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SIMPÓSIOS TEMÁTICOS OBS.: TODOS OS RESUMOS DEVERÃO SER ENVIADOS DIRETAMENTE PARA OS COORDENADORES DE SIMPÓSIOS TEMÁTICOS. 1 A recordação do real, o vazio de real: a memória excessiva da poesia de Língua Portuguesa Coordenação: Roberto Bezerra de Menezes (UFMG) - [email protected] Keyla Freires da Silva (UFC/URCA) - [email protected] Em “A poesia, memória excessiva”, presente no livro Literatura, defesa do atrito, Silvina Rodrigues Lopes retoma a já pisada discussão em torno da memória como subsídio para a criação literária. Para a pesquisadora, os textos literários são produzidos a partir de um esvaziamento da recordação. Esse vazio, enquanto matéria poética, é transposto para a linguagem de modo a apresentar uma “recordação a haver”, em devir: “a recordação é sobretudo o vazio da recordação que a memória substitui por imagens capazes de conter elas próprias o vazio e assim o transportarem. Aquilo que o poema conta é a formação da recordação a haver” (2012, p. 49). E continua mais à frente: “As recordações têm, no poema, os seus vazios, o seu fogo oculto” (2012, p. 50). Para esclarecer esse jogo entre recordação do real e recordação em devir na poesia, Lopes alerta- nos “que o regresso ao real não se possa confundir com uma subordinação da poesia aos factos ou ao verossímil, justamente aquilo que do real é limitado ao que alguém sente ou admite poder sentir, ao que alguém aponta como sendo a vida” (2012, p. 50). A memória excessiva é, então, “inapropriável, fora de qualquer vínculo a uma missão ou efeito” (2012, p. 57). Para Lopes, a autonomia da literatura deve ser repensada. Ela não deve esmagar o acontecimento, mas ser o acontecimento mesmo. Temos, assim, um ser escritural entre o testemunho e a ficção e não se deve propor a desconstrução de um ou de outro, pois a literatura seria feita desse duplo. A partir desse jogo da linguagem, propomos este simpósio que acolherá trabalhos voltados para a discussão do espaço “potencial infinito de memória” da poesia de Língua Portuguesa. Privilegiaremos os

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simpósio que auxilia no estudo das temáticas

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  • SIMPSIOS TEMTICOS

    OBS.: TODOS OS RESUMOS DEVERO SER ENVIADOS DIRETAMENTE PARA OS

    COORDENADORES DE SIMPSIOS TEMTICOS.

    1 A recordao do real, o vazio de real: a memria excessiva da poesia de Lngua Portuguesa

    Coordenao:

    Roberto Bezerra de Menezes (UFMG) - [email protected]

    Keyla Freires da Silva (UFC/URCA) - [email protected]

    Em A poesia, memria excessiva, presente no livro Literatura, defesa do atrito, Silvina

    Rodrigues Lopes retoma a j pisada discusso em torno da memria como subsdio para a criao

    literria. Para a pesquisadora, os textos literrios so produzidos a partir de um esvaziamento da

    recordao. Esse vazio, enquanto matria potica, transposto para a linguagem de modo a

    apresentar uma recordao a haver, em devir: a recordao sobretudo o vazio da recordao

    que a memria substitui por imagens capazes de conter elas prprias o vazio e assim o

    transportarem. Aquilo que o poema conta a formao da recordao a haver (2012, p. 49). E

    continua mais frente: As recordaes tm, no poema, os seus vazios, o seu fogo oculto (2012, p.

