levi strauss- a eficácia simbólica

Upload: rebeca-campos-ferreira

Post on 20-Jul-2015

4.511 views

Category:

Documents


8 download

TRANSCRIPT

  • 5/17/2018 Levi Strauss- A efic cia simb lica

    1/12

    !ii

    CAPiTULO XA EFICACIA SIMB6LICA (1)

    o primeiro grande texto magico-religioso conhecido, pro-veniente de cultura sul-americana, que acaba de ser publicadopor Wassen e Holmer, lanca uina nova luz wbre certos as-~tosda cura xamanistica, e coloca problemas de interpreta-~o 'te6rica que 0 excelente comentario dos edit8res nao bastacertamente para esgotar. Nos desejariamos rclomar aqui 0seuexame, nao na perspectiva lingiiistica ou arnericanista naqual 0 texto foi sobretudo estudado (2), mas para tentar porem evidencia suas irnplicacoes gerais.Trata-se de urn longo encantamento, cuja versao indigenaocupa dezoito paginas, divididas em quinhentos e trinta e-cincoversiculos, recolhido de um velho informante de sua tribo peloindio Cuna Guillermo Haya, Sabe-se que os CUDa habitam 0territorio da Republica do Panama, e que 0lastiniado ErlandNordenskiold Ihes havia consagrado uma aten~ particular;chegou mesmo a formar colaboradores entre os indigenas. Nocaw que nos interessa, e apos a morte de Nordenskiold queRaya fez' chegar a seu sucessor, 0Dr. Wassen, um texto re-digido na lingua original e acompanhado de uma traducao es-'panhola, it revisao do qual Holmer devia dedicar todos osseus cuidados. .. t, .. . ' ~ ~ -: ~ r '~ :: . -c . . 1 : . . . . ' J ,_

    . ,. ' ... "~, ; i; .~ :.: [.;_ ' .(1) ~ste arfigo, dedicado a Ra:ymond de Saussure, foi pu-blicado, sob 0titulo L'efficacite' symbolique, na. Revue de l'HistOirtl.des religimuJ, t. 135, n.0 1,1949, pp. 5-27. '. .(2) Nils M. HOLMER e Henry WASSEN. MUr I ga , 1o ; or tke W ayof Muu. a medecine song from the Ouna of Pa-nama, Goteborg,1947.

  • 5/17/2018 Levi Strauss- A efic cia simb lica

    2/12

    . I

    '. d t e ajuoar urn parto dificiI. 1 1 1 e e de-, objeto 0 can 0 lhv _~ lativamente excepcional, visto que as n : u : r . esurn ernpr ego re ,. C tral e do SuI dao a Iuz mars facil-. di as da Amenca en .. .._III 1gen J d sociedades ocidentals. A mtervenSaomente ~u~ aq~~ a~raa~ sc realiza na falta de hito, a ~ido.. . . 9 0 xama c, b ' to se iniCia por um quadro c ia perplexidade

    /_da 2,an : e1 : < : ; ' : " can reve sua visita a o xama, a partida destedesta ultima, ~esc arturienre sua chegada, seus preparativos,para a ~ho

  • 5/17/2018 Levi Strauss- A efic cia simb lica

    3/12

    . --~ .--~~ ---~-- -.- _ __.._.------~ . . . , ; o r . . - ' f . ' - - . ' " . " - " - - ' . ' - - .Ii,iI list:, 0 purba que. governa os orgaos mais afetados: os da ve-ra

  • 5/17/2018 Levi Strauss- A efic cia simb lica

    4/12

    O fraco corpo da doente est~ estendido;~ h d Muu este escorre. comoquando Hes alumiam 0 carum 0 ~ ,. sangue; b .d como sangue, todo ver-o corr imento se derrama so a re e,rnelho ;o branco tecido interno desce ate 0 fundo da terra;

