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1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO CRISE, ALTERNATIVAS E SERVIÇO SOCIAL KÁTIA CRISTINA DUARTE MENDES ORIENTADOR: PROF. MESTRE ROBSON MATERKO RIO DE JANEIRO AGOSTO/2001

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO CRISE, ALTERNATIVAS E SERVIÇO SOCIAL

KÁTIA CRISTINA DUARTE MENDES

ORIENTADOR:

PROF. MESTRE ROBSON MATERKO

RIO DE JANEIRO

AGOSTO/2001

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

CRISE, ALTERNATIVA E SERVIÇO SOCIAL

Trabalho monográfico apresentado por

Kátia Cristina Duarte Mendes como

requisito parcial para obtenção do Grau

de Especialista em Reengenharia e

Gestão de Recursos Humanos.

RIO DE JANEIRO

AGOSTO/2001

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No lugar onde o mataram

Acabou nascendo um lírio

Que mão nenhuma plantara.

Semente do Céu, disseram.

No lugar onde o enterraram

um outro lírio brotou

diretamente do corpo

todo estrelado de furos.

(Carlos Drummond de Andrade)

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SUMÁRIO

Resumo Introdução

Página

07

08

1. – O Crime e o Sistema Punitivo 09 1.1– Breve Análise do Conceito de Crime 09 1.2.– Punição e Pena de Privação de Liberdade: O Advento da Prisão

11

2. Sistema Penitenciário: Alternativa Válida Para o Final do Século

XX e Início do XXI?

17 2.1 – Contextualização da Prisão no Brasil 17 2.2 – A Situação Atual do Sistema Penitenciário Brasileiro Vista

através do Censo Penitenciário de 1995 do Ministério da

Justiça

20

2.3 - O Possível Caminho a Ser Seguido Pelo Sistema Peniten

ciário Brasileiro – Humanização das Prisões e Penas Alter

nativas

22

3. O Serviço Social Penitenciário e o Processo de Humanização das

Prisões

27

3.1 – O Espaço de Atuação do Serviço Social no Sistema Peniten ciário

27

3.2 – A Regulamentação Jurídica do Serviço Social Penal 29 3.3– Caracterização do Processo de Trabalho do Serviço Social

31

3.4 – A Visão Humanizadora dos Profissionais de Serviço Social e o Caráter Punitivo do Sistema Prisional

33

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Conclusão 38 Bibliografia. 39

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Agradeço a Deus e a todos que direta e indiretamente contribuíram para execução desta monografia.

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Resumo

O sistema penitenciário brasileiro, nos anos de 1995 e 1996, bem

como na atualidade, possui um modelo de prisão pura e simples, que não tem

apresentado sucesso no que diz respeito a educação e ressocialização dos

apenados. Em razão desta situação tem-se questionado a validade deste

método de repressão ao crime. A idéia que se tem desde que se fez do

encarceramento o tipo de pena por excelência, é que ela consiste em uma

maneira cara de tornar os indivíduos piores. Visto que no sistema prisional se

privilegia a questão da segurança, em detrimento do seu papel de

desenvolvimento do respeito e da dignidade humana, daqueles que estão

debaixo de sua tutela. Diante desta situação caótica, é preciso traçar outros

caminhos de combate a criminalidade. O uso maior das penas altenativas de

prisão são um caminho, assim como a melhoria da estrutura prisional e a

valorização do preso como ser humano, que apesar de ter alguns de seus direitos

de cidadania suspensos, como a privação do direito de ir e vir, precisa ter

garantido o direito a vida e a dignidade humana.

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Introdução

A questão penitenciária tem sucitado muitos questionamento. Os

problemas do sistema prisional, como super lotação de cadeias e presídios,

desrespeitos aos cidadãos, mortes, aumento da Aids e de outras doenças

sexualmente transmissíveis entre os presos, são notícia comuns nas revistas e

jornais que circulam pelo país.

Diante deste quadro caótico das prisões, vimos ser necessário

refletirmos sobre a validade ou não deste tipo de instituição e entendermos

melhor os mecanismos que a legitimam e viabilizam a existência deste tipo de

pena.

O quadro crônico de desrespeito ao ser humano. Leva-nos a aceitar o

ditado que diz que “a prisão é a escola do crime”. A vida humana neste

ambiente é banalizada, pois os presos são violentos uns com os outros e com os

agentes penitenciários, e em contra partida os agentes penitenciários são

violentos com os presos.

Assim, uma pergunta nos inquietava: Como pode ser o presídio um

caminho de ressocialização e humanização do ser humano delinqüente? Em

torno, deste questionamento, enfocaremos aspectos sociais, políticos e culturais

relativos ao Sistema Penitenciário Brasileiro. Privilegiando a questão da

humanização das prisões e a do uso de penas alternativas, situando neste

processo o Serviço Social Penal, que tem sido um instrumento de dignifição do

ser humano.

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1. O Crime e o Sistema Punitivo

1.1 – Breve Análise do Conceito de Crime

O conceito de crime é complexo, envolvendo aspectos religiosos,

filosóficos, morais, políticos e econômicos. O crime é a violação do código,

escrito ou não, que define as ações consideradas ilícitas na sociedade e

estabelece as sanções a serem aplicadas aos criminosos. A definição de

Dornelles , diz que "o crime, é uma realidade variável, no tempo e no espaço, é

relativo e marcado por aspectos socioculturais" (DORNELLES, 1992, p.32).

Exemplificando a relatividade do conceito de crime, na Antigüidade,

devido o caráter místico do Estado egípcio, era crime matar um gato,

considerado animal sagrado. No antigo Israel eram passível de pena de morte o

homossexual, a Lei (Torá) dizia que “se um homem se deitar com outro homem,

como se fosse mulher, ambos praticavam coisa abominável; serão mortos; o seu

sangue cairá sobre eles” (LEVITICO, 20:13, p.305).

No início do século no Brasil, era considerada vadia a pessoa que não

possuía carteira assinada, entretanto a realidade do subemprego e do

desemprego que assola o país, torna o crime de vadiagem um tanto

descompassado com a realidade atual do Brasil.

Esses exemplos nos mostram como a idéia do crime está

condicionada as leis da sociedade, que por sua vez são determinadas por

diversos fatores como o tempo, a cultura ou os interesses de classe. A

caracterização dos atos que podem ser considerados criminosos, depende da

concepção criminal admitida em um determinado segmento social. Podemos ser

ou não um criminoso em potencial. Isto, porque sempre temos contato com o

crime, seja como vítima seja como autor.

Para Thompson, “todo crime resulta de definição legal, não há ato

mais imoral e agressivo que se apresente, que se possa chamar crime, se este

caráter não lhe é atribuído por uma lei penal” ( THOMPSON, 1976, p.68). Desta

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forma, podemos concluir que situações que ao nosso ver deveriam ser

consideradas crimes, são desprezadas porque não foram prevista no conjunto

de leis penais de nossa sociedade.

Foucault ao falar sobre o crime e a lei que o determina, diz que:

“...não é o crime que torna estranho à sociedade, mas antes que ele mesmo se deve ao fato de que se está na sociedade como um estranho, que se pertence àquela “raça abastarda” de que falava Target, aquela “classe degradada pela miséria cujos vícios se opõe como obstáculo invencível as generosas intenções que querem combatê-las”, que nessas condições seria hipocrisia ou ingenuidade acreditar que a lei é feita para todo mundo em nome de todo mundo; que é mais prudente reconhecer que ela é feita para alguns e se aplica a outros; que, em princípio ela obriga a todos os cidadãos, mas se dirige principalmente as classes mais numerosas e menos esclarecidas; que, ao contrário do que acontece com as leis políticas ou civis, sua aplicação não se refere a todos da mesma forma; que nos tribunais não é a sociedade inteira que julga um de seus membros, mas uma categoria social encarregada da ordem sanciona outra fadada a desordem”. ( FOUCAULT, 1977, p.208)

Relacionado o pensamento de Foucault a hipótese dialética do crime,

que diz que as pessoas das classes mais baixas são rotulada criminosas e as da

burguesia não, porque o controle da burguesia sobre os meios de produção lhes

dá o controle do Estado, como também da aplicação da lei.

