sistemas politicos africanos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAS TEORIA ANTROPOLÓGICA Profª: Rogéria Dutra Aluno: Charles Antonio Pereira Sistemas políticos africanos Este foi um livro escrito por Evans Pritchard e Meyer Fortes e introduzido por Radcliffe Brown. Antropólogo inglês, Evans- Pritchard nasceu em 1902, em Crowborough (Sussex),Inglaterra e morreu em 11 de setembro de 1973. Aluno de B. Malinowski, abandonou os princípios do funcionalismo para se concentrar na demonstração da racionalidade da cultura subjetiva. Defensor da importância da prática etnográfica para a antropologia social (campo onde deixou as suas maiores contribuições acadêmicas), empreendeu diversas expedições ao continente africano, a partir de 1926. Destas expedições, e do trabalho de campo nelas realizado, nomeadamente entre os Azande e os Nuer (Sudão), resultariam um vasto conjunto de estudos e obras de assinalável importância para o desenvolvimento teórico e metodológico da antropologia social do pós-guerra. Meyer Fortes, nasceu a 25 de abril de 1906, em Britstown, Cape

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

PROGRAMA DE PS GRADUAO EM CINCIAS SOCIAS

TEORIA ANTROPOLGICA

Prof: Rogria Dutra

Aluno: Charles Antonio Pereira

Sistemas polticos africanos

Este foi um livro escrito por Evans Pritchard e Meyer Fortes e introduzido por Radcliffe Brown. Antroplogo ingls, Evans-Pritchard nasceu em 1902, em Crowborough (Sussex),Inglaterra e morreu em 11 de setembro de 1973. Aluno de B. Malinowski, abandonou os princpios do funcionalismo para se concentrar na demonstrao da racionalidade da cultura subjetiva. Defensor da importncia da prtica etnogrfica para a antropologia social (campo onde deixou as suas maiores contribuies acadmicas), empreendeu diversas expedies ao continente africano, a partir de 1926. Destas expedies, e do trabalho de campo nelas realizado, nomeadamente entre os Azande e os Nuer (Sudo), resultariam um vasto conjunto de estudos e obras de assinalvel importncia para o desenvolvimento terico e metodolgico da antropologia social do ps-guerra.

Meyer Fortes, nasceu a 25 de abril de 1906, em Britstown, Cape Provence (frica do Sul), e morreu em 27 de janeiro de 1983. Estudou e doutorou-se em Psicologia antes de optar pela Antropologia Social. Levou a cabo um trabalho de campo na frica Ocidental entre os Tallensi e os Ashanti, na sequncia do qual surgiriam duas monografias que se tornariam clssicos da antropologia, e abordaram o sistema poltico destas sociedades, demonstrando a importncia do papel desempenhado pelos sistemas de parentesco. So extremamente vastas e importantes as contribuies de Fortes para o desenvolvimento da antropologia, nomeadamente da antropologia britnica.

Antroplogo social ingls, Radcliffe-Brown nasceu em 1881, em Birmingham, na Gr-Bretanha e morreu a 24 de outubro de 1955. Aps estudar Antropologia em Cambridge, levou a cabo trabalhos de campo nas Ilhas Andaman (1906-1908) e no oeste da Austrlia (1910-1912), que serviram de base para as obras The Andaman Islanders (1922) e The Social Organization of Australian Tribes (1930). Foi um dos mais importantes nomes da Antropologia Social contempornea, alcanando vasto reconhecimento cientfico e acadmico, que lhe valeram, entre outras distines, a presidncia do Instituto Real de Antropologia (Londres), entre 1939 e 1949.

Introduo:

Um dos objetivos do estudo sintetizado nessa obra oferecer aos antroplogos um material de consulta, o qual contribua diretamente para a disciplina da poltica comparada. Os autores afirmam que essa primeira proposta foi alcanada, devido ao fato de que as sociedades descritas na obra so representativas, e demonstram os tipos comuns dos sistemas polticos africanos, que em conjunto demonstram toda sua variedade. Os autores reconhecem a impossibilidade de abordarem todos os sistemas polticos do continente, entretanto, afirmam que foi possvel pelo menos se chegar aos princpios norteadores da organizao poltica africana.