    'd d mulher, urn ser humano deseeno meio do branco tecr 0 a(84-90),Os tradutores dao 0 sentido das duas ultimasfrases como

    duvidoso : mas eles reenviam ao mesmo tempo a urn,outro t~xt,o, di 'bl' d por Nordenskiold que nao deixa subsistir10 igena pu lea 0 0 0 ~ id 0_h ' sobre a identlflearao do braneo teet 0IIInen urn eqUtvoeo ">terno" com a vulva:/ sibug tta molu; C I l Y k a a l iblanca tela abriendo

    sibug ua m o lul a kinn oliblanca tela extendiendo. . . . . . . . . _ H ~ .sib ug ua m o lu l abalase t ul ap ur u a , ek u an a l;blanca tela centro feto caer hactendo ( ),

    oobscure "caminho de Muu", todo ensangiientad

  • 5/17/2018 Levi Strauss- A efic cia simb lica

    5/12

    ** *

    ,,

    'omecemos par estabelecer a realidade e as caracteres destaHI l.l1ipLlia\ao; pesquisaremos em seguida quais podern ser seuI III sua eiicacia. Fica-se inicialmente chocado, ao constatar'In' 0 canto, cujo terna e uma luta dramatic a e~tre espiritosprot .tores e espiritos maliazejos pel~ reconquista ~e uma.. alma", consagra um lugar muito restrito a acao propnamente,'tita: em dezoito paginas de texto, 0 tomeio ocupa menos delII11a e a entrevista com Muu Puklip exatamente duas. Ao{I t~ario, os preliminares sao muito desenvolvid~,. e a, d:scric;aodos prepara tivos. do equipamento dos nuchw, do mnerarro e dossltios e tratada com uma granc\e riqueza de detalhes. Tal e 0. no inicio para a visita da parte ira ao xarna, a conversacao, ' d "da loente com a primeira, depois desta com 0 segun 0, e repro-(luzida duas vezes, pois cad a interlocutor repete exatamente arae do outro, antes de responder-lhe:

    A doente diz a parteira: HCertamente, eu estou vestidaom a quente vestimenta da doen

  • 5/17/2018 Levi Strauss- A efic cia simb lica

    6/12

    I ,' . ~ , ( lC) '11 icas : I

  • 5/17/2018 Levi Strauss- A efic cia simb lica

    7/12

    . te ou inconsciente : tio Aligator, que se n:ove po t toda1 ~ . com seus olhos protuberantes, seu corpo srnuoso e..man-Pt~d I acocorando-se e agitando a cauda; Tio Aligator Tiikwa-It;'~,de corpo luzente, que rernexe suas. luzentes barbatanas,eulas barbatanas invadern 0 lugar, empurr~m tudo: arrast~tul; Ne te Ki(k)kirpanalele, 0 Polvo, cujos ten~aculos VlS-iosos saern e entram alternadamente ~ e .mmtoSl, o,utrosainda : Aquele-cujo-chapeu-e-mole, Aquele-cu]o-c~ap~u-e-ver-melho, Aquele-cujo-chapeu-e-multicor etc.; e os .amma.lS guar-d,iaes: 0 Tigre-negro, 0 Animal-v~rmelho, 0 Animal-bicolor, 0Animal-cor-de-poei ra ; cada urn hgado por uma corrente deferro, lingua pendente, lingua saliente, baban:t0, espumando,cauda flamejante, os dentes an:ea~~dores e dllac~ran~~ tudo~"do mesmo modo que sangue, inteirarnente vermelho . (253298). ., Bosch e alcan-Para penetrar neste inferno a Hyeronimusar a sua proprietaria, os nelegan tern outros ob~taculos a .ven-~er,' estes, materiais : fibras, cordas flut~~ntes, f10Sestendidos,cortinas sucessivas: coloridas de ar~o-1r1s, douradas,. pratea-das, vermelhas, pretas, marrons,. azuts, brancas, vermlfor~es,"como gravatas", amarelas, torcidas, espessas (30S~330), .eara esta finalidade, 0 xama pede reforcos : Senhores:dos am-~ais-uradores-de-madeira, que deverao "cortar, reumr, henro-lar, reduzir" os fios, nos quais Holmer e Wassen recon ecemas paredes mucosas do utero (12), "A' - ue a queda desses ultimos obstaculos, e emvasao seg ia di - f sa ui ue se da 0torneio dos chapeus, CUJa iscussao nos ~ a -tq, qdernasiado da finalidade imediata deste estudo, Apos aana d ida C ' osa quantalibertacao do nigap,urbalele vern a esci ", ao ,penga ascensao; pois a meta de toda a enwresa e de provo:ar 0, 'c ia difi 'lOrna re-arto ou seja, precisamente, uma desci 1 ICI 'h ,xa ,censeia seu mundo e encoraja seu tropel ; rna:> I ~ e necessa-rio convocar reforcos : os "abridores de carninho , Senh~:es~dos-animais-fossadores, tais co~ ~ t~tu, Exorta-se 0, n~ . Ise dirigir em direcao ao orificio i \'.: . : I' .:.