O fato que permite, que muitas violações do preceito criminal não

sofra a devida repressão, faz parte do que Dornelles chama da “Cifra negra da

Delinqüência” (DORNELLES, 1992, p.46), que significa o somatório entre os

crimes que foram registrados e punidos legalmente, com os crimes que apesar de

terem sido reconhecidos pela justiça , não resultaram em condenação, nem em

rotulação da pessoa que o praticou como criminosa.

Sobre essa questão Paulo Ségio Pinheiro afirma que:

“os crimes que recebem o foco da justiça e da ação policial é que são, preferencialmente, aqueles praticados pelas classes populares. Há uma criminalidade incrivelmente mais decisiva, às vezes com impacto emocional menos imediato, praticada pelas classes educadas – peculato, estelionato, desvio de verbas públicas, genocídio em conseqüência de políticas

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errôneas de saúde, alimentação, transportes, segurança no trabalho, que não recebem a atenção da polícia nem da justiça. Para que a ação policial seja eficiente e competente, é essencial que a corporação tenha essa visão de conjunto. Isso não significa que a criminalidade “pé de chinelo” não deva ser perseguida, Nada disso. Mas não devemos conceder a essa criminalidade o “privilégio” da exclusividade” ( PINHEIRO, 1982,p.13).

A discriminação, que por vezes ocorre nas operações policiais, pode

ser um dos fatores responsáveis pelo elevado número de detentos de baixo

poder sócio-econômico e cultural, e a responsável pela transformação do

Sistema Penitenciário numa instituição excludente e coercitiva.

Diz-se que a discriminação pode ser um fator de criminalidade, porque

entendemos que as causas da criminalidade, não se encontra de forma linear e

constante. Em cada ocorrência o crime apresenta uma combinação diferentes de

fatores, são os elementos que incrementam e possibilitam o ato delituoso.

Esses elementos podem ser encontrado nas desigualdades sociais, no poder, no

desrespeito do ser humano ou mesmo no próprio sistema de repressão social do

crime.

1.2 -Punição e Pena de Privação de Liberdade: O Advento da Prisão

Independente do conceito de crime adotado por uma sociedade, o

pressuposto de sua existência permite o desenvolvimento de técnicas de

punição, ao ato que feriu a uma determinada norma social. Uma das mais

antigas formas de castigar um delito é a lei do Talião (retaliação), bem conhecido

pela expressão "olho por olho, dente por dente". Os homens ao longo da história

tem recorrido aos mais diversos tipos de punição, as vezes com bastante

crueldade e requinte, geralmente através da relação castigo-corpo, em nome da

proteção do indivíduo, da sociedade, da religião, do soberano, da segurança

nacional e do Estado.

No século XVII, semelhantemente ao período greco-romano, a punição

ao crime era feita de forma severa e cruel, eram os suplícios. Durante este

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período, o povo exercia uma enorme participação no ato de punir, pelo fato do

castigo ter um caráter amplo que visava atingir toda sociedade.

O criminoso era punido com penas físicas que variavam de acordo

com o status do condenado e o tipo de crime. Eles eram esquartejados,

queimados, enforcados ou sofriam outras formas de crueldade, para que seu

corpo marcado e exposto vivo ou morto, em local público ganhasse a forma de

espetáculo. Isto, reforçava o poder do soberano em todas as esferas da vida

social da época.

Os suplícios com o tempo foi sofrendo um desgaste no se simbolismo

em relação ao poder e retribuição do soberano ao delinqüente. Esse sistema

revelava a tirania e o prazer de punir, tendo correspondência na revolta e na

violência do povo, que atribuía aos supliciados características de herói, ou até

impedia as execuções penais. Foucault diz que:

"o suplício tornou-se rapidamente intolerável. Revoltante, visto da perspectiva do povo, onde ele revela a tirania, o excesso, a sede de vingança e o cruel prazer de punir com sangue " (FOUCAULT, 1977, p.69).

No meio do século XVIII e início do XIX, a proposta de punição como

festa, espetáculo torna-se obsoleta o castigo passa a trazer certa "humanidade"

exigindo novas maneiras de aplicação. O aparato jurídico é reorganizado frente

aos protestos e o crime assume novos caminhos de proliferação, sendo mais

freqüente os contra a propriedade em lugar dos de morte. Os bandidos

maltrapilhos e miseráveis que andavam em bando dão espaço aos velhacos e

contrabandistas que atuavam através de pequenos grupos. A delinqüência neste

contexto começa a especializar-se e a tecnificar-se.

A justiça passa a preocupar-se com a detenção, devido a

prerrogativa do encarceramento de recuperação do infrator, a fim de que este

pudesse voltar a ser um “cidadão respeitado e compromissado com os seus

direitos e deveres.

O período entre os séculos XVIII e XIX, que se caracterizou pelas

mudanças da forma de criminalidade, e conseqüentemente da punição foi

marcado pelo desenvolvimento social, econômico e político, onde encontramos

um forte crescimento demográfico urbano; a multiplicação das riquezas e das

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propriedades por meio de novas formas de acumulação de capita; a proliferação

dos roubos e fraudes; o acirramento da luta de classes; o empobrecimento da

classe trabalhadora; e a valorização jurídica e moral das relações de propriedade

com o advento do policiamento intenso e das técnicas avançadas de inquérito.

No processo de consolidação e desenvolvimento do capitalismo, dois

tipos de poder se destacam: o que define a justiça e cria a sentença aplicando a

Lei, e o que elabora a própria Lei. Estes poderes constituem a nova tecnologia

de punir reformulando o sistema penal do século XVIII. Esses mecanismos de

poder se enquadravam a idéia de indivíduos como parte do corpo social. O

crime neste contexto deixa de ser uma ofensa ao soberano, tornando-se uma

ofensa a toda sociedade, e a pena adquire o sentido de proteção à todos os

cidadão.

No final do século XVIII e início do século XIX, o suplício vai se

extinguindo dando lugar ao poder da norma, do código, junto com estes a

vigilância e a regulamentação homogenizante dos indivíduos, num caminho de

determinação dos níveis e das especificidades dos crimes , ajustando uns aos

outros.

Este momento de implantação da pena prisão é definido por Foucault,

como "o momento em que se percebeu ser, segundo a econômia do poder,

mais eficaz e mais rentável vigiar que punir” (FOUCAULT, 1977, p.130). Até o

período de surgimento das novas técnicas de punição, a prisão era incompatível

com a pena-efeito, pena-representação, por ser vista como uma forma violenta,

obscura e dispendiosa. Entretanto, a partir de 1810, a maioria das penas

implicavam em encarceramento, e as cadeias e prisões se proliferaram. “Era a

época da sobriedade punitiva” (FOUCAULT, 1977, p.19).

As cadeias tinham prédios enormes, muros altos e muitos prisioneiros.

Era masmorra para uns e prisão pura e simples para outros. Tal situação

ocorria por estarmos diante de um lugar de castigo, onde o tempo de

permanência no estabelecimento dependia do crime cometido, numa

equivalência das quantitativas delitos-duração. É importante frisar que a prisão

não é a pena em si , mas a guarda do criminoso, um recurso que propicia a

efetivação da pena de pena de privação de liberdade.

