símbolo e atitude simbólica

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Resumo de Artigo sobre Símbolo e Atitude Simbólica

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A ATITUDE SIMBLICA NA OBRA DE CARL GUSTAV JUNG

Sheila Woller JugendResumo da monografia apresentada no Curso de Especializao em Psicologia Analtica, 1998, PUC Pr.INTRODUO:O presente trabalho visa demonstrar o conceito de Atitude Simblica na obra de Carl Gustav Jung, suas implicaes tericas e prticas no estudo da psique.Estudar os smbolos, associ-los prtica da terapia, prtica da vida, algo a meu ver bastante rico e abrangente. Propicia-nos ampliar nossa conscincia. Permite-nos tomar contato com nosso inconsciente que to criativo, dinmico e paradoxal. Os smbolos nos induzem a interioridade, as profundezas do inconsciente. Eles nos sensibilizam pela sua magia e pelo mistrio.Ao introduzirmos o subsdio emocional para o smbolo, indicando o que est encoberto, estaremos despertando para uma sensibilidade, para uma realidade invisvel que nos transcende.Os smbolos nos encantam pela sua sincronicidade, pela simultaneidade que eles se apresentam; percebemos uma coincidncia significativa de acontecimentos com poucas probabilidades de acasos e que curiosamente nos fazem ficar atentos, alertas s nossas atitudes. com espontaneidade e naturalidade que os smbolos se apresentam mobilizando na psique humana considerveis revelaes de nosso mundo interno.Os smbolos enquanto fenmeno psquico afetam tanto nosso pensamento quanto sentimento. Por eles somos tomados a nvel de uma emoo, de uma idia.Ser tocado pelos smbolos se envolver num mundo de realidades invisveis por trs de algo visvel, buscando estabelecer-se um sentido.Considerando ser o smbolo a principal fala da psique na viso de JUNG, o presente estudo se justifica no sentido de promover um reconhecimento da Atitude que mais o reverencia.A busca de sentido no smbolo me conduziu ao estudo da Atitude Simblica, espero no decorrer deste trabalho mostrar a sua importncia revelando o sentido que tem se mostrado para mim.Esse paradoxo que o smbolo enseja, revela e oculta, sensibiliza e choca, aponta e camufla o que nos mobiliza a buscar nos smbolos um excedente de significados. justamente por eles se apresentarem, ora de um jeito, ora de outro, que eles nos seduzem e fascinam.O conceito de "Atitude Simblica" aparece como definio nas obras completas de JUNG poucas vezes, se no talvez uma nica vez. Porm, observamos que este conceito permeia as obras de JUNG constantemente; ao falar de sonhos, de como devemos olhar para os sonhos; tambm quando propem, por exemplo a tcnica da Imaginao Ativa.1 Captulo: A PSIQUE E A LINGUAGEM SIMBLICANeste captulo defini o conceito de psique, assim coma a descrevi no que se refere a seus aspectos consciente e inconsciente, seus contedos, sua forma de expresso e linguagem, assim como suas estruturas bsicas, ego, complexos, arqutipos; tendo-se em vista que a linguagem simblica uma das principais linguagens da psique, sendo a forma de expresso do inconsciente. Falei tambm das duas formas de pensamento: o pensamento conceitual que segue a lgica da identidade e o pensamento simblico que segue a lgica da semelhana. Abordei a Funo Transcendente pois o smbolo funciona como um elemento intermediador de passagem de uma atitude para outra."A funo transcendente resulta da unio de contedos conscientes e inconscientes" CWV8/2 &131." a funo que conecta opostos. Exprimindo-se por meio do smbolo, ela facilita a transio de uma atitude ou condio psicolgica para outra". Samuels Andrew, Plaut Fred, Shorter, Boni. Dicionrio Crtico de Anlise Junguiana.Estabeleci paralelos entre Hillman (analista ps-Junguiano, principal representante da Psicologia Arquetpica) e Jung no que se refere: a psique, arqutipos, imagem e mitos. Segundo eles psique imagem. Para Jung, arqutipos o modelo psquico da experincia. O smbolo a sua particular expresso. O smbolo extrado da