sistemas de drenagem sustentável como conformadores do desenho urbano

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SISTEMAS DE DRENAGEM SUSTENTÁVEL como conformadores do desenho urbano Universidade Federal de Santa Catarina • Departamento de Arquitetura e Urbanismo Introdução ao Projeto de Graduação • Semestre 2014/2 Orientadora: Adriana Marques Rossetto • Autora: Julia Du Pasquier Mansell

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Trabalho de Conclusão de Curso I de Arquitetura e Urbanismo | Autora: Julia Du Pasquier Mansell

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Page 1: Sistemas de drenagem sustentável como conformadores do desenho urbano

SISTEMAS DE DRENAGEM SUSTENTÁVELcomo conformadores do desenho urbano

Universidade Federal de Santa Catarina • Departamento de Arquitetura e UrbanismoIntrodução ao Projeto de Graduação • Semestre 2014/2

Orientadora: Adriana Marques Rossetto • Autora: Julia Du Pasquier Mansell

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1. INTRODUÇÃO Cidades do mundo todo têm sofrido com o crescimento desordenado e mudanças climáticas globais. A necessidade que temos de expandir nossas cidades é incontestável. No Brasil, no ano de 2010, mais de 84% da população é urbana e em poucos anos será atingida a marca de 90% dos brasileiros vivendo em centros urbanos. O aumento popu-lacional gera o défi cit habitacional que por sua vez ocasiona o espraiamento das cidades, distanciando áreas residenciais das centralidades e ocupando e impermeabilizando áreas cada vez maiores. A impermeabilização do solo urbano pode ocasionar muitos problemas, podendo citar o risco de enchentes, sobrecarga do sistema de drenagem urbana, impossibilidade do reabastecimento dos lençóis freáticos, concentração de poluentes no fl uxo reduzido de cursos d’água. A dinâmica e as características do uso das águas urbanas e da poluição são bastante conhecidas, porém raramente aplicadas em soluções práticas. Usualmente planejadores urbanos tratam dos problemas de enchentes, drenagem, poluição, uso e abastecimento de água de forma separada. Além da problemática do sistema inefi caz de águas pluviais, este trabalho visa pro-por soluções para o desenho de espaços públicos, outro fator que recebe pouca atenção e investimento do poder público, dada a rápida expansão das cidades. Espaços públicos de qualidade e planejados de acordo com as necessidades do lugar são de suma importân-cia para a vitalidade do espaço urbano, sejam essas necessidades acomodar comércio e residências, garantir a segurança, o bem-estar da comunidade, garantir a preservação do meio ambiente naquele espaço, garantir o equilíbrio da ocupação humana com a na-tureza.

1.1.1. Objetivo geral Utilizar Sistemas de Drenagem Urbana Sustentável como conformadores do De-senho Urbano.

1.1.2. Objetivos específi cos I. Propor a reorganização da infraestrutura de drenagem na bacia hidrográfi ca do Saco Grande II. Adaptar a área de estudo às condicionantes ambientais atuais e futuras III. Criar parâmetros para a utilização de Sistemas de Drenagem Urbana Sus-tentável em contextos de áreas urbanas consolidadas e áreas de expansão urbana IV. Requalifi cação dos espaços públicos através de estratégias de Sistemas de Drenagem Urbana Sustentável

1.1. OBJETIVOS

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2. ESPAÇOS PÚBLICOS

2.1. Conceito

O conceito mais primário que o espaço público pode ter é o espaço de uso comum e posse de todos. Estes espaços abrigam as mais diversas atividades: caminhadas de um ponto a outro, caminhadas sem um destino certo, paradas breves, longas permanências, conversas e encontros, exercício físico, usos recreacionais, comércio de rua, lazer infantil, etc. É por ser este local de encontros e relações que o espaço público tem papel tão im-portante no contexto da cidade.

2.2. Tipologias 2.2.1. Rua

Mais que o canal de circulação pela cidade, a rua é o principal e mais básico tipo de espaço público. São pelas ruas que os pedestres se movimentam e realizam as atividades do dia-a-dia, gerando oportunidades para encontros e trocas sociais. A rua caracteriza-se por um espaço linear, defi nido pelas edifi cações em sua volta. Usualmente é um espaço compartilhado por pedestres, ciclistas e veículos. A dimensão desse tipo de espaço pode variar muito, dependendo do fl uxo de usuários e pode ter diferentes classifi cações de acordo com seu uso. Pode-se ter alamedas, vias exclusivas de pedestres, vias para pedestres e ciclistas, vias compartilhadas, vias de trânsito rápido e pouco fl uxo de pedestres, bulevares, com espaços generosos e arborizados para os usuários a pé, como muitos outros.

Figura 1: Rua Gonçalo de Carvalho, Por Alegre. Fonte: coxinhan-erd.com.br/rua-mais-bonita-brasil/#prettyPhoto[gallery]/0/

Figura 2: New Road, Brighton. Fonte: images.urbed.coop.ccc.cdn.faelix.net/sites/default/fi les/Image%206.jpg

Figura 3: Mermaid Street, Rye. Fonte: prime.500px.com/pho-tos/75084963/looking-up-mermaid-street-rye-sussex-england-by-joe-daniel-price

Figura 4: ChampsElysees, Paris. Fonte: en.wikipedia.org/wiki/Champs-%C3%89lys%C3%A9es

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2. ESPAÇOS PÚBLICOS 2.2.2. Praça

As praças, historicamente serviam de local para o mercado da cidade e era onde ocorriam as trocas comerciais. Normalmente praças são circundadas por ruas, também podem ser importantes canais de circulação e tem forte caráter urbano. Na atualidade, pode-se encontrar os mais variados tipos de praças: praças cívicas, secas, que mantém seu traçado histórico, praças bem arborizadas, praças com desenho contemporâneo e mais.

Figura 5: Piazza del Campo, Siena. Fonte: prime.500px.com/photos/64014901/piazza-del-campo-siena-by-andy-mcgarry

Figura 6: Grosvenor Square, Londres. Fonte: standard.co.uk/news/london/yours-for-18m-fl at-with-a-view-of-grosvenor-square-9189170.html

Figura7: Leicester Square, Londres. Fonte: theroofl ightcompany.co.uk/no-cinema-paradiso-for-leicester-square

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2.2.3. Parque

Pode-se defi nir parque como espaços de variados tamanhos, normalmente maiores que uma praça, com presença abundante de vegetação, podendo ou não ter edifi cações, protegido e mantido pelo poder público ou instituições. Um parque destina-se principal-mente à recreação e pode ser caracterizado como natural, caso preserve o ambiente natural, ou urbano, com maior infl uência da atividade humana e estando inserido em áreas urbanas consolidadas.

2. ESPAÇOS PÚBLICOS

Figura 8: Millenium Park, Chicago. Fonte: i3.minus.com/ib-yqlamd2bYgFH.jpg

Figura 9: BuckinghamGardens, Londres. Fonte: fi rstsliveone.wordpress.com/2009/10/20/buckingham-palace/

Figura 10: Central Park, Nova Iorque. Fonte: getyourguide.com/new-york-l59/2-hour-central-park-bicycle-tour-t10031/#

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2. ESPAÇOS PÚBLICOS 2.2.4. Parque ecológico

Parques ecológicos constituem unidades de conservação, destinadas à proteção de áreas representativas de ecossistemas, podendo também ser áreas dotadas de atributos naturais ou paisagísticos notáveis, sítios geológicos de interesse científi co, educacional, recreativo ou turístico, cuja fi nalidade é resguardar atributos excepcionais da natureza, conciliando a proteção integral da fl ora, da fauna e das belezas naturais com a utilização para objetivos científi cos, educacionais e recreativo, que podem ser criados no âmbito nacional, estadual ou municipal.

Figura 11: Lake District, Inglaterra. Fonte:http://www.telegraph.co.uk/news/earth/earthnews/8132801/Lake-District-Norfolk-Broads-and-New-Forest-could-be-lost-due-to-budget-cuts.htmlFigura 9: BuckinghamGardens, Londres. Fonte: fi rstsliveone.wordpress.com/2009/10/20/buckingham-palace/

Figura 12: Estação ecológica de Carijós, Florianópolis. Fonte: http://www.blogdotirloni.com.br/wp-content/uploads/2013/03/carijos.jpg

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2. ESPAÇOS PÚBLICOS

2.4.Referencial teórico: Entornos Vitais - Ian Bentley et. al.

Este livro é uma tentativa prática de mostrar como associar conceitos, ideias e design apropriado ao tecido urbano e ambiente construído. O ambiente construído deve proporcionar um espaço democrático aos usuários, enriquecendo suas oportuni-dades a partir do aumento (da diversidade?) de escolhas disponíveis a eles.

Como o desenho afeta a escolha do usuário?• Afeta onde as pessoas podem ir ou não [PERMEA-

BILIDADE]• Afeta a série de usos disponíveis [VARIEDADE]• Afeta quão fácil é entender as oportunidades dis-

poníveis [LEGIBILIDADE]• Afeta o grau de diferentes usos que podem ser da-

dos ao mesmo lugar [VERSATILIDADE]• Afeta aparência do lugar para deixar as pessoas

saberem das escolhas disponíveis [IMAGEM APROPRI-ADA]

• Afeta a variedade de experiências sensoriais dis-poníveis [RIQUEZA PERCEPTIVA]

• Afeta até que ponto as pessoas podem deixar sua marca no espaço [PERSONALIZAÇÃO]

1. PERMEABILIDADE Somente espaços que são acessíveis podem ofere-cer escolhas aos usuários. Se todo lugar fosse acessível a todos não existiria privacidade. Espaços públicos e privados não podem fun-cionar independentemente, eles são complementares e as

pessoas necessitam transitar na interface entre estes es-paços. A permeabilidade depende do número de rotas alternativas ao transito de um ponto ao outro. Essas al-ternativas devem ser visíveis, portanto, permeabilidade visual também é importante. Tanto a permeabilidade físi-ca quanto a visual dependem da divisão do espaço da cidade em quadras - áreas inteiramente envoltas por vias públicas. Um lugar com pequenas quadras oferece mais opções que uma divisão em quadras grandes. As menores oferecem maior permeabilidade visual – por ser facilitada a visão de um cruzamento a outro, em todas as direções.