Amostra Representativa das sociedades africanas:Ao longo do livro definem-se oito diferentes sistemas polticos, que esto largamente difundidos ao longo do territrio africano. So eles os Zulo, Nwgato, Bemba, Banyankole, Kede, Banto de Kavirondo, Tallensi e os Nuer. Diante das similaridades encontradas entre esses povos, os autores ressaltam, que no querem sugerir que sistemas polticos de sociedades que possuem um alto grau de similaridades so do mesmo tipo. Na verdade, afirmam que mesmo em uma determinada rea cultural e lingustica possvel encontrar sistemas polticos distintos. Da mesma forma que o inverso tambm seja possvel. Dessa forma, pode haver um contedo cultural totalmente diferente em processos sociais com funes idnticas. O que pode ser ilustrado claramente na ideologia ritual na organizao poltica africana. Se atribuem valores msticos aos cargos polticos entre os Bemba, os Banyankole, os Kede e os Tallensi, porm, os smbolos e instituies expressos so muito diferentes entre s.

Filosofia Poltica e Cincia Poltica Comparada:

Nesta parte do texto os autores tecem uma crtica a Filosofia Poltica, argumentando que a disciplina pouco contribui para entender as sociedades que tem estudado. A disciplina estaria mais interessada em como deveria viver a sociedade e que tipo de governo deveria ter, ao invs de conhecer quais so realmente seus hbitos polticos e institucionais, atravs de dados empricos. Entretanto, eles no desconsideram totalmente as contribuies dos filsofos, quando propem que os estudo das instituies polticas deve ser tanto indutivo quanto comparativo, e seu nico fim deve ser de estabelecer e explicar as uniformidades encontradas entre estas e sua interdependncia com outros aspectos da organizao social.

Dois tipos de sistemas polticos estudados:

Os sistemas polticos descritos no livro, podem se englobar em duas categorias principais. O primeiro grupo qual foi denominado grupo A compreende sociedades em que existe autoridade centralizada, maquinaria administrativa e instituies judicirias, e cujas distribuies por riqueza, privilgio e status correspondem a distribuio do poder a da autoridade. Esse grupo compreende os Zules, os Ngwato, os Bemba, os Banyankole e os Kede. No outro grupo denominado de grupo B esto as sociedades que no possuem autoridade centralizada, maquinrio administrativo e instituies judicirias, de forma resumida, carecem de governo. Estre grupo compreende os Logoli, os Tallensi e os Nuer. Quem pensa que o Estado deveria definir-se pela presena de instituies governamentais , considerariam que o primeiro grupo de enquadraria em Estados Primitivos e o segundo, por uma sociedade sem Estado.

Parentesco na organizao poltica:

O papel desempenhado pelo sistema de parentesco e linhagens o principal fator norteador das diferenas presentes nos grupos retratados no livro. Sistemas de parentesco aqui entendido como o conjunto de relaes que une o indivduo com outras pessoas e com determinadas unidades sociais mediante a famlia bilateral transitria. caracterizado como sistema de linhagens, um sistema segmentrio de grupos permanentes baseados em filiao unilateral. Sendo este ultimo o nico que estabelece unidades corporativas com funes polticas. O sistema de parentesco em ambos os grupos desempenha um papel importante na constituio do indivduo, porm desempenha papel secundrio no sistema poltico. Nas sociedades do grupo A a organizao administrativa e no grupo B o sistema de linhagens segmentrios que regulam basicamente as relaes polticas entre os segmentos territoriais. Por fim, os autores afirmam que o sistema de parentesco no pode contar com um nmero importante de pessoas em sua organizao para que possa defender- se e resolver conflitos mediante a arbitragem como podem fazer os sistemas de linhagens. Porm, um sistema de linhagens tampouco pode contar com um nmero considervel de pessoas para se formar um sistema administrativo.

Influncia da Demografia:

Nesta parte do texto os autores iniciam apresentando o fato de que as sociedades que se organizam ao redor do Estado so numericamente maiores das que no o possuem. Entretanto afirmam que no sua inteno estabelecer a relao de que uma unidade poltica sem Estado seja propriamente pequena, a exemplo dos Nuer que no perodo possuam mais de 45 mil habitantes. Tambm no estabelecem que uma unidade estatal seja majoritariamente muito grande. Mas concordam que existem um limite de tamanho para que uma sociedade sem estado se mantenha unida. Salientam tambm que no se deve confundir populao com densidade demogrfica. Admitem que deva existir alguma relao entre a populao e a poltica, mas que seria incorreto super que as instituies governamentais so encontradas apenas nas sociedades com maior densidade. Mais uma vez se apoiando nos Nuer para demostrar uma exceo .