    50). Para esclarecer esse jogo entre recordao do real e recordao em devir na poesia, Lopes

    alerta-nos que o regresso ao real no se possa confundir com uma subordinao da poesia aos

    factos ou ao verossmil, justamente aquilo que do real limitado ao que algum sente ou admite

    poder sentir, ao que algum aponta como sendo a vida (2012, p. 50). A memria excessiva ,

    ento, inaproprivel, fora de qualquer vnculo a uma misso ou efeito (2012, p. 57). Para Lopes, a

    autonomia da literatura deve ser repensada. Ela no deve esmagar o acontecimento, mas ser o

    acontecimento mesmo. Temos, assim, um ser escritural entre o testemunho e a fico e no se deve

    propor a desconstruo de um ou de outro, pois a literatura seria feita desse duplo. A partir desse

    jogo da linguagem, propomos este simpsio que acolher trabalhos voltados para a discusso do

    espao potencial infinito de memria da poesia de Lngua Portuguesa. Privilegiaremos os

  • trabalhos que faam uma anlise imanente do texto literrio, com o foco em seus procedimentos

    estticos e as possveis questes tericas, histricas e filosficas que possam auxiliar a discusso.

    =======================================================================

    2 Continuidades e descontinuidades do romantismo na lrica moderna e contempornea

    Coordenadores:

    Suene Honorato (UFC) - [email protected]

    Patrcia Chanely Silva Ricarte (UFSC) - [email protected]

    Se considerarmos os sentidos que a poesia lrica assume ainda hoje para um amplo espectro de

    leitores, observaremos que a expectativa predominante marcada por traos romnticos: um poema

    ser a expresso em versos de inquietaes sentimentais do eu-lrico, que o distanciam do mundo

    emprico em direo busca pelo ideal, realizada a partir de um conjunto de vocbulos e formas

    predefinidas como poticas. A formao da sensibilidade esttica na contemporaneidade conserva,

    pois, o imaginrio romntico como paradigma na definio do potico. Tal definio importa na

    medida em que tericos discordantes como Hugo Friedrich (A estrutura da lrica moderna) e

    Michael Hamburger (A verdade da poesia) partem do pressuposto de que a poesia que se

    convencionou designar por lrica moderna provoca estranhamento ao leitor, de onde resulta a

    impresso de obscuridade. A poesia de Charles Baudelaire, tomada como sntese das tenses que

    seriam desenvolvidas por algumas das vertentes da poesia moderna e contempornea, prope certas

    descontinuidades em relao ao paradigma romntico. Para o crtico Ivan Junqueira (A arte de

    Baudelaire), por exemplo, ela encena um lirismo de persona: a voz potica no mais traduz as

    aflies do eu emprico, mas se assume como pertencente a um personagem. No caso dAs flores do

    mal, esse personagem o poeta em busca de matria para sua poesia, aproveitando do mundo aquilo

    que at ento no fazia parte das imagens poticas confeccionadas pelo romantismo, o que resultar

    na aliana entre o grotesco e o sublime, como evidencia Erich Auerbach (As flores do mal e o

    sublime). No entanto, seria inexato falar de ruptura com o paradigma romntico, na medida em que

    a busca pelo ideal est no centro da potica baudelairiana. Para um crtico como Octvio Paz (Os

    filhos do barro), a poesia moderna revela continuidades com o romantismo a partir da tradio da

    ruptura com o cnone literrio, repetindo ad infinitum o gesto em busca da palavra original. Desde

    o princpio do sculo XIX, encara-se a modernidade como uma tradio e considera-se a ruptura

  • como a forma privilegiada de mudana. Nesse contexto, a poesia moderna direciona uma crtica ao

    mundo e a si mesma revelada por dois princpios bsicos: a analogia e a ironia. Para Jos Guilherme

    Merquior (O fantasma romntico), o esquema de Paz escamoteia aspectos relevantes da estrutura

    de sentido da potica moderna, a exemplo da recusa carga idealizatria do romantismo e ao

    desaparecimento da atividade psicofnica, manifestadora da alma. Partindo da compreenso geral

    de que a histria literria no pode ser simplificada na sucesso de perodos e estilos, este simpsio

    colocar em debate trabalhos tericos ou crticos a respeito de continuidades e descontinuidades do

    Romantismo na poesia moderna e contempornea, em poetas brasileiros ou estrangeiros.

