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Sistemática para determinação de indicadores de sustentabilidade para construção de obras de edificações Cristian Teixeira Marques (1) Juliana Kurek (2) (1) Universidade de Passo Fundo UPF, Brasil. E-mail: [email protected] (2) Universidade de Passo Fundo UPF, Brasil. E-mail: [email protected] Resumo: É grande a pressão sobre as empresas da cadeia produtiva da Construção Civil para atuarem de acordo com os princípios da sustentabilidade, e mais que isso, observa-se uma tendência do crescimento em direção a estas práticas de controle dos processos com gestão sustentável. O presente trabalho apresenta uma temática abordando a sustentabilidade dentro de uma construtora localizada na cidade de Passo Fundo, certificada recentemente, pelo PBQP-H, nível A e também pela norma ISO 9001, com sistema de gestão da qualidade implementado a mais de sete anos. Primeiro, foi feita uma breve definição dos pontos onde a norma SIAC refere-se à sustentabilidade do canteiro de obras, abrangendo a geração de resíduos e consumo de energia elétrica e água dentro das obras em execução da empresa (item 5.4.1.1 da norma SiAC do PBQP-H), bem como maneiras de controle para os mesmos, através do indicador de sustentabilidade. Foi desenvolvida uma sistemática para determinação da meta para este indicador, obtendo-se como resultado, uma regra onde o ideal é que a medição do mês seja menor que a média das duas últimas medições ou no máximo menor que o valor de uma faixa limite calculada através de um coeficiente de variação. Palavras-chave: Indicador de Sustentabilidade; SGQ. Abstract: Abstract: There is great pressure in order to make Civil Construction companies act according to sustainable principles. More than that, it can be observed that practices for controlling processes with sustainable management have been growing lately. The following paper approaches sustainability within a company located in Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Brazil, recently certified by PBQP-H, level A and also under ISO 9001, whose system for quality management has been implemented for more than seven years. First of all, we made a brief definition about what SIAC rules say about sustainability in building sites, comprehending generation of waste and electric energy and water consumption in the company’s building sites (item 5.4.1.1 from SIAC rules of PBQP-H), as well as ways of controlling them, through sustainability indicator. The result achieved was a rule in that the measuring of the month has to be smaller than the average of the last two measuring or, at most, smaller than the value of a limit range calculated through coefficient of variation Keywords: Sustainability indicator; SGQ

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Page 1: Sistemática para determinação de indicadores de ...¡tica para determinação de... · experiência e dados que possam ser analisados para a composição de informações e conclusões

Sistemática para determinação de indicadores de sustentabilidade para construção de obras de edificações

Cristian Teixeira Marques (1) Juliana Kurek (2)

(1) Universidade de Passo Fundo – UPF, Brasil.

E-mail: [email protected]

(2) Universidade de Passo Fundo – UPF, Brasil.

E-mail: [email protected]

Resumo: É grande a pressão sobre as empresas da cadeia produtiva da Construção Civil para atuarem de acordo com os princípios da sustentabilidade, e mais que isso, observa-se uma tendência do crescimento em direção a estas práticas de controle dos processos com gestão sustentável. O presente trabalho apresenta uma temática abordando a sustentabilidade dentro de uma construtora localizada na cidade de Passo Fundo, certificada recentemente, pelo PBQP-H, nível A e também pela norma ISO 9001, com sistema de gestão da qualidade implementado a mais de sete anos. Primeiro, foi feita uma breve definição dos pontos onde a norma SIAC refere-se à sustentabilidade do canteiro de obras, abrangendo a geração de resíduos e consumo de energia elétrica e água dentro das obras em execução da empresa (item 5.4.1.1 da norma SiAC do PBQP-H), bem como maneiras de controle para os mesmos, através do indicador de sustentabilidade. Foi desenvolvida uma sistemática para determinação da meta para este indicador, obtendo-se como resultado, uma regra onde o ideal é que a medição do mês seja menor que a média das duas últimas medições ou no máximo menor que o valor de uma faixa limite calculada através de um coeficiente de variação.

Palavras-chave: Indicador de Sustentabilidade; SGQ.