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A pena de privação de liberdade tornou-se a pena por excelência.

Transformar, corrigir, adestrar e evitar reincidências por meio do controle do

corpo era a razão deste tipo de punição. Pois só assim, se conseguiria

indivíduos obedientes, que se submetessem a qualquer poder instituído, por ser

uma forma de castigo igualitário tirando a liberdade individual considerada um

bem de todos.

Por transformar tecnicamente os indivíduos, Foucault coloca que:

"Na passagem dos dois séculos (XVIII e XIX), uma nova legislação define o poder de punir como uma função geral da sociedade que é exercida da mesma maneira sobre todos os seus membros, e na qual cada um deles é igualmente representado; mas ao fazer da detenção a pena por excelência, ela introduz processos de dominação característicos de um tipo particular de poder. Uma justiça que se diz 'igual', um aparelho judiciário que se pretende 'autônomo', mas que é investido pelas assimetrias das sujeições disciplinares, tal é a conjunção do nascimento da prisão, 'pena das sociedade civilizadas' " (FOUCAULT, 1977,p.207)

Essa prisão era uma instituição completa e austera, que reeducava os

indivíduos dentro da essência de um reformatório, que tinha por premissa quatro

questões básicas, que são:

.O isolamento: Isolamento para assegurar a ação do poder sobre o

detento, a fim de que ele se submeta, sinta remorso e reflita sobre sua vida,

não forme com outros internos organizações espontâneas, provocando

agitações e um contra-poder.

.O trabalho: O trabalho por ser visto como obrigação e direito era

considerado uma forma de adestramento e submissão ao aparelho de

produção, através da moralidade e da consciência dentro da lógica das

fábricas ou seja do modo capitalista de produção. Sendo portanto

fundamental na transformação dos indivíduos.

.Educação: Era e é concebida como meio de ressocialização, sendo

algo obrigatório no processo de redefinição de personalidade e de valores.

.O poder penitenciário : O poder penitenciário era a forma de

promoção do poder disciplinador, subsidiando o judiciário para que este

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determine as penas conforme a gravidade do crime. Este poder significa

economia para o Estado e eficiência na transformação dos indivíduos, conforme

o esquema panóptico de relatórios, códigos, vigilância e disciplina. Por ser a

maneira de controle técnico dos detentos, por parte do poder público.

Mesmo com toda visão técnica de valor jurídico a prisão desde seu

início criou controvérsia, mas era segundo Foucault a "detestável solução de que

não se pode abrir mão" (FOUCAULT,1977, 208). Sempre houve e sempre

haverá quem esteja disposto a transformá-la ou melhorá-la, para que atinja o seu

propósito de controle e punição da criminalidade. Foucault, caracteriza bem esse

problema quando diz que:

“a forma-prisão preexiste à sua utilização sistemática nas leis penais. Ela se constitui fora do aparelho judiciário, quando se elaboram, por todo o corpo social, os processos para repartir os indivíduos, fixa-los e distribui-los espacialmente” (FOUCAULT, 1977, p.207)

Em pouco mais de um século da utilização da prisão como principal

forma de repressão penal no mundo civilizado, viu-se que esta era um sistema

falido, devido ao perigo que apresenta como forma de punição. Sua existência

não mudou o quadro de criminalidade nem no século passado nem no atual,

continuamos tendo notícia de aumento da criminalidade, de reincidência criminal,

e de aumento da massa carcerária associado a diminuição do poder da ordem e

da disciplina, principalmente por causa da superlotação que permite a associação

de criminosos, ficando instaurada uma escola de crimes. Juntamente com todos

esses perigos, temos a estigmatização daqueles que por motivos justos ou

injustos foram parar no cárcere. Foucault, mostra que “na França em 1820

documentos mostravam que a prisão “longe de transformar os criminosos em

gente honesta, serve apenas para ajuntá-los ainda mais na criminalidade”

(FOCAULT, 1977, 131-132)

Em suma, todo o mecanismo de poder e disciplina instaurado para o

combate ao crime e a criminalidade, em nossa sociedade moderna, tem

demonstrado que a pena de privação de liberdade, personificada na prisão, só

se justifica em termos de proteção a sociedade, como forma de retribuição do mal

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causado a mesma, juntamente com a ressocializacão dos infratores. Fora

disso, o que temos é uma maneira cara de tornar as pessoas piores.

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2. Sistema Penitenciário: Alternativa Válida para o Final do Século XX e

Início do XXI?

2.1 – Contextualização da Prisão no Brasil

Anteriormente aos anos 30 do século XIX, as sentenças criminais

caracterizavam-se pelo uso da pena de morte e da pena suplício. Sem um

processo sistemático de inquéritos, ela era basicamente um local de detenção de

suspeitos até o julgamento. Cabe ressaltar que essa novidade era apenas aos

cidadãos livres e não para os escravos, que continuavam sofrendo punições no

estilo medieval de tortura física.

A primeira Constituição do período Imperial de 25 de março de 1824,

definiu as normas de funcionamento e administração das prisões. Mas, a

implementação do código criminal em 16 de dezembro de 1830 pelo Imperador

D. Pedro I, foi uma verdadeira renovação na forma de aplicação da pena prisão.

O código trouxe um visão mais humanista, colocando o trabalho como

instrumento de regeneração, moralização e reparação do criminoso.

Em 1890, logo após a chegada da República no Brasil, temos uma

reforma do código penal, que aboliu as penas de morte e de prisão perpétua. O

parâmetro dessa reforma foi o modelo Progressivo Irlandez de pena celular,

caracterizado pelas sentenças de tempo indeterminado, onde o preso ficava em

uma cela e conforme sua adaptação ao sistema recebia tratamento menos rígido

ou até a suspensão da pena, podendo sair em liberdade. Este código se

manteve até 194O, quando foi instaurado um novo que vigora até hoje.

O novo código foi promulgado, mas efetivamente só veio a vigorar em

1942. Ele definiu que a pena máxima seria de 30 anos e estabeleceu nas

unidades penais e patronatos públicos e privados atividades de ressocialização

do preso e do egresso.

Em 1967, a constituição chama a atenção no art. 158§14 para a

integridade física e moral do detento. A introdução do Ato Institucional no 5 (AI-

5), pela ditadura militar no ano de 1968, invalidou esse posicionamento

constitucional. As torturas e prisões sem respaldo jurídico foram uma constante

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nesta época de nossa história. O problema de descumprimento das leis

referentes ao sistema prisional, não é contudo obra apenas da ditadura, mesmo

hoje com a retomada da democracia temos notícia de arbitrariedades dos órgãos

de segurança, como a matança feita por policiais em Vigário Geral, favela do

município do Rio de Janeiro, e o assassinato em São Paulo de 111 presos no

Presídio de Carandiru no ano de 1992.

No ano de 1969, a Junta Militar que governava o país, implementou

um novo código penal que criava a Lei de Segurança Nacional, que trazia penas

de morte, prisão perpétua e reclusão até 30 anos para crimes políticos. Este

código, entretanto, nunca vigorou.

O que temos de mais significativo no período que vai de 1969 à 1984,

é a introdução da Lei n0 6.416, de 24 de maio de 1977. Esta Lei regulamentou

as prisões-albergues , classificou os regimes penais em fechado, semi-aberto e

aberto de acordo com a periculosidade e a gravidade do delito, e as concessões

a serem autorgadas pelo juiz, como o cumprimento de pena em local distante do

da condenação. Essa lei pretendia atenuar os males do sistema penitenciário,

principalmente o de superlotação.

Segundo Dotti, essa lei pretendia atenuar os males do sistema

penitenciário, principalmente o de superlotação.

