sindicância investigativa federal

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Este livro é resultado de trabalho de conclusão de curso de especialização em Direito Administrativo e Processo Administrativo (UCAM-RJ). Abordando a sindicância na sua natureza imanente, demonstra o quanto a sindicância foi desvirtuada com o modelo introduzido pela Lei n° 8.112, de 11 de dezembro de 1990 (Estatuto dos Servidores Públicos Civis da União), e expõe uma visão panorâmica dos problemas práticos e dos obstáculos doutrinários, deste momento, para cuja solução, na opinião do autor, impõe-se a revisão do texto legal, pelo legislador, considerando que a referida Lei trata da sindicância de forma lacunosa. Tratando de situações observadas no cotidiano, ao tempo em que oferece conceituações teóricas pertinentes ao tema, são apresentados pensamentos de juristas consagrados e transcrições da supracitada legislação, com a pretensão de argumentar a necessidade de reformulação desse instituto legal que, atualmente, rege a sindicância.

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SINDICÂNCIAINVESTIGATIVA

FEDERAL NO DIREITO BRASILEIRO

Uma Introdução Crítica

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SINDICÂNCIA INVESTIGATIVA FEDERAL NO DIREITO ADMINISTRATIVO BRASILEIRO

Uma introdução crí ca

AutorElomar Lobato Bahia

Projeto Gráfi co e Editoração EletrônicaDenny Guimarães de Souza Salgado

Ítalo Roberto Gonçalves da SilvaEditora Kiron

Criação e Editoração Eletrônica da CapaÍtalo Roberto Gonçalves da Silva

Editora Kiron

RevisãoRita Araújo

Impressão e AcabamentoEditora Kiron

(61) 3563.5048 - www.editorakiron.com.br

A447s

Bahia, Elomar LobatoSindicância inves ga va federal no direito administra vo brasileiro - Uma introdução crí ca / Elomar Lobato Bahia. – Brasília: Editora Kiron, 2012.

80 p. ; 21 cm

ISBN 978-85-8113-040-8

1. Direito. 2.Jurisprudência. 3.Direito Administra vo. I. Título.

CDU 342.9

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SINDICÂNCIAINVESTIGATIVA

FEDERAL NO DIREITO BRASILEIRO

ELOMAR LOBATO BAHIA

Uma Introdução Crítica

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A todos aqueles que contribuíram para a realização deste trabalho.

À minha esposa e ao meu fi lho, pela compreensão das minhas ausências.

E, especialmente a DEUS, pois sem Ele não haveria conhecimento e nem

sabedoria para a elaboração desta obra.

AGRADECIMENTOS

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................9

CAPÍTULO I - Conceito, natureza, valor, atributos e razões da sindicância

1.1 Inovação do direito administrativo brasileiro ...131.2 Acepção etimológica do vocábulo .....................141.3 Defi nição técnica de sindicância .......................151.4 Processo e procedimento ..................................181.5 Sindicância e processo disciplinar .....................231.6 Inquérito administrativo ...................................271.7 Investigação sumária .........................................281.8 Natureza da sindicância ....................................291.9 Valor da sindicância ..........................................311.9.1 Interrupção do prazo prescricional ................321.10 Atributos da sindicância .................................331.10.1 Sigilo ...........................................................361.11 Razões que justifi cam a abertura de uma sindi-cância ......................................................................371.11.1 Infração capitulada como crime ...................43

CAPÍTULO II - Comissão de Sindicância2.1 Comissão de sindicância - composição .............452.2 Comissão de sindicância – escolha dos membros ... 492.3 Comissão de sindicância – impedimentos e sus-peições ....................................................................50

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CAPÍTULO III - Trabalho de Sindicância3.1 Rito da sindicância ...........................................533.2 Obrigação de apurar .........................................58

CAPÍTULO IV - Encerramento de Sindicância4.1 Relatório ...........................................................61

CAPÍTULO V - Conclusão5.1 Conclusão .........................................................65

ANEXO - Artigos da lei nº 8.112, de 11 de dezem-bro de 1990, relacionados à sindicância .................69

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............83

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INTRODUÇÃO

Esta obra aborda a sindicância na sua natu-

reza imanente. Demonstra o quanto a sindicância

foi desvirtuada com o modelo introduzido pela

Lei n° 8.112, de 11 de dezembro de 1990 (Es-

tatuto dos Servidores Públicos Civis da União).

