silva; eliana dos santos barbosa expressões do cotidiano

46
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL DEPARTAMENTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO CURSO DE ARTES VISUAIS EXPRESSÕES DO COTIDIANO ELIANA DOS SANTOS BARBOSA DA SILVA Campo Grande MS 2004

Upload: acervodac

Post on 28-Dec-2014

93 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

DEPARTAMENTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO

CURSO DE ARTES VISUAIS

EXPRESSÕES DO COTIDIANO

ELIANA DOS SANTOS BARBOSA DA SILVA

Campo Grande – MS

2004

Page 2: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

1

ELIANA DOS SANTOS BARBOSA DA SILVA

EXPRESSÕES DO COTIDIANO

Campo Grande – MS

2004

Relatório apresentado como exigência parcial

para obtenção do grau de Bacharel em Artes

Visuais à Banca Examinadora da Universidade

Federal do Mato Grosso do Sul, sob orientação

da professora Dra. Carla Maria Buffo de Cápua

Page 3: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

2

DEDICATÓRIA

A minha mãe, Evilásia, pelo seu trabalho

constante e dedicado à causa social, acreditando, aos

74 anos, que muito há que se fazer, ainda, para

mudar a dura realidade de nossa gente.

Page 4: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

3

AGRADECIMENTOS

A Deus por tudo de bom que tem me permitido realizar.

A minha família pela colaboração e paciência.

A professora dra. Carla Maria Buffo de Cápua por me abrir as portas do conhecimento.

Page 5: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

4

A arte requer, mais que qualquer coisa, o impulso

criativo, a liberdade de expressão, a manipulação de formas, a

materialização da idéia estética. Sem técnica, a arte torna-se

escrava da imperfeição da forma; se pura técnica, a arte converte-se

em instrumento acadêmico para a castração da livre expressão

criativa e imaginativa humana.

Eduardo Carlos Bianca Bittar

Page 6: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

5

RESUMO

“Expressões do Cotidiano” foi influenciado por escultores como Rodin, Matisse e

principalmente por Giacometti, que, na sua última fase escultórica, dedicou-se obsessivamente à

figura humana. Essa influência permitiu a produção de esculturas retratando pessoas simples,

humildes, do campo ou dos aglomerados urbanos, em situações do cotidiano que expressam os

sentimentos e as dificuldades vividas por cada uma delas. As peças foram modeladas com uma

massa de papel que possui propriedades desenvolvidas especificamente para essa produção, o que

permitiu um maior detalhamento expressivo e inúmeras possibilidades de acabamento final. O

trabalho foi finalizado com a produção de dezessete esculturas, em diversos tamanhos,

expressando o meu inconformismo e materializando plasticamente minhas características

pessoais, além de permitir observar as influências dos autores citados. Com isso, chama a atenção

para todo um contexto social em que pessoas humildes são submetidas a uma vida de muitas

dificuldades causadas pelo abandono e pelo descaso com que são tratadas.

Page 7: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

6

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS...................................................................................... 7

INTRODUÇÃO................................................................................................ 8

CAPÍTULO 1. AS MOTIVAÇÕES E INFLUÊNCIAS............................... 10

1.1 AS QUESTÕES SOCIAIS........................................................................ 11

1.2 INFLUÊNCIAS.......................................................................................... 13

CAPÍTULO 2. A MATERIALIZAÇÃO DO SENTIMENTO.................... 18

2.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................ 18

2.2 ANÁLISE DAS OBRAS............................................................................ 23

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 41

BIBLIOGRAFIA.............................................................................................. 42

ANEXO 1.......................................................................................................... 43

ANEXO 2.......................................................................................................... 44

Page 8: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

7

LISTA DE FIGURAS

1. Madalena I

2. Nu reclinado

3. Homem caminhando II

4. Giacometti

5. Miniaturas

6. Esqueleto de arame

7. Esqueleto com atadura

8. Estrutura modelada

9. Cortadora de cana

10. Menina com seus brinquedos

11. O lavrador na caatinga

12. O roceiro e sua enxada

13. O sertanejo com a pá

14. A menina índia

15. Homem lendo jornal

16. A lavadeira e sua filha

17. Mãe amamentando o filho

18. Mãe com a criança no colo

19. Menino jornaleiro

20. Moleque e sua bola

21. O velho sentado

22. Mãe com o filho desfalecido

23. Mulher com o prato na mão

24. Senhora com o cesto

25. Mulher socando o pilão

Page 9: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

8

INTRODUÇÃO

Hoje, não só nas grandes metrópoles, mas também nas regiões castigadas pela natureza,

nos deparamos com cenas da vida urbana que muito nos comovem, onde as oportunidades são

raríssimas. Diante dessa vida dura e sofrida, há uma grande parte da população que tem de lutar

para sobreviver no campo, nas ruas das cidades, nos vilarejos e favelas. São pessoas

perseverantes e resignadas com essa condição desumana, que inconscientemente revelam, através

dos olhares, das marcas do tempo sulcadas em seus rostos, todas as angústias, medos e sonhos.