Abstract: Abstract: There is great pressure in order to make Civil Construction companies act according to sustainable principles. More than that, it can be observed that practices for controlling processes with sustainable management have been growing lately. The following paper approaches sustainability within a company located in Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Brazil, recently certified by PBQP-H, level A and also under ISO 9001, whose system for quality management has been implemented for more than seven years. First of all, we made a brief definition about what SIAC rules say about sustainability in building sites, comprehending generation of waste and electric energy and water consumption in the company’s building sites (item 5.4.1.1 from SIAC rules of PBQP-H), as well as ways of controlling them, through sustainability indicator. The result achieved was a rule in that the measuring of the month has to be smaller than the average of the last two measuring or, at most, smaller than the value of a limit range calculated through coefficient of variation

Keywords: Sustainability indicator; SGQ

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1. INTRODUÇÃO

Todas as partes interessadas no setor da Construção Civil necessitam de informações claras e ordenadas para avaliar o desempenho econômico, ambiental e social de empresas do ramo e o seu produto: o ambiente construído. Para tanto, o setor da construção precisa se engajar cada vez mais, com isso as empresas devem mudar sua forma de produzir e gerir suas obras. Uma excelente ação para tal mudança é através da incorporação de práticas de gestão que visam à melhoria contínua dos processos e a inserção de práticas de sustentabilidade.

Diante do atual panorama, já é possível afirmar que na construção civil, estas atividades de controle, são uma tendência crescente no mercado, e a adoção destas práticas é “um caminho sem

volta”, pois diferentes agentes, tais como governos, consumidores, investidores e associações, alertam,

estimulam e pressionam o setor da construção a incorporar estes mecanismos em suas atividades (CORRÊA, 2009).

Essa pressão crescente em direção as práticas de controle dos processos de gestão sustentável, vem acompanhada de uma grande quantidade de referências para apoiarem as empresas a melhorarem seus desempenhos. Já existem normas técnicas que indicam como as empresas podem construir um sistema de gestão integrada, citamos aqui: ABNT NBR ISO 9000 para a qualidade, ABNT NBR ISO 14000 para o meio ambiente, OSHAS 18000 e SA 8000 para a saúde e segurança do trabalhador e as normas ABNT NBR 16000, ABNT NBR ISO 26000 para a gestão da responsabilidade social.

Segundo Guia CBIC de Boas Práticas em Sustentabilidade na Indústria da Construção (2012), os governos locais também vêm criando regras que afetam o setor da Construção. Percebe-se que cresce o número de municípios com leis que impõem a empreendimentos a medição individualizada de água e gás, por exemplo, o aquecimento solar de água e a elaboração de programa de gestão de resíduos para a obtenção de Alvará de Construção ou Habite-se, etc.

2. OBJETIVO

Auxiliar uma construtora de Passo Fundo que já possui sistema de gestão da qualidade com certificação PBQP-H nível A e ISO 9001 implantado, a encontrar a meta para o indicador de sustentabilidade, a partir de medições realizadas em suas obras, desde o mês de janeiro de 2013, aprofundando o entendimento do item 5.4.1.1 - Objetivos da qualidade voltados à sustentabilidade dos canteiros de obras – da norma SiAC.

3. JUSTIFICATIVA

Segundo CBIC (2012), quando se fala em sustentabilidade dentro da Construção Civil, é evidente que se pode constatar uma gama de possibilidades onde este conceito pode ser difundido, descentralizando-se o foco apenas das construtoras. Uma vez que as atividades impactantes do setor começam antes mesmo da produção de qualquer material e se estendem até o fim da vida útil do empreendimento.

Mesmo assim, podemos dizer de forma geral que a indústria da construção civil, em especial o subsetor edificações, ainda é frequentemente enquadrado como exemplo de setor atrasado, apresentando baixos índices de produtividade e elevados desperdícios de recursos, quase sempre, com desempenho inferior à indústria de transformação (SAURIN, 2006).

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E diante deste cenário um tanto quanto pessimista, juntamente devido às exigências, cada vez mais crescentes, do mercado e consequente aumento da competitividade, a implantação de sistemas de medição de desempenho para as empresas do setor tornaram-se fundamentais para uma gestão de qualidade, tal a importância da implantação de programas de qualidade e produtividade (NORIE/UFRGS, 1994).

