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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI DEPARTAMENTO DE FÍSICA E MATEMÁTICA RAFAEL AUGUSTO REZENDE DE PAULA SIMULAÇÃO MOLECULAR DE NANOTUBO ARMCHAIR (6,6) EM SOLUÇÃO AQUOSA São João del-Rei Ano 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO JOO DEL REI

DEPARTAMENTO DE FSICA E MATEMTICA

RAFAEL AUGUSTO REZENDE DE PAULA

SIMULAO MOLECULAR DE NANOTUBO ARMCHAIR

(6,6) EM SOLUO AQUOSA

So Joo del-Rei

Ano 2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO JOO DEL REI

RAFAEL AUGUSTO REZENDE DE PAULA

SIMULAO MOLECULAR DE NANOTUBO ARMCHAIR

(6,6) EM SOLUO AQUOSA

Dissertao apresentado ao Programa Ps-

Graduao em Fsica da Universidade Federal

de So Joo del-Rei, em associao ampla com

as Universidades Federais de Alfenas e Lavras

como requisito parcial para a obteno do

ttulo de Mestre em Cincias.

rea de Concentrao: Fsica da Matria

Condensada

Orientador: Prof. Dr. Valdemir Eneias Ludwig

So Joo del-Rei

Departamento de Fsica e Matemtica

Ano 2015

AGRADECIMENTO

Universidade Federal de So Joo del Rei, ao seu corpo docente do Departamento

de Fsica e Matemtica e ao Departamento de Cincias Naturais, que me proporcionaram a

oportunidade de cursar o Programa de Ps-graduao em Fsica.

Ao meu orientador Prof. Dr. Valdemir Eneias Ludwig, pelos seus conhecimentos

repassados generosamente durante a realizao deste trabalho e pelo seu tempo dedicado para

que a concluso desse ocorresse.

Aos meus pais Csar e Luzia, pela educao recebida. Ao meu irmo Gabriel pelo

apoio dado.

s amigas: Cssia Gonalves, Luciana Azy, Maristela, Romlia e Sulamita pelas

palavras de incentivo recebidas para que eu pudesse alcanar meus objetivos e tambm a

todos os amigos, pelas oraes e pensamentos positivos.

E tambm a Deus, que por Nele acreditar, mantive firme minha perseverana no curso.

Muito obrigado a todos.

Temos de ser perseverantes e, sobretudo, ter

confiana em ns prprios. Devemos acreditar

que temos um dom para alguma coisa e que,

custe o que custar, havemos de consegui-la.

(Marie Curie)

RESUMO

Neste trabalho utilizamos diferentes mtodos de estrutura eletrnica e tcnicas de

simulao computacional atomstica para estudar a interao do nanotubo de carbono e o

solvente gua. O principal interesse concentra-se no estudo da estrutura eletrnica e molecular

de nanotubos em meio aquoso e dos efeitos da temperatura. Nosso objetivo estudar a

estrutura das molculas de gua confinadas no interior do nanotubo e as interaes do

nanotubo com o solvente, gua. Em nosso estudo simulamos um nanotubo finito, com uma

nica camada de tomos de carbono e do tipo armchair (6,6). A estrutura geomtrica, a

distribuio da carga, o momento de dipolo induzido e a energia de interao so propriedades

que iremos investigar usando o modelo sequencial, que combina a simulao clssica de

Monte Carlo e mtodos de clculo baseados na teoria do funcional da densidade. As

simulaes de Monte Carlo so realizadas com o objetivo de obter as estruturas geomtricas

de molculas de gua no interior do nanotubo e em torno dele. Em temperatura de 300 K as

molculas de gua assumem diferentes estruturas que so usadas como ponto de partida para

clculo das propriedades qunticas. Neste estudo procuramos evidenciar o efeito da nanotubo

sobre as gua confinadas, desta forma, as propriedades e as interaes intermoleculares e

intramoleculares so calculadas com nveis de clculo confiveis que incluem o termo de Van

de Waals num modelo que inclui todos os eltrons.

ABSTRACT

In this work we use different methods and techniques of electronic structure of

atomistic computer simulations to study the interaction of the carbon nanotube and the water

solvent. The main interest is focused on the study of the molecular and electronic structure of

the nanotubes in an aqueous medium and temperature effects. Our goal is to study the

structure of water molecules contained inside the nanotube and interactions with the solvent,

water. In our study we simulate a finite armchair type (6.6) nanotube with a single layer of

carbon atoms. The geometric structure, the charge distribution, the induced dipole moment

and the energy of interaction are properties that we investigate using a sequential model that

combines the classical Monte Carlo simulation and calculation methods based on density

functional theory. The Monte Carlo simulations are performed in order to obtain the

geometrical structure of water molecules inside the nanotube and around it. At a temperature

of 300 K the water molecules assume different structures are used as starting point for

calculating the quantum properties. This study sought to observe the effect of the nanotubes

on the water contained thereby, the properties and intramolecular and intermolecular

interactions are calculated with high level of calculation that include the term van der Waals

in a all electron model.

SUMRIO

1 INTRODUO: MOTIVAO E PROPOSTA DESTE TRABALHO ........................... 8

1.1 Confinamento de molculas de gua no interior do nanotubo. .................................... 8

1.2 Estrutura da dissertao ............................................................................................. 11

2 NANOESTRUTURAS DE CARBONO ........................................................................... 12

2.1 Grafeno ...................................................................................................................... 12

2.2 Nanotubos de carbono ............................................................................................... 15

2.3 Propriedades estruturais dos nanotubos ..................................................................... 16

2.4 Propriedades eletrnicas de nanotubos de carbono ................................................... 20

2.5 Mtodos de preparao de nanotubos de carbono ..................................................... 21

3 MTODOS APROXIMATIVOS PARA MECNICA QUNTICA MOLECULAR .... 24

3.1 O Mtodo de Hartree-Fock ........................................................................................ 24

3.2 Teoria do Funcional da Densidade ............................................................................ 28

4 MODELOS PARA DESCRIO DE SOLVENTE ........................................................ 32

4.1 Modelo Contnuo: COSMO (Conductor-like Screening Model) ............................... 32

4.2 Modelo Discreto: Mtodo Monte Carlo aplicado simulao de lquidos ............... 33

4.2.1 Gerando as configuraes do lquido ................................................................. 35

4.2.2 Escolha de ensemble ........................................................................................... 36

4.2.3 Tcnica de amostragem de Metropolis ............................................................... 37

4.2.4 Modelo para o potencial de interao ................................................................. 39

4.2.5 Correlao estatstica .......................................................................................... 41

5 FORAS DE DISPERSO DE LONDON ...................................................................... 42

6 RESULTADOS ................................................................................................................. 44

6.1 Propriedades Estruturais e Simulao ........................................................................ 44

6.2 Simulao do nanotubo em meio aquoso .................................................................. 48

6.3 Momento de Dipolo ................................................................................................... 54

6.4 Anlise da Distribuio de Cargas ............................................................................. 61

6.5 Interao das Molculas Confinadas e Energia ......................................................... 65

7 CONCLUSES E PERSPECTIVAS ............................................................................... 73

8 REFERNCIAS ................................................................................................................ 74

8

1 INTRODUO: MOTIVAO E PROPOSTA DESTE TRABALHO

1.1 Confinamento de molculas de gua no interior do nanotubo.

Os nanotubos so objetos de intensos estudos de diversas abordagens, tanto tericas

quanto experimentais [1, 2]. Essa nova estrutura do carbono possui propriedades

interessantes, como a alta resistncia mecnica, capilaridade e estrutura eletrnica nica

apontando para diversas aplicaes no futuro: como adsorventes de gases, materiais para

armazenamento de hidrognio, adio em matriz polimrica e outros. Recentemente outras

aplicaes incluindo reas da biologia, em particular no estudo canais de conduo de gua,

prtons e ons e molculas de DNA, tem despertado grande interesse por parte de pesquisas

tericas e experimentais [3].

Nanotubos de carbono so considerados sistemas altamente estveis alm de serem

considerados sistemas moleculares hidrofbicos, portanto insolveis em solventes polares. A

interao com o solvente polar leva ao confinamento de molculas no interior do nanotubo. O

confinamento restringe o movimento das molculas de gua confinadas.

Recentes experimentos observaram a incluso de molculas de gua no interior de

nanotubos. Em particular imagens de microscopia de transmisso eletrnica obtidas por

Gogotsi e autores [4] observaram gua lquida no interior de nanotubos e a interface gs-

lquido de acordo com a Figura 1. Naguib e autores [5] apresentam um mtodo para

confinamento de gua em nanotubos de multicamadas em diferentes temperaturas: 300, 650

e 700C e demostram os resultados usando imagens de transmisso (Figura 2) comparando-as

com resultados de simulao computacional.

9

Figura 1 Micrografia de transmisso de eltrons de uma poro tpica de nanotubos de carbono, mostrando a

expanso do volume de um lquido confinado. (a) forma inicial a temperatura Ta (b) A Insero torna-se mais

fina aps o aquecimento [4].

Figura 2 (a) A imagem apresenta um nanotubo vazio com um dimetro de 2,9 nm. (b) Aps um tratamento

autoclave, gua observada nos canais do nanotubo. (c) Simulao HyperChem de gua em um nanotubo (30,

30) com um dimetro de 4,07 nm, ilustra como a gua arranjada dentro do nanotubo de mesmo dimetro que b

(adaptado de [5]).

Outros resultados tambm foram obtidos usando espalhamento de nutrons e

simulao computacional [6] em nanotubos de monocamada, onde demostrado a formao

de microestruturas de gelo quando a gua confinada. Holt e colaboradores mostraram

experimentalmente que o fluxo e a permeabilidade da gua no interior de nanotubos so na

ordem de trs vezes maior comparado com o fluxo numa situao convencional.

O confinamento de molculas de gua no interior de nanotubos foi estudado de forma

detalhada onde se observou mudanas na polaridade e na estrutura do nanotubo [7]. Quando a

gua est confinada h um conflito entre a minimizao energtica da rede de ligaes de

hidrognio e as interaes com a superfcie do nanotubo. As propriedades fsicas e estruturais

da gua contida podem variar muito, dependendo das caractersticas moleculares da superfcie

da cavidade e das dimenses do confinamento, bem como da temperatura e presso. As

propriedades da gua so difceis de prever e podem ser muito diferentes da gua no inserida

10

na cavidade. Isto particularmente verdadeiro quando o confinamento ocorre em escala

nanomtrica. Em estudos de modelagem, a penetrao da gua em nanotubos modulada por

pequenas mudanas na polaridade da parede e as dimenses da cavidade [8].