O desejo de trabalhar dentro desse universo social, surgiu há muito tempo, ao observar e

conviver diariamente com o modo de vida dessas pessoas simples, excluídas pela sociedade, onde

o emprego, a escola e a moradia são privilégios de poucos, mas que, apesar dos obstáculos

encontrados, têm a capacidade e a altivez de enfrentar essa dura realidade e ainda assim,

conseguir sobreviver com uma certa dignidade. Com uma visão crítica e solidária, essas pessoas

foram observadas e serviram como fonte de inspiração para a criação das esculturas, as quais

foram utilizadas como veículo para traduzir os olhares, os gestos, as atitudes, enfim, as

expressões desse povo sofrido.

A sensibilidade fez aflorar um certo inconformismo que influenciou o meu estado de

espírito e caracterizou toda a minha obra. Para materializar este sentimento, descobri, na

escultura, o veículo mais eficaz para gerar uma reflexão sobre o problema abordado, além de

permitir a minha realização pessoal. As pesquisas teóricas revelaram que alguns elementos

presentes em meus trabalhos assemelhavam-se às características encontradas nas esculturas de

Rodin, Matisse e, principalmente, Giacometti.

A massa de papel foi escolhida para a produção das obras devido à grande facilidade no

seu manuseio, à maleabilidade, à resistência, e ao baixo custo, permitindo inúmeras

possibilidades de aplicação e efeitos estéticos. Assim, utilizando a técnica de modelagem com

essa massa, realizei uma série de obras expressivas nas quais externei a minha indignação diante

de um contexto social, reafirmando os pontos de semelhança com as influências acima citadas,

sem, no entanto, declinar das características pessoais que identificam esta produção escultórica.

Page 10: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

9

O relatório está dividido em dois capítulos, um falando sobre as motivações e influências,

e outro, sobre a materialização do sentimento. Cada um dos capítulos foi dividido em duas partes,

conforme descrito a seguir.

A primeira parte do capítulo um, “As questões sociais”, relaciona as impressões

observadas no meu dia-a-dia e externadas através das obras apresentadas, com a situação social

das pessoas retratadas, passando por uma breve explanação sobre o porquê da técnica escolhida e

suas possibilidades.

A segunda parte do capítulo um, “Influências”, aborda as particularidades da obra de cada

um dos mestres da escultura citados como influências, revelando os detalhes coincidentes com

elementos encontrados em minha obra.

A primeira parte do capítulo dois, “Procedimentos metodológicos”, descreve as várias

fases do processo criativo, justifica a escolha da técnica e da massa de papel, e, também,

descreve, detalhadamente, todas as etapas de produção.

A segunda parte do capítulo dois, “Análise das obras”, faz referência às características

comuns a todas as peças, relacionando-as com as obras dos artistas citados como influências e,

faz também, uma descrição pormenorizada de cada escultura produzida.

O suporte teórico do relatório está embasado, entre outros, nas pesquisas realizadas por

Walter Zanini, na sua obra Tendências da Escultura Moderna, na qual delineia a evolução desse

período criativo e comenta com muita propriedade as particularidades da obra de cada um dos

mestres citados como influência. Do mesmo modo, na obra O Espaço Moderno, de Alberto

Tassinari, foram encontradas análises específicas da obra de Giacometti bastante úteis para a

determinação dos elementos que também são encontrados em minha obra.

Page 11: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

10

CAPÍTULO 1 – AS MOTIVAÇÕES E INFLUÊNCIAS

1.1 AS QUESTÕES SOCIAS

Ao se observar uma obra de Cândido Portinari, como “Retirantes”, ou do mexicano José

Clemente Orozco, “A Trindade: camponeses, operários e soldado”, ambos muralistas,

expressionistas que exteriorizaram num mundo plástico elementos dos seus sentimentos,

evidenciando questões políticas e sociais, surge, no observador, o mesmo sentimento

experimentado pelos seus autores. O mesmo acontece quando se lê o texto transcrito abaixo,

abordando as diferenças entre as classes sociais no Brasil:

APARTHEID PAULISTA TEM ATÉ MURO

No noroeste da Grande São Paulo, a quarta maior renda per capita do Brasil convive com

um dos mais elevados índices de desigualdade.

No badalado condomínio, festinhas de criança como a do filho do empresário

libanês Pierre Issa são constantes.

Numa manhã ensolarada de domingo, cerca de 50 convidados — homens de

terno, mulheres de trajes finos, crianças e babás — transitam entre bandejas sempre

reabastecidas de canapés, uísque e champagne.

Pierre, de filmadora em punho, registra o corre-corre das crianças, o colorido da

festa e a desenvoltura dos convidados. Uma das convidadas, ao saber da presença da

equipe de reportagem, deu o tom: "Isso aí vai sair na Veja?".

A cerca de cinco quilômetros dali, no Jardim São Vicente de Paula, Roseneide de

Oliveira não tem motivos para comemorar. Aos 19 anos, desempregada, grávida de oito

meses e abandonada pelo namorado, a menina mal sorri. O sofrimento é compartilhado

pela amiga Maria das Graças e seus dois filhos, com quem divide o cubículo onde mora.

