lima barreto - o subterraneo do morro do castelo - iba mendes.pdf

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    Lima Barreto

    O Subterrneo do Morro do Castelo

    Publicado originalmente em 1905.

    Afonso Henriques de Lima Barreto

    (1881 1922)

    Projeto Livro Livre

    Livro 82

    Poeteiro Editor DigitalSo Paulo - 2014

    www.poeteiro.com

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    Projeto Livro Livre

    O Projeto Livro Livre uma iniciativa queprope o compartilhamento, de forma livre e

    gratuita, de obras literrias j em domnio p!blicoou que tenham a sua divulga"#o devidamenteautori$ada, especialmente o livro em seu formato%igital&

    'o (rasil, segundo a Lei n) *&+-, no seu artigo ., os direitos patrimoniais doautor perduram por setenta anos contados de / de janeiro do ano subsequenteao de seu falecimento& O mesmo se observa em Portugal& 0egundo o 12digo dos%ireitos de 3utor e dos %ireitos 1one4os, em seu captulo 56 e artigo 7), o

    direito de autor caduca, na falta de disposi"#o especial, 8- anos ap2s a mortedo criador intelectual, mesmo que a obra s2 tenha sido publicada ou divulgadapostumamente&

    O nosso Projeto, que tem por !nico e e4clusivo objetivo colaborar em prol dadivulga"#o do bom conhecimento na 5nternet, busca assim n#o violar nenhumdireito autoral& 9odavia, caso seja encontrado algum livro que, por algumara$#o, esteja ferindo os direitos do autor, pedimos a gentile$a que nos informe,a fim de que seja devidamente suprimido de nosso acervo&

    :speramos um dia, quem sabe, que as leis que regem os direitos do autor sejamrepensadas e reformuladas, tornando a prote"#o da propriedade intelectualuma ferramenta para promover o conhecimento, em ve$ de um temvel inibidorao livre acesso aos bens culturais& 3ssim esperamos;

    3t l, daremos nossa pequena contribui"#o para o desenvolvimento daeduca"#o e da cultura, mediante o compartilhamento livre e gratuito de obrassob domnio p!blico, como esta, do escritor brasileiro Lima (arreto< OSubterrneo do Morro do Castelo&

    = isso;

    5ba >[email protected]

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    BIOGRAFIA

    Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no dia 13 de maio de 1881, no Rio de

    Janeiro, onde veio a falecer em 1 de novembro de 1922, o mesmo ano em que

    se iniciara a Semana de Arte oderna!

    Aos seis anos fica "rf#o de m#e! $om a res%onsabilidade de sustentar a fam&lia,

    abandona o curso de 'n(en)aria que come*ara no ano de 189+, in(ressando

    como amanuense na diretoria do e%ediente da Secretaria de -uerra! $ontudo,

    sua %rinci%al atividade estava na .m%rensa, onde colaborou durante toda sua

    vida, escrevendo contos, cr/nicas, ensaios etc!

    0il)os de %ais mesti*os teve a vida marcada %elo %reconceito de cor, fato este

    que influenciara (randemente sua obra! 'm conseqncia de %roblema com oalcoolismo, deiouse internar num manic/mio, onde escreveu anota*4es e

    e%erincias %essoais %ostumamente %ublicadas sob o t&tulo 5$emit6rio dos

    7ivos!

    'str6ia sua vida literria em 19:8 com o romance 5Recorda*4es do 'scriv#o

    .sa&as $amin)a! 'screveu, ainda as obras, entre outras; 5uaresma ?191@, 5uma e a infa ?191@, 57ida e orte de ! J! -onCa(a de

    S ?1919, 5Hist"rias e Son)os ?192:, 5Ds BruCundan(as ?1922, 5Ba(atelas

    91923, 5$lara dos AnEos ?19F8!

    Seu romance mais con)ecido 6 5uaresma, ada%tado

    %ara o cinema em 1998, com o t&tulo 5=olicar%o >uaresma, Her"i do Brasil,

    diri(ido %or =aulo

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    NDICE

    Sexta-feira, 28 de abril de 1905.................................................................Sbado, 29 de abril de 1905......................................................................Tera-feira, 2 de maio de 1905..................................................................!arta-feira, " de maio de 1905...............................................................!i#ta-feira, $ de maio de 1905................................................................Sexta-feira, 5 de maio de 1905..................................................................Sbado, % de maio de 1905........................................................................Domi#&o, ' de maio de 1905.....................................................................Se&!#da-feira, 8 de maio de 1905.............................................................

    Tera-feira, 9 de maio de 1905..................................................................!arta-feira, 10 de maio de 1905.............................................................Sexta-feira, 12 de maio de 1905................................................................Domi#&o, 1$ de maio de 1905...................................................................Se&!#da-feira, 15 de maio de 1905...........................................................Sexta-feira, 19 de maio de 1905................................................................Sbado, 20 de maio de 1905.....................................................................Domi#&o, 21 de maio de 1905..................................................................Tera-feira, 2" de maio de 1905................................................................!arta-feira, 2$ de maio de 1905.............................................................!i#ta-feira, 25 de maio de 1905..............................................................Sexta-feira, 2% de maio de 1905................................................................Sbado, 2' de maio de 1905.....................................................................Domi#&o, 28 de maio de 1905..................................................................Tera-feira, "0 de maio de 1905................................................................!arta-feira, 1 de (!#)o de 1905..............................................................Sbado, " de (!#)o de 1905......................................................................

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    O SUBTERRNEO DO MORRO DO CASTELO

    CORREIO DA MANH - SEXTA-FEIRA, 28 DE ABRIL DE 1905

    FABULOSAS RIQUEZAS OUTROS SUBTERRNEOS

    Os leitores ho de estar lembrados de que, h tempos, publicamos umainteressante srie de artigos da lavra do nosso colaborador Lo Junius,subordinados ao ttulo Os Subterrneos do Rio de Janeiro.

    Neles vinham descritas conscienciosamente e com o carinho que sempre oautor dedicou aos assuntos arqueolgicos as galerias subterrneas, construdash mais de dois sculos pelos padres !esutas, com o "im de ocultar as "abulosas

    rique#as da comunidade, amea$adas de con"isco pelo bra$o "rreo do %arqu&sde 'ombal.

    (erdade ou lenda, caso que este "ato nos "oi tra#ido pela tradi$o oral e comtanto mais viso de e)atido quanto nada de inverossmil nele se continha.

    *e "eito+ a ordem "undada por ncio de Loiola, em -/0, cedo se tornouclebre pelas imensas rique#as que encerravam as suas arcas, a ponto de irtornando a pouco e pouco uma pot&ncia "inanceira e poltica na 1uropa e na

    2mrica, para onde emigraram em grande parte, "ugindo 3s persegui$4es quelhe eram movidas na 5ran$a, na 67ssia e mesmo na 1spanha, principal baluarteda 8ompanhia.

    1m todos estes pases os bens da Ordem de Jesus "oram con"iscados, no sendopois admirar que, e)pulsos os discpulos de Loiola, em -90, de 'ortugal e seusdomnios pelo "ogoso ministro de *. Jos , procurassem a tempo salvaguardaros seus bens contra a lei de e)ce$o aplicada em outros pases, em seu pre!u#o.

    2 hiptese, pois, de e)istirem no morro do 8astelo, sob as "unda$4es do vasto evelho convento dos !esutas, ob!etos de alto lavor artstico, em ouro e em prata,alm de moedas sem conta e uma grande biblioteca, tomou vulto em breve,provocando o "aro arqueolgico dos revolvedores de ruinarias e a auri sacrafames de alguns capitalistas, que chegaram mesmo a se organi#ar emcompanhia, com o "im de e)plorar a empoeirada e 7mida colchida dos Jesutas.sto "oi pelos tempos do 1ncilhamento.

    :ucessivas escava$4es "oram levadas a e"eito, sem &)ito aprecivel; um velho,residente em :anta

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    eco dos risos casquilhos de mo"a, de que "oram alvo por longo tempo os novos6obrios *ias.

    1stes "atos ! estavam quase totalmente esquecidos, quando ontem novamente

    se voltou a aten$o p7blica para o desgracioso morro condenado a ruir embreve aos golpes da picareta demolidora dos construtores da 2venida.

    2nteontem, ao cair da noite, era grande a a#"ama naquele trecho das obras.

    2 turma de trabalhadores, em golpes iscronos brandiam os alvi4es contra oterreno multissecular, e a cada golpe, um bloco de terra negra se deslocava,indo rolar, des"a#endo=se, pelo talude natural do terreno revolvido.

    1m certo momento, o trabalhador Nelson, ao descarregar com pulso "orte a

    picareta sobre as 7ltimas pedras de um alicerce, notou com surpresa que oterreno cedia, desobstruindo a entrada de uma vasta galeria.

    O *r. *utra, engenheiro a cu!o cargo se acham os trabalhos naquele local,correu a veri"icar o que se passava e teve ocasio de observar a se$o reta dagaleria >cerca de -,?@m de altura por @,@m de larguraA.

    O trabalho "oi suspenso a "im de que se dessem as provid&ncias convenientesem to estranho caso; uma sentinela "oi colocada 3 porta do subterrneo que

    guarda uma grande "ortuna ou uma enorme e secular pilhria; e, como eranatural, o :r. %inistro da 5a#enda, que ! tem habituada a pituitria aosper"umes do dinheiro, l compareceu, com o *r. 5rontin e outros engenheiros, a"im, talve#, de in"ormar 3 curiosa comissose achava aquilocom cheiro de casa="orte... O comparecimento de :. 1)a., bem como a con"er&ncia que ho!e se devereali#ar entre o *r. 5rontin e o *r. Lauro %uller, levam=nos a supor que nas altascamadas se acredita na e)ist&ncia de tesouros dos !esutas no subterrneo domorro do 8astelo.

    *urante toda a tarde de ontem, crescido n7mero de curiosos estacionaram nolocal onde se havia descoberto a entrada da galeria, numa natural so"reguidode saber o que de certo e)iste sobre o caso.

    Bo!e continuaro os trabalhos, que sero e)ecutados por uma turma especial,sob as imediatas vistas do engenheiro da turma.

    Cue uma "ada ben"a#e!a condu#a o *r. *utra no a"anoso mister de descobridorde tesouros, tornando=o em %ascotte da avenida do *r. 5rontin.

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    2 propsito da descoberta deste subterrneo, temos a acrescentar que,segundo sup4e o *r. 6ocha Leo, nesta cidade e)istem outros subterrneos domesmo g&nero e de no menos importncia.

    2ssim que na 8hcara da 5loresta deve e)istir um, que termina no local onde"oi o

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    H'atro, no sabemos; ns trabalhamos no theatro.

    No eram atores, est visto; simples operrios, colaboradores anFnimos nas

    glrias "uturas da ribalta municipal.

    %ais alguns passos e aos nossos surge a mole argilosa do 8astelo+ um grandetalho no ventre arro)eado da montanha nos "a# adivinhar a entrada do "amososubterrneo.

    Limitando uma larga e)tenso, h, em torno ao local de tantas esperan$as, umacerca de arame, barreira 3 curiosidade p7blica que amea$ava atrapalhar amarcha dos trabalhos.

    O *r. 'edro *utra, enlameado e suarento, discreteava num pequeno grupo.

    2o apro)imarmo=nos, o novel engenheiro, amvel, nos indicou com um sorriso apassagem para o local vedado ao p7blico.