“ ...mas a tentativa de superar a crise do sistema da execução valendo–se do processo de ‘esvaziamento das prisões’ não impediu que a inflação das taxas de superlotação carcerária continuasse a atormentar a administração e a comunidade”. (DOTTI, 1994,p.85)

No final do governo Figueiredo, último presidente da ditadura, a nova

constituição de 1984 instaura a Lei de Execução Penal (Lei n0 7.210, de 11 de

julho de 1984) passando esta a reger todos os estabelecimentos prisionais

determinando como eles devem ser, a quem se destinam e quais os

procedimentos do corpo técnico em conformidade com a Constituição e o Código

Penal brasileiro.

A Lei de Execução Penal veio pautada no princípio da legalidade, no

que diz respeito a segurança individual em relação a realidade do sistema

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prisional do país. Sendo uma proposta de mudança e revisão das estruturas do

sistema, visando os fins preventivos das pena e das medidas de segurança, para

garantia dos direitos humanos na prisão.

A exemplo da integração da Constituição federal com a execução da

pena temos a determinação que diz que “a mulher será recolhida a

estabelecimento próprio e adequado à sua condição pessoal” (Lei de Execução

Penal art.82&1o ), em conformidade com a constituição de 1988 que diz que “a

pena será cumprida em estabelecimento distinto, de acordo com a natureza do

delito, a idade e o sexo do apenado” ( CONSTITUIÇÃO FEDERAL,1988 art.

5o:XLVIII).

O período da ditadura, nos deixou a Lei de Execução Penal como um

saldo muito positivo em relação ao sistema prisional, reafirma a situação caótica

das unidades prisionais que ainda não se encontravam adaptadas as nova lei

vigente, dizendo que:

“O balanço da “reforma” penitenciária durante o autoritarismo é ambiente de promiscuidade, superlotação, convivência de delinqüentes de todos os graus, de doentes e até de menores, ociosidade, humilhação. O saldo desse longo percurso é a situação de abandono do preso no País e a inutilidade do sistema penitenciário vigente” (PINHEIRO. 1982, p.331)

O sistema prisional brasileiro, assim como de outros países, no

presente e no passado tem apresentado um grande déficit, concernente ao que

se diz em lei e o que se vê no cotidiano do nosso aparelho de repressão. Até

hoje não conseguimos mudar as cifras de aumento do crime e da criminalidade,

que pelas notícias de jornais e televisão parecem aumentar a cada dia. O quadro

que temos da prisão nestes últimos anos do milênio é desanimador.

2.2 - A Situação atual do Sistema Penitenciário Brasileiro Vista

Através do Censo Penitenciário de 1995 do Ministério da Justiça

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Censo Penitenciário de 1995, do Ministério da Justiça, mostra que em

1995 o país contava com 65.883 vagas para 148.760 presos, mostrando uma

falta de 78.843 vagas.

O problema de superlotação é generalizado, mas na região sudeste

que possui maior concentração populacional, esses índices de superpopulação

prisional se agravam. Segundo o Censo de 1995, São Paulo é a cidade que tem

mais presos em relação ao número de habitantes e também é a que possui a pior

situação carcerária. São 174 presos para cada grupo de 100.000 pessoas em

penitenciárias e delegacias.

O Censo Penitenciário de 1995 do Ministério da Justiça, mostra que

dos 148.760 presos existentes no Brasil 134 mil são homens. Com respeito a

raça 43% são negros e mulatos, os demais são brancos é uma minoria são de

outras raças. Esses índices dão mostra de que houve equivoco na idéia de que

os negros são maioria nas cadeias do país. Devemos considerar, contudo, que

nós não temos um padrão bem definido das raças, e que a realidade dos estados

mostra algumas variações neste dados. O censo Penitenciário do Rio de Janeiro

(DESIPE, 1996), mostra que 60% dos presos são negros e mulatos, os não

brancos, e que 40% são brancos.

A população carcerária conforme o Censo de 1995, é caracterizada

como analfabeta ou semi-analfabeta, 87% dos presos não tem 1ograu completo.

Em relação a idade, 52% dos presos têm em média menos de 30 anos. Quanto

a situação de vida, 95% dos apenados são pobres, sendo que, 85% não possui

condições de contratar advogado particular, ficando a mercê da justiça gratuita.

Esses dados nos permitem fazer um paralelo entre criminalidade,

pobreza e repressão. Porque ao constatarmos que a totalidade dos apenados

são oriundos dos seguimentos desfavorecidos da sociedade. Podemos dizer que

no Brasil a prisão é mais uma forma de exclussão e criminalização social do

pobre. Criminalização que não começa no momento em que o indivíduo é pego

pela polícia e indiciado, mas, sua gênese começa no seio da sua família onde a

pobreza é realmente sentida.

A percepção da exclussão social se dá através das condições de

moradia; da falta de alimentação adequada; da inserção em estabelecimentos de

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ensino de baixa qualidade, que não permitirão à criança que ali estuda, ingressar

nas profissões que possuem remuneração melhores; da falta de saúde e tudo

mais que contribui para a miséria ou a pobreza.

Caberia afirmar então que a pobreza leva ao crime. Acreditamos que

não. O pobre por causa da impossibilidade de usufruir satisfatoriamente dos

seus direitos de cidadania, encontra-se mais vulnerável aos agentes

criminógenos, que são as situações que propiciam a conduta anti-social.

Na experiência de estágio no Presídio Evaristo de Morais, pudemos

observar que os detentos com pouquíssimas exceções, ao falarem no relatório

social sobre as causas que os levaram ao mundo do crime, enfatizavam bastante

o desemprego e a baixa remuneração.

O último dado que pretendemos analisar neste momento, é o da

reincidência criminal que alcançou a cifra de de 35% segundo o Censo de

1995. Entretanto, a assessora técnica da Secretaria de Justiça e Interior do

Estado do Rio de Janeiro, Julita Lemgruber, em palestra realizada no

NUSEG/UERJ no segundo semestre de 1998, nos informa que esse percentual

já atingiu no ano de 1997 a cifra de 85%.

Diante da constatação do crescente aumento da reincidência,

podemos dizer que o sistema prisional brasileiro é ineficaz em sua tarefa de

ressocialização. Primeiramente porque a pessoa que se torna presidiária, além

de ter durante o período de detenção contato com vários tipos de delinqüentes,

acessando informações de muitas outras formas de crime, em razão da falta de

classificação e separação dos detentos, por causa da superlotação das

unidades prisionais.

Em razão desta triste realidade, o detento carregará para os resto de

sua vida o estigma de criminoso, sendo um eterno devedor da sociedade. Diante

desta realidade, o crime se torna uma das únicas possibilidades de

subsistência do ex-presidiário. Como fruto desta situação caótica, a prisão

assume o papel de escola do crime, em vez de ser um caminho para a

ressocialização.

2.3– O Possível Caminho a Ser Seguido Pelo Sistema Penitenciário

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Brasileiro - Humanização das Prisões e Penas Alternativas

O ideário humanista aparece na Renascença com o intuito de distinguir

a ciência da religião. Ele é um resultado do estudo dos clássicos da antigüidade

greco-romana, que preconizavam o valor intrínseco da vida humana em face da

morte e da grandeza de suas potencialidades. Nos séculos XVIII e XIX com a

obra dos enciclopedista e com o Cientificismo, o humanismo ganha novas

dimensões.