Abordando esta problemática, podemos citar como ferramentas de gestão cada vez mais difundidas no meio em questão, o SGQ – Sistema de Gestão da Qualidade – abrangendo o PBQP-H (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat) e a série de Normas da família ISO 9000. Ambas, com o objetivo de conferir maior organização, produtividade e credibilidade, visando à eficácia dos processos de gestão, a qualquer tipo de organização no caso da ISO, e, em específico à construção civil (escopo único) no caso do PBQP-H, aumentando assim, a sua competitividade nos mercados nacional e internacional.

Com relação ao PBQP-H, analisamos em específico o item 5.4.1.1 do SIAC alterado em 05 de dezembro de 2012 - Objetivos da qualidade voltados à sustentabilidade dos canteiros de obras - onde são apresentados indicadores da qualidade obrigatórios. Neste ponto, é evidente a existência de uma barreira no sentido de definir-se uma meta ao devido indicador. Uma vez que todo indicador necessita de uma meta, e também que, para algumas empresas este tipo de medição é algo novo, falta ainda à experiência e dados que possam ser analisados para a composição de informações e conclusões que viabilizem a posterior adoção da meta ideal, ou seja, aquela que realmente informa se o consumo está ou não adequado, se pode ou não ser reduzido, e assim por diante.

4. MÉTODO DA PESQUISA

2.1. Descrição do objeto de estudo

O estudo verificou-se dentro dos processos de uma construtora, localizada na cidade de Passo Fundo – RS, que exerce atividades desde 1975, atuando dentro do setor da construção civil, e paralelamente a isto, desenvolvendo intensa atividade no setor de urbanização, executando completas infraestruturas de pavimentação, redes de energia elétrica, hidráulica, de iluminação pública e de esgoto pluvial.

A empresa foi certificada recentemente, pelo Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H), nível A e também pela norma ISO 9001. Porém seu sistema de gestão da qualidade encontra-se implementado a mais de sete anos, e conta com uma equipe de engenheiros, estagiários, técnicos de segurança e mestres de obras que em conjunto, então, certificam-se do planejamento, controle, segurança e qualidade dos serviços executados em suas obras.

2.2. Procedimento Metodológico

O presente trabalho abrange especificamente os itens da norma SIAC do PBQP-H que se referem às questões de sustentabilidade na construção. Partiu-se inicialmente, de uma breve definição dos pontos onde a norma SIAC refere-se à sustentabilidade do canteiro de obras, abrangendo assim as questões de geração de resíduos e consumo de energia elétrica e água dentro das obras em execução, bem como maneiras de controle para os mesmos, através de um indicador de sustentabilidade, adotando-se a seguinte metodologia:

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Identificação das atividades mais impactantes em termos de geração de resíduos e consumo de energia elétrica e água, dentro dos processos da construtora, através de um diagnóstico de geração de resíduos.

Apresentação dos resultados das medições de consumo de água e energia elétrica e de geração de resíduos das obras da construtora – indicador de sustentabilidade.

Criação de um perfil com medição mensal de uma obra genérica a partir dos indicadores das obras estudadas.

Definição da meta para o novo indicador de sustentabilidade.

3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

3.1. Diagnóstico da geração e destinação dos resíduos

A partir do que ficou definido acima, e buscando atender a esta nova necessidade, iniciou-se as medições para o devido indicador, com o objetivo de, posteriormente encontrar-se uma meta para o mesmo.

Sendo assim partiu-se para a identificação das atividades mais impactantes em termos de geração de resíduos e consumo de energia elétrica e água, dentro dos processos da construtora, através da elaboração de um diagnóstico de geração de resíduos, garantindo-se a organização do canteiro de obras e a separação dos resíduos para reduzir desperdícios, permitir a reutilização ou reciclagem e a destinação compromissada, além do atendimento aos requisitos ambientais e legislativos.

Definidos os resíduos, os mesmos foram classificados de acordo com a Resolução 307 do CONAMA, e estabeleceu-se que após a origem, estes devem ser corretamente armazenados nas baias correspondentes e identificados com placas, ficando estocados até quantidade suficiente para a destinação final, ou seja, venda ou coleta pela empresa responsável. As baias destes resíduos têm dimensões de acordo com o tipo do resíduo.

