sobre pipas e pensamento

10
junho/julho 2015 80 Ribeirão Preto Agenda Cultural Página 2 Com a Palavra Página 3 Tema Livre Páginas 4 e 5 Notícias da SBPRP Páginas 6 e 7 Cinema e Psicanálise Página 8 Programe-se Página 9 Espaço dos Membros Filiados Página 10 Ana Regina Morandini Caldeira Comissão Editorial do Boletim o longo de sua trajetória, o ser humano busca pela verdade, tanto de forma histórica quanto individual. Almeja o que é essencial, mesmo que nessa procura vá por caminhos tortos, destrutivos, automatizados ou protéticos. Tenta entender o que é autêntico e efetivo, desconhecendo que sua ideia básica não está na razão, mas sim na estética dos afetos. Este número do Boletim ajuda-nos na composição de alguns vértices que fazem com que possamos nos construir um pouco mais. Contamos com as sugestões de nossa “Agenda Cultural”, elaborada por Cybelli Labate e Júlio Labate. O belo artigo de Patrícia R. A. Tittoto, em “Com a Palavra”, versa sobre nossa responsabilidade social, enquanto psicanalistas, para a gestão da subjetividade contemporânea. No “Tema Livre”, Ana Márcia V. P. Rodrigues tece reflexões profundas sobre o terror e o fanatismo. Apresentamos também as “Notícias da SBPRP”, onde Maria Aparecida G. B. Pellissari fala sobre a arte da narrativa e Sobre pipas e pensamento A da tradução como formas de expressão. Andrea Ciciarelli P. Lima escreve sobre o “Cinema e Psicanálise” e a comunidade. O espaço “Programe-se” continua a nos informar sobre atividades e eventos. Raquel Siminati, no “Espaço dos Membros Filiados”, reflete sobre como é possível sonhar dentro do processo de formação. São temas que nos fazem pensar sobre a contemporaneidade, nossa função e responsabilidade psica- nalítica. A condição de sonhar ampara-nos na construção de um pensar, edificando recursos para lidarmos com a realidade. Talvez a essência da verdade não seja vinculada a algo denso, abstruso ou árduo, mas sim, traga a leveza e simplicidade de um voo interno. Drummond confidencia sobre a experiência de alguém que solta uma pipa, e diz assim: “o bom da pipa não é mostrar aos outros, é sentir individualmente a pipa, dando ao céu o recado da gente”. Deixemo-nos inspirar, levados pelas cores e pela liberdade das pipas! Ignacio Pinazo, La cometa

Upload: phungmien

Post on 07-Jan-2017

234 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: Sobre pipas e pensamento

junho/julho 2015 80nº

RibeirãoPreto

Agenda CulturalPágina 2

Com a PalavraPágina 3

Tema LivrePáginas 4 e 5

Notícias da SBPRPPáginas 6 e 7

Cinema e PsicanálisePágina 8

Programe-sePágina 9

Espaço dos Membros FiliadosPágina 10

Ana Regina Morandini CaldeiraComissão Editorial do Boletim

o longo de sua trajetória, o ser

humano busca pela verdade, tanto de

forma histórica quanto individual. Almeja o

que é essencial, mesmo que nessa procura

vá por caminhos tortos, destrutivos,

automatizados ou protéticos. Tenta

entender o que é autêntico e efetivo,

desconhecendo que sua ideia básica não

está na razão, mas sim na estética dos afetos.

Este número do Boletim ajuda-nos na

composição de alguns vértices que fazem

com que possamos nos construir um pouco

mais. Contamos com as sugestões de nossa

“Agenda Cultural”, elaborada por Cybelli

Labate e Júlio Labate. O belo artigo de

Patrícia R. A. Tittoto, em “Com a Palavra”,

versa sobre nossa responsabilidade social,

enquanto psicanalistas, para a gestão da

subjetividade contemporânea. No “Tema

Livre”, Ana Márcia V. P. Rodrigues tece

reflexões profundas sobre o terror e o

fanatismo. Apresentamos também as

“Notícias da SBPRP”, onde Maria Aparecida

G. B. Pellissari fala sobre a arte da narrativa e

Sobre pipas e pensamento

A da tradução como formas de expressão.

Andrea Ciciarelli P. Lima escreve sobre o

“Cinema e Psicanálise” e a comunidade. O

espaço “Programe-se” continua a nos

informar sobre atividades e eventos. Raquel

Siminati, no “Espaço dos Membros Filiados”,

reflete sobre como é possível sonhar dentro

do processo de formação. São temas que nos

fazem pensar sobre a contemporaneidade,

nossa função e responsabilidade psica-

nalítica.