"A vizinhada sempre ajuda as duas", conta Jorge Bispo dos Santos, pedreiro, que

divide uma pequena casa de alvenaria com mais oito familiares.

Cristina de Oliveira, prima de Roseneide, também precisa de ajuda.

Desempregada, mora com o marido e a filha num quartinho escuro, de papelão e chão

batido, na descida de um barranco íngreme. O marido sustenta a família com trabalhos

temporários, como a montagem dos palcos do evento de moda São Paulo (Laura Diniz,

Chico Mendes – Santana do Parnaíba, 05/03/2004, www.pnud.org.br/pobreza).

Assim, a todo o momento, em qualquer lugar, deparo-me com cenas do cotidiano que

incutem em minha alma a necessidade de expressar, através da arte, o sentimento de

inconformismo e crítica social, como uma contribuição pessoal no sentido de chamar a atenção

para essa realidade, e assim, possibilitar uma melhor condição no futuro.

Page 12: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

11

As obras escultóricas de Rodin, Matisse e Alberto Giacometti, artistas que procuraram

novas soluções ou uma nova abordagem para as relações entre forma e espaço, despertaram em

mim a paixão pela escultura, reafirmando as inúmeras possibilidades de realização pessoal.

Através da escultura é possível materializar todos os sentimentos despertados e mostrar a

realidade da maioria dos brasileiros. Expressando tridimensionalmente essas vivências e

transmitindo idéias e atitudes, certamente alguém será sensibilizado, o que, conseqüentemente,

poderá gerar uma reflexão sobre a questão social em nosso país.

Além de externar minha indignação com essas questões sociais, busco expressar-me

esteticamente, realizando plasticamente os meus sentimentos através de características que

identificam as minhas obras, como por exemplo: a forma de cada peça, em que, apesar dos

contornos delicados e detalhes expressivos, transmitem, ao mesmo tempo, uma certa rusticidade;

a desproporcionalidade presente nas figuras, acentuando a expressividade do movimento e

fazendo-o parecer natural em cada personagem; as texturas e cores criadas para mostrar a

aparência de diferentes tipos de materiais; enfim, tudo isso reunido, mais a emoção transmitida

por cada uma das peças, formam esses seres inanimados que contam uma história, um momento

de suas vidas.

As expressões do cotidiano escolhidas para serem representadas neste trabalho foram

retiradas dos grupos sociais teoricamente mais sujeitos às dificuldades do dia-a-dia, e que

carregam, visivelmente, em seus corpos, as marcas de uma dura existência também estampada

nos seus rostos.

Assim, para traduzir esteticamente essas questões, inspirei-me nas atividades rurais ou

braçais de execução difícil e sofrida; nos trabalhos domésticos de mulheres humildes buscando o

sustento dos filhos; no trabalho infantil, desumano, que impede o desenvolvimento natural das

nossas crianças; e por fim, na alegria ingênua de crianças em brincadeiras simples e

rudimentares;

O trabalho de construção das esculturas envolveu uma série de atividades específicas, a

fim de tornar efetiva, real, a idéia concebida durante o processo de criação. Entre essas

atividades, cabe destacar o ato de modelar, porque se tratou de uma etapa importantíssima do

processo criativo, uma vez que, através dele é que verdadeiramente se tornaram reais, palpáveis,

concretas as minhas impressões. As “expressões do cotidiano” devem, obrigatoriamente,

transmitir o meu sentimento, sob pena de descaracterizar o objetivo de crítica social e de

Page 13: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

12

provocar indignação no observador. Dessa forma, a modelagem das peças constituiu-se em um

ato pessoal, intuitivo, sensorial, em que procurei exprimir toda a minha carga emocional por

intermédio do material que tinha em mãos.

O ato de modelar aguça a sensibilidade dos dedos, do olhar e da alma. Na modelagem as

mãos e os dedos do artista são as suas principais ferramentas. Uma estrutura sólida e rígida,

quando recoberta por qualquer material maleável, adquire a forma desejada pelo artista. Esse

volume de massa, sem forma, vai se transformando pouco a pouco, saindo de dentro da sua

imaginação, fazendo de suas mãos e dedos instrumentos de materialização da idéia concebida,

surgindo, assim, detalhes de lábios finos ou grossos, sulcos dos cabelos, olhos com expressões

tristes ou alegres, marcas de rugas na face, para finalmente um rosto tomar vida própria com suas

particularidades.

Dessa forma, foram criadas várias peças, cada uma delas com características próprias,

umas aparentando serem talhadas na pedra, outras parecendo fundidas em bronze, e por fim, uma

outra com o aspecto de ter sido modelada no barro. Possuem cores e texturas peculiares e contêm

uma verticalidade que contribui para acentuar a forma esguia que prevalece em todas elas, além

de revelar nos gestos ou movimentos toda a expressividade buscada pela autora.