    3 Entre terras e amores, o romantismo revigorado

    Coordenadores:

    Francisco H. Arruda de Oliveira (UERN) - [email protected]

    Aline Reis (UGB/ IFRJ/ FaSF) - [email protected]

    O simpsio temtico ora proposto visa congregar e compartilhar comunicaes sobre literaturas

    contemporneas, que dialoguem com a literatura do passado numa perspectiva comparada,

    ressaltando os aspectos transnacionais, culturais, e de movimentos emigrantes na escrita do

    romance. O retalho de perspectivas em que o romance contemporneo trabalha traz no como

    tradio, mas renovao a temtica da terra e do amor. Se no sculo XIX o quadro de referncias

    do romance era tratar do nacional, nesses primeiros decnios do sculo XXI as referncias so de

    ordem cultural, em que ainda se encontram em processo de transformao onde o tema do amor e

    da terra se renovam (JOBIM, 2013). Os romancistas brasileiros do sc. XIX, seguiram os modelos

    europeus, e influenciaram nossos hbitos de leitura, com esteretipos que se fixaram em nossa

    imaginao, cujos pressupostos em parte no pertenciam ao Brasil ou apresentavam-se alterados

    (SCHWARZ, 2000). Com reservas s propores devidas, muito do que se produziu no

    Romantismo no Brasil influenciou a literatura modernista. possvel que Macunama esteja para

    Iracema, como Grande Serto para Til. O corpo geogrfico brasileiro, o ndio, a esfera social, entre

    outros elementos participam, com proporo, da inventividade do que brasileiro, graas

    produo alencarina e de Euclides, por exemplo. A literatura contempornea ainda sofre influnc ias

    dessa literatura de dois sculos atrs: so exlios, buscas por melhores condies, o falar da terra

    brasilis por diferentes enfoques. Escritores do Agora, como Antnio Torres e Milton Hatoum a

  • ttulo de ilustrao compactuam deste passado que se faz presente dialogando e estreitando as

    distncias de lugares. Entretanto percebemos que no h mais um lugar fixo que defina e delimite as

    personagens, ao contrrio, o lugar de origem e o atual das personagens no as pertence mais, pois

    tornaram-se nmades sendo definidas pelos laos culturais que cultivam em maior ou menor

    instncia de suas vidas. Os romances contemporneos, em que o alargamento do presente e o

    compartilhamento de convivncia so uma constncia, mostram-nos que o romance de ontem foi

    revigorado nos seus aspectos culturais, em consonncia com os blocos transnacionais.

    4 Escritas contemporneas, problemas, riscos por vir

    Coordenadores:

    Cid Ottoni Bylaardt (UFC) - [email protected]

    Saulo de Arajo Lemos (UECE) - [email protected]

    O subjetivismo romntico, uma das caractersticas mais marcantes do conjunto de cultura e arte que

    se monta e se estende entre o final do sculo XVIII e a primeira metade do sculo XIX, indicava

    uma radical ruptura com a orientao pragmtica e normativa que a literatura clssica propunha; a

    partir de ento, e durante dcadas, predominaram noes como a de sujeito e a de livre imaginao,

    ambas conectadas entre si por um fundamento de misticismo cristo (sendo essa conexo o eixo da

    chamada metafsica ocidental). Os modernismos artsticos, desde as primeiras dcadas do sculo

    XX, retomam o individualismo e a relativa iconoclastia da arte romntica e os radicalizam,

    provocando uma exploso dos cdigos ticos e estticos de at ento, de modo que, da liberdade

    romntica que tinha como horizonte certos valores j mencionados (individualismo, religiosidade,

    primado da emoo), a cultura artstica no ocidente corre para uma liberdade destituda de uma base

    de valores, que, assim, pde transitar entre o niilismo mais mrbido e o construtivismo mais

    engajado. Isso, como construo de arte, mas tambm como transformao das apreenses

    existenciais disponveis ao senso-comum, algo que vai sendo detectado por diversos pensadores,

    como se exemplifica, ao menos de forma restrita, no conceito de ser na obra de Martin Heidegger

    ou o de porvir na obra de Maurice Blanchot, sem contar com discusses posteriores como o

    inconsciente discursivo lacaniano, a diffrance derridiana ou o estilhaamento do sujeito moderno

    como detectado por Michel Foucault. A escrita contempornea, dessa maneira, toma a abertura

    relativa da escrita romntica e a extrapola, de modo que se torna uma subverso potencial do