    .Teu corpo jaz diante: de ti, ~ rede;seu branco tecido esta estendidoj .'.. . '\' .. 3 ",' _ I _ ' / " " ; " . . " , ; ! - ~~_ (12)Loc, cit., p : 85>: '.'. ,i. ""."

    ' " , I: I

    I,i.-

    !.h 'IJ,'I '

    seu branco .tecid? interno se move vagarosamente;tua doente jaz diante de tit acreditando que ela perdeu avista.Em seu corpo, eles repoem seu nigapurbalele. " (430-435),o episodio que se segue e obscuro: dir-se-ia que a d.centenao esta ainda curada. 0 xama parte para a montanha com

    os moradores da aIdeia, para recolher plantas medicinais, e re-pete sua ofensiva sob uma nova forma: e ele, desta vez, que,irnitando 0penis, penetra na "abertura de muu" e se move ai"como nus.upane .. , Iimpando e secando completamente 0 lu-gar interior" (453-454). Contudo, 0 emprego de acistringentessugeriria (pe 0 parto ja se teria dado. Enfim, antes da nar-rativa das precaw;6es tomadas para prevenir a evasao de Muu,e que nos' ja descrevemos, encontra-se urn apelo a um povode arqueiros, Como eles tem par missao provocar uma_l1uvemde poeira "para obscurecer 0caminho de Muu" (464), e demontar guarda em todos os caminhos de Muu, desvios e atalhos(468), sua intervencao pertence tambem, sem dtivida, a con-clusao,Talvez 0 episodio anterior se refira a uma segunda tecnicade cura, com manipula

  • 5/17/2018 Levi Strauss- A efic cia simb lica

    8/12

    .. .* ...A cura consisti ria, pois, em tornar Pffi :~ve~ uma situac;a_or I .. ialmente em terrnos afetivos, e aceitavers para 0espi-I It L LIUCl n, .t 1"ilo as dores que 0 corpo se recusa a tole:ar. ~~ a. illl 0 _ ? -