A condição de sonhar ampara-nos na

construção de um pensar, edificando

recursos para lidarmos com a realidade.

Talvez a essência da verdade não seja

vinculada a algo denso, abstruso ou árduo,

mas sim, traga a leveza e simplicidade de um

voo interno. Drummond confidencia sobre a

experiência de alguém que solta uma pipa, e

diz assim: “o bom da pipa não é mostrar aos

outros, é sentir individualmente a pipa,

dando ao céu o recado da gente”.

Deixemo-nos inspirar, levados pelas

cores e pela liberdade das pipas!

Ignacio Pinazo,La cometa

Page 2: Sobre pipas e pensamento

Editora: Ana Regina Morandini Caldeira Coeditores: Cybelli Morello LabateJúlio César Tadeu C. LabateLuciano BonfanteMaria Aparecida G. B. PellissariMaria Auxiliadora Campos

2 Boletim SBPRP nº 80 junho/julho 2015

Cybelli Morello LabateJulio Cesar Tadeu Chavasco Labate

Presidente: Maria Bernadete Amêndola Contart de Assis

Diretora Secretária:Ana Cláudia Gonçalves Ribeiro de Almeida

Diretor Financeiro:Alexandre Martins de Mello

Diretora Científica:Silvana Maria Bonini Vassimon

Diretora de Cultura e Comunidade:Patrícia Rodella de Andrade Tittoto

Diretor do Instituto:José Cesário Francisco Junior

Diretora Secretária do Instituto:Denise Lopes Rosado Antônio

A mostra apresenta um recorte da 31ª Bienal de

Arte, realizada em 2014, com trabalhos de três

artistas: Romy Pocztaruk (Brasil), Michael Kessus

Gedalyovich (Israel) e Teresa Lanceta (Espanha).

FAAP Ribeirão Preto Até 20/06/2015De 2ª a 6ª, das 9h às 21h; sábados das 9h às 17hAv. Independência, 3670 – (16) 3913-6300

Como (...) coisas que não existem – Obras selecionadasMostra itinerante da 31ª Bienal de Arte de SP

ROMY POCZTARUK - A última aventura 2011dimensões variáveis - fotografia digital | ©Romy Pocztaruk

O espírito de cada época e Fábula da paisagem

Nos próximos meses o IFF recebe duas

exposições simultâneas. "O espírito de cada época"

é uma mostra de longa duração, com cerca de 120

obras de artistas contemporâneos e tem como

objetivo apresentar um panorama da arte

brasileira nas últimas quatro décadas. A exposição

“Fábula da paisagem" apresenta as mais recentes

pinturas do artista plástico Paulo Pasta.

Maior comunicador do rádio e da TV bra-

sileira, Abelardo Barbosa é homenageado

neste espetáculo que marca a primeira direção

teatral de Andrucha Waddington e o fim da

trilogia Uma Aventura Brasileira, inicia-

da por 'Elis, A musical' e 'Se eu fosse

você, o musical'. O espetáculo acompa-

nha a trajetória do apresentador desde

sua infância em Surubim, Pernambuco,

até o auge da carreira na TV Globo,

comandando o programa de auditório

"Cassino do Chacrinha".

Chacrinha – o musicalInstituto Figueiredo Ferraz A partir de 16/05/2015 de terça a sábado, das 14h às 18hRua Maestro Ignácio Stábile, 200 – Alto da Boa Vista

Teatro Alfa | Até 26/07/2015

R. Bento Branco de Andrade Filho, 722 Santo Amaro – São Paulo/SP (11) 5693-4000 | 0300 7893377)

www.institutofigueiredoferraz.com.br

http://migre.me/pQsFF

www.faap.br/hotsites/31%2Dbienal%2Drp

Page 3: Sobre pipas e pensamento

Boletim SBPRP nº 80 junho/julho 2015 3

Patrícia Rodella de Andrade Tittoto Diretora de cultura e comunidade|

Responsabilidade Social

m uma das últimas reuniões realizadas pela

FEBRAPSI, por entre os diversos assuntos

apresentados, subsistia a clareza da necessidade

do viver-se, no exercício da Psicanálise, a

Responsabilidade Social, requerendo uma

reflexão crítica contínua da inadiável urgência da

qual ninguém pode se alhear: somos todos

cúmplices da construção atual da subjetividade

que está em gestação!