    H1nto, ! "oram descobertos os apstolosI

    HCue apstolosI

    HOs de ouro, com olhos de esmeraldaI

    H'or ora no, respondeu=nos risonho o engenheiro e, solcito, acompanhou=nos 3 porta da galeria.

    1sta alta, de - metro e 0@ centmetros, com cerca de @ centmetros delargura; no interior operrios retiravam o barro mole e pega!oso, atolados nolameiro at o meio das canelas. 2o "undo bru)uleava uma lu#inha d7bia, postaali para "acilitar a desobstru$o do subterrneo.

    Gm cenrio ttrico de dramalho.

    O *r. *utra d=nos in"orma$4es sobre os trabalhos.

    'or ora, limitam=se estes 3 limpe#a da parte descoberta.

    'ela manh de ontem, ele a percorreu numa e)tenso de -@ metros; oprimeiro trecho da galeria.

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    *a em diante, esta conserva a mesma largura, aumentando a altura que passaa ser de K metros e -@ centmetros e dirigindo=se para a esquerda num ngulode graus, mais ou menos.

    O trabalho tem sido muito "atigante; no s pela e)igidade do espa$o, comopela e)ist&ncia dMgua de in"iltra$o.

    %esmo assim, o *r. *utra espera ho!e limpar toda a parte e)plorada,continuando em seguida a e)plora$o no trecho que se dirige para a esquerda.

    H2t agora nada se encontrou de interessante, se h tesouro ainda no lhesentimos o cheiro.

    H%as o que imagina o doutor, sobre o destino desta galeriaI

    HNo tenho opinio "ormada; apenas con!ecturas... Os !esutas talve# ha!amconstrudo o subterrneo para re"7gio, em caso de persegui$o; o %arqu&s de'ombal era um pouco violento...

    ostamos da benevol&ncia do conceito; um pouco...

    1 o engenheiro continuou+

    HNota=se que no houve a preocupa$o de revestir as paredes, o que serianatural "a#er, caso se pretendesse ali guardar livros ou ob!etos de valor... Osconstrutores da galeria evitaram na sua per"ura$o o barro vermelho,procurando de pre"er&ncia o moledo, mais resistente; todo o trabalho pareceter sido "eito a ponteiro.

    H1 sobre a visita do *r. Eulh4esI

    H1steve com e"eito aqui, acompanhado pelo *r. 5rontin e penetrou com esteat o 7ltimo ponto acessvel da galeria. %as parece que voltou desanimado...

    O nosso companheiro de e)curso quis discutir ainda o papel do %arqu&s de'ombal no movimento poltico religioso do sculo (; mas o calor su"ocava enada mais havia de interessante sobre o subterrneo do 8astelo.

    *espedimo=nos gratos 3 amabilidade cativante do *r. 'edro *utra, cu!o aspectono era, entretanto, o de quem se !ulga 3 porta de um tesouro secular.

    1m torno, contida pela cerca de arame, apinhava=se a multido sonhadora e

    desocupada...

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    2inda a propsito do subterrneo do 8astelo, convm notar que h mais devinte anos o Earo de *rummond, que depois se tornou dono de uma "ama

    imorredoura pela genial descoberta do !ogo do bicho, tentou a e)plora$o domorro do 8astelo, com o "im de retirar de l os tesouros ocultos e promover poreste modo o pagamento de dvida p7blica e... das suas.

    Os trabalhos eram "eitos com o emprego de minas de dinamite o que provocouprotestos dos moradores do morro e conseqentemente suspenso do perigosoempreendimento.

    1 "icou tudo em nada.

    O *r. 6ocha Leo, que durante longos anos se tem dedicado aos estudos dossubterrneos do 6io de Janeiro declara=nos e)istir documentos positivos sobre olocal em que se acham tesouros dos !esutas no 2rquivo '7blico e na 2ntiga:ecretaria de Gltramar, na lha das 8obras.

    CORREIO DA MANH - TER$A-FEIRA, 2 DE MAIO DE 1905

    2legrem=se os que acreditam na e)ist&ncia de "abulosas rique#as na galeria do

    morro do 8astelo.

    :e o ouro ainda no re"ulgiu ao golpe e)plorador da picareta, um modesto sommetlico ! se "e# ouvir, eri$ando os cabelos dos novos bandeirantes e dando=lhes 3 espinha o "rio solene das grandes ocasi4es; som "eio e inarmFnico de"erro velho, contudo som animador que "a# pregoar orquestra$4es de barras deouro, cru#ados do tempo do *. Joo (, pedrarias policrFmicas, raras bai)elas derepastos rgios, tudo isto desmoronando=se, rolando vertiginosamente como ocascalho humilde pelo talude escarpado da montanha predestinada.

    'or agora contentemo=nos com o "erro velho; "erro cu!o passado destino, aoque se di#, honra pouco a do$ura de costumes dos discpulos de Loiola, "erro emcu!a super"cie o)idada a 2cademia de %edicina ainda poder achar resquciosdo sangue dos cristos=novos.

    2inda bem que ho!e em dia nem mais para os museus podero servir ascarcomidas correntes levantadas pelas mos dos buscadores de ouro.

    2gora que tanto se "ala na candidatura do :r. Eernardino de 8ampos seria assa#

    de temer que as golilhas e pols encontradas no 8astelo ainda estivessemcapa#es de uso.

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    O :r. 'residente da 6ep7blica l esteve, na galeria dos !esutas, galeria em que,diga=se a verdade, sente=se bem a sua anglica pessoa.

    5oi isto ontem pela manh, depois do ca" e antes da segunda inaugura$o doprimeiro decmetro de ces.

    :. 1)a., acompanhado da casa civil e militar, do *r. 5rontin e de outras pessoasgratas >gratas, sr. revisorPA, enveredou pelo buraco, iluminado por um "oco deacetileno, que dava 3 galeria o tom macabro da "urna de 2li Eab.

    1ntrou, olhou e nada disse; se o che"e de polcia estivesse presente teriae)clamado como de outra ve# >e desta com alguma ra#oA+ H:enhores, estamoscom um vulco por cima da cabe$a.

    2 "rase no seria de toda absurda, desde que por uma "ic$o potica seconcedessem por um momento ao ino"ensivo 8astelo as honras vulcnicas.

    %as, em suma, nem o :r. Eulh4es nem o :r. 5rontin, nem mesmo o 'residenteda 6ep7blica tiveram a dita de encontrar os apstolos de ouro de olhosesmeraldinos; e como :.

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    %ais um m&s, mais dias, quem sabe, e o :anto ncio de Loiola, h tre#entosanos a"undando na tenebrosa escurido do crcere cala"etado, emergir 3 lu#dos nossos dias, todo re"ulgente nos doirados de sua massa "ulva.

    B por "or$a dentro do morro do 8astelo uma rique#a "abulosa dei)ada pelosdiscpulos de Loiola na sua precipitada "uga sob o a$oite de 'ombal.

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    CORREIO DA MANH - QUINTA-FEIRA, & DE MAIO DE 1905

    OS SUBTERRNEOS DO RIO DE 'ANEIRO E AS RIQUEZAS DOS 'ESU(TAS

    2 multido apinhava=se curiosa, diante do morro do 8astelo, em cu!o imensobo!o se entesouram rique#as "abulosas, abandonadas pelos !esutas naprecipita$o da retirada.

    Olhos vidos de descobrir na sombra pesada da galeria o rebrilho de uma pe$ade ouro, ouvidos atentos ao mnimo rudo vindo de dentro, toda aquela gente,nos la#eres do "eriado de ontem, se acotovelava ao longo da cerca de arame,que a previd&ncia o"icial construiu, para maior seguran$a do subterrneo

    opulento.

    Qamos sequiosos de novas do 8astelo e das suas lendrias coisas; mas, a dilatadarea de"esa ao p7blico, no havia o movimento habitual dos dias de labor.

    'equerruchos despreocupados revolviam a terra e 3 porta soturna da galeriadois negros crberos vigiavam, modorrentos, o tesouro secular.

    2pro)imamo=nos. Bavia uma "ranca comunicatividade entre os curiosos,

    trocavam=se comentrios estranhos sobre a dire$o dos subterrneos, as salasamplas, em mrmore rosado, nas quais se en"ileiram, pe!adas de ouro epedrarias, as arcas dos discpulos de Loiola.

    %as, em meio a multido, salienta=se um senhor alto, de bigodes grisalhos egrandes olhos penetrantes, cu!a vo# pausada e "orte atrai a aten$o de todagente. O crculo de curiosos se aperta a pouco e pouco e os ouvidos recebemdeleitados as palavras do orculo.

    *e coisas e)traordinrias sabe este homem; tem talve# cinqenta anos deidade, dois ter$os deles gastos no esmerilhamento das verdades ocultas nasentrelinhas de pergaminhos seculares.

    1le sabe de todo um 6io subterrneo, um 6io indito e "antstico, em que secru#am e)tensas ruas abobadadas, caminhos de um 1ldorado como no nosonhara 'angloss.

    2cercamo=nos tambm, na nsia de escutar a palavra sbia; ele ! enveredarapor um detalhe trgico da histria conventual do 8astelo+ a histria de uma

    condessa italiana, da "amlia dos %dicis, raptada, em noite escura, de umpalcio "lorentino e condu#ida num bergantim para o claustro dos !esutas,

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    onde, em babilFnicas orgias, seu alvo corpo palpitante de mocidade e seivacorria de mo em mo, como a ta$a de Bebe; depsito sagrado de um capitosovinho antigo.

    Os circunstantes ouviam boquiabertos a interessante narrativa; um senhor,ndio e rosado, aparteava de quando em ve#, pilhrico.

    Ousamos uma pergunta+

    HB documentos a respeitoI

    H'reciosssimos, meu amigo; eu tive sob os olhos todo o roteiro das galerias;conhe$o=as como a palma das minhas mos. 2 reconstru$o daquela pocatrgica seria uma obra de "a#er arrepiar os cabelosP...

    H1 quanto 3s duas galerias recentemente descobertasI

    1le disse+

    HNo valem nada, meu amigo; o caminho est errado; por a no daro novinte.

    H%as, neste caso, que utilidade tem estasI

    H1stas e muitas mais "oram "eitas, umas para os suplcios e outras com o 7nico"im de atordoar, desnortear os investigadores. O verdadeiro depsito dostesouros, onde se encontram arcas de "erro abarrotadas de ouro e pedras "inas,acha=se a R/@ metros do sop do morro; a o ar quase irrespirvel em vista dase)ala$4es sul"7ricas; mesmo de crer que o morro no se!a mais que o tampode um vulco. *e tudo isto h documentos irre"utveis e no s re"erentes ao8astelo como aos demais subterrneos, quais os da ilha do 6aimundo, pr)ima3 do overnador, e da 5a#enda de :anta 8ru# e tantos outros que minam avelha cidade de %em de :.

    H1 o cavalheiro me pode dar alguns apontamentos a respeitoI

    H8om pra#er; o meu maior dese!o elucidar todos os pontos destainteressante histria para que o governo no este!a a perder tempo e dinheirocom buscas "atalmente impro"cuas

    HNeste caso...

    H2pare$a em minha resid&ncia; mostrar=lhe=ei os documentos.

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    HS "avor; l irei ho!e mesmo.

    HTs oito horas, est dito.

    1 com um "orte aperto de mo, depedimo=nos, de cora$o palpitando decuriosidade, prelibando o cheiro dos documentos arcaicos e a imaginar toda acomplicada tragdia de suplcios inquisitoriais, de pesados la!4es, sepultandoouro em barra, e de condessas louras, a desmaiar de amor nas celas do claustroimenso.