    J' d x a m a nao corresponda a uma realidade ? b iettva rtaQI,m ilIlP.QJ1imcie..;_a-daen_te_acii-dita.neIa, e eia e membro d .e- ' n r ; . . r1. ,r1A I ue acredit Os espiritos protetores e os espi-lI111n~ . ""dtos malfazejos os monstros sobrenaturais e os ammais ma-;10 fazem parte de urn sistema coerente que f~mdamenta ,aI. .' - indigena do universo, A doente o~tarUU, ill:1..( ()n~=e eia nao os pOs jamais em duvida. 0 qu.e ela naol'X3.. _ 'd " entes e arhitrarias que constituern um v-tceita sao ores mcoer , 'I ito. -lemento estranho a seu sistema, mas que. por ape 0 ao m ,t) JIj:lUI1aai reintegrar num conjunto onde todos os elernen- ,tosse ap6iam mittuamente. .' Mas a doente, tendo cornpreendido, nao se resigna apenas :cla sara. E nada disto se produz em nossos dpentes, quandose~s exPiica a causa ae suas desordens, ,Illvocando secre-'", micr6bios ou virus. Acusar-se nos-a talv~ ?~para?-oxo,~oe~ d que a razao distoe que os microbios existemBe respon ennos 1 - tree ue os monstros nao existem. E nao, ~ bstante, a :e a~ enmi~r6bio e-doenca e exterior ao espirito do yaclente, e umarel -ode causa e efeito; ao passo que ~ .relac;ao ~tre mons~roe -~ e interior a esse mesmo espmto, crn:sclen~e ou in-, . ~. ' uma rela90 d,e simbolo a coisa s11TI~I~z.ada,ou,~SCl:;r' e r 0 vocabulario dos lingiiistas, de ~l . Iflcante a.,~'l' 0 xamafornece a sua oente uma Imguagem, naSJgDU I~A....... ... ed.iatamente estados nao-formulados,qual se ~u expnmir lID _de outro modoinformulaveis, E e a pas~em a esta ;xpress~~verbal {que'permite, ao mesmo tempo. vrver sob UIna. orma '?denada ~ inteligivel .uma experiencia real , mas, sem isto, ~~r-quica e 'inefavel)"que provoca 0de;sbloqu~o do pr~esso f1510-l6gioo,:isto ej a'i'r~r~~o,.,num -sentido favorave~. da se-" :cuja .desenvolvimento a ~ente .sofreu. . .'

    :. ,1 Neste'sehtido~ a ct i ra ~istica se situa ~ m,el?"

  • 5/17/2018 Levi Strauss- A efic cia simb lica

    9/12

    .' .. ,. 0 doente atingido de neurose liquida urn-.? 111?n~o.pSlqUl~O.ndo-se a um psicanalista real; a pa.~tu-. !Into individual, po desordem organica verdadeira,1 'nee indigena supera uma , , '1f'. do-se com urn xama rmtrcamente transposto.~ocntl lean l\T- fO parale1ismo nao excIue, pois, diferen?as.. .ao se icaraad ' do se se prestar atencao ao carater psiqurco, num caso, e~lr~, tro da perturbacao que se trata de curar, Deorgamco no ou , > , 1 t t da. ....... aman'lstic.a parece ser urn eqUlva en e exa 0,(ia.toa cura x_ = . _ A~.. Iiti mas corn uma mversao de todos os termos,ura pSlcana 1 lca, ... ,.. b h . to'Ambas visam provocar uma experrencia ; e am ~s c egam a .15 ,1 .. .., d m rnito que 0 doente deve vrver, ou revIve;:

    I ~,~conSlhtum cr:.soue urn mito ind'ividual g_ue0 doente constro!_. . ' . e o ; " : ' . n~~da do' element~s tirados de seu passado; no 0:"00, eu r n mlto socIal, que 0 doente recete do exterIor, e que naobcor~- nde a urn antigo estado pessoal. Para prepara.r a a rearest? C rna Had reacao" psicanahsta escuta,Y ! . - . O ; que se torna en_aoful Methor aind~: ~ quando as transfe-ru:Lt>aSsonue 0xama a a. . ". > ~ . . : < ! . doente faz falar 0 psicanalista, ernpres-rencias se orgamzam, , . en-tando-lhe sentimentos e intencoes supostos : ao :ontrano, na _- ama fala por sua doente. Ele a mterr~a, e. poecanta-;ao:_~~x '1' CO' que correspondem a interpretacao de seuem sua !.JUG:'- rep icas .estado, do qual ela se deve cornpenetrar :

    . ela adormeceu no caminho deinha vista se extraviou,Muu Puklip;E Muu Puk1ip que veio a mim, E1a quer tomar meu m-g a purba lele; .. . po d dMuu Nauryaiti veio a rrnrn, Ela quer se a erar e meunigapurbaJeZe para sempre;etc. (97-101).

