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SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA FÍSICA APLICADA – XIII SBGFA – VIÇOSA-MG EIXO TEMÁTICO 1 TÉCNICA E MÉTODOS DE CARTOGRAFIA, GEOPROCESSAMENTO E SENSORIAMENTO REMOTO, APLICADAS AO PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAIS A FRAGILIDADE AMBIENTAL DA BACIA DO CÓRREGO DO CABUÇU – MAIRIPORÃ/SP. TRABALHO COMPLETO RANGEL, Janaina Romano – Geógrafa – Universidade de São Paulo – SP – [email protected] ROSS, Jurandyr Luciano Sanches – Professor Titular – Universidade de São Paulo – SP – [email protected]

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Page 1: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA FÍSICA APLICADA – XIII ... · Reservatório Paiva Castro. Tanto a bacia mencionada como o reservatório fazem parte do manancial do Sistema Cantareira,

SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA FÍSICA APLICADA – XIII SBGFA

– VIÇOSA-MG

EIXO TEMÁTICO 1 – TÉCNICA E MÉTODOS DE CARTOGRAFIA,

GEOPROCESSAMENTO E SENSORIAMENTO REMOTO, APLICADAS AO

PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAIS

A FRAGILIDADE AMBIENTAL DA BACIA DO CÓRREGO DO CABUÇU –

MAIRIPORÃ/SP.

TRABALHO COMPLETO

RANGEL, Janaina Romano – Geógrafa – Universidade de São Paulo – SP –

[email protected]

ROSS, Jurandyr Luciano Sanches – Professor Titular – Universidade de São

Paulo – SP – [email protected]

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RESUMO

A FRAGILIDADE AMBIENTAL DA BACIA DO CÓRREGO DO CABUÇU – MAIRIPORÃ/SP. 1º autor. RANGEL, Janaina Romano / USP. E-mail: [email protected] 2º autor. ROSS, Jurandyr Luciano Sanches / USP. E-mail: [email protected] A presente pesquisa promoveu uma atualização do diagnóstico ambiental apresentado por MOROZ

(1992) a partir da metodologia de Fragilidade Ambiental do relevo, proposta por ROSS (1992).

Estudou-se, em escala de detalhe (1:15.000), a bacia do Córrego do Cabuçu, que deságua no

Reservatório Paiva Castro.

Tanto a bacia mencionada como o reservatório fazem parte do manancial do Sistema Cantareira, que

abastece a Região Metropolitana de São Paulo. Por isso, a área de estudo requereu uma abordagem

sócio-ambiental delicada, por abrigar uma população carente em uma área de relevo fortemente

dissecado. Além dessa população, encontram-se, na região da bacia, loteamentos de segundas

residências de alto padrão, em virtude da Serra da Cantareira e do reservatório.

Os trabalhos se desenvolveram sob a ótica da abordagem sistêmica, embasados na teoria dos

Geossistemas (BERTRAND, 1968) e do Equilíbrio Dinâmico (HACK, 1960), e na proposta

taxonômica do relevo proposta por GUERASIMOV (1946) e MERCEJAKOV (1968). Tomou-se a

cartografia como método, segundo indicação de Martinelli (1994).

Os graus de fragilidade ambiental foram classificados através da intersecção de produtos cartográficos

intermediários, com o auxílio de matrizes, que mediaram o raciocínio de síntese.

Dessa forma, a partir dos mapas hipsométrico e clinográfico, o esboço geológico e o mapa de formas

de vertente foi elaborado o mapa geomorfológico, que, junto com o esboço pedológico e o

mapeamento de uso da terra permitiram a confecção do produto final deste estudo.

Dentre as cartografias intermediárias, destaca-se o mapa de formas de vertente, que possibilitou a

análise da suscetibilidade à erosão segundo a curvatura horizontal da mesma, sendo a vertente côncava

a mais frágil, por concentrar o fluxo de água.

Verificou-se que todas as variáveis consideradas para o estudo indicaram que a área apresenta uma

fragilidade potencial alta, apesar de estável.

Palavras-chave: Fragilidade ambiental, Cartografia geomorfológica de detalhe, Formas de

vertentes.

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ABSTRACT

THE ENVIRONMENTAL FRAGILITY OF THE CABUÇU BASIN – MAIRIPORÃ/SP. 1st author. RANGEL, Janaina Romano / USP. E-mail: [email protected] 2nd author. ROSS, Jurandyr Luciano Sanches / USP. E-mail: [email protected]

The present research promoted an update to the environmental diagnose presented by MOROZ (1992)

from the Environmental Fragility methodology of the landscape proposed by ROSS (1992). The

Cabuçu Basin, which flows in to the Paiva Castro’s Reservoir, was studied on a detail scale

(1:15.000).

Both the Cabuçu Basin and the reservoir are part of the Cantareira’s water preservation complex,

which supplies the metropolitan area of Sao Paulo. Therefore, the studied area required a careful

socio-environmental approach since it has a poor population settled in a highly dissected relief.

Besides this poor population, it’s possible to observe many secondary high-standard residences

attracted by the Serra da Cantareira and the reservoir.