Page 14: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

13

1.2 INFLUÊNCIAS

O estudo da história do século XIX e XX, no campo das artes, possibilita o conhecimento

sobre os grandes mestres da escultura, os quais, cada um com seu estilo próprio, romperam

barreiras, demonstrando em suas criações o sentimento dominante e as tendências de sua época.

De acordo com Zanini1, o precursor, entre os artistas criadores, foi Honoré Daumier (1808-1879)

que com suas modelagens de cunho caricatural cáustico, acusa, em relação à escultura de sua

época, um forte sentimento de inconformismo. Ele supera as posições do neoclassicismo e

também as do romantismo, do qual descende, colocando em sua arte os estímulos da vida

cotidiana. No seu tempo não houve artista mais integrado ao sentido da modernidade. Também, o

consagrado mestre Auguste Rodin (1840-1917), talvez o maior de sua época, que foi alvo de

violentas controvérsias entre os críticos, desprezava o aspecto externo de “acabamento”, o que

contribuiu de maneira acentuada para facilitar a aceitação do impressionismo, fora do estreito

círculo de seus admiradores na França. Mas a contribuição fundamental de Rodin2, residiu na

compreensão genuína dos problemas da forma e de sua inserção no espaço. Foi pela regeneração

das propriedades táteis da escultura, pelo respeito ao material de que se utilizou, pela ordenação

rigorosa de suas imagens, obtida pela ciência do modelar, entendida como sendo “as saliências

dos volumes interiores”, que Rodin se tornou influente na Europa, suscitando, neste século, o

respeito dos escultores de vanguarda da criação artística.

O mesmo autor expõe que Henri Matisse (1869-1954)3, produziu esculturas sinuosas,

tensas e emocionais, com deformações, em parte suscitadas pela incidência da arte negra.

_____________

1. ZANINI Walter, Tendências da escultura moderna, São Paulo, Cultrix, 1980, p. 19

2. ZANINI, op. cit., p. 29.

3 ZANINI, op. cit., p. 46. A escultura de Matisse – “um artista dessa espécie, em que toda a atividade

plástica tem seu ponto de partida no intelecto” (J. Cassou, catálogo da exposição retrospectiva “Henri

Matisse” realizada pelo Musée National d’Art Moderne, Paris, 1956) - constitui uma contribuição original

pela audaciosa capacidade de se liberar da representação naturalística e de procurar o que a forma possui de

mais intrínseco e vital.

Page 15: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

14

Porém, na obra Madalena n°1 (fig. 1), em bronze(1901), figura abaixo, já surge, no pequeno

formato que se tornará peculiar ao artista, a figura-arabesco, flexível e insinuante, herdeira de

Daumier e Degas, vinculada ao impressionismo de Rodin.

(fig. 1) MATISSE, Madalena I, 1901, Bronze, 60 cm.

Coleção: Baltimore Museum of Art

Page 16: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

15

Matisse1 cultivará em pequenas variantes uma concepção iconográfica feminina, livre e

descurada de detalhes cujos acentos expressionistas são, por vezes, agudos, a exemplo do Nu

reclinado n°1 (fig. 2), em bronze (1907).

(fig. 2) MATISSE, Nu reclinado, 1925, Bronze, 80 cm.

Coleção: Baltimore Museum of Art

___________

1. ZANINI, op. cit., p. 44.

Page 17: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

16

Alberto Giacometti1 (1901-1966), estudou com Bourdelle em Paris, onde sofreu o influxo

passageiro do cubismo de Brancusi, tornando-se sensível às artes negras. Integrando-se ao

movimento surrealista, cujas idéias não lhe eram estranhas, seguiu livremente, a sua natureza

propensa a procura da essência inserida na realidade. Por alguns anos abandona o método de

trabalho sob o estímulo de modelo e se prende ao simbolismo interior para produzir algumas

obras, e a partir de então, suas peças foram construídas em pequenas dimensões que compuseram,

em parte, a contribuição do artista para o surrealismo. Essa fase, porém, não se encerrou sem que

ele retomasse a figura numa escala normal de proporções, as esculturas alongadas, com braços e

mãos esticados ao lado do corpo são carregadas de expressividade, demonstrando num esforço

sobre-humano, a tentativa de conhecer a realidade absoluta que supõe existir na aparência das

coisas. Giacometti buscou novas soluções ou uma nova abordagem para as relações entre forma e

espaço, formas vivas e abstrações intelectuais. A dimensão de sua experiência exteriorizada em

suas obras foram únicas, atributo criativo de sua peregrinação (fig. 3).

(fig. 3) GIACOMETTI, Homem caminhando II, 1960, Bronze, 187 cm.

Coleção: Galerie Beyeler, Basiléia.

O que fascina na escultura é o poder que esses artistas exercem, transcendendo os limites,

na tradução de expressões, no material, na técnica e até mesmo na criação. São paradigmas nessa

linguagem da arte. Conhecendo suas obras chega-se à conclusão de que sempre estiveram além

do seu tempo.