O declínio da permeabilidade pública

Três correntes atuais no desenvolvimento da cidade afetam a permeabilidade.

• Aumento da escala do empreendimento: Empreendimentos monolíticos, como shopping centers resultam em quadras excessivamente grandes e poderiam funcionar igualmente bem se divididos em ele-mentos menores.

• Layout hierarquizado de ruas: Eles reduzem a permeabilidade e oferecem pouca ou nenhuma opção de caminhos entre dois lugares, além de gerarem ruas sem saída. Estas últimas nem sempre são negativas, podem ser uma opção para acessar lugares que, sem elas seriam inacessíveis.

• Segregação de veículos e pedestres: A permeabilidade é efetivamente reduzida quan-do há rotas segregadas para diferentes usuários. A única maneira de equiparar a situação à de um sistema não segregado é a duplicação das rotas, o que acarreta maior custo.

Permeabilidade e a interface entre o público e o privado

Como o acesso físico a lugares privados deve ser limitado, a permeabilidade entre público/privado deve ser basicamente visual. A permeabilidade visual pode enriquecer o espaço público, mas se mal utilizada pode comprometer a dis-tinção vital entre eles. Nem todas as atividades são igual-mente privadas, há uma gradação, como do hall de entra-da para o lavabo. Para manter a distinção entre público e privado de-vem-se manter as atividades mais privativas do contato visual com o espaço público. A permeabilidade física acontece na entrada de edifícios ou jardins, o que pode enriquecer o espaço pú-blico através do aumento de atividade ao longo destes limites. Ou seja, quanto mais pontos de acesso ao espaço privado, melhor. Isto resulta na necessidade de por frentes e fundos nas edifi cações. A frente para atividades mais pú-blicas e os fundos para atividades privativas, o que opor-tuniza ao usuário a escolha do que fazer em seu próprio espaço. Para que a interface entre público e privado enri-queça o espaço público é importante que o grau de per-meabilidade esteja sob o controle dos usuários do espaço privativo. Opções para isso são mudanças de níveis, jane-las, pórticos, cortinas, isolamento acústico, venezianas, etc.

Conexões com o entorno

É importante locar novas rotas como continuações de rotas existentes e fazer com que seja visível onde ela está levando.

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2. ESPAÇOS PÚBLICOS

2.VARIEDADE Lugares acessíveis e espaços urbanos permeáveis só são valiosos se oferecem opções de experiências, portanto variedade é a segunda qualidade a ser considerada. A variedade de usos permite os outros níveis de variedade existir. Um lugar com usos variados tem diferentes tipos de construções, de formas variadas, o que atrai tipos diferentes de pessoas em horários distintos por diversas razões. Diferentes usuários interpretam o lugar e seus signifi cados diferentemente. O propósito da variedade de usos é oferecer e au-mentar opções aos usuários. Opções também dependem da mobilidade destes, considerando crianças, pessoas hu-mildes, com necessidades especiais, pais com fi lhos pe-quenos, etc. Pode-se dizer que opção real depende de cer-ta densidade de variedade de usos. O que vemos hoje:• Variedade reduzida em setores da cidade, estes tor-

nando-se zonas especializadas em um único uso.• Variedade reduzida em quadras. Já que se fazem

edifícios cada vez maiores.• Variedade reduzida a um edifício para atender os

interesses da imagem corporativa e fácil gerenciamen-to.

Como Maximizar

A variedade de usos que um projeto pode oferecer depende basicamente de três fatores:• A série de atividades que quer se instalar em deter-

minado lugar (demanda). • A possibilidade de oferecer espaços mais baratos.• Até onde o projeto encoraja interações positivas en-

tre estas diferentes atividades.

Demanda: Normalmente em empreendimento se concentra numa mínima variedade de usos que atendem a uma demanda óbvia. Projetistas devem fazer uma pro-

funda e convincente análise de demanda para incentivar investidores a oferecerem locais com mais variedade.

Espaço acessível: Se há locais com preços acessíveis muitos usos podem se instalar. Se forem mais altos, so-mente alguns poderão pagar. Para manter os preços mais baixos mesmo em empreendimentos mais custosos, po-dem ser utilizados subsídios. Estes, podendo vir de fora ou do próprio empreendimento. Por exemplo, podem ser construídos escritórios extras para custear outros mais baratos, com o lucro obtido. Outra maneira de manter baixos aluguéis/custos é a utilização de edifícios antigos. Por oferecerem pior in-fraestrutura, a demanda por parte de negócios mais prós-peros é menor e por isso, mais baratos. Já a reforma de antigos prédios eleva o valor dos aluguéis. Por isso deve ser buscado um equilíbrio, de modo a oferecer no-vos empreendimentos e prédios antigos com boa funcionalidade. Devem ter layout apropriado à deman-da e estar em condições de uso, podendo ser reforma-dos a baixo custo, se desejado. O equilíbrio entre idade e condição da edifi cação gera maior variedade de aluguéis disponíveis, incentivando diferentes usos.

Interação entre atividades: Para a mescla ser fun-cional, os diversos usos devem interagir e dar suporte um ao outro. Algumas atividades (usos primários) atuam como imãs, atraindo pessoas a um lugar. Áreas residenciais e áreas de trabalho são usos primários. Praticamente to-dos tem que ir ao trabalho e para casa em intervalos fre-quentes. Grandes lojas e supermercados tem o mesmo efeito. Usos secundários são aqueles que não têm o poder de atrair por si só, mas aproveitam as pessoas que são atraídas pelo uso primário. A importância econômica dos pedestres explica o porquê de aluguéis mais altos em vias de alto fl uxo de pessoas.

3.LEGIBILIDADE Os usuários só serão benefi ciados pela variedade de usos e pela permeabilidade do lugar se tiverem conheci-mento de tudo o que o espaço oferece. Há dois níveis de legibilidade: Forma física e padrões de atividades. Os lugares podem ser “dois” separadamente em cada nível, mas para o lugar alcançar seu máximo po-tencial, devem estar claros ambos os níveis e devem ser mutuamente complementares. A legibilidade é um problema nas cidades moder-nas. A uma homogenização das edifi cações as quais ain-da confundem a visibilidade das edifi cações relevantes ao público. Na cidade tradicional, locais de relevância pública eram facilmente identifi cadas. As edifi cações que mais se destacavam eram as mais importantes ao público.

Layouts Legíveis

O objetivo de um layout legível é que os usuários possam formar facilmente uma imagem do lugar. Há ele-mentos que se destacam na imagem do lugar. Kevin Lynch sugeriu cinco principais elementos principais presentes na imagem compartilhada de uma cidade/lugar.• Caminhos: são canais de movimento, ruas, alame-

das, avenidas, estradas de ferro, etc. Muitas pessoas incluem caminhos como o principal elemento de sua imagem do lugar.

• Nós: são pontos focais, como cruzamentos de ruas, rótulas viárias e grandes praças.

• Marcos: são pontos de referência que o usuário ex-periência de fora.

• Limites: são elementos lineares que não são utiliza-dos como caminhos ou sua função de deslocamento foi suprimida. Como por exemplo, muros, grandes edi-fi cações sem aberturas, rios, estradas de ferro, grandes rodovias, viadutos e elevados.

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2. ESPAÇOS PÚBLICOS• Distritos: caminhos, nós, marcos e limites delineam

a imagem do lugar e há áreas de tecido urbano menos diferenciável, mas com um caráter que o diferencia.

Combinando elementos existentes e novos

Em um novo projeto, uma boa maneira de elevar a legibilidade de um espaço é levar em conta elemen-tos existentes. É interessante começar considerando os caminhos existentes, como quando estamos pensando na permeabilidade. Reforçando caminhos: dois objetivos devem ser buscados ao reforçar a legibilidade de caminhos: dar um caráter específi co a cada um deles sendo facilmente dis-tinguido dos demais, e destacar a importância relativa de cada caminho. Reforçando nós: deve ser decidida até que ponto a legibilidade de cada nó deve ser reforçada, dependendo das vias envolvidas; a relevância pública das atividades nas edifi cações adjacentes.

4.VERSATILIDADE Lugares que podem ser utilizados com diferentes propósitos oferecem a seus usuários mais opções do que lugares que estabelecem uso fi xo. Dentro das edifi cações, projetistas tendem a defi nir espaços especializados para cada atividade, o que acaba inibindo outras de se desenvolverem. Em espaços abertos/públicos acontece esta tendên-cia criando espaços especializados e separados entre si. Mas as atividades dos espaços públicos não necessitam ser separadas umas das outras. Esta compartimentação dos espaços por atividades faz com que a versatilidade seja perdida. A versatilidade dos espaços pode ser melhorada sem aumento de custos de obra através de um desenho cuidadoso e deve ser inserida o máximo possível. Esta ver-

satilidade depende em parte das atividades que ocorrem nas edifi cações adjacentes, o que deve ser levado em con-ta no momento de projetá-las. Algumas atividades podem ser benefi ciadas pela capacidade de se estenderem sobre o espaço público, o que contribui às atividades externas. Tanto quanto possível, devemos garantir que o pavimento térreo das edifi cações seja ocupado por áreas ativas, ou seja, que tenham a capacidade de se expandirem ou que possam contribuir visualmente às atividades do espaço público. Para desenhar o espaço público devemos começar considerando seus limites, onde ocorre a maioria das atividades. Para o desenho do espaço em si, deve-se ter cautela para que não haja atividade que iniba outras. Para isso, é necessário o cuidado ao articular a ocupação do espaço por veículos e pedestres.