A Figura 3 na pgina a seguir ilustra uma estrutura de nanotubo com o confinamento

de molculas de gua. Observa-se o alinhamento das molculas atravs da formao das

ligaes de hidrognio. Esta estrutura ser usada neste trabalho como modelo de

confinamento.

Figura 3 Estrutura geomtrica do nanotubo com cinco molculas de gua no interior. Vista lateral (esquerdo),

vista frontal (direito).

Um aspecto importante a interao dos nanotubos com o meio solvente. A polaridade

das molculas leva a quebra da simetria e naturalmente aparece agora um momento de dipolo

no nanotubo que interage com o meio solvente. Alm disso, os eltrons so drasticamente

afetados pelo ambiente que amplifica a polaridade da molcula. Do ponto de vista da teoria e

modelagem, a simulao molecular tem sido usada para o estudo e compreenso do nanotubo

em ambiente aquoso. Nesse sentido, grandes avanos tm ocorrido no desenvolvimento e

implementao de algoritmos para o estudo de propriedades de molculas. O crescente poder

computacional tem permitido estender os modelos usuais, restritos a fase gasosa a modelos

mais realistas que considerem a interao da molcula com o ambiente lquido e molecular.

A importncia na determinao das propriedades de lquidos est diretamente

relacionada s condies em sistemas biolgicos [9], nas quais grande parte dos processos

moleculares ocorre em solues e a temperatura ambiente. Em outras palavras, os efeitos do

meio externo na reatividade e nas propriedades (estruturais, eletroqumicas, catalticas,

espectroscpicas) de um soluto so extremamente importantes. Estes efeitos tambm so de

interesse para a compreenso de processos supramoleculares. Nos modelos atomsticos, um

11

lquido geralmente descrito por um ensemble de molculas interagentes via um potencial de

interao intermolecular [10, 11] apropriado. Em seguida, as condies termodinmicas so

definidas e suas possveis estruturas so geradas estatisticamente [10]. Assim, as tcnicas de

simulao computacional vm sendo aprimoradas para gerar as possveis estruturas de um

lquido. A partir dessas estruturas as propriedades do sistema podem ser computadas como

mdias estatsticas. A maior parte dos esforos para descrever um sistema lquido utiliza os

mtodos clssicos [10] de dinmica molecular ou Monte Carlo. Mais recentemente, com o

desenvolvimento de algoritmos e de processadores eficientes, a dinmica molecular ab initio

[12] vem ocupando um espao importante na descrio de sistemas em estado lquido.

Nesta dissertao estudaremos o confinamento de molculas de gua em um nanotubo

de carbono finito. Sero apresentados resultados para o deslocamento de carga, momento

dipolo e energia de interao de estruturas geomtricas do nanotubo (6,6) armchair e

molculas de gua otimizadas e geradas com a simulao clssica de Monte Carlo.

A essa metodologia combinamos a simulao de Monte Carlo com mtodos ab initio a

fim de obter uma descrio detalhada dos efeitos da temperatura, da contribuio da energia

de Van der Waals e do efeito das molculas fora do nanotubo nas propriedades eletrnicas do

nanotubo com as molculas no interior.

1.2 Estrutura da dissertao

A dissertao est organizada em sete captulos: aps nossa introduo, no segundo

captulo falaremos sobre nanoestruturas de carbono, discutindo as propriedades eletrnicas do

grafeno e como elas podem ser usadas para entendermos as propriedades eletrnicas do

nanotubos de carbono. No terceiro captulo descrevemos os mtodos de simulao e mecnica

quntica, usados para obter nossos resultados. A seguir no quarto, faremos uma breve

descrio sobre os modelos usados para o solvente em nossas simulaes: os modelos

COSMO e o Monte Carlo aplicado para simulao de lquidos. Logo aps, um breve captulo

sobre as foras de disperso de London e intermoleculares. Os resultados e as concluses

sero apresentados nos captulos seis e sete respectivamente. As estruturas das molculas e as

propriedades eletrnicas sero discutidas no incio do captulo seis e ao final deste captulo

discutiremos os resultados obtidos para a energia de interao e acoplamento.

12

2 NANOESTRUTURAS DE CARBONO

O carbono um dos elementos mais abundantes na natureza, apresenta-se em diversas

formas alotrpicas como, por exemplo, o grafite, o diamante. Isso se deve ao fato de que com

quatro eltrons de valncia, o carbono pode assumir as diferentes hibridizaes (sp3, sp

2 e sp),

o que resulta em compostos com estruturas e propriedades distintas quando os tomos desse

elemento ligam-se entre si. A hibridizao sp3 encontrada na estrutura do diamante, a sp

2

encontrada no grafite e grafeno, esse ltimo uma forma alotrpica identificada em 2004 [13]

atravs de micro esfoliao mecnica do grafite. Alm dessas, o carbono pode formar

estruturas fechadas contendo dezenas de tomos, como o caso dos fulerenos e nanotubos de

carbono, formas alotrpicas descobertas em 1985 [14], 1991 [1] respectivamente, devido

curvatura imposta pela geometria desses materiais, os tomos de carbono apresentam

hibridizao com carter sp2.

2.1 Grafeno

O termo grafeno nasceu da juno da palavra grafite com o sufixo -eno, proposto em

1962 por Hans-Peter Boehm que descreveu folhas atmicas de grafite. O grafeno a estrutura

base de uma boa parte das formas alotrpicas do carbono, tem a forma de uma folha plana

com a espessura de um tomo [15] (Figura 4).

Figura 4 Grafeno: Chamado de me de todas as formas grafticas [15] pode ser fechado sobre si mesmo

formando um fulereno (0D); enrolado, formando um nanotubo (1D); ou empilhado formando o grafite (3D).

13

Em 2004 A. Geim e K. Novoselov [13] demonstraram que os eltrons se comportavam

como partculas sem massa ao longo do grafeno, isto , como neutrinos com carga elctrica

despertando assim o interesse no grafeno pelos mais diversos grupos cientficos em todo o

mundo. As primeiras tentativas de isolar o grafeno foram por meio de esfoliao qumica e

posteriormente por crescimento de maneira semelhante que geralmente se faz para

nanotubos de carbono, obtendo-se somente filmes finos de grafites com aproximadamente

100 camadas de grafeno. Acredita-se que o processo de crescimento epitaxial de grafeno seja

a forma mais promissora de utilizao em aplicaes eletrnicas. Foi possvel isolar um

grafeno que suspenso entre suportes permitiu testar este material e avaliar as suas

propriedades independentemente do substrato [15].

Na folha de grafeno, cada tomo de carbono est igualmente ligado a trs carbonos

vizinhos, os tomos encontram-se distribudos por ligaes covalentes no mesmo plano

atravs de uma ligao tipo , onde a distncia entre esses de 1,42 formando um ngulo

de 120, e a hibridizao do tipo sp2 para os orbitais 2s, 2px, 2py e 2pz em que ltimo fica

perpendicular ao plano da folha de grafeno. Sendo assim, os tomos de carbono formam uma

rede hexagonal bidimensional similar a um favo de mel, como apresentada, por exemplo, na

Figura 5.

Figura 5 A estrutura do grafeno composta por camadas de carbonos com anis hexagonais.

Os orbitais s, px, e py se combinam para formarem os orbitais ligante (ocupado) e o

* antiligante (desocupado) no plano da folha do grafeno e so simtricos em relao a ele. As

ligaes so ligaes covalentes fortes responsveis pela maior parte da energia de ligao e

das propriedades elsticas da folha de grafeno. Trs dos eltrons de valncia formam esse tipo

14

de ligao e o quarto eltron no participa porque est orientado segundo o estado pz

formando a banda . Quanto energia desses orbitais, os do tipo possuem valores

caractersticos de energias muito abaixo do nvel de Fermi e, portanto, no desempenham

papel fundamental na estrutura eletrnica do material. Entretanto, os orbitais do tipo

apresentam energias em torno do nvel de Fermi. As propriedades eltricas dos grafenos

resultam do fato deste ser um semicondutor de gap nulo, isto , nos pontos K e K nos

extremos da primeira zona de Brillouin, o grafeno no possui um hiato de energia entre a

banda de valncia e a banda de conduo. A no existncia de um hiato nesses pontos, explica

a origem de fenmenos qunticos nesta estrutura tais como conduo balstica escala

micromtrica [15].

(a)

(b)

Figura 6 (a) Bandas de valncia de conduo do grafeno. (b) A banda de valncia se contata com a banda de

conduo nos pontos K e K no existindo hiato de energia. A disperso linear em torno do ponto de alta-simetria K no

nvel de Fermi conhecida como cone de Dirac (adaptado de [16]).

O grafeno tornou-se um dos materiais promissores para substituir o silcio na indstria

eletrnica devido as suas propriedades eltricas. Existe um grande interesse da comunidade

cientfica para a produo de transstores com base neste material. A grande mobilidade dos

transportadores de carga e o possvel ajuste do hiato permite o desenvolvimento de

transstores de alta frequncia. A conduo balstica permite ainda que este material seja

utilizado para aplicaes em nano e optoeletrnica, biossensores, entre outros. Sendo assim, a

sua elevada condutividade trmica, que permite a dissipao de grande quantidade de calor,

associada s suas excelentes propriedades eltricas, faz do grafeno um material com

propriedades superiores ao silcio para estas aplicaes.

15

O grafite, forma alotrpica do carbono mais abundante na natureza, composto por

um empilhamento de folhas de grafeno. Entre duas folhas consecutivas ao longo do plano a

distncia de 3,35 e as interaes entre os tomos de carbono de camadas distintas so

formadas por foras fracas do tipo de Van der Waals, onde no eixo temos a ligao fraca, tipo

. Estas fracas interaes permitem que uma folha de grafite possa deslizar sobre outra

camada de grafite, o que garante uma tima propriedade lubrificante para estes materiais. No

plano o grafite um bom condutor eltrico, pois os eltrons no orbital pz esto livres para se

moverem atravs do cristal. O grafite tem tambm as seguintes propriedades: alta temperatura

de sublimao, baixa densidade, considervel resistncia mecnica a alta temperatura, alta

condutibilidade trmica e baixo coeficiente de dilatao trmica.

O entendimento da estrutura eletrnica do grafeno nos d o ponto de partida para

entendermos a estrutura eletrnica de nanotubos de carbono.