A proposta de divulgar o pensamento

psicanalítico não se daria apenas através da

prestação de serviços nos espaços de nossos

consultórios; mas sim, no diálogo contínuo com a

comunidade mais ampla, de forma a colaborar

para que uma relação não estereotipada, não

estática, mas estética, se evidencie. Isso através da

composição do pensar conjuntamente os aspectos

geradores do que se entende por saúde e doença

dentro de uma sociedade.

Como podemos, através da inclusão em

outros meios do viver social, aprender novas mane-

iras de sentir e pensar? Adentrar, aventurar a obs-

curidade do mistério deste nosso mundo, que nos

chega em pequenos detalhes, aparentemente sem

importância, mas com embrionárias tendências

evolutivas à síntese existente, transformando dis-

cretamente nossa gênese criativa individual?

Desejo expressar, com a mais viva satisfação,

meus agradecimentos aos trabalhos que venho

observando, neste sentido, dentro de nossa

Sociedade. Dentre todos, em especial – pelo fato

da oportunidade de poder estar acompanhando

mais proximamente – àqueles desenvolvidos pelos

bons e belos parceiros que juntos compõem

Cultura e Comunidade.

Lições de como nos fazermos e refazermos

como 'lar', que não apenas dos psicanalistas, mas

berço e morada de toda a humanidade.

E

Kandinsky, Círculos1942

Page 4: Sobre pipas e pensamento

4 Boletim SBPRP nº 80 junho/julho 2015

Terror e Fanatismo:

sinais dos novos tempos?

“Às vezes o tigre em mim se demonstra cruel Como é próprio da espécie.Outras, cochilaOu se enrosca em afago emolienteMas sempre tigre; disfarçado.”

A Fera - C. D. Andrade

 Ana Márcia Vasconcelos de Paula Rodrigues | Membro associado da SBPRP

o propor-me pensar questões tão inquietantes

e complexas como o terror e o fanatismo, passei a

confrontar-me com um território obscuro da mente, pelo

seu dom de julgar e acorrentar os germens de pensamen-

tos que querem nascer e crescer, livres e espontâneos.

Após ter pesquisado várias autoridades sobre o

assunto, resolvi escrever a partir do interesse genuíno

que este tema despertou em mim. Então me lembrei de

um livro que foi escrito há um bom tempo, mas continua

atualíssimo. O clássico moderno de George Orwell,

“1984”.

A história ocorre num ambiente claustrofóbico e

seu protagonista vive em uma sociedade em que tudo é

controlado pelo estado e nenhum questionamento indi-

vidual é permitido. O “Grande Irmão” está presente em

todos os lugares para abolir toda forma de privacidade ou

intimidade que, bem sabemos, servem-se da razão para

gestar a capacidade humana de pensar. São colocados

sensores em todas as casas para captar indícios de ideias

próprias e exterminá-las em suas raízes, sendo esta a

patrulha mais assustadora da história do livro, a “polícia

do pensamento”.

Com este modelo literário em mente, pus-me a

pensar sobre os fenômenos radicais que estão na ordem

do dia. E pergunto: haverá real diferença entre o método

de lavagem cerebral descrito no livro por este genial

autor e o sistema de terror exercido por grupos funda-

mentalistas como o Taliban, o Hamas, o Hezbollah, o

Estado Islãmico (Isis) ou o inédito Boko Haram?

A partir desta experiência de reflexão, imaginei

poderosas forças anti-pensamento disputando o poder e

a soberania no campo emocional de um estado de mente

terrorista. Afinal, como nos alertou Bion, pensar com

propriedade pode ser a maior transgressão que um ser

humano é capaz de realizar.

O terror parece apenas ter mudado seus meios e vir

se alastrando de forma líquida e infiltrante, como deno-

minou Bauman (2008), o medo líquido. Sua face é vazia -

impessoal, amorfa, sem corpo e sem alma.

Encontrei recentemente uma curiosa entrevista na

revista Veja, feita com um cientista político egípcio que já

havia sido membro do grupo “Irmandade Muçulmana”.

Após relatar contradições e crueldades que o levaram a

sofrer dois estupros na infância, este homem, embora

com sua cabeça a prêmio, continua falando sobre tema

tão explosivo. Ele revela uma experiência pessoal tida

quando se tornou membro deste grupo e sobre a inteli-

gente estratégia de seus líderes para a captura e inserção

de jovens no espírito do “grande irmão”.