Ruas compartilhadas

Em algumas situações, principalmente em áreas residenciais, as ruas podem ser versáteis o sufi ciente para que seja um espaço compartilhado entre pedestres e veícu-los. Ruas compartilhadas são possíveis quando o fl uxo de veículos não ultrapassa 250 veículos/hora e a via apenas abastece a própria área, não sendo uma ligação importante entre áreas adjacentes. Estas não devem estar distantes mais que 500m de uma via convencional. Devem ter mu-dança de direção a cada 50-60m, além de encorajar circu-lação de mão dupla para reduzir a velocidade dos veículos. A seção da rua deve ser estreita, com alarga-mentos ocasionais para passagem. Devem ser ofere-cidas vagas de estacionamento para moradores e visi-tantes e dispostas perpendicularmente ao sentido da via, o que demanda maior atenção dos motoristas. Os meios-fi os que fazem a separação de pedestres e veículos devem ser eliminados e substituídos por uma pavimentação que reduza a linearidade do espaço. Outros elementos devem ser utilizados para reduzir a velocidade

do carro, mas ao invés de elementos apenas com este fi m, devem ser os que motoristas entendam como vantagens para os demais usuários, como árvores, mobiliário urbano, brinquedos infantis ou carros estacionados. É importante que sempre tenham as crianças à vista, portanto áreas elevadas não devem ter altura maior que 75 cm.

Espaços para pedestres

Somente se considera a exclusão de veículos se es-tes inibem as atividades dos pedestres e se há alguma rota alternativa próxima. Em vias exclusivas para pedestres de até 7m de lar-gura deve-se projetar os limites com usos ativos. Ruas mais largas ou praças precisam de atividades no seu cen-tro para ocupa-lo, incluindo bancos e mobiliário urbano, sempre posicionando-os paralelamente ao fl uxo de pes-soas. O mobiliário para descanso e permanência pode ser na forma de cadeiras e bancos, mas também podem ser degraus, muros, fl oreiras, considerando que bancos e cadeiras devem totalizar ao menos 10% das opções de assentos. Outro parâmetro que pode ser levado em conta para quantifi car os assentos necessários é considerar 30 cm de assento linear para cada 3 metros quadrados de es-paço aberto. Deve-se tentar oferecer a maior quantidade de opções de confi gurações de assentos disponíveis, in-cluindo cadeiras e mesas móveis quando possível. Outra maneira de atrair pessoas para o centro de espaço é com monumentos, feirinhas e quiosque de infor-mações, principalmente se oferecerem abrigo e assentos. Árvores no espaço público criam espaços mais reser-vados do todo. A base das copas deve estar no mínimo a 2,5m acima do nível do piso. Para criar “espaços” entre as árvores que os usuários podem se apropriar, pode ser implantada uma malha com espaçamento de 5m entre árvores, assim estes “espaços” podem abrigar diversas atividades e não obstruir a passagem de pedestres. Um conjunto de árvores organizado em malha pode parecer

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2. ESPAÇOS PÚBLICOSmonótono em planta, mas é complexo em perspectiva.

Microclima

A variedade de atividades em um espaço público -sua versatilidade- depende parte do microclima do lo-cal, principalmente do vento e incidência do sol. A veloci-dade do vento é importante pois infl ui na temperatura. Devemos projetar espaços que mantém a velocidade abaixo de 5 metros por segundo. As pessoas tendem a seguir o sol em um espaço público, procurando por ele ou evitando-o, dependendo do clima. As áreas sombreadas e iluminadas podem ser alteradas com ajustes de projeto em várias escalas: volu-metria dos edifícios, dimensão do espaço, mudança de níveis, árvores e outras.

5.Imagem Apropriada A aparência do lugar é importante, pois afeta a in-terpretação dos usuários. Querendo ou não os projetistas, as pessoas interpretarão o lugar como tendo signifi cados. Se estes signifi cados aumentam a vitalidade, pode-se dizer que o lugar tem a imagem apropriada. A imagem apropriada é importante principalmente

em lugares que serão frequentados por uma grande varie-dade de pessoas e particularmente nos que a aparência não pode ser alterada pelos usuários. Os signifi cados dados aos lugares podem reforçar a vitalidade em três diferentes níveis: aumentando a legi-bilidade - considerando a forma e o uso -, aumentando a variedade e aumentando a versatilidade em pequena e grande escala.

Legibilidade da forma

Depois de pensar na volumetria para maior legibi-lidade do espaço, agora devemos nos voltar à aparência mais detalhada da edifi cação, para reforçar esta qualidade. Por exemplo, se a edifi cação deve ser integrada visual-mente ao seu entorno. É importante que os usuários interpretem os detalhes da volumetria e fachada sendo semelhantes às das edifi cações vizinhas. Porém grupos de pessoas podem ter opiniões diferentes se duas edifi cações têm características semel-hantes. Alguns podem prestar mais atenção às proporções e à forma e à volumetria em geral, enquanto outros po-dem ater-se mais aos detalhes, como similaridade entre janelas e portas.

Legibilidade do uso A aparência do lugar deve evidenciar os tipos de usos que oferece. Por exemplo, uma prefeitura deve aparentar uma prefeitura e uma casa, aparentar uma casa. Algumas vezes a aparência é adequada ao uso, mas pode passar uma imagem negativa. Se um lugar é interpretado negati-vamente, seu potencial a abrigar vitalidade é reduzido.

Variedade A aparência do lugar e das edifi cações em volta devem incentivar a variedade de usos, fazendo com que pareça apropriada para todos os usos que o espaço abriga.

O papel da aparência Atender à demanda de a aparência corresponder ao que se propõe o espaço tem importante papel na criação de vitalidade do lugar, não apenas consequência de proje-to e nem apenas uma questão estética.

6.Riqueza perceptiva Até a esta altura vimos como desenhar o layout e aparência da edifi cação ou do espaço público de modo a alcançar bom nível de vitalidade para o local. Porém pode-mos ir mais longe no projeto, para aumentar a variedade de experiências sensitivas aos usuários.

Projetar para todos os sentidos Para a maioria das pessoas a visão é o sentido dominante, portanto a ênfase deve ser dada à riqueza visual. Isto não invalida que outros sentidos tenham im-plicação no design do espaço: o sentido do movimento, cheiro, audição e do toque. Devemos projetar de modo que os usuários possam escolher variadas experiências sensitivas em diferentes mo-mentos. Têm-se duas escolhas se deseja-se ter diferentes sensações em um ambiente que não se altera: focando a atenção em diferentes fontes de experiências sensoriais em variadas situações ou afastando-se de uma fonte e aproximando-se de outra.

N Ã O S E L ET I V O

S E L ET I V O

e s c o l h a através da mudança de

p o s i ç ã o

e s c o l h a através da m u d a n ç a

de foco

cheiro e movimento

toque e a u d i ç ã o v i s ã o

Figura 13: Esquema gráfi co de insolação. Fonte: elaborado pela autora.

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2. ESPAÇOS PÚBLICOS O Sentido do movimento: a escolha de experiência cinética só pode ser obtida através de movimentos, portanto “riqueza cinética” corresponde a diferentes opções de movimentar-se no espaço. O Sentido do cheiro: a opção de experiência olfativa só pode ser alcançada distan-ciando-se de uma fonte e aproximando-se de outra. O Sentido da audição: é melhor em espaços grandes sufi ciente para as pessoas po-derem retirar-se, se desejarem. O Sentido do toque: riqueza de texturas pode ser aplicada em pequenos espaços, diferente de variações de movimentação de ar e temperatura, que são adequadas a gran-des espaços.

A base da Riqueza Visual A riqueza visual depende da presença de contrastes visuais nas superfícies do lugar, da orientação das superfícies e de onde serão vistas. Uma superfície deve ter entre cinco a nove elementos para ser considerada rica visualmente. Com menos de cinco elementos pode ser considerado que tenha pouco a ser observada e acima de nove, estes elementos tendem a agrupar-se e perdem a riqueza. Outros fatores que devem ser considerados são, a distância em que são visualizadas as superfícies e por quanto tempo. Distância do ponto de vista: se a superfície será vista de longe deve ter riqueza de grande escala, se vista de perto, é necessária riqueza de pequena escala e subdivisões. Portanto para garantir ambas, faz-se indispensável uma hierarquia de elementos de pe-quena a grande escala. Período de observação: em lugares onde as superfícies são usualmente observadas por longos períodos, deve-se garantir que mantenha-se interessante. Técnicas e materiais Uma maneira de enriquecer os lugares deve ser encontrada, obtendo-se vantagens de técnicas modernas de produção. Por exemplo: • Quando utilizando componentes fabricados em massa, considerar toda linha dis-

ponível, e não meramente repetir um mesmo elemento.• Considerar deixar aparente detalhes construtivos como tubulações, ao invés de es-

condê-los.• Utilizar materiais com superfícies variáveis.• Reutilizar elementos artesanais.

7.PERSONALIZAÇÃO A personalização deixa claro o uso a que o lugar está servindo. É particularmente valioso em ambientes versáteis, acomodando vários usos que são substituídos por outros ao longo do tempo.

Por que personalizar a imagem do lugar? São personalizadas por duas razões: como uma afi rmação de gostos e valores pes-soais e como forma de adaptar um local que pareça inapropriado. A personalização pode ser afetada por tres fatores: aluguéis, tipo de edifi cação e tecnologia. Tipos de edifi cações: os edifícios mais personalizados são os residenciais e os que abrigam locais de trabalho. Os que têm pequenas áreas comuns, provavelmente serão os menos personalizados, pois o tempo de permanência das pessoas será restrito. Estes locais são os que têm maior signifi cância pública e a falta de personalização deve ser recompensada com riqueza perceptiva.

Impacto no espaço público Se um edifício não foi projetado para aceitar personalização, um nível muito alto desta, pode ser prejudicial ao seu papel público. Sendo assim, pode vir a tornar-se um problema político, pois o público está em prejuízo pelo privado. Daí a importância de projetar edifícios que aceitem transformações sem degenerar a imagem do conjunto.

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3. SISTEMAS DE DRENAGEM URBANA SUSTENTÁVEL

3.1. Urbanismo sustentável

Os sistemas de drenagem urbana sustentável fazem parte de uma cena mais ampla que é o Urbanismo Sustentável. O Urbanismo Sustentável busca resgatar a qualidade de vida e melhorar a relação do homem com a cidade, promovendo o desenvolvimento sustentável a longo prazo e o crescimento ordenado que minimize os impactos sociais, econômicos e ambientais das ações humanas. Simplifi cando, podemos englobar as estratégias do Urbanismo Sustentável em três grandes grupos: construção sustentável, mobilidade sustentável e resiliência.