A referida Lei evoca esse instrumento como pro-

cesso administrativo principal, ao prever a possi-

bilidade de se aplicar penalidades menores para

determinadas infrações administrativas; e trata da

sindicância de um modo rarefeito, lacunoso, pois

não aponta o rito e nem parece especifi car o sigilo

necessário à elucidação do fato ou dos elementos

exigidos pelo interesse da Administração.

Não bastasse essa situação, olvida de abor-

dar a sindicância enquanto meio capaz de solu-

cionar outras questões que não apenas as rela-

cionadas às condutas dos agentes públicos, como

por exemplo, aferir a qualidade do serviço pú-

blico e recomendar as medidas adequadas, para

melhorá-lo.

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INTRODUÇÃO

Temos assistido, em nossa experiência

como advogado público, a utilização inadequa-

da do instrumento da sindicância pela Admi-

nistração Pública Federal. Esta é opinião pes-

soal e ocorre porque a supradita Lei nº 8.112,

de 1990, não dá a devida importância à sindi-

cância, uma vez que são poucas as passagens em

que se refere a esse instituto: apenas nos arti-

gos 142, § 3º; 143; 145, caput e parágrafo úni-

co; 149, § 2º; 154, caput e parágrafo único. Tais

menções, como se verá no decorrer desta obra,

são insufi cientes para sustentar todo o arcabou-

ço da sindicância na sua natureza imanente, isto

é, enquanto sindicância investigativa.

A Lei nº 8.112, em pauta, evoca com

anomalia esse instrumento como processo ad-

ministrativo principal, ao prever a possibilida-

de de aplicação de penalidades menores para

determinadas infrações administrativas, o que

nos faz entender que ela trata da sindicância

de um modo superfi cial.

Associe-se a essas circunstâncias o despre-

paro das comissões, cujos integrantes, no mais

das vezes, não contam com a habilitação ne-

cessária para o desenvolvimento dos trabalhos,

ou seja, desconhecem a Ciência Jurídica e, em

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INTRODUÇÃO

especial, os assuntos relacionados à questão dis-

ciplinar. Por tudo isto, cremos que o presente es-

tudo em muito poderá contribuir para o eventual

aperfeiçoamento dessa legislação.

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1.1 INOVAÇÃO DO DIREITO ADMI-NISTRATIVO BRASILEIRO

A sindicância parece não encontrar similar

generalizado no Direito estrangeiro. José Cretella

Júnior lembra que a sindicância desenvolveu-se

entre nós inspirada no Direito Administrativo

português, em que o instituto tem campo res-

trito com relação ao processo disciplinar.1 Assim

se manifesta Marcello Caetano, autor português,

citado por José Cretella Júnior:

Conhecido por superior hierárquico competente qualquer indício de que um subalterno praticou fatos contrá-rios aos seus deveres funcionais, esse superior pode apurar ele próprio o acontecido ou mandar proceder ao

1 CRETELLA JÚNIOR, José. A Sindicância no direito adminis-trativo. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 72, abr./jun. 1963, p.428.

CAPÍTULO I CONCEITO, NATUREZA, VALOR, ATRI-BUTOS E RAZÕES DA SINDICÂNCIA

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CAPÍTULO I – CONCEITO, NATUREZA, VALOR, ATRIBUTOS E RAZÕES DA SINDICÂNCIA

apuramento dos fatos. O apura-mento pode começar sob a forma de sindicância a um serviço, ou de inquérito a determinados fatos, para da sindicância ou do inquérito se se-guir o processo disciplinar, caso a ele haja lugar; no caso de os fatos serem imputados a funcionário determi-nado, a averiguação toma a forma do processo disciplinar.2

1.2 ACEPÇÃO ETIMOLÓGICA DO VOCÁBULO

O Dicionário Caldas Aulete registra sindi-

cância como “Inspeção feita numa repartição ou

associação para se inquirir dos atos dos empre-

gados e do modo como é feito o serviço”.3

A sindicância deriva do verbo sindicar, cuja

acepção é “inquirir, colher informações”, confor-

me o Dicionário Etimológico Nova Fronteira da

Língua Portuguesa.4

2 CAETANO 1956, p. 494 apud CRETELLA, 1963, p. 428.3 GARCIA, Hamílcar de; NASCENTES, Antenor. Dicionário contemporâneo da língua portuguesa Caldas Aulete, p. 3.377.4 CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário etimológico Nova-Fronteira da língua portuguesa, p. 725.