_____________

1. ZANINI, op. cit , p. 174 - 178.

Page 18: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

17

Rodin, Matisse e Alberto Giacometti foram artistas que desprezaram convenções para

expressarem a criação sem se submeterem às normas impostas em suas épocas. Essas

características influenciaram, sobremaneira, o meu interesse pela escultura, pois, através da

identificação com esse modo de pensar, encontrei as condições ideais para dar vazão à

criatividade.

Assim, na análise das obras apresentadas neste trabalho, pode-se verificar a coincidência

de detalhes, em diversos pontos, com a obra dos artistas citados, predominando, no entanto, as

características de Alberto Giacometti, principalmente quanto à preferência por peças de formas

alongadas, esquálidas, sinuosas. Ao mesmo tempo, pode-se observar as minhas características,

marcas pessoais que me identificam através das obras (fig. 4).

(fig. 4) GIACOMETTI, Homem apontando com o dedo, 1947. Bronze 178 cm

Coleção: Tate Gallery - Londres

Page 19: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

18

CAPÍTULO 2 – A MATERIALIZAÇÃO DO SENTIMENTO

2.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O processo de materialização de uma escultura consiste de fases distintas, bem definidas,

que podem ser sintetizadas em: processo de criação, a escolha da técnica, a construção das

miniaturas e finalmente a construção das esculturas em tamanho definitivo.

O processo de criação iniciou-se com a escolha do tema que, neste trabalho, em particular,

refere-se à retratação de figuras humanas representativas de situações do cotidiano em que se

observa a expressividade provocada pelas dificuldades encontradas na vida de pessoas simples e

humildes. Após então, passou-se ao desenho, propriamente dito, que procurou materializar

graficamente as idéias e as expressões referentes ao tema. Assim, foram confeccionados vários

desenhos, conforme anexo 2, e escolhidos aqueles de maior expressividade e que mais se

adequaram à temática proposta.

A massa de papel foi escolhida, principalmente, pela relativa originalidade de sua

aplicação em esculturas, e, também, devido à possibilidade de se produzir peças com aparência

de diversos materiais sem as dificuldades e limitações impostas pelo manuseio dos mesmos. Um

outro fator, também preponderante para essa escolha, foi o fato de já ter trabalhado com essa

técnica e ter desenvolvido uma massa de papel mais resistente e mais maleável permitindo com

mais eficácia as correções e ajustes, possibilitando uma maior riqueza nos detalhes exigidos pela

complexidade dos desenhos selecionados. Essa massa é feita com embalagens de ovos, picadas e

maceradas com cola branca, fungicida, farinha de trigo e pó de serra, de maneira a se tornar uma

mistura homogênea e consistente. Isso permite que, na construção das esculturas, haja facilidade

de manuseio e, em conseqüência, um melhor resultado final. No anexo 1, pode-se verificar a

receita completa da massa de papel e o procedimento para sua confecção, bem como um breve

histórico de sua utilização.

Page 20: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

19

A construção de miniaturas (fig. 5) teve como objetivo reproduzir os desenhos escolhidos

em tamanho reduzido, de maneira a verificar a adequação prática da técnica escolhida,

observando as dificuldades encontradas, de forma a serem corrigidas por ocasião da construção

da peça definitiva, em tamanho maior. Para isso, foi feita a estrutura metálica da peça, em

dimensões reduzidas, recoberta com ataduras gessadas e, após a secagem, modelada com a massa

de papel, procurando representar com fidelidade as expressões dos desenhos Nessa etapa do

processo verificou-se a consistência da massa, sua maleabilidade, tempo de secagem e outras

características. Também, no acabamento da miniatura, foram verificadas a funcionalidade e a

adequação das tintas e produtos utilizados, atentando para as necessidades de correção, a fim de

atingir um maior grau de perfeição.

Esgotadas as fases anteriores, criação, escolha da técnica, e produção das miniaturas, restou a

construção da escultura em tamanho definitivo. Essa fase iniciou-se com a construção de uma

caixa de madeira para servir de base da escultura. Essa base deve ser proporcional ao tamanho

final da peça, de modo a permitir a ancoragem segura da estrutura metálica vertical a uma malha

de arame horizontal colocada dentro da base, a qual, depois de recoberta com gesso, proporciona

o equilíbrio e a firmeza necessária para suportar a escultura finalizada. A estrutura metálica

vertical deverá estar já delineada com a figura a ser retratada, ao se fazer a ancoragem na malha

horizontal.

(fig. 5)

(fig. 5)

Page 21: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

20

Para fazer a estrutura metálica vertical foi utilizado um arame grosso, n◦ 12, (fig. 6)

servindo como esqueleto principal e já moldado à silhueta da figura escolhida. A partir desse

esqueleto, com arame n◦16, foram fixadas as estruturas secundárias que servem de suporte para

os braços e outros detalhes do desenho. Finalizando a estrutura metálica, foi utilizado o arame n◦

20, tramado ao esqueleto principal a fim de preencher os espaços vazios e proporcionar uma

maior rigidez ao conjunto, além de permitir apoio para a atadura gessada e posteriormente à

massa de papel.

Concluída a estrutura metálica, passou-se então, a envolvê-la com ataduras gessadas (fig.