3.1.1. Construção sustentável

Os desafios para um a construção de menor impacto são, para citar alguns apenas, reduzir e otimizar o consumo de materiais e energia, reduzir a geração de resídu-os, preservar o ambiente natural e melhorar a qualidade do ambiente construído.

3.1.2. Mobilidade sustentável

O padrão de mobilidade centrado no transporte motorizado individual mostra-se insustentável, tanto no que se refere à proteção ambiental quanto no atendimento das necessidades de deslocamento que caracterizam a vida urbana. Para uma mudança signifi ca-tiva no nosso modo de locomoção, a aplicação de alguns princípios é fundamental:• Prioridade dos transportes não motorizados sobre os motorizados e dos serviços de

transporte público sobre o transporte individual motorizado;

• Integração entre os diferentes modais de transporte urbano;• Dedicação de espaço exclusivo para os serviços de transporte público e modos de

transporte não motorizados;• Priorização de projetos de transporte público coletivo estruturadores do território e

indutores do desenvolvimento urbano integrado.

3.1.3. Resiliência

Resiliência é a capacidade de indivíduos, comunidades, instituições, empresas e sistemas de uma cidade a superar, adaptar e crescer, apesar das difi culdades crônicas ou eventos extremos que possam vivenciar. Grande parte da população brasileira, e também a mais humilde, vivem em habitações precárias, carentes de infraestrutura urbana e localizadas em áreas ambientalmente frágeis. A vulnerabilidade aos desastres permanece como um desafi o a ser enfrentado.

3.2. Conceito O tipo de desastre que mais atinge as cidades brasileiras são as enxurradas e en-chentes, que ainda podem causar deslizamentos de terra. Para mitigar a ação das águas que correm em alta velocidade ou que se acumulam sobre solo impermeabilizado da cidade, podem ser utilizados os sistemas de drenagem sustentável. Os sistemas de drenagem sustentável são constituídos de uma ou várias estratégias de desaceleração contenção de águas pluviais, para que um certo volume de água atinja uma área susceptível mais lentamente e não cause danos à infraestrutura e ocupação ur-bana.

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3. SISTEMAS DE DRENAGEM URBANA SUSTENTÁVEL

3.3. Estratégias 3.3.1. Áreas verdes

As áreas verdes em zonas urbanas consolidadas têm o papel muito importante de absorver naturalmente as águas das chuvas. O que antes era feito por toda a extensão do solo, fi cou minimizado a pequenas áreas em meio a grandes extensões de piso imper-meabilizado da urbanização. O índice urbano de taxa de ocupação impõe que, num dado lote, seja ocupada apenas uma parte do lote, para que a outra possa permanecer desocupada de edifi cações e se manter permeável às águas pluviais. Sabe-se que isso nem sempre é obedecido, sendo comum a pavimentação da área remanescente não edifi cada do terreno. Como solução, pode-se empregar os pisos permeáveis.

Figura 14: Central Park, Nova York. Fonte: http://commons.wiki-media.org/wiki/File:3015-Central_Park-Sheep_Meadow.JPG

Figura 15: Lakeshore East Park, Chicago. Fonte: http://www.chicagoarchitecture.org/2012/06/08/looking-at-lakeshore-east/lakeshore-east-park-chicago-illinois-june-2012-001a/

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3. SISTEMAS DE DRENAGEM URBANA SUSTENTÁVELcom grama não é particularmente resistente e não pode ser utilizada em área de tráfego pesado, mas é ideal para vias de tráfego leve, como vias e estacionamento particulares. Já os blocos intertravados são mais resistentes e podem ser empregados em vias de tráfego que variam de leve a médio. O asfalto e o concreto permeáveis são materiais muito mais resistentes, os quais podem ser empregados em vias de tráfego pesado, inclusive em rodovias. O asfalto per-meável é formado por camadas, a mais superfi cial é composta de pedras pequenas ao asfalto e a segunda camada é de pedras grossas que deixam vazios de até 25% que arma-zenam a água até que ela seja absorvida pelo solo. Já o cimento permeável é composto de uma mistura de cimento Portland, agregado grosso e água. A falta de agregado fi no em ambos os materiais é que garante a alta permeabilidade a eles. Além do asfalto e do concreto, podemos encontrar materiais compostos apenas de britas fi nas e resina, que as une e envolve, grudando umas às outras e à base, sem deixar nenhuma brita solta. Os vazios entre as pequenas pedras são sufi cientes para a água passar através deles. Este tipo de pavimentação pode ser utilizado em calçadas e vias de baixo fl uxo de veículos.

3.3.2. Pisos permeáveis

Os pisos permeáveis são pisos que permitem que a água penetre no solo através de-les. Podem ser simplesmente grama, brita ou terra batida, sendo as opções mais baratas, mas não são adequados para todos os tipos de uso, como em caminhos de alto fl uxo de pedestres ou vias de tráfego pesado, por sua baixa durabilidade. Também não são muito estáveis, o que torna mais difícil de circular sobre eles, como para pessoas com neces-sidades especiais, idosos, cadeirantes, pais com carrinhos de bebê ou mesmo mulheres de salto alto. Atualmente podemos escolher entre uma linha de produtos com variadas qualidades e aplicações, sendo produtos de muita durabilidade, estabilidade e fácil de caminhar e dirigir sobre eles. Os pavers intertravados, que podem ser de cimento ou plástico reciclado, consistem de peças pré-fabricadas com grandes poros a serem preenchidos com grama, areia ou uma brita fi na, ou ainda blocos, que quando assentados, formam pequenas frestas. A água passa através poros para uma base de brita grossa e então ao solo natural. O paver

Figura 16: Piso grama. Fonte: http://landarchs.com/permea-ble-paving-essential-guide/

Figura 17: Paver intertravado. Fonte: http://www.odiario.com/construir-e-decorar/noticia/496413/pisos-ecologicos-ganham-es-paco/

Figura 18: Piso permeável de agregado fi no. Fonte: http://landarchs.com/permeable-paving-essential-guide/

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3. SISTEMAS DE DRENAGEM URBANA SUSTENTÁVEL

3.3.3.Captação da água da chuva

A captação da água da chuva e sua reutilização são recursos que auxiliam muito na diminuição dos volumes de água que acabam indo para os sistemas de drenagem ou que se acumulam pela cidade quando este mesmo sistema está sobrecarregado. Sistemas de captação de água da chuva podem ser aplicados em telhados, lajes, tetos verdes e mesmo superfícies pavimentadas de jardins e áreas públicas. O sistema consiste em recolher, fi ltrar, armazenar e disponibilizar esta água para uso em área externa ou interna, para fi ns não potáveis, como em descarga de vasos sanitários, rega de hortas e jardins, lavagem de pisos, quintais e automóveis. Além de di-minuir o volume de água que recai sobre os sistemas de drenagem, auxiliam na economia do consumo de água potável para estes fi ns.

Figura 19: Edifício com telhado-jardim. Fonte: http://www.arch-daily.com/177350/ad-round-up-green-roof-part-viii/

Figura 20: Meio-fi o pré-fabricado com drenagem. Fonte: http://www.sytec.pl/en/odwodnienia-kraweznikowe-en.php

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3. SISTEMAS DE DRENAGEM URBANA SUSTENTÁVEL

3.3.4. Bacias de detenção e retenção

Bacias de detenção são formadas por um tanque com espelho d’água permanente, que tem como função reduzir e atrasar os grandes volumes de enxurradas, sedimentar sólidos em suspensão e realizar o controle biológico de nutrientes. Já as bacias de retenção têm a função de armazenar temporariamente as águas pluviais e liberá-las lentamente de modo a reduzir a descarga de pico à jusante. Diferen-temente das bacias de detenção, quando não estão servindo à sua principal função, elas fi cam secas, sua superfície podendo abrigar outras atividades. Geralmente as bacias de retenção e detenção têm superfície impermeável e sistema de esgotamento para escoamento de volumes excedente de água.

Figura 21: Bacia de detenção em área comum de edifício resi-dencial. Fonte: http://www.landscapethejournal.org/DWW-Mar-ket-value

Figura 22: Bacia de detenção, Rotterdam.

Figura 23 e 24: Bacias de retenção em parque esportivo, Rotter-dam.

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3. SISTEMAS DE DRENAGEM URBANA SUSTENTÁVEL

3.3.5. Bacias de infi ltração

As bacias de infi ltração, também conhecidas como “jardins de chuva” (rain gar-dens), são valas ou depressões no terreno com a fi nalidade de reduzir o volume de água de enxurradas no sistema de drenagem, remover alguns poluentes presentes e promover a recarga da água subterrânea. Os jardins de chuva são formados por plantas em sua superfície, seguidas de uma camada de solo do local, uma sub-base de cascalho e por fi m um dreno, para escoar, quando necessário, volumes excedentes ao sistema de drenagem tradicional. As plantas, a camada de brita e o solo em uma bacia de infi ltração combinam processos naturais físicos, químicos e biológicos para remover poluentes do escoamento, além de valorizar esteticamente a área.

Figura 25: Jardim de chuva, São Francisco, EUA. Fonte: http://www.riveroffl owers.org/wild-city-blog/tales-city-bee-pastures-and-urban-forests

Figura 26: Jardim de chuva, Pennsylvania. Fonte: http://www.statecollegepa.us/index.aspx?NID=2502

Figura 27: Jardim de chuva. Fonte: http://www.prairienurs-ery.com/nativeplantherald/2013/05/the-benefi cial-beau-ty-of-rain-gardens/

Figura 28: Jardim de chuva, Brisbane. Fonte: http://nevuengan.com/green-infrastructure/brisbane-city-hall-rain-garden

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O projeto ainda evita o deslocamento dos atuais residentes do bairro e busca minimizar o défi cit de moradias na cidade de São Francisco, oferecendo unidades habita-cionais de diferentes faixas de preço. O projeto cria uma rede de espaços verdes com diferentes tipos de vegetação, variando assim seu uso, o grau de privacidade e o tipo de ecossistema. O bairro é cortado por um corredor verde que conecta as principais vias de acesso ao lago Merced. Próximo ao centro do bairro há uma área destinada a um bosque, com árvores de maior porte e que atenderia a todos os moradores. Distribuídos pelo bairro há cinco pequenos parques de vizinhança que atende os moradores do entorno imediato. Ainda há pátios internos nos meios de quadra que atendem unicamente aos moradores daquela quadra. Próximo à margem do rio que corta a área, está localizada uma área destinada uma horta coletiva. Além de que todas as ruas do bairro são arborizadas.