  • prprio romantismo e mesmo de si prpria. Como contraponto inexato abertura cada vez mais

    radical da escritura desde o romantismo, tem-se a possibilidade da inscrio particular, da rasura, do

    risco, que pode vir a compor cartografias inesperadas, ocorrncias circunstanciais, o ente como

    rasura do ser, tenses polticas como limiar entre a diferena e o em-comum impessoal, a histria

    como a disparidade entre os discursos que a narram e o deteriorar das periodizaes, o

    multilinguismo (entre idiomas ou gneros discursivos) como tenso entre culturas e nsia pela

    linguagem primordial, que sempre existiu, fantasma de qualquer lngua, que nunca se cala quando a

    palavra silencia, e que nenhum discurso formula. Esta proposta de simpsio, assim, visa a reunir

    experincias crticas que sejam cartografias do contemporneo na literatura com foco na

    experimentao constante ou obsessiva, diante do abismo-devir que invade continuamente a

    escritura e a caracteriza como o que continua sem nenhum carter.

    5 Experincias da alteridade: o olhar do poeta como contraponto herana do olhar

    colonizador

    Coordenadores:

    Constncia Lima Duarte (UFMG) - [email protected]

    Ana Amlia Neubern Batista dos Reis (UFMG) - [email protected]

    O presente Simpsio tem como objetivo proporcionar reflexes acerca da alteridade. Em nossa

    pesquisa atual, para abordar a temtica, estudamos a obra de Ceclia Meireles e o olhar que a autora

    lana ao Oriente, especialmente, ndia. Ceclia Meireles foi grande conhecedora e divulgadora da

    cultura oriental, o que se revela tanto em sua obra potica, como em sua prosa. Alm disso, a autora

    foi tradutora de vasto material da literatura oriental, dentre os quais, Poemas Chineses (1996),

    Poesia de Israel (1962), o romance aturanga (1962) e a pea teatral O carteiro do Rei (1961), de

    Rabindranath Tagore, escritor indiano com o qual Ceclia Meireles manteve afinidades ideolgicas

    reconhecveis ao longo de sua produo literria. A partir das reflexes acerca do olhar ceciliano

    lanado ao Oriente, pesquisamos o tema da alteridade, principalmente, por meio das ideias de

    Tzvetan Todorov em A conquista da Amrica. Embasadas pela afirmao do autor de que o modelo

    de colonizao da Amrica o que funda o sujeito ocidental moderno, reconhecemos, na histria da

    literatura, a repetio desse modelo de colonizao, de maneira subjetiva e subjacente. As tradues

    de Rabindranath Tagore para a Europa, no incio do sculo XX, so um exemplo desse processo.

  • Em geral, suas tradues foram editadas e organizadas para o "gosto" ocidental. Tal rearranjo e

    edio de obras literrias orientais tema abordado por Edward Said (2007), em Orientalismo, livro

    que compe este corpus de pesquisa. Tambm, Janet Paterson (2007) importante para nosso

    estudo, pois a autora afirma, em consonncia com Todorov e Said, que a questo da alteridade est

    na raiz da guerra, da discriminao e do racismo. Por meio das leituras sobre o olhar do colonizador

    lanado ao "outro" e o olhar da poeta Ceclia lanado ao Oriente, estabelecemos um contraponto

    que nos possibilita fazer reflexes abrangentes sobre o comportamento que estabelecemos em

    relao com o "outro" diferente de ns. Atravs da literatura, possvel entabular um

    relacionamento com o "outro" que no seja a repetio, mesmo que de forma oculta, do modelo

    colonizador. Assim, neste Simpsio, sero benvindos trabalhos que possam dialogar com a questo

    da alteridade, bem como com a obra de Ceclia Meireles e outros escritores, e, ainda, com as

    relaes entre Ocidente e Oriente, no que se refere literatura.