Primeiramente, os jovens são recebidos de forma

calorosa no seio do grupo, e lhes é oferecido um tempo

para que se sintam em casa, conheçam os demais e pas-

sem a chamar de irmãos. Ainda não lhes é imposta a leitu-

ra dos textos sagrados, pois a intenção é criar um “senso

de pertencimento” e, aos poucos, dar-lhes uma ideologia

pela qual viver, ou morrer. Tais líderes costumam ser

Caravaggio, Cabeça de Medusa (detalhe),1595-1598

A

Page 5: Sobre pipas e pensamento

Boletim SBPRP nº 80 junho/julho 2015 5

cultos e carismáticos, como Bin Laden, não parecendo ser

amadores irracionais ou enlouquecidos.

Somente após algum tempo de treinamento, os

“irmãos” são levados para algum lugar desértico e lá

deixados à míngua, por um bom tempo, sob um sol escal-

dante, com fome e sede, até não se aguentarem mais.

Finalmente, ganham uma laranja. Mas recebem a ordem

de descascá-la, enterrar a fruta e comer sua casca.

A base do método é o aprendizado da obediência

cega que forja uma massa de “ninguém”, sem mente e

sem raízes no mundo, como um exército de fiéis, que

matam e morrem, em nome de uma crença absoluta. São

esvaziados de sua individualidade, des-humanizados e

des-mentalizados. Neste processo aniquila-se tudo aqui-

lo que faz de alguém uma pessoa.

Num território de ninguém, como ficam a imagina-

ção, a memória, os sonhos, o amor, o entusiasmo, a com-

paixão?

Lembrei-me da triste obediência automática dos

esquizofrênicos dos hospitais psiquiátricos, que parecem

viver sob o jugo de um tirânico “superego Taliban”.

Ao assistirmos, em tempo real, os rituais de decapi-

tação dos reféns do Isis, somos submetidos a uma

demonstração de poder e força do inumano sobre o

humano. Não há sinal de ambivalência ou empatia do

terrorista pelo refém sacrificado. Nem sinal de ódio, que,

afinal, seria algum tipo de vínculo. Somente o terror da

indiferença, o mais assustador de todos, por gerar formas

impensáveis de violência através da coisificação do

homem e da banalização da vida.

O escritor israelense Amos Óz afirma que há uma

equação vigorosa no estado de mente fanático: “Se julgo

algo mau, elimino-o.” Para ele, nestes estados de mente

não há espaço para a dúvida que é capaz de mudar os

pontos de vista em preto e branco. Acredita que o fanatis-

mo é gestado em atmosfera de desespero, derrota, indig-

nidade e humilhação. E então, ele nos adverte que o vírus

do fanatismo é o mais contagioso de todos e que deve-

mos ter muito cuidado, pois podemos nos contaminar.

Não somos imunes. Somos?

Penso que uma boa metáfora para nosso incrível e

árduo ofício psicanalítico é sua semelhança com o traba-

lho daqueles homens que, cuidadosamente, vão abrindo

caminho num território cheio de minas explosivas, que

foram plantadas em algum momento e ainda não deto-

naram.

Como há regiões da mente tão inóspitas e inacessí-

veis como as montanhas arenosas do Afeganistão, é pre-

ciso ter perícia, paciência e coragem para desarmar bom-

bas em tais territórios mentais. Caso contrário, seremos

dominados pelo terror perante o desconhecido da mente

humana.

Mas podemos ter acesso a tais estados de mente ao

desenvolver boas doses de imaginação, criatividade e

humor, enquanto buscamos alcançar a nossa realidade

psíquica, cultivando as diferenças e as individualidades.

De acordo com Óz: “senso de humor é uma grande

cura. Nunca vi na minha vida um fanático com senso de

humor, nem vi uma pessoa com senso de humor tornar-

se fanática, a menos que tenha perdido o senso de

humor.”

Com certeza, o fanatismo tem raízes históricas

profundas, mas a Psicanálise, ao dar sentido e nome às

raízes emocionais daquilo que é da ordem do humano,

está a serviço da vida e da liberdade de pensar, realizando

um verdadeiro ato anti-terror.

