legal para a manutenção do comércio de madeira

baseado em medidas de volume de superfície.

b) Determinação de uma definição para o “volume de uma pilha” aderente às atuais técnicas

de medição de volume de madeira baseadas em mapeamento de superfície.

c) Descrição de requisitos de Segurança da Informação para sistemas automatizados de

medição de volume de madeira roliça dotados de processamento e comunicação de dados.

d) Proposta de um protocolo para o acompanhamento do desempenho dos algoritmos de

medição de sistemas automatizados de medição de volume de madeira roliça.

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Na Seção 2, discutimos a importância da manutenção da confiabilidade nas informações de

medições, seja para uma maior confiança nos processos produtivos, seja para uma melhor

inserção internacional das empresas que conduzem estes processos.

2. Confiabilidade dos processos de medição

A confiabilidade na medição como um todo é especialmente necessária onde quer que exista

conflito de interesse, ou onde quer que medições incorretas levem a riscos indesejáveis aos

indivíduos ou à sociedade.

O desenvolvimento tecnológico tem determinado a efetiva implantação do controle

metrológico dos instrumentos de medição. Cobrindo inicialmente apenas as medições com

fins comerciais, as atividades de metrologia legal vêm sendo estendidas, gradualmente, às

demais áreas previstas na legislação.

Para exercer o controle, no âmbito das medições, o Governo expede leis e regulamentos. Os

regulamentos estabelecem métodos de ensaios, erros máximos, rotinas de calibração e a gama

de procedimentos de natureza compulsória a que devem satisfazer os fabricantes,

importadores e detentores dos instrumentos de medição a que se referem.

A elaboração de regulamentos técnicos metrológicos, de caráter compulsório, baseia-se nas

recomendações internacionais da Organização Internacional de Metrologia Legal (OIML),

pois o Brasil é um dos países signatários dessa Organização.

A OIML descreve o termo metrologia legal como “parte da metrologia que trata das unidades

de medida, métodos de medição e instrumentos de medição em relação às exigências técnicas

e legais obrigatórias, as quais têm o objetivo de assegurar uma garantia pública do ponto de

vista da segurança e da exatidão das medições”.

Podemos observar que esse termo caracteriza todos os níveis e setores de uma nação

desenvolvida. As ações governamentais nesse campo objetivam, por um lado, a disseminação

e a manutenção das medidas e unidades harmonizadas e, por outro, a supervisão e avaliação

dos instrumentos e métodos de medição.

O principal objetivo estabelecido legalmente no campo econômico é proteger o consumidor

enquanto comprador de produtos e serviços medidos e, o vendedor, enquanto fornecedor

desses. A exatidão dos instrumentos de medição, especialmente em atividades comerciais,

dificilmente pode ser conferida pelas partes envolvidas por não possuirem os meios técnicos

para fazê-lo.

Figura 1 – Campos de atuação da Metrologia Legal

O controle metrológico legal pode ser entendido como uma expressão que designa a ação

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efetuada pelo Estado sobre os instrumentos de medição e medidas materializadas,

notadamente utilizadas nas atividades comerciais, na saúde, na segurança e no meio ambiente.

Para atender a esse controle são realizadas as apreciações técnicas de modelo, que

correspondem ao “Exame e ensaio sistemático do desempenho de um ou vários exemplares de

um modelo (tipo) identificado de um instrumento de medição, em relação às exigências

documentadas, a fim de determinar se o modelo (tipo) pode ou não ser aprovado, e cujo

resultado está contido no relatório de apreciação técnica.” (VIML, 2007).

Figura 2 – Fluxo da regulamentação

Nos últimos anos, as questões relativas a controle metrológico de elementos de medição têm

sido objeto de crescentes preocupações para as indústrias que atuam em diversas áreas da

cadeia produtiva. O Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial

(Inmetro), órgão do Governo Federal, é responsável por todas as ações desenvolvidas no

âmbito da metrologia, no país. Objetivando ao atendimento das exigências da sociedade, a

Diretoria de Metrologia Legal (Dimel) tem a incumbência de desenvolver todas as ações da

Instituição.