    6 Manifestaes de violncia na literatura brasileira contempornea

    Coordenadores:

    Thales Saymon Mendes Cunha (UFMG) - [email protected]

    Rafael Martins da Costa (UFMG) - [email protected]

    Jaime Ginzburg em A violncia Constitutiva e a Poltica do Esquecimento (2012), afirma que o

    Brasil marcado, desde sua formao, por uma forte sustentao de polticas autoritrias e elitistas.

    Os processos de transformaes sociais desenvolvem-se a partir de interesses de alianas, o que

    desarticula as mobilizaes sociais, prevalecendo imposies violentas e excludentes, mesmo em

    perodos considerados democrticos. A noo de democracia dizimada pelos microdespotismos:

    o exerccio de autoritarismo e a coero ideolgica praticados em relaes sociais pblicas ou

    privadas. Existe uma longevidade ou uma persistncia de prticas autoritrias na historiografia

    brasileira, o que pode evidenciar uma no-ruptura com o regime antigo: o absolutismo colonial se

    transformou simplesmente no absolutismo das elites (GINZBURG, 2012, p. 228). O Estado

    brasileiro alimenta por muito tempo uma engrenagem autoritria que se sustenta, tambm, na rede

    de microdespotismos em diversas situaes e contextos sociais, como violncia na famlia e na

    escola; discriminao religiosa, racial e sexual; violncia contra a mulher e a criana, etc. Os

    resduos de polticas autoritrias, escravistas e patriarcais, ainda influenciam de forma direta nossas

  • relaes sociais. Resta-nos encontrar caminhos de entendimento que consigam ultrapassar as

    distores criadas pelos idealismos ufanistas e pelas linearidades ideologicamente construdas com

    fins conservadores (GINZBURG, 2012, p. 233). Essa violncia pode causar impactos traumticos,

    gerando novas relaes entre o corpo e a linguagem, danos na memria e na capacidade de

    percepo. O trauma inevitavelmente modifica toda uma relao entre o sujeito e o mundo,

    portanto, a produo de arte passa por novos processos de elaborao. Altera tambm a atribuio

    de legibilidade aos eventos, como consequncia, a melancolia torna-se expresso da dor e da perda.

    Em decorrncia do trauma, verifica-se com muito mais frequncia nos textos literrios, contnuos

    lapsos, subverses de convenes, fragmentaes estticas e misturas de gneros tradicionais. Para

    lidar com experincias voltadas ao autoritarismo, alguns escritores brasileiros abdicaram de uma

    perspectiva realista, para criar um liame entre a realidade e a imaginao, subverter parmetros

    tradicionais, apontar ambivalncias da linguagem, pautar a representao em contradies, enfim,

    romper com padres tradicionais de entendimento da conscincia e da linguagem (GINSZBURG,

    2012, p. 237). A violncia e a represso atingem diretamente a linguagem, demonstrando que nosso

    processo civilizatrio nos deixou miserveis, restando-nos, sobretudo, a fora do corpo. Sendo

    assim, esse simpsio temtico tem como objetivo principal discutir a presena da violncia na

    literatura brasileira contempornea e o efeito que ela causa nossa sensibilidade e reao artstica.

    7 O gnio: intersees entre literatura e subjetividade

    Coordenadores:

    Maurcio Maia Aguiar (UFCG) - [email protected]

    Marcelo Brice Assis Noronha (UFT-Tocantinpolis) - [email protected]

    O debate sobre a genialidade extenso e quase to antigo quanto a prpria literatura. Sua ocorrncia

    percorre desde especulaes filosficas correlacionando arte, gnio e melancolia expressas

    no Problema XXX, I de Aristteles, at algumas perspectivas com pretenses cientficas do sculo