7). Depois da secagem, foi passada uma camada de cola branca, para possibilitar uma melhor

aderência da massa de papel, que foi aplicada em seguida. Nessa etapa é que foi realizada a

modelagem, propriamente dita, buscando reproduzir as expressões desejadas (fig. 8). Após então,

aguardou-se o tempo de secagem, em torno de sete dias, tempo esse que é variável de acordo com

as condições climáticas. Com a massa completamente seca, passou-se à fase de acabamento final

com a pintura definitiva.

(fig. 6)

Page 22: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

21

(fig. 8)

(fig. 7)

Page 23: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

22

Três peças foram escolhidas para receberem um acabamento sugerindo o bronze fundido,

em cada uma delas foi aplicada, como base, uma demão de tinta látex acrílica, na cor branca, para

posteriormente receberem uma demão de tinta acrílica bronze iridescente e, então, serem

envelhecidas com betume da Judéia, produzindo o efeito de bronze fundido.

Oito peças receberam um acabamento que lembra pedra. Este efeito é obtido aplicando-se

uma demão de tinta látex acrílica na cor branca ou marfim, como tinta base. Após a secagem,

passa-se uma aguada de tinta acrílica para tela, já na cor da pedra desejada. Aguardar a secagem e

lixar toda a escultura para retirar o excesso de tinta depositada, fazendo surgir pontos na cor da

tinta base, sugerindo o aspecto de pedra. Em seguida, para finalizar, aplica-se o verniz fosco, em

spray, a fim de impermeabilizar a peça.

Uma peça recebeu uma demão de tinta látex acrílica na cor ocre e, após a secagem,

aplicou-se uma aguada de tinta acrílica para tela, na cor terra de siena queimada, obtendo assim, a

mesma aparência do barro. A seguir foi finalizada com o verniz fosco, em spray, para a

impermeabilização.

Em cinco peças não foi feita nenhuma cobertura com tinta, mantendo-se o aspecto

original da própria massa de papel. Logo após a secagem da massa, aplicou-se o verniz fosco, em

spray, para impermeabilizá-las e a seguir foi passada uma camada de cera incolor, em pasta.

Após a secagem, foram finalizadas, passando uma leve camada de graxa de sapato preta para

acentuar as linhas e contornos das peças, sempre utilizando um pano para retirar o excesso de

graxa, obtendo assim a cor desejada.

Page 24: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

23

2.2 ANÁLISE DAS OBRAS

As esculturas têm como características comuns as distorções, as formas esquálidas e as

deformações causadas pela desproporcionalidade entre braços, pernas, pescoço e cabeça,

afrontando a harmonia esperada da figura humana, valorizando a expressividade de cada

personagem, cujos detalhes e expressões são delineados por meio de sulcos. Olhando-se de perfil,

pode-se observar em cada uma delas a figura estreita e alongada. A aparência áspera e porosa

transmite uma idéia, tanto na textura quanto na cor, de serem peças produzidas em pedra, barro

ou bronze, demonstrando a versatilidade da massa de papel e a qualidade do acabamento que

pode ser obtido em cada obra.

Todas possuem formas estilizadas e de simplicidade proposital. Os traços acentuam a

riqueza dos detalhes reveladores das expressões que, juntamente com os gestos, muito se

aproximam da naturalidade humana.

Observa-se a influência do mestre Rodin1 na opção por retratar a expressividade da figura

humana em movimento e, de Matisse2, por modelar com a massa de papel, como se fosse a argila

deste genial mestre, em cujas obras, a figura-arabesco, flexível e insinuante é evidenciada como

sua marca peculiar.

Por último, e principal influência, Giacometti3 com suas figuras humanas distorcidas,

alongadas, intensas, de contornos irregulares, onde a verticalidade predomina.

A identidade própria e porque não dizer, o estilo pessoal, observa-se, inicialmente, pela

opção de expressar-se através da modelagem com massa de papel, técnica relativamente não

utilizada em trabalhos de maior preocupação estética, e ainda, pela opção de detalhar as

Page 25: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

24

fisionomias, os gestos, os movimentos, de maneira a acentuar a naturalidade da figura

representada.

______________

1 STRICKLAND, Carol, Arte comentada, Rio de Janeiro, Ediouro, 2002, p. 110

2 ZANINI, op. cit., p. 44.

3.TASSINARI, Alberto, O espaço moderno, São Paulo, Cosac & Naify, 2001, p. 51.

Page 26: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

25

(fig. 9)

Cortadora de Cana

Dimensões: 72 cm x 19 cm x 14,5 cm

Mulher do campo, de perfil estreito, magreza acentuada, com olhar distante, cabeça grande e

desproporcional, empunhando um facão que é a ferramenta de seu sustento. Sua posição insinua a

idéia de estar em movimento.

Page 27: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

26

(fig. 10)

Menina com seus brinquedos

Dimensões: 55,5 cm x 10,9 cm x 15,5 cm

Menina de aparência raquítica, fisionomia delicada, cabeça desproporcional e perfil delgado. A

magreza, as pernas arcadas, os pés descalços e os brinquedos velhos e surrados enfatizam a sua

pobreza.

Page 28: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

27

(fig. 11)

O lavrador na caatinga

Dimensões: 66 cm x 19,5 cm x 14,5 cm

Trabalhador típico das regiões áridas, muito magro, braços longos, pés descalços, de fisionomia

marcante, a face sulcada pelo sol e pela dureza do trabalho, na terra seca, onde apenas o

mandacaru resiste. Sua posição passa a idéia de movimento.

Page 29: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

28

(fig. 12)

O roceiro e sua enxada

Dimensões: 63 cm x 19 cm x 14,5 cm

Homem de vestes surradas, pés no chão, com a enxada apoiada no ombro, passando a idéia de

movimento. A magreza, os traços marcantes e a aparência cansada revelam a dureza do seu

trabalho.

Page 30: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

29

(fig. 13)

O sertanejo com a pá

Dimensões: 59 cm x 19 cm x 14,5 cm.

Homem de aparência castigada pela adversidade. O corpo magro, arcado, desproporcional, as

pernas cansadas, os braços finos, os pés descalços com os dedos disformes, as vestes surradas e a

fisionomia são detalhes que revelam o sofrimento e a dureza da sua vida. A pá fincada na terra

seca dá a idéia de descanso, um apoio, uma pausa.

Page 31: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

30

(fig. 14)

A menina índia

Dimensões: 40 cm x 14,5 cm x 14,5 cm.

A menina, carregando o cesto na cabeça, tem no rosto os traços da pureza e as marcas da vida

dura de quem busca nos centros urbanos o seu sustento. Os sulcos acentuam os detalhes da

fisionomia e das vestes. Os pés descalços e grosseiros representam a vida em liberdade e a

simplicidade inerente a sua cultura.

Page 32: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

31

(fig. 15)

Homem lendo jornal

Dimensões: 51,5 cm x 19 cm x 14,5 cm

Sentado, com o olhar voltado para um velho jornal, o homem parece estar concentrado. Magro,

de pescoço comprido, traços fisionômicos salientes, perfil afilado, vestes simples e os pés

descalços representam uma pessoa humilde entretida com velhas notícias.

Page 33: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

32

(fig. 16)

A lavadeira e sua filha

Dimensões: 70 cm x 14,5 cm x 14,5 cm.

A lavadeira é muito magra, alta, de perfil fino e alongado. A face de traços salientes, marcantes,

passa a impressão de perseverança, de ainda dispor de forças para lutar. As vestes simples, os pés

em um velho par de chinelos e a enorme trouxa na cabeça representam a dureza da sua vida. A

criança, de feições realçadas, parece envergonhada, tentando se esconder com medo do mundo e

buscando a segurança da mãe.

Page 34: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

33

(fig. 17)

Mãe amamentando o filho

Dimensões: 45 cm x 14,5 cm x 14,5 cm.

Mulher de figura desproporcional, corpo arcado, cansado, perfil estreito, pescoço deformado, de

expressão marcante, as sobrancelhas curvadas, o olhar triste e sofrido, contrastando com a beleza

do ato de amamentar, de gerar vida, mostrando que ainda lhe restam forças para viver e criar seu

filho.

Page 35: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

34

(fig. 18)

Mãe com a criança no colo

Dimensões: 67 cm x 14,5 cm x 14,5 cm.

Mulher de figura alongada, magra, perfil estreito, pés grandes, pescoço comprido e a cabeça

desproporcional, carregando uma criança escanchada na cintura. A fisionomia tem traços fortes e

salientes, o olhar disperso, as sobrancelhas cerradas, passando a idéia de preocupação e tristeza.

Page 36: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

35

(fig. 19)

Menino jornaleiro

Dimensões: 38,5 cm x 14,5 cm x 14,5 cm.

O menino, de imagem bastante atual, representa o trabalho infantil, as dificuldades da vida

humilde em que, muito cedo, vendendo jornal, ajuda os pais a ganharem o pão de cada dia.

Apesar de tudo, tem uma expressão alegre e conserva a aparência de garoto. A franja com gel, o

bermudão e a camiseta da moda contrastam com o chinelo simples e surrado.

Page 37: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

36

(fig. 20)

O moleque e sua bola

Dimensões: 55,5 cm x 14,5 cm x 14,5 cm.

A figura alongada, de perfil estreito e desproporcional, mostra um menino com expressão feliz,

de traços marcantes, demonstrando que entre as pessoas simples e humildes também existem as

alegrias das brincadeiras de crianças.

Page 38: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

37

(fig. 21)

O velho sentado

Dimensões: 28,5 cm x 14,5 cm x 14,5 cm.

A falta de músculos, o rosto enrugado, a boca murcha e o olhar triste e distante evidenciam uma

vida longa e de muito sofrimento. A sua imagem solitária e desnuda expressa uma certa

ingenuidade de criança e denunciam o abandono em que se encontra.

Page 39: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

38

(fig. 22)

Mãe com o filho desfalecido

Dimensões: 47 cm x 16 cm x 16 cm.