3.2. Indicador de Sustentabilidade

Como a empresa possui certificação PBQP-H nível A, já desenvolve atividades no âmbito da gestão dos resíduos gerados em suas obras, e para satisfazer o item 5.4.1.1 do SiAC, em todas as obras, um controle mensal, da geração de resíduos, e do consumo de água e energia elétrica, existe uma planilha chamada indicador de sustentabilidade, onde são preenchidos, todos os meses pelo estagiário de cada obra (Tabela 01), valores de volume em m³, consumo de energia em kWh e consumo de água em m³.

O funcionamento da planilha de registros e cálculo do indicador de sustentabilidade apresenta a seguinte sistemática: nas linhas estão dispostos os resíduos, os quais são realizados as medições mensais, além da água e da energia elétrica; nas colunas estão os meses, e dentro destes, inseridas mais quatro colunas: a primeira onde se registra o número de funcionários para se retirar o indicador, a segunda a quantidade de resíduos gerados na obra naquele mês, ou seja, o valor da medição, a terceira coluna onde se obtêm o valor do indicador mensal, e a quarta coluna que apresenta o valor do indicador acumulado.

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Tabela 01 – Planilha Indicador Sustentabilidade.

Fonte: BOLSA, 2013.

As medições para este indicador da sustentabilidade foram realizadas em oito obras, e iniciaram a partir do mês de janeiro de 2013. É a partir destes dados que se buscará encontrar uma meta. Abaixo segue uma tabela resumo com informações e a descrição das principais características das obras analisadas.

Tabela 02 – Planilha Indicador Sustentabilidade.

Fonte: BOLSA, 2013.

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3.3. Análise dos resultados e elaboração perfil de medição obra genérica

Como os dados de medições disponíveis correspondem a apenas um ano de registros, e não se tem uma única obra controlada durante todo seu processo de execução, pensou-se na construção de um perfil de medições de uma obra genérica, a partir da medição de um ano das diferentes obras em diferentes estágios, ou seja, têm-se indicadores em todas as fases de construção, porém em diferentes obras, desta forma, basta localizarmos dentro de um cronograma a medição de cada uma destas obras.

Examinando-se o prazo de execução das obras em estudo, é possível se verificar em geral um período médio de três anos para cada uma, sendo assim, as obras foram organizadas de forma decrescente de ordem de execução, e dentro deste cronograma de três anos, foram localizadas as medições de um ano, como podemos ver na Figura 01 abaixo. Nos trechos onde houve o entrecruzamento das medições foi feita uma média entre os valores, obtendo-se desta forma uma medição do indicador mensal, para uma obra genérica do inicio até o fim de sua construção.

Figura 01 – Obtenção do indicador da obra genérica.

Fonte: Próprio Autor, 2014.

O mesmo foi feito para o consumo de água e para os demais resíduos, obtendo-se medições de uma obra completa, e foi com esses dados que se partiu enfim para a definição da meta do indicador.

3.4. Definição da meta do indicador de sustentabilidade

Examinando-se todas as etapas descritas acima, podemos destacar que ao longo de todo o processo, numa primeira análise estabelecida, tinha-se a real certeza de que a meta do indicador de sustentabilidade continuaria inviável de definir-se, exigindo assim ainda mais estudos e mais análises, ou ainda num segundo momento, surgiu também à hipótese desta meta não ser um valor único, mas sim algo variável, uma vez que se têm resultados bastante diferentes entre as obras, e estes justamente devido a fatores muito importantes e influentes como, por exemplo, o número de funcionários.

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Revendo-se os conceitos, na busca de uma solução para essa problemática, defrontou-se com uma definição básica das normas ISO 9001 e 14001, que é a MELHORIA CONTÍNUA. A partir deste princípio pensou-se que ao invés de se estabelecer um valor para a meta, poderia ser estabelecida uma regra, que levasse a esta melhoria contínua. A partir deste raciocínio foi definida a seguinte proposta:

Desta forma a meta se torna variável e a hipótese levantada anteriormente se provou verdadeira, porém de uma maneira distinta. Assim sendo, à medida que os dados são preenchidos e os indicadores são calculados, a meta vai automaticamente sendo recalculada com os valores das ultimas medições.