ReferênciasAndrade, C.D. (2002). Farewell. Rio de Janeiro: Record.Bauman, Z. (2008). Medo líquido. Rio de janeiro: Zahar.Orwell, G.(2009). 1984. São Paulo: Companhia das Letras.Oz, A. (2004). Contra o fanatismo. Rio de Janeiro: Ediouro.Watkins, N. (2015). O fascismo em nome de Alá. Revista Veja – Às armas cidadãos!, 2408: 2, 72-74 (14/01).

Bibliografia ConsultadaCovington, C. (2014). Hanna Arendt, o mal e a erradicação do pensa-mento. In Livro Anual de Psicanálise. Tomo XXVIII-2.Varvin, S. & Volkan, V. (2008). Violência ou Diálogo? Reflexões Psicanalí-ticas sobre Terror e Terrorismo. São Paulo: Perspectiva.

[email protected]

Francis Bacon, Three Studies for a Crucifixion, 1962

Page 6: Sobre pipas e pensamento

6 Boletim SBPRP nº 80 junho/julho 2015

s habilidades de traduzir e narrar estão

presentes na história da humanidade e são

intimamente ligadas à historicidade de todas as

áreas de conhecimento e desenvolvimento. Com

o desenvolvimento tecnológico no início do sécu-

lo XX, principalmente pelos registros fotográfi-

cos, houve um impasse quanto ao destino dessas

artes intrínsecas às línguas.

Assim, Walter Benjamin, filósofo alemão do

início do séc. XX, dedicou-se a escrever ensaios

sobre a arte da tradução e da narração. Ele escre-

ve que nos tempos modernos a capacidade de

contar histórias foi ficando cada vez mais rara.

Para ele, a escassez dessa capacidade gera a

impossibilidade de trocar experiências. Enfatiza

que traduzir e narrar exige habilidades especiais:

“nenhum poema dirige-se, pois, ao leitor,

nenhum quadro, ao expectador, nenhuma sinfo-

nia, aos ouvintes” (Benjamin, 2013, p. 101), eles

dependem da habilidade de cada um em fazer

sua tradução e sua narração. Ele conclui que “é

cada vez mais raro encontrar pessoas que sai-

bam narrar qualquer coisa com correcção” (Oli-

veira, 2009, p.110 citando Benjamin, 1992: 28).

Francine Oliveira (2009) em “A narrativa e a expe-

riência em Walter Benjamin” afirma que Benja-

min nos convida a uma reflexão sobre o fim da

experiência e das narrativas tradicionais.

Os psicanalistas, em seu exercício de publi-

cação e divulgação da psicanálise, parecem per-

tencer a esse reduto raro de tradutores e narra-

dores. Em cada encontro analítico, o analista, tal

qual uma câmera com o obturador totalmente

aberto, lá está e lá fica, à espera que sua objeti-

va/subjetiva capte num click único, o raro flash

emitido numa “noite escura”, num tempo e espa-

ço finito/infinito. A percepção de elementos que

à luz figuram formas que lá não estão e estão em

busca de representação, possibilita que a len-

te/mente do psicanalista registre a cena que é

traduzida e narrada.

Os psicanalistas buscam uma aproximação

desse espetáculo psíquico através das artes plás-

ticas em geral, da literatura, da poesia, da músi-

ca, do cinema, da língua, entre outras formas de

expressão/representação.

Os encontros psicanalíticos e culturais figu-

ram como o espaço destinado a compartilhar

Sonhações

experiências passíveis de narrativas.

Estamos próximos de mais um desses raros

momentos de trocas de experiências promovi-

dos pela SBPRP. Nos dias 12 e 13 de junho próxi-

mo será realizado o evento SONHAÇÕES e conta-

mos com a presença de todos.

Bibliografia consultada:

Benjamin, W. (2013) A tarefa do tradutor. In Escritos

Sobre Mitos e Linguagem. Organização, apresentação

e notas de Jeanne Marie Gagnebin; tradução Susana

Kampff Lages e Ernani Chaves. São Paulo: Duas Cida-

des Editora.

Cruz, J. (1993) O amor não cansa nem se cansa. Sele-

ção de textos por Patrício Sciadini, revisão José Dias

Goulart. São Paulo: Paulus.

Fontaine, M. L. (1992) Sete perguntas à Walter Benja-

min, in Dossie Walter Benjamin. Revista USP, São

Paulo, n.15.

Oliveira, F. (2009) A Narrativa e a Experiência em

Walter Benjamin, trabalho apresentado no Oitavo

Congresso LUSOCOM. Universidade do Minho.