This research was developed from the viewpoint of systemic approach, based on the Geosystems

(BERTRAND, 1968) and Dynamic Equilibrium (HACK, 1960) theories and also based on

GUERASIMOV’s (1946) and MECEJAKOV’s (1968) relief taxonomy. Cartography was taken as

method, as suggested by MARTINELLI(1994).

The environmental fragility levels were classified through the intersection of intermediary

cartographic products, assisted by matrices which leaded the process of synthesis.

So, through the intersection of hipsometric, slope, geological sketch and slope curvature maps, a

geomorphological map was created, which, along with the pedological sketch and land use maps,

allowed the creation of the final product for this study.

Among the intermediary cartographic products, the slope curvature map must be highlighted, once it

allowed erosion susceptibility analysis, according to the horizontal slope curvature: concave slopes are

more fragile since it concentrates the water flow.

It was found that all variables considered for this study indicated that the area has a high potential

fragility, although stable.

keywords: Environmental fragility, Geomorphological cartography, Slope curvature

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A FRAGILIDADE AMBIENTAL DA BACIA DO CÓRREGO DO CABUÇU –MAIRIPORÃ/SP.

I – Introdução

Embora problemas e desastres ambientais tenham sempre existido, a temática ambiental ganhou força

somente na década de 1970, quando as sociedades do capitalismo central tomaram consciência do

custo ambiental do seu bem-estar (pela superutilização de recursos naturais) e integraram a temática na

negociação de empréstimos fornecidos aos países pobres do mundo, ou seja, preservar a natureza

tornou-se condição para o recebimento de recursos. (CUSTÓDIO, 2005).

Discursos como desenvolvimento sustentável, áreas de proteção e planejamento ambiental foram

expressos por agentes e atores de diferentes percepções políticas e ideológicas. E como conseqüência,

o ambiente tornou-se objetivo de muitas pesquisas científicas.

Embora seja certo que nenhuma ciência possua potencial para abordar por completo esse debate, para

a Geografia essa questão é tratada de maneira especial, já que se encontra em seu objetivo primeiro: a

relação sociedade e natureza.

Entende-se que “a questão ambiental deve ser entendida como uma questão social. O que passa a

ser estudado não é algo fora das pessoas e sim a sua própria prática existencial, porquanto os

fenômenos da natureza com efeitos inconvenientes ao homem se dão a partir da sociedade e não

somente da natureza” (MARTINELLI, 1994, p. 61).

A geomorfologia, em especial, assume um papel privilegiado na temática, pelo fato de que exige de

seu pesquisador um conhecimento integrado de fatores bioclimáticos, pedológicos, geológicos e

antrópicos. A abordagem geomorfológica, dessa forma, é capaz de inventariar e analisar o quadro

ambiental, produzindo diagnósticos e apontando parâmetros em políticas territoriais (ROSS, 1990).

Neste sentido, uma análise da fragilidade natural do relevo torna-se um passo primordial na elaboração

de projetos de planejamento ambiental. O seu mapeamento [dos graus de fragilidade], realizado nesta

pesquisa, é capaz de identificar e analisar as paisagens, permitindo estabelecer o uso e ocupação mais

favoráveis às particularidades da paisagem estudada. (ROSS, 1994).

O presente estudo, através da abordagem sistêmica, buscou a compreensão integrada do meio físico e

as interferências antrópicas atuantes na Bacia do Córrego do Cabuçu, em Mairiporã / SP, seguindo a

orientação metodológica proposta pelo Prof. Dr. Jurandyr Luciano Sanches Ross (1990), em seu livro

“Geomorfologia: ambiente e planejamento”.

Em outras palavras, objetivou-se avaliar, seguindo a perspectiva da fragilidade natural do relevo, a

atual situação do conflito de interesses de uso da terra existente na Bacia do alto Rio Juquerí, em

especial de seu afluente supracitado, apresentado por MOROZ (1992).

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A bacia desse córrego, embora tenha relevância ambiental e apresente dificuldades de uso devido

às condições naturais do relevo, tem área ocupada cada vez maior, abrigando uma disparidade de

uso e ocupação: habitação de alto e baixo padrão, e área de proteção ambiental.

Para isso, além da descrição das condições histórico-econômicas da ocupação, foi realizada uma

análise integrada do meio físico da área de estudo e sua atual situação de uso da terra, através de

levantamentos cartográficos, com o auxílio do modelo digital de elevação e outros recursos

disponíveis no software de geoprocessamento.

A área de estudo está situada na maior área de proteção permanente da Região Metropolitana de

São Paulo (RMSP). Além disso, a bacia do Juquerí é responsável por parte do armazenamento e

abastecimento de água da mesma, através do Sistema Cantareira.

II – Materiais e Métodos

A Cartografia como método

A metodologia de ROSS (1994), que será descrita adiante, passa obrigatoriamente pela elaboração de

produtos cartográficos temáticos.

Desse modo, a cartografia é entendida, neste estudo, como uma postura metodológica, de modo que o

mapa é tido como expressão do raciocínio que seu autor empreendeu diante da realidade, integrando

os aspectos físicos e humanos, através de um raciocínio de síntese.