Para isso, também realiza as verificações metrológicas, que correspondem ao conjunto de

operações compreendendo o exame, a selagem e a emissão de um certificado que comprove

as condições metrológicas e o adequado funcionamento do instrumento de medição, sistema

de medição ou medida materializada que satisfaça às exigências regulamentares, isto é,

corresponde ao conjunto de operações destinadas a averiguar o desempenho do modelo

aprovado.

Figura 3 – fluxo do controle metrológico

Recentemente a área de medição de volume de madeira está recebendo uma atenção cada vez

maior devido à publicação da Portaria Inmetro n° 130 1999, através da qual foi aprovada a

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abolição do uso da unidade estéreo para medição de madeira, sendo substituída pelo Sistema

Internacional (SI).

Dentro do cenário apresentado, há uma grande necessidade de que as empresas espalhadas por

todo o nosso país mudem seu modelo de atuação e infra-estrutura capaz de medir esse volume

nas unidades do SI e assegurar que os resultados das medições reflitam um sistema de

medição confiável e em consonância com os padrões tecnológicos regulamentares

estabelecidos.

Para atender a essa necessidade de mercado foi verificado que um número muito pequeno de

empresas possui um sistema de medição nessas condições para a área de medição de madeira.

Analisando o porquê dessa dificuldade verificamos que a dificuldade não está na

implementação do sistema e sim, nos requisitos técnicos, referentes à própria medição.

Isso se dá pelo alto investimento necessário, falta de pessoal capacitado e um estudo que

deixe claro os cuidados metrológicos que se deve ter na aquisição dos dados e na

determinação de seus erros.

3. O metro cúbico e o estéreo

O “estéreo” ou “volume estéreo” é uma unidade de medida tradicionalmente utilizada para a

comercialização de madeira. Embora a tradição tenha consolidado o uso de unidade com

nomenclatura específica para a medida de volume de madeira roliça, a unidade “metro

estéreo” é equivalente à unidade metro cúbico. O uso da nomenclatura “estéreo” (algumas

vezes mencionada como “metro estéreo”) em detrimento do “metro cúbico” advém da

conveniência de se deixar explícito que determinada pilha madeira a ser comercializada teve

estimada apenas a sua superfície, e que, portanto, o volume de madeira que poderá

efetivamente ser utilizada como combustível ou como matéria prima industrial irá depender

do fator de empilhamento, o qual, por sua vez, determina a quantidade de “espaço vazio”

entre as toras de madeira. Observe, entretanto, que a equivalência entre o “metro cúbico” e o

“estéreo” é determinada desde a definição original destas unidades no artigo quinto do decreto

francês de 1795 relativo a pesos e medidas (FRANÇA1795):

Décret relatif aux poids et aux mesures.

18 germinal an 3 (7 avril 1795)

[...]

5. Les nouvelles mesures seront distinguées dorénavant par le surnom de

républicaines; leur nomenclature est définitivement adoptée comme il suit:

On appellera: Mètre, la mesure de longueur égale à la dix-millionième partie de

l'arc du méridien terrestre compris entre le pôle boréal et l'équateur.

Are, la mesure de superficie, pour les terrains, égale à un carré de dix mètres de

côté.

Stère la mesure destinée particulièrement aux bois de chauffage, et qui sera égale

au mètre cube.

Litre, la mesure de capacité, tant pour les liquides que pour les matières sèches,

dont la contenance sera celle du cube de la dixièrne partie du mètre.

Gramme, le poids absolu d'un volume d'eau pure égal au cube de la centième

partie du mètre , et à la température de la glace fondante. [...]”

Observe que a lei francesa consolida, também, outras unidades de uso específico, como, por

exemplo, o litro, equivalente a 0,001m3 e utilizado para a medida de volume de fluidos, e o

are, equivalente a 100m3 e utilizado para a medida de área de terras. Observe, ainda, que o

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litro [SI] é considerado uma unidade legal de medida, enquanto o are não o é (OIML,2007).