Influncia dos meios de subsistncia:

A densidade e distribuio da populao em uma sociedade africana est claramente relacionada com as condies ecolgicas, as quais afetam diretamente os meios de subsistncia. Porm no se pode declarar que os diferentes meios de subsistncia por si s, determinem as diferenas nas estruturas polticas. De forma geral, os meios de subsistncia, junto com as condies ambientais , que impe limites efetivos aos meios de subsistncia, determinam os valores dominantes de um povo e influenciam fortemente em sua organizao social, incluindo seus sistemas polticos.

Sistemas polticos compostos e a teoria da conquista:

A questo central levantada pelos autores nesse tpico consiste em, at que ponto a heterogeneidade cultural em uma sociedade se correlaciona com um sistema administrativo e a autoridade central? Os autores sugerem de acordo com a investigao que apresentada no livro, que a heterogeneidade cultural e econmica associada a uma estrutura poltica semelhante a estatal. A autoridade centralizada e a organizao administrativa parecem ser necessrias para acomodar grupos culturalmente diversos dentro de um mesmo sistema poltico, especialmente se eles possuem meios de subsistncia diferentes. Porm a existncia de grupos muito diversos pode resultar em um sistema de extratos sociais e castas. Todavia, mais uma vez utilizando os Nuer como exemplo, os autores demonstram que um governo altamente centralizado no obrigatria para comportar grupos diversos, uma vez que eles absorveram grande parte dos Dinka conquistados, o que no resultou em um possvel sistema de castas. Dessa forma, desse se levar outros fatores em considerao, como o modo de conquista, como ocorreu o contato entre os povos, as semelhanas e divergncias culturais que existem, etc.

Aspecto territorial: Nas sociedades descritas nesse livro, os sistemas polticos possuem uma dimenso territorial. Porm sua funo diferente de acordo com os tipos de organizao politica. Sua diferena de deve a existncia de um aparato judicial e administrativo em uma e a inexistncia em outra. Nas sociedades pertencentes ao grupo A sua unidade administrativa e uma unidade territorial. O chefe a cabea administrativa e os que esto sobre o seu comando e definido atravs das fronteiras. Nas sociedades pertencentes ao grupo B no existe uma cabea administrativa responsvel por um territrio, so comunidades locais cuja extenso correspondem aos laos da linhagem e da cooperao direta.

Os autores finalizam ressaltando que as relaes polticas no so apenas o reflexo das relaes territoriais. O sistema poltico, por direito prprio, incorpora as relaes territoriais e lhes aplicam determinado tipo de significao poltica.

Equilbrio de foras no sistema poltico:

Um sistema poltico africano que seja relativamente estvel apresenta um equilbrio entre as tendncias conflitivas e os interesses divergentes. No grupo A se trata de um balano entre as diferentes partes da organizao administrativa. As foas que mantem o poder do mximo dirigente se opes as que atuam como freios de seus poderes. O equilbrio entre a autoridade central e a autonomia regional um elemento muito importante na estrutura poltica. Se um rei abusa do seu poder, parte dos seus subordinados tomarem medidas separatistas, se um chefe subordinado se mostra demasiadamente poderoso, cabe ao poder central organizar os demais chefes para que se volte contra o outro, etc.

Um tipo novo de equilbrio se encontra nas sociedades pertencentes ao grupo B, um equilbrio entre o nmero de segmentos, espacialmente justapostos e estruturalmente equivalentes, definidos por localidade e linhagem e no em termos administrativos.

Efeito e funo da fora organizada:

Segundo os autores a caracterstica que distingue as formas centralizadas, piramidais e de tipo estatal de governo do ngwato, os bemba, dos sistemas segmentrios dos logoli, tallensi e nuer, o efeito e a funo da fora organizada. No primeiro grupo de sociedades, a sano principal dos direitos e prerrogativas do governante a da autoridade exercida pelos chefes subordinados ao mando da fora organizada.

Distintos tipos de respostas ao domnio Europeu:

Muitas das sociedades tratadas no livro, em algum momento cederam ao domnio europeu de forma pacfica devido ao medo do uso da fora. Esse um fato que influencia diretamente da administrao da vida poltica dessas sociedades.

Nas sociedades do grupo A a coao do governo colonial probe o chefe supremo de usar a fora organizada a seu favor, ocupando assim o alto da pirmide. Na sociedade do grupo B , o domnio europeu geralmente acaba subsumindo todo o sistema de mutuo equilbrio existente, implantando uma organizao parecida com o Estado Centralizado.

Valores msticos associados aos cargos polticos: