sistema nacional gestao territorial (doc. oficial)

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1 A construção de um Sistema Nacional como estratégia de gestão do Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário 1  1. Apresentação A realização da 2ª Conferência Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário    2ª CNDRSS, de 14 a 17 de outubro de 2013 em Brasília, representou o ápice de um rico processo de mobilização e debate que reuniu mais de 40 mil pessoas em suas diferentes etapas com o objetivo de deliberar sobre as propostas prioritárias para elaboração do Plano Nacional de Desenvolvimen to Rural Sustentável e Solidário. Seus resultados já são bastante concretos. Na etapa nacional 100 propostas foram  priorizadas para subsidiar a construção do Plano Nacional, processo que segue em curso sob a coordenação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário    CONDRAF. Nas etapas estaduais, territoriais, intermunicipais e municipais, milhares de outras  propostas també m foram priorizadas e, considerando su as respectivas abrangências, deverão agora subsidiar a elaboração ou revisão de Planos Estaduais, Territoriais e Municipais de Desenvolvimen to Rural. Além disso, é importante destacar as conquistas do ponto de vista da mobilização e  participação na 2ª CNDRSS. Sua realização, na metodologia proposta, significou importante demonstração de força e vitalidade da abordagem territorial, tendo sido realizadas Conferências Territoriais nos 239 territórios rurais incorporados ao Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável    PRONAT, em sua maioria impulsionadas por seus respectivos colegiados. Foi também a primeira conferência nacional com paridade de gênero, consolidando uma participação equivalente de homens e mulheres neste espaço. A participação mínima de 20% de jovens materializou o sentido estratégico desse público na visão de futuro do rural brasileiro, trazendo ao centro da pauta seus temas prioritários. A representação da diversidade de povos e comunidades tradicionais, garantida por meio de conferência setorial nacional, avançou no reconhecimento desse público e demonstrou a necessidade de avanços significativos na incorporação de suas  pautas ao planejamento e à concepção das políticas pública s. 1  Documento debatido e aprovado na 16ª Reunião Ordinária do Comitê de Desenvolvimento Rural do CONDRAF, em 09 de dezembro de 2012, como subsídio ao debate do Conselho e demais instâncias de gestão social do desenvolvimento rural.

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    A construo de um Sistema Nacional como estratgia de gesto do

    Desenvolvimento Rural Sustentvel e Solidrio1

    1. Apresentao

    A realizao da 2 Conferncia Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentvel e

    Solidrio 2 CNDRSS, de 14 a 17 de outubro de 2013 em Braslia, representou o pice de um

    rico processo de mobilizao e debate que reuniu mais de 40 mil pessoas em suas diferentes etapas

    com o objetivo de deliberar sobre as propostas prioritrias para elaborao do Plano Nacional de

    Desenvolvimento Rural Sustentvel e Solidrio.

    Seus resultados j so bastante concretos. Na etapa nacional 100 propostas foram

    priorizadas para subsidiar a construo do Plano Nacional, processo que segue em curso sob a

    coordenao do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentvel e Solidrio

    CONDRAF. Nas etapas estaduais, territoriais, intermunicipais e municipais, milhares de outras

    propostas tambm foram priorizadas e, considerando suas respectivas abrangncias, devero agora

    subsidiar a elaborao ou reviso de Planos Estaduais, Territoriais e Municipais de

    Desenvolvimento Rural.

    Alm disso, importante destacar as conquistas do ponto de vista da mobilizao e

    participao na 2 CNDRSS. Sua realizao, na metodologia proposta, significou importante

    demonstrao de fora e vitalidade da abordagem territorial, tendo sido realizadas Conferncias

    Territoriais nos 239 territrios rurais incorporados ao Programa Nacional de Desenvolvimento

    Sustentvel PRONAT, em sua maioria impulsionadas por seus respectivos colegiados. Foi

    tambm a primeira conferncia nacional com paridade de gnero, consolidando uma participao

    equivalente de homens e mulheres neste espao. A participao mnima de 20% de jovens

    materializou o sentido estratgico desse pblico na viso de futuro do rural brasileiro, trazendo ao

    centro da pauta seus temas prioritrios. A representao da diversidade de povos e comunidades

    tradicionais, garantida por meio de conferncia setorial nacional, avanou no reconhecimento

    desse pblico e demonstrou a necessidade de avanos significativos na incorporao de suas

    pautas ao planejamento e concepo das polticas pblicas.

    1 Documento debatido e aprovado na 16 Reunio Ordinria do Comit de Desenvolvimento Rural do CONDRAF, em

    09 de dezembro de 2012, como subsdio ao debate do Conselho e demais instncias de gesto social do desenvolvimento rural.

  • 2

    Terminado o processo da Conferncia, o desafio buscar a efetividade de suas

    proposies. Em nvel nacional o CONDRAF vem trabalhando na construo do texto final do

    Plano Nacional subsidiado pelas propostas priorizadas e prevendo, desde sua concepo,

    mecanismos de gesto, monitoramento e avaliao.

    Dentre as propostas priorizadas na 2 CNDRSS, destacamos aquelas que apontam para a

    institucionalizao da poltica de desenvolvimento territorial e construo de um Sistema Nacional

    de Desenvolvimento Rural Sustentvel e Solidrio que busque o fortalecimento, a consolidao e

    a articulao das novas institucionalidades do desenvolvimento rural sustentvel e solidrio.

    O debate sobre o SNDRSS surge no bojo dos resultados da 2 CNDRSS e ao mesmo

    tempo produto dela e insumo dos mecanismos de gesto, monitoramento e avaliao do Plano

    Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentvel e Solidrio - PNDRSS. Assim o debate proposto

    agora, em paralelo consolidao do texto final do Plano nacional deve convergir para formatao

    de um conjunto de diretrizes e objetivos em torno constituio do sistema, por meio dos debates

    realizados nos encontros estaduais dos colegiados territoriais, com a participao do conjunto dos

    atores envolvidos na gesto social do desenvolvimento rural. Estas diretrizes e objetivos estaro

    presentes no PNDRSS, conduziro o processo nacional de acompanhamento e orientaro seus

    desdobramentos nos estados, na forma em que o plano for institucionalizado.

    Portanto, este documento tem por objetivo delinear os componentes, a organizao e a

    articulao das instncias de gesto social e executiva na forma de um Sistema Nacional de

    Desenvolvimento Rural Sustentvel e Solidrio que busca uma viso de conjunto sobre as diversas

    iniciativas historicamente construdas pela poltica de desenvolvimento rural, contribuir com a

    estratgia de gesto do plano nacional em formulao e orientar o processo de elaborao e gesto

    de planos estaduais, territoriais e municipais enriquecidos pelos debates da 2 CNDRSS.

    2. O Sistema Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentvel e Solidrio

    A demanda pela construo de um Sistema Nacional, presente nas resolues da

    Conferncia , sem dvida, produto do significativo avano na implementao de polticas de

    desenvolvimento rural, sobretudo nos ltimos dez anos, fundadas em uma viso renovada do

    Brasil rural, que valoriza o campo como espao de produo e interao social, superando a ideia

    de urbanizao do rural, passando por programas estratgicos de governo como o Bolsa Famlia, o

    PAC e o Minha Casa, Minha Vida que alcanaram e beneficiaram o conjunto das comunidades

    rurais.

  • 3

    A criao de um Sistema Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentvel, partindo

    destas premissas, revela a vontade de agregar e articular as aes j desenvolvidas e visa ascender

    a um novo patamar de abrangncia e qualificao de polticas para construo de uma viso

    comum de futuro do rural brasileiro. Este novo patamar, materializado atravs do sistema, tem

    como componente central a busca pela consolidao de polticas de desenvolvimento rural de

    carter nacional, por meio da pactuao federativa, da articulao intergovernamental e da gesto

    social.

    Assim, a organizao do sistema est diretamente relacionada com a evoluo das

    polticas pblicas e os novos atributos associados ao rural, compreendendo-o como espao de

    produo econmica, no limitado produo agropecuria, pesqueira ou extrativista; espao de

    vida, organizao social e produo cultural para as pessoas que nele residem e ainda como espao

    privilegiado de interao com a natureza.

    Coerente com esta viso ampliada do rural, a abordagem territorial se constitui como

    referencial para a renovao do marco conceitual do desenvolvimento e sua institucionalizao

    passa a ser tambm um dos objetivos do sistema. Esta abordagem ganha impulso a partir de 2004,

    com a criao do PRONAT e da Secretaria de Desenvolvimento Territorial no Ministrio do

    Desenvolvimento Agrrio MDA para quem o territrio est descrito como espao fsico,

    geograficamente definido, no necessariamente contnuo, compreendendo cidades e campos,

    caracterizado por critrios multidimensionais, tais como o ambiente, a economia, a sociedade, a

    cultura, a poltica e as instituies e uma populao com grupos sociais relativamente distintos,

    que se relacionam interna e externamente por meio de processos especficos, onde se pode

    distinguir um ou mais elementos que indicam identidade e coeso social, cultural e territorial2.

    Os territrios rurais apresentam, explcita ou implicitamente, a predominncia de

    elementos rurais. Nestes, incluem-se os espaos urbanizados que compreendem pequenas e

    mdias cidades, vilas e povoados. A abordagem territorial est baseada em uma viso

    essencialmente integradora de espaos, agentes governamentais, atores sociais, agentes de

    desenvolvimento, mercados e polticas pblicas materializada em uma estratgia de gesto social

    com espaos de debate e concertao, com transparncia e participao. Ela almeja resultados e

    solues aos problemas vivenciados pelas populaes contemplando a combinao das diferentes

    2 Resoluo n 52 do CONDRAF, de 16/02/2005. http://portal.mda.gov.br/portal/condraf/institucional/resolucoes.

  • 4

    dimenses do desenvolvimento sustentvel: econmica, sociocultural, poltico-institucional e

    ambiental3.

    Hoje so 239 territrios rurais, dos quais 74 foram reconhecidos em 2013 pelo

    CONDRAF4. Eles incorporam mais de 3.500 municpios onde vivem mais de 70 milhes de

    brasileiros A maioria dos territrios possui Plano Territorial de Desenvolvimento Rural

    Sustentvel - PTDRS elaborados e instncias de gesto social organizadas.

    Integrado poltica de desenvolvimento territorial implementada pelo MDA, em 2008,

    criado o Programa Territrios da Cidadania por meio de decreto presidencial. O programa que

    hoje abrange 120 territrios rurais, constitui-se em uma plataforma de integrao de polticas

    materializada em uma matriz anual de aes de at 23 ministrios, conduzido por um Comit

    Gestor Nacional sob a Coordenao da Casa Civil e Secretria Executiva do Ministrio do

    Desenvolvimento Agrrio e do Ministrio do Planejamento. O programa ainda apoiado pela

    organizao de Comits de Articulao Estadual com a representao de rgos federais, estaduais

    e prefeituras. Por sua natureza e organizao o programa constitui o melhor subsdio construo

    do SNDRSS no que diz respeito articulao de gestores pblicos.

    O CONDRAF, criado em 1994, foi reformulado na sua composio e objetivos a partir de

    2003 e vem acumulando, num rico dilogo entre governo e sociedade civil, no sentido de

    estabelecer as diretrizes da poltica nacional de desenvolvimento rural e incidir nas estratgias de

    gesto das polticas pblicas. Da mesma forma, Conselhos Estaduais e Municipais tm se

    constitudo como instncia de discusso, controle social e acumulo sobre as aes de

    desenvolvimento rural em outros nveis federativos.

    Por sua natureza, o Sistema Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentvel e Solidrio

    SNDRSS dever incorporar um conjunto de peculiaridades e complexidades. Como sistema de

    desenvolvimento no visa a efetivao de um nico direito, mas a articulao de um conjunto

    deles, tendo como diretrizes a integrao das polticas e a pactuao federativa.

    Entendendo que no espao territorial que se tornam possveis e viveis aes sistmicas

    de desenvolvimento, o Sistema Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentvel e Solidrio

    SNDRSS parte da compreenso de que o territrio o locus onde as politicas pblicas ganham

    forma e, portanto, buscar fortalecer as institucionalidades territoriais.

    3 Ibid.

    4 Resoluo, n 94 do CONDRAF, de 23/05/2013. http://portal.mda.gov.br/portal/condraf/institucional/resolucoes.

  • 5

    Assim o SNDRSS objetiva articular o planejamento e a gesto das polticas, incorporado

    a estratgia de desenvolvimento territorial, valorizando a participao social, avanando na

    coordenao de aes governamentais e integrando a ao dos diversos atores em um esforo

    conjunto para a efetivao e qualificao das polticas pblicas com vistas ao desenvolvimento

    rural sustentvel e solidrio.

    A concepo do SNDRSS aqui posta buscar trazer o panorama de toda a diversidade de

    suas instncias tanto no que diz respeito s suas competncias, formas de composio e

    abrangncia das suas aes. Isto, porm, difere do processo de efetivao deste sistema, o qual

    dever ser gradativo, respeitando os ritmos de cada ente federado e priorizando a estruturao do

    sistema a partir das instncias mais organizadas para aquelas menos organizadas ou que devero

    ainda ser criadas.

    2.1. Os componentes do SNDRSS

    Por definio, um Sistema de Polticas pblicas visa a constituio ou a integrao de um

    conjunto de instncias e instrumentos interdependentes com vistas ao alcance de determinados

    objetivos, no caso aqueles relacionados poltica de desenvolvimento rural sustentvel e solidrio.

    A seguir buscamos elencar essas instncias e instrumentos, bem como suas formas de interao.

    2.1.1. Poltica e planejamento para o desenvolvimento do Brasil rural

    Como parmetro basilar de instncias e instrumentos do SNDRSS a Poltica de

    Desenvolvimento do Brasil Rural PDBR traz consigo os princpios que balizam o planejamento,

    as diretrizes e os objetivos estratgicos do desenvolvimento rural sustentvel e solidrio, quais

    sejam: democracia, sustentabilidade, incluso, diversidade, soberania, igualdade e solidariedade os

    quais necessariamente tambm so princpios do sistema em construo.

    O planejamento do desenvolvimento rural, em seus diferentes nveis, constitudo tendo

    por base o processo de Conferncia, a exemplo da 2 CNDRSS, a qual se constitui como instncia

    mais abrangente de concertao entre governo e sociedade civil.

    Plano e Conferncia so, respectivamente, o principal instrumento e a instncia mxima

    do sistema que orientam os objetivos da poltica de desenvolvimento rural e referenciam a ao

    das instncias de gesto em um determinado perodo de tempo.

    As Conferncias, por seu carter e abrangncia, devero ser realizadas a cada 4 (quatro)

    anos visando indicar as diretrizes e prioridades da politica e/ou atualizar o planejamento.

  • 6

    Figura 1 Processo de Conferncias e Planejamento do Desenvolvimento Rural

    2.1.2 Gesto Social do Desenvolvimento Rural

    Uma importante conquista na promoo do desenvolvimento rural sustentvel na ltima

    dcada a ampliao da democracia participativa. Este valor tem sido ampliado, por meio das

    diversas instncias de gesto social que foram criadas e/ou reformuladas para dialogar com os

    avanos na democracia brasileira.

    Partindo do conceito de controle social, em distintos ambientes evoluiu-se para o conceito

    de gesto social por ser este mais abrangente. Mais do que controlar ou fiscalizar seu sentido est

    tambm na concepo e negociao dos assuntos a serem geridos. Assim, as instncias de gesto

    tem lugar na conduo do processo de planejamento do desenvolvimento rural, por meio das

    diversas conferncias, e tambm no monitoramento e avaliao da efetividade das polticas

    adotadas.

    O CONDRAF alm de ser instncia de proposio e consulta das polticas de DRSS,

    passou a ter um importante protagonismo na formulao dos princpios e valores de uma poltica

    de desenvolvimento rural, assim como na proposio das aes propriamente ditas dessa poltica.

    Conferncia Nacional do Desenvolvimento Rural Sustentvel e Solidrio - CNDRSS

    Plano Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentvel e Solidrio - PNDRSS

    Nacional

    Conferncia Estadual do Desenvolvimento Rural Sustentvel e Solidrio - CEDRSS

    Plano Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentvel e Solidrio - PEDRSS

    Estadual

    Conferncia Territorial do Desenvolvimento Rural Sustentvel e Solidrio - CTDRSS

    Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentvel e Solidrio - PTDRSS

    Territorial

    Conferncia Municipal do Desenvolvimento Rural Sustentvel e Solidrio - CMDRSS

    Plano Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentvel e Solidrio - PMDRSS

    Municipal

  • 7

    A expresso disso a formulao da Poltica Nacional de Desenvolvimento do Brasil Rural -

    PDBR e agora a construo do I Plano Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentvel e

    Solidrio - PNDRSS.

    Para promover a gesto destes importantes instrumentos de promoo do

    desenvolvimento rural, o CONDRAF reafirmou a partir de 2003 a abordagem territorial como

    referncia conceitual e de gesto do desenvolvimento. Constituiu o Comit de Desenvolvimento

    Territorial o CDT, e na construo da poltica e do plano reafirmou a opo por esta abordagem

    do desenvolvimento.