2.2 Nanotubos de carbono

Descobertos por Sumio Iijima em 1991 [1], trata-se de uma forma alotrpica de

carbono, na qual arranjos hexagonais desses tomos, com hibridizao sp2, se dispem ao

longo de superfcies cilndricas de dimetros da ordem de nanmetros e comprimentos da

ordem de micrmetros. Os nanotubos de carbono foram observados como produtos

minoritrios da sntese de fulerenos aps utilizar o microscpico eletrnico de transmisso

(MET) para visualizar o material carbonoso. As imagens obtidas mostravam a mesma

quantidade de linhas em torno de um espaamento central, o que sugeriu tratamento de tubos

coaxiais (Figura 7). O trabalho de Iijima demonstrou estruturas tubulares contendo camadas

de grafite concntricas, distanciando-se entre si por 0,34 nm, dimetro externo da ordem de 4-

30 nm, dimetro do cilindro mais interno da ordem de 2,2 nm e comprimentos de at 1 m.

Essas estruturas foram chamadas posteriormente de nanotubos de carbono de mltiplas

camadas MWNT (Multi-walled carbono nanotube) [17]

Posteriormente em 1993, Iijima anunciou a obteno de nanotubos de parede nica

SWNT (single-walled carbono nanotubes) [18]. O aparato experimental era semelhante ao

experimento anterior, a tcnica usada era baseada em experimentos de arco-vaporizao,

porm com a utilizao de metais (cobalto ou ferro e nquel) para servirem como

catalizadores.

16

Figura 7 Fotomicrografia de nanotubo de carbono: (a) Tubo constitudo por cinco folhas de grafite; (b) Tubo

de duas camadas; (c) Tubo de sete camadas [1].

Os nanotubos podem ser entendidos como sendo folhas de grafeno enroladas, por isso,

suas estruturas esto fortemente relacionadas com a estrutura do grafeno e em geral so

descritas em termos dos vetores da rede do grafeno. A seguir iremos descrever as propriedades

estruturais e eletrnicas dos nanotubos de carbono, assim como os principais mtodos de

preparao.

2.3 Propriedades estruturais dos nanotubos

Os nanotubos de carbono so exemplos de nanomateriais que possuem suas

propriedades determinadas pelo tamanho e pela morfologia, podendo ser metlicos ou

semicondutores dependendo dos dimetros ou quiralidades dos tubos.

Um SWNT definido estruturalmente como uma folha de grafite enrolada em forma

cilndrica, formando um tubo, onde a maneira de enrolar o grafeno determina a sua estrutura.

Existem inmeras maneiras de se enrolar uma folha de grafite e formar nanotubos com

diferentes estruturas e propriedades.

Assim podemos descrever a estrutura dos nanotubos usando a estrutura do grafeno,

Figura 8. A clula unitria definia pelo vetor quiral , conhecido como vetor Hamada. Esse

vetor escrito em termos dos vetores unitrios da rede do grafeno 1 e 2 e pelo vetor de

translao .

17

Figura 8 Estrutura hexagonal da rede do grafeno mostrando os vetores da rede 1 e 2, o vetor quiral e o

vetor de translao .

Figura 9 Zona de Brillouin e espao recproco. (a) Vetores da base da rede hexagonal do grafeno. (b) Zone de

Brillouin. (Adaptado de [19])

Se a constante de rede do grafeno = 3 em que o comprimento de ligao

entre tomos de carbono, os vetores unitrios podem ser representados no plano xy por

1 = .3

2,1

2/ e 2 = .

3

2,

1

2/, como indica a Figura 9 (a). Os vetores de base no espao

recproco (1, 2), Figura 9 (b), se relacionam com os vetores de base do espao real por

= 2 ; portanto, para a rede recproca 1 = .1

2,3

2/ e 2 = .

1

2,

3

2/ em que

=4

3. Os pontos dados por , K e M, so respectivamente: centro, vrtice e aresta do

hexgono, e so os pontos de mais alta simetria [19].

O vetor quiral dado por = 1 +2, com n e m sendo nmeros inteiros e 1 e 2

sendo os vetores unitrios da rede hexagonal, definido de forma que ele conecte dois pontos

equivalentes da rede cristalina, os pontos O e A, Figura 8. Isso significa que o nanotubo ser

formado de modo que o tomo de carbono localizado no ponto O seja o mesmo tomo do

ponto A. Prosseguindo, conectando os pontos O com A e B com B, uma parte da estrutura de

18

um nanotubo obtida. O comprimento do vetor quiral define a circunferncia do nanotubo e

consequentemente seu dimetro, que dado por:

=

||

=

2 + +2 . (2-1)

O vetor , chamado de vetor de translao , descreve a direo do eixo do tubo. A

inclinao do vetor quiral define como ser o enrolamento helicoidal do nanotubo, ou,

equivalentemente, os coeficientes lineares (n, m) tais que = 1 +2. O ngulo pode

ser calculado por:

cos = 1

|||1|=

(2 + )

22 + +2 . (2-2)

O ngulo quiral dos NTCs definido como o menor ngulo entre o vetor quiral e os

vetores da base da rede do grafeno, est restrito ao intervalo 0 30, devido simetria

hexagonal da rede do grafeno. Esse ngulo tambm indica o ngulo de inclinao dos

hexgonos, com relao direo do eixo de nanotubos. Deste modo, os nanotubos so

classificados em trs classes quanto quiralidade, definida pelos ndices n e m, Figura 10.

Nanotubos do tipo (n, 0) ( = 0) so denominados zigzag; porque eles apresentam um padro

ziguezague ao longo da circunferncia. Esses tubos apresentam ligaes carbono-carbono em

paralelo ao eixo dos nanotubos. Nanotubos do tipo (n, n) ( = 30) so chamados tubos

armchair, apresentam um padro, semelhante a um desenho de uma cadeira de brao, ao

longo da circunferncia. Tais tubos apresentam ligaes carbono-carbono perpendiculares ao

eixo dos nanotubos. E os nanotubos com 0 30 so chamados de quirais com n m

0.

(12,0) (6,6) (6,4)

Figura 10 Estruturas atmicas de trs classes de nanotubos: (12,0) zigzag; (6,6) armchair e (6,4) quiral [19]

19

Alm do dimetro do tubo, a geometria da rede de grafeno e o vetor quiral determinam

a clula unitria e o seu nmero de tomos de carbono. Da seguinte forma: o vetor de

translao o menor vetor da rede do grafeno que perpendicular ao vetor quiral . Em

termos dos vetores da base temos que = 11 + 22 . Como condio de

perpendicularidade, = 0, as relaes do vetor unitrio e a equao (2-2) possvel

determinar as componentes do vetor :

1 =

2 +

, 2 =

2 +

, (2-3)

Em que dR o mximo divisor comum dos nmeros (2 + ) e (2 + ) e

expresso por:

= {, ( ) 3

3, ( ) 3 (2-4)

E em que d o mximo divisor comum de (n, m) [17].

Assim, a clula unitria do nanotubo 1D delineada pelo retngulo OABB definido

pelos vetores e , enquanto os vetores 1 e 2 definem a rea da clula unitria do grafeno

2D. Desta forma o comprimento do vetor de translao dado por:

importante obter o nmero de hexgonos por clula unitria N a fim de se

determinar o nmero de bandas eletrnicas e modos vibracionais nos SWNTs. Esse nmero

dado pela rea do retngulo gerado pelos vetores e dividida pela rea de um hexgono.

Assim sendo, temos:

=

| |

|1 2|=2(2 + + 2)

. (2-6)

Cada hexgono da rede contm dois tomos de carbono, desta maneira, o nmero de

tomos de carbono em cada clula unitria do nanotubo 2N, ou seja:

= 2 =4(2 + + 2)

=4||

2

2. (2-7)

Os nanotubos so materiais extremamente resistentes, flexveis e essencialmente

unidimensionais. A sua estrutura eletrnica est relacionada geometria dos mesmos, isto ,

dependendo dos dimetros ou quiralidades dos tubos, esses podem assumir um carter

metlico como, por exemplo, os nanotubos armchair, ou ser semicondutores como uma parte

|| = 3

2 + +2

(2-5)

20

dos zigzag. A seguir apresentamos na Tabela 1 um resumo dos principais parmetros

estruturais dos nanotubos.

Tabela 1 Parmetros para um nanotubo (n,m) . Com n e m sendo nmeros inteiros.

Smbolo Nome Frmula Valor

a Constante de rede = 3 2,46 1,42

1, 2 Vetores da base (3

2;1

2) , (

3

2;1

2)

1, 2 Vetores da rede recproca 1 = (1

2,3

2) , 2 = (

1

2,3

2) =

4

3

Vetor quiral = 1 +2 (,) (0 || )

dt Dimetro do tubo =||

=

2 + +2

ngulo quiral cos = 1

|||1|=

(2 + )

22 + +2 (0 || 30)

2.4 Propriedades eletrnicas de nanotubos de carbono

Em analogia com o grafeno, os nanotubos de carbono so caracterizados por dois tipos

de ligao. Exibem a hibridizao sp2, para os orbitais 2s, 2px, 2py e 2pz. Os orbitais s, px e py

se combinam no plano e formas a ligaes tipo , ligaes covalentes, forte. Os eltrons do

orbital pz esto fora do plano da folha do grafeno e no participam dos estados . A interao

lateral com o orbital vizinho pz cria as ligaes do tipo . Analogamente, as ligaes no

nanotubo da rede hexagonal ligam fortemente os tomos de carbono na parede cilndrica do

tubo. As ligaes so perpendiculares superfcie do nanotubo e so responsveis por fracas

interaes entre os SWNTs.

Devido s condies de contorno peridicas ao longo da direo da circunferncia do

nanotubo, os vetores de onda em volta da circunferncia do nanotubo so quantizados, isto ,

um conjunto de valores discretos. J os vetores de onda ao longo do eixo de crescimento do

nanotubo so contnuos (para tubos infinitos). Traando esses vetores permitidos para um

dado nanotubo na Zona de Brillouin do grafeno, gera-se uma srie de linhas paralelas cujo

comprimento e a orientao dependem dos ndices (n, m) do nanotubo. A ideia bsica que

est por trs disso que a estrutura eletrnica de um nanotubo dada pela superposio das

bandas de energia de um grafeno ao longo das linhas dos vetores permitidos.

O vetor quiral expresso em termos dos vetores da base ( 1, 2) , determina a

simetria e o dimetro de um nanotubo especfico, e tem mdulo || = 2 + +2 . A

21

aplicao das condies de contorno peridicas em torno da circunferncia do tubo conduz a

algumas restries sobre a fase da funo de onda de acordo com:

( + ) = () = () (2-8)

Em que o vetor tomado na superfcie do nanotubo e o vetor de onda na direo

perpendicular direo de crescimento do nanotubo. Assim vemos que a quantizao dos

vetores de onda depende da simetria do nanotubo, que est relacionada com o vetor quiral. E

que dependendo desta simetria duas situaes podem ocorrer, a seguir:

O primeiro caso, para os nanotubos metlicos, a anlise das propriedades eletrnicas

dos nanotubos comea verificando as vizinhanas da superfcie de Fermi. De modo que

podemos escrever = + , em que =1;2

3= .0,

4

3/, de modo que = (,

4

3+

). Essa a condio para que os valores de estejam sobre pontos equivalentes ao ponto

K de alta-simetria da zona de Brillouin do grafeno. Quando = 1, o qual s possvel

quando n m = 3l, em que l inteiro. Ento a restrio sobre a funo de onda se torna:

= 2 (2-9)

Com q sendo um nmero inteiro. Cada ndice q define uma linha de vetores

permitidos e cada linha contribui com uma banda ocupada e uma banda * desocupada.

Quando q = 0, um nanotubo (n, n) possui duas bandas de energia que se cruzam no nvel de

Fermi, resultando em uma gap de energia zero, isso configura um carter metlico. Assim a

condio n m = 3l sempre satisfeita para tubos armchair (n, n) que consequentemente so

metlicos, e igualmente satisfeita para um subconjunto de nanotubos zigzag (n, 0) que

quando n for mltiplo de 3, sero semicondutores de gap quase nulo.

Agora para o segundo caso: os nanotubos semicondutores, a outra escolha possvel

para (n, m) dada pela condio n m = 3l 1. Quando essa condio for obedecida, as

bandas de e * no se tocaro no nvel de Fermi, resultando num gap de energia diferente de

zero. o que ocorre para a outra parte dos nanotubos do tipo zigzag (n, 0) em que n no

mltiplo de 3 e por conseguinte esses nanotubos so semicondutores.

2.5 Mtodos de preparao de nanotubos de carbono

As principais tcnicas para crescimento de nanotubos de carbono so: descarga por

arco-voltico, ablao a laser e deposio qumica de vapor (CVD). A tcnica de descarga por

arco-voltico, utilizado por Iijima em 1991, obteve os primeiros nanotubos registrados [1].

Tem como princpio uma descarga por arco eltrico, gerada entre dois eletrodos cilndricos de

22

grafite utilizados como fonte de carbono para os CNTs. Em uma cmara de vcuo com estes

eletrodos e um gs inerte (hlio), [20] usado para acelerar o processo de decomposio de

carbono, aplicada uma diferena de potencial alta de maneira a formar um plasma. A

temperatura na regio do plasma est entre 3000 a 4000C, assim o grafite sublimado e

consequentemente os tomos de carbono so evaporados do eletrodo positivo (nodo) e so

depositados no ctodo ou nas paredes da cmara, formando os CNTs, geralmente de paredes

mltiplas (MWNTs). Os nanotubos de parede nica (SWNTs) requerem um processo cataltico

para promover o seu crescimento [18]. Nessa tcnica, a distncia entre os eletrodos deve ser

suficientemente pequena: menor que 1 mm, para que a corrente passe entre os eletrodos. Por

isso o nodo movimentado continuamente, conservando a distncia e evitando possveis

flutuaes no plasma.

A ablao a laser consiste em esfoliar a superfcie de uma amostra slida de carbono

atravs de um feixe de laser intenso, em altas temperaturas e na presena de um gs inerte

(hlio ou argnio). O grafite irradiado pela fonte de laser e o carbono vaporizado em fluxo

de gs com velocidade entre 0,2 a 2 cm/s a uma presso que est em trono de 500 torr. A

amostra colocada no interior de um tubo de quartzo fechado e evacuado, a temperatura

elevada a aproximadamente 1200C. O tubo de quartzo preenchido com o gs inerte e o alvo

focalizado com lentes. O laser acionado e varre toda a superfcie de grafite, mantendo a

mesma lisa e uniforme, dispensando movimentao do grafite. O fluxo de gs arrasta os

espcimes de carbono gerados, depositando-os na superfcie do coletor. Mesmo que o grafite

puro gere nanotubos de paredes mltiplas (MWNTs), esta a tcnica tem sido usada para

produo de nanotubos de parede nica (SWNTs) [21], para que isso ocorra, a amostra de

grafite geralmente misturada com pequenas quantidades de metais de transio que servem

de catalisadores (dopantes) para o crescimento desse tipo de nanotubo.

A tcnica de obter nanotubos por posio qumica a vapor (CVD) requer temperaturas

entre 500 a 1000C, relativamente mais baixas que as empregadas nas duas tcnicas anteriores

[22]. Permite a produo contnua de nanotubos de carbono e utilizvel para produes em

grandes escalas. Esse processo de crescimento, CVD, envolve a reao de decomposio de

um vapor de gs contendo tomos de carbono, geralmente hidrocarbonetos, na presena de

um catalisador metlico, tais como Fe, Ni e Co. Este mtodo consiste nas seguintes etapas: i)

o hidrocarboneto adsorvido e dissociado na superfcie metlica, com formao de tomos de

carbono adsorvidos; ii) os tomos de carbono podem dissolver-se e difundir-se atravs do

metal, precipitando em regies de crescimento preferencial, como as fronteiras de gro ou as

interfaces metal-suporte. Dessa forma, as partculas metlicas so destacadas da superfcie e

23

transportadas com os filamentos em crescimento, enquanto que a superfcie ativa continua

disponvel para a reao j que o carbono no se acumula sobre ela; iii) tambm possvel a

nucleao superfcie, conduzindo formao de filmes de carbono que efetivamente

desativam o catalisador. As espcies reagem com os catalisadores no substrato e os nanotubos

so crescidos sobre esse substrato. Com o controle dos parmetros de catlise, pode-se fazer

crescer tanto MWNTS e SWNTs. O tamanho da partcula do catalisador determinar o dimetro

do tubo geralmente os de paredes mltiplas, porm, quando a partcula metlica possui

tamanho muito reduzido, aproximadamente 1 nm, SWNTs tambm podem ser formados [22].

24

3 MTODOS APROXIMATIVOS PARA MECNICA QUNTICA MOLECULAR

3.1 O Mtodo de Hartree-Fock

As propriedades de sistemas atmicos e moleculares so determinadas precisamente

pela mecnica quntica quando obtemos a soluo da equao de Schrdinger para o

movimento dos eltrons e ncleos. No entanto, a soluo exata obtida para tomos simples,

como o hidrognio que possui somente um eltron e um ncleo, e em geral no factvel para

problemas que envolvem mais nmeros de eltrons em torno de uma srie de ncleos

atmicos. Dessa forma para um sistema quntico de muitos corpos, a busca da soluo da

equao de Schrdinger exige um conjunto de mtodos aproximados.

O mtodo de Hartree-Fock (HF) tem sido o mais popular dentre os diversos mtodos

usados hoje em dia, porque alm de fornecer uma boa soluo aproximada para o problema de

muitos eltrons, serve como ponto de partida para outros mtodos: por um lado, os mtodos

semiempricos, onde as aproximaes adicionais e parmetros empricos so includos com o

propsito de reduzir o custo computacional; por outro, mtodos onde soluo HF so

acrescentadas correes no sentido de se aproximar da soluo exata [23].

As funes de onda e as energias dos sistemas atmicos e moleculares so obtidas a

partir da equao de Schrdinger:

= (3-1)

Onde H representa o operador Hamiltoniano e a funo de onda que descreve o

sistema molecular constitudo por n eltrons e N ncleos. De maneira geral H pode ser escrito

como:

= 2

2 2

25

energia cintica dos eltrons e o segundo termo descreve a energia cintica dos ncleos, os

trs termos a seguir descrevem as energias potenciais eletrostticas eltron-eltron, ncleo-

ncleo e ncleo-eltron respectivamente. So consideradas apenas as foras de atrao e

repulso que ocorrem entre os pares de partculas e desprezado qualquer efeito relativstico.

Outra aproximao bsica para aplicao da mecnica quntica a molculas e slidos

conhecida como aproximao de Born-Oppenheimer ou aproximao adiabtica [24]. Essa

aproximao considera que os ncleos se movem bem mais lentamente que os eltrons, pois

so muito mais pesados. Neste caso, em uma primeira aproximao, podemos desprezar a

energia cintica dos ncleos no Hamiltoniano molecular. Sendo assim, podemos escrever uma

equao de Schrdinger eletrnica [23], que envolva somente a descrio dos eltrons, dada

por:

elet = elet (3-3)

Onde:

= 2

2 2

26

potencial na equao de Schrdinger nuclear. Todavia, para descrever corretamente a maior

parte dos fenmenos eletrnicos, devemos resolv-la para vrias configuraes nucleares

diferentes at encontrar aquela na qual a energia mnima. Sendo assim, apesar de feita a

separao no mtodo da aproximao Born-Oppenheimer, os movimentos dos eltrons e dos

ncleos continuam interdependentes. Existem muitos exemplos [24] que podem invalidar essa

aproximao, mas ela fornece uma simplificao matemtica que nos permite resolver com

mais facilidade a equao de Schrdinger original e por isso empregada amplamente na

maioria dos estudos tericos de estrutura eletrnica.

A ideia ento procurar solues para a equao (3-1), em que agora a funo de onda

uma funo que depende das coordenadas dos n eltrons pertencentes ao sistema.

Assumimos que pode ser escrita como uma combinao de funes que dependem

somente das coordenadas de um eltron, assim:

(, ) = ,()()()- (3-7)

Qualquer combinao a princpio pode ser utilizada, contudo para uma descrio

completa de um estado eletrnico, necessrio que a funo de onda dos eltrons satisfaa o

postulado da antissimetria, isto , as funes de onda dos eltrons devem ser antissimtricas

com respeito s trocas de coordenadas, propriedade conhecida como princpio de excluso de

Pauli [25]. A consequncia direta desse fato que dois eltrons no podem ocupar o mesmo

estado. Ento um simples produto das funes no pode ser utilizado para escrever

porque no satisfaz o postulado da antissimetria.