“Modernamente o Humanismo tem um sentido amplo, ultrapassando os limites dos conceitos divinos emitidos e divulgados pelos pensadores religiosos. Ele valoriza o Homem como figura humana, para conscientizá-lo de uma nova filosofia de vida, capaz de coexistir pacificamente numa sociedade sem exploradores nem explorados, sem o domínio do forte sôbre o fraco, do inteligente sôbre o ignorante e do mais hábil sôbre o menos capaz” (RODRIGUES,1976,p.10)

Esta concepção moderna analisa a psique do Homem, visando elevá-

lo ao desenvolvimento pleno de todas as suas potencialidade éticas, culturais,

artísticas e profissionais, numa contínua progressão que venha trazer à

sociedade a liberdade, a igualdade social e política, o amor fraterno e a

solidariedade humana.

A pena de privação de liberdade tem sido um modelo de desrespeito a

dignidade humana. O ex-ministro da Justiça, Iris Resende, em palestra proferida

no Primeiro Congresso sobre Execução Penal no ano de 1997, disse que:

“ o sistema de encarceramento deve ser repensado, de modo que a pena, dotada de uma faceta muito mais humanista, seja não apenas uma sanção, mas sirva também como meio de reeducação do delinqüente, assegurando-se seu retorno à sociedade de forma menos traumática”. (RESENDE, 1997,p. 8)

O ministro nesta mesma palestra disse que esse reexame das

punições é uma proposta que encontra-se no Programa Nacional de Direitos

Humanos do governo. Reconhecer que o homem não pode ser violado no seu

direito a vida, a consciência, a honra, ao trabalho, a liberdade não é um ato de

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benevolência mas o cumprimento de um dever para com toda humanidade. O

homem é o centro de todas as coisas, não devemos permitir que interesses

individuais, de classes ou de qualquer outra ordem deteriorem à sociedade.

Concernente a questão penitenciária, o respeito ao ser humano que

cometeu um delito só acontece quando se protege a integridade física, mental e

social do infrator. Seguindo essa perspectiva a pena de privação de liberdade,

só deveria ser utilizada quando os direitos (sociais, políticos e civis) fossem

completamente esgotados.

Segundo Abranches;

“os direitos civis seriam aqueles necessários à liberdade individual: liberdade de ir e vir, liberdade de imprensa, pensamento e fé; o direito à propriedade privada e de concluir contratos válidos, o direito à justiça. Os direitos políticos são os de participar no exercício do poder político, como membro de um organismo investido de autoridade política ou como um eleitor dos membros de tal organismo. Os direitos sociais vão desde o direito a um mínimo de bem-estar econômico e de segurança ao direito de participar por completo, na herança social e levar a vida de um ser civilizado de acordo com os padrões que prevalecem na sociedade.” ( ABRANCHES, 1987, p.81)

Infelizmente o que temos quase sempre para a grande maioria de

nossa sociedade, é o inverso dos direitos de cidadania declarados por

Abranches. A pena-prisão no Brasil e no mundo tem sido utilizada

indiscriminadamente, para o combate a criminalidade, sem grandes

preocupações com o cidadão que se encontra sobre a tutela do Estado. É

interessante notar que os princípios da prisão moderna também se fundamentam

no conceito de dignidade humana, proclamados historicamente pela Revolução

Francesa.

A questão que colocamos sobre a necessidade de utilização de outros

meios de repressão, não se relaciona ao fato do governo punir o delinqüente.

Contudo, um Estado democrático de direito, deve garantir o bem-estar de seus

cidadãos, ainda que estes estejam em situação de suspensão de alguns direitos,

como a liberdade de ir e vir, de comunicação, de inviolabilidade de

correspondência, do exercício de atividades profissionais, dos direitos de

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participação política através do voto e da candidatura. A humanização das

prisões não que dizer impunidade, mas sim que o homem encarcerado é um

sujeito de direitos.

Na redefinição da prisão é necessário percorrermos um caminho

diferente do atual, que é marcado pela agressão aos direitos de cidadania do

encarcerado. Precisamos refletir sobre o problema da criminalização

institucional, que faz com que o indivíduo seja marcado pelo resto da vida como

um criminoso.

Neste processo as medidas de ressocialização são fundamentais,

porque o distanciamento brusco do convívio familiar, do trabalho e dos amigos,

produzem reconhecidamente efeitos prejudiciais ao delinqüente, principalmente

àqueles que ganharam penas de curta duração, pois em relação a sua vida

pregressa esse tempo significará um mal perpétuo ao apenado.

Juntamente com os problemas já analisados, temos o perigo da

ociosidade nos estabelecimentos penais, que não têm condições de estabelecer

satisfatoriamente medidas sócio-educativas como o ensino escolar para que os

egressos. Sabemos que quanto maior for o grau de escolarização, maiores

chances de se encontrar emprego com boa remuneração, os presos terão.

Outra medida é a prática de esportes como forma de dignificação do indivíduo,

além dessa vale destacar neste caminho de valorização do homem, o trabalho

penitenciário não só como forma de diminuição da pena, mas como um meio de

valorização de qualquer ser humano. Tendo por certo que o aprendizado do

cárcere, poderá ser de grande valia para à vida fora da prisão.

Finalizando, o uso das penas alternativas previstas por lei como multas,

recolhimento domiciliar, prestação de serviços a comunidade, interdição

temporária de direitos, limitações de fim de semana, sursis e o livramento

condicional, é um caminho desejável para a reforma do sistema prisional, porque

elas cumprem adequadamente o papel de prevenção e retribuição dos delitos.

No que concerne a prevenção da criminalidade ainda precisamos

investir na solução das desigualdades estruturais de nossa sociedade, como a

má distribuição de renda, que propiciam condutas anti-sociais. Acreditamos que

a garantia a todos os cidadãos de acesso a educação, ao trabalho, a saúde, a

habitação e a todos os direitos essenciais a vida do homem, é a melhor forma de

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se combater ao crime. As causas e os efeitos da criminalidade devem ser

neutralizados pela realização da constituição, em relação a humanização das

penas, que por sua vez está intimamente ligado a humanização de toda

sociedade.

Sobre os benefícios das penas alternativas, Lemgruber diz que:

“na possibilidade de as pena alternativas serem utilizadas para

todo e qualquer infrator que não cometa crimes graves e/ou

violentos, milhões de reais poderiam ser economizados, a

cada ano, e investidos na área social, contribuindo, aí sim,

para a diminuição das taxas de criminalidade. E, mais ainda,

as sanções alternativas abrem caminho para a real integração

do infrator à sociedade, evitam os efeitos perniciosos da

prisão, ao impedir o contato entre os criminosos perigosos e

aquelesque se apresentam à vida social, e conprovadamente

contribuem para a diminuição da reincidência. A prisão é cara

e ineficaz para ser utilizada indiscriminadamente”

(LEMGRUBER, 1996. p.84).

Apesar de todos os limites existentes para a maior utilização das

penas alternativas no Brasil, é vislumbrado nelas a grande saída para à crise do

nosso sistema. O projeto de Lei no 2.684/96, que prevê mudanças significativas

para o uso das penas alternativas, como a utilização deste tipo de pena para

quem sofreu pena de até quatro anos, é uma prova de que estamos trilhando o

caminho da superação do uso indiscriminado da pena de privação de liberdade.

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3. O Serviço Social Penitenciário e o Processo de humanização das Prisões

3.1 – O Espaço de Atuação do Serviço Social no Sistema Penitenciário

A prisão conforme já visto no capítulo I e II, está entrelaçada à

concepção de crime da sociedade moderna, que dá resposta a um ato delituoso,

através da ação do Estado que geralmente puni quem burla as normas sociais

com à pena de privação de liberdade.