Mulher de cabeça e pés desproporcionais, perfil estreito, corpo arcado, sem maiores detalhes nas

vestes, com uma criança desfalecida nos braços. Os traços expressivos são bastante fortes,

acentuados, o olhar é triste, desolado, como se estivesse chorando sem lágrimas.

Page 40: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

39

(fig. 23)

Mulher com o prato na mão

Dimensões: 52 cm x 14,5 cm x 14,5 cm.

Mulher de perfil estreito, pescoço alongado e cabeça desproporcional. Os traços faciais são

fortes, salientes. A expressão é sofrida, passando uma idéia de viver em dificuldades. Os pés,

calçando um chinelo velho e surrado insinuam um leve movimento de caminhar.

Page 41: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

40

(fig. 24)

Senhora com o cesto

Dimensões: 67,5 cm x 14,5 cm x 14,5 cm.

Mulher de figura magra e alongada, perfil estreito, desproporcional, carregando um cesto preso às

costas. A expressão de cansaço e os traços marcantes, salientes, mostram a idade já avançada e

uma vida de dificuldades.

Page 42: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

41

(fig. 25)

Mulher socando o pilão

Dimensões: 58,5 cm x 14,5 cm x 14,5 cm.

Mulher de figura magra e alongada, perfil estreito, corpo desproporcional, cabeça grande,

trabalhando no pilão. A expressão é de cansaço. O olhar caído e triste insinua uma vida de

privações.

Page 43: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

42

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho apresentado deixa clara a preocupação em mostrar o cotidiano de pessoas

simples, seu modo de vida e suas dificuldades, através de situações corriqueiras, mas de grande

significado expressivo. Seus gestos, atitudes, simplicidade e espontaneidade materializam-se

através da tridimensionalidade.

A modelagem das peças, com massa de papel, permitiu, em meio a uma infinidade de

possibilidades estéticas e de acabamento, o desenvolvimento de uma linguagem artística pessoal

influenciada por algumas características encontradas nas obras de grandes mestres da escultura.

Ficaram, assim, demonstradas as qualidades da massa de papel ao surgir os aspectos de pedra,

bronze e barro, que determinaram a individualidade de cada peça, deixando em aberto a

utilização das muitas outras possibilidades que ainda restam.

As obras apresentadas evidenciam, não apenas as particularidades e sentimentos dos tipos

escolhidos, mas também o meu estado de espírito, pois, ao utilizar a arte escultórica como veículo

para gerar uma reflexão sobre o problema social, pude materializar esteticamente minha

indignação e expressar toda a emoção que o tema desperta em mim.

Page 44: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

43

BIBLIOGRAFIA

BITTAR, Eduardo Carlos Bianca; ALMEIDA, Guilherme Assis de. Curso de Filosofia do

Direito.1ª Edição. São Paulo: Atlas, 2001.

CAVALCANTI, Carlos. História das Artes / Curso Elementar: da Renascença fora da Itália até

nossos dias. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora Rio – Sociedade Cultural ltda, 1978.

CLERIN, Phippe. La Sculpture:Toutes lês Techiques. Paris: Dessai et Tolva, 1995.

GOMBRICH, E. H. A história da Arte / Gombrich E. H: tradução de Álvaro Cabral. 16ª ed. Rio

de Janeiro: Editora LTC S.A. 1994.

KRAUSS, Rosalind E. Caminhos da escultura moderna / Rosalind E. Krauss: tradução de Julio

Fischer. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1998.

LOBO, Huertas. História Contemporânea das Artes Visuais / Coleção Estudos de Arte.

Lisboa: Editora Livros Horizonte, 1981.

MIDGLEY, Barry. Guia Completa de Escultura, Modelado y Cerâmica – Técnicas y

Materiales. Madrid: Blume, 1982.

READ, Herbert, O Sentido da Arte / tradução de E. Jacy Monteiro. 6ª ed. São Paulo: IBRASA,

1987.

RODRIGUES, Re. Papier Collée < http://www.cyberartes.com.br> - capturado em 11/04/04

SCHNECKENBURGER, Manfred. “Escultura”in Arte Del Siglo XX. Volume II, Kön, Madrid:

Taschen, 1999.

STRICKLAND, Carol. Arte comentada: da pré-história ao pós moderno / Carol Strickland;

tradução Ângela de Andrade. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.

TASSINARI, Alberto. O Espaço Moderno. São Paulo: Cosac & Naify, 2001.

TUCKER, William. A Linguagem da Escultura. SP: Cosac & Naify, 1999.

WITTIKOWER, Rudolf. Escultura. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

ZANINI, Walter.Tendências da Escultura moderna. 2ª ed. São Paulo: Editora Cultrix Ltda,

1971.

DINIZ, Laura, Chico Mendes, Raquel Guedes. Aparheid paulista tem até Muro.

<www.pnud.org.br/pobreza>, acessado em 23/06/04

Page 45: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

44

ANEXO 1

Page 46: Silva; eliana dos santos barbosa   expressões do cotidiano

45

ANEXO 2