A Portaria 130 de 1999, que determina a descontinuidade do uso da unidade “estéreo”, baseia-

se no documento D2 da Organização Internacional de Metrologia Legal (OIML,2007), a qual,

por sua vez, reforça, em sua seção B2, a equivalência “1st=1m3”. Portanto, a aderência ao

Sistema Internacional de medidas pode ser alcançado pela simples manutenção das técnicas

de estimativa de volume de pilha, formalizando-se as metodologias de cálculo e expressando-

se o volume final em termos de “metros cúbicos de madeira e matéria residual” – onde, por

matéria residual, entende-se o ar compreendido entre as toras de madeira, além de outros

resíduos porventura presentes neste espaço. Uma alternativa é a determinar o volume sólido

de madeira através do mapeamento da superfície da pilha de madeira e de uma estimativa do

fator de empilhamento, o que, de fato, é feito pelos atuais sistemas automatizados de medição

de volume de madeira, embora seja recomendável que o volume da pilha (compreendendo

madeira e matéria residual) também seja informado. No caso de esta alternativa ser utilizada,

a comercialização se dará em termos de “metros cúbicos de madeira” e deverá ser feito

acompanhamento de forma a verificar se o método de estimativa de volume sólido de madeira

é efetivo e encontra-se dentro de erros máximos aceitáveis.

Uma vez determinadas as bases legais para o comércio de madeira baseado em mapeamento

de superfície de pilhas de madeira, é importante que se proponha uma definição de volume de

superfície aderente ao funcionamento dos sistemas automáticos de medição, o que é feito na

Seção 4, a seguir.

4. Volume de madeira de uma pilha

Embora extensivamente utilizado na comercialização de madeira, o estéreo não encontra

definição precisa na literatura técnica. De fato, os documentos que permitiram comprovar, na

Seção 2, a equivalência entre “metro cúbico” e “estéreo” foram obtidos em legislações e

organismos internacionais. A literatura técnica de engenharia florestal e disciplinas

associadas, ao contrário, tende a apresentar métodos diversos que buscam estimar o volume

de uma superfície associada a uma pilha de troncos. Em todas as definições, no entanto, o que

se verifica é a busca por um “volume de superfície” de uma pilha de toras de madeira. Tais

definições, naturalmente, são determinadas pelo conhecimento e tecnologias disponíveis,

além da precisão desejada para a medição, e deixam evidente a necessidade, por parte da

comunidade ligada à medição de volume de madeira roliça, de definições para o volume da

superfície exterior de uma pilha.

Observe a Figura 4 que apresenta uma pilha genérica de toras de madeiras, e a cujas

dimensões x, y e z nos referiremos ao longo deste texto. Algumas possibilidades de definições

para o volume exterior da são descritas a seguir.

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Figura 4 – Pilha de toras de madeira (retirada da Portaria Inmetro 130 de 1999)

a) Volume do menor paralelepípedo que contém a pilha de toras de madeira

(INMETRO,1999). Tal medida apresenta o inconveniente de que as alturas ao longo da

pilha (dimensão z) podem variar bastante. Além disso, embora se espere que a variação

nos comprimentos dos troncos (dimensão x) seja pequena, tal premissa pode não ser

completamente verdadeira.

b) Volume do menor sólido convexo que contém a pilha de toras de madeira

(INMETRO,1999). Assim como a definição anterior, tal medida apresenta inconveniente

derivados de variações nas dimensões individuais das toras e das alturas em diferentes

pontos da pilha. Ainda assim, apresenta erro não-superior (e, possivelmente, inferior) ao

da definição anterior, já que o próprio paralelepípedo é um sólido convexo.

c) Volume do paralelepípedo de comprimento y, largura x‟ – média dos comprimentos das

toras – e altura z‟ – média das alturas da pilha. Neste caso, os pontos da pilha onde será

medida a altura (de forma a calcular o valor z‟) são determinados pelo protocolo de

medição [BATISTA&COUTO,2002;BERTOLA ET AL,2003;DA SILVA ET AL,2005].

d) Volume de outros sólidos determinados a partir da pilha de toras de madeira.