    t E contudo a sernelhanca se-torna ainda mais surpreen-I dente.~quando ~ compara 0.!!1etodo do xama. com. ce~s ten:~uticas de a . -0 recente e ue se v~lem

  • 5/17/2018 Levi Strauss- A efic cia simb lica

    10/12

    II IIuu it passagem, Quando vern, 0 :etorno (que corresp~n,de' I J t 1 ' ll I d a , fase do mito, mas a pruneira fase do processo f1510-

    hll : r ll , ja que se trata de Iazer descer a crianca}, a atencao f' dl" ,1 0 a para seus pes: assinala-se que eles tern sapatos (494-I')h , N~ momento em que eles invadem a morada de Muu,II !lIn viC)mais em fila, mas "quatro a quatro" (388); e para0 ' 1 1 r ao \r livre, eles vao "todos em linha' (248), Sem du-h l l , u ta tran5formac;ao dos detalhes do mito tem por finali-d de d SPhtar uma reacao orgat1ica correspondente; mas a1mut c na~ poderia apropriar-se dela sob forma de experieu-I~, ac la nao fosse acompanhada de urn progresso real dad . l l l l lI;~O, : a . . aeficacia simb61ica que garante a harmonia do

    1 I l. ll dC'h~ entre mito e Qpera\6~, E mito e operacoes formam1 1 1 1 1 parI ol\de se encontra sempre a dualidade do doente e doJ l I ~ ( l i t o. N a cura da esquizofrenia, 0 medico exe~ut~ as o~- \

    \ I . . tkl.e.nie-ptruluz seu mito; na eura .xamamstlca, 0 me-1 \ II., t lec~ 0 mito e a doente executa as opt;rac;6es.-,__ .

    tica tornar-se-iam rigorosamente sernelhantes : tratar-se-ia emambos o~ ~~s de ir:duzir uma transformac;io organics, quese eonsutU1:Ia essenclalmente, numa reorganizac;ao estrutural..que conduzisse 0doente a vrver in tensamente urn mito orarecebido, ora produzido, e cuja estrutura seria no. nivel dopsiq~ismo inconsciente, analoga aquela da qual se quereria de-termmar a formacao no nivel do corpo. A eficacia simbolicaconsistiria precisamente nesta Upropriedade indutora" que pos-suiriam, umas em relacao as outras,- estruturas fonnalmentehomologas, . que se podem edificar, com materiais diferentes,nos diferentes niveis do vivente r processes organicos, psiquis-mo inconsciente, pensarnento refletido, A rnetafora. poetica for-nece urn exemplo familiar deste processo indutor; mas seu.uso corrente nao the permite ultrapassar 0psiquico, Constata-mos assim 0 valor da intuicao de Rimbaud, dizendo que elapode tambern servir para modificar 0mundo.A cornparai)ao com a sicanalise nos ermitiu esclarecer

    certos as~ tosa cura xamanistica. Nao e certo que, inver--samente, 0 estudo do xamanismo nao seja solicitado, algumdia, para elucidar aspectos ainda obscuros da teoria de Freud.Pensamos particularmente na nocao de mito e na ~o deinconsciente.Vimos que a linica difereru;a entre os dois metodos que$sobreviveria a qescoberta de utIL-SUhst4ate-iisiowgieo-da.s....n.eu;-/rpses diriarpeito it . ocigem do mito,_encontrado, num caso, ~ como urn tesouro individual, e recebido, noutro, da tradicao~ - coletiva. De fato, inumeros psicanalistas se recusarao a admitirque as constelacoes psiquicas que reaparecem a consciencia dodoente possam constituir urn mito : sao, dirac eles, acontecimen-tos reais, a s vezes possiveis de serem datad.os, cuja autentici ::dade e verificavel por uma investigacao junto aos parentes oucriados (16) .. N a o pomos os fates em duvida, 0 que e ne-cessario indagar e se 0valor tera ~utico da cu - ao7 carater real