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CAPÍTULO I – CONCEITO, NATUREZA, VALOR, ATRIBUTOS E RAZÕES DA SINDICÂNCIA

Sobre o assunto, José Cretella Júnior faz a

seguinte abordagem:

Etimologicamente, no idioma de origem, os elementos componen-tes da palavra em estudo são o pre-fi xo ‘syn’(=junto, com, juntamente com) e ‘dic’ (mostrar, fazer ver, pôr em evidência), ligando-se este se-gundo elemento ao verbo ‘deikny-mi’, cuja acepção é mostrar, fazer ver.5

1.3 DEFINIÇÃO TÉCNICA DE SIN-DICÂNCIA

Para José Cretella Júnior, a sindicância “é o

meio sumário de que se utiliza a Administração

do Brasil para, sigilosa ou publicamente, com in-

diciados ou não, proceder à apuração de ocorrên-

cias anômalas no serviço público, as quais, con-

fi rmadas, fornecerão elementos concretos para

a abertura do processo administrativo contra o

funcionário público responsável”.6

5 CRETELLA JÚNIOR, José. Prática do processo administrativo p. 73.6 CRETELLA JÚNIOR, José. Direito administrativo do Brasil:

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CAPÍTULO I – CONCEITO, NATUREZA, VALOR, ATRIBUTOS E RAZÕES DA SINDICÂNCIA

Analisando a defi nição, observamos que

ela peca no seu substrato lógico, pois traz, como

se pudesse trazer, a fi gura do indiciado como an-

tecedente à apuração dos fatos. Como veremos

adiante, o indiciamento ocorre justamente no

momento em que se identifi ca o autor dos fa-

tos apurados. Depois, a sindicância não se presta

apenas para abertura de processo disciplinar.

Segundo Hely Lopes Meirelles, a sindi-

cância “é o meio sumário de elucidação de irre-

gularidades no serviço para subseqüente instau-

ração de processo e punição do infrator”.7Aqui,

tal como na defi nição anterior, a sindicância é

compreendida no seu fi m único de proceder a

abertura de processo disciplinar.

Celso Antônio Bandeira de Mello com-

preende a sindicância como:

[...] o procedimento investigativo, com prazo de conclusão não exce-dente de 30 dias (prorrogáveis pela autoridade superior por igual pe-ríodo), ao cabo do qual, se a con-clusão não for pelo arquivamento

processo administrativo, vol. V, p. 107.7 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro, p. 570.

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CAPÍTULO I – CONCEITO, NATUREZA, VALOR, ATRIBUTOS E RAZÕES DA SINDICÂNCIA

do processo ou pela aplicação de penalidade de advertência ou sus-pensão de até 30 dias, assegurada ampla defesa, será instaurado pro-cesso disciplinar, o qual é obriga-tório sempre que o ilícito pratica-do ensejar sanção mais grave.8

Essa defi nição, baseada no texto do Esta-

tuto Federal dos Servidores Civis da União (Lei

nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990), é bastan-

te criticada, em virtude de desnaturar o instituto

da sindicância, tratando-a como processo dis-

ciplinar principal. Modernamente, parece mais

adequado e exato entender a sindicância como

processo administrativo de investigação, inquisi-

torial e sumário, de que se vale a administração

para apurar atos ou fatos anômalos relevantes,

ocorrentes no serviço público ou fora dele, cujo

resultado poderá redundar na recomendação de

abertura de processo disciplinar, arquivamento,

tomada de contas especial, rescisão contratual e/

ou outras medidas previstas na legislação admi-

nistrativa.

8 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo, p. 297.