Em meio a reflexões acima desta regra proposta, surgiu-se uma problemática a ser acrescentada, é que dependendo da fase da obra, como já descrevemos, existem variações de consumo de geração de resíduos, e em determinados momentos, é necessário sim que este valor do indicador aumente, estabelecendo-se assim uma margem de tolerância, um valor máximo que estabeleça um limite para esse aumento.

A partir dos valores da meta, ou seja, da média das ultimas duas medições, foram calculados os desvios padrão, e a partir do desvio padrão, foi calculado o coeficiente de variação, que dá uma noção da variabilidade encontrada no valor do indicador. Coeficientes de variação muito elevados (por exemplo, superiores a 25%) podem indicar a necessidade de um desdobramento do indicador.

Calculada a média destes coeficientes de variação, tem-se por fim a faixa de limite que o indicador pode aumentar a fim de corresponder de forma satisfatória ao raciocínio exposto logo acima.

Figura 02 – Obtenção da Meta, coeficiente de variação e limite superior da medição.

Fonte: Próprio Autor, 2014.

Importante deixar claro aqui, é que este coeficiente, este valor que indica a faixa de variação, também é variável e se recalcula automaticamente à medida que os dados são preenchidos. Têm-se assim os valores da medição, os valores da meta, e os valores desta faixa limite que nada mais é que o valor da meta mais a porcentagem de variação.

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A partir destes valores obtidos então, traçou-se um gráfico com as três curvas: a Medição, a Meta e o Limite superior (faixa de variação da meta). Examinando-se o gráfico é possível ver o comportamento do indicador ao longo do tempo e se o mesmo correspondeu ou não as expectativas da meta, lembrando que esta, vai se modificando também à medida que a planilha do indicador vai sendo preenchida com as medições. O procedimento descrito aqui foi executado para todas as medições, incluindo consumo de energia elétrica, consumo de água, resíduos de entulho, madeira, tintas, papel, gesso, plástico e aço.

É interessante de se observar que a média dos coeficientes de variação (valor da faixa de variação, ou limite superior), para todos os casos ficou entre 16 e 25%. No caso apresentado abaixo, esta o gráfico gerado com a curva para o consumo de energia elétrica.

Gráfico 01 – Gráfico das três curvas: medição, meta e limite superior Energia Elétrica.

Fonte: Próprio Autor, 2014.

Com base nos gráficos obtidos na sistemática aqui proposta para delimitação dos valores dos indicadores, podemos dizer que o ideal sempre será quando se obtiverem medições onde os valores que corresponderem à curva azul da medição fiquem abaixo da curva verde (meta), ou no máximo entre as curvas verde e vermelha (entre a meta e o limite superior), para que os valores não ultrapassem a meta.

4. CONCLUSÃO

Ao longo do estudo a respeito do item 5.4.1.1 da norma SiAC, referente a objetivos da qualidade voltados a sustentabilidade dos canteiros de obras, foram desenvolvidas várias etapas de análise, as quais forneceram resultados, muitos inclusive inesperados, até por fim chegar-se no objetivo final que era a meta para o indicador de sustentabilidade.

Com relação à regra proposta como definição para a meta do indicador, obtendo-se uma regra como meta, tem-se uma sentença comum a qualquer situação, sendo assim, vemos que a mesma prevê uma meta, mas esta é circunscrita numa análise em curto prazo, com valores do momento (média das duas ultimas medições), e não faz referência a uma visão geral do todo. Assumindo este ponto de vista, podemos ver no gráfico 01 acima nos resultados expostos, por exemplo, que o consumo de energia elétrica na obra vai aumentando ao longo dos meses, isso vai de desencontro à política da melhoria contínua.

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Tem-se que se levar em consideração também, que o comportamento da curva é diferente para cada medição. Uma possibilidade importante a estudar-se seria a análise através de linhas de tendência para os dados relacionados nos gráficos, a fim identificar-se a tendência do comportamento do indicador.