Ou seja, os mapas aqui apresentados não foram elaborados apenas com função meramente ilustrativa,

mas sim constituíram um meio lógico capaz de revelar o conteúdo embutido na informação

mobilizada, dirigindo o discurso do trabalho científico de forma esclarecedora e crítica

(MARTINELLI, 1994).

Nesse sentido, o mapa de síntese não se resume a uma sobreposição ou justaposição de análises, que

resultaria num emaranhando de cores, hachuras e símbolos (negando a idéia de síntese) - “na síntese

não podemos mais ter elementos em superposição e sim a fusão deles em tipos” (MARTINELLI,

1994, p. 89). Ao contrário, a síntese foi obtida por intermédio de matrizes, que resultaram em uma

classificação.

O Estudo da Fragilidade dos Ambientes

Por fragilidade ambiental se entende o grau de suscetibilidade do meio ao dano, ante a incidência de

determinadas ações. Pode definir-se também como o inverso da capacidade de absorção de possíveis

alterações sem que haja perda de qualidade (FEEMA, 1990).

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ROSS (1994) considera que o grau de fragilidade é maior ou menor em função das suas características

genéticas. Esse conceito é aplicado através de graus de instabilidade do relevo, classificando o meio

através da fragilidade potencial ou da fragilidade emergente.

O primeiro [fragilidade potencial] se relaciona às características naturais combinadas do solo, da

geologia e da declividade, enquanto o segundo [fragilidade emergente ou ambiental] considera o grau

de fragilidade potencial natural, avaliando os usos (intervenções antrópicas) ocorrentes. Um relevo

frágil é mais suscetível à erodibilidade (laminar e sulcos) e ao remanejamento de material.

Os componentes considerados na sua análise são: geomorfologia, geologia, solos e uso da terra /

cobertura vegetal, além de dados climatológicos. Com relação à geomorfologia são consideradas as

formas e os processos que as modelam; na geologia leva-se em consideração as falhas e fraturas

presentes, além da composição mineralógica da rocha, que definem o maior ou menor grau de

resistência aos processos químicos e à erosão; nos solos consideram-se os atributos responsáveis

pela suscetibilidade à erosão, inclusive na ocorrência de chuvas; no uso da terra / cobertura vegetal

são estabelecidos os graus de proteção do solo e, no caso de estudos em áreas urbanas, também a

presença de áreas suscetíveis à inundação; e as informações climáticas mais importantes são

temperatura e pluviosidade, valorizando-se a intensidade e a duração/período das precipitações

(KAWAKUBO, 2005).

Entende-se que a inter-relação dessas componentes é complexa e é elucidada sob a Teoria Geral dos

Sistemas, desenvolvida pelo biólogo Ludwig von Bertalanffy em 1975. Define-se sistema como um

conjunto de elementos com diferentes variáveis e características, que mantêm relações entre si e sua

análise é voltada para a estrutura do sistema, seu comportamento, trocas de energia, limites, ambientes

ou parâmetros (GREGORY apud RODRIGUES, 2001). A inter-relação entre os componentes de um

sistema, portanto, é complexa, de modo que o todo não significa somente a soma das partes.

Desenvolvida a partir da Teoria dos Sistemas, a Teoria dos Geossistemas propõe que os sistemas

sejam analisados através da integração meio físico–biótico, fazendo parte de um conjunto de tentativas

ou de formulações teórico-metodológicas da Geografia Física.

Entende-se por Geossistema “a expressão dos fenômenos naturais, ou seja, o potencial ecológico de

determinado espaço no qual há uma exploração biológica, podendo fatores sociais e econômicos

influir na estrutura e expressão espacial, porém, sem haver necessariamente, face aos processos

dinâmicos, uma homogeneidade interna” (TROPPMAIR, 1981, sem página).

Sob essa ótica, PENCK (apud ROSS, 1992, p. 18) “percebeu que as atuais formas de relevo da

superfície da terra são produtos do antagonismo das forças motoras dos processos endógenos e

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exógenos, ou seja, da ação das forças emanada do interior da crosta terrestre de um lado e das forças

impulsionadas através da atmosfera pela ação climática, atual e do passado, de outro”. As forças

endógenas comandadas pela dinâmica da crosta terrestre e as forças exógenas pelos processos de

meteorização.

Partindo desse princípio, GUERASIMOV (1946) e MERCEJAKOV (1968) desenvolveram os

conceitos de morfoestrutura e morfoescultura - “todo o relevo terrestre pertence a uma determinada

estrutura que o sustenta e mostra um aspecto escultural, que é decorrente da ação do tipo climático

atual, e pretérito, que atua nessa estrutura” (ROSS, 1992, p. 19) – e propuseram a taxonomia do relevo

que subsidiou o presente estudo, demonstrada adiante.

Figura 1. Taxonomia do Relevo.

Fonte: ROSS (1992).