Maria Aparecida Pellissari Comissão organizadora|

A

Page 7: Sobre pipas e pensamento

Boletim SBPRP 7nº 80 junho/julho 2015

Diretora

Patrícia Rodella de Andrade Tittoto

SAP e Clinicando (TERÇAS)

Fabiana Elias G. de Andrade Moura

(representante do SAP)

Luzdalma de Maio Barbosa Vieira

Marta Maria Daud

Marystella Carvalho Esbrogeo

(representante Clinicando)

Mauro Campos Balieiro

Sub-Comissao SAP para elaboração de novo Estatuto

Fabiana Elias G. de Andrade Moura

Guiomar Papa de Morais

Luzdalma de Maio Barbosa Vieira

Maria Aparecida Sidericoudes Polacchini

Mauro Campos Balieiro

Patrícia Rodella de Andrade Tittoto

Representantes do SAP nas cidades da região:

Franca: Débora Agel Nellem

São Sebastião do Paraíso:

Luzdalma de Maio Barbosa Vieira

Jaboticabal: Carla Cristina Pierre Bellodi

Marília: Tânia Pastori Razook

São Carlos: Silvana Mara Lopes Andrade

Piracicaba: Maria Roselli Pompermayer Galvani

Uberlândia: Maria Luiza Soares Ferreira Borges

Espaço Cultural

Denise Rosa Goulart

Luciana Torrano

Maria Bernadete Figueiró de Oliveira

Sandra Nunes Caseiro

Silvana Mara Lopes Andrade (coordenadora)

Cinema e Psicanálise Franca

Ana Márcia V. P. Rodrigues

Ana Regina Morandini Caldeira (coordenadora)

Débora Angel Mellem

Fátima Maria Cassis R. Santos

Josiane Barbosa Oliveira

Sônia Maria de Godoy

Apresentamos as comissões que compõem a “Cultura e Comunidade”

com sua composição atualizada:

Cultura e Comunidade

Cinema e Psicanálise Ribeirão Preto

Andréa Ciciarelli Pereira Lima (representante)

Cristiana Del Guerra Protta Crippa

Cristina Mendonça

Helena Lúcia Alves de Lima Furtado

Luciana Mian

Marta Maria Daud

Patrícia Rodella de Andrade Tittoto

Sônia Maria de Godoy

Suely de Fátima Severino Delboni

(representante das Universidades)

Tânia Pastori Razook

Cinema e Psicanálise Jaboticabal

Carla Cristina Pierre Bellodi (representante)

Cinema e Psicanálise São Carlos

Silvana Maria L. Andrade (representante)

Espaço Educação

Andréa Ciciarelli Pereira Lima (representante)

Cybelli Morello Labate

Josiane Barbosa Oliveira

Júlio Cesar Tadeu Chavasco Labate

Regina Claudia Mingorance de Lima

Consultoria Psicanalítica

Cristina Mendonça

Greice Priscilla Kokeny Oliveira

Helena Alves de Lima Furtado (representante)

Marystella Carvalho Esbrogeo

Patrícia Rodella de Andrade Tittoto

Supervisões no HC

Iara Giraldi (org. na FMRP-USP)

Sandra Luiza Nunes Caseiro (coordenadora)

Temos a boa notícia de que os Membros de nossa

Sociedade nos representarão no próximo Congresso da

IPA em Boston. Como nosso colega Alexandre M. Mello,

que teve seu trabalho: A Beam of Poetry as a Beam of

Darkness: Literature as a tool for Psychoanalysis in a

changing world, aprovado para apresentação.

Boa Notícia

Page 8: Sobre pipas e pensamento

8 Boletim SBPRP nº 80 junho/julho 2015

com alegria que comunico o início das nos-

sas atividades em 2015.

A sessão de abertura em Franca e Ribeirão

Preto foi o filme: Hanami- Cerejeiras em Flor,

com os comentários sensíveis e profundos do Dr.

Paulo de M. Mendonça Ribeiro. Sentimo-nos

motivados ao ver a "casa cheia" e com a partici-

pação ativa dos presentes. A cada sessão do Cine-

ma e Psicanálise, percebemos o valor de um espa-

ço como esse na comunidade. O filme nos possi-

bilita o sonhar, e a partir dos comentários do

psicanalista, vivemos a experiência de um sonhar

compartilhado.