Contudo podemos obter as funes de onda antissimtricas utilizando o chamado

Determinante de Slater [23], que satisfaz o princpio de Pauli e isso nos leva ao mtodo de

Hartree-Fock. No caso de sistemas moleculares definido como:

=1

!|

1(1) 2(1) (1)1(2) 2(2) 1(2)

1() 2() ()

| , { =

= ou (3-8)

As funes n(n) no determinante so spin-orbitais, onde cada uma o produto de

uma funo orbital i(rj) por uma funo spin ( ou ). O determinante descreve N eltrons

ocupando N spin-orbitais (1, 2,, n) sem especificar qual eltron est em qual orbital. As

linhas do determinante de Slater so indexadas pelos eltrons, enquanto as colunas so

indexadas pelos spin-orbitais. O fator (!);1

2 normaliza quando os spin-orbitais formam um

conjunto ortonormal:

27

| = (3-9)

A ideia do mtodo de Hartree-Fock combinar o teorema variacional [23] com a

suposio de que a funo de onda que descreve o sistema molecular seja um determinante de

Slater. A melhor funo de onda aquela que conduz a um mnimo valor esperado da energia.

Dessa combinao obtm-se a expresso para a energia:

=|| +1

2||

+ (3-10)

O teorema variacional ento aplicado e o processo de minimizao nos leva a uma

equao de autovalores. Esses autovalores so agrupados numa matriz, consequentemente a

matriz dos autovalores hermetiana e pode ser diagonalizada atravs de uma transformao

unitria [24]. A equao transformada conhecida como equao cannica de Hartree-Fock:

= (3-11)

Com:

= +( )

(3-12)

Sendo i a energia do orbital molecular i.

O termo F em (3-11) denominado operador de Fock, J e K so operadores definidos

como operadores de Coulomb e de troca, respectivamente [24]. A resoluo da equao (3-11)

consiste em encontrar as autofunes do operador F e seus respectivos autovalores i.

O operador de Fock F depende das funes , segundo existe uma equao para cada

orbital, sendo que a equao para o orbital i depende de todos os outros orbitais atravs de F.

Sendo assim as equaes so resolvidas atravs de sucessivas aproximaes e por isso diz-se

que o mtodo HF um mtodo autoconsistente.

O mtodo HF no d a soluo exata da equao de Schredinger para problemas de

muitos eltrons, mas gera a melhor soluo quando se assume um nico determinante de

Slater como funo de onda que descreve o sistema total. Uma funo de onda antissimtrica

geral pode ser escrita em termos de um conjunto completo de determinantes, porm no

mtodo HF somente um determinante considerado. Isso fisicamente quer dizer que cada

eltron est sujeito a um potencial efetivo, chamado potencial autoconsistente, que considera

suas interaes com os outros eltrons atravs de uma mdia, mas os detalhes das interaes

particulares entre cada par de eltrons ficam perdidos. O erro na aproximao de HF

28

conhecido como correlao, pois a aproximao em questo despreza o efeito da correlao

entre os eltrons. A diferena entre a energia exata (no relativstica) e a energia de Hartree-

Fock chamada energia de correlao eletrnica [24]:

= (3-13)

A energia de correlao significa ento um aprimoramento alm do movimento de

partculas independentes, embora seja frequentemente pequena em comparao com a energia

total do sistema, ela essencial para descrio dos processos eletrnicos e a sua excluso

pode levar a resultados insatisfatrios e irreais em alguns problemas eletrnicos. Ento os

mtodos moleculares mais tradicionais utilizam o mtodo de Hartree-Fock como ponto de

partida e a correlao obtida ou por uma superposio de configuraes ou por tratamentos

perturbativos. Esses diferentes mtodos [23] de clculos ab initio, cada qual com suas

prprias caractersticas, buscam obt-la sistematicamente com o resultado exato, o que no

possvel na prtica, sendo assim um mtodo pode ser mais vantajoso do que os outros

dependendo da situao que so utilizados. Outra metodologia em uso a Teoria do Funcional

da Densidade (DFT Density Functional Theory) onde em princpio possvel obter a

energia eletrnica exata a partir da densidade eletrnica sem passar por uma soluo de

partculas independentes, sem se passar sequer pela funo de estado [24].

3.2 Teoria do Funcional da Densidade

A teoria do Funcional da Densidade, Density Funtional Theory, (DFT) tornou-se nas

ltimas dcadas um importante mtodo para o estudo de estrutura eletrnica de slidos e

molculas. Problemas que eram tratados por mtodos ab initio, HF e ps-Hartree-Fock so

agora tratados utilizando-se a DFT, que s vezes possibilita melhores acordos com os dados

experimentais disponveis. Suas vantagens incluem um menor esforo computacional e a

incluso dos efeitos de correlao eletrnica que importante no clculo de determinadas

propriedades. Seu formalismo capaz de resolver de maneira consistente o problema para

muitos corpos qunticos.

Thomas e Fermi, citados em [24], foram precursores do formalismo DFT. No mtodo

original de Thomas-Fermi (1927), a energia cintica do sistema aproximada como um

funcional explcito da densidade com a suposio de eltrons no interagentes. Thomas e

Fermi negligenciaram troca e correlao entre os eltrons; contudo, Dirac, em 1930,

desenvolveu a aproximao local para troca.

29

Posteriormente em 1964 Hohenberg e Kohn (HK) e em 1965 Kohn e Sham (KS) em

trabalhos publicados, citados em [23], [24] e [26], provaram dois teoremas que justificam o

uso da densidade eletrnica (r) como varivel bsica para o problema. Desde ento a DFT,

em termos genricos, pode-se represent-lo por esses dois teoremas:

I) A funo de onda do estado fundamental e da todas as propriedades deste estado so

funcionais da densidade eletrnica (r), e:

II) A energia do estado fundamental de um sistema multieletrnico sob um dado potencial

externo v(r), pode ser escrita como:

,()- = () () + ,- (3-14)

Onde F denominado de funcional universal de , que independe do potencial externo

v(r). Substituindo-se a funo exata deste estado por outra funo aproximada , Ev aumenta,

assim:

= ,- = () () + ,- = ,- (3-15)

O desafio da teoria DFT que no se conhece nas equaes (3-14) e (3-15) a

expresso analtica para a funo de densidade eletrnica (r). Uma alternativa encontrada

para a sua obteno utilizar as equaes de HF atravs de um processo de autoconsistncia

(Figura 11) para determinar qual a melhor funo (r) que minimizaria a energia total do

sistema.

()

()

() =

:1() = ()

()

= :1

No

Sim

Observveis Fsicas

Figura 11 Ciclo de autoconsistncia.

30

Nessa aproximao a densidade obtida por:

() = |()|2

31

,- = ()

(()3 (3-21)

Onde () a energia de troca e correo por eltron de um gs de eltrons

homogneo de densidade = (r). Segue de (20)

,-

()(()

,()-). (3-22)

Na aproximao LDA o termo ,- dado por

,-

,- = (), (())+ (())-3 (3-23)

Em que () separada em contribuies independentes para exchange , que no

caso do gs homogneo obtido facilmente e o termo de correlao que complexo de ser

obtido mesmo neste caso. Atravs de uma simulao com Monte Carlo Quntico [27] para um

gs de eltrons homogneo e interagente, obtm-se com alta preciso para vrios valores da

densidade.

Se a densidade eletrnica (r) for fortemente no uniforme, a energia de troca e

correo calculada usando a densidade de eltrons uniforme no uma boa aproximao. Em

sistemas reais a densidade no homognea. Na tentativa de melhorar o resultado LDA

possvel realizar expanses em termos do gradiente da densidade de carga total. Essa

aproximao conhecida como (GGA), aproximao de gradiente generalizado e tem a

seguinte frmula funcional:

,- = ((())3 (3-24)

Existem inmeros funcionais ExcGGA que diferem em como essas funes so escritas e

compostas [28]. Muitas combinaes foram desenvolvidas, tais como BP, BLYP, BVWN,

PW91. Os nomes desses funcionais derivam basicamente da composio das contribuies

individuais; BLYP, por exemplo, tem o termo de exchange proposto por Becke [29] e o termo

de correlao proposto por Lee, Yang e Parr [30].

Ainda possvel combinar os funcionais de troca e correo com o termo de exchange

do mtodo Hartree-Fock numa abordagem hbrida . Isso ocorre, por exemplo, no funcional

B3LYP. Esse procedimento feito partindo de dados experimentais em sistemas moleculares

bem conhecidos e, portanto contem parmetros ajustveis, constituindo uma forma

semiemprica de tratar o problema.

De modo geral, DFT uma boa alternativa para se tratar de sistemas grandes e analisar

os efeitos da correlao eletrnica nesses sistemas.

32

4 MODELOS PARA DESCRIO DE SOLVENTE

Os lquidos esto presentes em inumerveis sistemas naturais, desempenham um papel

importante em cincia bsica, na tecnologia e em processos vitais, constituem o meio

reacional para grande parte das transformaes qumicas. Esta presena faz com que o estudo

do estado lquido da matria seja abordado sob os pontos de vista tericos e experimentais.

Para este estudo, foram usados modelos da Fsica Computacional tcnicas que permitiram

uma abordagem qualitativa e quantitativa. Nos modelos desenvolvidos para tratar os solventes

destacamos dois tipos: o modelo contnuo, onde o efeito do solvente est implcito atravs de

uma caracterstica macroscpica do meio; e tambm o modelo discreto que est baseado na

mecnica estatstica com tratamento explcito do sistema pelo Mtodo de Monte Carlo.

4.1 Modelo Contnuo: COSMO (Conductor-like Screening Model)

Na classe de modelos contnuos, a molcula de soluto est inserida num meio

dieltrico com permissividade . Deste modo o soluto forma uma cavidade no interior do

dieltrico. Esta teoria foi inicialmente proposta por Born [31], Kirkwoo [32] e Osanger [33],

A interface entre a cavidade e o dieltrico chamada Superfcie Acessvel ao Solvente (SAS).

Conforme ilustrado na Figura 12. Neste modelo a superfcie definida atravs de raios de

Van der Waals dos tomos de soluto. Uma verso recentemente desenvolvida por Klamt e

Schrmann [34] considera o solvente como um condutor. O campo gerado pelas cargas sobre

o soluto faz com que este sofra uma polarizao induzida reproduzindo assim parcialmente o

efeito do solvente. O modelo de algortimo usado neste trabalho COSMO (Conductor-like

Screening Model) [34] implementado no software ORCA.

Figura 12 Representao esquemtica representando o modelo COSMO (obtida de [35])

33

Contudo este modelo no permite que interaes especficas do soluto e do solvente

sejam consideradas. Isto pode ser feito utilizando os modelos discretos, no qual o solvente

explicitamente considerado. Estes modelos em geral usam a mecnica estatstica, as

molculas do solvente so consideradas explicitamente como parte do sistema, interagindo

por meio de um potencial resultante composto de parcelas de Lennard-Jones e Coulomb. A

partir disto o sistema evolui utilizando o Mtodo de Monte Carlo, seguindo o algoritmo de

Metropolis.