3.4. Estudos de caso 3.4.1. Plano de Visão para Parkmerced– Design Sustentável É um projeto pioneiro de revitalização de um bairro. O projeto consiste em um programa de desenvolvimento a longo prazo do bairro considerando princípios de sustentabilidade ambiental e vitalidade dos espaços públicos. Tais princípios são aplicados para alcançar um desenho urbano voltado para o pe-destre, reduzindo a dependência ao veículo motorizado, facilitar acesso às áreas adja-centes, oferecer maiores espaços públicos e com maior capacidade de apropriação pelos usuários e utilizar as mais avançadas tecnologias para reduzir o consumo de energia e água potável.

Figura 29: Plano de visão para Parkmerced - áreas verdes. Fonte: http://www.som.com/projects/parkmerced_vision_plan__sustaina-ble_design

Figura 30: Plano de visão para Parkmerced - drenagem. Fonte: http://www.som.com/projects/parkmerced_vision_plan__sustaina-ble_design

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Foi desenvolvido para o bairro um sistema de drenagem urbana que simula uma drenagem natural do terreno, substituindo canais de drenagem e bueiros tradicionais por valas de drenagem e bacias de retenção que integram essa infraestrutura à paisagem das ruas. O sistema de drenagem é estruturado pelo curso d’água natural que corta o local e liga uma grande bacia de retenção no centro do terreno ao lago, sendo este o principal canal de drenagem. A manutenção desse espaço natural oferece um habitat muitos ani-mais nativos, de insetos a pássaros. Todas as vias do bairro possuem uma vala de drenagem que distribui as águas plu-viais para a bacia de retenção, para o curso d’água natural ou para valas de drenagem maiores, assim o volume de água fi ca bem distribuído e retarda o deságue no lago Merced, o que evita transbordamentos e enchentes. A bacia de retenção, além de retardar e diminuir a velocidade das águas a caminho do lago, ela armazena um volume de água sufi ciente para irrigação de todo o bairro por um ano.

Figura 29: Plano de visão para Parkmerced - áreas verdes. Fonte: http://www.som.com/projects/parkmerced_vision_plan__sustaina-ble_design

Figura 30: Plano de visão para Parkmerced - drenagem. Fonte: http://www.som.com/projects/parkmerced_vision_plan__sustaina-ble_design

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3.4.2. O Distrito do Delta – Dinamarca O distrito do Delta é a primeira etapa de um projeto maior, a cidade de Vinge. Vinge é um projeto em andamento de uma cidade sustentável, localizada ao norte de Copenhagen. O projeto abrange uma área de 350 hectares, divididos em vários distritos menores e será o maior empreendimento urbano da Dinamarca. O distrito do Delta será o primeiro empreendimento residencial sustentável na ci-dade. Está situado entre duas áreas de preservação e oferecerá em torno de 450 unidades habitacionais, as primeiras fi cando disponíveis em 2016.

O principal desafi o do projeto foi integrar um sistema de manejo de águas pluviais com áreas verdes e espaços multifuncionais de lazer, a serem aproveitados pela comuni-dade. A água da chuva será direcionada a um grande reservatório, em forma de uma área alagável no centro do distrito, através de valas de drenagem e bacias de detenção. Em períodos menos chuvosos, estas bacias - que em épocas de chuva funcionam como reservatórios – secam, enquanto o delta permanece cheio. Visando incentivar a conexão das pessoas com os sistemas naturais, os arquitetos deixaram este grande reservatório central visível, ao invés de escondê-lo abaixo da terra.

Figura 31: Distrito do Delta - drenagem. Fonte: http://landarchs.com/innovation-water-management-landscape-design/

Figura 32: Distrito do Delta. Fonte: http://landarchs.com/innova-tion-water-management-landscape-design/

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Considerando as mudanças climáticas, os arquitetos optaram por uma abordagem de incertezas no planejamento do distrito, alternativamente a uma abordagem mais exata dos eventos climáticos considerados na concepção do projeto. Isso requer estratégias de adaptação que demandam modifi cações ao longo do tempo, não somente no ambiente físico, como também na sociedade e formas de apropriação para se adequar aos futuros impactos.

O instinto natural de arquitetos, quando confrontados por desafi os como este, é de criar espaços protegidos de modo a evitar que qualquer ameaça de um evento climático extremo chegue à comunidade. Entretanto, este projeto é um bom exemplo de que um desenho inclusivo é mais efi ciente na redução de riscos e criação de um ambiente re-sistente a adversidades.

Figura 33: Distrito do Delta. Fonte: http://landarchs.com/innova-tion-water-management-landscape-design/

Figura 34: Distrito do Delta. Fonte: http://landarchs.com/innova-tion-water-management-landscape-design/

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3.5.Referencial teórico: O Jardim de Granito - Anne Spirn

Enchentes, secas e águas poluídas

¨A água é o sangue da vida das cidades¨, impulsio-na fábricas, controla a temperatura das casas, nutre os ali-mentos, mata a sede e leva consigo os dejetos. Os sistemas de águas pluviais que drenam as superfícies pavimentadas acentuam as enchentes e impossibilitam o reabastecimen-to dos lençóis freáticos e acabam concentrando poluentes no reduzido fl uxo resultante dos cursos d´água. A dinâmica e as características da poluição e do uso das águas urbanas são bastante conhecidas, mas este conhecimento é raramente aplicado. Os planejadores das cidades tratam dos problemas das enchentes, drenagem, poluição, uso e abastecimento de água de formas separa-das. Em muitas cidades vemos antigos cursos d´água que ainda servem ao propósito da drenagem, cobertos e esquecidos sob o solo, em grandes tubulações.As enchentes crescem em volume e destruição à medida que a urbanização se desenvolve. A urbanização pode au-mentar a taxa média de enchentes em até seis vezes. Isso ocorre pela rápida drenagem das chuvas mais volumosas e pelas várzeas mais estreitas e rasas, comprimidas pela ocupação humana e entupidas por sedimentos.Os materiais utilizados na construção civil e pavimentação das ruas atuam como um escudo à prova d´água. Im-possibilitada de infi ltrar no solo e correndo desimpedida nas superfícies da cidade, a água das chuvas que cai nos telhados, praças, ruas e estacionamentos correm em quantidade cada vez maior e mais rapidamente do que a mesma quantidade de chuva que cai na superfície espon-josa de uma fl oresta ou campo. Quanto maior a densidade e proporção de áreas pavimentadas em relação a áreas verdes, maior é a efi ci-

ência do sistema de drenagem e a quantidade de água que alcança os córregos e rios num menor espaço de tempo. Sistemas de drenagem transportam a água de um local para outro, não reduzem nem eliminam água. A prática tradicional de drenagem protege ruas locais, pavi-mentos subterrâneos e estacionamentos contra enchentes enquanto contribuem para um dano maior de inundação mais abaixo. O rio e sua várzea são uma unidade. A várzea é uma área relativamente plana na qual o rio se movimenta e na qual transborda regularmente quando acontecem inundações. Os leitos dos rios não permanecem sempre no mesmo local, a não ser que sejam confi nados, ocupam todos os pontos das várzeas, através dos tempos. A forma e o tamanho do leito natural do rio refl e-tem o tamanho e a frequência das inundações aos quais está sujeito. Duas vezes por ano o rio preenche o seu lei-to, transbordando para as margens, uma vez a cada dois anos, o rio transborda para a várzea até a altura do fl uxo médio no seu leito. Quanto mais rápido as águas das chuvas atingem os cursos d´água e rios, maior é a enchente, quanto mais retardadas, mais as enchentes são atenuadas. Quando sistemas de esgoto e águas pluviais são in-tegrados, a quantidade de água após uma precipitação maior sobrepuja a capacidade das estações de tratamento de forma que tanto a água pluvial quanto o esgoto não tratado são lançados nos cursos d´água.

Águas poluídas

A água da drenagem superfi cial tem a contami-nação bacteriológica de um esgoto diluído e frequente-mente excede as concentrações consideradas seguras. Poluentes tóxicos atingem os cursos d´água, rios e lagos, em descargas industriais, no escoamento das águas urbanas e na precipitação da poeira urbana. Infi ltram-se nos lençóis freáticos vindo de aterros sanitários, de áreas de deposição de resíduos tóxicos e de vazamentos químicos.

Juntos, a escassez, a contaminação dos mananciais de águas e as enchentes representam as mais signifi cativas ameaças à saúde e à segurança dos habitantes das cidades.

Controle e recuperação das águas

Cidades como Denver, no Colorado, que recu-perou seus rios para recreação e ao mesmo tempo imple-mentou um sistema de medição da qualidade da água e de prevenção a enchentes, ilustram os muitos benefícios econôm-icos e sociais gerados por tais projetos.Áreas verdes po-dem servir a vários usos.

A água em movimento

Apenas uma fração das chuvas que cai nas matas e campos corre rapidamente para os corpos d´água. As folhas interceptam parte deste volume e o solo absorve a maior parte remanescente. Da água absorvida pelo solo uma parte é retirada pelas plantas, retornando posterior-mente à atmosfera através da evapotranspiração. Outra se evapora diretamente da superfície do solo, enquanto a remanescente move-se lentamente através do solo como lençol freático. Este pode fi nalmente cortar a superfície do solo nas nascentes de fontes e leitos de rios ou permanecer bem abaixo da superfície em grandes reser-vatórios subterrâneos ou aquíferos. Apenas nas encostas íngremes, na rocha lisa, no gelo ou quando o solo está saturado, a água escorre pela superfície. Os tradicionais sistemas de drenagem interrompem essa parte do ciclo hidrológico, com resultados desas-trosos.