    Nos estados esta funo fica a cargo dos Conselhos Estaduais de Desenvolvimento Rural

    e Sustentvel CEDRSs. Sua organizao reflete a organizao da poltica de desenvolvimento

    rural na respectiva unidade da federao. Com algumas excees a agenda de trabalho destas

    instncias teve maior nfase nas polticas agrcolas e fundirias, o que se explica pelo estgio atual

    de integrao destas polticas com as demais que buscam promover o desenvolvimento rural.

    Na agenda do desenvolvimento territorial, vrios estados registraram avanos. Para alm

    de ter assumido papel na consulta e deciso na implementao de aes finalsticas do

    desenvolvimento territorial, com especial destaque ao apoio infraestrutura, vrias instncias

    avanaram na recomposio de suas instncias a fim de buscar maior integrao com colegiados

    territoriais e/ou a constituio de cmaras destinadas a promover a agenda do desenvolvimento

    territorial. Cabe destacar ainda que estas instncias tiveram papel decisivo para realizao das

    Conferncias Estaduais e no apoio s etapas territoriais e agora devero dedicar-se a elaborao ou

    reviso de seus planos estaduais e territoriais.

    A construo do Plano Nacional de Desenvolvimento Rural que ser integrado com o

    Estadual e o Territorial exigir avanar nesta integrao, e exigir tambm uma maior integrao

    com as instncias de gesto social nas demais escalas, com especial nfase nos colegiados

    territoriais, j que poucos deles (CEDRS) so constitudos tambm a partir desta representao.

    Nos territrios, a gesto social materializada atravs dos colegiados territoriais

    CODETERs, que buscam reunir a diversidade existente de entidades, movimentos, organizaes

    produtivas e outras representaes da sociedade, juntamente com as distintas representaes do

    setor pblico, por meio de prefeituras, empresas pblicas, universidades, etc. Estas instncias

    buscaram ampliar a agenda do desenvolvimento rural, afirmando o rural para alm da produo de

    alimentos, alargaram a agenda trazendo para si as polticas sociais, de infraestrutura e de

    promoo de direitos e cidadania. Como os colegiados so a base social constitutiva dos territrios

  • 8

    estes possuem uma trajetria de construo do planejamento do desenvolvimento rural que teve

    expresso na elaborao dos Planos Territoriais de Desenvolvimento Rural Sustentvel - PTDRS.

    Estes planos se constituram na percepo do presente e na construo de uma viso de futuro e

    agora com o plano nacional devero avanar para uma maior integrao com instrumentos

    governamentais de planejamento em suas distintas escalas: municipal, estadual e nacional. Cabe

    destacar ainda que os territrios cumpriram papel fundamental na 2 CNDRSS constituindo-se

    como sua principal instncia de base, tendo o resultado da Conferncia Territorial como subsdio a

    reviso ou elaborao dos seus Planos Territoriais.

    Estes avanos da poltica de desenvolvimento territorial no mbito do governo federal,

    alavancado principalmente por meio do PRONAT, no foram necessariamente acompanhados pela

    incorporao da abordagem territorial estratgia de desenvolvimento rural no nvel estadual,

    exceo de alguns estados da federao.

    Os municpios, por sua vez, so marcados por avanos e retrocessos, na incorporao de

    uma estratgia de gesto social do desenvolvimento rural. So relativamente recentes os avanos

    na criao de rgos voltados ao desenvolvimento rural e a agricultura familiar nos pequenos

    municpios brasileiros, onde se concentra o pblico da agricultura familiar o que, portanto,

    retardou tambm avanos na gesto social.

    Os Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentvel - CMDRSs avanaram

    em grande medida em virtude de condicionalidades impostas ao acesso de polticas pblicas, o

    que colaborou para a criao de mecanismos locais de controle social. Dezenas de municpios

    brasileiros possuem Planos Municipais e/ou realizaram as etapas municipais da 2 CNDRSS, ainda

    que estas no fossem obrigatrias, mostrando uma trajetria importante de incorporao dos

    conceitos mais atuais de ruralidade pauta municipalista brasileira. Mas importante destacar que

    se de um lado a gesto a partir do municpio uma conquista importante para avanar na agenda

    do poder local, ela no pode ficar restrita a esta dimenso e deve ser desafiada a uma maior

    integrao. Considerando as muitas similaridades entre os municpios, h grande potencial de

    avanos quando estes se associam. o que indica a experincia na constituio de territrios.

    um dos principais desafios do SNDRSS avanar na integrao dos territrios e seus

    colegiados estratgia de desenvolvimento rural em cada estado, seja por meio da garantia de

    representao de colegiados em conselhos estaduais, seja pela gradativa incorporao da

    abordagem territorial na concepo e gesto das polticas pblicas de desenvolvimento rural, e

  • 9

    ainda pela construo de convergncias entre os distintos recortes territoriais adotados pelo

    prprio governo federal ou pelos diferentes rgos de governo nos estados.