Em todas as definições anteriores, o que se busca é determinar um sólido cuja forma esteja

relacionada com a disposição dos troncos na pilha e apresente duas características adicionais:

a) seu volume apresente pequena variação quando do reempilhamento das toras; e

b) sua definição seja prática e coerente com os métodos de medição disponíveis.

Apresentamos uma definição de volume exterior de pilha que capta os princípios das técnicas

de mapeamento de superfície atualmente disponíveis nos sistemas de medição de madeira.

Denominamos interior de uma pilha ao conjunto dos pontos (ou posições) P em uma pilha de

madeira tais que toda semi-reta com origem em P intersecta o interior de alguma tora de

madeira, e superfície exterior de uma pilha ao conjunto dos pontos de fronteira

(MUNKRES,2000) do interior desta pilha. O volume exterior de uma pilha de toras de

madeira é o volume de seu interior (que, em geral, será maior que o volume sólido da mesma

pilha. A definição de superfície de uma pilha identifica exatamente os pontos que podem ser

visualizados a partir do exterior desta pilha.

Basicamente, definimos como interior de uma pilha de toras de madeira como o conjunto dos

pontos da superfície de uma tora que não são visíveis do exterior desta tora, e a superfície da

pilha é exatamente a superfície do sólido definido como interior da pilha. Esta é exatamente a

superfície que é identificada pelos sensores dos atuais sistemas de medição, os quais ficam

localizados em um arco externo à pilha. As Figuras 5, 6 e 7 apresentam um exemplo de pilha

de toras e seus respectivos interior e superfície.

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Figura 5 – vista de uma seção reta de uma pilha de toras

Figura 6 – a reta a e as circunferências dos troncos 1 e 3 delimitam uma região não-visível e, portanto,

considerada interna à pilha; da mesma forma, a reta b e as circunferências dos troncos 2 e 3 delimitam uma

região não-visível considerada interna

Figura 7 – interior (cinza) e superfície exterior (cinza) da pilha da Figura 5

Enfatizamos o fato de que definição de volume de uma pilha dá, como unidade, o metro

cúbico. Ou seja, o volume de uma pilha é dado em termos de metros cúbicos de madeira e

matéria residual, não sendo necessária a criação de uma nova unidade para expressar este

volume. De fato, em qualquer possível definição de volume de uma pilha de madeira, é

possível apenas unidades do Sistema Internacional.

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4. Estimativa de volume sólido de madeira a partir do mapeamento da superfície

Nesta seção, investigamos o funcionamento de sistemas de medição de volume de madeira

baseados em mapeamento de superfície. Mais precisamente, são sistemas que medem o

volume exterior de uma pilha de madeira, estimam um fator de empilhamento, e determinam

um valor para volume sólido estimado de madeira.

Dada uma pilha de madeira roliça da qual se conheça as dimensões e a posição exatas de

cada, é possível estimar o valor exato do volume sólido de madeira daquela pilha – que nada

mais será do que a soma dos volumes de cada tora. Soluções para medição de volume de

madeira disponíveis no mercado são capazes de mapear com elevada precisão a disposição

das toras “externas” da pilha – justamente através do mapeamento de sua superfície – mas não

detectam, a priori, as dimensões, as posições ou mesmo a quantidade das toras internas. Nos

termos da nomenclatura aqui adotada, estes sistemas de medição são capazes de determinar

apenas a superfície exterior de uma pilha de madeira roliça. Ainda assim, estas soluções têm

sido capazes de estimar, com boa precisão, o volume sólido de madeira de uma pilha. Tais

soluções são, em regra, dotadas de etapas de processamento por software, responsáveis pela

estimativa do fator de empilhamento – o diagrama da Figura 8 descreve o funcionamento

geral de tais sistemas de medição.

Figura 8 – visão geral de um sistema automatizado de medição de madeira empilhada

Denomina-se “fator de empilhamento” à relação entre o volume de uma pilha de madeira e o

volume sólido de madeira desta pilha. Conhecido o valor do fator de empilhamento, é

possível determinar o volume sólido de madeira a partir do volume da pilha de madeira.