Ressalta-se que proposição da taxonomia apóia-se fundamentalmente no formato das formas de relevo

de diferentes tamanhos. No entanto, esse aspecto fisionômico é reflexo de determinada influência de

ordem genética e, ao mesmo tempo, indicador de uma determinada idade. Assim, a taxonomia se

baseia na gênese e idade dessas formas de relevo. Também é possível afirmar que há uma associação

entre os tipos de formas e a dimensão espacial em km², porém ela [associação] não é rígida (ROSS,

1992).

Também desenvolvida com base na Teoria Geral dos Sistemas, a Teoria do Equilíbrio Dinâmico,

proposta por HACK (1960 apud ROSS, 1990), embasou a metodologia adotada neste estudo.

Essa teoria se fundamenta no caráter dinâmico do sistema e acrescenta que a sua funcionalidade,

então, se dá pela entrada de fluxo de energia e o desequilíbrio, que é intermitente, ocorre a partir de

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uma alteração desta entrada. Alteração que pode decorrer de uma intervenção antrópica (ROSS, 1990).

Desse modo, essa teoria pressupõe que o ambiente natural encontra-se em estado de um equilíbrio que

não é estático, mas dinâmico.

Com base nessa concepção de dinamismo, TRICART (1977) propôs uma classificação dos diferentes

ambientes em relação ao equilíbrio da pedogênese / morfogênese, chamada de classificação

Ecodinâmica. “De acordo com a ecodinâmica, estudar a organização do espaço é determinar como

uma ação se insere na dinâmica natural, seja para corrigir certos aspectos desfavoráveis ou para

facilitar a exploração dos recursos ecológicos que o meio oferece” (KAWAKUBO, 2005, p.5).

De acordo com a Ecodinâmica, os meios podem ser classificados como:

Meios estáveis – Neste meio o modelado evolui de modo constante e lento. São ambientes

marcados pelo domínio da pedogênese sobre a morfogênese.

Meios intergrades – São considerados ambientes de transição, onde há equilíbrio dos processos

de morfogênese e pedogênese.

Meios fortemente instáveis – Apresentam predominância da morfogênese. São ambientes

caracterizados por condições bioclimáticas agressivas e desfavoráveis ao desenvolvimento de

cobertura vegetal.

ROSS (1994, p.64) associou a instabilidade dos meios à ação humana – “Aliado aos processos

naturais, é cada vez mais significativa a ação humana, que, ao se apropriar do território e de seus

recursos naturais, causa grandes alterações na paisagem natural com um ritmo muito mais intenso que

aquele que normalmente a natureza imprime”.

Dessa forma, as ações humanas interferem nos fluxos de energia e geram desequilíbrios, que podem

ser temporários ou até permanentes.

Assim, para o autor, as Unidades Ecodinâmicas Estáveis definidas por TRICART (1977) são aquelas

que foram poupadas da ação antrópica e se encontram em seu estado natural. Já as Unidades

Ecodinâmicas Instáveis tiveram seus ambientes naturais modificados através do desmatamento e de

outras práticas econômicas diversas.

A fim de que esses conceitos pudessem ser utilizados como subsídio ao Planejamento Ambiental,

ROSS (1994) ampliou o uso desses conceitos, estabelecendo graus (de muito fraco a muito forte) para

as Unidades Ecodinâmicas Instáveis, que passaram a se apresentar como Unidades de Fragilidade

Emergente, bem como para as Unidades Ecodinâmicas Estáveis, que, por sua vez, passaram a se

apresentar como Unidades de Fragilidade Potencial.

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Para estabelecer os graus de Fragilidade Potencial ou Emergente, o autor formulou uma metodologia

que se baseia nas informações de geomorfologia, geologia, solos, uso/cobertura da terra e

climatologia, mencionadas anteriormente.

Procedimentos Práticos-operacionais

A metodologia de fragilidade adotada (ROSS, 1992, 1994) parte de uma série de levantamentos

básicos que correlacionados geram produtos intermediários. Somente a partir desses obtém-se a

fragilidade potencial e a fragilidade emergente dos ambientes. Assim, o Mapa de Fragilidade

Ambiental é considerado um produto de síntese.

Enquadram-se como levantamentos básicos os estudos dos solos e as informações climáticas, ambos

servindo, por um lado, à avaliação da potencialidade agrícola e, por outro, ao subsídio à análise da

fragilidade do ambiente face às ações antrópicas. Também se enquadram como básicos os

levantamentos geológicos, que dão suporte ao entendimento da relação relevo/solo/rocha, e a

rugosidade topográfica do relevo, que possibilita chegar a um diagnóstico das diferentes categorias

hierárquicas da fragilidade dos ambientes naturais.

Assim, com base na rugosidade topográfica do relevo obtém-se o mapa geomorfológico, o primeiro

produto intermediário para a obtenção do mapa de fragilidade. Segundo ROSS (1994), em mapas

geomorfológicos de maior detalhe, como a escala 1:15.000, utilizam-se as formas das vertentes e as

classes de declividade.