    Figura 2 Instncias de Gesto Social do Desenvolvimento Rural

    2.1.3. Gesto Executiva do Desenvolvimento Rural

    Embora a criao de rgos de governo ou atribuio de competncias a rgos existentes

    relacionadas ao desenvolvimento rural tenha se aprofundado nos ltimos anos e significado

    enorme avano na implementao de polticas pblicas voltas para incluso produtiva e

    democratizao do acesso terra, bem verdade que estas, de maneira isolada, no so suficientes

    para atender a concepo ampliada desenvolvimento rural que adotamos.

    Coerente com esta concepo necessrio, cada vez mais, um processo articulado de

    planejamento e gesto de uma diversidade de polticas pblicas que inclui, mas mais abrangente

    do que aquelas usualmente associadas poltica agrcola e agrria. Isto s possvel pela criao

    CNDRSS

    PNDRSS

    Nacional

    CEDRS

    S PEDRSS

    Estadual

    CTDRS

    S PTDRSS

    Territorial

    CMDRSS

    PMDRSS

    Municipal

    Instncias de Gesto Social

    CONDRAF

    CEDRAF

    CODETER

    CMDRS

  • 10

    de instncias e mecanismos de integrao de aes de diferentes setores de um mesmo nvel de

    governo ou de esferas do poder pblico.

    Esta integrao , sem dvida, um dos maiores desafios do SNDRSS, pois trata, em

    geral, da constituio de novas instncias de articulao e pactuao governamental, capazes de

    responder, do ponto de vista executivo, aos objetivos do planejamento e s demandas oriundas dos

    processos de gesto social.

    Em mbito nacional, este processo est materializado no CONDRAF, que conduz o

    processo da conferncia e a elaborao do Plano Nacional em dilogo com o Ministrio do

    Desenvolvimento Agrrio. Alguns referenciais podem ser ponto de partida ou componente para

    efetivao deste espao. O CONDRAF, no processo de consolidao do Plano Nacional de

    Desenvolvimento Rural, aponta para a constituio de um comit de apoio governamental,

    responsvel pela proposio das metas do Plano Nacional e sua vinculao aos instrumentos de

    planejamento oficial (PPAs, LDO, LOA).

    Tambm no Programa Territrios da Cidadania - PTC j existe uma dinmica bastante

    consolidada de coordenao e dilogo entre os rgos federais que compem o programa, seja na

    definio das polticas ofertadas, seja no monitoramento da sua execuo. Estas referncias so

    orientadoras na construo de uma instncia de gesto executiva nacional do desenvolvimento

    rural, a qual pode e deve ser complementada, a exemplo do que est em processo no Sistema

    Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional SISAN, por um frum tripartite (unio, estados

    e municpios) de pactuao e execuo das aes voltadas para o desenvolvimento rural.

    O PTC tambm d a melhor pista para constituio desse espao no nvel estadual. Os

    Comits de Articulao Estadual esto concebidos sob a coordenao dos governos estaduais, mas

    com a participao dos trs nveis de governo, por meio dos rgos federais ligados ao programa e

    com representao no estado, dos rgos estaduais relacionados com as aes do programa e da

    representao dos prefeitos de cada um dos territrios abrangidos. Esta composio, adaptada,

    poderia dar conta da gesto executiva no nvel estadual, considerando ainda as entidades

    representativas dos municpios, dado que os territrios em vrios estados no abrangem a

    totalidade dos seus municpios. preciso tambm estimular que estados constituam instncias

    intragovernamentais, a exemplo do modelo nacional, capazes de fazer a articulao das polticas

    do seu respectivo nvel e orientar a convergncia e complementariedade com as polticas

    nacionais.