Soluções de medição de madeira baseadas em mapeamento de superfície fazem uma

estimativa do fator de empilhamento a partir das características extraídas dos troncos externos

mapeados, tais como diâmetro máximo, diâmetro mínimo e curvatura dos troncos.

Naturalmente, o simples mapeamento da superfície de uma pilha de madeira roliça não

permite inferir a disposição das toras internas a esta pilha, uma vez que as características dos

troncos externos da pilha não irão, necessariamente, repetir-se nos troncos internos da pilha.

De fato, um evento bastante conhecido na engenharia florestal e na comercialização de

madeira roliça é a chamada gaiola, que é o empilhamento de toras deixando uma proporção

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excessiva de espaços vazios entre as toras. As gaiolas são causadas por toras “mal-

desgalhadas” ou em posição “oblíqua”. Observe, portanto, que uma pilha de madeira poderia

apresentar uma região externa bastante regular – o que levaria a uma estimativa de baixo fator

de empilhamento – e uma região interna provida de gaiolas – e, portanto, com elevado fator

de empilhamento. Tal cenário levaria uma solução de medição de madeira baseada em

mapeamento de superfície a estimar um volume sólido de madeira muito acima do real. De

maneira análoga, é possível construir uma pilha de madeira de forma a “forçar” uma

estimativa de volume sólido muito abaixo do real.

O erro ocasionado por gaiolas na estimativa do fator de empilhamento e do volume sólido de

madeira não é uma novidade na comercialização de madeira, de forma que as partes

envolvidas na transação dispõem de técnicas para identificar o problema e, se for o caso,

rejeitar uma determinada pilha ou lote.

Dessa forma, o uso estimativas de volume sólido a partir do mapeamento da superfície de

pilhas de madeira é perfeitamente aceitável para a comercialização de madeira – na verdade, o

cenário é similar ao tradicional comércio baseado em medidas de superfície. De fato, o que se

tem em tais sistemas é a estimação do volume de uma pilha, em termos de metros cúbicos de

madeira e matéria residual, e a estimação de um fator de empilhamento, adimensional, que

permite o cálculo de uma estimativa de volume sólido de madeira daquela pilha, em metros

cúbicos. Tais informações – volume da pilha, fator de empilhamento estimado, e volume

sólido calculado – devem ser informadas explicitamente nas transações comerciais de madeira

roliça empilhada.

Uma característica das soluções modernas é a presença de etapas de processamento por

softwares dotados de algoritmos capazes de estimar o fator de empilhamento a partir de uma

série de parâmetros, tais como diâmetro máximo, diâmetro mínimo e curvatura dos troncos,

além da própria superfície da pilha de madeira. A presença de processamento e comunicação

de dados torna importante uma validação do sistema considerando os princípios da Segurança

da Informação, conforme detalhamentos apresentados no Anexo 1.

É fundamental, também, efetuar um acompanhamento periódico no sentido de verificar o

comportamento dos algoritmos de estimação de volume sólido, já que as características das

florestas – e, portanto, dos troncos – pode variar de acordo com a região, o clima, e o próprio

curso do tempo. O acompanhamento do comportamento dos algoritmos deverá ser feito em

três instâncias:

a) O detentor do sistema de medição deverá efetuar a comparação entre o volume sólido

estimado pelo sistema de medição de madeira por mapeamento de superfície e o volume

sólido calculado através de métodos mais precisos, como a cubagem, que é a medição

manual dos volumes individuais de cada tronco de uma pilha.

b) Um organismo independente deverá acompanhar e auditar as cubagens/comparações

realizadas pelo detentor do sistema de medição.

c) A Autoridade Metrológica – no caso do Brasil, o Inmetro, através dos IPEM – deverá

auditar, periodicamente, as cubagens/comparações efetuadas pelo detentor do sistema de

medição e, se for o caso, efetuar suas próprias cubagens/comparações.

No Anexo 2 apresentamos um conjunto de critérios para as cubagens/comparações, tais como

critérios de amostragem e erros máximos admissíveis.