    *a longa histria que ouvimos, "artamente documentada e narrada emlinguagem simples e "luente, por um homem de esprito cultivado e argutoconhecedor do assunto, daremos amanh circunstanciada notcia aos leitores,!ustamente vidos de desvendar os mistrios do venervel morro.

    DDD

    O *r. 6ocha Leo escreve=nos, 3 propsito do palpitante assunto+

    U:r. redator,

    *igna=se (.:. dar=me pequeno espa$o para uma reclama$o. 5ui ho!esurpreendido com a publica$o que "e# O Paiz de documentos que "oram

    entregues ao 1).mo :r. 'residente da 6ep7blica.

    No tenho a honra de conhecer, nem ao menos de vista, o 1).mo :r. 2lmiranteNepomuceno.

    J h tempos declarei que os documentos que eu possua sobre o 8asteloentreguei=os ao meu "inado amigo o engenheiro Jorge %irandola e no%iranda, quando ele "oi h anos 3 nglaterra.

    5alecendo esse engenheiro em Lisboa, procurei aqui em cara >NiteriA a suavi7va para lhe pedir a entrega dos meus pergaminhos.

    Nessa visita "ui acompanhado pelo meu amigo :r. 8amanho.

    *isse=me a senhora que nenhum papel ou documento se arrecadou em Lisboa.

    2gora ve!o uma o"erta desses pergaminhos que me pertencem, pois esto como meu nome.

    *eclaro que so dois pergaminhos antigos, no tinham cor vermelha nenhuma,nem declara$o por minha letra donde "oram achados; um deles estava

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    dobrado como uma carta e o sobre-scripto uma cru# longitudinal com ci"rasque signi"icam o endere$o ao eral da 8ompanhia em 6oma.

    2lm disto, ainda con"iei ao "inado %irandola um grosso volume em "ranc&s

    encontrado por mim, com o ttulo Portrait des sciences, com gravuras decolunas e anotado em ci"ras pelos padres.

    6esponderei ao artigo do ilustrado :r. *r. (ieira 5a#enda.

    O abai)o assinado teve ao seu dispor os mais importantes documentos do seu"inado amigo, o *r. 2le)andre Jos de %ello %oraes.

    2inda mais descendentes de "amlias que governaram o Erasil como os Earretosde %ene#es,

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    Neste cenrio trgico nos encaminhamos pelas tortuosas vilas da amboa, 3cata das preciosas in"orma$4es que nos prometera de vspera o senhor alto, deolhos penetrantes.

    B alguma di"iculdade em encontrar a casa; a escurido tenebrosa da noite e dailumina$o nos no consente distinguir os n7meros dos portais.

    ndagamos da vi#inhan$a+

    HO :r. 8oelhoI :abe nos di#er onde mora o :r. 8oelhoI

    H2li adiante, mo$o, in"orma=nos opulenta mulata que go#a a noite, re"estelada3 !anela.

    8aminhamos; em meio 3 ladeira ngreme, um velho abanando o cachimbo.n"orma=nos+

    HO :r. 8oelho mora no K9, passando aquela casa grande, a outra.

    O :r. 8oelho, conclumos, conhecido de toda gente; toda gente nos d notciasprecisas do :r. 8oelho, inda bem...

    1ncontramos, por "im, o K9, entramos. 8asa modesta de empregado p7blico,

    sem altas ambi$4es; e"gies de santos pendem das paredes; h no ambiente oper"ume misterioso da gruta de um derviche ou do laboratrio de umalquimista.

    T lu# macilenta de um lmpada de querosene os nossos olhos divisam retratosem "otogravura de 2llan Vardec e 'ombal, que Uhurlent de se trouverensembleU.

    H

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    O :r. 8oelho des"a#=se em modstia+ no tanto assim, ele sabe alguma coisa,mas o seu maior pra#er abrir os olhos ao p7blico contra as "alsidades dosembusteiros.

    1 levanta=se para nos tra#er seus documentos.

    :o largas "olhas de papel amarelado, cheirando a velho, preciosos pergaminhosem que se mal descobrem caracteres indeci"rveis, "iguras cabalsticas, coisasintradu#veis aos nossos olhos pro"anos.

    H2qui temos ns toda a verdade sobre os to "alados tesouros, di#=nos, numgesto enrgico. %as antes de enveredar neste caos, uma rpida e)plica$oP 2sgalerias agora encontradas, como ! disse, nada signi"icam; so esgotos, soesconderi!os e nada mais. O atual edi"cio do convento compunha=se

    antigamente de tr&s andares; dois deles esto atualmente soterrados. 2 portaque condu#ia ao %orro, corresponde ao antigo Ko andar do edi"cio, e estavapor conseguinte muito abai)o do primitivo convento.

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    $Aos %& dias do m's de no(embro de )*)+, reinando El Rei D Joo ., sendo

    capito-general desta capitania /rancisco de 0astro "oraes e superior deste

    0ol1gio o Padre "artins 2on3al(es, por ordem do nosso Re(mo 2eral foram

    postos 4 boa guarda, nos subterrneos que se fabricaram sob este 0ol1gio, no

    monte do 0astelo, as preciosidades e tesouros da ordem nesta pro(5ncia, paraficarem a coberto de uma no(a in(aso que possa 6a(er 0onsiste este tesouro

    de78!ma imagem de Santo #n9cio de :oiola, de ouro maci3o pesando );+

    marcos< uma imagem de S Sebastio e outra de S Jos1, ambas de ouro maci3o

    pesando cada uma %=+ marcos, uma imagem da Santa .irgem, de ouro maci3o

    pesando %>+ marcos< a coroa da Santa .irgem, de ouro maci3o e pedrarias,

    pesando, s? o ouro, )%+ marcos< )=++ barras de ouro de quatro marcos cada

    uma< dois mil marcos de ouro em p?< dez mil6@es de cruzados, em moeda (el6a

    e tr's mil6@es de cruzados em moeda no(a, tudo em ouro< onze mil6@es de

    cruzados em diamantes e outras pedras preciosas, al1m de um diamante de ))

    oita(as, > quilates e ; gros, que no est9 a(aliado Al1m destes tesouros foi

    tamb1m guardada uma banqueta do altar-mor da #grea, seis casti3ais grandes

    e um crucifiBo, tudo em ouro, pesando CC= marcos O que tudo foi arrecadado

    em presen3a dos nossos padres, la(rando-se duas atas do mesmo teor, das quais

    uma fica neste col1gio e outra segue para Roma a ser entregue ao nosso Re(mo

    2eral, dando-se uma c?pia aut'ntica a cada um dos nossos padres /eita nesta

    cidade de S Sebastio do Rio de Janeiro, aos %= dias do m's de no(embro do

    ano de osso Sen6or Jesus 0risto de )*)+ AssinadosF "artins 2on3al(es,

    superior 8Padre "anuel Soares, (isitador 8/rei Juan de Diaz, prior$

    CORREIO DA MANH - SBADO, ) DE MAIO DE 1905

    OS TESOUROS DOS 'ESU(TAS

    *iante do documento, em que se v&em arrolados os bens da companhia, semdissimular o espanto, indagamos do nosso in"ormante+

    H1 tais rique#as e)istiro ainda nos subterrneos do morroI

    H8ertamente e eu e)plico+ Cuando chegou 3s mos do 8onde de Eobadella,omes 5reire de 2ndrade, o decreto de R de novembro de -90, em que *. Jos por in"lu&ncia de seu grande ministro e)pulsara os !esutas de 'ortugal e seusdomnios, ! de h muito que se achavam em lugar seguro os bens da ordem;em obedi&ncia 3 carta rgia de R de novembro, Eobadella "e# cercar o 8olgio,aprisionando os padres e cuidou sem deten$a do con"isco dos seus m7ltiploshaveres; pois bem, tudo quanto se apurou em dinheiro importou apenas naridcula quantia de R.-9/XKK@P

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    S crvel que a riqussima 8omunidade, proprietria de vastos terrenos,engenhos, casas de comrcio, escravos, etc., nada mais possusse em moedasque aquela insigni"icante quantiaI

    1 as valiosas bai)elas de prata, e os ob!etos de culto, tais como clices, turbulos,lmpadas, casti$ais e as al"aias de seda e damasco bordadas a ouroI

    Cue "im levou tudo istoI

    omes 5reire 8onseguiu apenas seqestrar os bens imveis e os escravos, eesta parte de sua "ortuna montava a alguns milhares de contos de ris; quantoao resto, ele prprio declara, em carta dirigida ao rei em data de de de#embrode -90+

    US certo que, sabendo os padres que em mais ou menos tempo havia de chegara tormenta, puseram o seu tesouro em salvamento, pelo que se lhes noencontrou mais dinheiro >eles di#em ser quase todo alheioA que R.-9/XKK@ deque se vo sustentando como se me decretou.U

    H%as, passada a UtormentaU, no teriam eles arran!ado meios de retirar ostesouros ocultos, condu#indo=os para 6oma, sede capital da OrdemI

    H1sta ob!e$o tem sido "ormulada centenas de ve#es e centenas de ve#es

    destruda como uma bolha de sabo.

    O morro do 8astelo "icou sempre, depois da sada dos !esutas, sob a guardavigilante das autoridades civis portuguesas e depois brasileiras; alm disso, noera "cil empresa penetrar nos subterrneos e de l retirar arcas e co"respe!ados de ouro e pedrarias sem provocar suspeitas, ocultamente, sem o menorarrudo.

    H6ealmente...

    HOs tesouros l esto ainda, nas vastas salas subterrneas, at que moshbeis, trabalhando com prud&ncia e mtodo, os vo arrancar do seculardepsito.

    'arece que o momento chegado; necessrio, entretanto, no perder tempocom escava$4es in7teis; preciso atacar o morro com seguran$a, de acordocom os documentos e)istentes e que di#em respeito 3 topogra"ia dossubterrneos.

    1stes, os que condu#em ao lugar do tesouro, so em n7mero de quatro,construdos na dire$o dos pontos cardeais.

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    (o ter a um vasto salo de "orma quadrada e abobadado, que por sua ve# temcomunica$o com o 8olgio por meio de escadas em espiral abertas no interiordas paredes.

    1sta sala "ica inscrita a um largo "osso onde vo ter, antes de a elas chegar, asquatro galerias.

    *uas grossas paredes dividem em quatro compartimentos a re"erida sala.

    1m um deles acham=se os co"res de moedas de ouro e prata, os co"res de ouroem p e, as imagens de :. ncio, :. :ebastio, :. Jos e da (irgem, todas deouro maci$o e grande quantidade de ob!etos do culto catlico.

    1m outra diviso se encontram as arcas com diamantes e pedras preciosas enumerosas barras de ouro.

    2s duas restantes cont&m os instrumentos de suplcio, a riqussima bibliotecados padres, as al"aias e uma moblia completa de mrmore, assim como todosos papis re"erentes 3 Ordem no Erasil e que se acham guardados em grandesarmrios de "erro.

    HS e)traordinrio.

    HS verdade, meu amigo, e quem "or vivo h de ver; contanto que abandonem ocaminho errado e tratem de penetrar no subterrneo do alto para bai)o, o queno ser di"cil visto a e)ist&ncias das escadas em espiral que condu#em aogrande salo que lhes descrevi. 1 ningum est em melhores condi$4es dedescobrir o que est l dentro que o prprio %arqu&s de 'ombal, que pretendiacon"iscar todas as rique#as da 8ompanhia.

    HCuemI O %arqu&s de 'ombalI e)clamamos sem compreender.