O armazenamento das águas das enchentes

Em cidades americanas nas últimas décadas fo-ram projetados telhados, praças, estacionamentos e par-ques para armazenar água de grandes chuvas. Bosques e várzeas foram preservados pela sua capacidade natural de

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armazenamento, reduzindo as enchentes e os cus-tos de sistemas de drenagem, como também em al-guns casos, permitindo o tratamento das águas plu-viais. Isto tem sido alcançado com pequeno ou nenhum custo extra de construção, com inconveniên-cia mínima e resultando em novas áreas de lazer. Parte do plano de Olmsted para Boston era a recuper-ação do pântano de água salobra. Ele colocou nas margens da bacia, plantas que pudessem resistir à salinidade e tolerar as mudanças do nível das águas. Olmsted percebeu que a justaposição do mangue e cidade poderia ser o desenvolvi-mento das condições originais do local como adaptação às necessidades de uma densa comunidade urbana.

A recuperação e conservação da água

Uma estação de tratamento de esgo-to pode ser atraente e até compatível com ativi-dades de lazer, em algumas fases de sua operação. Na cidade de Mt. Clemens, Michigan, um novo sistema de tratamento de esgoto foi combi-nado a um parque. Gestores da cidade concluíram que coletar, armazenar e tratar o transbordamen-to combinado era mais viável e menos caro do que separar os sistemas de esgoto e águas pluviais. Ofere-cendo ainda, a oportunidade de criar novas áreas verdes. Arcata, na Califórnia, explora as propriedades das plantas e do solo de absorverem dejetos, usando uma várzea como parte do processo de tratamento de águas servidas. Outras cidades experimentaram várzeas construídas ou naturais para tratar efl uentes de esgotos. Como os siste-mas de várzeas/plantas aquáticas para o tratamento de águas servidas requerem mais áreas do que os sistemas tradicionais são mais apropriados para cidades de médio e pequeno porte.

O projeto da cidade para conservar e recuperar a água e prevenir enchentes

As cidades de Boston e Cambridge ocupam as mar-gens inferiores da bacia do rio Charles. Eles estimaram que estruturas de contenção de enchentes rio acima custariam 100 milhões de dólares e em seu lugar recomendaram uma ação que requeria um décimo do custo. “(...) a aquisição federal e a proteção perpétua de dezessete importantes áreas de reservatório natural em vales. (...) A natureza já providenciou uma solução de custo mínimo das futuras enchentes, na forma de extensas várzeas que moderam as variações extremas da correnteza.” Todos os parques junto às várzeas são projetados não apenas para resistirem aos danos das enchentes, mas também para armazenarem as águas. Uma praça rebaixada no centro de Denver, construí-da sobre três andares de estacionamentos subterrâneos, acomoda água de dez anos de chuvas (Skyline Plaza). A utilização de “tetos molhados” é uma boa estraté-gia para reduzir o ganho de calor nos edifícios e portan-to, diminuir o consumo de energia no condicionamento do ar. A várzea fl orestada, os canais de drenagem e os solos de recarga, formam um sistema de espaços livres urbanos, um sistema de drenagem natural que representa uma economia substancial no custo da construção de um sistema de drenagem convencional. O sistema de drenagem natural é composto por dois subsistemas: um que estoca e absorve as águas das chu-vas frequentes e o outro, que drena as águas das grandes tempestades.

Um plano para cada cidade

Qual o principal problema: a urbanização rio acima ou a compressão das várzeas dentro da cidade? A iden-tifi cação das áreas de maior risco de enchentes e aquelas que fornecem normalmente armazenamento das águas ajudará a visualizar uma estratégia integral de controle das enchentes.

Um plano abrangente para a prevenção de enchentes e a conservação e recuperação da água da cidade deve: • Localizar nas cabeceiras e nas várzeas á jusanteno-

vos parques e áreas verdes para preservar a capacidade de armazenamento das águas e melhorar a recarga dos lençóis freáticos.

• Localizar novas indústrias e outros usos de áreas poluidoras fora das várzeas e das áreas de recarga dos mananciais.

• Explorar padrões de assentamento que possam fa-cilitar a reutilização das águas servidas após tratamen-to.

• Aumentar a visibilidade da água na cidade, bem como o acesso do público à ela.

Cada novo edifício, rua, estacionamento e parque da cidade devem ser projetados para prevenir ou mitigar as enchentes e para conservar e recuperar os recursos hídricos.Cada projeto deve:• Explorar a capacidade dos telhados, das praças,

estacionamentos e do solo para reter ou absorver o escoamento de aguaceiros.

• Projetar parques nas várzeas capazes de estocar as águas e resistir aos danos das enchentes.

• Selecionar plantas resistentes que requeiram pouca ou nenhuma irrigação, fertilizantes ou pesticidas e pro-tege-las contra o ressecamento provocado pelos ven-tos.

• Utilizar a água das grandes chuvas, desde que não estejam contaminadas demais para atender às neces-sidades das plantas.

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4. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO O município de Florianópolis está localizado na região sul do Brasil, no estado de Santa Catarina. A cidade possui 675,409 km² de extensão territorial e encontra-se dividi-da em porção continental e porção insular, esta última está contida na Ilha de Santa Cata-rina e abriga o centro da cidade, a primeira é constituída pelos bairros Coqueiros, Estreito e Capoeiras. A ilha e o continente são separados pelas Baías Norte e Sul e atualmente a porção insular conecta-se com a continental através de três pontes, sendo que a primeira delas, Ponte Hercílio Luz, atualmente está fechada para o fl uxo de veículos e pedestres.

BRASIL SANTA CATARINA FLORIANÓPOLIS

A Bacia Hidrográfi ca do Saco Grande localiza-se na costa oeste da Ilha de Santa Catarina e ao norte em relação ao centro da cidade. Seus pequenos rios e cursos d’água desaguam no Manguezal do Saco Grande, o qual é a interface entre o bairro e as águas salgadas da Baía Norte.

Figura 35: Mapa hidrografi a e topografi a. Fonte: Base de dados ArcGIS, PMF.

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4. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

4.1. Justifi cativa Para a escolha do local a ser trabalhado, foram estudadas as principais bacias hi-drográfi cas da cidade de Florianópolis de modo a investigar quais apresentam maiores problemas quanto à drenagem de suas águas e seu respectivo impacto na ocupação ur-bana consolidada. Constatou-se que as bacias que apresentavam maiores problemas quanto à drenagem das águas pluviais eram aquelas que desaguavam em manguezais. A Ilha de Santa Catarina possui cinco bacias hidrográfi cas com manguezais de diferentes pro-porções. Tem-se os manguezais do Rio Tavares e da Tapera ao sul da Ilha, os manguezais do Saco Grande e do Itacorubi, na porção central da Ilha, e ao norte, o Manguezal de Ratones, sendo este o maior manguezal dentre os citados.

A bacia hidrográfi ca do Saco Grande foi selecionada para receber a intervenção objeto deste trabalho por se tratar de um local que apresenta grande crescimento nos últimos anos, porém absorverá uma ocupação ainda mais intensa. Portanto, com este tra-balho, será possível desenvolver estratégias para mitigar os efeitos negativos já presentes de uma drenagem inefi ciente, mas também projetar soluções considerando situações extremas no futuro e uma maior ocupação e densidade populacional.

Manguezal de Ratones

Manguezal do Saco Grande

Manguezal do Itacorubi

Manguezal da Tapera

Manguezal do Rio Tavares

Figura 36: Mapa áreas suscetíveis a inundações. Fonte: Modifi cado pela autora a partir de base de dados ArcGIS, PMF.

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5. ASPECTOS GERAIS DE FLORIANÓPOLIS

5.1. Aspectos socioeconômicos 5.1.1. Colonização e ocupação do território

A origem da cidade de Florianópolis é resultante de seu posicionamento estratégi-co entre o Rio de Janeiro e a Colônia do Santíssimo Sacramento na foz do Rio da Prata. Portugal, de modo a defender seu território da invasão espanhola, passou a executar um projeto de ocupação e defesa, construindo fortalezas e trazendo imigrantes açorianos para ocupar extensivamente o território. Em 1748 e nos oito anos seguintes, mais de 6 mil açorianos chegaram à Flo-rianópolis, acontecimento que gerou repercussões cultuais bastante fortes, percebidas até a atualidade no imaginário popular, no cotidiano da população e na paisagem. Para a acomodação e distribuição destes imigrantes no território, foram criados núcleos, posteriormente denominados freguesias, a partir dos quais se expandiu a ocu-pação. Os principais e pioneiros núcleos foram Santo Antônio de Lisboa, Lagoa da Con-ceição, Ribeirão da Ilha, na parte insular; São Miguel, São José e Enseada de Brito, na porção continental; além da vila de Desterro, que centralizava a rede de caminhos terres-tres e marítimos e concentrava a atividade portuária e administrativa da cidade. O povoamento do Saco Grande teve início com a chegada de famílias que costuma-vam viver na Costa da Lagoa e que se dedicavam a atividades primárias, como a agricultu-ra e a criação de animais. Por se tratarem de pessoas que se conheciam há muito tempo, as relações sociais eram intensas e as tradições de seus antepassados eram cultivadas por todos. Diversas celebrações açorianas tomavam conta das ruas do bairro ao longo do ano, entre elas o Terno de Reis e o Boi de Mamão. Porém, nas últimas três décadas, a região passou por mudanças expressivas, fruto do processo de remodelação urbana a que Florianópolis foi submetida. Aos poucos, as chácaras e os grandes terrenos foram loteados e transformados em áreas com trejeitos menos rurais e mais urbanos. Novos moradores passaram a viver no Saco Grande, sen-do que a maioria veio de outros pontos da capital, do interior do Estado ou do vizinho Paraná. Esse fl uxo migratório foi intensifi cado pela inauguração de três conjuntos habita-cionais para a população de baixa renda: o do Monte Verde e o do Parque da Figueira, ao longo da década de 1980, e o da Vila Cachoeira, em 2000. Não demorou até a prefei-tura dividir o bairro – que ia do trevo do Itacorubi até o do Cacupé – em três localidades menores. Foi assim que nasceram os bairros do Monte Verde e o de João Paulo. A construção da Rodovia José Carlos Daux (SC-401) nos anos 70 mudou a dinâmica do bairro e transformou sua identidade. A presença de uma via de trânsito rápido modifi -cou a maneira que o solo era parcelado e atraiu grandes empreendimentos, transforman-do o que era antes era um local cheio de vida e urbanidade nos “fundos” do bairro.