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5. Considerações Finais

A obrigatoriedade do uso de unidades do Sistema Internacional nas operações envolvendo

produção, colheita, baldeio, transporte e comercialização da madeira roliça não impede o uso

das técnicas tradicionais de estimação de volume baseadas no volume de pilhas de madeira

roliça. Nesta Nota Técnica, verificamos que tais “volumes de superfície” podem ser expressos

em termos de “metros cúbicos de madeira e matéria residual”. De fato, apresentamos uma

nova proposta para a definição de “interior de uma pilha” unicamente definida pela disposição

de um conjunto de toras, e cujo conteúdo compreende madeira e “espaços vazios”.

Descrevemos, também, o funcionamento dos atuais sistemas de medição de madeira baseados

em mapeamento de superfície. Tais sistemas possuem duas etapas gerais de processamento de

dados. A primeira etapa é a determinação da superfície de uma pilha de madeira roliça a partir

de informações geradas por sensores de superfície (como scanners a laser). A segunda etapa é

a inferência de um valor de volume sólido de madeira a partir de informações obtidas do

mapeamento da superfície da pilha, tais como diâmetros das toras e características de

curvatura. Desta forma, pudemos concluir que, efetivamente, tais sistemas são medidores de

volume de pilhas (tradicionalmente expresso em estéreos). Ainda assim, é possível utilizar

tais sistemas para a comercialização de madeira baseada em volume sólido, desde que o

comportamento dos algoritmos de medição seja acompanhado periodicamente pelas partes

envolvidas e auditado pela Autoridade Metrológica (Anexo 2).

Finalmente, descrevemos os requisitos gerais de Segurança da Informação que devem ser

atendidos por sistemas automatizados de medição de madeira baseados em mapeamento de

superfície (Anexo 1).

Dadas as características de equilíbrio entre as partes envolvidas no comércio de madeira roliça

e considerados os argumentos de aderência das medidas de volume de pilhas de madeira ao

Sistema Internacional, conclui-se que é perfeitamente aceitável o uso de sistemas

automatizados de medição de madeira roliça baseados em mapeamento de superfície, desde

observados os critérios de acompanhamento de desempenho de algoritmos de inferência de

volume sólido, descritos no Anexo 2, e de atendimento aos requisitos de Segurança da

Informação, descritos no Anexo 1.

Referências

BATISTA, J.L.F. & DO COUTO, H.T.Z. O estéreo. Metrvm. Vol. 2, p.1-19, 2002.

BIPMP – BUREAU INTERNATIONAL DES POIDS ET MESURES. The International System of Units

(SI), 8th edition. 2006.

BERTOLA, A.; SOARES C.P.B.; RIBEIRO, J.C.; LEITE H.G. & DE SOUZA A.L. Determinação de

fatores de empilhamento através do software Digitora. Revista Árvore Vol. 27, p.837-844, 2003.

DA SILVA, M.C.; SOARES, V.P.; PINTO A.C.; SOARES C.P.B. & RIBEIRO C.A.A.S. Determinação do

volume de madeira empilhada através de processamento de imagens digitais. Scientia Forestalis. Vol. 69, p.104-

114, 2005.

FRANÇA, LEGISLAÇÃO. Décret relatif aux poids et aux measures. 1795.

INMETRO. Portaria nº 130/1999. 7 de dezembro de 1999.

INMETRO. Portaria nº 11/2009. 13 de janeiro de 2009.

MUNKRES, J.R.. Topology. Prentice-Hall. 2000.

OIML – INTERNATIONAL ORGANIZATION OF LEGAL METROLOGY. Document D 2 Consolidated

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Edition. 2007.

VIML – Vocabulário Internacional de Metrologia Legal. 2007.

ANEXO 1: Requisitos de Segurança da Informação em sistemas de medição de volume

de madeira

A presença de software e comunicação de dados em sistemas de medição torna necessária a

observância a determinados requisitos de Segurança da Informação, de forma a garantir a

integridade dos dados de medição manipulados por tal sistema. Neste anexo, descrevemos, em

linhas gerais, os conceitos e requisitos que devem ser observados por sistemas de medição de

volume de madeira.