4.2 Modelo Discreto: Mtodo Monte Carlo aplicado simulao de lquidos

Primeiramente ocorreram observaes do movimento browniano, os experimentais

trabalharam para melhorar o entendimento da estrutura e dinmica de partculas que

compem os lquidos. Ao mesmo tempo, tericos construram modelos simples que explicam

o comportamento dos lquidos. Avanos no conhecimento do estado lquido so obtidos

utilizando teorias analticas a partir da formulao estatstica de Boltzmann e Gibbs para

estados microscpicos da matria, Hansen e McDonald (1986) citados por Barlette [36].

Entretanto, devido a dificuldades no tratamento matemtico das equaes envolvidas, estes

estudos restringem-se a abordagem de lquidos formados por molculas simples. Segundo

Barlette [36], o incio desta etapa est relacionada com a publicao dos trabalhos de

Metropolis et al sobre o mtodo de Monte Carlo (1953), e Alder e Wainwright com o mtodo

de Dinmica Molecular (1957,1959). Afirma que essas tcnicas computacionais permitem a

investigao de lquidos moleculares complexos.

A utilizao de mtodos computacionais especficos para estudar sistemas lquidos

est associada complexidade das interaes intermoleculares e ausncia de simetria

espacial que caracterizam estes sistemas. Com isso, o desenvolvimento de teorias analticas

est restrito a modelos moleculares simplificados. Estudos analticos pressupem o auxlio de

aproximaes matemticas para a soluo de equaes e, em geral, os resultados obtidos nem

sempre refletem a qualidade do modelo proposto para a representao molecular dos

componentes do sistema estudado. Contrastando a essas dificuldades, as tcnicas de

simulao so capazes de tratar exatamente o modelo e testar sua qualidade a partir da

comparao com resultados experimentais [36, 37, 38]. A simulao computacional gera

informaes sobre um sistema ao nvel microscpico, como as posies e velocidades

atmicas. A converso destas informaes detalhadas em termos macroscpicos, como

energia interna, presso determinada pela mecnica estatstica.

34

Os potenciais intermoleculares empregados so cruciais para a adequada descrio das

relaes entre propriedades moleculares e caractersticas observadas experimentalmente.

Como Coutinho [37] explica numa simulao computacional de lquidos, o sistema

representado por N tomos, ou molculas, que interagem atravs do potencial U. Os tomos

so confinados numa caixa e o conjunto de posies atmicas = (1, 2, , ) definem uma

configurao i, denotada por i(r). De acordo com o mtodo de simulao, regras que

definem os movimentos atmicos so estabelecidas. A cada novo conjunto de posies

atmicas, r, uma nova configurao i(r) gerada e a evoluo da simulao se d atravs do

movimento sucessivo dos tomos, ou seja, da gerao sucessiva de configuraes. Todas as

configuraes geradas atravs da simulao pertencem ao espao de configuraes {i}. No

equilbrio trmico deseja-se gerar configuraes de acordo com a distribuio de

probabilidades de Gibbs, proporcional a () = ;(

()

)

, onde k a constante de

Boltzmann e T a temperatura.

Para gerar as configuraes i(r) so usados tanto os mtodos de simulao Dinmica

Molecular quanto o mtodo de Monte Carlo. A Dinmica molecular um processo

determinstico, no qual as foras que atuam sobre os tomos so calculadas a partir do

potencial de interao U(r), = /, e as equaes de movimento so resolvidas para

um intervalo de tempo t. Neste processo as posies atmicas sucessivas so calculadas e

novas configuraes so geradas, os tomos se movem em trajetrias geradas a partir da

integrao das equaes de movimento, e as propriedades observveis so obtidas atravs de

mdias temporais sobre as trajetrias dos tomos. Por outro lado, o mtodo de simulao de

Monte Carlo um processo estocstico, nesse mtodo as posies atmicas sucessivas so

selecionadas aletoriamente e novas configuraes so geradas. Isto , os observveis, obtidos

via simulao de Monte Carlo, aparecem como mdias sobre algum espao amostral. A fim de

obter as configuraes espaciais que faro parte da amostragem, utiliza-se um gerador de

nmeros aleatrios para modificar as coordenadas espaciais das molculas que compem o

sistema. As novas configuraes so escolhidas de modo probabilstico, de acordo com um

peso estatstico, proporcional distribuio de equilbrio termodinmico do sistema, a

distribuio de Boltzmann e deste modo o processo de gerar configuraes no est associada

uma lei dinmica de evoluo temporal, os passos de Monte Carlo, no so, necessariamente,

temporalmente consecutivos.

Todo o desenvolvimento terico feito sobre simulaes computacionais baseado na

hiptese de que tanto o processo determinstico quanto o estocstico ao percorrerem

35

totalmente o espao de configuraes possveis, todas so geradas pela simulao, e isso

ocorre para processos infinitamente longos de simulao. Portanto, existe equivalncia entre a

simulao Dinmica Molecular e Monte Carlo para estudar as propriedades de sistemas

lquidos, as mesmas informaes do evento so apresentadas. Interaes intermoleculares

especficas entre soluto-solvente e solvente-solvente, necessrias para fornecer detalhes sobre

a estrutura e a origem dos efeitos de solvente, tambm podem ser tratadas. Comparados aos

sistemas macroscpicos, a aplicao desses modelos a sistemas de tamanho reduzido

suficiente para permitir medidas de propriedades observveis em muito bom acordo com

dados experimentais. E embora s a Dinmica Molecular possa ser usada para estudar as

dependncias temporais por fornecer os dados em ordem cronolgica, o mtodo de Monte

Carlo fornece os observveis em ordem aleatria e esta caracterstica confere ao modelo mais

rapidez e simplicidade para seu emprego na simulao computacional [37].

Os grandes avanos na aplicao desse mtodo so devido s possibilidades criadas

com o desenvolvimento dos computadores, pois para conseguir toda sua potencialidade

preciso gerar e processar uma grande quantidade de procedimentos aleatrios. A simbiose

entre o desenvolvimento de metodologias e recursos computacionais permite a investigao

de sistemas moleculares complexos, contendo milhes de tomos, viabilizando a realizao de

estudos e contribuindo para a soluo de problemas apresentados na rea de cincias de

materiais [38].

4.2.1 Gerando as configuraes do lquido

Na simulao Monte Carlo (MC) o meio lquido gerado inserindo-se N molculas

aleatoriamente dentro de uma caixa cbica com condies peridicas de contorno utilizando-

se o mtodo de rplicas. Este mtodo consiste em replicar a caixa com o sistema original em

todas as direes. A utilizao desse mtodo acoplado com o uso das condies de contorno

evita efeitos causados pela interao entre as molculas do meio com as paredes da caixa alm

de tornar o nmero de partculas dentro da caixa fixo, pois se uma molcula sair da caixa

original, uma de suas imagens surgir imediatamente na face oposta. Como o propsito de

eliminar a periodicidade introduzida neste mtodo, definindo um raio de corte rc para as

interaes, se este for menor que meio comprimento da caixa, ento nenhuma molcula

interage simultaneamente com uma molcula original e sua rplica, significando que a

molcula s interage com as outras localizadas a uma distncia que rc. Na Figura 13,

apresentada uma ilustrao de um lquido molecular com condies peridicas de contorno.

36

Figura 13 - Ilustrao do mtodo das rplicas num sistema bidimensional com caixa quadrada. A caixa central

representa a caixa original e as demais so as rplicas [37].

Partindo de uma configurao inicial gerada aleatoriamente, as configuraes do

sistema so obtidas atravs da realizao de um movimento aleatrio, translao ou rotao de

uma molcula escolhida aleatoriamente no sistema, definindo uma sucesso de passos MC

que definido quando as N molculas do sistema so visitadas. O movimento geralmente

pequeno para evitar sobreposio de duas molculas e aceito seguindo uma regra

probabilstica. Aps um nmero suficientemente grande de passos MC, armazenado um

conjunto de configuraes que descrever a evoluo da simulao do sistema lquido.

Como o sistema sai da energia inicial U0 e gradualmente atinge um valor de energia

mdia U do sistema no estado de equilbrio no qual fica flutuando, podem-se definir dois

estgios no processo de simulao: o estgio de termalizao, onde o sistema passa por um

transiente entre o estado inicial de no equilbrio e o estado de equilbrio; e o estgio

estacionrio ou estgio de mdias, onde o sistema se encontra em equilbrio termodinmico e

consequentemente sero geradas as configuraes do sistema para os clculos de mecnica

quntica.

Durante cada passo MC, o movimento da molcula aceito seguindo a tcnica de

amostragem de Metropolis [39], que proporciona a seleo das configuraes do sistema

seguindo uma amostragem que satisfaz a distribuio de equilbrio de Boltzmann, permitindo,

portanto, uma convergncia mais rpida das mdias a serem calculadas.

4.2.2 Escolha de ensemble

Os sistemas comumente estudados em simulao de lquidos esto sob as condies do

ensemble, segundo Coutinho [37], essa palavra significa agrupamento, conjunto e foi

37

introduzida na mecnica estatstica por Gibbs em 1902. O estado termodinmico de um

sistema definido como uma mdia no agrupamento de configuraes de estados

microscpicos, cuja escolha est associada s condies de contorno impostas ao sistema.

Dessa forma, para fazer uma simulao computacional necessrio escolher o ensemble em

que se vai simular, pois o procedimento da simulao muda de acordo com o ensemble. O

ensemble cannico NVT; com temperatura T, volume V e nmero de molculas N mantidos

constantes, muito usado em simulaes de lquidos em Monte Carlo assim como o ensemble

isobrico-isotrmico NpT, onde p a presso [36, 37, 38].

4.2.3 Tcnica de amostragem de Metropolis

O tratamento de sistemas moleculares em um meio lquido no equilbrio um

problema que necessita do uso de ferramentas da mecnica estatstica, onde as propriedades

macroscpicas como a energia interna, calor especifico e outras so obtidas atravs de mdias

configuracionais:

=

1

()*+

(4-1)

Onde o espao configuracional genrico, ens/Z a distribuio de probabilidades

de um ensemble qualquer (NVT, NPT) e Z o fator de normalizao da distribuio

conhecido como funo de partio.

A equao (4-1) analiticamente intratvel para maior parte dos modelos usados para

descrever o potencial de interao U. Por isto clculos de valor mdio de propriedades so

feitos na simulao usando tcnicas de amostragem mdia. Metropolis (1953) sugeriu

substituir a equao (4-1) pela seguinte equao [37]:

= =1

()

38

=

{

1

<

1

=

(4-3)

Que satisfaz a condio de balano detalhado.