    XIX, como a de Taine, que buscavam compreender o gnio como uma forma condensada da ndole

    do povo e dos Estados Nacionais. O gnio seria considerado ainda a expresso do singular

    equilbrio entre natureza e esprito defendido pelo romantismo, principalmente Schiller e

    a bildung alem, ou o meticuloso, distanciado e metdico observador da realidade proposto por

    certas vertentes sociolgicas, como o Flaubert apresentado por Bourdieu. Os exemplos correntes de

  • marcos definidores e distintos em sua realizao parecem animar um amplo mapa dessas

    nomeaes de genialidade. As razes identificveis para o destaque de uma elevao de

    sensibilidade como a de Homero, Virglio, Dante, Shakespeare, Goethe, Machado de Assis, Proust,

    Kafka, no mbito literrio, ou nas artes, nas inteligncias realizadoras em outros mbitos, podem

    estimular estudos que reconheam como se consubstanciam as foras que fazem emergir essa ideia

    em destaque. A discusso em torno da genialidade nos conduz ainda para a compreenso do status

    conferido prpria literatura e suas categorias adjacentes, como imaginao, estilo e observao. A

    literatura a expresso de um modo de pensar e sentir especficos de determinado tempo e

    sociedade, ou fruto da criatividade subjetiva? E esta criatividade proviria de uma capacidade

    subjetiva grandiosa, como deuses em miniatura e seus parmetros de perfeio humana, ou, pelo

    contrrio, atravs da sensibilidade doentia de um Dostoievski? Este simpsio se interessa pela

    problemtica acerca dos variados temas ou casos especficos que discutam a elaborao do gnio,

    da produo social ou mesmo da articulao entre os vetores que formem esses exemplos. Aqui

    cabem, portanto, propostas disciplinares ou interdisciplinares que viabilizem a presena de marcos

    histricos, apagamentos contextuais ou resgate de algumas das formas de reconhecimento da noo

    de genialidade que, no geral, identifica uma poca. O objetivo debater este tema, no com a

    finalidade de estabelecer um critrio geral, mas, atravs da exposio de variadas vertentes tericas

    e literrias, ser possvel transitar por diversas concepes estticas sobre a relao entre texto e

    contexto encarnados na atividade criativa.

    8 Presena da voz na literatura brasileira contempornea

    Coordenadores:

    Caio Flavio Bezerra Montenegro Cabral (UFC) - [email protected]

    Felipe Hlio da Silva Dezidrio (UFC) - [email protected]

    Se no mundo moderno o autor e a escrita conhecem um lugar de prestgio, nem sempre foi assim.

    Ao longo dos tempos, a histria literria se compe tambm de coletividades orais na composio

    de narrativas e poemas escritos. Observa-se na literatura clssica, medieval e contempornea que a

    forma literria foi tencionada de modo a fazer a voz um elemento marcado na obra literria, ao que

    se chama oralidade. Paul Zumthor assevera que a voz tem forte funo coesiva em comunidades

  • porque uma de suas funes consiste em exaltar o grupo no consentimento ou na resistncia. O

    referido crtico ocupa-se em seus textos de uma sociologia da voz, sobretudo, quando nos informa

    acerca de seu papel na sociedade. Igualmente relevante para os estudos literrios so os efeitos de

    sentido dessa presena residuamente obstinada na tradio escrita. Idelette Muzart Fonseca dos

    Santos chama a ateno para o entrelaamento entre a voz e a escrita, especialmente, por meio da

    literatura de cordel. Em virtude disso, justificam-se os pressupostos que norteiam a literatura

    popular do Nordeste brasileiro, conservada pelo cordel e prtica da cantoria. Assim, este simpsio

    ocupa-se dos estudos que abarcam o modo de estruturao e a semntica da voz em textos de

    tradio popular ou erudita da literatura contempornea. O debate pretende trazer discusso os

    mtodos de abordagem da oralidade, bem como os autores em que se verifique a presena da voz

    enquanto elemento marcante para a cultura literria.