  • 5/17/2018 Levi Strauss- A efic cia simb lica

    11/12

    II ['litO em Q~ se apresentam, 0 ,:xj..e.if:D_as_e~perimenta i~-(. - nte sob fanna. de mito vivido, Com isto, entendemos.... ml~der traUnlatizante de uma situac;ao qualquer nao podetIll 0 . " 'd- d1:( sultar de seus caracteres intrinsecos, mas da aI;tr ~o. e c:r-to' acontecimentos, que surgem num contexte P~lCO~Ogl~O,his-torico e social apropriado, para induzir uma, cnsta~lza

  • 5/17/2018 Levi Strauss- A efic cia simb lica

    12/12

    , rativa. Ao menos e 0 que a analise de urn texto indigena nospareceu ensinar. :rvl?s,em outro sentido, sabe-sebem 1 l l O a todomito e uma procura do temRQ_petdido. ~ta Jonna _emaC1~ca.--xamanistica,_, ue e a sicanali~e!. tira! 1!Qis:. .~s.\ tYcaracteres particulares do o~qU~,.Jla....Cl ll1zasao rnecanica,nao a mats lugal" para 0 tempmitico, senaono~rio n o :~em.: Desta constatacao, a psicanalise pode recolher uma con-fliTIfar;aode sua validade, ao mesmo tempo que a esperanca deaprofundar suas bases te6ricas e de rnelhor compreender 0mecanisme de sua ef icacia, por uma confrontacao de seus m e - .todos e de suas finalidades com os de seus gran des predeces-sores: os xarnas e os feiticeiros,

    ,I

    ..{)jh~r ,~,t ;h," I'.:-- . t ; ; .t : ' J ~' , :.; ;L < . " ~ .

    :;i.~!. ~ ~ ~ - . : J , , ~ ! , . ? - t ~ ! " ~ i ' , . ,! r 1 - , : { 1 ' ' ' t ~ '"':~;;;1"'iB~ ~~~-,. . ~ .~:.~~!, ., '.' ~: :,- .~ _:"---{:\;7 '~ .;c i'i .~.:.:'I, \. .~ .

    . " ..~ ' ;___"""" ; ._ ".,

    ~~~:.; . '...__ - : . . . . . - ~

    CAPiTULO XIA ESTRUTURA DOS MITOS (1)

    "Di!-se-ia 9-ueos universos mitologl-cos sao destmados a ser pulverizadosmal acabam de se formar, para quenovos universos nascam de seus frag- -mentos." .Franz ~ introducao a: Ja-mes Teit, Traditions of the

    Thomps(m River Indians ofBritish Columbia, Memoirsof the Americ~n FolkkweSociety, VI (1898), p. 18.Nos tiltimos vinte anos, apesar de algumas tentativas dis-

    persas, a antropologia parece ter-se afastado cada vez rnaisdo estudo dos fatos re1igiosos. Amadores de diversas provenien-cias se aproveitararn disto para invadir 0dominic da etnolo-gia religiosa. Seus passatempos ingenues se desenvolvem noterrenoque deixarnos baldio, e seus excessos se ajuntam anossa carencia, para comprometer 0 porvir de nossos trabalhos.Qual e a origem desta situa~o? Os fundadores da etno-logia religiosa -T,ldor, Fmer e Dw:lWim-. estiveram sem-pre atentos aos problemas~C016gicO_S; .mas, .nao sendo psi-cologos profissionais, naoam-manter-se"a:par .da 'ripidaevolucao, das ideias psicol6gicas, e rnenos' ainda pressenti-la,Suas interpretacoes passaram de moda tao ripidamente quanta'~.. . ! ",:, : ht !j ~ ' i_ :.{ j ,r~: l; ; -:. .~:J;~ I: . - , . ..

    . (1) Segundo 0 artigo. original: .TbeStruCtt inU-Studv 0 1Myth, in: MYTH,A Symposium, Jour.nol of Amm-ican Folklore,vol. 78, n.o 270, out.-dee. 1965, pp. 428-444 - .,Traduzido com algunacomplementos e modificacOes.9..ft?'

    ',I