As classes de declividade foram definidas pelo

autor a partir dos valores considerados limites

críticos da geotecnia, que indicam o vigor dos

processos erosivos. São eles:

Já as formas de vertente foram mapeadas a

partir de sua curvatura horizontal, ou seja,

foram representadas as áreas de convergência

ou de divergência de fluxos. As formas de

vertente são hierarquizadas como:

Desse modo, a matriz, apresentada a seguir, foi organizada com o objetivo de intermediar a

intersecção da declividade com as formas de vertente, que resultou na classificação do mapa

geomorfológico.

1 - Muito Fraco até 6%

2 – Fraco de 6 a 12%

3 – Médio de 12 a 20%

4 – Forte de 20 a 30% 5 - Muito Forte acima de 30%

1 – Plana Fraca 2 – Convexa Média

3 – Retilínea Forte

4 - Côncava Muito Forte

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Matriz Formas de Vertente X Declividade

0 -6% 6-12% 12-20% 20-30% 30% ou mais

Plana 11 12 13 14 15

Convexa 21 22 23 24 25

Retilínea 31 32 33 34 25

Côncava 41 42 43 44 45

Tabela 1. Matriz de Suscetibilidade à Erosão. Elaborado por Janaina Rangel.

O relevo, assim, tende a ser mais suscetível à erosão quanto maior a declividade e maior a

convergência de fluxo de escoamento, ou seja, quanto mais à direita e inferior for sua classificação na

matriz: um relevo 45 é mais propenso à erosão do que um relevo 11. Assim, um relevo 11 tem

suscetibilidade à erosão baixa; um relevo 23, média; e um relevo 45, alta.

O mapa geomorfológico é considerado por TRICART (1965) a base da pesquisa e não só sua

concretização gráfica, sendo indispensável na questão do inventário genético do relevo. Para o autor,

sua elaboração deve contemplar os elementos da descrição do relevo, a identificação da natureza

geomorfológica dos elementos do terreno e a datação das formas.

O segundo produto intermediário da fragilidade ambiental é o mapa de fragilidade potencial, que é

resultado da intersecção dos mapas geomorfológico e pedológico.

Para viabilizar essa intersecção foi necessário categorizar os tipos de solos. ROSS (1994) utiliza como

critérios o escoamento superficial difuso ou concentrado das águas pluviais para classificar a

fragilidade de cada solo, apresentada a seguir:

Classe de Fragilidade Tipos de Solos

Muito Baixa Latossolo Roxo, Latossolo Vermelho escuto e Vermelho-Amarelo textura argilosa

Baixa Latossolo Amarelo e Vermelho-Amarelo textura média argilosa

Média Latossolo Vermelho-Amarelo, Terra roxa, Terra Bruna, Argissolos Vermelho-Amarelo textura média/argilosa

Forte Argissolos Vermelho-Amarelotextura média/arenosa, Cambissolos.

Muito Forte Podzolizados com cascalho, Litólicos e Areias Quartzosas.

Tabela 2. Classes de Fragilidade X Tipos de Solos. Fonte: ROSS (1994)

Por fim, o mapa de Fragilidade Ambiental é resultado de mais uma intersecção, entre o mapa de

fragilidade potencial e o uso da terra / grau de proteção. Dessa forma, considerou-se os seguintes graus

de proteção segundo o tipo de uso da terra:

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Graus de Proteção Tipos de Cobertura Vegetal

Muito Baixa Áreas desmatadas e queimadas recentemente, solo exposto por arado/ degradação, solo exposto ao longo de caminhos e estradas, terraplanagens, culturas de clico curto sem práticas conservacionistas.

Baixa Culturas de ciclo longo de baixa densidade (café, pimenta do reino, laranja com solo exposto entre ruas), culturas de ciclo curto (arroz, feijão, trigo, soja, milho, algodão com cultivo em curvas de nível / terraceamento).

Média Cultivo de ciclo longo em curvas de nível / terraceamento como café, laranja com forrageiras entre ruas, pastagens com baixo pisoteio, silvicultura de eucaliptos com sub-bosque de nativas.

Alta

Forragens arbustivas naturais com extrato herbáceo denso, formações arbustivas densas (mata secundária, cerrado denso, capoeira densa), mata homogênea de Pinus densa, pastagens cultivadas com baixo pisoteio, cultivo de ciclo longo como o cacau.

Muito Alta Florestas, matas naturais, florestas cultivadas com biodiversidade.

Tabela 3. Graus de Proteção X Tipos de Cobertura Vegetal. Fonte: ROSS (1994)

Para o Manual Técnico de Uso da Terra (IBGE, 2006), os levantamentos de uso e cobertura da terra

fornecem subsídios para as análises e avaliações dos impactos ambientais negativos, como os

provenientes de desmatamento, da perda da biodiversidade e dos gerados pelos altos índices de

urbanização, entre outros indicativos. Em cada região, os problemas se repetem, mas também se

diferenciam a partir das formas e dos tipos de ocupação da terra.

Assim, a confecção do mapa de Fragilidade Ambiental foi intermediada por mais uma matriz:

Suscetibilidade à Erosão X Tipos de Solos

1- Latossolo 2- Argissolo 3- Gleissolo

1- Baixa 11 baixa 21 média 31 alta

2- Média 21 média 22 média 32 alta

3- Alta 31 alta 32 alta 33 alta

Tabela 4. Matriz de Grau de Fragilidade Potencial. Elaborado por Janaina Rangel.