    H:im, senhor; o %arqu&s de 'ombal ou o *r. 5rontin, que so uma e a mesmapessoa.

    H1st a "a#er per"dia, heinI

    1 rimos a bom rir.

    HNo grace!e, meu amigo, protestou, severo, o :r. 8oelho; o que lhe digo no nenhuma pilhria; o *r. 5rontin o %arqu&s de 'ombal; ou melhor, aquele

    encarna atualmente a alma do ministro de *. JosP

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    Qamos desmaiar; o :r. 8oelho bate=nos amigavelmente ao ombro e promete=nosdar os motivos por que com tanta seguran$a a"irma que o reconstrutor deLisboa anda entre ns, metido na pele do construtor da 2venida 8entral.

    1 prestamos ouvido atento entre pasmados e incrdulos.

    2manh contaremos aos leitores esta bi#arra e maravilhosa histria.

    CORREIO DA MANH - DOMIN#O, * DE MAIO DE 1905

    OS TESOUROS DOS 'ESU(TAS

    O :r. 5rontin o %arqu&s de 'ombal na segunda encarna$oP

    1sta "rase, dita num tom "irme e catedrtico, na meia=lu# de uma sala"rancamente iluminada, deu=nos cala"rios 3 alma, !, de resto, habituada 3ssurpreendentes coisas de que tem sido prdigo este encantado morro do8astelo.

    %as o :r. 8oelho e)plica=nos em poucas palavras o motivo do seu acerto.

    Ou$amo=lo+

    Cuando, h anos passados, ocupava a diretoria da 1strada de 5erro 8entral, oatual construtor da 2venida sentiu=se seriamente impressionado com osdesastres consecutivos que ali tinham lugar; abatia=o uma neurasteniapro"unda, qui$ uma ntima descon"ian$a das suas habilita$4es tcnicas.

    HCue diaboP 1u emprego todos os meios, dou todas as provid&ncias para evitardesastres e sempre esta danada cbula, e)clamava :. 1)a., amarrotando a barbaruiva.

    %as os desastres continuavam e o povo insistia em chamar a 8entral, pelasiniciais+ Estrada de /erro 0a(eira de Gurro.

    8erta ve#, lamentava=se o :r. 5rontin, numa roda de amigos, da ettaturaque operseguia, quando um dos circunstantes, notvel engenheiro, sugeriu=lhe umaidia.

    HSeu5rotin, eu lhe darei a e)plica$o de tudo+ venha comigo a uma sesso... O:r. 5rotin sorriu, incrdulo.

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    %as o amigo insistiu; que no "a#ia mal e)perimentar, era sempre umatentativa, que diaboP

    1n"im, o ilustre engenheiro decidiu=se; "oram combinados dia e hora e a sesso

    reali#ou=se em uma casa da 6ua *. 'oli)ena, em Eota"ogo.

    O medium, um conhecido !ornalista vidente, de culos e barbas negras, invocouo esprito do (isconde de %au, "undador das estradas de "erro no Erasil, eeste, apresentando=se, teve esta "rase+

    HCue queres tu, 'ombalI

    O :r. 5rontin "icou surpreso e come$ou a empalidecer.

    1m torno, os circunstantes no dissimulavam o espanto.

    H'ombalI 'or que 'ombalI

    Nova invoca$o "oi "eita; e o esprito, ! desta ve# irritado, escreveu pela mo domedium+

    HOra, 'ombal, no me amoleP

    1ra baldado insistir; ou o esprito estava enganado ou era algum bre!eiro >que lpor cima tambm os hA que queria "a#er esprito.

    'elo sim pelo no, "oi chamado *. Jos para deslindar aquele embrulho.

    O mo"ino monarca apresentou=se sem demora, tratando o :r. 5rotin pelo nomede seu dominador ministro.

    O medium pediu=lhe e)plica$4es; e *. Jos, sem se "a#er rogado, declarou quee"etivamente o 8onde de Oeiras encarnara no diretor da 8entral e que estavana terra a e)piar as passadas culpas; que os desastres o haviam de perseguir portoda a vida e que assim como :ebastio Jos reconstrura Lisboa, assim tambm2ndr ustavo seria o encarregado de reconstruir o 6io de Janeiro.

    2 propsito do subterrneo do 8astelo nada disse o esprito; mas "cil concluirque, tendo sido 'ombal o predestinado a tornar e"etiva a e)pulso dos !esutase a con"iscar=lhes os bens, era !ustssimo que, na segunda encarna$o, reparasseo mal, descobrindo os seus tesouros ocultos e distribuindo=os com os pobres.

    1ra esmagadora a concluso; realmente a carta rgia de R de novembro de -90no podia "icar sem conseq&ncia nos "astos da Bumanidade.

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    1 h de ter l pelo 8astelo mais pessoal daquela poca; concluiu o :r. 8oelho.

    HCuem nos poder garantir que o engenheiro 'edro *utra no o 8onde de

    EobadellaI

    Os "atos no=lo diro.

    DDD

    8ontinuaremos amanh a narrativa da nossa entrevista com o :r. 8oelho e dose)traordinrios casos que se cont&m nos seus velhssimos papis.

    'or ho!e, in"ormemos aos leitores do estado da galeria atualmente e)plorada.

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    OS TESOUROS DOS 'ESU(TAS UMA NARRATI!A DE AMOR

    O !ELHO C+DICE

    1ntre os preciosos documentos pertencentes ao nosso precioso in"ormante, ede cu!o conte7do temos transmitido aos leitores a parte de que ele no "a#absoluto segredo, ressaltam algumas narrativas da poca, sobre casos de que"oram teatro os subterrneos do morro do 8astelo, narrativas estas que, peloseu requintado sabor romntico, bem merecem a aten$o do p7blico carioca,atualmente absorvido em conhecer nos mnimos detalhes a histria daquelapoca legendria.

    O grande %artius, cu!os trabalhos sobre a nossa nature#a e sobre a etnogra"iasul=americana merecem o aplauso dos institutos sbios de todo o mundo, "a#

    notar que no Erasil as lendas sobre tesouros ocultos substituam as dos sombrioscastelos medievos que so o encanto dos povos ribeirinhos do *an7bio e, sobreos quais grandes g&nios da arte t&m bordado obras de um pichoso lavor estticoem todos os moldes da "antasia humana, se!a a m7sica, a pintura, a poesia ou oromance.

    Gma tradi$o velhssima tem alimentado entre ns no esprito do povo a idiada e)ist&ncia de tesouros enterrados, dormindo h sculos sob pesadas paredesde monastrios, resistindo 3 arg7cia de olhares perscrutadores e acirrando a

    curiosidade e a cobi$a de seguidas gera$4es.

    2lgo de real e)iste certamente em meio 3s e)agera$4es da lenda; documentosantigos "alam dessas rique#as e indicam mesmo, com relativa preciso, ospontos em que se acham elas ocultas.

    2 recente descoberta de galerias subterrneas no morro do 8astelo vem maisuma ve# provar 3 evid&ncia no ser de todo destituda de "undamento a cren$aque, de h sculos, vem alimentando a imaginativa popular.

    'rendendo=se por um la$o natural 3 histria das rique#as amontoadas, apareceaqui e ali um per"il "eminino, um vago per"ume de carne mo$a, o ro$agar"ru"ruante de uma saia de mulher que vem dar aos racontos a nota romnticado eterno feminino, indispensvel ao interesse de uma lenda que se pre#a...

    'ois o nosso morro do 8astelo neste ponto tambm nada "ica a dever aoscastelos "eudais da dade %dia.

    1m meio 3 papelada arcaica que revolvemos em busca de in"orma$4es sobre o

    palpitante assunto, "omos encontrar a histria de uma condessa "lorentina

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    condu#ida para o Erasil num bergantim e aqui recolhida ao claustro do 8asteloaos tempos da invaso de *uclerc.

    2 este "ato ! aludimos de passagem em um dos nossos artigos e agora vamos

    dar ao leitor a sua narrativa completa.

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    *. ar$a

    Ou

    O que se passou em meados do s1culo H.###,

    nos subterrneos dos padres da

    0ompan6ia de Jesus,

    na cidade de S Sebastio do

    Rio de Janeiro, a mui 6er?ica,

    por ocasio da primeira in(aso dos franceses

    a mando de 0lerc

    8omo v&em, o ttulo se alonga num enorme subttulo, e, de acordo com a

    conveni&ncia do !ornal, ns iremos publicando o vetusto palimpsesto encimadounicamente pela primeira parte+ *. ar$a H elegante alcunha da estranhaherona que o velho cronicou.

    CORREIO DA MANH - TER$A-FEIRA, 9 DE MAIO DE 1905

    O TESOURO DOS 'ESU(TAS

    UM CASO DE AMOR

    8on"orme ontem prometemos ao leitor, iniciamos ho!e a publica$o dainteressante narrativa por ns encontrada entre vetustos papis re"erentes 3histria dos !esutas do morro do 8astelo.

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    H'orventura todos os dias esperas on$alves para te recolherI

    HNo, sinh dona.

    2 preta velha, respondendo, ia arrumando cuidadosamente os bilros sobre aalmo"ada das rendas. 1, assim que acabou, ergueu=se com di"iculdade doassento raso em que estava, e tirou o len$o de 2lcoba$a, que, em coi"a, lhecobria a cabe$a.

    2ntes, porm, de tomar a ben$o respeitosa, a escrava aventurou aindaalgumas palavras+

    H:inh dona soube que ho!e entrou no 6io a "rota do reinoI

    H:oube... e por qu&I indagou pressurosa a senhora.

    H

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    1ra um homem alto, alongado, de "ormas "inas. Gm tanto obeso !, a suaobesidade discrepava lamentavelmente do seu todo aristocrtico. Nos seusolhos a#uis, ora indagadores, ora morti$os e apagados, 3s ve#es penetrantes,havia um inteiro arsenal de anlise dMalmas.

    :e outro indcio no houvesse, este bastava para caracteri#ar o religioso. 1ra!esuta, e pro"essor tambm,Ho que se adivinhava na convic$o interior airradiar=lhe pela "isionomia.

    8omo no houvesse chovido e ele limpasse das manchas pega!osas de barroumedecido, bem parecia que as havia apanhado ao atravessar um lugarlamacento e 7mido.

    1 o cheiro de terra que, 3 sua entrada, logo recendeu pela sala, dava a supor

    que viesse por caminho subterrneo, guiado pela lu# da lanterna.

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    >0ontinua3oAO padre seguiu=a com os olhos. 1 logo que ela voltou, encheu os dois copos,provou o seu, di#endo+

    H1sse miservel ! veioI

    HNo, respondeu 2lda.

    H

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    esperan$as em 8oimbra; mas, de uma hora para outra, trans"ormou=se; e,esquecido dos livros, "oi viver indignamente pelas sar!etas de Lisboa, at que...

    H1u sei, 2lda, sei; mas a popula$o murmura, e no tarda que os seus

    murm7rios cheguem aos ouvidos da 8orte.

    Os dois misturaram o "ranc&s e o italiano, e uma "rase portuguesa querepontava, sonori#ava mais o dilogo.

    H:abes que temos novas do 6einoI perguntou o padre.

    HEoasI inquiriu a mo$a.

    HEoas e ms.

    HCuais soI

    H1l=6ei "oi aclamado.

    HS velho. 1 da guerraI

    HCue guerraI espantou=se o religioso.

    H2 da coroa da 1spanha, oraP

    H1m que te interessa elaI

    H%uito.

    H'retendesI

    HNo pretendo, mas...

    HOuve, 2lda.