Figura 37: Ortofoto, 1938. Fonte: Geoprocessamento PMF.

Figura 38 : Ortofoto, 1977. Fonte: Geoprocessamento PMF.

Figura 39: Ortofoto, 1994. Fonte: Geoprocessamento PMF.

Figura 40 : Ortofoto, 2012. Fonte: Geoprocessamento PMF.

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5. ASPECTOS GERAIS DE FLORIANÓPOLIS 5.1.2. População

A população fl orianopolitana no último Censo, 2010, era de 421.240 habit-antes e a projeção da população em 2014 é de 461.524 habitantes. A densidade pop-ulacional considerando a população existente em 2010 é de 623,68 habitantes/km².O município de Florianópolis recebe, ao longo das últimas déca-das, um grande contingente de pessoas vindas de outras cidades de San-ta Catarina e também outros estados, como Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo.

5.1.3. Economia

A economia do município de Florianópolis é baseada principalmente no setor de serviços, que representa 72,87% do PIB da cidade. Em seguida, os setores com mais rep-resentatividade são a geração de impostos (15,63%), indústria (11,27%) e agropecuária (0,21%). As atividades dominantes na economia local são a administração pública (munici-pal e estadual), comércio, turismo, construção civil e indústria de tecnologias da informação.

5.1.4. Expansão urbana

A paisagem da cidade de Florianópolis, que se caracteriza pela fragilidade e ri-queza de ambientes naturais quanto por marcas deixadas pela sua história, vem sof-rendo, nas últimas décadas, transformações em sua estrutura sócio-espacial causa-das pelo crescimento urbano e desenvolvimento turístico. Florianópolis destaca-se no contexto brasileiro por ser a única capital não industrializada nas regiões sul e sudeste do país, pois suas principais atividades econômicas são do setor de serviços. A cidade registra altos índices de crescimento nos últimos anos, que são explicados pelos contingentes migratórios de zonas rurais do estado e de outros centros urbanos viz-inhos. Além de que, o turismo desenvolve-se em intensidade e ritmo acelerados e é possível constatar que esta atividade tem transformado a sociedade e o espaço físico de Florianópolis. Antes caracterizadas por pequena produção pesqueira e agrícola e isola-mento físico, as localidades da Ilha transformaram-se com os fl uxos de turis-tas e novos moradores. Os núcleos urbanos estabelecidos pela ocupação aço-riana expandiram e adensaram-se. Este crescimento deu-se tanto por projetos globais para grandes áreas de expansão urbana,como, em maior parte, pelo cresci-mento espontâneo, através de sucessivos parcelamentos de propriedades agrícolas. A ocupação colonial da Ilha de Santa Catarina tem como característica ser densa e ex-tensiva, com núcleos consolidados, articulados por canais viários, com parcelamento do solo para o uso rural. As formas estabelecidas para tal uso ainda estão presentes na ocupação atual, tanto espacialização de novos assentamentos, quanto na descontinuidade do tecido urbano.

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5. ASPECTOS GERAIS DE FLORIANÓPOLIS 5.1.5. Planejamento para o futuro

O Novo Plano Diretor de Florianópolis, Lei Complementar 482/2014, prevê para a área da bacia do Saco Grande a intensifi cação do que já vem ocorrendo na região. A densifi cação da área é encorajada através do aumento do gabarito máximo permitido, principalmente nas áreas próximas à rodovia SC-401. As Áreas de Preservação Permanente [APP] circundam todo o bairro, sendo parte dessa classifi cação as áreas de topo de morro e o manguezal. As Áreas de Preservação Limitada [APL] estão presentes entre a área urbanizada e as APPs, sendo uma faixa de transição entre estes ambientes. No Saco Grande, encon-tram-se áreas de APL-E, encostas, entre a ocupação urbana e APPs de topo de morro, que possuem declividades entre 30% e 46,6%. Há ainda áreas de APL-P, planície, que carac-terizam-se por serem depósitos sedimentares oriundos de ambientes marinhos e por se localizarem no entorno imediato de APPs. Ao longo da rodovia, o zonemaneto predominante é Área Mista Central [AMC], no lado leste da SC-401, seguido de uma longa faixa de Área Mista de Serviços [AMS], no lado oeste. Há ainda a presença de alguns lotes de grande porte caracerizados como Área Comunitária Institucional [ACI]. Ao longo das rodovias locais (Est. Haroldo Soares Glavan, Rod. Virgílio Várzea, Rod. João Paulo) predomina o zoneamento Área Mista Residencial [AMR], sendo que após a faixa de AMR paralela às estradas locais, encontram-se áreas de Área Residencial Predom-inante [ARP]. Praticamente ao longo de toda a Rodovia Virgílio Várzea, e em alguns trechos se estende sobre os morros, foi criada uma Área Especial de Interesse Social [AEIS], que in-centiva empreendimentos de habitação de interesse social. Há ainda áreas caracterizadas como Zonas Especiais de Interesse Social [ZEIS] que se destinam à moradia da população de interesse social, com regras mais fl exíveis de parcelamento, uso e ocupação do solo.

Figura 41: Mapa zoneamento Plano Diretor. Fonte: PMF.

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5. ASPECTOS GERAIS DE FLORIANÓPOLIS

5.2. Aspectos ambientais 5.2.1. Clima

O clima de Florianópolis pode ser caracterizado como subtropical úmido, com as quatro estações bem defi nidas, baixa amplitude térmica, alta umidade relativa do ar e chuvas bem distribuídas ao longo do ano. As massas de ar e ventos são grandes infl uenciadores do clima na região. As massas de ar mais atuantes na cidade são a massa tropical atlântica, quente e úmida, sendo esta a dominante com o vento nordeste, e a massa polar atlântica, massa de ar frio e úmido, com atuação mais esporádica do vento sul. Os ventos em Florianópolis têm grande in-fl uência na sensação térmica, principalmente no inverno, fazendo com que a sensação seja de temperaturas mais baixas que as registradas. O mês mais quente é o mês de fevereiro, com temperatura máxima média regis-trada de 28,4ºC, e o mês mais frio é julho, com temperatura mínima média de 13,3ºC. O mês com maior índice pluviométrico coincide com o mês de maiores temperaturas, fevereiro, e o mês com mais baixo índice pluviométrico é o mês de junho.

Figura 42: Mapa tipos de clima em Santa Catarina. Fonte: Modifi cado pela autora a partir de base de dados ArcGIS, EPAGRI.

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5. ASPECTOS GERAIS DE FLORIANÓPOLIS 5.2.2. Relevo

A formação geológica da ilha revela que esta antes era um arquipélago formado de aproximadamente 20 ilhas, que posteriormente foram unidas por depósito de sedimen-tos marinhos ao longo de vários milênios. A morfologia da ilha é caracterizada por um maciço cristalino central, o qual atua como divisor de água e que segmenta a ilha em pe-quenas bacias hidrográfi cas e planícies costeiras. A face ao leste do maciço fi ca em conta-to com as águas das baías norte e sul e é confi gurada por pequenas enseadas e tranquilas praias. As planícies costeiras deste setor da ilha são drenadas por bacias terminadas em pequenos estuários com manguezais. Já a face ao leste do maciço cristalino caracteriza-se por planícies com praias extensas, amplos lençóis de dunas e costões rochosos de grandes dimensões.

Figura 43: Mapa topografi a de Florianópolis. Fonte: Modifi cado pela autora a partir de base de dados ArcGIS, PMF.

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5. ASPECTOS GERAIS DE FLORIANÓPOLIS O bairro Saco Grande é corformado pelos morros que o circundam, pelo mangue, e por uma vasta planície entre este dois elementos. O mangue é o limite do bairro com o mar, portanto não há contato direto com a água. Toda a superfície do manquezal pode ser considerada plana, tendo em seu ponto mais alto em relação ao nível do mar apenas 3 metros. A área é totalmente envolta por morros, desde a Ponta do Goulart até o início do bairro Cacupé. Algumas reentrâncias nesta topografi a cedem espaço aos acessos ao bair-ro e a ocupações mais desifi cadas. A planície resultante destes dois elementos geográfi cos, sendo parte dela aterro do manguezal, abriga a área urbanizada do bairro.

Figura 44: Mapa topografi a do bairro Saco Grande. Fonte: Modifi cado pela autora a partir de base de dados ArcGIS, PMF.

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5. ASPECTOS GERAIS DE FLORIANÓPOLIS 5.2.3. Vegetação

A diversidade na composição dos solos e na morfologia resultou no desenvolvimen-to de variados ecossistemas. Os mangues encontram-se nas margens das baías norte e sul, a restinga formou-se em planícies arenosas, a mata atlântica surgiu junto as encostas e morros, além das dunas, lagunas e costões. Pode-se considerar esta concentração de diferentes ambientes naturais em uma pequena área a maior de Santa Catarina e, de cer-ta forma, sintetiza as características de todo o litoral do estado. 5.2.4. Marés

As marés da Ilha caracterizam-se por micromarés, estas não chegam a atingir 2m de amplitude. As marés estão submetidas a um regime semidiurno, ou seja, levam aproximadamente 12 horas e meia para completarem o ciclo de enchente – preamar, vazante e baixa-mar. A ação das marés é um fator importante na caracterização da fl ora dos mangueza-is, pois elas carregam água salgada até o estuário, em direção oposta ao fl uxo de água doce. O retorno periódico das marés mantém o solo saturado de água, o que contribui para sua natureza anaeróbica, e geralmente é duas vezes coberto e duas vezes aban-donado pela maré no período de 24 horas. Pode-se concluir portanto que a extensão do mangue é defi nida pela distância máxima da amplitude da maré.