Essa matriz segue a mesma lógica presente na matriz Formas de Vertente X Declividade (Tabela 1),

ou seja, quanto mais à direita e inferior estiver a combinação na tabela, maior o grau de fragilidade.

O mapa de fragilidade ambiental apresenta como resultado as áreas de fragilidade potencial, onde o

ambiente encontra-se com suas características naturais intactas ou pouco alteradas e áreas de

fragilidade emergente, que representam as áreas com o uso da terra antrópico.

Dessa maneira, sua elaboração passa por uma interpretação dos usos da terra e da fragilidade

potencial. Ou seja, uma região que possui fragilidade potencial alta combinada a um grau de proteção

elevado será delimitada como fragilidade potencial. Se uma região semelhante possuir um uso com

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grau de proteção baixo, ela será caracterizada como fragilidade emergente. Ambas, fragilidades

potencial ou emergente são graduadas como alta, média ou baixa.

Fragilidade Potencial X Uso da Terra Baixa Média Alta

POTENCIAL Mata 11 Alta 12 alta 13 alta Silvicultura 21 média 22 média 23 baixa

EMERGENTE Campo / Chácara 31 baixa 32 baixa 33 média Loteamentos 41 baixa 42 média 43 alta Área urbanizada 51 média 52 alta 53 alta

Tabela 5. Matriz de Fragilidade Ambiental. Elaborado por Janaina Rangel.

Assim, consideram-se os seguintes parâmetros para a obtenção da fragilidade ambiental, em ordem de

importância: o relevo, o tipo de solo e o grau de proteção do solo em função da cobertura vegetal e do

uso da terra (MASSA, 2003).

III – Resultados e Discussões

A área de estudo se localiza no município de Mairiporã, ao norte da Região Metropolitana de São

Paulo, dentro dos limites do Sistema Cantareira, como demonstrado na Figura abaixo.

As águas da bacia estudada deságuam

diretamente no reservatório Paiva Castro,

que tem suas águas destinadas ao

abastecimento doméstico sem tratamento

prévio ou com simples desinfecção (lei

n°997/76, regulamentada pelo decreto

8.468/76), o que proíbe o despejo de

qualquer tipo de lançamento de esgoto,

mesmo que tratado, nestes corpos d’água

(INSTITUTO SÓCIOAMBIENTAL,

2007).

No entanto, o Instituto SócioAmbiental

(2007) concluiu que a maior parte dos

esgotos produzidos na região são lançados sem qualquer tratamento nos rios formadores das represas.

Em Mairiporã, apenas 20% dos domicílios contam com coleta e tratamento do esgoto produzido

(INSTITUTO SÓCIOAMBIENTAL, 2007, p.22).

Assim, o Reservatório Paiva Castro e as “belas paisagens bucólicas”, juntamente com a presença de

eixos viários de articulação com a cidade paulistana, induziram a ocupação de mais alta renda na área

Figura 2. Localização da área de estudo.

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de estudo, que tem características de baixa densidade, predominantemente residencial, através de

parcelamentos destinados à moradia ou ao lazer (AB’SABER, 1978).

Em contrapartida, Mairiporã tem características de cidade-dormitório, absorvendo uma massa de

trabalhadores, que em sua maioria têm baixa remuneração e não possuem condições de permanecer nos

grandes centros, em função do alto custo das moradias. Fenômeno que foi acentuado na região norte da

RM pela sua facilidade de acesso (GIATTI, 2000), com destaque para a linha 7 – Rubi da CPTM (antiga

Linha A – Marrom), para a Rodovia Fernão Dias e a recente construção do Rodoanel Mário Covas.

Este município, bem como os outros limítrofes de São Paulo, assistiu uma proliferação de

assentamentos precários, freqüentemente ilegais, carentes de infra-estrutura e serviços públicos.

Além disso, a situação sócio-ambiental e infra-estrutura urbana desses domicílios (da área de estudo),

sejam de baixo ou alto padrão, devem ser acompanhadas de perto, já que se localizam numa área

considerada de proteção aos mananciais, dentro dos limites do Sistema Cantareira, e à jusante da

estação de tratamento de esgoto.

A área de estudo está sustentada pelo complexo granítico Cantareira, que lhe confere solos instáveis e

com presença de matacões, dificultando a escavação e a cravação de estacas, que serão detalhados no

esboço pedológico. Segundo GUERRA E CUNHA (1994, p. 154) “as propriedades do solo são de

grande importância nos estudos de erosão, porque, juntamente com outros fatores, determinam a maior

ou menor suscetibilidade à erosão”. Os solos argilosos, predominantes na área de estudo, favorecem os

processos de escoamento superficial.

Faz parte da unidade morfoestrutural “Cinturão Orogênico do Atlântico”, definida por ROSS e MOROZ

(1996), cuja gênese está vinculada a ciclos de dobramentos, acompanhados de metamorfismos regionais,

falhamentos e extensas intrusões - o processo epirogenético pós-Cretáceo gerou o soerguimento da

Plataforma sul americana, reativou falhamentos antigos e produziu escarpas acentuadas como a Serra da

Mantiqueira, Serra do Mar e fossas tectônicas como as do Médio Vale do Paraíba.