A partir de percepções e sugestões recebi-

das, realizamos algumas mudanças na nossa

programação. Retornamos ao espaço do anfitea-

tro da Unidade de Emergência (UE) do Hospital

das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribei-

rão Preto da Universidade de São Paulo

(HCFMRP-USP), mantivemos as apresentações

no espaço Instituto Figueiredo Ferraz (IFF) e can-

celamos as apresentações mensais no SESC.

Segue a programação para o primeiro

semestre, no anfiteatro da UE-HCFMRP-USP,

situado na rua Bernardino de Campos, 1000:

Vitus (2006)

Dia 22 de maio às 19h30

Comentários:

Sonia Godoy,

membro filiado da SBPRP.

O estranho em mim (2008)

Dia 26 de junho, às 19h30

Comentários:

Denise Antonio,

membro efetivo da SBPRP.

Contamos com a presença e o esforço de

todos na divulgação da programação.

Cinema e Psicanálise

Apresento a nossa comissão:

Patrícia R. de Andrade Tittoto Diretora Cultura e Comunidade

Andréa Ciciarelli P. Lima Coordenadora

Cristina MendonçaCristiana Del Guerra Protta CrippaHelena L. A. de Lima FurtadoMarta Maria DaudSônia Maria de GodoySuely de Fátima S. DelboniTânia Pastori Razook

Comissão em Franca

Ana Regina Morandini Caldeira Coordenadora

Ana Márcia V. P. RodriguesDébora A. MellemFátima M. Cassis R. SantosJosiane Barbosa OliveiraSônia Maria de Godoy

Em São Carlos

Silvana M. L. Andrade Representante

Andréa Ciciarelli P. Lima

É

Frantisek Kupka, The Colored One (La colorée),1919-1920

Page 9: Sobre pipas e pensamento

Boletim SBPRP nº 80 junho/julho 2015 9

LOCAL

Grupos de estudoLocal: SBPRPJun/Jul 2015

André Green – A CONFIRMARCoordenação: Ana Rita Nuti PontesDias 12/06 e 03/07 às 17h

Texto Análise de CriançaCoordenação: Sônia M. Mendes E. MestrinerDia 08/06 às 19h45

Antonino FerroCoordenação: Silvana VassimonDia 26/06 às 16h

Psicodinâmica da família e casalCoordenação: Denise Léa Moratelli Colaboração: Adriana L. N. BianchiDia 12/06 às 15h

Pensamento de Melanie KleinCoordenação: Maria Aparecida Sidericoudes PolacchiniDia 12/06 às 17h

Pensamento de Winnicott – A CONFIRMAR DATA DE JULHOCoordenação: Cecília Barreto DiasDia 10/06 às 11h15

Pensamento de Donald MeltzerCoordenação: Guiomar Papa Morais e Alexandre Martins de MelloDias 12/06 e 03/07 às 11h

Escuta da EscutaCoordenação: Ana Rita N. PontesDias 12/06 e 03/07 às 17h

O Analista trabalhandoCoordenação: Maria Auxiliadora Campos e Cecília Barretto DiasDia 25/06 às 19h30

Terças Na SBPRP

Semeando e Clinicando em RibeirãoDias 09/06 e 07/07 às 20h e 21h respectivamente

Eventos

“SONHAÇÕES”Encontro Preparatório para o XXV Congresso Brasileiro de Psicanálise - SONHO/ATO: A Representação e seus LimitesConvidados: Daniel Delouya; Maria Aparecida Sidericoudes Polacchini; Sérgio Lewcowicz; Miguel Marques; Sérgio Ferraz Novaes; Alice RuizDias 12 e 13/06 às 20h30Local: Hotel Stream Palace – R: General Osório, 850 – Ribeirão Preto – SP | http://www.sbprp.org.br/sbprp/

NACIONAL

Introdução às ideias de Freud Módulo IVDia 13/06 a partir das 9hLocal: Associação Paulista de Medicina Regional SBC/D - Rua: Pedro Jacobucci, 400 – São Bernardo do Campo | http://www.sbpsp.org.br/

Seminários de Psicanálise da vincularidade de família e casal (INSCRIÇÕES ENCERRADAS)Dia 19/06 a partir das 15hLocal: Auditório da SBPSP – R: Sergipe, 441 - 1° andar – São Paulo – SP | http://www.sbpsp.org.br/

I Jornada Interface da Psicanálise de Criança e Adolescente com a Psicanálise da Vincularidade de Família e CasalDias 26 e 27/06 a partir das 20hLocal: Auditório da SBPSP – Av. Dr. Cardoso de Melo, 1450 – São Paulo – SP | http://www.sbpsp.org.br/