Mata Atlântica

Restinga

ManguezalFigura 45: Mapa tipos vegetação do bairro Saco Grande. Fonte: Modifi cado pela autora a partir de base de dados ArcGIS, PMF.

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5. ASPECTOS GERAIS DE FLORIANÓPOLIS 5.2.5. Hidrografi a A bacia hidrográfi ca do Saco Grande é caracterizada por múltiplos cursos d’água de pequeno porte. Estes nascem no topo dos morros que envolvem a bacia e deságuam no Maguezal do Saco Grande. No trecho que os córregos atravessam a área urbanizada, em sua grande maioria estão canalizados e muitos continuam seu percurso por tubulações subterrâneas até atin-gir o mangue. No mapa abaixo, vemos as área suscetíveis a enchentes. É possível perceber que grande parte da mancha urbana está em área de risco, sendo que aproximadamente 50% da área ocupada tem alta suscetibilidade a eventos extremos de enchentes.

Figura 46: Mapa áreas suscetíveis a inundações/área urbanizaa. Fonte: Modifi cado pela autora a partir de base de dados ArcGIS, PMF. Figura 47: Mapa topografi a do bairro Saco Grande. Fonte: Modifi cado pela autora a partir de base de dados ArcGIS, PMF.

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5. ASPECTOS GERAIS DE FLORIANÓPOLIS 5.2.5.1.Levantamento de cursos d’água e canais de drenagem

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Curso d’água 1: Localiza-se entre o Centro Administrativo de San-ta Catarina e o empreendimento comercial Offi ce Park. Foi canal-izado e é bastante estreito. Na parte adjacente à rodovia é mais largo e recebe as tubulações de drenagem que correm paralala à SC-401. Na porção ao lado do Centro Administrativo é em arbo-rizado, mas envolto por cercas e guard-rails, não permitindo aces-so de pessoas.Curso d’água 2: Ao lado do SEN-AC, é um pequeno córrego não canalizado e apresenta abundan-te vegetação ribeirinha.Curso d’água 3: É o maior curso d’água da bacia. No trecho apre-sentado não é canalizado, tendo às suas margens vegetação ribeir-inha e deságues de outros canais de drenagem.

Figura 48: Mapa hidrografi a do bairro Saco Grande. Fonte: Modifi cado pela autora a partir de base de dados ArcGIS, PMF. Figuras 49, 50, 51, 52, 53 e 54: Fotos cursos d’água. Fonte: acervo pessoal.

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5. ASPECTOS GERAIS DE FLORIANÓPOLIS

Curso d’água 3: Já neste pode-se ver onde se inicia a canalização do rio. O mesmo se mantém ca-nalizado até o fi nal da área ur-banizado do bairro Monte Verde.Curso d’água 4: Este estreito ca-nal de drenagem foi totalmente antropizado e liga os curso d’água nº 3 e 5. Curso d’água 5: Encontra-se em seu estado natural nesta local-ização. Está totalmente tomado pela vegetação e não fi ca visível a quem passa pela área.

Figura 55: Mapa hidrografi a do bairro Saco Grande. Fonte: Modifi cado pela autora a partir de base de dados ArcGIS, PMF. Figuras 56, 57, 58, 59, 60, 61: Fotos cursos d’água. Fonte: acervo pessoal.

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6. ESTRATÉGIAS A SEREM APLICADAS O esquema gráfi co ao lado demonstra as intenções e como seguirá o projeto ideal-izado para a área, propondo soluções para a reorganização da infraestrutura do bairro.

Inicialmente, foram identifi cados alguns pólos atratores de pessoas e geradores de tráfego. Ao longo da rodovia SC-401 temos o Floripa Shopping, a sede do FIESC/SENAI, o Primavera Garden Center, a sede da RBS, o Centro Administrativo do Estado, o campus da UNIVALI e ainda outros. Em seguida, identifi caram-se centro de saúde, creches, escolas, instituições estabe-lecidas, centros comunitários, juntamente com áreas com concentração de população de baixa renda, caracterizadas pelas ZEIS. Utilizando os dados sobre a hidrografi a e áreas suscetíveis a inundações, foi propos-to um sistema de infraestrutura verde que alia soluções de drenagem urbana sustentável a áreas públicas verdes. Este sistema de espaços verdes estende-se por toda a área do bairro, criando importantes ligações entre diferentes locais. Um grande corredor verde percorre as bordas do Manguezal do Saco Grande, cri-ando uma faixa de transição entre ambiente construído e o natural ao mesmo tempo que uma zona de amortecimento em eventos de cheias do manguezal. Este corredor verde também conecta-se a outras áreas importantes da infraestrutura verde, como a Cidade das Abelhas e áreas destinadas ao sistema de drenagem. Avaliou-se então áreas com potecial para expansão da ocupação urbana e requali-fi cação da ocupação existente, resultando em áreas próximas à rede de espaços públicos verdes e integradas às condições existentes de infraestrura e Zonas de Interesse Social.

Figura 62: Mapa estratégias. Fonte: elaborado pela autora.

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6. ESTRATÉGIAS A SEREM APLICADAS

6.1.Plano geral para a reorganização da infraestrutura de drenagem na bacia hidrográfi ca do Saco Grande

6.1.1.Diretrizes

• Descanalização de rios e canais de drenagem• Criação de valas de infi ltração nos espaços públicos e ruas (todas em que for pos-

sível)• Criação de bacias de retenção nas áreas mais suscetíveis a inundações• Incentivos à utilização de pisos drenantes, elevação de edifi cações para liberação do

solo (em declividades) e captação de água da chuva em edifi cações.

6.1.2.Estratégias x Escalas

Edifi cação: áreas verdes, piso permeável, bacias de infi ltração, captação da água da chuva. Rua: pisos permeáveis, arborização e áreas verdes, bacias de infi ltração, captação da água da chuva. Áreas públicas: áreas verdes, piso permeável, bacias de detenção, retenção e infi l-tração. Rodovia: piso permeável, bacias de infi ltração, captação de água da chuva.

Bacias de infiltração

Bacias de retenção

Áreas verdes

Valas de infiltração

Figura 63: Mapa hidrografi a/plano geral do sistema de drenagem. Fonte: Modifi cado pela autora a partir de base de dados ArcGIS, PMF.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

7.1.LivrosSPIRN, Anne Whiston. O Jardim de granito: a natureza no desenho da cidade. São Paulo: EDUSP, 1995. 345 p. (Ponta; 11)).BENTLEY, Ian, et. al. Responsive environments: a manual for designers. Oxford: Elsevier, 1985. 152 p.REIS, Almir Francisco. Ilha de Santa Catarina: permanências e transformações. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2012 281p. VEIGA, Eliane Veras da. Florianopolis: memoria urbana. 2. ed. rev. ampl. Florianópo-lis: Fundação Franklin Cascaes, 2008. 415p. MCHARG, Ian. Design with nature. New York: J. Wiley, c1992. ix, 197f. BEATLEY, Timothy. Blue urbanism: exploring connections between cities and oceans. Washington: Island Press, 2014. 188p.

7.2.WebsitesMinistério do Meio Ambiente. 2015. Construção Sustentável. [ONLINE] Disponível em: http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/urbanismo-sustentavel/item/8059. [Acessado 25 de fevereiro, 2015].Ministério do Meio Ambiente. 2015. Mobilidade Sustentável. [ONLINE] Disponível em: http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/urbanismo-sustentavel/item/8060. [Accessado 25 de fevereiro, 2015].Ministério do Meio Ambiente. 2015. Prevenção de Desastres. [ONLINE] Disponível em: http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/urbanismo-sustentavel/item/8061. [Accessado 25 de fevereiro, 2015].100 Resilient Cities. 2015. City Resilience. [ONLINE] Disponível em: http://www.100re-silientcities.org/resilience#/-_/. [Accessado 25 de fevereiro, 2015]. Fundação Florestal - Sistema Ambiental Paulista - Governo de SP. 2015. Parques – Con-ceito. [ONLINE] Disponível em: http://www.ffl orestal.sp.gov.br/unidades-de-conserva-cao/parques-estaduais/parques-conceito/. [Accessado 26 de fevereiro, 2015].Landscape Architects Network. 2015. Permeable Paving: The Essential Guide. [ONLINE] Disponível em: http://landarchs.com/permeable-paving-essential-guide/. [Ac-cessado 28 de fevereiro, 2015]. Ecodesenvolvimento. 2011. Asfalto permeável é desenvolvido para evitar en-chentes. [ONLINE] Disponível em: http://www.ecodesenvolvimento.org/posts/2011/marco/asfalto-permeavel-e-desenvolvido-para-evitar. [Accessado 28 de fevereiro, 2015].

Archdaily Brasil. 2013. O que é uma cidade biofílica?. [ONLINE] Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/01-99393/o-que-e-uma-cidade-biofi lica. [Accessado 28 de fevereiro, 2015].PET Engenharia Civil UFJF. 2011. Sistemas de Drenagem Sustentável. [ONLINE] Disponível em: http://blogdopetcivil.com/2011/11/10/sistemas-de-drenagem-susten-tavel/. [Accessado 01 de março, 2015]. Guia Floripa. 2015. Saco Grande | Bairro de Florianópolis. [ONLINE] Disponív-el em: http://www.guiafl oripa.com.br/cidade/bairros/saco-grande. [Accessado 16 de no-vembro, 2014]. SOM : Skidmore, Owings & Merrill LLP. 2015. Parkmerced Vision Plan – Sustain-able Design. [ONLINE] Disponível em: http://www.som.com/projects/parkmerced_vi-sion_plan__sustainable_design. [Accessado 22 de janeiro, 2015]. Landscape Architects Network. 2015. Innovation in Water Management for Stunning Landscape Design. [ONLINE] Disponível em: http://landarchs.com/innova-tion-water-management-landscape-design/. [Accessado 22 de janeiro, 2015].