No caso da simulao no ensemble NVT, a probabilidade de uma configurao passar

do estado i para j dada por:

=

{

1 U 0

;/ U > 0

1

= (4-4)

Dessa maneira, a configurao ser aceita se a variao da energia potencial for menor

ou igual zero. Se no, a nova configurao ser aceita com uma probabilidade de transio

exponencial, ;U/ , igual razo entre os fatores de Boltzmann para as duas configuraes.

Esta situao ilustrada pela Figura 14.

Figura 14 - Diagrama ilustrativo do algoritmo de Metropolis [37]

No caso da simulao no ensemble NPT, o mesmo procedimento adotado e a

diferena apenas aparece na probabilidade de transio:

= {

;/ U > 01 U 0

(4-5)

Onde = a variao de entalpia dada por:

= + + ln( ) (4-6)

39

Onde o ltimo termo corresponde ao reescalonamento de todas as posies

moleculares promovido pela variao de volume. O reescalonamento das posies das

molculas evita que algumas fiquem fora da caixa ou que surjam espaos vazios aps a

variao de volume.

4.2.4 Modelo para o potencial de interao

Para gerar uma boa descrio de um sistema molecular, importante ter um

conhecimento prvio do potencial de interao interatmico. Ento, considerando sistemas

lquidos que no sofrem efeito de foras externas, o potencial de interao escrito como

[37]:

() = 2

()

(4-7)

O termo 2

o potencial de pares que representa a interao entre dois corpos e

convenientemente divido em duas partes: intramolecular e intermolecular. O potencial de

interao intramolecular, Uintra

, comumente escrito como sendo formado por contribuies

devido ao estiramento das ligaes, s deformaes torcionais, s variaes angulares entre

duas ligaes, s interaes eletrostticas entre os tomos, dentre outros tipos de deformaes

da molcula.

O potencial de interao intermolecular pode ser separado em contribuies de um,

dois, trs ou mais corpos. Entretanto, para sistemas lquidos, a maior contribuio dada pelo

termo de interao de dois corpos, de tal maneira que os termos de interao de ordem mais

elevada so muito pequenos e, portando, podem ser desprezados [10]. Devido complexidade

dos termos angulares o potencial intermolecular descrito atravs do somatrio dos

potenciais atmicos, ou potenciais de stios que descrevem a molcula e assim pode se escrito

como:

= ()

(4-8)

Onde i e j so os stios localizados nas molculas a e b respectivamente e rij a

distncia entre os stios. Os stios do potencial intermolecular em (4-8) no esto localizados

necessariamente em cada tomo da molcula, em alguns casos, existem potenciais de

interao onde cada stio representa um grupo de tomos ou nenhum tomo especfico da

molcula. Esses stios so escolhidos para representar da melhor forma possvel o potencial de

interao entre as molculas do sistema.

40

Em simulaes de sistemas lquidos, o potencial de Lennard-Jones (LJ) o mais

comum utilizado somado ao o potencial de Coulomb:

() = 4 [(

)

12

(

)

6

] +

(4-9)

Onde = 1/4 a constante da lei de Coulomb, q a carga de carga de cada stio,

rij a distncia entre os stios i e j, = e = , onde i e i so os parmetros

de LJ de cada stio. Os parmetros e representam, respectivamente, a profundidade do

poo potencial e a distncia (finita) onde o potencial de interao nulo. Em geral, esses

parmetros so ajustados para reproduzir dados experimentais ou dados de clculos qunticos.

Figura 15 - Potencial de Lennard-Jones [40]

Na Figura 15, observamos que a forma do potencial LJ apresenta uma parte atrativa a

longas distncias, causada pela correlao entre as nuvens eletrnicas que rodeiam os tomos;

um poo negativo responsvel pela coeso e um potencial fortemente repulsivo a curtas

distncias, causado pela repulso eletrosttica entre os tomos. O termo atrativo do potencial

LJ (1/r6) consiste na descrio das foras eletrostticas de longo alcance que aparecem nas

interaes entre molculas no carregadas. A forma funcional do termo repulsivo (1/r12

)

descreve bem as propriedades observveis de sistemas em fase slida, lquida e gasosa,

quando combinado com o termo atrativo [37].

Por fim, o potencial de Coulomb na equao (4-9) descreve as interaes eletrostticas

dos momentos de multipolos permanentes de duas molculas a e b.

41

4.2.5 Correlao estatstica

A aplicao do mtodo de Monte Carlo com amostragem de Metropolis para se

calcular as propriedades por meio de mdias configuracionais, equao (4-1), gera um erro

estatstico associado ao nmero de configuraes dado por:

= 2 2

(4-10)

Alm disso, sabe-se que em cada passo MC as mudanas configuracionais so

pequenas e deste so estatisticamente dependentes, ou correlacionadas e pouca informao

nova acrescentam s mdias. Por essa razo importante calcular a funo de autocorrelao

da energia para saber a eficincia estatstica na seleo das configuraes que sero utilizadas

nos clculos. A funo de autocorrelao da uma propriedade f definida por:

=

:

2 (4-11)

Onde t representa um intervalo de passos MC onde a correlao est sendo calculada,

fi a energia da i-sima configurao e fi+t a energia da configurao gerada t passos aps a

configurao i. Pela sua natureza Markoviana, C(t) pode ser expressas por:

() =

;

(4-12)

Onde ci so constantes que obedecem a relao = 1e i so os tempos de

correlao caractersticos que fornecem uma ideia da correlao estatstica que o sistema ou

processo de simulao possui. Nas simulaes MC aplicadas a lquidos e sistemas

moleculares [37, 41, 42], a funo de autocorrelao possui um decaimento biexponencial,

onde observado um comportamento do tipo:

() = 1

;1 + 2

;2 (4-13)

O intervalo de correlao definido como uma integral da funo de autocorrelao:

= ()

= 11 + 22 (4-14)

Considera-se que duas configuraes so estatisticamente descorrelacionadas quando a

distncia entre elas, em passos MC, maior que duas vezes o valor do intervalo de correlao.

Portanto, para separar as configuraes estatisticamente relevantes para os clculos das

mdias deve-se adotar configuraes geradas a uma distncia de pelo menos = 2.

42

5 FORAS DE DISPERSO DE LONDON

Sabemos hoje que toda matria constituda de tomos ou molculas que interagem. A

maneira como cada tomo ou molcula interage com as outras molculas prximas tem como

resultado final diferentes fases da matria e diferentes propriedades fsicas. De acordo com a

magnitude das interaes as interaes intermoleculares podem ser classificadas em

interaes de longo alcance e interaes de curto alcance [43, 44]. As interaes de curto

alcance onde a energia decresce exponencialmente com a distncia compreendem as

interaes de troca, repulso e transferncia de carga. Nas interaes de longo alcance a

energia decai com o inverso da distncia e compreende basicamente as interaes

eletrostticas, de induo e disperso. As interaes eletrostticas e de induo podem ser

descritas em termos do momento de dipolo das molculas. No caso de molculas apolares no

pode haver foras de dipolo-dipolo entre tomos e molculas apolares. Entretanto, deve existir

algum tipo de interao atrativa porque gases apolares podem ser liquefeitos. A origem de

suas atraes foi primeiramente proposta em1930 por Fritz London, um fsico germano-

americano. London identificou que o movimento de eltrons em um tomo ou molcula pode

criar um momento de dipolo instantneo.

Em uma coleo de tomos de hlio, por exemplo, a distribuio mdia de eltrons ao

redor de cada ncleo esfericamente simtrica. Os tomos so apolares e no possuem

momento permanente. Entretanto, a distribuio instantnea dos eltrons pode ser diferente da

distribuio mdia. Se pudssemos congelar o movimento de eltrons de um tomo de hlio

em determinado instante, ambos os eltrons poderiam estar em um lado do ncleo.

Como os eltrons se repelem, os movimentos em um tomo influenciam os

movimentos dos eltrons em seus vizinhos. Assim, o dipolo temporrio em um tomo pode

induzir um dipolo similar em um tomo adjacente, fazendo com que os tomos sejam atrados

entre si, como mostrado na Figura 16. Essa interao atrativa chamada fora de disperso de

London ou meramente energia de disperso Edisp.

Figura 16 - Esquema para a ilustrao da interao de disperso de London

43

Em termos prticos, o modelo usado nesta dissertao considera o termo de disperso

(Edisp) adicionado de forma separada na DFT e definido empiricamente.

; = + (5-1)

; =

1

2

44

6 RESULTADOS

6.1 Propriedades Estruturais e Simulao

Os resultados que sero apresentados neste captulo esto organizados na seguinte

maneira: Primeiro apresentaremos resultados para as propriedades estruturais para os

nanotubos (6,6) e molculas de gua com geometrias relaxada e no relaxada em fase gasosa,

em seguida sero apresentados resultados da simulao do nanotubo (6,6) em ambiente

aquoso.

A geometria inicial dos nanotubos foi construda com o programa Gabedit que possui

uma ferramenta desenhar geometria, no qual existe a possibilidade de construo da

geometria de nanotubos de qualquer quiralidade. No nosso caso desenhamos nanotubos com a

quiralidade armchair (6,6) ambos com seis unidades celulares e com uma distncia entre os

tomos de carbono de 1,422 usando como base a referncia [46]. Os tomos de carbonos

laterais das duas pontas do nanotubo foram saturados com tomos de hidrognio. Esta

estrutura est apresentada na figura a seguir:

Figura 17 - Estrutura geomtrica relaxada para o nanotubo 6,6. Vista lateral (lado esquerdo) e vista frontal (lado

direito).

O nosso interesse analisar o efeito das molculas de gua no interior e exterior no

nanotubo em propriedades eletrnicas. Desta forma comeamos o estudo com os parmetros

geomtricos das molculas de gua no interior do nanotubo. Em uma etapa inicial foi

estudada a estrutura geomtrica de molculas de gua confinadas nos nanotubos (6,6) com

diferentes mtodos a fim de obter um aprendizado inicial para poder selecionar um dado

mtodo para o estudo das configuraes geradas na simulao na etapa seguinte. Estudos

45

recentes indicaram que um nanotubo de camada simples com quiralidade (6,6) comporta at

seis molculas de gua no interior organizada no formato de linha [47].