INTERNACIONAL - EVENTOS

49th IPA Congress / 23rd IPSO ConferenceDias 22 a 25/06Local: World Trade Center – Massachusetts – USA | http://www.ipa.org.uk/congress

DPV-FRÜHJAHRSTAGUNG 2015 "Pluralität und Singularität der Psychoanalyse”Dias 04 a 06/06Local: Kassel – Germany | http://goo.gl/8fEU3P

Psychoanalysis of Our Time – The series of lectures and panelsPsychoanalysis and New TechnologiesConvidados: Marina Ivanović, analyst PSS, Danijela Galović, psychoanalyst in education, Vojislav Ćurčić, training analyst PSSDia 19/06 às 19hLocal: The Belgrade City Library, Knez Mihailova 56 | http://pss.org.rs/psychoanalysis-of-our-time-the-series-of-lectures-and-panels/

CINEMA & PSICANÁLISE

RIBEIRÃO PRETO

O estranho em mimComentários: Denise L. Rosado AntônioDia 26/06 às 19h30Local: Anfiteatro da Unidade de Emergência (UE) da FMRP-USP Rua: Bernardino de Campos, 1000

FRANCA

O exótico Hotel MarigoldComentários: Ana Márcia V. de Paula RodriguesDia 20/06 às 15hLocal: Anfiteatro da Sede do Centro Médico de Franca – Rodovia Tancredo Neves, saída para Claraval, Km 2

Page 10: Sobre pipas e pensamento

10 Boletim SBPRP nº 80 junho/julho 2015

os dias 20 e 21 de março de 2015, em Forta-

leza, ocorreu o II Encontro Nacional da ABC,

encontro que reuniu candidatos representando

institutos de todo o país.

Nesse evento falamos sobre como funcio-

nam os diferentes institutos, o número de candi-

datos em formação no Brasil e na América Latina.

Pudemos compreender o valor institucional num

âmbito além do nacional, com a noção do quarto

eixo e a necessidade de trocarmos experiências

com outros institutos, através da prática de inter-

câmbios.

Tivemos mesas com discussões de casos

clínicos, sobre a experiência da escrita de relató-

rios de supervisão e a angústia que se vive nesse

período e ainda o compartilhar de analistas dida-

tas, contando como fazem a avaliação. Conversa-

mos sobre a preocupação com as produções

escritas. O que escrever, para quem e como ser

lido.

Destacamos a colaboração da analista Car-

mem Mion, que em sua conferência “Sonhando

a Formação”, falou sobre a dificuldade de for-

marmos analistas nos tempos atuais, marcados

por uma cultura de superficialidade. Enfatizou

que a construção da identidade do analista se dá

ao longo do tempo e que os institutos criam con-

dições para essa formação. Ela se utiliza de um

termo usado por Freud para o setting analítico

que também pode ser traduzido como play-

ground, ou seja, um espaço para brincarmos e

nos expandirmos permanentemente. A institui-

ção funcionaria como um espaço de troca, convi-

vência e cuidado, a partir do qual nos desenvol-

vemos.

O setting, também institucional, é o espaço

de um sonho a dois, que alimenta o sonho que

não se sonha só e então pode se realizar. No uni-

verso da formação a instituição está nos ampa-

rando com preciosa continência.

Como estímulo para a escrita em um espa-

ço apenas para candidatos, o diretor do nosso

instituto Dr. José Cesário Francisco Jr. vem nos

oferecendo essa oportunidade de vivermos o

playground. Pertencer a uma sociedade é uma

busca, que, no meu entender é parte constituin-

Sonhando a formação

te de uma importante conquista: o processo de

formação. Estar entre candidatos vem a ser uma

apreciação de ser quem eu sou, estando no meu

lugar e usufruindo daquilo que a instituição pode

oferecer.

Como filha em formação, sou grata ao meu

instituto, que com dedicação nos oferece essa

experiência valiosa. Quero agradecer também a

confiança do meu grupo, que na diretoria da

Associação dos Membros Filiados do Instituto de

Psicanálise-AMFIP, pôde me proporcionar essa

oportunidade de participar desse encontro de

notável importância.

Raquel Siminati Membro Filiado da SBPRP Secretária geral da AMFIP| |

N

Alexander Archipenko,Carrousel Pierrot,1913