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    H1u te e)plico com vagar, disse o padre sentando=se. Olha, na "rota que chegouho!e veio para ns um aviso. :ire, Lus (, vai proteger uma e)pedi$o que searma contra esta cidade. :er "orte e trar grande cpia de homens para odesembarque.

    HJ estava armadaI indagou com curiosidade a mo$a. O !esuta, comoestranhando a pergunta, esteve algum tempo analisando a "isionomia damulher. 1la tinha um ar ing&nuo, e respirava uma enorme "ranque#a. O padre,desesperado do es"or$o que "i#era para penetrar=lhe no ntimo, respondeu+

    H2inda no, mas se aprestava. Os capites ! estavam levantados e ontendente das 5inan$as tratava com o %inistro da 5rota os navios reais a ceder.

    HS certo que se diri!a pMr aqui, JeanI

    HS seguro o aviso, respondeu sem re"letir o padre.

    :entindo que o segredo, pouco a pouco, se lhe escapava arrancado pela damados seus pensamentos, o padre resolveu "alar pouco, tomando precau$4es.

    H2ldaP

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    HNo h admirar. S do teu saber que tenho grandes conhecimentos em 5ran$a,e por isso convinha que soubesse quem era o comandante, para evitarencontr=lo. sso em meu bem, e no teu... 2ssim no cr&s, %arqu&s de5ressenecI

    O !esuta, assim chamado pelo seu antigo nome do sculo, estremeceu nacadeira. Eem depressa recobrando a primitiva calma, "oi ao chamado dapergunta+

    HEo"P Cue tens ra#o, 8ondessa 2lda de Lambertini.

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    H:im... uma carta. Os nossos irmos de 5ran$a pretendem que ele recebeuuma carta de 'ernambuco ou daqui; e que, depois dela, provocou a e)pedi$o.

    H2hP 8ompreendo. Cueres di#er que a carta "oi minha, no I

    HS...

    HOra, ora, %arqu&s, gargalhou a condessa. Nem pareces o "idalgo de quem%me. de %ainte me di#ia ter tanto esprito como o "amoso cura de %eudonPNem pareces o !esuta que em poucos anos preencheu os quatro di"icultososvotos da OrdemP 'ois numa terra em que abundam aventureiros de toda acasta, vingativos, sequiosos e d7cteis; pois numa terra dessas, havia de ser eu,uma "raca mulher, a quem a Ordem de Jesus protege Hhavia de ser eu quemchamaria corsrios contra elaI

    2 condessa italiana tinha "ala"o com vrias entona$4es na vo#. 8edo bordava aspalavras de uma t&nue ironia para, depois, "alar com ardor e pai)o. 1m outrasve#es ameigava a vo# com um "orte acento humilde; e quando, de um s !ato,lhe saiu dos lbios a 7ltima "rase, o pranto al!o"rava=lhe as "aces de cetim.

    HNo chores, 2ldaP S meu amor que me "a# assim. 8onheces o quanto ele "orte e imperioso. S um amor in"ernal. 'or ele so"ri, so"ro e so"rerei durante asminhas duas vidas. 'erdoa=me, 2lda.

    Cuando o passado me vem, continuou o !esuta com ternura, quando o passadome vem, no sei que #elos me sobem 3 alma. Cuero penetrar, devassar arcanosdo teu pensamento; e, como a bala que, por ter demasiada "or$a, transmonta epassa alm do alvo, a minha penetra$o me engana, me desvaira. No teu gestomais "amiliar, numa palavra dita a meio, no modo por que bebes o vinho, euve!o trai$4es, trai$4es.

    *e resto, andas sempre triste...

    H1 tu me querias alegre, quando dei)ei a considera$o, a posi$o, o imprio,para viver nesta "eitoria cheia de negros e selvagensI

    H%as, e euI

    HNo o mesmo, Jean; sempre tens considera$o e poder. Ss o respeitadoirmo pro"esso da 8ompanhia de Jesus, enquanto que eu, que tenho o sanguede Louren$o, o %agn"ico, a gentalha deste lugar tem por mim d, piedade...

    H1 te aborreceI

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    H8omo noI como no se h de aborrecer a UconsideradaU condessa, com apiedade da mais n"ima gente da terra todaI

    HOhP 2ldaP...

    H1 por que issoI 'orque bonita mulher de um "uncionrio secundrio, que aabandona e se embriaga.

    1ntretanto, essa bela mulher no o ama, no se casou com ele; e tem por esseindivduo a piedade que envolve tambm os vermes. :up4em=me am=lo, ahPnem sabem...

    H:ossega, 2lda. No v&s que tambm eu desmereci da honra de "reqentar amais bela corte do orbe, e a glria de emular com os 6acine e os 8orneilleI Os

    dois sacri"cios se equivalem, 2lda.

    HOhP Jean. No compares. Ningum se apieda de ti. Ningum se lembrou aindade te pFr doces alcunhas.

    Nesta cidade, sou a 26Y2, a *. 26Y2, como me chegam a chamar"amiliarmente; e quando o povilu p4e alcunhas meigas porque sente muitadesgra$a no alcunhado, Jean.

    H1spera... 2lda. *e volta da misso que vou pregar, voltarei 3 1uropa; e l,ento, sers restabelecida na tua posi$o.

    HNunca mais. Nunca. 2qui en)ovalhei=me.

    O dilogo, depois de impetuoso, tinha, aos poucos, bai)ado de tom, e seguiram=se a estas palavras pequenas "rases e)plicativas, que o clrigo rematou,aconselhando+

    H*orme; sossega; pensa melhor, 2lda.

    H

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    2 condessa, logo que o clrigo saiu, a!oelhou=se ao oratrio e,imperceptivelmente, disse+

    Hra$as a ti, minha Nossa :enhora. ra$asP 1le vem.

    >0ontinuaA

    CORREIO DA MANH - DOMIN#O, 1& DE MAIO DE 1905

    O TESOURO DOS 'ESU(TAS - D #AR$A

    IIOS TESOUROS

    O padre Joo de JouquiZres, irmo pro"esso de quatro votos da 8ompanhia deJesus, antes de penetrar a estreita porta do subterrneo, murmurou em vo#quase imperceptvel algumas palavras 3 escrava, em seguida ao que, tomou oseu rumo, demandando o salo dos captulos secretos.

    J alcan$ava o grande conduto oeste das galerias do 8olgio.

    :eus passos na crasta la!eada ressoavam lugubremente. %archava vagaroso.Gm pensamento tena# e sombrio retardava o seu andar. *e onde em onde

    parava, "a#ia como quem quer voltar; e, aps "reqentes hesita$4es, penetrouna grande galeria em circun"er&ncia. Cuatro salas, esquarteladas, abriam asportas para o grande toro oco que a galeria "ormava.

    Gma das quatro destinava=se aos captulos secretos; as restantes eras as casas="ortes da Ordem.

    O salo dos captulos, embora "ortemente iluminado por um grandealampadrio de prata e uma pro"uso de candelabros, guardava ainda apenumbra caracterstica das salas religiosas.

    2lto e cFncavo, guarnecido de grandes armrios cheios de livros, era um toda asua e)tenso revestido de grossas la!es com as !untas tomadas 3 argamassaromana.

    1studando as constru$4es combalidas da 8idade 1terna, a milcia de 8ristolograra saber a composi$o dos cimentos usados nelas; e nas suas edi"ica$4eseram empregados iguais com pro"ici&ncia e sabedoria.

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    *eu "im 3 sua e)plica$o, com a leitura da ata que lavrara. Lida e assinada pelosdo#e iniciados na %onita :ecreta, o padre reitor anunciou a segunda parte docaptulo.

    1)pFs+

    HB alguns anos, o paulista Eartolomeu Eueno da :ilva, o An6angIera,penetrou no serto dos ndios oianases, e a encontrou minas de ouro "artas ericas. 1 como :ua 'aternidade, o 'adre 'rovincial, me ha!a ordenado receber omais possvel aos 'aulistas nas suas entradas, seguir=lhes as pegadas, resolvidespachar um pregador 3queles brasis.

    Bumildemente, rematou o 6eitor, espero a opinio de (ossas 6ever&ncias.

    'adre %anuel de 2ssun$o, chegado de 'iratininga, achando o alvitre bom,observou.

    H*eve ser quanto antes a partida da misso, porquanto, ao que ouvi em :.'aulo, o "ilho do 2nhangera re7ne meios para continuar a empresa do pai.

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    H(ossa 6ever&ncia pode "a#&=lo, retrucou o 6eitor.

    H:olicito de (ossa 'aternidade dispensa de to gloriosa misso, "e# com do$urao padre.

    H(ossa 6ever&ncia "ar merc& de relatar os embargosI ob!etou o 6eitor.

    H8reio escusado di#&=los, pois que bem so sabidas de (ossa 'aternidade asra#4es do alegado, disse o padre JouquiZres, trocando um olhar de intelig&nciacom o 6eitor.

    H8ontudo (ossa 6ever&ncia deve declar=las 3 casa, padre Joo.

    H*bil de corpo, care$o de "or$as para suportar as agruras do serto. *emais,

    no conhe$o su"icientemente a lngua geral...

    HNo mais (ossa 6ever&ncia o douto sbio que, com os novos elementoscolhidos, corrigia o catecismo do padre NavarroI indagou com ironia o 6eitor.

    :em se dar por achado, o !esuta "ranc&s e)plicou+

    H*e "ato, desde dois anos dedico=me ao estudo acurado das lnguasamericanas, mas da a "alar, a distncia grandeP

    H2 prtica de meses a!udar (ossa 6ever&ncia, ob!etou teimoso o 6eitor.

    >8ontinuaA

    CORREIO DA MANH - SE#UNDA-FEIRA, 15 DE MAIO DE 1905

    OS TESOUROS DOS 'ESU(TAS - D #AR$A

    IIOS TESOUROS>0ontinua3oA

    O padre reitor, velha raposa !esuta, tinha aos poucos anulado todas as ra#4esdo mo$o religioso, que sentindo=se derrotado, se encheu de dio e raiva, at alicontidos, assegurando com "irme#a+

    H:aber (ossa 'aternidade que no irei.

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    Os de# capitulares "icaram atFnitos e plidos. 8onheciam o reitor, a pure#a desua ", a sua inquebrantvel energia.

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    H6elembrai=lhe os termos, padre 6eitor.

    HLerei. :er melhor.

    U... concedo=lhe a gra$a de e)perimentar as grosserias do mundo, enquanto "orpara bem dos interesses da Ordem...U No issoI

    O velho missionrio, logo ao tirar a cpia da carta de sob as vestes, tinha dadocom o tpico; e a preste#a com que o achou dava a entender que muitomeditara sobre ela e a interpretara segundo as suas conveni&ncias.

    O antigo marqu&s percebera argutamente a "inura do superior; mas quis, noentanto, argumentar.

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    1la, a Ordem, vos deu pa#, sossego, abundncia; no contente, vos deu tambmamor.

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    1m seguida recomendou ao padre secretrio+

    H6asgai o ato.

    1 para os capitulares reunidos+

    H

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    'adre Joo conservava=se a distncia, bra$os cru#ados sobre o espaldar dacadeira, na humildade do seu arrependimento; o seu olhar, intenso e vivo,"i)ava=se nas pedrarias espalhadas pelo la!edo.

    1m seu esprito uma ntima revolta "lame!ava; o marqu&s relembrava o seupassado, cheio de nobres e cavalheirescas a$4es; !amais ele se curvara a umaimposi$o ou a uma amea$a.

    5ora sempre um "orte nas lutas de poltica como nas do cora$o.