A geometria do nanotubo e das seis molculas de gua foi submetida ao processo de

otimizao, onde os parmetros ou graus de liberdade geomtricos (distncias de ligao,

ngulo) so relaxados seguindo um processo de minimizao de energia total do sistema. A

otimizao de geometria foi feita seguindo duas metodologias: Uma em que todos os graus de

liberdade so otimizados e outro em que graus de liberdade relacionados as molculas de gua

so otimizados, ou seja, a estrutura nanotubo e seis molculas de gua otimizada

parcialmente. Nesse processo obtivemos trs diferentes estruturas geomtricas para o sistema

nanotubo e molculas de gua: uma com otimizao total e duas com otimizao parcial. A

primeira estrutura foi otimizada com o nvel semiemprico PM3 e as duas ltimas foram

calculadas no respectivamente usando os mtodos PM3 e B3LYP. Em todos os mtodos as

seis molculas de gua permanecem no interior do tubo ao final do processo de otimizao. A

Figura 18 mostra as estruturas das seis molculas de gua e do nanotubo em que as ligaes

foram todos relaxados (a) e em que as ligaes do nanotubo no foram relaxadas (b). As

distncias de ligao obtidas ao final da otimizao foram 1,431 e 1,434 para ligaes

simples e duplas, respectivamente. O dimetro do nanotubo com as seis molculas de gua

confinadas apresenta uma variao nas bordas, figura (a), quando todas as ligaes so

relaxadas.

46

Figura 18 Estrutura geomtrica do nanotubo (6,6) e da gua. Vista lateral (esquerda) e vista frontal (direita). (a)

Estrutura em todas as ligaes foram otimizadas. (b) Estrutura em que as ligaes relacionadas as molculas de

gua foram otimizadas.

Tabela 2 - Distncia de ligao e dimetro () do nanotubo 6,6 com a incluso de seis molculas de gua.

Ligao No relaxada Relaxada

C C 1,422 1,431

C = C 1,422 1,434

Em todas as estruturas, observa-se que as molculas de gua se alinham formando uma

ligao de hidrognio entre o grupo O H e o oxignio da molcula vizinha e o outro grupo O

H aponta para a parede interna do tubo.

A estrutura das ligaes de hidrognio formadas pelas molculas de gua confinadas

foi estudada com o objetivo de identificar as distncias de ligao e os valores e a estrutura

geomtrica das molculas de gua confinadas. Na Figura 19, na pgina a seguir, mostramos as

seis molculas de gua confinadas nas configuraes obtidas aps as otimizaes. A figura

(a)

(b)

47

ilustra a estrutura das molculas de gua confinadas no nanotubo para as diferentes

otimizaes.

Figura 19 a) Otimizao no nvel B3LYP/SVP parcial. b) otimizao no nvel PM3 total. c) otimizao no

nvel PM3 parcial.

(a)

(b)

(c)

48

Tabela 3 - Distncia das ligaes de hidrognio () formadas entre as molculas de gua confinadas no

nanotubo. Os ndices atmicos so definidos de acordo com Figura 19.

B3LYP/SVP (parcial) PM3 (total) PM3 (parcial)

H9-O13 1,781 H17-O10 2,510 H9-O13 2,254

H2-O7 1,735 H6-O10 1,803 H2-O7 1,793

H5-O1 1,651 H3-O4 1,802 H5-O1 1,788

H11-O4 1,746 H19-O1 2,447 H11-O4 1,787

H17-O10 1,852 H15-O7 1,804 H17-O10 1,795

Comparando os valores obtidos para as distncias de ligao na estrutura B3LYP/SVP

(parcial) e PM3 (parcial), vemos as ligaes de hidrognio formadas com o ltimo mtodo so

em geral maiores exceto a ligao H17 O10 que para o mtodo B3LYP/SVP 1,852 e

para o mtodo PM3 (parcial) 1,795 . Para o modelo em que toda estrutura otimizada

PM3 (total) as ligaes so maiores que os valores obtidos para os outros modelos. preciso

considerar tambm que os mtodos semiempricos apresentam uma dificuldade natural em

descrever as ligaes de hidrognio e por isso mais difceis de controlar [48].

Os resultados acima nos do um indicativo de como a estrutura das molculas de gua

deve se comportar quando confinada no nanotubo. Nosso objetivo descrever o nanotubo em

meio ao solvente a temperatura ambiente e nesse sentido preciso lembrar que o solvente no

assume uma nica configurao. Dessa forma preciso recorrer a modelos que levam em

conta os efeitos da temperatura, como a desordem trmica, e ao mesmo tempo consideram um

sistema com muitas partculas. A seguir apresentaremos o modelo de simulao usada para

estudar o problema proposto nesta dissertao.

6.2 Simulao do nanotubo em meio aquoso

A simulao do nanotubo em gua visa gerar as estruturas geomtricas e

configuracionais das molculas de gua que compem o solvente. Para essa descrio usamos

o modelo clssico de Monte Carlo que usa o potencial de Lenard-Jones e um termo

eletrottico de longo alcance para a descrio da interao entre as molculas, de acordo com

que foi descrtio na seco sobre simulao. O potencial dado pela equao (4-9) onde cada

tomo das molculas um stio de interao descrito pelos parmetros , e pelas cargas q.

49

Os parmetros , para os tomos de carbono foram obtidos da referncia [49], para as

molculas de gua usamos o potencial do tipo SPC (Simple Point Charge) de acordo com a

Figura 20. As cargas para cada stio da estrutura do nanotuno foram calculadas usando o

procedimento ChelpG (Charges from Eletrostatic Potentials using a Grid based method) no

funcional B3LYP com funo de base 6-31G(d,p) para a geometria usada na simulao. No

caso das molculas de gua usamos as cargas proporcionadas pelo modelo SPC.

Figura 20 Potencial usado para as molculas de gua

Distncia O H = 1,000031 ;

ngulo diedral H O H = 109,47;

Carga no tomo O = -0,820 e;

Carga no tomo H = + 0,41 e.

Nesse processo outra propriedade termodinmica como a energia de interao clssica

a entropia tambm pode ser obtidas. As estruturas configuracionais sero usadas como ponto

de partida para os clculos de primeiros princpios que sero discutidos nas seces seguintes.

A simulao do nanotubo em gua realizada em uma caixa cbica com o nanotubo

no centro da caixa. A simulao composta de 4.000 molculas de gua e um nanotubo, como

mostrado na Figura 21. A temperatura de simulao de 300 K. Em uma etapa inicial foram

realizados 35.000 passos de termalizao. Neste processo o sistema comea com uma

estrutura aleatria e com uma energia bem assima do valor mdio esperado na condio de

equilbrio, ento so realizadas simulaes a fim de levar a energia do sistema gradualmente

para um valor na regio de equilbrio. Na fase seguinte o sistema agora se encontra em

equilibrio trmico e estrutural, foram realizados mais 100.000 passos de Monte Carlo com a

fim de gerar as estruturas que sero usadas nos clculos de mecnica quntica. As estruturas

foram selecionadas a cada 1.000 passos de Monte Carlo. O critrio para a escolha destas

estruturas foi baseado na anlise da funo correlao da energia e do ajuste por uma soma de

duas funes exponenciais. Os parmetros indicam uma correlao de 35 % para o intervalo

de 1.000 passos.

Os parmetros e o ajuste da funo correlao da energia esto mostrados na Figura

23. O ajuste realizado por uma soma de duas funes exponenciais, dada por:

50

() = 0,57 ;/833,79 + 0,429 ;/3 ,47 (6-1)

A estrutura das molculas de gua no nanotubo e fora dele foi analisada atravs funo

distribuio radial que est mostrada na Figura 22. Podemos ver um pico pronunciado com

mximo em torno de 1 o que indica claramente a presena de gua no interior no nanotubo.

A integrao sobre at a distncia de 6,95 resultou em um valor mdio 5,87 molculas. Este

valor foi aproximado para 6 e desta forma a anlise da funo radial nos indicou em mdia

que 6 molculas de gua encontram-se confinadas no interior do nanotubo. Este tipo de

anlise j mostrou ser bastante til na anlise da orientao estrutural do solvente e das

camadas de solvatao em molculas orgnicas [50, 51, 52].

A partir da distncia de 7 temos novamente a formao de dois picos menores: um

em 8 e outro em 10 devido as molculas de gua fora do tubo, indicando camadas de

solvatao que se formam a partir da distncia de 7 , regio em que est o solvente externo

ao nanotubo. Pode-se observar que a ausncia de polaridade do tubo afeta de forma

significativa somente as molculas de prximas ao tubo, em distncias maiores que 11 a

funo distribuio radial tem valor aproximadamente constante igual 1, ou seja, as molculas

que esto nesta regio quase no sentem a presena do nanotubo.

51

Figura 21 - Figura ilustra uma configurao da simulao com todas as 4000 molculas de gua e a estrutura do

nanotubo no centro.

52

Figura 22 - Funo de distribuio radial entre o centro de massa no nanotubo e o centro de massa das molculas

de gua.

Figura 23 Funo de correlao da energia extrada durante o processo de simulao.

53

A anlise das estruturas geradas durante a simulao mostra que para as molculas

confinadas o alinhamento mantido. O estudo das ligaes formadas ao longo da simulao

revela que diferentes valores para as distncias de ligaes so obtidas. As estruturas

geomtricas das molculas no interior apresentam flutuaes em suas posies com

consequncia da temperatura e da interao com as outras molculas de gua. Desta forma

adotou-se uma abordagem no sentido de obter a distncia mdia para as ligaes de

hidrognio. Usamos como critrio a distncia entre o tomo de oxignio e o tomo de

hidrognio da molcula vizinha menor que 2 . A mdia para as ligaes nas diferentes

configuraes foi analisada no grfico da Figura 24. A anlise da convergncia, ou seja, a

mdia calculada em cada nova configurao para 105 configuraes resultou em 1,760

0,011 .

Figura 24 - Convergncia da mdia das distncias de ligao de hidrognio em funo do nmero de

configuraes.

Os resultados indicados para as distncias de ligao e a anlise das estruturas a partir

da funo distribuio radial indicam que as molculas de gua encontram-se confinadas no

interior da estrutura do nanotubo e formam ligaes de hidrognio que apresentam variaes

devido aos efeitos de temperatura e que so modelados usando a metodologia de Monte Carlo.

A seguir apresentaremos resultados para o momento de dipolo (D) e da energia de interao

Etubo-gua das molculas de gua confinadas no nanotubo e das molculas exterior ao tubo.

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 1201,60

1,65

1,70

1,75

1,80

1,85

1,90

1,95

2,00

Valor mdio das ligaes de hidrognio

Lig

ao

de

Hid

rogn

io (

)

Nmeros de Configuraes

54

6.3 Momento de Dipolo

Inicialmente discutiremos os resultados do momen