  • 11

    No nvel territorial o Colegiado territorial, considerando sua composio plenria pode

    buscar a constituio de uma Cmara Tcnica de gesto executiva, que reunisse os rgos de

    governo com atuao no territrio, sendo esta a instncia territorial de gesto executiva. E nos

    municpios, para alm da defesa e necessidade de as prefeituras avanarem na criao de rgos

    de governo voltados ao desenvolvimento rural e agricultura familiar, tambm deve se estimular

    ao integrada de rgos municipais para o alcance dos objetivos locais relacionados ao

    desenvolvimento das comunidades rurais.

    Figura 3 Instncias de gesto executiva do Desenvolvimento Rural.

    2.1.4. A integrao como princpio e necessidade.

    Dado o desenho das instncias e instrumentos essenciais construo do SNDRSS,

    percebe-se que no bojo da sua constituio est a perspectiva de integrao e complementariedade

    entre suas diferentes instncias.

    No mbito da gesto social o sistema deve buscar fortalecer a ideia, j adotada em

    algumas regies da incorporao da representao de instncias menos abrangentes espacialmente

    CNDRSS

    PNDRSS

    Nacional

    CEDRS

    S PEDRSS

    Estadual

    CTDRS

    S PTDRSS

    Territorial

    CMDRSS

    PMDRSS

    Municipal

    Gesto Executiva

    Nacional

    Instncias de Gesto Executiva

    Gesto Executiva

    Estadual

    Gesto Executiva

    Territorial

    Gesto Executiva

    Municipal

    CONDRAF

    CEDRAF

    CODETER

    CMDRS

  • 12

    nas instncias mais abrangentes. Assim, Colegiados territoriais devem ser compostos

    considerando a composio e representao de conselhos municipais.

    No nvel estadual, os Conselhos Estaduais j possuem uma trajetria de estmulo e

    aproximao com os Conselhos Municipais, anterior poltica territorial. Assim o desafio

    adequar e integrar dinmica dos CEDRSs, no s a representao dos colegiados, mas tambm a

    prpria abordagem territorial, por meio da constituio de cmaras temticas especficas que

    possibilitem o encontro e o dilogo da diversidade dos colegiados territoriais com o poder pblico

    estadual.

    No mbito nacional latente o debate sobre recomposio do CONDRAF, que poder

    inclusive apontar mudanas no processo de escolha dos seus conselheiros, os quais poderiam ser

    eleitos no processo conferencial, a exemplo de outros conselhos nacionais. Embora a

    representao dos conselhos estaduais esteja integrada ao CONDRAF na qualidade de convidada

    permanente preciso fortalecer esses laos entre representaes nacionais e seus equivalentes

    nos estados.

    Ainda no que diz respeito a gesto social a construo ascendente de Conferncia garante

    espao privilegiado de interao, dilogo e concertao do conjunto de atores envolvidos no

    SNDRSS.

    No mbito da gesto executiva apontamos as novas instncias que devero buscar a

    integrao governamental por meio de aes pactuadas e convergentes entre as diferentes reas e

    esferas da gesto pblica. Estes espaos so o ambiente adequado para avanar tambm na

    incorporao da abordagem territorial s polticas e na construo de caminhos para convergncia

    dos distintos recortes territoriais existentes em vrios estados.

    Ainda na perspectiva de integrao das instncias de gesto executiva convm destacar a

    ideia, j mencionada, de um Frum Nacional tripartite que rena rgos federais, estaduais e a

    representao de municpios. Este seria espao privilegiado de nivelamento e pactuao nacional

    para efetivao do prprio sistema.

    Por fim, no campo da integrao importante deixar ntida a concepo de que as

    instncias de gesto executiva tem seu plano de ao pautado e limitado pelas definies das

    instncias de gesto social, tendo por objetivo concretizar aes pactuadas junto sociedade civil,

    devendo contemplar em sua composio, principalmente, aqueles gestores que j esto inseridos

    nas instncias de gesto social da sua respectiva abrangncia.

  • 13

    Figura 4 Sistema Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentvel e Solidrio: Instncias e Instrumentos.

    CNDRSS

    PNDRSS

    Nacional

    CEDRS

    S PEDRSS

    Estadual

    CTDRS

    S PTDRSS

    Territorial

    CMDRSS

    PMDRSS

    Municipal

    Gesto Executiva

    Nacional

    Gesto Executiva

    Estadual

    Gesto Executiva

    Territorial

    Gesto Executiva

    Municipal

    Fru

    m Trip

    artite de G

    esto

    Executiva

    CONDRAF

    CEDRAF

    CODETER

    CMDRS