    1ntretanto agora se haviam dobrado os seus !oelhos numa s7plica e os seuslbios a"eitos ao mando tinham murmurado "rases de perdoP

    1 tudo isso por qu&I

    Gm amor intenso, "atal, dominador, obcecava=lhe a ra#o, apagara=lhe do peitoa chama vvida de um orgulho indomado.

    2 e)pulso seria a perda do poderio, da pa# monstica do colgio, seria talve# aperda de sua vida; nada disso, porm, era de "or$a a abater o nimo do clrigo.

    O que o obrigara 3quela humilha$o, 3 quebra de vaidade de homem, "ora o

    amor, unicamente o amor; "ora o receio de perder, com a roupeta de !esuta, asua 2lda, a sua querida 2lda.

    2 8ompanhia era "orte, era quase onipotente.

    1)pulso dela, vagaria solitrio pelo mundo, e aquela por quem abandonara omundo, entre as paredes do claustro do 8astelo, seria pasto da lubricidade dosoutros.

    'adre Joo "i#era bem; a vingan$a viria depois, cedo ou tarde.

    1 com os bra$os apoiados no espaldar da velha curul, o !esuta "i)ava aspedrarias esparsas, com um sorriso diablico a brincar=lhe nos lbios.

    >0ontinuaA

    CORREIO DA MANH - SBADO, 20 DE MAIO DE 1905

    OS TESOUROS DOS 'ESU(TAS - NO MORRO DO CASTELO

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    A DESCOBERTA DE UMA NO!A #ALERIA

    Ontem, 3 uma hora da madrugada, os trabalhadores sob a dire$o do hbilengenheiro 'edro *utra, encarregados do arrasamento do morro do 8astelo,

    descobriram uma nova galeria, que parece ser a mais importante das tr&s atagora encontradas.

    :egundo as in"orma$4es "idedignas que em dias consecutivos publicamos, deveser esta a galeria mestra, condu#indo 3 vasta sala subterrnea, onde, segundore#am a crFnica e a lenda, esto encerrados os tesouros dos !esutas.

    5oram encontrados no meio do barro lamacento restos carcomidos pela"errugem de instrumentos de suplcio, pregos, correntes, pols, gargalheiras,etc.

    O novo subterrneo, ao que parece, no , como os precedentes, abertosimplesmente a ponteiro no moledo; a sua constru$o "oi mais cuidada eobedeceu aos preceitos da arte de construir compatveis com os progressos dapoca.

    2bre=se a porta que para ele d ingresso ao p de uma velha escada do:eminrio, agora destruda por via do arrasamento do secular edi"cio. Gmaenorme pedra de cantaria obstrua=lhe a entrada; removida esta, penetraram no

    subterrneo o engenheiro *utra e alguns operrios de con"ian$a e logo "icoupatente a importncia da descoberta.

    'essoa que assistiu a este trabalho garantiu=nos ter sido encontrado umpequeno co"re de madeira cintado de "erro, que de pronto chamou a aten$odo *r. *utra o qual resolveu sem demora comunicar ao *r. 5rontin ointeressante achado, guardando sobre o caso o mais completo sigilo.

    'ela leve#a do co"re, parece no conter ele metal, seno documentos da Ordemde Jesus.

    2 nova galeria, que segue a dire$o do 8onvento dos 8apuchinhos, ! este)plorada na e)tenso de de# metros, tendo sido ontem visitada pelos *rs.Lauro %ller, 'aulo de 5rontin,et7lio das Neves, 1mlio Eerla, general :ousa2guiar, 8hagas *ria e vrios engenheiros da avenida, que em seguidapercorreram, em bonde especial, a 2venida 8entral.

    8ontinuaremos amanh a publica$o de *. ar$a, a narrativa que tantointeresse tem despertado e que to intimamente se prende s descobertas dos

    subterrneos do morro do 8astelo.

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    CORREIO DA MANH - DOMIN#O, 21 DE MAIO DE 1905

    NO!AS #ALERIAS UMA !ISITA

    'ouco a pouco vo se desvendando os mistrios das lendas seculares do morrodo 8astelo e a picareta dos trabalhadores vai descobrindo galerias, salassubterrneas, con"irmando o que di#em os roteiros.

    :obre a notcia que demos ontem do aparecimento de uma nova galeria, temosa reti"icar um ponto.

    No se trata de uma galeria e sim de uma sala subterrnea revestida de ti!olos.*esta saem duas galerias+ uma que corre paralela 3 avenida e outra que segue

    em dire$o ao convento dos 8apuchinhos.

    2 primeira est com a abbada descoberta e ainda no est desentulhada.

    O mesmo acontece 3 sala.

    2 outra galeria, onde ontem penetramos gra$as 3 gentile#a do *r. *utra de8arvalho, tem a boca estreita, que come$a a se alargar depois de tr&s metros.*a em diante uma vasta galeria revestida de ti!olos e onde pode andar 3

    vontade o homem mais gordo e alto.

    2inda no est desentulhada e a sessenta metros torna=se nela di"cil arespira$o.

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    NO!AS #ALERIAS

    Os trabalhos de desobstru$o das novas galerias descobertas no sbado,

    suspensos por motivo do descanso dominical recome$aram ontem sob adire$o do *r. *utra de 8arvalho.

    2 galeria que seguia sentido ascendente do morro "icou limpa at a distncia desessenta metros, e a bi"urca=se em duas dire$4es.

    O *r. 'aulo 5rotin, em visita que se "e#, deu vrias instru$4es para este servi$o.

    5oram instaladas lmpadas eltricas na parte desobstruda devendo o servi$oprosseguir sem interrup$o.

    2lm daquele engenheiro visitou as galerias o *r. Lauro %ller, %inistro da(ia$o.

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    2 primeira interrompe o seu tra!eto por uma la!e, presumindo=se que se!a umaporta "alsa, o que em breve saberemos com o prosseguimento das e)plora$4es.

    8omo se v&, o morro do 8astelo ainda por muito tempo "ornecer aos curiososnovas notcias.

    *. ar$a

    2 (ingan$a do Jesuta

    *emandando os ndios oianases, cu!as mulheres, segundo a "abulosa narra$odoAn6angIera, tra#iam como en"eites palhetas de ouro virgem, o !esuta partedo 8olgio de :. 'aulo. (oga rio abai)o. 2 montaria desli#a mansamente aosabor da corrente.

    Cuatro cara!s, ainda dos que vieram meninos no resgate de 'ires de 8ampos,

    remam vagarosos e sem es"or$o. 2 velocidade das guas arrasta a toscaembarca$o; e bastante aproveitar=lhe o mpeto para navegar clere.

    T popa, o padre e o coad!utor se estreitam. 'equenos "ardos de alimentosrepousam aos seus ps e tambm na proa; pouca coisa... *eus dar o restopara a viagem todaP...

    O antigo marqu&s olha as margens.

    2qui, uma praia#ita alva, lmpida, ondula em graciosa curva. 2 canoa a descer como um lpis a tra$=la.

    *e repente, dois pavorosos blocos negros de pedra avan$am pelas duasmargens. O rio se adelga$a e a corrente#a aumenta. :eguem=se barrancos dedois lados.

    O "io dMgua escorre entre dois diques abruptos. 2 mata vem at 3s margens. 2s7ltimas rvores se inclinam e as lianas pendentes rasam 3 super"cie prateada,oscilando ao impulso da gua que corre.

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    8hega a noite. Os quatro remeiros, em lngua inditica onde se misturam vagassonncias portuguesas, entoam uma melopia nostlgica. Os padres re#am; e asrvores da margem a que se dirigem, estremecem e "ar"alham ao sopro dabrisa.

    2bicados em lugar propcio, armam uma tenda passageira; e passada a sombrianoite, povoada de g&nios e duendes, seguem caminho.

    2ssim dias e dias+ e 3s ve#es a chuva, molstia, o cansa$o retardam a rota semtermo preciso. %ais do que uma noite, demoram=se no ligeiro acampamento.

    Os ndios pescam e ca$am pelos arredores com as suas primitivas armas. No hmosquetes, nem espingardas. Gma misso no as usa. 8onseguem dessamaneira re"a#er as escassas provis4es. 'ouco se "alam. 8ada qual, ante a

    augusta presen$a do deserto, recolhe=se dentro de sua alma.

    'adre Joo medita e relembra o passado.

    6ecorda sua mocidade. Cue grande#a no amea$ava elaP 2 chegada em 'aris...a sua primeira tragdia representadaP...

    Os elogios e as sauda$4es que recebeu prometiam=lhe um destino seguro, "eli#e alto.

    *epois encontrou a condessa 2lda, esposa do velho embai)ador de 5loren$a, o8onde 6u""o de Lambertini. 1ra uma maravilha de mocidade, de bele#a e degra$a.

    5oi em (ersailles que a viu pela primeira ve# e logo se apai)onou. *uclerc, poresse tempo, chegou tambm 3 corte. O almirante

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    O !esuta pro"esso continuava agitando nas recorda$4es.

    Lembrava=se agora da entrevista que tivera com o eral, em 6oma.

    HCue vos "e# entrar para a Ordem, %arqu&sI perguntou=lhe o superior da8ompanhia.

    HO amor, 1min&ncia. O amor...

    H*esanimaste deleI

    H:im; sou padre.

    1 em seguida relatou=lhe todo o seu so"rimento, a sua ang7stia e o seudesespero. *escreveu=lhe o nome, a posi$o e a bele#a do ob!eto do seu amor.

    O eral ouviu complacentemente a sua narra$o e, ao retirar=se ele, lhe disse+

    H(ossa 6ever&ncia vai para Lisboa. 1sperar e ver ento o quanto pode a8ompanhia.

    Na capital do reino luso esperou. *entro de um ano a condessa chegava em um

    navio da 8ompanhia, que a resgatara aos piratas de 2rgel, dos quais "oraprisioneira na embarca$o a cu!o bordo voltara de 5ran$a em busca de suaterra. 2 tripula$o trucidada e passageiros tambm, s ela escapara cativa.

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    pelos tempos em "ora, "icaram marcando nos valedos a grande#a do seues"or$o. 2pagaram=se.

    O !esuta estava em "rente a uma dessas. 1ra pequena+ quator#e paulistas e

    alguns ndios e negros.

    H'ois no, irmo, retrucou o padre ao bandeirante, vou em busca de almaspara o purgatrio. *e que vos admiraisI

    H'adre, as cidades esto cheias de almas precisadas de vosso socorro. *ei)ai=nos os sert4es; quando eles se tornarem vilas, ento sim, padre, obrai.

    2 lgica do !esuta no "oi su"iciente para demover aqueles rudes. *e manh, nodia seguinte, logo ao romper dMalva o che"e veio ao padre+

    H (oltai, reverendo, voltai sobre os vossos passos. 1 a intima$o "eita a berrospelo a!untamento todo "oi to peremptria e enrgica que o !esuta no diaseguinte retomava o caminho pelo qual !ornadeara quatro longos meses.

    2 volta durou mais da metade que a ida. 5oi penosa, mas, de es"or$o emes"or$o, a misso chegou a"inal ao ponto de partida.

    O alvoro$o da invaso do 6io enchia a vila. 2pesar de ! se ter dado h meses, as

    notcias no eram seguras.

    'adre JouquiZres recolheu=se ao 8olgio, onde dias depois recebeu um dosestudantes do 8olgio do 6io que tomara parte nos encontros.

    HOnde "oi o desembarqueI indagava um outro !esuta ao rapa#.