vida e aponta para o arqutipo. Para Hillman, arqutipos so formas primrias que governam a psique. No so contidos s pela psique. Se manifestam no plano fsico, social, lingstico, espiritual e esttico. Para eles, imagem dada pela perspectiva imaginativa e s percebida pelo ato de imaginar. Para Jung, mitos so a expresso da psique. Para Hillman eles no fundamentam, eles abrem. So imagens arquetpicas.2 Captulo: O SMBOLO, SUA HISTRIA E DEFINIOA palavra "SMBOLO" origina-se do grego symbolon, um sinal de reconhecimento.Na Grcia antiga, quando dois amigos se separavam, quebravam uma moeda, um pequeno prato de argila, um anel, ou ainda a metade de uma concha de madreprola. Quando o amigo ou algum de sua famlia voltava, tinha de apresentar sua metade. Caso ela combinasse com a outra metade, esse algum teria revelado sua identidade de amigo e tinha, assim, direito hospitalidade.A palavra smbolo que significa etimologicamente aquilo que foi colocado junto, que foi lanado junto. Portanto a idia de smbolo implica em algo composto, ento quando combinado, passa a ser um smbolo, smbolo de alguma coisa."O smbolo, no entanto, pressupe a melhor designao ou frmula possvel de um fato relativamente desconhecido, mas cuja existncia conhecida ou postulada".Uma vez encontrado um sentido especfico, uma expresso apropriada que melhor formule o que se busca ou se pressente, o smbolo est morto; ele passa a ser um sinal."Sinal uma expresso usada para designar coisa conhecida, continua sendo apenas um sinal e nunca ser smbolo"(4).Todo fenmeno psicolgico um smbolo, no sentido que ele enuncia ou significa algo mais e algo diferente, algo que escapa ao nosso conhecimento atual. O que se percebe no smbolo uma conscincia em busca de outras possibilidades de sentido. Portanto ter Atitude Simblica reconhecer o smbolo como algo carregado de significado.3 Captulo: O SMBOLO E SUA FUNO / CORRELACIONANDO-O AO PROCESSO DE INDIVIDUAOJung via no smbolo a possibilidade de uma ao mediadora, uma tentativa de encontro entre opostos movida pela tendncia inconsciente totalizao. No processo de individuao a interpretao dos smbolos exerce um papel prtico de muita importncia, pois os smbolos representam tentativas naturais para a reconciliao e unio dos elementos antagnicos da psique.Os smbolos acompanham as etapas do processo de individuao como se fossem marcos de um caminho, eles se baseiam em determinados arqutipos que se apresentam no inconsciente, atravs dos sonhos, das fantasias, das imagens, e que chamam o indivduo para uma discusso."Quando acompanhado e observado de modo consciente, o processo de individuao representa uma discusso dialtica entre os contedos do inconsciente e os do consciente, em que os smbolos constituem as respectivas pontes necessrias superao dos antagonismos que, com freqncia, parecem irreconciliveis, eliminando-os"(5).A importncia do smbolo na obra de Jung a de atingir o arqutipo, se no atingi-lo no se tem Atitude Simblica, no se chega no arquetpico.Sem Atitude Simblica no se tem Individuao.4 Captulo: A ATITUDE SIMBLICA E JUNGO conceito de Atitude Simblica aparece como definio poucas vezes, talvez uma nica vez. Porm observamos que este conceito permeia as obras de Jung o tempo todo, ao falar de sonhos, de como devemos olhar para os sonhos, no processo de amplificao, de circuambulao, quando prope por exemplo a tcnica de Imaginao Ativa."A atitude que concebe o fenmeno dado como simblico, podemos denomin-la Atitude Simblica" ( CWV6&908). S em parte justificada pelo comportamento das coisas; de outra parte resultado de certa cosmoviso que atribui um sentido a todo evento, por maior ou menor que seja, e que d a este sentido um valor mais elevado do que pura realidade.Torna-se importante salientarmos que para termos uma Atitude Simblica temos que ter uma conscincia, mas um tipo de conscincia que nos permita permanecer ao lado do smbolo, no sentido de ser descrito como um fato relativamente desconhecido; portanto