O Planalto e Serra da Mantiqueira pertence ao Planalto Atlântico (unidade morfoescultural) e

corresponde ao domínio de mares de morros, definido por AB’SABER (1970). Caracteriza-se por

formas de topos convexos, vales profundos e elevada densidade de drenagem. Predominam formas de

relevo denudacionas, cujo modelado se constitui basicamente em escarpas e morros altos com topos

aguçados (Da) e topos convexos (Dc).

Caracteriza-se por clima tropical de altitude e sua drenagem a imprime uma fortíssima rugosidade

topográfica, apresentando padrão dendrítico e quando adaptado às direções das estruturas regionais,

como falhas e dobras e contatos litológicos apresentam-se com freqüência um padrão em treliça com

trechos de traçado retilíneo e incisões em ângulos agudos, mostrando forte influencia de direções

Page 14: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA FÍSICA APLICADA – XIII ... · Reservatório Paiva Castro. Tanto a bacia mencionada como o reservatório fazem parte do manancial do Sistema Cantareira,

estruturais importantes. São características que identificam a região como portadora de um alto nível

de fragilidade potencial, sujeita a processos erosivos intensos (ROSS, MOROZ, 1996).

A seguir, apresentam-se as leituras dos mapas produzidos:

Mapa Hipsométrico

Neste mapa é possível observar duas compartimentações do relevo presentes bem definidas, a primeira

abaixo da cota 820m (Morros médios - colinas e morros de menor altitude, apresentam topos

convexos), localizada na parte norte da área de estudo, e a segunda acima dessa cota, localizada ao sul

(Serra e Morros Altos, com topos mais aguçados).

Mapa Clinográfico

Ao fazer um paralelo com as compartimentações apresentadas na leitura do mapa hipsométrico,

observa-se um padrão das manchas de declividade muito semelhante entre as duas compartimentações

(entre 12 e 30%), porém, elas são visivelmente separadas pela faixa de declividade acima de 30%, que

corresponde à Serra. Também nota-se que nos morros médios as declividades da faixa até 6%, que

correspondem às planícies fluviais, ocupam uma área significativa.

Mapa de Formas de Vertentes

Por sua maior densidade de drenagem, o compartimento Morros Médios apresenta vertentes côncavas

de menor extensão, e os afluentes de seus rios se encontram bem encaixados nessas vertentes. Ao

contrário, na unidade Serra / Morros Altos, as cabeceiras são formas mais amplas, algumas delas

caracterizam-se como anfiteatros, e dão origem a um número menor de afluentes.

Esboço Pedológico

Na área de estudo predominam Argissolos Vermelho-Amarelo associados a Latossolos Vermelho-

Amarelo, mapeados nas cores alaranjadas.

Segundo KAWABUBO (2005), os Latossolos Vermelho-Amarelo são normalmente classificados

como de baixa fragilidade por serem profundos, de textura uniforme e com grande porosidade. Mas o

autor esclarece que apesar da elevada porosidade, tais solos possuem baixa permeabilidade em virtude

da presença de microporos capilares decorrentes da textura fina e do tipo de agregação. Por isso,

quando submetidos a chuvas de grande intensidade podem sofrer perda de material por escoamento

superficial.

Já os Argissolos Vermelho-Amarelo apresentam forte gradiente textural: enquanto o horizonte B

possui grande quantidade de argila, os horizontes A e E possuem pouca. A água, então, penetra com

facilidade no horizonte A e se aloja no horizonte B. Desse modo, esse tipo de solo é considerado de

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alta fragilidade, mas como ele aparece associado ao Latossolo a fragilidade resultante pode ser

considerada um pouco mais baixa KAWABUBO (2005)

Mapa de Uso da Terra

Na área de estudo predominam os usos Mata e Campo/ capoeira, sendo que na porção norte (próximo

ao reservatório e nas cotas mais baixas) é expressiva a ocupação de loteamentos de alto ou médio

padrão e, em menor proporção, área urbanizada.

Não são significativos os usos de horticultura, silvicultura, chácara e demais usos.

Mapa de Fragilidade Potencial

O Mapa de Fragilidade Potencial, que consiste na intersecção do Mapa Geomorfológico com o Esboço

Pedológico, apresenta uma área de estudo potencialmente muito frágil, como já havia sido indicado

pelo mapa geomorfológico. Fragilidade potencial que se apresenta pelo caráter fortemente estrutural

da área de estudo.

A predominância das faixas de declividades acentuadas, associadas a argissolos, dá essa característica

a área de estudo. Contudo, mesmo havendo predomínio de unidades de fragilidade alta, encontram-se

unidades de fragilidades médias e baixas, resultantes da combinação de formas de declividades menos

acentuadas, associadas a Latossolos, especialmente na compartimentação Morros médios. Essa

característica já havia sido indicada pelo mapa geomorfológico, uma vez que a compartimentação

apresenta formas menos suscetíveis à erosão.