    HNa uaratiba. %archou oito dias; e eu me gabo de haver sido um dosprimeiros a atac=lo.

    HOndeI

    HNa lagoa da :entinela, com Eento do 2maral urgel. S bravo o Eento, meuspadresP 8om dois deles no haveria "ranceses capa#es.

    H1 no o combatestes maisI interrogou o padre JouquiZres.

    HO "ranc&s desceu por %ata=8avalos, "rei %eneses o atacou no *esterro e ns,com o Eento, esperamo=lo pelas ruas...

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    HNo se deteve *uclerc em parte algumaI continuou a interrogar o !esuta"ranc&s.

    HCual, padre, vinha que nem um raio. Na 6ua dM2!uda parou...

    H1m que lugarI

    HNuma casa, onde entrou...

    HCue casaI

    HNo me recorda agora...

    1spere... 5oi na casa do 2lmo)ari"e 2lberna#, casa essa que "oi destruda por

    uma bala do 8astelo.

    H1 o almo)ari"e e a mulher onde paramI

    H2lberna# morreu na e)ploso do paiol da 2l"ndega e...

    H1 a mulherI

    H2 mulher "oi morar na 6ua do (a# (i$oso, pr)imo 3 casa do tenente omes

    da :ilva, onde ho!e habita *uclerc.

    O antigo marqu&s "e#=se plido, depois rubro. 2 custo continha a clera.8ompreendeu o modo por que os dois lhe ludibriavam; e antes que os seusinterlocutores percebessem o seu estado dMalma, disse pausadamente+

    H2manh irei para :. :ebastio. 'adre, "a#ei preparar as malas para amadrugada.

    CORREIO DA MANH - QUINTA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 1905

    2 aten$o p7blica acha=se agora, mais que nunca, presa 3 descoberta dasgalerias do morro do 8astelo; as e)plora$4es criteriosamente iniciadas e levadasa e"eito pelo *r. 'edro *utra de 8arvalho t&m dado os melhores resultados e !se vai a"irmando no esprito dos mais cpticos a cren$a de que no bo!o daimensa mole de argila alguma coisa e)iste de precioso, seno os to "aladosapstolos de ouro, pelo menos armas do tempo, ob!etos de culto, mveis,instrumentos de suplcio, todo um belc6iorsecular, que poder "ornecer timos

    instrumentos para a reconstitui$o de uma poca histrica.

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    2 terceira galeria descoberta, ! conhecida por galeria dos capuc6in6os, este)plorada numa e)tenso de oitenta e tantos metros.

    (isitamo=la ontem, acompanhados do amvel engenheiro que dirige os

    trabalhos.

    O ponto inicial uma pequena sala de "orma trape#oidal, de teto em abbadade ber$o; esta sala comunica=se com uma outra galeria secundria, ao queparece, destinada 3 priso.

    2 passagem da sala para esta galeria "a#=se por um pequeno ori"cio que mal dpassagem a um homem.

    2 galeria principal estende=se em linha reta num percurso de sessenta metros;

    a desvia=se para a direita, estando, porm, esta deriva$o obstruda.

    No ponto !usto em que termina a parte reta da galeria, e)iste uma grande pedraque se sup4e ser uma porta dis"ar$ada; esta pedra ia ser ho!e removida.

    Os trabalhos t&m sido e)ecutados com alguma morosidade; a atmos"erasubterrnea aba"ada, quentssima.

    *i"icilmente pode um homem trabalhar, pela e)igidade do espa$o.

    O terreno a pega!oso, denotando a presen$a de hidrato de alumnio.

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    O !esuta chegara ao 6io de Janeiro com a alma despeda$ada pelo ci7me, numa

    sede horrvel de vingan$a.

    2 certe#a de que *uclerc, o e)=amante de *ona ar$a, voltara de novo areconquistar o seu amor perdido, acordava=lhe no cora$o todos ossentimentos maus que h tantos anos dormiam recalcados pelo seu voto dehumildade.

    *uclerc, derrotado pelas "or$as de Eento do 2maral urgel, correra sem perdade tempo a procurar o ob!eto de seu amor, cu!a posse "ora o motivo que o"i#era pedir o comando da aventurosa e)pedi$o.

    O seu encontro com a condessa "oi um misto de ternura e reproches, de quei)ase s7plicas de perdo.

    'or ela longos anos de so"rimento passara na 8orte de 5ran$a; nem a luta acesada poltica, nem os saraus aristocrticos de (ersailles conseguiram tra#er ao seuesprito atribulado um pouco de alvio e de con"orto.

    1 era to longe a 2mrica...

    1ntretanto, o amor lhe dera "or$as para tentar a perigosa empresa, a e)pedi$oque se preparava contra o Erasil era um magn"ico prete)to para tornar a ver asua querida *ona ar$a e s7plice, aos seus ps, mendigar=lhe um sorriso, umapalavra de meiguice e de con"orto.

    1 assim, andara pelas secretarias, a ba!ular os poderosos, at conseguir o idealsonhado H o comando da e)pedi$o conquistadora.

    *. ar$a ouvia=o orgulhosa, com um sorriso brando de condescend&ncia noslbios rubros e sensuais.

    O seu esprito de mulher go#ava o martrio daquele homem poderoso e valenteque atravessara os mares, que a"rontava os perigos de batalhas sangrentas, spor v&=la, s por obter um olhar dos seus olhos, uma palavra meiga dos seuslbios.

    1la tambm o amava.

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    *urante toda a sua vida romanesca, passada entre as paredes "rias do convento,muitas ve#es a sua alma se desprendia, sonhadora, a corpori#ar a esbelta "igurade *uclerc, o "orte mesti$o por quem pulsaram tantos cora$4es "emininos.

    %as agora o seu esprito satis"eito embalava=se nas palavras cariciosas do seue)=amante e ela nem ousara "alar, de modo que se escapasse dos seus lbiosuma palavra que trasse o seu amor.

    1ra=lhe bem mais agradvel escutar aquela m7sica sonora de "rases ternas,como se ela lhe "osse de todo indi"erente, como se "osse a banalidade estulta detodos os dias.

    1 *ona ar$a dissimulava a sua imensa como$o sorrindo complacente, compiedade quase.

    1ntretanto *uclerc, na meia lu# da velha casa da 6ua da 2!uda, tinha no olharchispas ardentes, "ulgura$4es indescritveis de uma velha pai)o sopitada e queagora e)plodia com toda a "7ria, com todo o imprio de sua grande#a.

    HJ no me amas, *ona ar$aI

    H1 por que noI

    H'ois se h tanta "rie#a nos teus belos olhos, se nem uma palavra me di#es queme d& "or$as ao nimo abatido...

    H1nganas=te; sou a mesma.

    1stas palavras "oram ditas num tom de vo# glacial, sem uma vibra$o, sem umcolorido que denotasse partirem de uma alma sinceramente amorosa.

    *uclerc conservou=se por um instante calado e pensativo. :7bito, como sealguma "or$a estranha o abalasse todo, ergueu=se de mos crispadas, olhos emchamas, terrvel, quase sublime.

    H%ulher in"ame e prostituda, e)clamou, tu no compreendes a grande#a deuma pai)o veemente e alucinadaP Nos bra$os do padre perdeste os 7ltimosvislumbres do pudor; cha"urdaste=te nos vcios e na dissolu$o; s indigna demimP (ai=teP 1, empurrando=a brutalmente, alucinadamente, o "ranc&s voltou ascostas, enquanto *. ar$a caa por terra, tr&mula, branca, da brancuraimaculada de um lrio que um tu"o despeda$asse.

    %as o velho cavalheirismo gaul&s despertara em tempo na alma de *uclerc.

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    (oltou=se, os bra$os cru#ados sobre o peito.

    *ona ar$a estava a!oelhada, as mos postas numa s7plica de perdo; dos seusnegros olhos romnticos, duas grossas lgrimas rolaram sobre a "ace alvssima

    como duas prolas lquidas sobre as ptalas de uma rosa.

    O colar ar"ava=lhe, o"egante, "a#endo oscilar as rendas do corpete.

    1ra a "igura humani#ada da %adona em toda a sua bele#a mstica, temperadade um estranho sabor de pecadora vol7pia.

    1 os seus lbios brancos e tr&mulos murmuravam apai)onadamente+

    H2mo=te, *uclerc.

    O "ranc&s tomou=a nos bra$os carinhosamente, como a uma crian$a, os seuslbios apro)imaram=se como que atrados por uma "or$a oculta e dominadora eum grande bei!o apai)onado e l7brico soou cristalino e sonoro, selando areconcilia$o.

    >0ontinuaA

    CORREIO DA MANH - SBADO, 2* DE MAIO DE 1905

    A NO!A #ALERIA

    RESSENTIMENTOS

    O CRUCIFIXO DE OURO

    O bocado no para quem o... encontra.

    *ia a dia se vai tornando mais interessante este caso dos subterrneos do8astelo, que veio tra#er 3 banalidade chata de nossa vida burguesa uma notaestranha de aventura romanesca, "a#endo vibrar o esprito popular que temalgo de "eminino pela curiosidade com que espreita pela "echadura de todas ascasas, na nsia de tudo saber e penetrar, at os 7ltimos detalhes.

    Ningum imaginaria a princpio que esse "ato corriqueiro, que se chama emengenharia um movimento de terras, tomasse em pouco tempo as propor$4ese)traordinrias de uma e)pedi$o de Jaso, de uma viagem do 8ndido ao pas

    do 1ldorado.

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    'ara alguns velhos, revolvedores da papelada secular, tra$as de arquivos ebibliotecas, o morro do 8astelo sempre "oi, porm, uma cai)a impenetrvel desegredos, um co"re de surpresas para onde os seus olhos perscrutadores sevolviam curiosos, na esperan$a de advinhar=lhe o conte7do do bo!o.

    O engenheiro *utra pronunciou o S1samo abre-tenaquela "urna de 2li Eab; asua picareta demolidora "oi a varinha mgica que tirou o encanto secular domorro, despeda$ando o modelo resistente, abatendo com "ragor grandes molesde granito, levando a eletricidade irreverente ao soturno mbito dossubterrneos, onde a vo# humana ecoa ho!e, aps tr&s sculos de sil&ncio e pa#,com o tom diablico de pro"ana$o que teria a m7sica de Uca^e=_al^U nascatacumbas de 6oma.

    *evem tremer no "undo da cova as ossadas dos !esutas que solaparam a

    montanha e ho!e a sentem pro"anada pelo progresso iconoclasta que dei)a emsua passagem o cheiro acre do acetileno ou a claridade ba$a das lmpadaseltricas.

    No intuito muito nosso de servir ao p7blico, no temos poupado es"or$os paratra#&=lo a par de quanto de novo aparece naquele saco de coisas curiosas einteressantes.

    Ts nossas notas anteriores temos a acrescentar mais as seguintes.

    Os trabalhos, gra$as aos es"or$os do incansvel engenheiro *utra, voadiantadssimos.

    2rrebentada a dinamite a larga e "ortssima parede que obstrua a principalentrada do subterrneo, "oi ele percorrido numa e)tenso de nove metros esessenta centmetros; a continuava a galeria em plano superior, numadi"eren$a de nvel de um metro e meio.

    Neste ponto era grande a quantidade de entulhos que interceptava a passagem+retirado este, "oram cavados alguns degraus e a e)plora$o continuou em linhareta num percurso de K/ metros. *a parte uma deriva$o para a direita, !percorrida em -R metros e meio de sua e)tenso.

    O ramo principal continua, porm, contando=se R metros at a parede "inal queparece, entretanto, dis"ar$ar a passagem para diante.