esta conscincia d a mo ao inconsciente. uma conscincia mais lunar, reflexiva, diferente de uma conscincia mais solar, Apolnea, luminosa que transformaria o smbolo em sinal. uma conscincia que acredita e respeita o mistrio. uma conscincia semelhante a dos povos primitivos, a dos ndios, na qual eles tem Atitude Simblica. Portanto uma conscincia que busca outras possibilidades de sentido das coisas. Ter Atitude Simblica implica numa relao de ego que respeita o mistrio.Fortalece-se o ego relacionando-o com o inconsciente. Isso conseqncia de um relacionamento com os smbolos.Existem algumas possibilidades de relao do ego com o smbolo, e estas formas de relao, consequentemente geraro atitudes especficas no comportamento do indivduo. Assim sendo, o ego pode identificar-se com o smbolo, neste caso a imagem simblica ser vivida concretamente. Desenvolve-se uma atitude de concretismo. Outra possibilidade a do ego estar alienado do smbolo; o smbolo ser reduzido ao signo. Gera, portanto, uma atitude reducionista. E uma ltima possibilidade que se pode constatar a do ego, embora claramente separado do inconsciente ser receptivo aos efeitos das imagens simblicas; tornando-se possvel uma espcie de dilogo consciente entre o ego e os smbolos. (EDINGER, 1972, p.159)Assim desenvolve-se uma Atitude Simblica. Podendo o smbolo ser aproximado do consciente pela compreenso e ser sentido e reconhecido de maneira relativa como pertencente ao "eu", no sendo revelado inteiramente, continuar vivo e atuante.A Atitude Simblica tambm considerada uma atitude de sntese; pois quanto mais nos aproximamos da compreenso e do possvel entendimento do simbolismo arquetpico mais prximos estaremos de nossos contedos inconscientes e mais conscientes de ns e de nossos desejos estaremos. O desempenho da Atitude Simblica permite contatar com os plos opostos existentes na psique e desse dilogo impedir a perigosa situao da unilateralidade (neurose).Jung atravs da Atitude Simblica nos ensinou a ler a psique atravs de um "como se": quando tratar do inconsciente tudo ser "como se" e vocs nunca devero esquecer tal restrio. (CWV 18/1 & 12).Ter Atitude Simblica despertar em cada indivduo o sentido de suas vidas.5 Captulo: O CULTIVO DA ALMA E A ATITUDE SIMBLICAJung diz que psique imagem, Hillman se apega a isso e diz que devemos ficar com a imagem. Ficar na alma ficar na imagem, vivenci-la e no interpret-la. ter Atitude Simblica. Somente tendo Atitude Simblica que se tem o Cultivo da Alma e a os dois conceitos se do as mos.O foco no fenmeno na imagem e isso se traduz como ficar na alma. Dar vida a imagem; que a prpria imagem se auto explique. Esse o mistrio da anlise. Que a prpria imagem diga a que veio.O cultivo da alma o cultivo das imagens; pois psique imagem, composta de vrios smbolos.Ter Atitude Simblica tem a ver com culto, oculto, com o mistrio. E o mistrio descobrir o arqutipo que se constela por trs da pessoa. Como ele se manifesta em imagem e smbolo, entrar nessa dimenso entrar num mundo simblico, num mundo de imagens que para Hillman o Cultivo da Alma.Gostaria de trazer a citao de Hillman, que a meu ver , a melhor forma de expressar o sentido de Cultivo da Alma e Atitude Simblica: Fazendo parte deste grande ato cnico ,Deuses, analista e o paciente desempenham papis, assumem personagens desse mundo da inconscincia, desse mundo misterioso."Quando os Deuses vm ao palco, tudo silencia e as plpebras cerram-se. Mergulhados em olvido por essa experincia, emergimos sem saber exatamente o que aconteceu; sabemos apenas que fomos transformados". (Hillman, James. Suicdio e Alma. Petrpolis,RJ, 1993. P203.6 Captulo: A ALQUIMIA COMO UM PARADIGMA PARA A ATITUDE SIMBLICAA alquimia veio trazer para Jung a confirmao que ele tanto buscava, ou seja, as descries dos processos da matria que os alquimistas presenciavam eram as mesmas que se constatavam com os fenmenos psquicos observados por Jung.Dizia ele: "A meu ver, a ajuda