A punição de uma norma social, diz respeito ao fato de nunca

termos ouvido falar que alguma autoridade judiciária, diretor de presídios ou

juiz de direito foi alguma vez punido pelo elevado índice de reincidências ou pelo

baixo sentimento de auto-estima dos presos, visto que a prisão tem como uma de

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suas principais metas à ressocialização do apenados, Em contraposição a esse

fato, Thompson afirma que:

“uma fuga de presos, uma tentativa de motins ou um homicídio intramuros, (...) disperta vigorosos protestos, muitas vezes atingindo a proporções de verdadeiros escândalos públicos, movimentando ativamente os meios de comunicação de massa, gerando demissões de autoridades, determinando punições ou ameaças de punições” (THOMPSON, 1976,p.40-41)

Esta supervalorização da segurança é um produto da grande

dicotomia encontrada na prisão. O indivíduo que é obrigado a ficar sobre sua

custódia, além de perder a liberdade, é obrigado a se enquadrar a uma comoção

da sociedade como um todo, pois a prisão não produzir os efeitos reeducativos

desejados, estando associada a visão de que as unidade penais são ruins, por

ser isto inerente ao processo de eliminação da criminalidade. Em razão disso, o

cárcere se mostra como uma maneira de se fazer com que os homens que se

encontram sobre sua tutela, sintam-se e vivam piores do que quando estavam

em liberdade. Esta realidade é um claro direcionamento a regra de

proporcionalidade da pena, que diz que a pena deve trazer um mal maior do que

o produzido pelo delito.

A contradição da prisão pode também ser percebida pelo ângulo da

questão da liberdade, que representa em nossa sociedade o bem maior dos

seres humanos. Em entrevista para fins de Exame Criminológico, feita pelos

assistentes sociais e estagiários no Presídio Evaristo de Moraes, percebermos

que os presos não se revoltavam somente por causa do encarceramento, mas

pelo fato dessa situação produzir uma falta de iniciativa pessoal dentro do

estabelecimento, algumas vezes ouvimos reclamações ligadas ao sentimento que

tinham de inutilidade, em razão de serem tratados como se fossem crianças,

sem capacidade de raciocínio, pelos funcionários do presídio.

Diante deste quadro crítico da prisão no Brasil, chegamos a

confirmação de que o aspecto punitivo é o único objetivo da prisão. Por vezes

ouvimos críticas ao setor de serviço social, da parte de funcionários do presídio.

Dentre essas críticas destacamos a feita por um agente penitenciário, que

afirmava que serviço social só deveria existir para funcionários. Para ele –

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“Vagabundos não merecem ser atendido por assistentes sociais, que mais

parecem uma mãe”. A expressão “vagabundo” ao nosso ver, demonstra o

pensamento de que a pena de privação de liberdade marginaliza e segrega o ser

humano, tornando a prisão uma escola de crime.

Uma outra percepção sobre o espaço em que se desenvolve as

atividades do serviço social penal . É a de que o aprisionamento produz

conseqüências desastrosas à personalidade do indivíduo encarcerado, visto que,

ele fica insensível aos problemas dos outros, pela incapacidade de viver em

sociedade. Longe da família, dos amigos e assimilando à cultura prisional,

dificilmente conseguiremos que ele seja uma boa resposta do sistema a

sociedade livre.

Assumindo que a prisão objetiva a ressocialização e entendendo que o

Serviço Social tem nessa premissa o fundamento e justificativa da sua insercão

dentro deste espaço contraditório.

3.2 - A Regulamentação Jurídica do Serviço Social Penal

O Serviço social dentro do Sistema Penal, é regimentado pela Lei de

Execução Penal ( Lei no 7.210, de 11 de julho de 1984) em vigor em todo

território nacional.

O Regulamento Penal , organizado pelo Estado do Rio de Janeiro, tem

por objetivo operacionalizar execução da lei federal, de acordo com as

especificidades do estado. O Regulamento Penal , é quem garante à nível

operacional as atribuições do serviço social.

As atribuições do Serviço Social dadas pela Lei de Execução Penal

(Seção XI, art. 22 e 23), incorpora basicamente as atividades desenvolvidas pelo

assistentes sociais, desde sua introdução nas unidades penais, e que foram

consagradas como sendo inerente a profissão, ainda que carreguem consigo

um caráter extremamente burocrático e mecanicista.

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Segundo a Lei de Execução Penais as atribuições do Serviço Social

são:

“Art. 22 – A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepará-lo para o retorno à liberdade. Art. 23 - Incumbe ao Serviço Social de assistência social: I – Conhecer os resultados dos diagnósticos e exames; II – relatar, por escrito, ao diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades enfrentadas pelo assistido; III – acompanhar o resultado das permissões de saídas temporárias; IV – promover, no estabelecimento pelos meios disponíveis, a recreação; V -- promover a orientação do assistido na fase final do cumprimento da pena e do liberando, de modo a facilitar o seu retorno à liberdade; VI – providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da previdência social e do seguro por acidente de trabalho VII – orientar e amparar, quando necessário a família do preso, do internado e da vítima.” ( MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 1984, p. 4-5).

É importante sinalizar que essas ações delimitadas pela Lei de

Execução Penal, dizem respeito também às providencias administrativas, a

orientação dos presos e internos, à preparação do processo de reinserção social

e a promoção de atividades recreativas.

Apesar dessas atribuições do Serviço Social contemplarem o

atendimento ao preso e a seus familiares, a atuação dos assistentes sociais está

limitada à população carcerária. A assistência a família do apenado é feito de

forma bem precária, geralmente visando alguma necessidade do interno. Essa

impossibilidade do Serviço Social atender a família satisfatoriamente, é um

produto das dificuldades do sistema Penal, que não consegue gerir recursos

para assistência integral ao preso e a seus familiares, em razão do

privilegiamento da segurança.

Um outro ponto em relação as atividades do Serviço Social é que elas

estão divididas em ações de cunho disciplinar e fiscalizador, conforme incisos I, II

e III do art. 23 da Lei de Execução Penal. A exemplo deste ponto temos as

Comissões técnicas de Classificação, que avalia e julga os direitos e deveres

dos presos através de um parecer técnico e multidisciplinar da pessoa do

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condenado enquanto interno do Sistema Penal,. Em contrapartida os incisos IV,

V, VI e VII, vão de encontro as especificidades de nossa profissão permitindo um

desenvolvimento de nosso aparato teórico-metodológico.

No estado do Rio de Janeiro, o decreto no 8,897 do Regulamento

Penal, vem especificar que assistência social é de competência exclusiva do

Serviço Social, por meio da inserção do termo “Assistência do Serviço Social” em

seu art. 41, que assim define as atribuições dos assistentes sociais;

Art. 41. Cabe ao Serviço Social, através do emprego da metodologia específica de sua área profissional. I - conhecer, diagnosticar e traçar alternativas, junto com a população presa e os egressos, quanto aos problemas sociais evidenciados; II - ampliar os canais de comunicação dos presos, internados e seus familiares com a administração penitenciária; III - elaborar relatórios e emitir pareceres, se for o caso, em requerimentos e processos de interesse da população carcerária; IV - interagir junto aos quadros funcionais do Sistema Penal com vista a possibilitar melhor compreensão dos problemas sociais da população presa, buscando conjugar esforços para solucioná-los; V - interagir com instituições externas no sentido de empreender ações que aproximem recursos diversos para atendimento da população presa, seus familiares, egressos e liberados, na perspectiva da ação comunitária; VI - coordenar e supervisionar as atividades dos agentes religiosos voluntários e dos estagiários do Serviço Social; VII - integrar os conselhos de comunidade; VIII - programar com a população presa eventos que propiciem lazer e cultura, interagindo com o serviço educacional; IX - orientar a população presa e seus dependentes quanto a direitos e deveres legais, especialmente da área previdenciária; X - acompanhar o desenvolvimento das saídas para visita a familiares e para trabalho externo; XI - auxiliar os internos na obtenção de documentos. ( SECRETARIA DE JUSTIÇA, 1994, P. 1-2)

Uma última análise da regulamentação jurídica do Serviço Social penal

em relação a Lei de Execução Penal e ao RPERJ, diz respeito ao fato de que as

atribuições dadas por esses dois regimentos são de ordem genérica, precisando

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ser adaptadas a peculiaridade de cada unidade penal , para que os assistentes

sociais consigam atender as necessidades dos apenados.