    No bra$o secundrio a que nos re"erimos h um "ato interessantssimo a notar+um pequeno trecho do solo, a terra que o constitui di"erente da vi#inha,

    parecendo ter sido ali colocada e socada.

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    Eatendo=a "ortemente com o p, ouve=se um som oco e aba"ado que "a#imaginar com sobe!a ra#o e)istir embai)o um compartimento va#io ou... cheiode apstolos.

    8omo quer que se!a, esse "ato muito impressionou os *rs. 5rontin, et7lio dasNeves, Eerla e alguns "rades capuchinhos que ontem visitaram o subterrneo.

    Bo!e vai ser desvendado o segredo e pra#a aos cus no se!a aquilo um contodo vigrio, diga=se, do !esuta.

    ota 4 margem+ o cruci"i)o de ouro, encontrado nas escava$4es, est em poderdo presidente da 6ep7blica; :. 1)a. mostrou dese!o de possu=lo para mascotedo seu "im de governo e por intermdio do *r. 5rontin conseguiu que o *r.*utra abrisse mo do estimado ob!eto.

    CORREIO DA MANH - DOMIN#O, 28 DE MAIO DE 1905

    O CRUCIFIXO DE OURO E O CANDIEIRO DE FERRO

    O :r. 6odrigues 2lves, logo ao saber do encontro do cruci"i)o de ouro, numa dasgalerias do morro do 8astelo, "oi pronunciando o venha a ns e chamando aospeitos o ob!eto achado pelo *r. *utra. 'or seu lado, o *r. 5rontin, que para

    estas coisas no mole, "oi se apossando do candieiro de "erro, encontrado nasala abobadada.

    2 seguirem as coisas, para o "uturo, o mesmo rumo, e dado o caso de aparecero :. ncio de Loiola ou qualquer dos apstolos, claro est que aqueles doissenhores se !ulgaro com o direito de carreg=los.

    Cue isso torto como qualquer das galerias no pode haver a menor d7vida+tudo o que ali dentro possa estar guardado e que na opinio do :r. Lo Juniusrepresenta rique#as "abulosas, pertence de direito ao povo, 7nico soberano Hem doutrina e em imagem de retrica, verdade.

    Cualquer cidado tem tanto direito ao cruci"i)o e ao candeeiro como os srs.6odrigues 2lves ou 5rontin.

    Ora, como impossvel dividir os ob!etos em partes iguais pelos milh4es dealmas que habitam o pas H do 2ma#onas ao 'rata e do 6io rande ao 'ar H"icam eles sendo de propriedade de todos em geral, sem ser de cada um emparticular.

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    Ningum a"irmar, agora, que nos lugares onde se acham atualmente possamos ob!etos ser admirados pelo povo. 2lm de ser um pouco cacete, pela"ormalidade, entrar no 'alcio de 5riburgo, no h tolo nenhum que acredite

    ser o :r. 6odrigues 2lves capa# de mostrar o cruci"i)o a quem dese!e v&=lo.

    :endo assim, qual deve ser a concluso a tirarI :implesmente esta+ tanto ocruci"i)o como o candieiro devem estar em determinado ponto, para seremapreciados pelos seus legtimos donos, e isto em dias marcados pelosencarregados da guarda de tais ob!etos e que nada mais so que representantesdos supraditos donos.

    'odiam eles "icar na vea, na

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    CORREIO DA MANH - QUARTA-FEIRA, 1 DE 'UNHO DE 1905

    NA CMARA DOS DEUTADOS

    No e)pediente da sesso de ontem, da 8mara dos *eputados, "oi lido umrequerimento do engenheiro Benrique . *ab (erme, dirigido ao 8ongressoNacional e concebido nos seguintes termos+

    $O engen6eiro enrique 2 Dab .erme requereu ao 0ongresso acional o fa(or

    de l6e permitir a eBplora3o e desobstru3o das galerias do "orro do 0astelo

    para os fins indicados no seu requerimento de )C de abril de )>+&, sendo

    considerada usta a sua pretenso, sem Knus para a a3o, e por isso a

    comisso da fazenda e indLstria da 0mara redigiu o proeto n&%), de )>+=,

    cua discusso ficou parada por ter-se encerrado o 0ongresso

    O suplicante, como 1 sabido, desde alguns anos se tem dedicado a estudos

    arqueol?gicos, e con6ecendo por documentos antigos que possui, a eBist'ncia

    de galerias subterrneas no referido morro, pediu o fa(or da eBplora3o para

    descobri-los ao pLblico< sendo certo que ele con6ece o lugar em que os esu5tas

    depositaram os seus (alores, e dado o caso, fossem estes encontrados, de

    acordo com a lei (igente, em parte pertenceriam ao requerente

    Depois de muito tempo gasto e de sacrif5cios feitos do maior (alor, quando

    espera(a o suplicante que as suas id1ias e seus sacrif5cios seriam

    recompensados, eis que o go(erno manda demolir o dito morro, e neste sentido

    se est9 procedendo a esca(a3@es, 9 se tendo ac6ado duas galerias, ali9s sem

    muita importncia, por serem consideradas de defesa "as assim ir-se-9

    destruindo obras de arte de subido (alor, al1m de ser inutilizado o mel6or ponto

    estrat1gico da cidade, primiti(a funda3o de S Sebastio, 6oe do Rio de

    Janeiro, donde se poderia com pouca despesa reconstruir uma poderosa

    fortifica3o, sobre os alicerces da iniciada pelos esu5tas, que (em desde a base

    desse morro

    Se o go(erno pretende com o arrasamento descobrir o tesouro que se sup@e

    eBistir, o meio empregado no 1 decerto o mais pr?prio, porque le(ar9 mais de

    tr's anos para esse arrasamento, e s? no fim desse prazo e de 6a(er despendido

    muito din6eiro tal(ez poder9 ser encontrado o esconderio que ser(ia de

    dep?sito aos referidos (alores Entretanto o requerente com as plantas que

    possui poder9 facilmente ir direto ao lugar e a5 (erificar a eBist'ncia ou no do

    citado tesouro, sem ali9s destruir as galerias e sal@es subterrneos, que podero

    ser eBpostos ao pLblico e proetados, para assim se conser(ar a tradi3o da suaconstru3o, forma, dire3o, monumentos, etc

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    O suplicante 9 se entendeu com os srs "inistro da /azenda e da .ia3o,

    engen6eiro-c6efe da A(enida 0entral, e todos so de opinio que o 0ongresso

    acional pode conceder ao requerente a autoriza3o solicitada, e at1, se antes

    no 6ou(essem sido descobertas todas as galerias, o suplicante iria mostr9-las

    Al1m das galerias subterrneas do "orro do 0astelo, o requerente con6ece

    outras eBistentes nesta capital e fora dela, e por isso solicita do 0ongresso o

    fa(or de estender a concesso para os demais pontos que o suplicante indicar na

    ocasio de ser la(rado o respecti(o contrato com o "inist1rio da /azenda$

    CORREIO DA MANH - SBADO, % DE 'UNHO DE 1905

    OS TESOUROS DOS 'ESU(TAS

    E(LO#O

    No espantara do 8astelo a volta rpida do padre Joo de JouquiZres.

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    6econciliados e "eli#es, as horas passavam=se to cleres que cumpriaaproveit=las todas, avaramente, com medo que "ugissem para no mais voltar.

    2travessando a e)tensa galeria, o padre Joo sustentava na mo esquerda uma

    candeia de a#eite, enquanto a direita comprimia nervosamente o cabo negro deum punhal.

    (encida a pequena escada que dava acesso para a sala onde *. ar$acostumava "a#er as suas ora$4es, ei=lo de p, em "rente ao oratrio ondebru)uleava a lu# morti$a de uma lamparina.

    *epFs no cho a candeia de a#eite que uma "orte lu"ada de vento apagou.

    *epois, p ante p, dirigiu=se 3 sala de !antar e da por um pequeno corredor

    chegou 3 porta do dormitrio de sua e)=amante.

    Os lbios do !esuta tremiam de dio e como$o; entretanto os seus dedoscrispados comprimiam com "7ria o cabo do punhal preparando o golpe certeiroe decisivo.

    2 porta estava semi=aberta; olhou.

    Os seus olhos, acostumados 3 treva, divisaram sobre o leito alvssimos dois

    corpos humanos ligados num mesmo abra$o.

    O dio irrompeu ento, indomado e terrvel na sua alma, presa de uma ang7stiasem nome; venceu a pequena distncia que o separava do leito e com o punhalerguido, pronto a vibrar o golpe, contemplou um momento aqueles dois corposadormecidos.

    *epois, num movimento rpido e seguro, a lmina branca do punhal cravou=seinteira no peito de *uclerc.

    1le no dera um gemido; o "erro atravessara=lhe o cora$o, matando=oinstantaneamente.

    *. ar$a despertou sobressaltada; os seus olhos negros e "aiscantesdistinguiram na treva do quarto o vulto do !esuta; compreendeu tudo e,sentindo ao lado o corpo e)mine e "rio do seu amado, e)clamou+

    H%ata=me, Jean.

    HNo, no te matarei, tornou este; tu s agora minha, somente minha, notenho mais rival.

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    H1nganas=teP e)clamou *. ar$a, erguendo meio corpo do leito.

    1ra ele a quem eu amava; mataste=o, pois bem, !amais te tornarei a pertencer,

    covardeP

    2s "aces do !esuta contraram=se num rictusde dio terrvel; uma nuvem negrade vingan$a e de vergonha passou ante os seus olhos esga#eados; a sua mocrispada mais uma ve# se ergueu e a um golpe de punhal o corpo de *. ar$acaiu redondamente no leito.

    DDD

    No dia seguinte espalhava=se por todo :. :ebastio a notcia da morte

    misteriosa de *uclerc.

    1m vo se "i#eram pesquisas para a descoberta do assassino do capito "ranc&se da bela italiana.

    %as deu muito o que "alar a estranha coincid&ncia de ter sido encontrado nomesmo dia, no leito da sua cela do colgio, o corpo inanimado do padre Joo deJouquiZres e !unto ao seu cadver um vidro de veneno e um punhal tinto desangue.

    DDD

    2qui termina o manuscrito.

    ___.poeteiro.com

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    O LIVRO DIGITAL ADVERTNCIA

    O Livro Digital certamente - uma das maiores revolues no mbitoeditorial em todos os tempos. Hoje qualquer pessoa pode editar sua

    prpria obra e disponibili!"-la livremente na #nternet$ sem aquela

    imperiosa necessidade de editoras.

    %raas &s novas tecnologias$ o livro impresso em papel pode ser

    escaneado e compartil'ado nos mais variados (ormatos digitais )*D+$ ,,$

    ,+$ entre outros/. ,odavia$ trata-se de um processo demorado$

    principalmente no mbito da reali!a0o pessoal$ implicando ainda em

    (al'as aps o processo de digitali!a0o$ por e1emplo$ erros e distores na

    parte ortogr"(ica da obra$ o que pode tornar inintelig2veis palavras e at

    (rases inteiras.

    3mbora todos os livros do 4*rojeto Livro Livre5 sejam criteriosamente

    revisados$ ainda assim poss2vel que alguns desses erros passem

    despercebidos. Desta (orma$ se o distinto leitor puder contribuir para o

    esclarecimento de algumas dessas incorrees$ por gentile!a entrar em

    contato conosco$ no e-mail6 [email protected]

    7ugestes tambm ser0o muito bem-vindas8

    #ba 9endes

    So Paulo, 2014