    9 Relaes entre infncia, literatura e outras artes: novos sentidos do texto

    Coordenadores:

    Maria Edinete Toms (UVA Sobral) - [email protected]

    Margarida Pontes Timb (UFC) - [email protected]

    Benedito Teixeira de Sousa (UFC) - [email protected]

    Este simpsio objetiva congregar trabalhos que promovam o dilogo entre literatura, teatro, cinema,

    pintura e quadrinhos, que tematizem a infncia, estimulem a reflexo sobre as personagens infantis

    veiculados pelos diferentes recursos miditicos, os novos sentidos e smbolos que recebem. Sendo

    assim, pensa-se que os estudos agregados a este simpsio discutam processos de significao das

    personagens infantis representados em narrativas literrias, cinematogrficas, pinturas e histrias

    em quadrinhos, transpostas e ressignificadas em outras linguagens artsticas. Como possvel base

    terica das discusses sugere-se autores como: Pignatari (1987), Plaza (2001), que discutem a

    traduo intersemitica dos signos e sua relao com a literatura; Candido (et al., 2001), Gallagher

    (2009), que apontam diferentes vises tericas acerca da categoria personagem; Aris (2006),

    Coutinho (2012) e Resende (1988) que investigam a infncia, dentre outros. Preve-se que as

    discusses ora estimuladas ampliem a compreenso de novos modos de significao dos sujeitos

    ficcionais, levando em conta aspectos afetivos, sexuais, de raa etnia, classe social / condio

  • econmica, atitudes polticas e simblicas que so capazes de intervirem na formao social de

    leitor. Dessa forma, procura-se responder aos seguintes questionamentos: como os sujeitos

    ficcionais infantis so ressignificados nessas variadas formas de discurso levando em conta as

    variveis acima destacadas? A transposio para uma nova linguagem, tendo em vista a mudana

    temporal e de formato, acarreta mudanas no tratamento textual e narrativo da personagem infantil?

    Se e de que maneira o tratamento dado personagem infantil nas diferentes narrativas pesquisadas

    contribuem para a formao cidad do pblico leitor? Ressalte-se que, embora esteja-se tratando de

    diferentes formas de linguagens, o possvel elo entre elas aponta para o aspecto narrativo dos

    objetos investigados. Os textos, de certo modo, atualizam o fator simblico e a linguagem humana,

    portanto provocando uma reflexo sobre a realidade no tempo de publicao das obras e a

    constatao de sua evoluo no tempo, bem como os impactos sobre o leitor contemporneo, alm

    de possveis mudanas no que se refere forma como as narrativas em diferentes formatos so

    assimiladas.

    10 Ressonncias e dissonncias da tradio romntica na literatura do sculo xx e xxi

    Coordenadores:

    Danglei de Castro Pereira (UNB/FUNDECT) [email protected]

    Lucilo Antonio Rodrigues (UEMS-CAMPO GRANDE) [email protected]

    O simpsio agrupa trabalhos que abordam pontos de contato entre a tradio romntica e a literatura

    produzida nos sculo XX e XXI. Os trabalhos focalizam consideraes sobre: a) o conceito de

    ironia romntica em autores do Romantismo e seus desdobramentos at os dias atuais, b) pontos de

    influncia do Romantismo para a literatura produzida ao longo do sculo XX e XXI, c) te nses

    formativas da tradio literria brasileira em dilogo com o Romantismo na Europa e o

    Modernismo na Amrica Latina, d) Influncias europeias no Romantismo brasileiro tanto na prosa

    de fico quanto na poesia lrica, e) apresentao e discusso de autores romnticos e modernistas,

    tanto em prosa como em verso, sob a perspectiva da reviso do cnone. premissa dos trabalhos do

    simpsio a necessria reavaliao da importncia do Romantismo nos limites da tradio literria

    brasileira ao entendermos que a tradio romntica no Brasil importante na configurao temtica

    e esttica de nossa tradio literria. Os trabalhos apresentados no simpsio valorizam o carter