dada pela alquimia para a compreenso dos smbolos do processo de individuao da maior importncia". (CWV16&219).Jung comparava a psique humana com a alquimia.A alquimia trs a imagem, o pensamento por imagens, e as linguagens metafricas. Portanto a alquimia fala da psique j que a imagem o dado psquico por excelncia. Os textos alqumicos ensinavam a convivncia com os smbolos."O lugar ou o meio desta realizao no a matria, nem o esprito, mas aquele reino intermedirio da realidade sutil que s pode ser expresso adequadamente atravs do smbolo. O smbolo no nem abstrato nem concreto, nem racional, nem irracional, nem real nem irreal. sempre as duas coisas." (CWV12&400).Os smbolos so a chave para o segredo; para o oculto, para o inconsciente, para o fundamento da nossa psique que so os arqutipos em si, que so portanto incapazes de vir conscincia.Tanto para a alquimia como para Jung o que mais importava era o processo em si do que o resultado final, por exemplo, o ficar como sonho, no traduz-lo, ele no significar outra coisa alm do que existe dentro dele, tal qual Hillman nos ensina que ficar na alma ficar na imagem, dar vida a imagem."Jung via a Alquimia como uma Psicologia pr cientifica sob a capa de metforas". (Hillman, James, Loose Ends).Para Hillman a Psicologia Alqumica seria um psicologizar, um resgate da imaginao, da imagem. Nesse sentido ela d espao metfora, ao smbolo, ou seja Atitude Simblica.A figura de Hermes est associada Atitude Simblica e Alquimia pelo fato de que para se ter Atitude Simblica preciso ter os ps nos dois mundos consciente e inconsciente. Atravs da Atitude Simblica podemos chegar a uma atitude de sntese, de unificao dos opostos. Hermes o esprito que norteia a alquimia por ser o mercrio o principal smbolo da substncia que transformada durante o processo comparado s caractersticas do inconsciente. Portanto ter uma Atitude Simblica significa acreditar que no somos ns que vamos dar o sentido. Esse sentido extrado; pois o arqutipo j tem um sentido, uma virtualidade. O que se busca uma amplificao atravs de imagens num processo de circuambulao para nos aproximarmos da verdade psicolgica.CONCLUSOJung via na Atitude Simblica uma possibilidade maior de ajuda do indivduo, do que simples alvio de suas neuroses e psicoses.Atravs do deciframento de mensagens simblicas da psique, via a possibilidade de conectar o indivduo com suas foras mais criativas e esclarecer os significados mais profundos de suas vidas.Atravs da Atitude Simblica como elemento de sntese, de unificao de opostos, a psique pode estabelecer um dilogo entre as personalidades consciente e inconsciente aproximando-as numa relao e possvel conjuno. Assim, possibilitando um redirecionamento da vida a caminho da Individuao, na busca de quem verdadeiramente somos.NotasO smbolo e isso se aplica a todos eles - um sinal visvel de uma realidade invisvel, ideal. Portanto, no smbolo observam-se dois nveis: em algo externo, pode -se revelar algo interno, em algo visvel, algo invisvel, em algo corporal, o espiritual, no particular geral. Kast, Verena, A dinmica dos smbolos, So Paulo, Loyola, 1997, p.19Kast, Verena - A dinmica dos Smbolos, So Paulo, Loyola, 1997CWV 6 & 903(4)CWV 6 & 906(5)Jacabi, Jolande - Complexo, arqutipo e smbolo, pag. 10REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS1. CHEVALIER, Jean ; GHEERBRANT, Alain. Dicionrio dos Smbolos. 11. ed. Rio de Janeiro : Jos Opympio, 1997.2. DURRAND, Gilbert. Imaginao Simblica. So Paulo : Cultrix, 1988.3.EDINGER, Edward. Ego e Arqutipo. So Paulo : Cultrix, 1972.4. HALL, James A. Jung e a Interpretao dos Sonhos. 10. ed. So Paulo : Cultrix, 1983.5. HILLMAN, James. Entre Vistas. So Paulo : Summus Editorial, 1989.6.HILLMAN, James. Psicologia Arquetpica. 9. ed. So Paulo : Cultrix, 1983.7. HILLMAN, James. Suicdio e Alma. Petrpolis, RJ : Vozes, 1993.8. JACOBI, Jolande. Complexo, Arqutipo e Smbolo. 10. ed. 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