Identificação/Integridade do software. Os softwares legalmente relevantes devem ser

claramente identificados. A identificação do software deve ser indissoluvelmente ligada ao

software e deve ser apresentada (e conferida) sob comando ou automaticamente durante a

operação do sistema/instrumento de medição de volume de madeira.

Cada mudança no software definido como legalmente relevante, entendido como mudanças as

alterações nos parâmetros utilizados pelos algoritmos de estimação de fator de empilhamento,

deverá ser registrada e informada à Autoridade Metrológica, além de possuir um novo

identificador. O identificador de software deve ter uma estrutura que identifica claramente as

versões que necessitam de avaliação e aprovação e aquelas que não precisam.

Exatidão dos algoritmos e funções de medição. Os algoritmos e funções de medição devem

ser adequados e funcionalmente corretos para o sistema/instrumento de medição de volume de

madeira (precisão dos algoritmos, arredondamentos, etc.). Os algoritmos devem ser

analisados através dos ensaios descritos no Anexo 2.

Influência da interface do usuário. Nenhum dos comandos gerados através da(s)

interface(s) de usuário de um sistema/instrumento de medição de volume de madeira deve

influenciar o software legalmente relevante, nem os dados das medições, de forma não

prevista na descrição apresentada no processo de aprovação de modelo. Deve haver uma

atribuição unívoca e não ambígua de cada comando e de sua função ou do procedimento de

mudança de dados. O acionamento de qualquer tipo de interface que não seja explicitamente

declarada e documentada como comando não pode ter qualquer efeito sobre as funções do

sistema/instrumento de medição de volume de madeira ou medições.

Influência da interface de comunicação. Os comandos introduzidos através de interfaces de

comunicação do sistema/instrumento de medição de volume de madeira não devem

influenciar o software legalmente relevante, ou os dados das medições, de forma não prevista

na descrição apresentada no processo de aprovação de modelo. Deve existir uma atribuição

unívoca e não ambígua de cada comando para uma função ou uma alteração de dados. Os

sinais ou códigos que não estão declarados e documentados como comandos não podem ter

qualquer efeito sobre as funções e os dados do sistema.

Proteção contra mudanças acidentais/não-intencionais. O(s) software(s) legalmente

relevante(s) e os dados de medição devem ser protegidos contra modificações acidentais ou

não-intencionais. Os possíveis motivos para modificações acidentais e não-intencionais são:

influências físicas imprevisíveis, efeitos causados por funções de usuário, defeitos residuais

do software.

Proteção contra mudanças intencionais. O(s) software(s) legalmente relevante(s) deve(m)

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ser protegido(s) contra modificações inadmissíveis, cargas remotas não autorizadas e

substituição de memória. Deve-se garantir que o gabinete do sistema/instrumento de medição

de volume de madeira seja seguro (inviolável), e a memória física não possa ser removida

sem autorização.

Proteção dos parâmetros. Os parâmetros que fixam as características legalmente relevantes

do sistema/instrumento de medição de volume de madeira devem ser protegidos contra

modificações não autorizadas. A mudança dos parâmetros deve caracterizar a criação de uma

nova versão de software, a qual deve ser registrada e analisada pela autoridade metrológica.

Detecção de falha. O sistema/instrumento de medição de volume de madeira deve possuir

funções de detecção de falhas. Tanto o processo de detecção, quanto a reação à falha, devem

estar claramente caracterizados.

Validação do software. O software legalmente relevante deve ser validado. Caso o sistema

de medição de madeira estime “volume sólido” de madeira, seus algoritmos devem ser

acompanhados segundo o protocolo descrito no Anexos 2.