  • libertrio e renovador do Romantismo, bem como o aproveitamento de traos irnicos como e spao

    de confluncia e dissonncia para as principais ideias do primeiro Modernismo e possveis

    desdobramentos nos dias atuais. Os trabalhos podem, ainda, polemizar o conceito de influncia, o

    que garante a possibilidade de questionamentos face ao carter ingnuo da tradio romntica em

    direo formao de um percurso irnico/reflexivo que perpassa a tradio literria do sculo XX

    e XXI. Entendemos que a discusso da tradio romntica no Brasil contribui para a ampliao de

    percursos histricos e estticos distintos, mas que apresentam formas de organizao esttica e

    temtica singulares para a literatura produzida no sculo XX e XXI. A ideia polemizar o

    esgotamento do Romantismo e, quando possvel, indicar a presena do percurso reflexivo luz do

    conceito de Mdium-de-reflexo, conforme Walter Benjamin (2002) e de ironia romntica,

    conforme Soren Kierkegaard (2000) em uma perspectiva de valorizao do Romantismo na

    literatura do sculo XX e XXI.

    11 Tradio e modernidade na literatura brasileira do sc. Xx: ressonncias e dissonncias

    romnticas

    Coordenadores:

    Manoel Freire (UERNPAUS DOS FERROS) [email protected]/[email protected]

    Leila Borges Dias Santos (UFG-GOINIA) [email protected]

    O Romantismo foi certamente um dos mais importantes movimentos espirituais surgidos na

    modernidade ocidental, dada sua abrangncia e a heterogeneidade de traos e valores que o

    caracterizam, constituindo-se como uma viso de mundo, mais do que um movimento artstico e

    cultural, como sugerem Michael Lwy e Robert Sayre. No Brasil, o Romantismo coincide com a

    independncia poltica e com a prpria formao e emancipao da literatura, haja vista que o

    nacionalismo, o culto da natureza e das tradies locais, valores caros ao mo vimento, vm ao

    encontro das aspiraes dos escritores, empenhados no projeto esttico e poltico de construo das

    bases da nacionalidade e, portanto, de uma identidade nacional, que passava pela emancipao da

    literatura brasileira, da a fora do nacionalismo literrio, como assinala Antonio Candido.

    Contraditrio em sua prpria natureza e concepo, o Romantismo aqui assume as contradies e

    impasses inerentes formao social e cultural brasileira, cuja trajetria marcada por impasses

  • no resolvidos por uma modernizao conservadora impulsionada por um capitalismo perifrico.

    Sintomtico dessas contradies um conjunto de obras importantes de nossa literatura surgidas no

    Modernismo, especialmente depois de 1930, nas quais se configuram, nos planos temtico e formal,

    os impasses de uma formao social marcada por utopias frustradas e projetos irrealizados, em que,

    via de regra, se busca refgio dos fracassos do presente em um passado distante e retrgrado, assim

    como a crtica degradao da vida na cidade moderna se faz pela evocao nostlgica de valores

    arcaicos do mundo rural. Partindo desses pressupostos, este simpsio prope um debate sobre as

    diferentes configuraes de valores e traos da esttica romntica na literatura brasileira do sculo

    XX, a partir do estudo de obras que figurem esses aspectos em sua composio. Assim, sero bem

    vindos trabalhos que apresentem discusses acerca de, entre outros aspectos: a) ressonncias do

    Romantismo em obras literrias modernistas e contemporneas que demonstrem a questo da

    inadequao, contradio e descompasso entre a herana dos ideais romnticos no pas e sua

    respectiva tradio social e poltica; b) sua relao com os fundamentos da modernidade e as

    transformaes conceituais, estticas e polticas contemporneas, articulada complexidade da

    realidade social brasileira, hbrida de modernizao perifrica e de tradio no moderna, o que

    acentua a distncia entre os ideais iluministas de emancipao e o que sucedeu a esses ideais; c) as

    configuraes do cnone romntico e suas manifestaes nas vrias propostas literrias brasileiras

    do sculo XX, a partir de diferentes abordagens crticas.