Vale lembrar que as áreas de várzeas são consideradas desfavoráveis à ocupação, por serem

problemáticas quanto à capacidade de suporte de seu solo (classificado como gleissolo) e devido ao

nível de lençol freático, pouco profundo, embora apresentem formas mais aplainadas.

É importante destacar que as informações climatológicas, em especial os dados pluviométricos,

constituem-se um fator relevante para a análise da fragilidade potencial, na medida em que o regime

hídrico exerce influência direta na evolução das formas de relevo, por meio do intemperismo e da

erosão, pluvial ou fluvial.

Mapa de Fragilidade Ambiental

O mapa de unidades de fragilidade ambiental representa a análise integrada de todos os produtos

cartográficos confeccionados e constitui o produto de síntese deste estudo. Ele combina as

informações obtidas do mapa de fragilidade potencial com o uso da terra.

A ocupação urbana em terrenos inadequados traz sérios prejuízos, como a diminuição da infiltração de

água no solo, o assoreamento dos leitos dos rios e reservatórios, o agravamento das enchentes, o

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incremento dos processos erosivos, além da evidente diminuição de áreas verdes e do alto custo da

urbanização nestas áreas. (EMPLASA, 2006)

Todos os índices considerados para a obtenção da fragilidade ambiental identificaram predomínio de

áreas com elevados graus de instabilidade potencial. Contudo, é possível afirmar que as mesmas

permanecem em estado de equilíbrio dinâmico de tal modo que não foram encontrados, nas imagens

de satélite ou mesmo no campo, processos de erosão expressivos, nem mesmo terracetes de pisoteio

em áreas de campo / capoeira.

De modo geral, a área de estudo apresenta Fragilidades Estáveis, com diferentes graus de instabilidade

potencial, uma vez que a área não foi inteiramente incorporada aos espaços produtivos da sociedade.

Mesmo onde o uso da terra é mais intenso, como áreas urbanizadas ou loteamentos, esta ocupação

ainda não se mostrou danosa aos processos morfodinâmicos, apesar de apresentar um grau maior de

instabilidade emergente.

Mapas Confeccionados

Mapa 1. Base Cartográfica. Mapa 2. Mapa hipsométrico

Mapa 3. Mapa Clinográfico Mapa 4. Mapa de Forma de Vertentes

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Mapa 5. Mapa Geomorfológico Mapa 6. Esboço Pedológico

Mapa 7. Mapa de Uso da Terra Mapa 8. Mapa de Fragilidade Potencial

Mapa 9. Mapa de Fragilidade Ambiental

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IV – Conclusões

A descrição que MOROZ (1992) fez de uma região fortemente dissecada que abriga uma população de

baixa renda, sem infra-estrutura urbana abrangente e políticas públicas eficazes, ainda é válida.

Mairiporã, que viu seu modo de vida se transformar em razão da implantação do Sistema Cantareira,

teve seu processo de ocupação, que ainda é latente, sem um planejamento efetivo dos órgãos públicos

e sem a preocupação com as características ambientais potencialmente frágeis (EMPLASA, 2006).

Contudo, merece destaque a disparidade de ocupação da região, já que a sociedade e o senso comum, de

maneira preconceituosa, condenam a população de baixa renda pela ocupação e poluição das áreas

ambientalmente protegidas, ignorando a presença dos domicílios de alto padrão que ocupam estas áreas.

Desse modo, apesar do objetivo de pesquisa se enquadrar na geografia física, com ênfase na

geomorfologia, a área de estudo requereu uma abordagem crítica pelas suas características sociais.

Assim, só os conhecimentos integrados das geografias física e humana foram capazes de contemplar

os diferentes aspectos da área de estudo.

Neste sentido, o raciocínio de síntese foi alcançado, mesmo que não tenha esgotado a realidade

estudada. Também a cartografia de síntese, como postura metodológica, procurou atender as

recomendações de cartografia feitas por MARTINELLI (1994).

Quanto à metodologia de mapeamento de Fragilidade Ambiental aplicada, algumas adaptações

precisaram ser feitas pelas condições físicas da área de estudo e pela escala de trabalho adotada. A

metodologia foi inicialmente desenvolvida para a produção de mapas em escala regional e não propõe

um detalhamento maior em áreas urbanas, já que nelas a dinâmica de movimentos de terra é

praticamente inexistente, visto que esta terra é quase que toda encoberta por construções ou asfaltada.

A área de estudo, por sua escala, requereu um detalhamento maior dos usos considerados urbanos,

sejam áreas urbanizadas (dotadas, ou não, de boa infra-estrutura) loteamentos ou mesmo chácaras.

Nesse contexto, a questão urbana – ambiental vista de modo integrado poderia ser mais aprofundada

nesta pesquisa.

O tratamento operacional, realizado totalmente em ambiente digital por meio de softwares de

geoprocessamento, reafirmou a eficiência da ferramenta na medida em que facilitou a produção de

mapas que sintetizam as realidades observadas pelo pesquisador.

V – Referências Bibliográficas

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