Transmissão dos dados através de redes de comunicação. O conjunto de requisitos

técnicos descritos a seguir, se aplica apenas quando o sistema/instrumento de medição de

volume de madeira utiliza internamente uma rede de comunicação para transmitir e receber

dados das medições que são legalmente relevantes. Devem-se empregar os meios necessários

para garantir: completude dos dados transmitidos, integridade dos dados transmitidos,

atenticidade dos dados transmitidos, confidencialidade das chaves criptográficas (e dados

correlatos), detecção e inutilização de dados corrompidos, disponibilidade dos serviços de

transmissão, e resiliência perante atraso de transmissão.

Capacidade de processamento. Todos os elementos constituintes do sistema/instrumento de

medição de volume de madeira que tenham uso compartilhado (concentradores, redes de

comunicação)devem ser dimensionados em função dos instantes de maior carga.

Cópias de segurança (backup). Deve haver um mecanismo que gere cópias periódicas destes

dados legalmente relevantes, tais como os resultados de medição e o „status‟ atual dos

processos, e salve essas cópias em mídia não-volátil. A freqüência de atualização das cópias

de segurança deve ser compatível com os requisitos aplicativos.

ANEXO 2: Proposta para o acompanhamento dos algoritmos de mediçao

O uso de algoritmos especializados para a inferência de volume sólido de madeira roliça

empilhada a partir de informações da superfície de pilhas de madeira torna necessário o

acompanhamento periódico do comportamento e dos erros de tais algoritmos. Neste anexo,

descrevemos um protocolo para o acompanhamento de tais algoritmos. O protocolo é baseado

na execução periódica de cubagens, que é a medição manual do volume de cada uma das toras

presentes em uma pilha, com a posterior soma dos volumes e a determinação do volume

sólido de madeira em uma pilha. Os resultados de tais cubagens – ou seja, os volumes sólidos

de madeira obtidos – devem ser comparados com aqueles obtidos pelo Sistema de Medição,

de forma a permitir um acompanhamento do comportamento de seus algoritmos de medição.

Cubagem pelo detentor do Sistema de Medição. A cubagem deverá ser efetuada pelo

detentor do Sistema de Medição em 5% dos lotes comercializados. As amostras devem ser

escolhidas de forma uniforme ao longo do tempo, evitando a concentração em determinado

período do mês ou do ano, por exemplo. Além disso, deve-se distribuir as amostras entre os

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diversos fornecedores e bases florestais.

A parte não-detentora do Sistema de Medição poderá solicitar a cubagem de um determinado

lote, caso não se tenha atingido a cubagem de pelo menos 5% das amostras comercializadas

por esta parte. A parte não-detentora do Sistema de Medição poderá acompanhar a cubagem.

A verificação de um erro superior a 7% constitui um evento de Erro Máximo Extrapolado.

Mensalmente, os eventos de Erro Máximo Extrapolado devem ser comunicados à Autoridade

Metrológica.

O resultado (volume sólido) de cada cubagem deve ser comparado com aquele obtido pelo

Sistema de Medição, de forma a permitir um acompanhamento dos erros gerados pelo

Sistema de Medição. Os dados devem ser armazenados por no mínimo 5 anos, de forma a

permitir futuras auditorias e um apropriado acompanhamento histórico dos erros de medição.

Cubagem pelo não-detentor do Sistema de Medição. Recomenda-se que a parte não-

detentora do sistema de medição efetue a cubagem a priori de parte de seus lotes

comercializados, de forma a poder acompanhar o comportamento dos algoritmos do Sistema

de Medição.

Auditoria por organismo independente. Anualmente, os dados das cubagens efetuadas pelo

detentor do Sistema de Medição deverão ser auditados por organismo independente. Tal

organismo deverá verificar se os critérios de amostragem foram adequadamente satisfeitos e

se os eventos de Erro Máximo Extrapolado foram comunicados à Autoridade Metrológica. Ao

final da auditoria, deverá ser gerado relatório a ser enviado para avaliação pela Autoridade

Metrológica.

Auditoria pela Autoridade Metrológica. A Autoridade Metrológica poderá, a qualquer

momento, efetuar auditoria sobre os dados de cubagem pelo detentor do Sistema de Medição

e, ainda, efetuar suas próprias cubagens sobre lotes em transação ou lotes de teste.