3.3 – Caracterização do Processo de Trabalho do Serviço Social

O objeto do Serviço Social em qualquer campo de atuação

profissional, é dado pelas refrações da questão social e pela maneira como a

população tem acesso aos direitos sociais.

o objeto do Serviço Social penitenciário é a condição de vida do preso,

e para se atingir esse objeto busca-se por meio do conhecimento teórico-

técnico, ampliar os canais de comunicação do preso com seus familiares,

através de requerimento, de processos de interesse da população carcerária e de

intervenção junto aos quadros funcionais da unidade, com vista a possibilitar

melhor compreensão dos problema sociais dos presos, procurando conjugar

esforços para solucioná-los.

O Serviço Social para alcançar seu objetivo, também tem se baseado

nas doutrinas sociais, em lugar da jurisdicidade do crime. Partindo deste ponto,

podemos falar mais detalhadamente do processo de trabalho do serviço social

penal.

Primeiramente, o Serviço Social penal, por estar dentro de uma

instituição total que tem por base ideológica a punição e a segurança, exige que a

ação de seus profissionais tenha uma postura altamente crítica de sua prática,

para que ela não seja apenas uma reprodução das exigências e dos objetivos

institucionais.

Silva, analiza a questão do serviço social ter de administrar o conflito

de interesses da instituição com os da profissão, através do papel que o

prontuário social desempenha a cada um desses interesses, ela diz que:

“O prontuário social tem como objetivo para o Serviço Social manter os registros de vida e do comportamento do preso no sentido de contribuir para um bom relacionamento, favorecendo o atendimento qualitativo de suas necessidades. A instituição

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utiliza esses registros para aprimorar o controle do comportamento do preso e para progressão ou regressão do regime de pena o amparo e assistência do interno, é muito imediatista devido aos limites impostos pela política interna da unidade prisional. Em razão desta limitação da ação dos assistentes sociais, o processo de trabalho no estabelecimento, assume um caráter paliativo, resumindo-se aos regulamentos e portarias do DESIPE” (SILVA, 1995,p.37)

Conforme a Lei de Execução Penal, art. 22, “a assistência social tem

por finalidade amparar o presos e o interno e prepará-lo para o retorno a

liberdade”. ( MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 1984, p.4) Seguindo essa lei, o Serviço

Social penal se insere no Programa de Assistência Integral ao Preso, utilizando

metodologia específica de sua área profissional, e dando atendimento ao interno

e a seus familiares. Esse atendimento, entretanto, é muito precário pois o

Presídio Evaristo de Moraes tem cinco assistentes sociais para atender 1650

presos, sem contar a família deles e os agentes religiosos que também estão

sobre a responsabilidade do Serviço Social, a nível de cadastramento.

No presídio, a ação dos assistentes sociais acha-se submetido a uma

multiplicidade de tarefas burocráticas e imediatistas, como: abertura de

prontuário social, entrevistas para fins de Exame Criminológico, orientação ao

interno e a seus familiares de seus direitos, principalmente os previdenciários e

deveres, encaminhamento para o reconhecimento de paternidade, sendo

responsável pelo interno junto ao cartório, controle do processo de visita íntima e

comum, participação em reuniões das Comissões Técnicas de Classificação,

credenciamento, acompanhamento de agentes religiosos e reuniões técnicas

para que haja um consenso das ações dos profissionais de Serviço Social.

Estas atividades são executadas sem grandes planejamentos internos,

não há programa ou projeto de intervenção produzidos específico pelo setor de

Serviço Social. A Divisão de Serviço Social, que é o orgão responsável pelo

serviço social nas unidades prisionais do estado, também não é muito presente

no dia-a-dia dos profissionais. O resultado da falta de planejamento das

atividades, faz com que o Serviço Social não consiga utilizar satisfatoriamente

sua autonomia técnico-operacional, ficando sua prática minimizada, não

conseguindo visualizar o produto de seu trabalho.

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O objetivo do nosso trabalho é a melhoria de condições de vida dos

presos, mas, isso só é alcançado parcialmente, devido as dificuldades políticas e

materiais. Minimamente nosso produto é alcançado pela utilização dos

seguintes instrumentos: formulários pré-determinados pela Divisão de Serviço

Social, relatório social, entrevistas, anamnese, além da linguagem.

3.4– A Visão Humanizadora dos Profissionais de Serviço Social e o

Caráter Punitivo do Sistema Prisional

A compreensão do trabalho do Serviço Social no espaço penitenciário,

há de ignora a idéia de que o homem preso não é um ser individual que se

interrelaciona com o mundo livre. Nunca é demais ressaltar que a juridicidade do

crime, está ligada aos pressupostos jurídicos e não nas doutrinas sociais.

Porque o direito não é um somatório de leis e ,sim, uma forma de expressão da

legitimidade da cidadania de um povo.

Reafirmando a falência do sistema penitenciário, e nos detendo ao

processo de trabalho do Serviço Social penal, percebemos que ele se constitui

como um elemento distoante do sistema penal, devido ao caráter humanitário de

sua prática. Todavia, essa dissonância não representa a desvinculação do

assistente sociais do processo de punição dos indivíduos criminosos. Segundo

Silva:

“o assistente social é recrutado para atuar na organização penitenciária com a incumbência de trabalhar as relacões sociais junto ao segmento dos apenados “ com o objetivo “relacionado ao que os dirigentes classificam como adaptabilidade do preso ao regime de prisão” ( SILVA, 1995,37) .

Verdade é que o sistema prisional com todo o aparato material e

profissional, só existe porque impõe suas normas sobre os condenados e sobre

todos os que estão de alguma forma subjugados a ele. A ressocialização não é

resultante deste processo de punição.

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O Serviço social não aceita a idéia, de que seu papel institucional

contribui para engrenagem do sistema punitivo. Esse posicionamento se

fundamenta no fato deles não julgarem e não punirem os encarcerados. Mas,

quando o assistente social faz um relatório social para o Exame Criminológico

ele emite um parecer favorável ou desfavorável à obtenção de benefício de

progressão de regime para prisão aberta ou semi-aberta. Este parecer é uma

forma de julgamento que envolve ganho e perda para os presos.

Por outro lado, apesar do Serviço Social não assumir uma posição

neutra dentro do sistema prisional, sua ação ainda que minimamente ultrapassa

os limites das prisões. Enquanto os agentes penitenciários se preocupam em

manter a ordem e a segurança, fazendo valer a máxima “que preso só tem

direito a não ter direito”, os assistentes sociais buscam melhorar a vida do

interno, através da visão de que ele é um cidadão de direito, e ao mesmo tempo

que procura se enquadrar as exigências institucionais.

Por esse posicionamento os assistentes sociais vivem uma situação

contraditória . Na ótica dos presos , o Serviço Social é visto por um lado como

um meio de auxílio e conforto para se suportar a vida na prisão e por outro são

encarados como funcionários da administração. À exemplo, muitas vezes

durante estágio na unidade prisional, recebemos “bilhetinhos” de internos que

estavam com medo de arbitrariedade de funcionários contra sua pessoa. Ao

mandar esse pedido de ajuda eles demonstravam confiança nos profissionais do

setor, por crerem que mesmo fazendo parte do esquema prisional, eram de

alguma forma mais humanos e solidários aos seus problemas.