Toda a metodologia de análise do indicador de sustentabilidade e controle operacional da geração dos resíduos, bem como consumo de energia elétrica e água, pode fazer parte de um subsistema para gerenciamento e análise de riscos ambientais do processo execução das obras dentro do sistema de gestão ambiental da norma ISO 14001. Além disso, as propostas de ação, que virão a ser executadas com o intuito de conquistar-se a meta para o indicador através da diminuição contínua da geração de resíduos e do consumo, possibilita o desenvolvimento de novos trabalhos.

Contudo, a incorporação da sustentabilidade na gestão ainda é um desafio que as empresas enfrentam, pois muitos gestores têm claro como operacionalizá-la internamente, mas pressupõem altos custos para sua implementação. Para tanto, deve-se evitar a obrigatoriedade de participação dos colaboradores, mas ao contrário, mostrar que quem se engajar terá o devido reconhecimento pela empresa. Fazendo-se uma priorização das ações de sustentabilidade levando-se em consideração a capacidade de contribuição destas para a empresa, deixando bem claro o que cada área contribui de forma mais efetiva com a sustentabilidade na empresa.

A liderança da empresa, ou seja, a direção é a principal responsável pelo sucesso de um SGQ, bem como de um SGA, para que o projeto seja participativo, ela deve oferecer os recursos necessários e comunicar seu interesse no projeto, e na empresa analisada. Isto se torna ainda mais evidente, um exemplo claro, uma vez que muitas das tarefas realizadas dentro dos processos de gestão ocorrem por opção própria, às vezes sem existir a obrigatoriedade da norma, mas assim o é, pelo fato de acreditar que a qualidade de seu produto é dependente direta destas práticas de controle racionais e sustentáveis.

De nada adianta muitas vezes a empresa fazer todos os esforços e assumir uma postura positiva no intuito de tentar se adequar a normas e legislações que levem a práticas sustentáveis dentro dos processos se a mesma não puder contar com a ajuda do poder público. Isso é possível ser dito, uma vez que na cidade de Passo Fundo, por exemplo, não existe empresa que recolha os resíduos de entulho e possua licença da FEPAN para a destinação adequada desses resíduos, deixando muitas vezes as construtoras de mãos atadas, sem poder garantir a destinação final correta para seus resíduos mesmo que assim o deseje.

É possível ainda acrescentar que para empresas de pequeno a médio porte, em virtude da limitada disponibilidade orçamentária, o custo de implantação de um SGQ e um SGA pode ser bastante elevado em virtude do tipo de orientação técnica recebida, principalmente, se a empresa não apresenta experiência prévia com a implantação de sistemas de gestão, em virtude da necessidade recorrente de retrabalhos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR ISO 14001:2004. Sistema de Gestão Ambiental: Requisitos com orientações para uso. Rio de Janeiro: 2004. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR ISO 9001:2008. Sistema de Gestão da Qualidade: Requisitos. Rio de Janeiro: 2008.

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CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO (CBIC). Guia CBIC de Boas Práticas em Sustentabilidade na Indústria da Construção. Brasília: Fundação Dom Cabral, 2012. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução CONAMA nº 307, de 5 de julho de 2002. Disponível em: < http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=307> Acesso em: 15 Setembro 2013. CORRÊA, Lásaro R. Sustentabilidade na Construção Civil. Belo Horizonte: UFMG, 2009. MINISTÉRIO DAS CIDADES. Sistema de avaliação da conformidade de empresas de serviços e obras da construção civil (SIAC). Brasília: 2012. MINISTÉRIO DAS CIDADES. Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat. Disponível em <http://www.cidades.gov.br/pbqp-h>. Acesso em: 15 Setembro 2013. NORIE (UFRGS). Sistemas de Indicadores de Qualidade e Produtividade para a Construção Civil: Primeiros Resultados. Porto Alegre, 1994. SAURIN, Tarcisio Abreu; FORMOSO, Carlos Torres. Planejamento de Canteiros de Obra e Gestão de Processos. Vol 3. Porto Alegre: HABITARE, 2006.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Bolsa Construtora pelo amparo e auxilio prestado, com o fornecimento de informações, sem as quais este trabalho não seria possível.