Em oposição a esta ótica, os funcionários e em especial os agentes

penitenciários viam os assistentes sociais como um tipo de “mãe” dos presos,

pois achavam que eles eram muito benevolentes para com os internos. A crítica

desses profissionais ao Serviço Social , se firmava no pensamento de que nós

amenizávamos o papel da prisão de punir. Esse pensamento, advinha do fato

dos assistentes sociais serem “considerados protetores dos presos” .

A realidade é que esse conflito gerado pela ação do Serviço Social,

nos mostra como é difícil a atuação de qualquer profissional em um espaço

contraditório como o da prisão. Os assistentes sociais neste contexto são

obrigados a administrar esse conflito com habilidade e pespicácia.

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Pois, qualquer prática institucionalizada segue um conjunto de normas

e padrões, leis e valores que regem as relações entre seus atores. Esse

conjunto de valores, é uma composição lógica que estrutura a sociedade, que

por sua vez é o conjunto de instituições materializadas nas organizações e em

grau menor nos estabelecimentos.

O assistente social, como integrante do conjunto dos atores

institucionais, reproduz em parte os valores institucionais, tendo um papel

ideológico dentro da prisão, no sentido de que ele representa o caráter humano

da mesma, mesmo quando sua ação auxilia na manutenção da ordem.

Mediante essa abordagem, não podemos fugir do papel assistencialista

que temos assumido dentro do sistema penal, desde o início da introdução dos

profissionais de Serviço Social neste espaço. A luz do fim do túnel, entretanto,

considerando todas as dificuldades que o Serviço Social tem para exercer sua

prática de forma a respeitar os direitos humanos, pode vir através de uma maior

reflexão com os presos, em relação as perspectivas e alternativas de vida fora e

dentro da prisão. E também, através de uma reflexão com os outros

funcionários das unidades prisionais, no tocante ao questionamento das

estruturas prisionais e sociais, para que a criminalidade seja reprimida de forma

mais ampla e eficaz.

A possibilidade de reflexão que os assistentes sociais tem ao exercer

sua prática, permite que sejam ultrapassadas as ações burocráticos que não são

inerente a profissão, dentro da instituição prisão. O conjunto de serviços que o

Serviço Social precisa oferecer aos apenados, devem estar voltados para a

capacitação dos encarcerados. Esta capacitação pode vir por meio da

reeducação da linguagem e da escrita, visto que 85% dos presos não

completaram o 10 grau, e por meio da capacitação para o trabalho, através da

construção de atitudes, habilidades e valores que possam ser um incremento a

vida quando em liberdade.

Esse postulado de dignidade do ser humano, direciona ainda a ação

dos assistentes sociais para as potencialidades individuais, com vista a auto-

promoção dos presos, que inclui um trabalho mais efetivo com seus familiares.

Neste contexto o Serviço Social torna-se um intermediário do preso com o mundo

exterior a prisão, e com os presos e os funcionários, pois sua prática não estará

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minimizada a questões de bens e serviços em detrimento da conscientização e

ressocialização do homem preso.

Em relação as penas alternativas, a ação do Serviço Social, ainda não

produziu grandes discussões acadêmicas . Essa falta de reflexão é fruto do

pouco uso dos substitutivos de prisão no Brasil. Segundo o Censo Penitenciário

de 1995, o Brasil tem um índice de 2% de aplicação de penas alternativas de

prisão em relação aos 98% dos condenados.

Pelo censo de 1995 do estado do Rio de Janeiro, apenas 192 infratores

prestaram serviços à comunidade, dois foram submetidos à limitações de fim-de-

semana, e a Vara de Execuções Penais não ofereceu dados sobre os infratores

que tiveram interdição der direito.

Diante deste baixo índice de aplicação da pena de privação de

liberdade, é difícil posicionarmos a ação do Serviço Social penal, o que

reafirmamos aqui, é que neste processo de redefinição do sistema penal

brasileiro, os profissionais podem transformar a sua ação em um meio de se

garantir que as aplicações de penas alternativas, hão de cumprir seu papel de

dignificação do ser humano que se encontra submetido a autoridade penal do

Estado.

Chegamos a conclusão, então, que o Serviço Social tem sido uma

forma de humanização da prisão e da sociedade, não só por seu trabalho dentro

do presídio, mas, também pelo papel ressocializador que deve desenpenhar em

relação ao infrator que se encontra cumprido algum tipo de substitutivo de prisão.

Mudanças e melhorias podem ser feitas no sitema penitenciário, mas, o

caminho que ele percorre com certeza há de chegar a plena garantia do respeito

a dignidade do ser humano, que se encontra em uma unidade do sistema

prisional ou cumpre pena alternativa de prisão.

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Conclusão

A questão penitenciária é algo muito complexo , que necessita ser vista

por diversos ângulos.

Primeiramente, há de se assinalar que a criminalidade em nosso país,

de uma forma geral é vista como um problema setorizado, não inserido num

processo de conflito e desorganização social, que tem sua gênesis no

desrespeito aos direitos individuais e coletivos dos cidadãos. O desrespeito aos

cidadãos de direito tem diversas razões, dentre elas podemos destacar a

econômica, a política, a ideológica e a cultural.

No contexto de individualização da criminalidade, o criminoso é visto

como uma ameaça à ordem social, necessitando ser transformado e

ressocializado, a fim de se enquadrar as normas vigentes, por meio do conjunto

dos objetivos de educação e capacitação voltados para reabilitação dos

indivíduos considerados delinqüentes.

Dentro deste processo o Sistema Penitenciário, repassa

ideológicamente para a sociedade a justificava de sua existência, que não se

encontra apenas no fato de ser um meio de punição, mas, também, no fato de

ser um meio de ressocialização.

A sociedade, entretanto, está consciente que a prisão não tem

eficácia, devido a falta de estrutura física, material e técnica, que possibilitem a

reabilitação dos encarcerados.

Em conseqüência da desestrutura do Sistema Penitenciário, o que se

consegue é apenas o afastamento dos criminosos da sociedade. A reeducação

não é um fato resultante do encarceramento, tanto que a reincidência atinge a

cada dia altos índices. A falência do sistema, aponta para necessidade de

mudanças estruturais neste modelo de repressão e prevenção da criminalidade,

que no passado e no presente não foi uma boa reposta ao crime que permeia

muitos espaços sociais.

O aspecto que cabe destacar dos efeitos da prisão sobre os

criminosos, é que ela da forma que está estruturada degrada por demais a

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personalidade do homem preso. Quase tudo que auxilia na destruição da

dignidade humana, pode ser encontrado na prisão – humilhação, medo,

violência, perda de referências pessoais.

É claro, que sobre diversos aspectos, o Sistema Penitenciário

representa a supressão dos direitos humanos. Neste espaço de negação do

homem e de seus direitos, o Serviço Social foi instituído para ser uma das

formas de equacionamento dos efeitos nocivos do sistema.

O papel a ser exercido pelos assistentes sociais, provoca uma

contradição nos efeitos de sua ação, pois precisa atender os objetivos

institucionais e os dos presos. Esses objetivos contudo, caminham em

sentidos opostos. Entretanto, a ação do serviço social penal tem imprimido o

sentido de dignificação do ser humano.

Apesar da prisão ter um contexto degradante, envolvido pela

corrupção, , miséria e humilhação do preso. A luta da sociedade pela

recuperação da sua dignidade e essência, enquanto ser humano, tem se

refletido no sistema penitenciário, que no futuro há de se converter em

beneficios para toda sociedade.

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